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TOMAZIA GUJAMO EMPREENDEDORA
Quem é a Tomazia Gujamo?
Eu sou casada e sou mãe de quatro meninas. Sou empresária, sou representante da marca Tupperware Moçambique, sou a distributora oficial da marca Tupperware em Moçambique. Tenho 39 anos, sou uma pessoa que me considero feliz e realizada.
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Quando e como surge a Tomázia Gujamo Empreendedora?
Eu surgi muito cedo como empreendedora. Desde os meus 14 anos, eu já comecei na escola a vender algumas coisinhas na escola, como brincos, acessórios para o cabelo.


Eu sempre fui uma pessoa muito vaidosa. Então, desde sempre, gostei muito dessas peças femininas, vendi esses acessórios.
Mas também, com o andar do tempo, comecei a fazer outro tipo de negócios. Como, por exemplo, vendi roupas compradas na Africa do Sul.
Fui lá também, comprei carteiras, comprei sapatos. Já vendi também produtos de beleza, perfumes, maquiagem.
Então, a Tomazia, como empreendedora, começou muito nova a fazer esse negócio.
Então, foi mais ou menos assim como começa a minha história como e mpreendedora.
Como foi entrar num ramo que era pouco explorado em Moçambique?
Na verdade, a Tupperware já existia em Moçambique. Quando eu entro na Tupperware, já tinham senhoras, em particular, que faziam a Tupperware já há muitos anos, mesmo antes de eu começar.
E nessa altura, trazíamos para aqui e fazíamos a revenda aqui. Não de forma oficial, como eu sonhei quando entrei no negócio.
Como lidas com os desafios e as exigências do mercado empreendedor?
De facto, as exigências do nosso mercado são muito maiores a cada dia.
Temos concorrência muito maior a cada dia. Existem desafios, sim. Mas o mais importante é manter o foco. Eu me mantenho no foco daquilo que é o meu negócio, daquilo que é a minha linha, daquilo que é a minha visão. E de como eu acredito em me conduzir.
Sempre vai existir concorrência e a concorrência existe para nos pôr melhores.
Eu gosto da concorrência porque eu acho que a concorrência nos põe todos os dias a pensar.
Todos os dias a raciocinar. Põe-nos todos os dias com a cabeça às voltas.
É preciso não parar no tempo. É preciso perceber que as coisas estão em constante evolução.
Marketing, tinha um emprego que não me era suficiente na altura, estava com muitas dificuldades financeiras, tinha crianças por criar, crianças por cuidar, estava naquela fase mesmo de ter dificuldades até para ter o que comer, não tinha transporte próprio, não tinha casa própria, vivia num bairro que eu tenho muito orgulho hoje ter começado de lá, mas não era o que eu queria para mim, então, tinha muitas dificuldades financeiras, muitas dívidas e muita coisa por resolver. Eu tomei uma decisão de que eu queria fazer um único negócio, não importa qual era o negócio, eu queria fazer um único negócio e levar esse negócio a sério, como deve ser.
Então, eu fui a uma feira, eu vi essa mesa com Tupperware, então, eu decidi que eu quero fazer aquele negócio, eu conhecia muito pouco, como todos nós conhecemos Tupperware pelo nome, conhecemos porque tinha um produto em casa, um e outro produto e nós todos sabemos com nossas mães, quando nós perdemos o Tupperware dela é um problema, eu conhecia Tupperware que era um produto caro e só sabia isso, então, eu pedi para fazer a inscrição.
Só que talvez não com a mesma visão com que eu entrei. Porque eu entrei com a intenção de trazer a marca para o Moçambique. Se calhar tenha sido essa a diferença.
Mas eu não fui a pioneira, não fui a primeira pessoa a trazer os produtos para aqui. Quando eu comecei a fazer o negócio, eu ia para Swazilandia (atual Eswatini), ia buscar os produtos lá.
E nós precisamos de estar a evoluir todos os dias. Nós precisamos de ser seres pensantes focados e disciplinados.
Como foi que começaste a fazer parte da Tupperware Moçambique?
Como eu disse, já existiam mulheres que faziam Tupperware, e eu trabalhava, eu tinha um emprego, porque eu sou formada em Relações Públicas de
Não foi bem recebida, apresentaram muitas dificuldades, mas mesmo assim, eu fui persistente, eu fui atrás, três meses depois já insisti a querer ir atrás, porque naquela altura não era tão aberto convidar as pessoas para fazer o negócio, porque não queriam concorrência, então, não foi fácil por essa maneira. Então, é assim que eu finalmente consigo entrar na Tupperware e comecei na vizinha Swazilândia.
Quais foram os desafios para se tornar em uma das referências da Tupperware Moçambique?
Este ponto eu podia ficar aqui o dia todo a falar para poder explicar o quão desafiador, o quão humilhante, o que eu precisei passar para poder chegar aqui onde eu estou. Só para ter ideia, quando eu disse que para começar foi difícil, para ser aceita foi difícil, foram-me dadas muitas barreiras, a pessoa depois viajou, depois não podia falar, depois três meses, depois me mandou para outra pessoa, quer dizer, fui desdenhada, não fui tratada como eu devia ter sido tratada, mas eu fui atrás e decidi que eu vou entrar e logo vou para a vizinha Suazlândia.
E logo eu viajei, eu fui à Suazlândia para poder começar o negócio. Então, comecei o negócio na vizinha Suazlândia. Começa com o desafio da língua, eu não falava inglês, não conseguia comunicar.
Cheguei lá, a distribuidora simpatizou-se comigo na altura, viu que eu tinha muita energia e viu a chance de ter alguém, um amigo que tivesse a força que eu tinha. Mas não conseguíamos comunicar, esse é o primeiro desafio. Esse era um dos principais desafios, mas com o andar do tempo acabamos de nos comunicar.
O segundo desafio é que era um negócio na vizinha Suazlândia. Eu precisava viajar para poder buscar os produtos. Eu trabalhava, como eu disse antes. Então, eu só podia ir nos sábados. Então, eu já não tinha mais vida pessoal. Era sábado de madrugada, estar na paragem para poder ir à vizinha Suazlândia, chegar lá, carregar muitos tupperwares, muitos pop-up bags. Eu viajava com 50 pop-up bags cheios de tupperwares, porque eu levava encomenda de todo o meu grupo. E era muita humilhação na fronteira.
E eram as senhoras que vendiam outros produtos que escondiam por baixo dos tupperwares, porque eram visíveis.
E eram produtos que eu perdia e tinha que repor o valor.
E era o assédio, que para mim é uma das piores coisas. Era o assédio na fronteira.
Então, essas foram das principais humilhações, vou dizer assim, que nós tivemos que passar. Mas não foi só isso.
Eu cheguei no tupperware com o intuito de crescer, de querer crescer nesta carreira.
Então, isso não foi bem recebido, porque antes escondia-se os folhetos, escondia-se os catálogos, escondia-se tudo que podia chamar a atenção dos clientes finais.
Então, chega eu que falo do preço real, que falo dos catálogos, mostro os catálogos.
Então, isso cria um certo repúdio de quem já estava há mais tempo em relação a mim.
Então, criei muitos inimigos em relação a isso.
Depois de muitos anos, 5 anos, consegui finalmente trazer a Tupperware para Moçambique.
Eu não era distribuidora, não tinha condições financeiras de trazer a marca para cá.

A distribuidora da Swazi veio para cá, para Moçambique, e abriu a distribuição.
E, nesses 5 anos, foram conquistados muitos prêmios, foi feito o meu nome, ganhei prêmios muito renováveis na mídia da África Austral.
Fui a top leader da África Austral. Então, isso criou um nome na Tupperware em relação a mim. Pronto, abriu-se aqui em Moçambique e parece que vai ficar tudo bem.

Mas a distribuidora tinha um caráter muito difícil. Então, esse caráter afugentou, de alguma forma, muitas pessoas. Então, muitas mulheres desistiram do negócio por causa do caráter dela. Perdi muita gente do negócio por causa disso, foram para a vizinha África do Sul a fugir. É só imaginar, temos um negócio oficial em Moçambique, mas as pessoas preferem ir para a África do Sul.
Quer dizer, o tratamento era muito difícil. Mas assim foi, e depois de muitos anos, depois de alguns anos de muita humilhação e maus tratos, finalmente eu consegui ser a distribuidora. Mas isso trouxe-me muitas faturas altas para pagar, em termos de paz de espírito, em termos de pessoas ao meu redor.
Criou uma certa repúdia de muitas pessoas.
Olhando para o caso de Moçambique em especial, achas que é possível ter reconhecimento só com o empreendimento?
Olha, eu acho que eu não sou do estilo que fica à espera de reconhecimento, eu acho que nós temos que ir atrás daquilo que nós queremos, temos que fazer muito bem o nosso trabalho para que nós possamos ser reconhecidos, eu acho que sim, que é possível ser reconhecido o nosso país pelo nosso trabalho, eu particularmente acho que estou a ser reconhecida pelo meu trabalho, porque as pessoas sabem quem é Tomazia Gujamo, então quando tu faz o teu trabalho muito bem feito, a glória, o reconhecimento vem de forma automática,em qualquer sítio, em Moçambique ou fora de Moçambique, não há trabalho que vai ser reconhecido, não há nada que vai ser reconhecido sem trabalho árduo, eu estou na Tupperware há 13 anos, mas eu acredito que comecei a ser conhecida agora, e se calhar agora é que estão a entender o que realmente a Tomazia Gujamo é, então, ainda não cheguei aos patamares que eu quero chegar, onde eu vou levar a minha marca para muito mais pessoas e seja muito mais conhecida, mas mesmo para chegarmos ao reconhecimento, nós temos que ir atrás, nós somos responsáveis por ir atrás do reconhecimento, o reconhecimento não vem até nós, aliás, na vida, nada vem até nós, então, se nós ficarmos à espera do reconhecimento, ele não virá, mas se nós formos atrás, de certeza que nós vamos ter o nosso reconhecimento.
Como classificas o mundo empresarial quanto a sua aplicabilidade?
Eu desde cedo sonhei em ser empresária e eu não sabia o que é ser empresária, se calhar eu descobri agora o que é ser empresária.
Porque todos nós achamos que ser empresária é abrir um negócio e ficar à espera que o negócio prospere por si. Então, é importante que nós saibamos que ser empresário é uma pessoa que trabalha noite e dia, dia e noite. Pode até não ser a força física, mas a força mental.
Então, ser empresário é o início de tudo. Quando você se declara empresário, empreendedor, você naquele momento está a começar alguma coisa.
Então, precisa de continuar a trabalhar todos os dias e precisa de estar perto. Não é fácil. Nós estamos num país com muita burocracia.
Temos um país que não facilita muito pelas leis que tem, pela forma que tem de trabalhar. Mas é preciso que nós nos encaixemos à nossa realidade. Eu não concordo muito que nós temos que reclamar daquilo que existe.
Nós temos que nos reinventar consoante aquilo que está ao nosso dispor. Os impostos são elevadíssimos.
O mundo empresarial me fez perceber que o meu maior problema nem sequer é o próprio trabalho, mas é a força humana.
O maior problema do empresário é a força humana, com as pessoas com que trabalhas, como é que as pessoas trabalham, a confiança que tu vais depois dar nas pessoas. Não é fácil. É muito difícil ser um empresário quando você não está 100% focado. É por isso que eu sempre digo, é importante que nós sejamos empresários e façamos aquilo que realmente nós gostamos. Não é fácil resolver problemas daquilo que nós realmente não gostamos.
O que é que realmente atrai as mulheres á TUPPERWARE?

A primeira coisa que atrai as mulheres a Tupperware é o próprio produto, que é lindo, muito lindo, prático, boa qualidade, ecologicamente correto, que também é um detalhe que vão descobrir aqui.
Mas o que atrai realmente é a oportunidade que elas vêem no negócio de ter uma renda extra para as suas famílias, de também fazer parte da vida financeira da família.
Temos muitas mulheres casadas, sim, mas a maior parte delas são mulheres solteiras, são aquelas que têm que prover, são aquelas que têm que alimentar os seus filhos, pôr os seus filhos na escola, fazer as coisas acontecerem. Então, o que mais atrai as mulheres, tirando o produto, é a oportunidade de poder ter uma carreira sem precisar estudar, de poder ser alguém sem precisar estudar, de ser reconhecido, porque nós temos a cultura de reconhecer, nós reconhecemos muito o esforço de cada pessoa, cada etapa.
A oportunidade de poder mudar de vida, viajar, de poder conduzir um carro da Tupperware. Então, tem pessoas que nunca sonharam, por exemplo, em conduzir um carro, mas conseguem aqui na Tupperware, se és líder, tens um carro zero quilômetros.
Viajar, viagens internacionais. Há mulheres que nós recrutamos aqui que nunca tinham subido um avião, mas que hoje já viajam. Então, tudo isso atrai, a própria carreira Tupperware, atrai mulheres a fazerem Tupperware.
Sabendo que foste diagnósticada com a endometriose, como tens cuidado da tua saúde em função do trabalho?
Sim, eu fui diagnosticada com endometriose, vai fazer agora cinco anos. Nesses cinco anos eu sofri seis cirurgias, passei por aproximadamente quatro anos muito difíceis da minha vida. Foram momentos que eu achei que não ia conseguir passar, foram momentos de fraqueza, momentos que eu achei que fosse desistir, que eu não ia conseguir. O meu negócio ficou, de alguma forma, afetado, porque a minha presença física não era a mesma.
Eu tinha dores todos os dias, eu sofria de muitos dos sintomas da endometriose. A última cirurgia deu certo, mas fica a responsabilidade minha de cuidar de mim daqui para frente, porque a endometriose, infelizmente, não tem cura.
Então, a minha cura depende de mim. A primeira coisa é cuidar da minha cabeça, estar sempre bem espiritualmente, mentalmente bem, estar feliz comigo, estar feliz com a minha família, estar feliz com a minha vida, estar grata à minha vida.

Principalmente aceitar a doença. Aceitar que eu estou doente não significa que eu não vou me tratar. Aceitar a minha doença faz eu encarar ela com maior força, faz eu olhar para ela com outros olhos.
E, claro, cuidar de mim em termos físicos. O que significa cuidar de mim em termos físicos? Mulheres com endometriose têm a alimentação correta. Eu sigo a alimentação para mulheres com endometriose de forma religiosa. Tem que fazer alimentação equilibrada, alimentação natural, alimentos não inflamatórios, evitar as farinhas, evitar álcool, evitar refrigerantes e, claro, fazer exercício físico.
Eu faço exercício físico, eu vou ao ginásio todos os dias praticamente, não só pela beleza física, mas também pela minha saúde. Eu preciso fazer ginástica e isso tem me ajudado muito. Finalmente estou quase a chegar no meu segundo ano sem dor. Sinto-me realizada e feliz. Estou feliz também porque, de alguma forma, essa minha doença fezme perceber que há muitas mulheres com endometriose que não sabem.
Tento, de alguma forma, ajudar outras mulheres que passam por isso e não sabem muito bem o que fazer. Essa é a Tomazia quando está na sua responsabilidade social, que é auxiliar mulheres com endometriose a voltarem à vida, a voltarem a amar-se, a voltarem a ter respeito e carinho por ela, a perceber que não tem culpa por ter essa doença e a tentar venc- er os preconceitos da sociedade, porque a sociedade é muito preconceituosa.
Muitos acreditam que a endometriose são simples dores, cólicas menstruais. A endometriose é muito mais do que isso. A endometriose mexe com a cabeça, mexe com o corpo. A endometriose é capaz de matar uma pessoa ainda ela viva, sem que todo mundo ao seu redor se aperceba. Eu ensino às mulheres a não dependerem da aprovação de ninguém para serem felizes, que elas são responsáveis pelos próprios sonhos, pelas ações, são responsáveis pelas próprias vidas e que elas precisam de elas mesmas para serem felizes.
5 palavras chaves para quem gostaria de começar a empreender?
E para fechar, cinco palavraschave que eu gostava de deixar para quem está a começar a empreender, eu primeiro diria à pessoa, comece a empreender com algo que goste, precisa gostar, dois, não tenha medo nem vergonha de começar, três, foco, determinação e persistência, tudo aquilo que nós sonhamos, nós alcançamos e tudo negativo que nós nos dizemos, assim somos, se você olha para ti como uma pessoa positiva, você será uma pessoa positiva.
Já estou a me estender, mas tem uma coisa que eu gosto muito de dizer, todos os negócios são muito bons, o que faz diferente é o foco e a determinaçãodaquela pessoa que está naquele certo negócio.
