4 minute read

NÁLIA AGOSTINHO ARTISTA PLÁSTICA

Conte-nos, quem é Nália Agostinho?

Nália das Dores R. J. Agostinho é Moçambicana, nascida em 1990 em Maputo. Desde pequena sempre esteve em contacto com as artes e música. Filha de Pai Médico e Mãe Secretária, Zambezianos, divorciados em tenra idade , Nália vivia com o seu pai e avó Paterna durante a semana e passava os “Sabadões” como ela se referia aos finais de semana passados com a sua Mãe e irmãos. Vivia entre o Bairro da Poliana Cimento e Chamanculo. Sempre foi muito curiosa, com a imaginação muito fértil ainda assim tinha um comportamento diferente relação as crianças da sua idade provavelmente pela convivência somente com adultos. O que até aos 12/13 anos teve uma grande dificuldade para enquadrar - se com crianças da mesma idade.

Advertisement

Quando foi que nasceu a tua paixão pela arte?

Começou a desenhar e pintar muito cedo, com 2/3 anos era a sua forma de se expressar e de se conectar com os pais. Na verdade o lado criativo sempre esteve inculcado na Famila, o seu avô paterno era percursionista e dançarino, a sua mãe desenhava e bordava, uma das suas irmãs mais velhas custurava e a outra criava ilustrações , e logo cedo Nália ingressou a escola Nacional de Música dando simultaneamente início ao seu ensino primário.

Quanto tempo levaste para aperfeiçoar a tua paixão?

E escusado dizer que levou o seu tempo até chegar ao estilo e técnica de pintura que usa hoje. Por muito tempo renegou aquele que é o meu dom buscando ocupar se de algo mais prático e sustentável.

O que levou-te a ingressar para novos horizontes?

Completando o percurso de ensinos Musicais e Secundário, perdeu a avó e o Pai e logo a seguir o seu padrasto.

O que a levou realmente a concentrar-se em arranjar meios de subsistência na idade de 17 anos para contribuir pra os seus estudos universitários.

Quando dois anos depois conseguiu uma bolsa de estudos em Ciências Políticas oferecida pela Província Autónoma de Trento - Itália graças ao apoio do falecido Padre Zeni dei fatti Cappuccini que dirigia a Casa Mozambico em Trento, agora conhecida como casa San Francesco d’Assisi onde teve a sua primeira experiência em terras europeias.

Sempre teve dentro de si a vontade de conhecer novos lugares e culturas, sempre sentiu que havia muito mais no mundo que o que conhecia até então e nesta viagem esteve exposta ao museu ao céu aberto que é a Itália.

A cultura, gastronomia, arte, arquitectura e música. Viveu em Trento por quase 8 anos onde estudou, trabalhou, fez caríssimos amigos e teve a sua primeira exposição a arte europeia.

Foi depois do seu regresso a casa, em Maputo quando em 2018, entrando em contacto com a sua infância, famila , amigos , cultura, cheiros, cores, texturas e sons que finalmente entregou-se as artes e dedicou-se a explorar em profundidade o seu lado artístico. Como modo de expressão.

Qual é a sua inspiração?

A sua inspiração vem das suas vivências como jovem mulher pertencente a uma “terra do meio” e da comunidade que a rodeia, vem do mergulhar no profundo universo do ser, do questionamento sobre a nossa existência e o porque de certos acontecimentos que acabam nos conduzindo exactamente para onde devemos ir.

Qual o nosso papel na sociedade e que legado e contributo queremos deixar.

Quanto tempo levas para fazer uma pintura?

O período de concepção geralmente é o mais demorado para mim, pode levar dias semanas ou meses. quanto a execução me dedico 48h a 72h se as obras forem grandes e complexas.

Como achas que a arte, em particular a tua, pode contribuir para o desenvolvimento da sociedade?

Espero que as pessoas se possam identificar e sentirem-se conectados, e representados, afinal, independentemente da cultura, raça, religião e ideologias somos todos seres humanos e o que nos une é a nossa necessidade de nos conectarmos com os outros e connosco através de emoções e todos estamos em busca de um sentido na nossa vida de um propósito que seja maior que nós mesmos e a arte é o melhor modo de expressar, transmitir e dar voz e o que todos albergamos dentro de nós.

Qual tem sido a repercussão dos seus quadros em Moçambique?

Como uma Jovem artista creio estar num bom caminho. Fico feliz com a repercussão que tenho tido no meu país, dá -me muita força para continuar nesta complexa jornada que é ser artista no mundo de arte em Moçambique e no mundo. O facto de ter grandes artistas Moçambicanos dos quais buscar força e inspiração para seguir criando e tentar fazer a diferença é muito importante.

Sendo moçambicana, qual é o teu posicionamento quanto a arte em Moçambique?

Penso que há ainda muito a ser feito no mundo da arte e cultura, os artistas não são devidamente valorizados, é uma área que sofre muita falta de atenção e descriminação.

de conhecimento a arte Africana no mundo e quanto menos da moçambicana, quando temos artistas super talentosos. Vejo sim um grande oportunidade de grandes colaborações com escolas, universidades de belas artes, galerias e negócio que penso que não deveria ser dispersiçada. Quais são as tuas ambições no mundo da arte?

Os desafios são semelhantes em qualquer outro tipo de trabalho e eu ainda não cheguei sequer aomeio do caminho.

Bom, so far percebi que, é necessário trabalhar como se não houvesse amanhã, acreditar mesmo quando muitos nos crêem loucos, bater portas até encontrar as certas, aprender com os erros e com todos os que passam pela nossa vida.

Serartista não é visto como uma profissão, não tem a proteção legal e direitos. Enfim. Existe um grande trabalho ainda a ser feito principalmente ligada as belas artes , oportunidades de negócios a serem identificados pelos artistas e pelo governo de modo a fazer da arte e cultura um asset que realmente faça a diferença na economia do País.

Estando na Europa o que mais ouço e vejo é a falta

Saber que as vezes e necessário dar passos para traz e fazer desvios de rotas para chegar onde almejamos. É muito necessário saber descernir quem nos rodeia manter-se sempre curioso, ser humilde, mas sem esquecer o nosso valor, ser um risk taker, desenvolver uma boa capacidade de comunicação, people skills e cuidar da saúde mental.

Bem, espero fazer parte do grupo de artistas que vai mudar o cenário da arte em Moçambique e no mundo, criando assim um espaço onde mais e mais gerações se sintam orgulhosos em assumirem e serem identificados como tais e espero poder deixar uma impronta bem profunda para que o meu legado perdure no tempo.

This article is from: