Revista 3S - 13ª Edição

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#13 Janeiro, 2024 energia3s.com.br

ISSN 2675-6684

A IMPORTÂNCIA DA INOVAÇÃO PARA GERAÇÃO DISTRIBUÍDA

Entrevista Exclusiva

Carlos Evangelista Presidente da ABGD


Solar Sustainable Solutions ISSN 2675-6684

EDIÇÃO 3S – Solar Sustainable Solutions EDITOR CHEFE Prof. Dr. Fernando Santos EDITOR ADJUNTO Guilherme de Souza CONSELHO CIENTÍFICO Aline Pan, Elton Rossini, Felipe Detzel Kipper, Lucilene Mouzinho, Rui Castro, Zelmute Marten DIAGRAMADOR Pablo Martins E-mail: pablogmartins@hotmail.com REVISORA DE PORTUGUÊS Fernanda Silva de Souza E-mail: fsrevisora@gmail.com COLABORADORES Carlos Evangelista, Pedro Pereira de Almeida, Marcel Coelho, Romario Araujo, Alexandre Becker, Geovani Oligini Neto Pereira, Tiago Luís Weber, Hans Rauschmayer, Maria Luiza Mello, Felipe Detzel Kipper, Adriana Silva, Jaqueline Lidorio de Mattia, Fernando Santos, Aurélio Souza, Erik Canelhas, Tatiane Carolina Ergino da Silva e Bruno Herbert. PUBLICAÇÃO Trimestral CIRCULAÇÃO 13ª Edição - Janeiro/2024 VERSÃO Eletrônica – www.energia3s.com.br/revista

PARA SE CORRESPONDER E ANUNCIAR: 3S - Solar Sustainable Solutions Parque Tecnológico da Unisinos Av: Unisinos, 950 – Unitec 1 – Sala: 205D 93.020-190 – São Leopoldo/RS (Brasil) Phone/Whats: +55 51 9. 9916.0711 E-mail: revista3s@energia3s.com.br É PROIBIDA A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL DE TEXTOS, FOTOS, ILUSTRAÇÕES E INFOGRÁFICOS SEM PRÉVIA AUTORIZAÇÃO.


ÍNDICE

ENTREVISTA Carlos Evangelista

ESTUDO DE CASO: IMPLEMENTAÇÃO DE INVERSOR COM ELEVADA SOBRECARGA EM USINA DE MICROGERAÇÃO

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Pedro Pereira de Almeida, Marcel Coelho e Romario Araujo

MERCADO LIVRE DE ENERGIA: ECONOMIA COM INVESTIMENTO ZERO

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Alexandre Becker, Geovani Oligini Neto Pereira e Tiago Luís Weber

CAPACITAÇÃO MULTIDIMENSIONAL EM PROJETOS SOCIAIS DE ENERGIA SOLAR: MUITO ALÉM DE UMA DOAÇÃO

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Hans Rauschmayer

ENTREVISTA Maria Luiza Mello

O DESAFIO DA INOVAÇÃO NAS EMPRESAS Felipe Detzel Kipper, Adriana Silva, Jaqueline Lidorio de Mattia e Fernando Santos

EXPERIÊNCIAS COM FINANCIAMENTO DE SISTEMAS DE ARMAZENAMENTO DE ENERGIA.

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Aurélio Souza e Erik Canelhas

FORTALECENDO COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS: UM OLHAR SOBRE ECOSSISTEMAS NO MERCADO SOLAR

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Tatiane Carolina Ergino da Silva

REFRIGERADORES EFICIENTES CONGELAM AUMENTOS NA CONTA DE ENERGIA DOS LARES BRASILEIROS Bruno Herbert

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CARTA AO LEITOR

Prof. Dr. Fernando Santos CEO 3S e Editor Chefe da Revista 3S Mais um ano está começando e a Revista 3S está chegando em sua 13ª Edição, sempre com o objetivo de deixar nossos leitores bem-informados sobre um dos setores que mais está crescendo no Brasil nos últimos anos: o da energia solar fotovoltaica. Nesta edição, tentamos trazer aos leitores a importância de implementar uma cultura de inovação nas empresas, sempre se adequando as suas estratégias corporativas. O termo "inovar" tem sua origem no latim "innovare", que significa "fazer novo", "renovar" ou "introduzir algo novo". O termo deriva da combinação do prefixo "in" (que indica movimento para dentro) e "novare" (verbo relacionado a "novus", que significa "novo"). O termo vem ganhando destaque especialmente nas últimas décadas, à medida que as empresas e sociedades reconhecem a importância de se adaptar e evoluir em um mundo em constante transformação. O conceito de inovação tem evoluído ao longo do tempo, mas a proposta fundamental permanece a mesma: introduzir algo novo ou fazer melhorias significativas em algo existente. A inovação não se limita apenas à criação de novos produtos ou tecnologias, mas

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também envolve novos processos, modelos de negócios, abordagens organizacionais e até mesmo inovações sociais. A inovação é considerada um propulsor do progresso em diversos setores, impulsionando o desenvolvimento econômico, melhorando a qualidade de vida e estimulando a competitividade trazendo uma série de benefícios, contribuindo com maior vantagem competitiva, crescimento do negócio, eficiência operacional, satisfação do cliente, atração de talentos, resiliência, reputação de marca, sustentabilidade, colaboração e parcerias e adaptação às mudanças do mercado. É importante ressaltar que a inovação não se limita apenas à tecnologia, ela abrange todas as áreas, desde estratégias de gestão até a cultura organizacional e, com esta edição, queremos incentivar você a praticar uma cultura de inovação em seu ambiente de trabalho. Desde 2012, quando a REN 482/2012 estabeleceu os critérios para a Geração Distribuída no Brasil, já foram investidos mais de R$ 173 bilhões. Hoje, por exemplo, o país é um grande produtor de módulos orgânicos flexíveis, fruto de inovação desenvolvida a partir de Projetos de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D). É por isso que o processo de inovação depende diretamente da capacidade criativa dos profissionais e da habilidade de captar recursos financeiros para inovação, sendo as agências de fomento à inovação, como Finep, Embrapii, CNPq e tantas outras, instrumentos estratégicos para impulsionar esse processo. Essas iniciativas não apenas fortalecem a competitividade no mercado nacional, mas também elevam a presença das empresas brasileiras no cenário global da inovação, promovendo crescimento sustentável e excelência empresarial. Nessa 13ª Edição da Revista 3S, trazemos artigos com vários temas, entre eles armazenamento de energia na Europa, inovação em empresas, Ambiente de Contratação Livre (ACL), projetos sociais de energia solar, entre outros. Nesta edição, contamos com duas entrevistas exclusivas. A primeira com o novo Presidente da Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD), Carlos Evangelista, que nos conta sobre a nova gestão da associação e também do mercado de Geração Distribuída no Brasil. A segunda entrevista é com a representante da Ombrello Seguro Solar, Maria Luiza, que aborda aspectos importantes com relação aos seguros voltados para sistemas fotovoltaicos. Junte-se a nós nesta jornada e descubra como uma cultura de inovação pode impulsionar seus negócios e abrir portas para um futuro ainda mais promissor. A Equipe da Revista 3S deseja a todos os leitores um excelente ano de 2024 e uma ótima leitura!

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ENTREVISTA 1. Conte-nos como foi o processo para retornar ao cargo de Presidente da Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD). Tell us about the process of returning to the position of President of the Brazilian Association of Distributed Generation (ABGD).

Carlos Evangelista: O processo de retorno ao cargo foi marcado por um profundo reconhecimento da importância da Geração Distribuída (GD) no contexto energético brasileiro. Com a experiência adquirida em 3 mandatos anteriores e um diálogo constante com os associados e stakeholders, identificamos a necessidade de fortalecer ainda mais a associação, focando em inovação, sustentabilidade e expansão do mercado de GD. O apoio dos membros do conselho e associados, e a confiança depositada em minha pessoa foram fundamentais nesse processo. The process of returning to the position was marked by a profound recognition of the importance of Distributed Generation (DG) in the Brazilian energy context. With the experience acquired in 3 previous mandates and constant dialogue with members and stakeholders, we identified the need to further strengthen the association, focusing on innovation, sustainability and expansion of the DG market. The support of board members and associates, and the trust placed in me were fundamental in this process.

Carlos Evangelista Presidente da ABGD Graduado em Engenharia e Direito, com pósgraduação em Comunicação de Marketing, especialização em "Política & Estratégia" e um MBA em Marketing de Serviços pela FIA/FEA - USP, mais de duas décadas dedicadas à liderança em empresas globais de renome, como Ericsson, Avaya, Leuze Eletronic e GM Tecnologia. Ao longo desses anos, teve atuação destacada em projetos inovadores e na promoção de fontes renováveis de energia, contribuindo para o avanço do setor. Em 2012, foi coordenador da ABINEE (Associação Brasileira da Indústria Eletro-Eletrônica), liderando o trabalho "Inserção da Energia Solar Fotovoltaica na Matriz Elétrica Brasileira". Premiado pela FIESP, como o melhor projeto na categoria construções sustentáveis em 2014. Reconhecido pela Full Energy como um dos 100 profissionais mais influêntes no setor de energia em 2016, 2018 e 2019. Em 2021, foi eleito um dos 100 profissionais mais influentes da década no setor elétrico brasileiro. Cofundador e presidente por três mandatos da ABGD – Associação Brasileira de Geração Distribuída, e atual presidente para o biênio 2024-2025.

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2. Quais os principais pontos que você deseja atuar nesse retorno ao cargo de presidente da ABGD? What are the main points that you want to work on in your return to the role of president of ABGD?

Carlos Evangelista: Neste retorno, o foco é ampliar a participação da GD no mix do setor elétrico brasileiro, em especial mini-geração, onde estão os maiores problemas, investimentos e empregos, promovendo políticas públicas favoráveis e fomentando a adoção de tecnologias e modelos de negócios mais eficientes e sustentáveis. Priorizare-mos também a educação e capacitação dos profissionais do setor, além de trabalhar para simplificar processos regulatórios e estimular o investimento em pesquisa e desenvolvimento. In this return, the focus is to expand GD's participation in the Brazilian electricity sector mix, in particular minigeneration, where the biggest problems, investments and jobs are, promoting favorable public policies and encouraging the adoption of more efficient and sustainable technologies and business models. We will also prioritize the education and training of professionals in the sector, in addition to working to simplify regulatory processes and encourage investment in research and development.

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3. Quais ações os associados podem esperar da gestão que está iniciando? What actions can members expect from the new administration?

Carlos Evangelista: Os associados podem esperar uma gestão proativa, com iniciativas voltadas para o fortalecimento do setor. Isto inclui a promoção de eventos, seminários e workshops, além de representação junto aos órgãos reguladores para defender os interesses do setor. Também focaremos em parcerias estratégicas para benefícios mútuos entre os associados e outros setores relacionados. Associates can expect proactive management, with initiatives aimed at strengthening the sector. This includes the promotion of events, seminars and workshops, as well as representation with regulatory bodies to defend the interests of the sector. We will also focus on strategic partnerships for mutual benefits between members and other related sectors.

4. Como a ABGD avalia a penetração da GD no Brasil? How does ABGD assess the penetration of DG in Brazil?

Carlos Evangelista: A ABGD vê a inserção da GD no Brasil com otimismo. O país tem um grande potencial em todas as fontes renováveis, e particularmente vocação para energia solar, e temos observado um crescimento significativo nos últimos anos. No entanto, ainda há desafios a serem superados, como a necessidade de maior apoio regulatório e infraestrutura física e digital para garantir a expansão sustentável da GD. ABGD views the insertion of GD in Brazil with optimism. The country has great potential in all renewable sources, and particularly solar energy, and we have seen significant growth in recent years. However, there are still challenges to be overcome, such as the need for greater regulatory support and physical and digital infrastructure to ensure the sustainable expansion of DG.

Recent changes in legislation, through normative resolutions, have been a point of attention. Some regulatory changes brought additional challenges, such as the review of technical procedures and standards, but also opportunities, such as incentives for new technologies. ABGD has been actively engaged in dialogue with policymakers to ensure that changes are favorable to the development of DG.

6. Qual o papel desempenhado pela GD na busca pela redução da emissão de gases do efeito estufa? What role does GD play in seeking to reduce greenhouse gas emissions?

Carlos Evangelista: A GD desempenha um papel crucial na redução das emissões de gases de efeito estufa. Ao promover fontes de energia renováveis, como a solar fotovoltaica, contribuímos significativamente para a diminuição da dependência de combustíveis fósseis e para a sustentabilidade ambiental. A ABGD tem como compromisso fomentar práticas que contribuam para um futuro energético mais limpo e sustentável. DG plays a crucial role in reducing greenhouse gas emissions. By promoting renewable energy sources, such as solar photovoltaics, we significantly contribute to reducing dependence on fossil fuels and environmental sustainability. ABGD is committed to promoting practices that contribute to a cleaner and more sustainable energy future.

5. Como as mudanças na legislação tem impactado o mercado de GD brasileiro?

7. Quais as vantagens de diversificar tanto a matriz energética e elétrica com fontes renováveis?

How have changes in legislation impacted the Brazilian DG market?

What are the advantages of diversifying both the energy and electrical matrix with renewable sources?

Carlos Evangelista: As mudanças recentes na legislação, através de resoluções normativas, têm sido um ponto de atenção. Algumas alterações regulatórias trouxeram desafios adicionais, como a revisão dos procedimentos e normas técnicas, mas também oportunidades, como incentivos para novas tecnologias. A ABGD tem atuado ativamente no diálogo com os formuladores de políticas para garantir que as mudanças sejam favoráveis ao desenvolvimento da GD.

Carlos Evangelista: A diversificação com fontes renováveis traz múltiplas vantagens: reduz a dependência de combustíveis fósseis, diminuindo a emissão de gases poluentes e contribuindo para a luta contra as mudanças climáticas. Além disso, aumenta a segurança energética, distribui melhor a geração de energia pelo país, e pode gerar empregos e impulsionar economias locais. Fontes renováveis, como a solar e a eólica, também são cada vez mais competitivas economicamente.

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Diversification with renewable sources brings multiple advantages: it reduces dependence on fossil fuels, reducing the emission of polluting gases and contributing to the fight against climate change. Furthermore, it increases energy security, better distributes energy generation across the country, and can generate jobs and boost local economies. Renewable sources, such as solar and wind, are also increasingly economically competitive.

8. Ultimamente tem se falado muito em sistemas agrovoltaicos. Como a ABGD enxerga essa oportunidade e qual o potencial do Brasil para este mercado? Lately there has been a lot of talk about agrovoltaic systems. How does ABGD see this opportunity and what is Brazil's potential for this market?

Carlos Evangelista: A ABGD vê os sistemas “agrovoltaicos” como uma oportunidade promissora, especialmente no Brasil, que possui extensas áreas agrícolas e um clima favorável. Esses sistemas permitem a coexistência produtiva da agricultura com a geração de energia solar, otimizando o uso do solo e aumentando a renda dos agricultores. O potencial do Brasil para esse mercado é imenso, considerando sua capacidade agrícola e solar. ABGD sees agrivoltaic systems as a promising opportunity, especially in Brazil, which has extensive agricultural areas and a favorable climate. These systems allow the productive coexistence of agriculture with solar energy generation, optimizing land use and increasing farmers' income. Brazil's potential for this market is immense, considering its agricultural and solar capacity.

9. Como a ABGD avalia a situação da reciclagem de resíduos do mercado de energia solar no Brasil? Existem políticas específicas para esse tema? How does ABGD assess the situation of waste recycling in the solar energy market in Brazil? Are there specific policies for this topic?

Carlos Evangelista: A reciclagem de resíduos do mercado de energia solar é um tema emergente no Brasil. Embora ainda não existam políticas específicas para a reciclagem de painéis solares, exceto o tratado na política nacional de resíduos sólidos, a ABGD reconhece a importância de desenvolver tais políticas e práticas sustentáveis. Estamos comprometidos em trabalhar com stakeholders para promover o desenvolvimento de soluções para o fim de vida dos painéis solares e demais componentes dos sistemas FV. Recycling waste from the solar energy market is an emerging topic in Brazil. Although there are still no specific policies for the recycling of solar panels, except as addressed in the national solid waste policy, ABGD recognizes the importance of develo-

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ping such sustainable policies and practices. We are committed to working with stakeholders to promote the development of solutions for the end of life of solar panels and other components of PV systems.

10. Como a ABGD atua para estimular a qualificação da mão-de-obra de seus associados? How does ABGD work to encourage the qualification of its members’ workforce?

Carlos Evangelista: Para estimular a qualificação da mão-de-obra, a ABGD promove cursos, treinamentos e certificações para os profissionais do setor. Buscamos parcerias com instituições de ensino e empresas especializadas para oferecer educação continuada e atualizada, alinhada com as tendências e tecnologias mais recentes do mercado. Como exemplo prático disso, podemos citar a Certificação do Instalador Fotovoltaico, parceria com o SENAI desde 2018 certificação do responsável técnico, parceria com a Totum desde 2021. To encourage the qualification of the workforce, ABGD promotes courses, training and certifications for professionals in the sector. We seek partnerships with educational institutions and specialized companies to offer continuing and updated education, aligned with the latest market trends and technologies. As a practical example of this, we can mention the Photovoltaic Installer Certification, partnership with SENAI since 2018, certification of the technical manager, partnership with Totum since 2021.

11. Quais as perspectivas para o mercado de GD neste ano de 2024? What are the prospects for the DG market in 2024?

Carlos Evangelista: As perspectivas para o mercado de GD em 2024 são muito positivas. Esperamos um crescimento contínuo, impulsionado pela busca por fontes de energia mais sustentáveis e pela contínua redução dos custos das tecnologias de GD. A tendência é que haja uma maior adoção tanto por consumidores residenciais quanto por empresas e indústrias, com um crescimento diferenciado no segmento de agrobusiness. The prospects for the DG market in 2024 are very positive. We expect continued growth, driven by the search for more sustainable energy sources and the continued reduction in the costs of DG technologies. The trend is for greater adoption by both residential consumers and companies and industries, with differentiated growth in the agribusiness segment.

12. Em sua visão, como estimular a adoção de Projetos de P&D por parte das empresas inseridas no setor de Geração Distribuída? In your view, how to encourage the adoption of R&D

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Projects by companies in the Distributed Generation sector?

What message would you like to leave to readers and partners?

Carlos Evangelista: Para estimular a adoção de projetos de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), a ABGD trabalha na conscientização das empresas sobre a importância da inovação para a competitividade e sustentabilidade do setor. Além disso, promovemos parcerias entre empresas, universidades e institutos de pesquisa, e buscamos facilitar o acesso a fontes de financiamento e incentivos fiscais para P&D.

Carlos Evangelista: Gostaria de deixar uma mensagem de otimismo e convocação para a ação. Estamos em um momento crucial para o futuro energético do Brasil e do mundo. A Geração Distribuída tem um papel fundamental nesse cenário, e cada um de nós, seja como consumidor, empresário, ou parceiro, pode contribuir para um futuro mais sustentável. A ABGD está comprometida em liderar essa transformação e conta com o apoio e a colaboração de todos associados e não associados para alcançar nossos objetivos comuns.

To encourage the adoption of Research and Development (R&D) projects, ABGD works to raise awareness among companies about the importance of innovation for the competitiveness and sustainability of the sector. Furthermore, we promote partnerships between companies, universities and research institutes, and seek to facilitate access to sources of financing and tax incentives for R&D.

13. Qual a mensagem que você gostaria de deixar aos leitores e aos parceiros?

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I would like to leave a message of optimism and a call to action. We are at a crucial moment for the energy future of Brazil and the world. Distributed Generation plays a fundamental role in this scenario, and each of us, whether as a consumer, businessman, or partner, can contribute to a more sustainable future. ABGD is committed to leading this transformation and counts on the support and collaboration of all members and non-members to achieve our common goals.

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ESTUDO DE CASO: IMPLEMENTAÇÃO DE INVERSOR COM ELEVADA SOBRECARGA EM USINA DE MICROGERAÇÃO Pedro Pereira de Almeida¹, Marcel Coelho² e Romario Araujo³ ¹pedro.almeida@nansensolar.com.br; ²marcel.coelho@nansensolar.com.br; ³romario.araujo@nansensolar.com.br. Nansen Solar Pedro Pereira de Almeida é Mestre em Sistemas de Potência pela UNICAMP. Bacharel em Engenharia Elétrica pela UFSC. Graduação sanduíche pela University College Cork (UCC). Experiência na área de distribuição de energia, qualidade de energia, eficiência energética e fontes renováveis. Atua na área de pré-vendas, suporte técnico e treinamentos na Nansen Solar. Marcel Tavares Coelho é Doutorando em Energias Renováveis pela UFABC, Mestre em Energias Renováveis e Sistemas de Rastreamento pela UFABC, sanduíche pela Harvard Extension School. 12 anos de experiência em sistemas de energia, com atuação em

diversos projetos de eólica, geração centralizada e distribuída. Responsável pela área de engenharia de produtos da Nansen Solar. Romário Martins de Araújo é Bacharelando em Engenharia Elétrica pela Universidade Anhembi Morumbi, Formação em Análise e desenvolvimento de Sistemas pela Faculdade de Extrema (FAEX), Especialista em Perícia Forense Digital pela Faculdade Impacta Tecnologia, com mais de 6 anos de experiência em gerenciamento de Projetos e supervisão de suporte técnico, atualmente responsável pelo departamento de pós-venda da Nansen Solar.

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Resumo Esse artigo tem como objetivo avaliar o desempenho de uma usina com potência instalada de 75kW e localizada na região de Toledo – Paraná. Para isso foram comparados e retirados dados resultantes de simulações computacionais do monitoramento online da usina. O projeto considera o uso de um inversor string com sobrecarga de 76% de forma a avaliar os ganhos energéticos e o desempenho do equipamento em condições reais de operação. Palavras-chave: Microgeração; Sobrecarga; Usinas; Nansen e 75kW.

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Introdução Atualmente, a fonte solar fotovoltaica é o principal meio de geração renovável adotada por consumidores em todo o país. A energia solar tornouse uma alternativa atraente para geração distribuída devido aos desenvolvimentos tecnológicos, redução no tempo de payback, e avanços globais em direção a políticas de implementação para matrizes energéticas mais limpas e sustentáveis. Até o ano de 2023, foram mais de 25GW de potência instalada acumulada para a fonte solar no Brasil com grande parte das instalações na geração distribuída. De consumidores residências a empresas de grande porte, a geração fotovoltaica possibilita energia3s.com.br


benefícios econômicos, assim como ambientais e sociais. No âmbito econômico e social a geração distribuída traz como benefícios a redução nas faturas de energia elétrica, a qualificação de profissionais e a criação de novas vagas de emprego. Já a substituição de fontes geradoras poluentes por fontes limpas como a solar, permite acelerar o movimento em direção a uma matriz energética mais descentralizada e limpa. Ferramentas virtuais e práticas podem ser adotadas para avaliar os benefícios econômicos de uma usina solar. No campo virtual, as simulações através de softwares modernos permitem estimar com grande precisão a geração ao longo de toda a vida útil da usina, comparar diferentes configurações de arranjos fotovoltaicos, assim como possíveis perdas elétricas por escolhas de projeto. As simulações virtuais também permitem computar parâmetros de desempenho e comparação entre usinas. Na prática, medições nas strings fotovoltaicas através de equipamentos especializados permitem registrar os parâmetros elétricos de cada módulo ou string fotovoltaica, e assim, avaliar a operação de cada componente. Os inversores mais modernos capturam, processam e registram todos os parâmetros elétricos da usina de forma automática, inclusive transmitindo essas informações para plataformas digitais e de fácil acesso. Assim, as plataformas de monitoramento online dos inversores se tornaram uma ferramenta essencial para as equipes de O&M. Além disso, as informações acessíveis nessas plataformas são valiosas para fabricantes, distribuidores e proprietários. Esse artigo tem como objetivo avaliar o desempenho de uma usina fotovoltaica de microgeração distribuída a partir de resultados de simulação e através de dados reais obtidos na implementação em campo. Serão avaliados fatores como impacto da sobrecarga do equipamento na geração de energia, temperatura de operação do inversor fotovoltaico, tensão de inicialização do equipamento entre outros. A análise desses dados por investidores e proprietários é essencial na determinação do retorno financeiro e na avaliação dos componentes escolhidos durante a fase de projeto.

Visão Geral do Projeto O projeto em análise consiste em uma usina de solo, localizada na região de Toledo – Paraná (Figura 1). Essa região possui características topográficas e climáticas (alta amplitude térmica) que permitem testar o desempenho de equipamentos como o inversor fotovoltaico (Figura 2).

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Figura 1 - Vista de área da usina.

Fonte: Autor.

Figura 2 - Abrigo construído para o inversor.

Fonte: Autor.

Para a geração e transformação de energia foi escolhido um único inversor string com potência máxima de saída de 75kW, isso permite que a usina maximize sua geração e ainda seja classificada como microgeração distribuída. O inversor é abrigado de sol e chuva pelo abrigo mostrado na Figura 2 e a sua saída CA é ligada diretamente a rede da concessionária. Não há consumo local de energia. A escolha por um inversor do tipo string permite maior flexibilidade na configuração das strings fotovoltaicas, visto que apresenta múltiplos rastreadores de máxima potência (MPPTs) independentes, proteções integradas, alta suportabilidade a variações de temperatura e controle inteligente para gerenciamento térmico interno. O inversor implementado no projeto é da fabricante Nansen Solar, empresa brasileira/chinesa com sede na cidade de São Paulo. O modelo ASN-75TL-LV foi escolhido por ser um equipamento de alta confiabilidade, com 6 MPPTs independentes (2 entradas por MPPT) e possibilitar sobrecargas maiores que 50%. Além disso, a tensão de saída do inversor é em 220V, eliminando o uso de transformado para a conexão com a rede elétrica local. Em campo, todas as 12 entradas do inversor foram utilizadas de forma igual. Para cada entrada foram conectados 20 módulos em série, totalizando 240 unidades. Os módulos adotados possuem

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potência nominal de 550W em STC e são do tipo bifaciais, ou seja, absorvem a energia incidente pela parte frontal e dianteira do componente. As principais características do projeto estão sumarizadas na Tabela 1 abaixo:

Figura 3 - Geração mensal estimada do arranjo fotovoltaico.

Tabela 1 - Principais características da usina fotovoltaica.

Fonte: Autor.

Pelas características dadas na tabela 1 é possível observar que o inversor foi projetado para operar com uma relação de potência CC/CA ou sobrecarga de aproximadamente 76%. Esse valor de sobrecarga foi escolhido de forma a maximizar a geração da usina dentro das regras para microgeração e ao mesmo tempo testar os limites do equipamento em campo. As simulações a seguir mostram o impacto esperado da sobrecarga na geração de energia.

Fonte: Autor.

Figura 4 - Produção diária estimada na saída do inversor.

Resultados de Simulações O software escolhido para modelagem computacional da usina e estimativa de geração de energia foi o PVSyst. Esse software permite maior fidelidade as condições reais, como detalhamento de perdas elétricas e previsão meteorológica com base nos dados, aumentando o grau de confiança na simulação. O modelo de simulação considerou os equipamentos e características mostrados na Tabela 1, com uma inclinação fixa de 25º e azimute 0º para as strings fotovoltaicas. Não houve a necessidade de modelagem de sombreamento, visto que a usina de solo não apresentou nenhuma área com essa possibilidade. Os resultados de geração de energia para a usina projetada foram sumarizados na Tabela 2 abaixo. Nota-se que durante as simulações não foi considerado o ganho bifacial dos módulos, por isso, espera-se que os resultados obtidos em campo sejam maiores em termos de produção de energia. Tabela 2 - Índices de produção de energia esperados durante o projeto.

Fonte: Autor.

A geração de energia total e específica exibida na Tabela 2 consideram valores padrões para estimar as perdas por sujidade (3%), descasamento entre strings (2% por MPPT), LID, resistência elétrica dos cabos, entre outras. A geração mensal esperada pelo arranjo é exibida na Figura 3.

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Fonte: Autor.

Conforme os resultados da Figura 3, a maior geração de energia mensal é esperada para o mês de dezembro com média de 4,5kWh/kWp/dia gerados ou total de 18344 kWh injetados na rede. Por outro lado, o mês de menor geração esperada é Junho com média de 3,5kWh/kWp/dia gerados ou 13.913kWh injetados na rede. Comparando esses dois meses tem-se uma diferença de geração de 4.431kWh ou 30% de geração devido a diferença de energia incidente no arranjo fotovoltaico durante o verão e inverno na região oeste do Paraná. A Figura 4 mostra que a configuração adotada permite atingir picos de até 700kWh/dia na saída do inversor durante os meses de verão. Esse valor pode cair para menos de 100kWh/dia durante períodos do mês de junho. O uso de alta sobrecarga ou razão CC/CA no inversor permite melhorar a produção de energia total do arranjo durante períodos de baixa irradiância. Por exemplo, a escolha de uma sobrecarga de 70% no sistema implementado ao invés de 50% resulta em aproximadamente um ganho de 17% na geração de energia total. Por outro lado, a produção específica do arranjo passaria de 1501kWh/kWp/ano para 1534 kWh/kWp/ano com 50% de sobrecarga, devido as menores perdas por clipping no inversor.

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Desempenho da Usina A usina em estudo começou a operar no dia 07 de Outubro de 2023, conforme as configurações dadas na Tabela 1. Os gráficos de geração mensal durante o ano de 2023 e diário para o mês de dezembro são exibidos na Figura 5 e Figura 6, respectivamente. Figura 5 - Geração real da usina durante os meses de 2023.

Fonte: Autor.

Para avaliar o desempenho do inversor, foram coletados dados e parâmetros elétricos durante o dia de maior geração elétrica do ano. A Figura 7 exibe o comportamento da tensão das strings fotovoltaicas e a curva de geração do inversor em kW (cor marrom) ao longo desse dia. É interessante observar na Figura 7 que a operação do inversor se deu a partir das 05:26 da manhã, no qual as strings atingiram a tensão suficiente para ativar os sistemas de controle e potência do equipamento. A partir desse ponto de operação a curva de potência do inversor vai gradativamente se elevando até atingir a potência máxima de saída do equipamento ou 82,5kW por volta de 09:50h da manhã. Figura 7 - Curva de potência do inversor (marrom) e de tensão das strings fotovoltaicas.

Figura 6 - Geração diária da usina durante o mês de dezembro de 2023.

Fonte: Autor. Fonte: Autor.

Analisando os resultados da Figura 5 é possível identificar que o mês de maior geração foi o de dezembro com aproximadamente 17.600kWh injetados na rede elétrica. Esse valor é cerca de 22% maior que a geração obtida durante o mês de novembro, o qual totalizou 14337,31kWh. O mês de outubro possui a menor geração durante o período de operação em 2023 com aproximadamente 12.000kWh gerados, porém o inversor operou durante apenas três semanas desse mês. Os resultados da Figura 5 estão conforme o esperado pelas simulações, o qual o mês de dezembro também apresentou a maior geração do ano. A diferença entre os valores simulados e reais é de 4%, com as simulações sobrestimando as gerações do mês. Essa diferença pode ser explicada pelos dias com baixa geração do inversor observados na Figura 6. Por exemplo, no dia 07 e 10 de dezembro foram produzidos menos de 200kWh por dia, provavelmente, por questões climáticas. Nos três meses de operação em 2023 o inversor totalizou 43,97MWh gerados. Só no mês de dezembro foram totalizados 16953,13kWh, com média diária de 626,17kWh. Nesse mês, a maior geração diária ocorreu no dia 15, o qual foram produzidos mais de 725kWh. Esse resultado supera a expectativa diária mostrada na distribuição da Figura 4. energia3s.com.br

Ao longo desse dia o inversor operou por cerca de 14h, sendo que durante 03h30 foram atingidas a potência máxima de saída do equipamento. Isso foi devido a alta sobrecarga de módulos e, também, a baixa tensão de partida e operação do inversor. Essas características de projeto resultam em um amplo período de operação e produção de energia. Por fim, a temperatura interna do inversor é investigada (Figura 8). Esse é um fator importante pois pode afetar o desempenho do equipamento em curto ou a longo prazo. Um inversor que opera em temperaturas fora do especificado pelo fabricante pode apresentar problemas de queda de desempenho (derating térmico), desligamento automático ou redução na sua vida útil. Figura 8 - Curva de operação em kW (azul) e temperatura interna (vermelha) do inversor.

Fonte: Autor.

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A Figura 8 exibe a curva de temperatura interna do inversor sobreposta a curva de potência no dia 15 de dezembro. Com base nessas curvas é possível investigar se o inversor apresenta algum problema relacionado com a temperatura e local de operação. Durante o horário de pico de operação o inversor apresentou temperatura interna abaixo de 70ºC graus. Segundo os dados da Figura 8, mesmo operando por mais de 03 horas na potência máxima, o inversor atingiu temperatura máxima de 67,4ºC graus. Esse valor de temperatura máxima é menor que o informado pelo fabricante para ocorrência do derating térmico (por volta de 85ºC). Isso permite concluir, que o inversor opera com boa margem de segurança em relação a sua temperatura de funcionamento, mesmo quando submetido a sobrecargas maiores que 70%. Os valores de temperatura anteriores são explicados observando o sistema de gerenciamento térmico inteligente do inversor, o qual permite regular a temperatura interna através de dissipação natural e, também, de ventoinhas controladas de acordo com a temperatura ambiente. Para o projeto esta é uma característica positiva já que permite maximizar a geração sem causar danos aos equipamentos ou impactar negativamente o desempenho do sistema.

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Considerações Finais Esse artigo apresentou dados reais obtidos através da implementação em campo de uma usina de 75kW. A operação da usina durante os três últimos meses do ano de 2023 foi comparada com os valores esperados através de simulações. Os resultados mostram que o desempenho da usina concorda com o estimado pelas simulações, com diferença de 4% de geração no mês de maior produtividade. Os resultados positivos em termos de geração são explicados pelo desempenho e sobrecarga do inversor escolhido. O estudo mostrou que apesar do projeto com alta sobrecarga CC/CA, não houve comprometimento no desempenho do inversor. Avaliações futuras devem considerar um maior período de operação da usina e avaliar o impacto da sobrecarga no retorno do investimento e LCOE da usina, assim como na vida útil do inversor fotovoltaico.

Referências Brasil acrescentou 7,46 GW em geração solar distribuída em 2023. Disponível em: <https://www.portalsolar.com.br/noticias/mercado/geracaodistribuida/brasil-acrescentou-7-46-gw-em-geracao-solar-distribuida-em-2023>. Acesso em: 10 jan. 2024. Nansen Instrumentos de Precisão Ltda - ASN (60-75)TL-L. Disponível em: <http://nansen.com.br/inversor/asn-60-75tl-l/>. Acesso em: 10 jan. 2024. V e r t y s S o l a r G r o u p . D i s p o n í v e l e m : <https://institucional.vertysgroup.com/produtos/modulo-fotovoltaico-era-solaresphsc-550w/66>. Acesso em: 10 jan. 2024.

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MERCADO LIVRE DE ENERGIA: ECONOMIA COM INVESTIMENTO ZERO Alexandre Becker¹, Geovani Oligini Neto Pereira² e Tiago Luís Weber³ ¹alexandre.becker@ludfor.com.br, ²geovani.pereira@ludfor.com.br, ³tiago.weber@ludfor.com.br Ludfor Energia Alexandre Vinicius Becker atua desde 2011 no Mercado Livre e é graduado em Engenharia Elétrica pela PUC-RS, pós-graduado em sistemas de potência pela UniSociesc-SC e possui MBA em Gestão de Negócios no Setor Elétrico pela FGV.

Oeste do Paraná (UNIOESTE) com ênfase em sistemas de potência. Tiago Luís Weber atua desde 2020 no setor elétrico e é graduado em Engenharia Elétrica pela Universidade do Vale do Rio do Sinos (UNISINOS).

Geovani Oligini Neto Pereira atua desde 2020 no setor elétrico e é graduado em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual do

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Resumo A incessante busca por reduções de custo com energia elétrica é uma prioridade constante nas empresas. Até 2023, apenas empresas que atendiam determinados requisitos tinham a possibilidade de migrar para o Ambiente de Contratação Livre (ACL), entretanto, a partir de janeiro de 2024 estes requisitos mínimos foram retirados e o ACL já é uma realidade para todos os consumidores do Grupo A. As oportunidades de economia, com investimentos iniciais mínimos ou praticamente inexistentes, aliadas aos baixos preços de energia elétrica no ACL, têm viabilizado a migração de muitos consumidores. Além disso, mesmo os consumidores que já investiram em geração própria também podem considerar essa oportunidade caso ainda possuam consumo acima da sua capacidade de geração, visando uma economia ainda maior com uma solução que até então não era possível. Palavras-chave: Mercado Livre; Ambiente de Contratação Livre (ACL); Autoprodução; Migração.

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Introdução O setor elétrico brasileiro (SEB) passou por diversas mudanças ao longo dos anos, partindo de um monopólio estatal com empresas verticalmente integradas, todos os consumidores cativos e um mercado fortemente regulado. Devido as crises energéticas do final da década de 90 e começo dos anos 2000, o SEB sofreu diversas alterações, resultando na estrutura da Figura 1. Figura 1 - Estrutura do SEB. Presidente

Política Regulação e Fiscalização Agentes de Mercado

CNPE

Agentes Institucionais

MME

CMSE

EPE

ANEEL

ONS

Eletrobras

Agente de Transmissão

CCEE

Agente de Distribuição

Agente de Comercialização

Agente de Geração

Fonte: Elaborada pelos Autores (2024).

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Durante essas reformas também foram criados dois ambientes de comercialização distintos: (i) o Ambiente de Comercialização Regulado (ACR) e (ii) o Ambiente de Comercialização Livre (ACL) sendo a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) o órgão responsável por formalizar os contratos de compra e venda de energia destes ambientes de comercialização. No ACR são estabelecidos contratos de compra e venda de energia elétrica, chamados Contratos de Comercialização de Energia no Ambiente Regulado (CCEARs), entre os agentes geradores e as distribuidoras de energia elétrica. Esses contratos seguem regras rigorosamente estabelecidas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL).

2023 até outubro foram consumidos aproximadamente 192.280 GWh no ACL). A Figura 3 ilustra a participação do ACL no consumo do setor elétrico. Os dados são da CCEE. Figura 3 - Participação do ACL no consumo do setor elétrico.

Desenvolvimento Ambiente de Contratação Livre (ACL) No ACL, a compra e venda de energia é feita através de Contratos de Comercialização de Energia no Ambiente Livre (CCEALs), que são contratos bilaterais em que o consumidor final escolhe o seu fornecedor de energia e juntas estabelecem preços, vigência contratual, montantes de energia a contratar, flexibilidades, entre outros. Os agentes vendedores podem ser geradores ou comercializadores, já o comprador pode ser outra comercializadora ou um consumidor livre. Os consumidores livres são classificados como clientes que compram energia diretamente dos agentes geradores ou comercializadores. O requisito para se tornar um consumidor livre vem reduzindo ao longo dos anos até a abertura total do mercado que ocorreu em janeiro de 2024, conforme Figura 2. Figura 2 - Escalonamento do requisito de demanda do ACL.

Fonte: Elaborada pelos Autores (2024).

Em 2016, diante do reajuste das tarifas de energia no ACR, e a queda expressiva nos preços de energia naquele ano impulsionaram um aumento significativo no número de migrações para o ACL. Diante deste cenário, as empresas buscaram alternativas para reduzir suas contas de energia, já que a conta de energia elétrica representa em grande maioria dos consumidores o terceiro maior custo. A procura pelo mercado livre de energia em 2016 resultou em um aumento de mais de 100% no número de unidades no ACL, saindo de 3.344 em 2015 para 7.449 em 2016. Desde então, essa tendência de crescimento tem se mantido, conforme Figura 4 e estima-se um crescimento maior para o ano de 2024, com aproximadamente 13 mil novas unidades consumiras migrando para o ACL (aumento de 37% em relação à 2022) conforme dados da CCEE. Figura 4 - Unidades consumidoras no ACL.

Fonte: Elaborada pelos Autores (2024).

Esta redução do requisito para migração vem fazendo o consumo do ACL aumentar anualmente, sendo que de desde 2020 o ACL já teve um aumento de 6.33 pontos percentuais, atingindo em 2023 o patamar de 37,9% de todo o consumo do SEB (em energia3s.com.br

Fonte: Elaborada pelos Autores (2024).

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Abertura do ACL em 2024

Autoprodução de Energia

Conforme a Portaria Normativa nº 50/2022, emitida pelo Ministério de Minas e Energia (MME) e publicada no diário Oficial da União em 28/09/2022, a partir de 1º de janeiro de 2024 todos os consumidores do grupo A podem optar pela aquisição e energia no ACL. Estima-se que o potencial desta abertura se aplique a cerca de 165 mil novas unidades, conforme Figura 5.

Estima-se que cerca de 93 mil clientes do grupo A já possuem sistemas de geração própria. Para este grupo de clientes, o ACL também é viável, porém é necessário avaliar o quanto ele possui de geração própria e determinar a quantidade de energia elétrica que será necessário adquirir no ACL. Ainda, este cliente possivelmente será enquadrado como Autoprodutor de Energia nos termos da resolução vigente. O processo de adesão ao ACL de um Autoprodutor é um pouco mais complexo que um simples consumidor, pelo fato dele ser classificado como um gerador pela distribuidora. Assim, alguns aspectos técnicos são necessários para sua efetivação no ACL. A grande vantagem do autoprodutor de energia, é que ele permanece com benefícios sobre a energia que ele gera, e ainda adquire benefícios sobre a energia que ele antes adquiria da distribuidora e agora passa a adquirir do ACL, resultando, nesta forma, do maior potencial possível de economia a ser obtido nos dois ambientes de contratação existentes.

Figura 5 - Potencial de abertura do ACL.

202 mil | 32 mil MW médios

Total de unidades consumidoras do Grupo A Unidades consumidoras do Grupo A no ACL (projeção jan/2024)

37 mil | 26 mim MW médios Unidades consumidoras do Grupo A com potencial de migração

165 mil | 6,5 mil MWm

93 mil* Redução do número acima

72 mil

Unidades consumidoras do Grupo A com MMGD Potencial econômico de migração de unidades consumidoras *Valores de Ucs que recebem créditos via sistema de compensação, obtidos via base SISGD/ANEEL.

Fonte: CCEE (2023).

A novidade da portaria foi a inclusão da necessidade de consumidores com demandas contratadas junto à distribuidora em patamares inferiores à 500 kW de serem representados obrigatoriamente por um representante Varejista. Os representantes varejistas serão os responsáveis pela adesão, operacionalização e manutenção destes clientes perante a CCEE, assumindo os riscos relacionados a encargos e contribuições pagas diretamente à CCEE e comercializando a energia consumida mensalmente de seus clientes representados. Na prática, o processo simplifica bastante para estes clientes de menor porte e que em geral não possuem setores específicos dentro de suas empresas para tratar somente do assunto relacionado à energia elétrica, pois, além da fatura de demanda, que ainda permanece contratada com a distribuidora, ele terá apenas mais uma fatura, que está relacionada à energia adquirida no ACL, aos encargos pagos à CCEE e aos serviços prestados pelo seu representante varejista, conforme Figura 6. Figura 6 - estrutura do ACL modalidade Varejista.

Considerações Finais A estratégia vencedora para o ACL Estima-se que em 2023 cerca de 8 mil unidades consumidoras tenham realizado a migração para o ACL, e já existem estimativas da ANEEL para o ano de 2024 na faixa de 13 mil novos consumidores no ACL. Certamente o principal diferencial entre o ACR e o ACL é a oportunidade de mitigação de custos (até 35%), uma vez que no Ambiente de Contração Livre o Consumidor é o protagonista, ou seja, ele cria suas estratégias e toma as decisões. É notório também entre todos os consumidores que já atuam no ACL que os melhores resultados são obtidos quando o cliente possui uma consultoria especializada em Gestão de Energia como a Ludfor Energia, que além de toda a operação mensal (seja ela no modelo atacadista ou varejista) realiza o monitoramento de oportunidades de contratação e trata de todos os assuntos relacionados ao setor elétrico. Se a sua empresa já possui geração própria, mas não atende 100% do consumo, também pode ser viável a migração ao ACL. Caso sua empresa ainda não tenha avaliado esta estratégia de migração ao ACL, deveria considerar esta possibilidade.

Fonte: Elaborada pelos Autores (2024).

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Referências AGÊNCIA CANALENERGIA. Mercado livre bate recorde de migração em 2021, afirma CCEE. 2022. Disponível em: <https://www.canalenergia.com.br/noticias/53200405/mercado-livrebate-recorde-de-migracao-em-2021-afirma-ccee>. Acesso em: 07 jan. 2024. CCEE - Câmara de Comercialização de Energia Elétrica. 20 anos do Mercado de Energia Brasileiro. 1ª ed. São Paulo: CCEE, 2018. CCEE - Câmara de Comercialização de Energia Elétrica. Análise das migrações ao ACL – 2010 a 2022 (janeiro a outubro). 2022. D i s p o n í v e l e m : <https://www.ccee.org.br/documents/80415/919444/Analise_migracoe s_2022_2021.pdf/85bd4fd8-e658-08ec-efb6-2c21c1259ee9>. Acesso em: 07 jan. 2024. CCEE - Câmara de Comercialização de Energia Elétrica. Consumo de Energia no SIN. 2023. Disponível em: < https://www.ccee.org.br/pt/web/guest/dados-e-analises/consumo>. Acesso em: 07 jan. 2024. CCEE - Câmara de Comercialização de Energia Elétrica. Mercado livre de energia ganhou mais de 800 novos consumidores em

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setembro, segundo CCEE. 2023. Disponível em: <https://www.ccee.org.br/pt/web/guest/-/mercado-livre-de-energiaganhou-mais-de-800-novos-consumidores-em-setembro-segundolevantamento-da-ccee>. Acesso em: 07 jan. 2024. CCEE - Câmara de Comercialização de Energia Elétrica. Potencial de abertura do mercado livre para o grupo A - 2022 e e s t i m a t i v a 2 0 2 4 . 2 0 2 3 . D i s p o n í v e l e m : <https://www.ccee.org.br/documents/80415/25552621/Potencial%20d e%20libera%C3%A7%C3%A3o%20de%20UCs_2022_V2.pdf/b6f561 d1-c965-b7e3-27c3-be847d0aca7a>. Acesso em: 07 jan. 2024. EPBR. Cerca de 10 mil consumidores já pediram para migrar para o mercado livre em 2024, diz Aneel. 2023. Disponível em: <https://epbr.com.br/mais-de-5-mil-consumidores-ja-pediram-paramigrar-para-o-mercado-livre-em-2024-diz-aneel/>. Acesso em: 07 jan. 2024. PEREIRA, G. O. N. Impacto do preço de liquidação das diferenças com base horária para um consumidor atuando no ambiente de comercialização livre do Brasil. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação) – Curso de Engenharia Elétrica, Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Foz do Iguaçu, p. 57. 2023.

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CAPACITAÇÃO MULTIDIMENSIONAL EM PROJETOS SOCIAIS DE ENERGIA SOLAR: MUITO ALÉM DE UMA DOAÇÃO Hans Rauschmayer hans@solarize.com.br Solarize Treinamentos Profissionais Hans Rauschmayer é sócio-gerente da empresa Solarize Treinamentos Profissionais Ltda, onde montou a grade de capacitação. Reconhecido especialista em energia solar, ele é convidado para ensinar

e palestrar em universidades, instituições, congressos nacionais e internacionais e vários programas de TV.

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Foto: Alexandre Cerqueira - ComCat.

Resumo Muitos projetos no Brasil procuram levar energia solar às camadas menos favorecidas da população, com o objetivo de aumentar a justiça energética do país. A matéria a seguir abordará caminhos para aumentar a escala desse movimento. Entendemos que a autonomia dos beneficiados é fundamental e que a alavanca principal para alcançá-la é a capacitação multidimensional. Vamos usar como exemplo o projeto inaugurado em setembro de 2023 na ONG AMAC (Mulheres com Atitude e Compromisso Social), sediada em Duque de Caixas, na Baixada Fluminense, Rio de Janeiro. Figura 1 - Nill Santos comemora a conquista do sistema fotovoltaico.

Foto: Alexandre Cerqueira - ComCat.

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A Simbologia de um Projeto Social de Energia Solar A fundadora da ONG AMAC, Nill Santos, chegou à comunidade Dique Vila Alzira em 1982. Na época, não havia nem energia nem água encanada naquele território. Hoje, o local é urbanizado, mas continua fora do campo de vista do poder público. Nill criou a ONG em 2010, depois de sofrer violência doméstica, com o objetivo de ajudar mulheres em situação similar e apoiar famílias de uma forma mais ampla. Grupos de conversa entre mulheres, cursos de artesanato, reforço escolar para crianças e jovens e muito mais serviços são oferecidos pela ONG. Serviços precarizados pela falta de verba, mesmo com toda a força de vontade: as aulas de reforço, por exemplo, costumavam ser suspensas nos dias de maior calor. Graças à energia solar, a ONG agora vai instalar um aparelho de ar-condicionado, e os jovens terão aulas prazerosas, até mesmo no verão, numa sala refrigerada. Mas a simbologia vai além da redução da conta, como relatou a jovem Larissa Guerra, moradora da região: "Eu tinha vergonha de morar no Dique. Hoje tenho orgulho, pela modernidade que trouxemos para cá".

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A Estrutura do Projeto O projeto e sua metodologia foram desenvolvidos dentro da Rede Favela Sustentável (RFS), formada por 120 iniciativas da região metropolitana do Rio de Janeiro com mais de 400 integrantes. A RFS foi idealizada e tem sido administrada pela ONG Comunidades Catalisadoras (ComCat). Desde a fundação da Rede, em 2017, existe um Grupo de Trabalho “Energia Solar”, na qual a temática vem sendo debatida e que já realizou vários projetos. Este grupo virou a base do Eixo Temático “Justiça Energética” (recomendo a leitura do relatório “Justiça Hídrica e Energética nas Favelas”, resultado revelador de uma pesquisa realizada por lideranças comunitárias em 2022). Os atores do atual projeto se encontraram no Grupo de Trabalho: • A ComCat, captadora de recursos e administradora do projeto; • A AMAC, beneficiada que trouxe sua demanda há bastante tempo; • A empresa Solarize Treinamentos Profissionais, que desenvolveu o projeto técnico, capacitou os profissionais da comunidade e captou o patrocínio dos parceiros industriais; • Lideranças de outras comunidades interessadas em energia solar; • A ONG Revolusolar, que capacitou essas lideranças, como será detalhado abaixo.

• O montador é o técnico que sobe ao telhado para fixar os módulos; • O eletricista faz a conexão entre os componentes do sistema e o quadro de distribuição; • A pessoa que trabalha tanto na parte elétrica quanto em cima do telhado costuma ser chamada de instalador; • Um engenheiro eletricista ou um eletricista predial com registro no conselho regional assina o projeto e o homologa junto à concessionária.

Contamos com profissionais externos para complementar a equipe, quando necessário. Na Solarize, adotamos a prática de integrar alunos de projetos sociais em turmas comerciais, para reforçar a seriedade da capacitação e abrir chances de emprego no decorrer do curso. Essa característica é diferente de programas de capacitação em massa com objetivo de formar mão de obra para o mercado, como aquele que realizamos em 2022 na Rocinha em que montamos uma sala de aula específica, no local, para atender 100 moradores daquela comunidade. Além da capacitação na tecnologia fotovoltaica, é imprescindível atender as normas para trabalho em altura (NR-35), para segurança em instalações elétricas (NR-10) etc. com suas obrigações de treinamento. Figura 2 - Curso de instalador no laboratório da Solarize.

Vale ressaltar que estamos relatando um processo em construção coletiva que está em constante evolução.

Capacitação multidimensional Realizamos, neste projeto, capacitação em três níveis, sempre buscando disseminação e autonomia: • Capacitação profissional de pessoas relacionadas ao projeto; • Capacitação territorial, com objetivo de promover autonomia na manutenção além de disseminar a tecnologia na região; • Capacitação de lideranças de outras comunidades, com objetivo de aumentar o alcance a outros territórios com qualificação para elaborar projetos próprios.

Capacitação profissional Para a capacitação profissional, procuramos pessoas do próprio território e indicadas pela instituição receptora que se enquadram num dos perfis requisitados:

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Foto: Mauro Lerer - Solarize.

Capacitação territorial Muitos projetos sociais de energia solar são executados por pessoas de fora do território: voluntários ou empresas externas. Ambas as opções agilizam a instalação, mas estabelecem uma dependência do território que pode prejudicar a manutenção a longo prazo. Ao contrário disso, procuramos fomentar a autonomia não somente da entidade receptora do sistema fotovoltaico, mas também do seu entorno. É por isso que convidamos pessoas indicadas para a capacitação profissional, que devem não somente ter perfil técnico adequado, como também uma ligação com a entidade. energia3s.com.br


Esses profissionais conseguem executar a limpeza rotineira dos módulos e oferecer suporte de primeiro nível. Em caso de problemas que exijam um apoio externo, são eles que se comunicam com um suporte remoto de forma qualificada, reduzindo assim os custos. Fundamental é alcançar a relação de pertencimento: a entidade que recebe o sistema precisa cuidar dele da mesma forma que cuida de outras partes da sua infraestrutura. Neste contexto é essencial que a instalação seja de alta qualidade, já que as entidades sociais costumam estar sobrecarregadas em tarefas organizacionais. A energia solar precisa chegar junto para facilitar, e não para complicar. A capacitação territorial traz outra vantagem: ela viraliza, como se diz hoje em dia. No próprio projeto da AMAC, colaboradores apontaram para um restaurante na vizinhança com frequentes problemas elétricos, portanto um alvo interessante para instalação de energia solar e onde os novos profissionais conseguem aplicar seu conhecimento. A realidade já mudou na comunidade da AMAC! Figura 3 - Técnica da comunidade durante a instalação.

sustentabilidade do local, a opção de encaminhar jovens a novos mercados de trabalho ou ainda o interesse na geração de renda para profissionais locais. São motivações bastantes variadas, precisando ser balizadas de acordo com o que é possível realizar em termos técnicos, financeiros e organizacionais. No Grupo de Trabalho Energia Solar da Rede Favela Sustentável, essa discussão ocorria individualmente para cada projeto. Para tornar esse processo mais eficiente, a Revolusolar, pioneira de energia solar em favelas, formatou um minicurso para lideranças, que abordou os seguintes temas: • Realidade da energia nas comunidades (método Paulo Freire); • Estrutura do setor elétrico no Brasil; • Transição energética; • Exemplos de energia solar comunitária; • O que é possível fazer com energia solar; • Elaboração de projetos e captação de recursos;

Depois de um encontro inicial com visita à primeira cooperativa solar numa favela do Brasil, ocorreram vários encontros virtuais. A reunião final, com a apresentação dos projetos elaborados pelas lideranças, aconteceu no mesmo dia da instalação, o que reforçou que é factível colocar as propostas na prática. O contato direto com o material se mostrou importante: o módulo fotovoltaico, antes um objeto estranho, virou normal, e o projeto imaginado se tornou concreto. A Revolusolar preparou amplo material sobre Geração Distribuída de Interesse Social (GDIS) e o disponibilizou no seu site. Figura 4 - Lideranças apresentam seus projetos.

Foto: Patricia Schneidewind - ComCat.

Capacitação de Lideranças Infelizmente, conhecemos projetos com propostas generosas de beneficiar comunidades, que não foram concretizados ou que não se sustentaram muito além da implantação. Esse risco é minimizado quando a demanda vem do próprio território, um princípio que embasa o trabalho da Rede Favela Sustentável. A demanda começa, no caso da energia solar, com uma curiosidade tecnológica, a necessidade de reduzir custos com energia elétrica, o objetivo de aumentar a energia3s.com.br

Foto: Alexandre Cerqueira - ComCat.

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Figura 5 - No toque, a imaginação se torna concreta.

Figura 6 - Um projeto assinado por muitas mãos.

Foto: Alexandre Cerqueira - ComCat.

A Integração Afetiva A inauguração do sistema foi marcada pelo afeto criado entre os participantes do projeto. O respeito e o cuidado entre os atores, cada um com sua realidade distinta, cada um com suas restrições, impulsionaram os resultados muito além do potencial da tecnologia. Tratamos de muito mais que de energia solar, temos certeza de ter contribuído para a sustentabilidade e resiliência da sociedade.

Foto: Bárbara Dias - ComCat.

Agradecimentos É raro obter verba suficiente para concluir um projeto social em todas as suas etapas e com suas demandas organizacionais. Por isso agradecemos, além dos voluntários que contribuíram com muitas horas embaixo do sol, às empresas que doaram equipamento: SMA, AE Solar, Solar Group, Bold Energy, Clamper, Almax Energia.

Foto: Alexandre Cerqueira - ComCat.

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ENTREVISTA 1. Como se deu a criação da Ombrello Seguro Solar? Maria Luiza: A Ombrello Seguro Solar é o braço voltado para seguros solares da Ombrello Seguros, corretora com vasta experiência na intermediação de seguros. Ao perceber que o mercado de energia fotovoltaica crescia de forma exponencial e poucos corretores e seguradoras estavam preparados para absorver os riscos deste setor, criamos a marca Ombrello Seguro Solar e utilizamos nossa expertise em seguros para buscar junto ao mercado segurador as proteções adequadas para donos de usinas solares e para integradores. 2. Qual a importância de cobrir os sistemas fotovoltaicos com um seguro específico?

Maria Luiza Mello Sócia-gestora da Ombrello Seguros e Engarde Corretora

Maria Luiza Mello é corretora de seguros, responsável técnica e sócia-gestora das corretoras de seguros Ombrello Seguros e Engarde Corretora, e uma das idealizadoras da Ombrello Seguro Solar. Professora no ICDS – Instituto Connect de Direto Social de cursos de pós-graduação em disciplinas relacionadas a gestão e planejamento estratégico. Graduada em Produção Cultural pela Universidade Federal Fluminense (UFF), pós-graduada em administração de empresas pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e MBA em Gestão Exponencial pela IBMEC. Interessada em contribuir para o ecossistema de seguros no país, Maria Luiza ainda atua como palestrante, produtora de conteúdo digital e professora em cursos livres para empresários e corretores de seguros sobre gestão e vendas. Ela compartilha conteúdos gratuitos sobre o tema em seu Instagram @amarialuizamello e seu canal do YouTube “Segura Essa!”.

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Maria Luiza: Os sistemas solares estão sujeitos a uma série de avarias por precisarem estar expostos devido à natureza da sua função. Por ser um equipamento específico e de custo elevado, eles não estão automaticamente cobertos nas apólices de seguros patrimoniais como no seguro residencial ou no seguro predial de empresas. O seguro RD Equipamentos é o seguro cujo clausulado foi formulado especificamente para cobrir possíveis danos a este tipo de equipamento, e, portanto, é o seguro mais indicado para ser contratado. Esse seguro terá coberturas específicas que os seguros dos prédios onde os sistemas fotovoltaicos estão instalados não preveem. Além disso, eles podem cobrir sistemas de instalação de solo. 3. Como os eventos climáticos extremos que vem ocorrendo no país impactam o mercado de seguros? Maria Luiza: Os eventos climáticos extremos reforçam a necessidade de se contratar seguros. Em alguns casos, eles podem aumentar as taxas dos seguros impactando no preço final ao consumidor, uma vez que uma maior sinistralidade gera uma necessidade de ajuste de prêmios cobrados pelas seguradoras. Isso não tem ocorrido com o seguro de sistemas fotovoltaicos, visto que o seguro para sistemas solares é comercializado com taxas bastante atrativas em todo território nacional. energia3s.com.br


4. Como o integrador pode oferecer um seguro para seu cliente? Maria Luiza: Oferecer o seguro ao cliente, ao meu ver, é uma obrigação do integrador que atua como consultor dos seus clientes. O cliente que compra um sistema fotovoltaico costuma ter pouco conhecimento a respeito dos riscos relacionados ao sistema comprado. O integrador deve orientá-lo sobre estes riscos e informar que existe uma proteção adequada e acessível para preveni-los: o seguro do equipamento. Dessa forma, o investimento do cliente fica resguardado e ele presta uma consultoria mais completa. Alguns possíveis danos que o equipamento pode vir a sofrer são cobertos pela garantia de fábrica, outros, de causa externa, precisam ser respaldados por um seguro adequado. Indo além, alguns integradores com nível de consciência mais elevada optam por dar o 1º ano do seguro aos seus clientes como uma cortesia após a instalação das placas. Assim, ele já garante um primeiro ano de operação do sistema seguro e deixa a cargo do cliente apenas controlar as renovações anuais da apólice. 5. Como o integrador pode fazer para se tornar um parceiro da Ombrello Seguro Solar? Maria Luiza: O integrador que deseja se tornar um parceiro da Ombrello Seguro Solar precisa apenas entrar em nosso site e se cadastrar (https://ombrelloseguros.com.br/ombrellosolar/). Ao se tornar um parceiro, o integrador acessa nosso portal onde pode realizar a cotação do seguro solar dos seus clientes e emitir os seguros na ponta. O processo dura menos de três minutos! Ele ainda tem vantagens e cashback por suas indicações. O mais importante é que ele passa a contar com uma corretora especializada para dar suporte a ele e aos clientes dele em caso de sinistros ou demais necessidades. 6. Quais são os produtos e serviços oferecidos pela Ombrello Seguro Solar? Maria Luiza: Oferecemos os seguros RD Equipamentos, para os sistemas solares instalados e o seguro Risco Engenharia para as instala-

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ções dos sistemas fotovoltaicos. Esse segundo seguro tem como segurado o próprio integrador, que faz a instalação do sistema solar e está sujeito a uma série de riscos como, por exemplo, queda, avarias, roubo dos componentes e até mesmo a responsabilidade civil por danos a terceiros. Além desses, a Ombrello Seguros oferece uma gama de soluções em seguros que podem atender aos integradores em outras necessidades como seguros para seus colaboradores e para suas estruturas empresariais. 7. Existem soluções específicas voltadas para o agronegócio? Maria Luiza: O seguro para sistemas solares compreende sistemas instalados em propriedades rurais também, inclusive sistemas de solo. O único critério exigido é que a propriedade tenha vigilância 24h. 8. Quem pode contratar um seguro para seu sistema fotovoltaico? Maria Luiza: Qualquer pessoa, física ou jurídica, que tenha um sistema fotovoltaico, pode contratar um seguro. Para usinas de grande porte, o seguro deve compreender coberturas específicas que os sistemas de menor porte não demandam. Tudo isso é analisado pela Ombrello Seguro Solar ao atender os clientes e os integradores. Para sistemas de geração compartilhada, por exemplo, trabalhamos com a cobertura de Perda de Lucro Líquido, já que um sinistro neste tipo de usina pode comprometer a operação do negócio em si. Para fazendas solares temos os riscos operacionais e a opção de contratar um seguro conjugado de instalação e montagem com o 1º ano de operação. Podemos ter coberturas para cabines de controles, estrutura predial no entorno da usina. 9. Como a Ombrello Seguro Solar faz para se diferenciar da concorrência? Maria Luiza: Nosso principal diferencial é o atendimento dedicado tanto ao cliente quanto ao integrador parceiro. Gostamos de nos aproximar dos nossos integradores parceiros, conhecê-los e entender seus principais tipos de instalações, para então ofertar o tipo de seguro que faz mais

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sentido para suas necessidades. Caso tenham uma demanda que fuja dos produtos de prateleira que já oferecemos, vamos ao mercado em busca de soluções e frequentemente conseguimos montar produtos que atendam suas necessidades específicas. 10. Quais as perspectivas para a Ombrello Seguro Solar no próximo ano?

Maria Luiza: O setor de energia solar cresceu 100% de 2022 para 2023 e novamente 100% de 2023 para 2024. Muitos desses sistemas estão ainda desprotegidos. Nossa perspectiva é crescer, no mínimo, junto com o mercado, dobrando nossa operação em 2024. 11. Como a Ombrello Seguro Solar contribui para a expansão da energia solar no Brasil?

Maria Luiza: Ao proteger os sistemas solares de nossos clientes, garantimos que o investimento deles perdure dando resultados, seja pela economia na conta de luz, seja na venda de energia nos muitos modelos de geração compartilhada que nossos clientes possuem. Para que um investimento como esse, em energia limpa, valha a pena, é preciso blindá-lo de riscos. 12. O que você acha do futuro do mercado de seguros de energia solar no Brasil? Maria Luiza: A perspectiva é que esse mercado cresça, à medida que as pessoas tomem conhecimento dos riscos e de quão acessível é se precaver. Infelizmente, como em todos os ramos

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de seguro, às vezes é necessário que alguns sinistros ocorram para que as pessoas se conscientizem que é preciso contratar a proteção adequada. No Brasil já ocorrem alguns importantes sinistros com sistemas fotovoltaicos. No último ano os eventos climáticos do sul do país, por exemplo, danificaram sistemas de forma severa. A partir desses casos, mais pessoas pararam para refletir sobre o risco e buscar mecanismos de proteção. 13. Como a Ombrello Seguro Solar está se adaptando às mudanças no mercado de energia solar? Maria Luiza: O mercado de energia solar é extremamente dinâmico. Para manter-se atualizado é preciso estar atento às notícias, manter um bom relacionamento com nossos parceiros do setor e trocar informações sempre. O lado positivo é que temos ao nosso lado seguradoras sólidas nas quais confiamos muito e que confiam no nosso trabalho. Elas ouvem as demandas que trazemos direto do mercado a respeito de novos tipos de sistemas solares e novos modelos de negócios de geração compartilhada, por exemplo, e buscam nos auxiliar criando produtos sob medida para a necessidade dos nossos clientes. 14. Qual a mensagem que você gostaria de deixar aos leitores e parceiros da Ombrello Seguro Solar? Maria Luiza: Na Ombrello Seguro Solar acreditamos que o seguro é uma forma de impulsionar pessoas e negócios, pois à medida que seu patrimônio está protegido, você se sente confiante e tranquilo para ir além. É exatamente essa tranquilidade que queremos proporcionar aos nossos stakeholders. Tanto nossos integradores parceiros como nossos clientes sabem que podem ousar em seus investimentos em energia solar, pois seus sistemas já comprados estão bem protegidos. É exatamente essa filosofia que nos leva a acolher diversos tipos de empreendedores do mercado solar, de financeiras a investidores em usinas e integradores.

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Comprometimento com a Sustentabilidade • Sustentabilidade em Ação: Nossa abordagem pioneira visa minimizar o impacto ambiental, garantindo que cada componente dos módulos fotovoltaicos seja reciclado de forma responsável.

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• Inovação Contínua: Estamos na vanguarda da inovação, desenvolvendo constantemente novas tecnologias para aprimorar a eficiência da reciclagem e impulsionar a transição para um futuro mais limpo. • Parceria para um Futuro Sustentável: Convidamos você a se juntar a nós nessa jornada rumo a um futuro mais sustentável, onde inovação e responsabilidade ambiental caminham de mãos dadas.

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O DESAFIO DA INOVAÇÃO NAS EMPRESAS Felipe Detzel Kipper1, Adriana Silva2, Jaqueline Lidorio de Mattia3 e Fernando Santos4 contato@energia3s.com.br 3S – Solar Sustainable Solutions ¹Doutorando em Ciência e Tecnologia dos Materiais pelo PPGE3M, da UFRGS. Mestre em Ciência e Tecnologia dos Materiais pelo PPGE3M, da UFRGS (2021). Graduação em Engenharia em Energia pela Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (2018). Tem experiência na área de Engenharia de Energia, com ênfase em energia solar, atuando principalmente em energia solar fotovoltaica. Também possui experiência na área de regulação do setor de distribuição de energia e desenvolvimento de projetos de engenharia elétrica. ²Formação técnica em contabilidade na escola técnica FACCENTRO. Graduanda em Processos Gerenciais pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS). Atualmente exerce o cargo de Gestora de Produção na 3S Solar Sustainable Solutions. ³Doutoranda no Programa de Bioenergia da Faculdade de Ciências e Tecnologia na Universidade Nova de Lisboa com pesquisa nas propriedades de conservação e valoração do caldo de cana. Possui mestrado em Educação pelo Instituto Federal de Educação e Tecnologia (IF-Sul Pelotas), Especialista em Educação Física e Práticas multidisciplinares na Educação Básica e graduação em Educação Física Licenciatura. Atualmente é professora assistente da Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs), atuando nos cursos de Pedagogia e Ciência e Tecnologia de Alimentos. Exerceu a função de Procuradora e Pesquisadora Institucional e Coordenadora de programas

e projetos de extensão na Pró-reitoria de Extensão da Uergs e coordenadora de área do PIBID. Nos estudos mais recentes investiga as possibilidades de uso dos resíduos agroindustriais para extração de compostos bioativos e produção de bioprodutos para alimentação. Recentemente aprovou o curso de especialização em Temas emergentes na educação: cidadania e mobilidade em parceria com a Escola Pública de Trânsito do DETRAN/RS. ⁴Professor/Pesquisador na Universidade Estadual do Rio Grande do Sul | Colaborador da Universidade Nova de Lisboa | Orienta e coorienta estudantes de graduação e pós-graduação em diversas Universidades. Desenvolveu sua carreira voltada para Projetos de Inovação e Energias Renováveis onde teve oportunidade de aprovar milhões de reais em Projetos de Inovação Tecnológica, com recursos de subvenção econômica, tanto projetos próprios quanto para parceiros. É idealizador e sócio da 3S – Solar Sustainable Solutions e da BSS –Biorefinery Sustainable Solutions. Possui muita curiosidade intelectual o que leva a ser um eterno aprendiz. Tem formação multidisciplinar. Pósdoutorado em Bioenergia pela Universidade Nova de Lisboa e em Celulose e Papel, Doutorado em Bioquímica Agrícola e Mestrado em Fitotecnia pela Universidade Federal de Viçosa. É Engenheiro Agrônomo pela Universidade Estadual de Montes Claros. Faz parte da lista dos pesquisadores mais influentes do mundo, segundo a AD Scientific Index 2021, ranking que representa os cientistas mais influentes no mundo.

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Resumo O conceito de inovação, conforme definido pelo Manual de Oslo da OCDE (2004), refere-se à criação ou melhoria significativa de produtos ou processos. A busca pela inovação é crucial para empresas de todos os tamanhos e setores, desempenhando um papel fundamental no crescimento econômico. A implementação de políticas públicas abrangentes em diversas áreas, como produção, educação, governo, saúde, segurança e infraestrutura, reflete o reconhecimento global da importância

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da inovação para o desenvolvimento de um país. A ênfase na inovação, conforme preconizada pelo Manual de Oslo, destaca a necessidade de empresas e nações buscarem constantemente melhorias e novidades para impulsionar o progresso econômico e social. Palavras-chave: Inovação; Manual de Oslo e Empresas.

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O que é inovação Inovar deriva do termo latim "innovare", que significa renovar ou mudar, não necessariamente introduzir algo totalmente novo, mas também aprimorar o existente. O foco central da inovação é a renovação, exigindo uma mudança na forma de pensar, decidir e agir. Diferentemente da invenção, a inovação usa ideias e métodos para alcançar resultados melhores, enquanto a melhoria busca aprimorar o mesmo processo. Assim, a inovação pode ser evolutiva, não sendo obrigatoriamente algo totalmente novo, destacando-se pela renovação e diferenciação em relação ao padrão estabelecido. Pode ser uma ideia disruptiva ou uma melhoria de algo já existente, ser impulsionada por uma variedade de fatores, incluindo a necessidade de resolver um problema, a busca por uma vantagem competitiva ou a simples vontade de criar algo. Acreditamos que a inovação é fundamental em todos os setores da sociedade, na medida que incide diretamente no crescimento econômico e social e é tida como sinônimo de mudanças e/ou melhorias. Ela pode gerar novos empregos, aumentar a produtividade e melhorar a qualidade de vida. De acordo com o Manual de Oslo (2004), a publicação da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) tida como referência mundial para os conceitos e metodologia para analisar a inovação nas empresas, a inovação pode ser definida como um produto ou processo novo ou aprimorado (ou uma combinação de ambos) que difere significativamente dos produtos ou processos anteriores da empresa, tendo sido colocado em uso ou introduzido no mercado pela empresa. A busca pela inovação é essencial para empresas de todos os setores e tamanhos, assim como para o desenvolvimento de um país. A inovação desempenha um papel fundamental no impulsionamento do crescimento econômico, sendo por isso que muitas nações implementam políticas públicas abrangentes para fomentar atividades inovadoras em diversas áreas, como produção, educação, governo, saúde, segurança e infraestrutura.

Tipos inovação Para que empresas e empreendedores saibam qual caminho seguir no que tange à inovação, é importante salientar que, segundo o Manual de Oslo, a inovação está no cerne da mudança econômica, sendo que inovações radicais provocam grandes mudanças no mundo enquanto que inovações incrementais preenchem continuamente o processo de mudança (MANUAL DE OSLO, 2004).

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Quando você é empresário/empreendedor ou tem uma ideia ou um negócio diferenciado, mas não sabe como buscar recursos para desenvolver seus projetos inovadores, você pode contar com o ecossistema brasileiro que oferece diferentes oportunidades para quem está buscando recursos financeiros para alavancar projetos de inovação, tanto no que se refere às inovações incrementais quanto radicais. Cabe destacar que diferentes agências de inovação atuam no país e oferecem oportunidades para que a inovação que sua empresa deseja, possa ser implementada e que você não precise depender apenas do capital próprio, nem apenas do capital de risco. Há uma excelente estrutura que pode te auxiliar nessa empreitada. Além disso, para distinguir os aspectos da inovação enquanto um processo ou um resultado, o Manual de Oslo utiliza as expressões "atividades de inovação" para se referir ao processo e "inovação empresarial" para indicar o resultado. Atividades de inovação englobam as atividades de desenvolvimento, financeiras e comerciais realizadas por uma empresa que se destinem a resultar em uma inovação para a empresa. A Inovação empresarial é considerada um produto ou um processo de negócios novo ou aprimorado (ou uma combinação disso). Quando um empreendedor deseja inovar em algum produto ou processo, ele pode incluir novas ofertas de serviços prestados pela empresa ou inovar em um processo produtivo, em suas atividades de logística e também no pós-venda. Portanto, a inovação em produto ou processo são conceitos centrais para definir e analisar a inovação e seus resultados nas empresas. Um exemplo claro de apoio que o ecossistema brasileiro possui é da Finep - Financiadora de Estudos e Projetos – que é uma empresa pública que fomenta a ciência, tecnologia e inovação em empresas e instituições de pesquisa – públicas ou privadas e que auxilia os projetos na medida que assume o risco de seus projetos inovadores, atuando através de subsídios de subvenção econômica, quando o recurso não precisa ser devolvido. A missão da Finep é promover o desenvolvimento econômico e social do Brasil por meio do fomento público à Ciência, Tecnologia e Inovação em empresas, universidades, institutos tecnológicos e outras instituições públicas ou privadas. Esse processo pode ser considerado ainda como inovação com caráter aberto ou fechado, em que inovação fechada é o processo pelo qual a empresa desenvolve, produz e comercializa seus novos produtos e serviços utilizando apenas recursos e tecnologia próprios, de modo que apenas o conhecimento gerado por fontes internas seja utilizado no processo de inovação (HUNGUND &

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MANI, 2019). Neste caso, a empresa possui controle total do processo de inovação, impedindo que concorrentes se beneficiem das ideias de outra empresa. Já por outro lado, a inovação aberta consiste na entrada e saída de fluxos de conhecimento, acelerando a inovação interna e expandindo mercados para o uso externo da inovação. A inovação aberta busca otimizar recursos internos e externos, utilizando ideias de ambas as fontes para melhorar ou criar produtos. Dessa forma, a empresa utiliza as oportunidades geradas com a interação entre os meios para gerar novas oportunidades, que não estão acessíveis aos negócios que praticam inovação fechada, explicando um dos motivos que permitem que a inovação aberta apresente vantagem competitiva (HUNGUND & MANI, 2019). O modelo de inovação fechada era a prática mais comum para levar novas ideias ao mercado, no qual as corporações investiam fortemente em P&D, controlando a propriedade intelectual e todo o processo de inovação, desde a ideia até a comercialização e no modelo de inovação aberta, a fronteira entre os ambientes interno e externo permitem que o conhecimento circule livremente, criando oportunidades ao gerar processos cooperativos entre diversos atores, como parceiros, clientes ou fornecedores. Independentemente de ser uma inovação aberta ou fechada, radical ou incremental, de produtos ou processo, empresas e instituições de pesquisa podem contar com apoio do ecossistema brasileiro de inovação como a Finep que em sua visão quer transformar o Brasil por meio da inovação, atuando em toda a cadeia da inovação, com foco em ações estratégicas, estruturantes e de impacto para o desenvolvimento sustentável do país. A Finep é a principal agência financiadora de estudos e pesquisa em inovação do país, ela se propõe a auxiliar diretamente a economia brasileira na medida que divide os riscos nas diferentes modalidades de inovação melhorando a capacidade de inovação para o enfrentamento de desafios nacionais e globais. No cerne de seu objetivo enquanto agência financiadora, há um estimulo a implantação de atividades contínuas de P&D nas empresas, além de apoiar a inserção de empresas inovadoras nos mercados nacional e global, elevando a competitividade das empresas e instituições brasileiras. Além disso, a Finep busca reverter a vulnerabilidade externa das empresas e instituições nacionais nos segmentos intensivos em tecnologia e estimular a participação do capital privado em inovação, tudo isso atendendo os objetivos propostos pela ODS que estejam alinhados com inovações que promovam a sustentabilidade.

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De acordo com (AHN ET AL., 2017), a inovação aberta pode ser direcionada para a tecnologia, mercado ou organização. A abordagem orientada para o mercado envolve a participação dos clientes e o licenciamento de tecnologias. A inovação voltada para a organização ocorre com mudanças organizacionais, como novas práticas ou expansão através de aquisições e fusões. Já a inovação aberta orientada para a tecnologia visa aumentar os ativos tecnológicos, envolvendo atividades como licensing-in e colaboração externa em P&D. A adoção da inovação aberta por uma empresa visa atender aos clientes, adquirir conhecimento, reduzir o tempo de lançamento no mercado e compartilhar riscos. Além disso, a inovação aberta melhora a posição tecnológica, permitindo ganhos com invenções não utilizadas. No entanto, as barreiras incluem a perda de controle no processo, diferenças culturais e temores de perder propriedade intelectual. A interação com parceiros externos, como governo, indústria e universidades, é crucial, exigindo confiança mútua para o sucesso da inovação aberta (MARCOLIN ET AL., 207; SIMÕES ET AL., 2020). Para uma empresa inovar, ela pode contar com o auxílio de diferentes instituições de fomento que disponibilizam oportunidades com recursos financeiros não-reembolsáveis ou reembolsáveis. Além da Finep, Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES) e Fundações de Amparo à Pesquisa estaduais, como a FAPERGS, no caso do Rio Grande do Sul, FAPESP em São Paulo, entre outras. Essas instituições são agentes de apoio à pesquisa e são responsáveis pela disponibilização de recursos para o desenvolvimento de Projetos de P&D através de editais, pelos quais as empresas devem submeter suas propostas. Nas diferentes instituições, há possibilidade de obter recursos de duas formas, financiamentos reembolsáveis e não-reembolsáveis, que abrangem diversas áreas de desenvolvimento científico e tecnológico. Pesquisas básicas ou aplicadas, inovações e desenvolvimento de produtos, serviços e processos, entre outros projetos como implantação de parques tecnológicos e inovações em empresas já estabelecidas, encontros, seminários, congressos e feiras tecnológicas. É um ecossistema integrado que possibilita que as empresas possam captar esses recursos para implementar inovação em seus nichos de atuação. Há recursos disponíveis para inovação, para micro e pequenas, médias e grandes empresas e até para aqueles projetos que ainda nem possuem CNPJ, através de recursos que são viabilizados através do Edital Centelha. Algumas empresas são mais adeptas à adoção de uma abordagem de energia3s.com.br


inovação aberta e dessa forma, podem aproveitar o conhecimento exterior para comercializar suas inovações. Além disso, possuem uma flexibilidade maior, podendo acelerar o processo de inovação. As pequenas e médias empresas enfrentam significativas dificuldades devido à escassez de recursos e capacidades nas áreas de produção, distribuição, marketing e financiamento de P&D (INÊS ET AL., 2021). Na Tab. 1 é apresentado o porte das empresas segundo classificação do BNDES. Tabela 1 - Classificação de porte das empresas.

Fonte: BNDES (2024).

Esses elementos são cruciais para a transformação de inovações em produtos comercializáveis. Adicionalmente, durante as fases de desenvolvimento até a comercialização, as empresas enfrentam obstáculos financeiros, carência de pessoal qualificado e falta de conhecimento específico em determinadas áreas, conforme destacado por Marcolin et al. em 2017. Um outro fator que também é importante na implementação da cultura de inovação nas empresas é a participação do CEO, que tem o papel de mitigar os desafios que surgem a partir do estabelecimento do processo de inovação aberta, uma vez que apresentam uma estrutura organizacional mais simplificada, processo de decisão centralizado e os CEOs estão mais envolvidos nas atividades empresariais diárias, além de terem um contato maior com os colaboradores (AHN ET AL., 2017).

Considerações Finais Destaca-se a importância da inovação no contexto econômico, utilizando o Manual de Oslo como referência para definir e categorizar diferentes tipos de inovação. A distinção entre inovação fechada e inovação aberta é explorada, enfatizando as vantagens da última, que envolve a colaboração externa e a troca de conhecimento. A inovação aberta é apontada como uma estratégia que pode proporcionar vantagem competitiva, embora apresente desafios, como a perda de controle no processo e diferenças culturais. A discussão sobre a inovação aberta foca em como o conhecimento pode fluir tanto do exterior energia3s.com.br

para o interior quanto no sentido oposto. São abordadas também as diferentes orientações da inovação aberta, como tecnologia, mercado e organização, destacando as razões para a adoção dessa abordagem pelas empresas, incluindo atendimento aos clientes, aquisição de conhecimento e redução do tempo de lançamento no mercado. Observa-se também a importância das parcerias externas na inovação aberta, enfatizando a necessidade de confiança mútua para o sucesso dessa abordagem. No contexto brasileiro, as agências de fomento à inovação, como a Finep, BNDES e fundações de amparo à pesquisa estaduais, desempenham um papel crucial ao disponibilizar recursos para projetos de P&D. Por fim, é ressaltado que as Pequenas e Médias Empresas (PMEs) são mais propensas a adotar a inovação aberta, dadas suas limitações de recursos. A flexibilidade das PMEs é destacada como uma vantagem, permitindo-lhes acelerar o processo de inovação. No entanto, essas empresas enfrentam desafios significativos devido à escassez de recursos em diversas áreas, incluindo produção, distribuição, marketing e financiamento de P&D. Cabe ressaltar que o ecossistema brasileiro disponibiliza inúmeras alternativas para auxiliar no processo de inovação de uma empresa e que, através de recursos reembolsáveis ou nãoreembolsáveis, possibilita que produtos ou processos possam ser implementados nas empresas e os riscos serem divididos. Além disso, os recursos estão acessíveis para diferentes linhas de atuação e cabe às empresas – independentemente do porte implementarem a cultura da inovação, e acessando esses recursos que são destinados para esse fim e que devem ser requeridos por meio de projetos estruturados e encaminhados para as diferentes agências.

Referências Ahn, J. M., Minshall, T., & Mortara, L. Understanding the Human Side of Openness: The Fit between Open Innovation Modes and CEO Characteristics. R&D Management, 2017. BNDES. Banco Nacional do Desenvolvimento. Porte de Empresa. D i s p o n í v e l e m : < https://www.bndes.gov.br/wps/portal/site/home/financiamento/guia/porte-deempresa>. Acesso em: 18/01/2024. Hungund, S., & Mani, V. Benchmarking of factors influencing adoption of innovation in software product SMEs: An empirical evidence from India. Benchmarking: An International Journal, 2019. Inês, A., I., P., Pires, P., M., P., Leite, M., P., Moreira, A., C. As pequenas e médias empresas e o desafio da inovação aberta. Gestão e Desenvolvimento, 2021. Marcolin, F., Vezzetti, E., & Montagna, F. How to Practice Open Innovation Today: What, Where, How and Why. Creative Industries Journal, 2017. OCDE. Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico. Manual de Oslo. Proposta de Diretrizes para Coleta e Interpretação de Dados sobre Inovação Tecnológica. 2024. Simões, P., Moreira, A. C., & Dias, C. Portugal’s Changing Defense Industry: Is the Triple Helix Model of Knowledge Society Replacing State Leadership Model? Journal of Open Innovation: Technology, Market, and Complexity, 2020.

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EXPERIÊNCIAS COM FINANCIAMENTO DE SISTEMAS DE ARMAZENAMENTO DE ENERGIA Aurélio Souza¹ e Erik Canelhas² aurelio@nsigroup.com.br NSI Group ¹Engenheiro Mecânico com mestrado em regulação de energia e há quase 30 anos de atuação no desenvolvimento e gestão de projetos e negócios no setor de energia sustentável, eficiência energética e serviços ambientais. Atua desde 1994 em projetos de atendimento a comunidades isoladas com armazenamento de energia. Fundador de diversas empresas, dentre elas a USINAZUL e da NSI Energia; VP de Energia e Inovação da NSI Energia e Diretor de Desenvolvimento de Projetos na RECAP Brasil. Pesquisador-colaborador no Laboratório de Sistemas Fotovoltaicos (LSF) do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, Conselheiro na Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD). Ex-membro do Grupo Consultivo para o Setor Privado (PSAG) no Fundo Verde para o Clima (GCF) das Nações Unidas (ONU).

²Administrador de Empresas com especialização em gestão de tecnologias ambientais e inovação, possui mais de 10 anos de atuação na gestão de empresas com foco em energia renovável e telecomunicação. Fundou a Jetup, empresa de desenvolvimento de software para redes sem fio, colaborou em projeto de micro-rede no Brazil Energy Programme (BEP) e com micro usinas remotas junto a LCBA (Low Carbon Business Action). Possui mais de 5 anos de experiência no setor de geração distribuída no Brasil e hoje atua como Diretor Geral da Recap Energy Brasil, apoiando o desenvolvimento e a promoção de projetos renováveis para transição energética.

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Resumo O artigo destaca a oportunidade de investimento na transição energética como uma estratégia para alinhar as prioridades econômicas globais de curto prazo com os objetivos climáticos de médio e longo prazo, enfatizando que as políticas atuais podem estabilizar as emissões globais. Além disso, destaca a importância da geração e utilização de energia limpa e renovável, particularmente a proveniente de fontes intermitentes, para enfrentar as mudanças climáticas. Uma parte crucial dessa transição é o armazenamento de eletricidade por meio de baterias, que oferecem flexibilidade ao sistema e se torna essencial com o aumento da participação de energias renováveis variáveis. Além de permitir o uso de excedentes em momentos necessários, as baterias também atendem à demanda do mercado de capaci-

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dade, proporcionando benefícios econômicos. No entanto, o texto destaca a barreira do alto investimento inicial para a adoção generalizada de sistemas de armazenamento de energia em baterias (BESS). O financiamento desses serviços, conhecido como Storage as a Service (SaaS), é um processo complexo envolvendo diversos participantes. Desafios incluem a falta de regulamentação em muitos países, a incerteza tecnológica e a escassez de dados sobre o desempenho dos projetos. Apesar desses desafios, o financiamento de serviços de armazenamento de energia está em crescimento, impulsionado pela necessidade de uma transição energética global mais sustentável. Palavras-chave: Investimento; Transição energética; Energia renovável; Armazenamento de eletricidade

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Introdução Enquanto uma grande parte do mundo está se debatendo com a crise econômica, o investimento na transição energética pode ajudar a alinhar as prioridades globais de curto prazo com o desenvolvimento a médio e longo prazo e os objetivos climáticos. O número crescente de países se comprometendo com estratégias de zero emissões líquidas de carbono indica uma mudança importante no diálogo climático global, sendo que qualquer que seja a estratégia, a geração e utilização de energia limpa e renovável é uma parte importante da solução global. Baseadas nos planos e metas energéticas governamentais existentes, incluindo a primeira rodada das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, da sigla em inglês), sob o Acordo de Paris, as políticas implementadas não farão mais que estabilizar as emissões globais, com uma ligeira queda próximo ao ano de 2050. Neste sentido, os sistemas energéticos baseados em fontes renováveis intermitentes instigarão alterações profundas que se disseminarão por todas as economias e sociedades como uma das soluções para mitigação dos efeitos das mudanças climáticas. O armazenamento de eletricidade baseado em baterias é uma peça-chave neste quebracabeça, pois permitirá uma maior flexibilidade do sistema, uma tecnologia fundamental à medida que aumenta a percentagem de energias renováveis variáveis no planeta. Uma das principais limitações das fontes de energia renovável é sua natureza intermitente. É neste contexto que o armazenamento de energia se torna bastante competitivo, permitindo acumular excedentes de energia para uso quando necessário ou em situações específicas de cada projeto. As vantagens de um sistema de armazenamento de energia não param só no uso da energia em outro momento. Eles também servem para atender ao mercado de capacidade (demanda), permitindo que um consumidor eletrointensivo pare de usar eletricidade da rede ou reduza a carga durante períodos limitados de maior custo, por exemplo, de acordo com a demanda da operadora de rede ou do transmissor de energia. Por meio de Sistemas de Armazenamento de Energia em Baterias (BESS, na sigla em inglês), também é possível reduzir a potência instalada em uma instalação industrial, atendendo aos picos de demanda usando a bateria em vez da rede, com benefícios econômicos associados. Outro mercado interessante, ainda não desenvolvido, mas bem avançado nos países do norte da Europa, é o mercaenergia3s.com.br

do secundário, como na regulação de frequência, necessária para garantir a qualidade do fornecimento. Apesar do pleno desenvolvimento dos mercados, uma barreira para a adoção maciça de BESS é o seu alto investimento inicial. O financiamento de serviços de armazenamento de energia (Storage as a Service - SaaS) é um processo complexo que envolve uma variedade de participantes, incluindo investidores, credores, desenvolvedores e operadores. Além disso, existem diversos desafios no financiamento de SaaS. Alguns desses desafios incluem: • A falta de regulamentação: A regulamentação do armazenamento de energia ainda está em desenvolvimento em muitos países. Isso dificulta a obtenção de financiamento para projetos de armazenamento de energia. • A incerteza tecnológica: As tecnologias de armazenamento de energia ainda estão em desenvolvimento. Isso pode aumentar o risco associado ao financiamento de projetos. • A falta de dados: Os dados sobre o desempenho dos projetos de armazenamento ainda são limitados. Isso pode dificultar a avaliação do risco associado ao financiamento de projetos de armazenamento de energia. O financiamento de serviços de armazenamento de energia está crescendo. Isso ocorre porque essa é uma tecnologia essencial para a transição energética para uma matriz energética global mais limpa e sustentável.

Mercado de armazenamento de energia O mercado global de armazenamento de energia deve crescer de US$ 44,70 bilhões em 2023 para US$ 87,24 bilhões até 2028, com uma taxa composta de crescimento anual (CAGR, em inglês) de 14,31% durante o período de 2023 a 2028. Em 2022, o custo ponderado por volume das baterias de íon-lítio foi em média de US$ 151 por kWh, contudo, em 2023, houve um leve aumento (1%), puxado, principalmente, pela demanda por matérias como o lítio e níquel que permanecerão com valores altos e problemas causados por conflitos globais. O armazenamento de baterias em aplicações estacionárias global deverá crescer de 2 gigawatts

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(GW) em 2017 para cerca de 175 GW, se aproximando do armazenamento hidrelétrico bombeado, projetado para atingir 235 GW em 2030 (IRENA, 2017). Segundo a BloombergNEF (BNEF, 2023), as adições recorde de armazenamento de energia global em 2023 serão seguidas por uma taxa composta de crescimento anual de 27% até 2030, com incremento anuais atingindo 110 GW/372 GWh, ou 2,6 vezes as instalações esperadas de 2023 gigawatts. A região Ásia-Pacífico (APAC) mantém a liderança no avanço de mercado de armazenamento, representando quase metade (47%) do crescimento em 2030. A China ocupará a posição de maior mercado de armazenamento de energia do mundo durante o resto da década. A Europa, Médio Oriente e África (EMEA) representam 24% das implementações anuais de armazenamento de energia até 2030. A região adicionou 4,5 GW/7,1 GWh em 2022, com instalações de baterias residenciais na Alemanha e Itália acima do previsto pelo mercado. As Américas estão atrás das outras regiões, representando 18% dos gigawatts implantados em 2030. Projeções sugerem que mais de 120 GW de armazenamento precisarão ser desenvolvidos apenas nos EUA até 2032, exigindo um investimento de US$ 200 a US$ 250 bilhões, para atender as demandas de transição energética. O Brasil é um mercado emergente para Sistemas de Armazenamento de Energia em baterias. O país tem um grande potencial para o desenvolvimento de energia renovável, particularmente solar e eólica, como visto nos últimos anos, mas enfrenta desafios para integrar essa energia intermitente à rede elétrica. O armazenamento de energia pode ajudar a superar esses desafios. O mercado nacional de baterias segue em crescimento, impulsionado pela crescente demanda por veículos elétricos e pela expansão da geração distribuída de energia solar. Em 2023, o Brasil importou cerca de US$ 10 bilhões em baterias, o que representa um aumento de 20% em relação ao ano anterior. De acordo com a Clean Energy Latin America (Cela), o mercado de armazenamento de energia no Brasil deve atingir um crescimento de 12,8% ao ano até 2040, com um incremento de até 7,2 GW de capacidade instalada no período. Em 2023, o mercado brasileiro já atingiu um valor de R$ 1,2 bilhão, com uma capacidade instalada próximo a 1,5 GW. Contudo, apesar das projeções, a expectativa é que o mercado tenha um crescimento exponencial,

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seguindo o mesmo padrão dos sistemas fotovoltaicos na última década. Os principais segmentos do mercado de armazenamento de energia no Brasil são: • Geração distribuída: utilizado para atender a demanda de consumidores residenciais, comerciais e industriais, além de fornecer serviços ancilares ao sistema elétrico. • Geração centralizada: utilizado para complementar a geração de energia renovável, garantindo a confiabilidade do fornecimento. • Energias renováveis: utilizado para compensar a intermitência das energias renováveis, como solar e eólica. A Consulta Pública n.º 39/2023 da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), que trata da inserção de sistemas de armazenamento no setor elétrico, quando concluída, certamente contribuirá com a expansão deste segmento. Esse crescimento irá gerar oportunidades de negócios para empresas de diversos setores, como: provedores de tecnologia, Instaladores e Operadores. Até 2030, os custos totais instalados poderão cair entre 50% e 60% (e os custos das células de bateria ainda mais), impulsionados pela otimização das instalações de produção, combinada com melhores combinações e redução do uso de materiais (IRENA, 2023). A vida útil e o desempenho das baterias também continuarão a melhorar, ajudando a reduzir o custo dos serviços prestados. Os custos das baterias de íons de lítio para aplicações estacionárias poderão cair para menos de 100 dólares por quilowatt-hora (kWh) até 2030.

Inovações impulsionam a expansão do mercado Soluções inovadoras estão remodelando o sistema energético e abrindo novas possibilidades para um futuro descarbonizado. Inovações na tecnologia, políticas, mercados e financiamento estão sendo implementadas em todo mundo. Um progresso significativo foi feito na mobilidade elétrica, na armazenagem em baterias, nas tecnologias digitais e na inteligência artificial, entre outras. As inovações tecnológicas estão desempenhando um papel fundamental nesse crescimento, tornando o armazenamento de energia mais acessível, eficiente e confiável. Algumas das principais inovações no mercado de armazenamento de energia incluem:

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a) Desenvolvimento de novas tecnologias de bateria: As baterias de lítio-íon são a tecnologia de armazenamento de energia mais comumente usada, mas estão sendo desenvolvidas novas tecnologias com potencial para oferecer maior eficiência, densidade de energia e vida útil. Por exemplo, as baterias de estado sólido estão se tornando mais competitivas, com custos de produção em queda, atingindo 500 watts-hora por quilograma e reduzir os preços das baterias na segunda metade da década. As baterias de lítio-enxofre, de zinco-ar, de sódio etc. estão em pleno desenvolvimento também. As baterias de estado sólido progrediram em 2023 e se tornou uma das mais promissora para aumentar a densidade de energia no nível da célula. Vários fabricantes líderes de baterias, como LG, CATL e SK estão apostando neste segmento, e traçaram planos de comercializar este tipo de baterias. b) Baterias de segunda vida: As baterias usadas de veículos elétricos e outros dispositivos eletrônicos podem ser reutilizadas para armazenamento de energia. Isso pode ajudar a reduzir os custos de armazenamento de energia e aumentar a vida útil das baterias. Existem casos de uso de baterias de segunda vida em países onde a frota de carros elétricos é mais antiga, como na china, Alemanha, EUA, dentre outros mercados. c) Armazenamento térmico: O armazenamento térmico usa a energia térmica para armazenar energia. Isso pode ser feito usando materiais como sal fundido, concreto, rocha ou água. O armazenamento térmico pode ser usado para fornecer energia térmica para aplicações industriais, comerciais ou residenciais, mas pode fornecer energia elétrica em algumas aplicações. Além dessas inovações, também existem investimentos crescentes em pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias de baterias, como baterias de grafeno, baterias de fluxo e baterias de metal-ar, baterias de Sal (sódio). Todas com grande potencial de mercado.

Serviços de Armazenamento de Energia Os serviços de armazenamento de energia (SaaS) são um conjunto de atividades que envolvem

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o projeto, instalação, operação e manutenção de sistemas de armazenamento de energia. No Brasil, os serviços de armazenamento de energia ainda estão em fase de desenvolvimento e regulação, mas estão ganhando importância à medida que o país avança para uma matriz energética com maior penetração de fontes de geração de energia intermitentes, como a energia eólica e a solar. O SaaS pode ser contratados por diversos tipos de clientes: Geradores de energia renovável; Concessionárias de energia elétrica; Grandes consumidores de energia; Empresas de serviços públicos; Investidores. Empresas como a Sueca, RECAP ENERGY, é especializada no setor de energia e oferece esse tipo de serviços (SaaS) na Europa. Em 2023 a empresa abriu uma subsidiária no Brasil, com foco na geração distribuída e em breve no armazenamento de energia. Os primeiros projetos de SaaS estão planejados para acontecer ainda em 2024. Esses projetos no Brasil irão aproveitar a experiência Global da RECAP na Europa (Suécia, Portugal, Espanha e América Latina (Colômbia).

Experiência da RECAP com financiamento de SaaS A RECAP ENERGY desenvolve e financia ativos de energia renovável no mercado global, com foco em clientes comerciais e industriais (C&I). Com mais de 5 MW de armazenamento em operação e mais de 800 MW em desenvolvimento e construção no Norte da Europa, a RECAP ENERGY adaptou o modelo de Contratos de Compra e Venda de Energia (PPAs, Power Purchase Agreement, em Inglês) de projetos solares fotovoltaicos para contratos de serviços energéticos com baterias. A proposta da RECAP ENERGY inova na forma como consumidores industriais de eletricidade, os transmissores e distribuidores de energia podem acessar sistemas de armazenamento de energia. Em vez de realizar um investimento inicial, os clientes da RECAP pagam apenas pela capacidade que usam ou pelo serviço específico que a bateria fornece. Essa abordagem elimina a barreira financeira que tem limitado a adoção de tecnologias de armazenamento, permitindo que uma ampla gama de atores participe da transição para um sistema de energia mais sustentável e descentralizado. Em um dos modelos de negócio, a RECAP é proprietária da bateria e o cliente pode alugar a

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capacidade (potência) instalada, desta forma o cliente paga apenas pelas horas que utiliza a bateria. As principais características deste modelo de negócio são: • Não há investimento pelo cliente. • Ele paga um preço fixo por MW e horas disponíveis. • Prazo de contrato previsto é de 15 anos. • Durante as horas que o cliente não utilizar a bateria, a RECAP ENERGY pode utilizá-la para outra finalidade.

Um dos BESS instalados contavam com bancos de bateria composto por 4160 células de Lítio-Ferro-fosfato (LFP) fabricada pela CATL. O módulo de baterias consiste em 13 células LFP conectadas em série e, em seguida, 4 (quatro) módulo são combinados para formar um pacote (pac), como visto na figura 2, formando conjuntos e baterias que interligadas totalizam 3.727 MWh de capacidade. Figura 2 - Detalhe dos módulos que compõem o Banco de Baterias (LFP).

• Uma das principais fontes de receita são os serviços ancilares. A adoção generalizada de sistemas de armazenamento de energia beneficia não apenas os consumidores comerciais e industriais de eletricidade, mas também fortalece a rede elétrica. Ao se suavizar as flutuações na geração de energia renovável, melhora-se a estabilidade da rede e garante um fornecimento de maior qualidade. Isso é fundamental para apoiar a integração de fontes de energia intermitentes e garantir uma transição energética bem-sucedida. As fotos a seguir são de projetos instalados na Europa, que serviu de piloto para modelagem e aprendizado visando a expansão. No total foram instalados 2 conjuntos de baterias em containers, como visto na Figura 1. Os contêineres acomodam as baterias e os sistemas eletrônicos, fornecem proteção de segurança estrutural e sistemática para o BESS e possuem sistema de alimentação independente, sistema de controle de temperatura, sistema de isolamento térmico, sistema retardador de chama, sistema de alarme de incêndio, sistema de proteção contra incêndio e outros sistemas de controle automático e garantia de segurança. Figura 1 - Banco de Baterias de Íons de Lítio. Fonte: RECAP, 2023.

O conjunto de baterias é gerenciado por um Battery Management System (BMS em inglês), Sistema de Gerenciamento de Bateria, que monitora e gerencia a bateria, controla o processo de carga e descarga da bateria, realiza a proteção da bateria e aumenta a eficiência abrangente da aplicação da bateria por meio da coleta, monitoramento, avaliação e cálculo de parâmetros como tensão, corrente, temperatura e SOC. Fonte: RECAP, 2023.

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Conclusão Em resumo, os sistemas de armazenamento de energia são componentes essenciais para a transição energética. O mercado não irá parar de crescer, e a tendência é seguir num ritmo de crescimento anual de quase 30% até 2030, facilitando a integração de fontes renováveis de energia intermitentes, como a solar e eólica. Preços tendem a cair com novas tecnologias, maior escala de mercado e novos materiais que estão sendo desenvolvidos, eliminando elementos mais caros, como o Lítio, Cobalto, etc. Pesquisa em novos compostos químicos e arranjos moleculares estão permitindo uma redução de custo em vários mercados, viabilizando projetos para diversos clientes no segmento industrial e comercial. Modelos de negócios de armazenamento de energia não apenas fornecem soluções técnicas de

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ponta, mas também elimina a barreira financeira por meio de um contrato inovador de serviços energéticos adaptado às necessidades de cada usuário, seja por demanda ou por energia, ou ambos, ou por regulação de tensão, frequência etc., que são os serviços ancilares, mas ainda pendentes de regulamentação no Brasil e em muitas partes do mundo. Na Suécia os serviços ancilares são bem remunerados e representam uma grande parcela da receita do SaaS. As instituições financeiras estão cada vez mais cientes deste mercado e os projetos financiados estão entregando retorno de investimento acima das taxas esperadas. Sendo assim, investir em armazenamento de energia é algo fundamental para assegurar a transição energética justa no Brasil e no mundo.

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FORTALECENDO COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS: UM OLHAR SOBRE ECOSSISTEMAS NO MERCADO SOLAR Tatiane Carolina Ergino da Silva tatiane.carolina@genyx.com.br Genyx Solar Power Tatiane Carolina é Pós-Graduanda em Comunicação Empresarial, MBA em Gestão de Projetos, Engenheira Civil,

Head de Ecossistema e Comunidade na Genyx Solar Power.

Acesse genyx.com.br e saiba mais!

Resumo

Referências

Este artigo tem como objetivo explorar a intersecção de inovação, sustentabilidade, comunidades e ecossistemas de negócios no mercado solar. A análise se concentra em como as práticas inovadoras promovem a sustentabilidade e fortalecem comunidades dentro de ecossistemas. Também destaca as estratégias adotadas pelo ecossistema GENYX para integrar soluções e promover mais resultados, destacando a forma como as inovações tecnológicas e os modelos de negócios se relacionam com a sustentabilidade ambiental, social e econômica.

O setor fotovoltaico tem se consolidado como um dos mais crescentes no Brasil, sobretudo no cenário do processo da transição energética e da busca por soluções de energia renovável. O conceito de ecossistemas de negócios, como uma rede interconectada de stakeholders que co-criam e geram alto valor para os seus clientes, traz o fortalecimento da comunidade como parte interessada essencial para tracionar, desenvolver e consolidar resultados.

Palavras-chave: Inovação; Sustentabilidade; Comunidades; Mercado Solar.

Segundo dados da ABSOLAR (Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica), até o

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O crescimento do mercado solar nos últimos anos

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presente momento temos mais de 35 gigawatts (GW) de potência operacional, considerando geração centralizada e geração distribuída, conforme a Figura 1. Figura 1 - Evolução da Energia Solar Fotovoltaica no Brasil, ABSOLAR.

Fonte: ANEEL/ABSOLAR, 2023.

36.000 34.000 32.000 30.000

POTÊNCIA INSTALADA (MW)

28.000 26.000 24.000 22.000 20.000 18.000 16.000 14.000 12.000 10.000 8.000 6.000 4.000 2.000 0 Até 2012 2013 2014

2015

Geração Centralizada (fração em %)

2016

2017

2018

2019

2020

Geração Distribuída (Fração em %)

2021

2022 nov/2023

Total (GC+GD)

Fonte: ANEEL/ABSOLAR, 2023.

Esses dados, que representam marcos importantes, são essenciais para demonstrar o crescimento dessa fonte renovável no país. Outro fator importante associado a essa evolução foi a redução do preço da geração solar. Nos últimos 10 anos houve uma queda considerável nos preços dos equipamentos fotovoltaicos, que ajudou a impulsionar o setor, aliada a programas de subsídios do governo, conscientização de sustentabilidade e abertura de novas linhas de financiamento que permitiram a inclusão da população de baixa renda na energia solar. Mesmo com a pandemia, o setor fotovoltaico se mostrou muito resiliente, com o crescimento do número de instalações no Brasil. A evolução da fonte solar fotovoltaica tornou-se propulsão para a competitividade no setor que gerou mais de 1 milhão de empregos no país.

Ecossistema: um mundo de oportunidades para entregar valor ao cliente no mercado solar Em 6 de Janeiro de 2022, tivemos a publicação do Marco Legal da Geração Distribuída no

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Brasil, sendo sancionada a Lei nº 14.300/2022 (Brasil, 2023). Neste novo cenário, a geração própria de energia solar ganhou mais segurança jurídica para as modelagens de negócios e também houve mudanças sobre a forma que ocorre o sistema de compensação de energia elétrica. O conceito da geração distribuída de energia no Brasil foi inserido, inicialmente, pela Resolução Normativa nº 482/2012 (revisada pela REN 687/2015 e pela REN 786/2017 da ANEEL – Agência Nacional de Energia Elétrica), o que nos faz refletir sobre como o setor ainda é novo e oferece várias oportunidades. Dado o cenário do período, no ano de 2023, os integradores se movimentaram em prol de alavancar suas vendas, mesmo em um cenário muito desafiador. Além disso, podemos observar consumidores cada vez mais empoderados, assíduos por informações e com tomada de decisão motivada por vários fatores, e, não só financeiro. Se faz necessário um amadurecimento do setor como um todo, com profissionais mais capacitados, preparados, não só para atender com excelência, mas também para se sobressair em relação à concorrência. Neste contexto, é necessário enfatizar que não é só os integradores que precisam se reinventar ou até mesmo buscar novas oportunidades de gerar valor aos seus clientes, mas também os outros stakeholders de toda cadeia produtiva do mercado. Em um mercado em intensa transformação e cada vez mais digital, as empresas do setor precisam estar focadas em se diferenciar por meio de experiências fluidas e propostas de valor pavimentadas na centralidade do cliente. Acredito que as empresas se destacam por adotar um modelo de negócio que coloca em foco o ecossistema de necessidades do cliente, integrando tecnologias inovadoras e soluções personalizadas. Este modelo se traduz em empresas que não apenas vendem equipamentos solares, mas oferecem uma solução completa de energia, olhando para todas as necessidades, desde o dimensionamento até o monitoramento de geração do projeto fotovoltaico. Para trazer um novo paradigma de geração de valor ao cliente, é necessário adotar a mentalidade de potencializar seu ecossistema, criando um "circuito fechado" como se fosse um "shopping solar" que engloba o fluxo de dados, serviços, produtos e transações. Isso se reflete no uso de

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tecnologias avançadas, com softwares poderosos capazes de atender as necessidades dos clientes. Além disso, um ecossistema não apenas impulsiona, mas também fortalece parceiros através de práticas de negócios sustentáveis e responsáveis. Este enfoque contribui para um ambiente de negócios mais robusto e sustentável, o qual os benefícios são recíprocos entre empresas. Essa estratégia "integradora" tenta superar análises e ensinamentos segmentados sobre o empreendedorismo. Isso porque, na perspectiva de um ecossistema, a multiplicidade e a dinâmica de interações entre as empresas visam gerar melhorias e, por consequência, também impactam no nível de satisfação dos clientes. Neste contexto, surgem oportunidades de inovação, visto que empresas que participam de ecossistemas atuam de maneira conjunta com intuito de inovar no mercado. Um exemplo, é o da Amazon, que ao longo dos tempos tem conseguido estruturar o seu negócio como um ecossistema bem completo, conforme se pode ver na Figura 2.

mercado solar, fez com que a GENYX buscasse desenvolver estratégias colaborativas com outros players de diferentes segmentos, como mostrado na Figura 3. Nesse sentido, a formação do ecossistema possibilita a geração de valor a longo prazo, promovendo negócios sustentáveis e expansão futura. Figura 3 - Representação das soluções integradas do ecossistema GENYX, 2023.

Figura 2 - Gomes, Thomaz. Economia de Plataformas: Retrato de um Ecossistema.

Fonte: Autor.

Fonte: Qurio. Maio, 2023.

Ecossistema Genyx: O mais completo do mercado solar A GENYX nasceu no mercado solar em 2011, ainda como uma empresa integradora, consolidouse como distribuidora de equipamentos até que, amadurecendo seu propósito, concebeu o ecossistema mais completo do mercado solar. A necessidade de conciliar diferentes propostas de valor para prover ao cliente soluções que atendam às suas expectativas mesmo em meio aos desafios do

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Para constituir e atuar com um ecossistema sólido, é crucial que haja um conjunto de unidades de negócios ao redor de um DNA claro e inequívoco, uma cultura muito sólida que irá ditar e fortalecer a forma de fazer negócios neste conjunto. Além disso, o ecossistema deve gerar negócios que colaboram entre si e que geram negócios uns para os outros. A GENYX tem uma alta capacidade de inovação. Podemos dizer que ecossistema é um movimento de efeito de rede aberta, considerando todas as interações que suportam o negócio, com diferentes players que se complementam entre si e permitem a descentralização da operação e foca na evolução da cadeia de valor tradicional para algo mais interativo, flexível e descentralizado. Conceber, desenvolver e liderar um ecossistema é bem desafiador, mas altamente diferenciador também. Nesse sentido, há de ser necessário destacar como um fator crítico de sucesso: as conexões. O DNA do ecossistema é o elemento que cria a conexão mais forte. A falta dessa cultura forte, conforme representada na Figura 4, pode comprometer sua sustentabilidade ao longo do tempo.

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Figura 4 - Representação do Prima de Identidade GENYX. 2023.

Fonte: Autor.

A formação do ecossistema GENYX é pavimentada no propósito de colocar mais pessoas no centro da revolução energética sustentável e na transformação digital que vêm materializando o ecossistema por meio de tecnologias. Nosso ecossistema é formado por: Genyx Solar Power: Distribuidora de equipamentos que atua há mais de 12 anos no mercado solar, promovendo curadoria de equipamentos e entregando ao integrador toda a qualidade e capacitação que ele precisa. A distribuidora foi a primeira a se certificar como AAA na certificação da ABSOLAR - Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica. Banco Genyx: A conta digital do integrador solar foi criada em parceria com o banco BV para atender as demandas de crédito do setor. Sua criação foi baseada nos conceitos mais modernos de inovação, finanças e tecnologia. Trazendo aplicações de conceitos como Open Innovation, Open Banking, Open Finance, Banking as a Service, Credit as a Service e também Embedded Finance. WeGen: Fruto de uma joint venture, a cooperativa demonstra o potencial revolucionário em promover o acesso a energia por assinatura e ampliar o portfólio de soluções dos integradores no mercado solar, possibilitando o ganho de receita recorrente. Plataforma de Dimensionamento: A plataforma GENYX realiza todo o dimensionamento dos projetos fotovoltaicos, facilitando a jornada de compra dos integradores. Plataforma de Monitoramento: Recentemente lançada, a plataforma de monitoramento de

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geração de energia foi concebida para auxiliar o integrador a potencializar o seu pós-venda através do uso da ferramenta que é ofertada de forma gratuita. Plataforma Maestria Genyx: Plataforma educacional que visa capacitar os integradores com cursos para alavancar o crescimento de suas empresas integradoras. Genyx Mais: Em parceria com a Engeform Energia, foi criado o Genyx Mais para apresentar novos produtos, voltados aos diferentes perfis de clientes do Grupo A (empresas conectadas na rede de distribuição em média e alta tensão), que passam a contar com soluções mais simples e seguras de contratação de energia renovável no mercado livre de energia, possibilitando gerar receita recorrente aos integradores. Em suma, o ecossistema GENYX está em constante formação, procurando estar sempre atenta as novas oportunidades de conexões e modelagem de negócios que possam fortalecer e interagir com o que já criamos.

Comunidades sustentáveis: o eixo do crescimento exponencial Segundo Seth Godin, as pessoas estão ávidas por fazerem parte de algo significativo e por serem lideradas nos caminhos que precisam e acreditam, porém, poucos têm a coragem e a disposição necessária para inaugurar um tema ou serem porta-voz de um grupo. Essa é uma função negligenciada por muitas empresas. Construir uma comunidade implica na busca incessante por ter pessoas engajadas em uma pauta/necessidade, ajudando e se conectando de uma forma que os beneficiem mutuamente. Uma comunidade sustentável como representada na Figura 5, promove o aumento do engajamento com os produtos/soluções, o cliente irá entrar em contato com a conquista de outros clientes e entender novas possibilidades de uso, além disso, também pode obter informações valiosas para a melhoria do serviço, clientes engajados ficam felizes em colaborar mostrando as falhas ou oportunidade de melhorias. Para a empresa que forma essa comunidade, é possível aumentar o Life Time Value, já que a chance de recompra é muito maior. Além disso, é possível reduzir o volume de demanda no atendimento ao cliente, já que os membros/clientes tendem a se ajudar.

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Figura 5 - Comunidade Boteco Solar na maior feira de energia solar da América Latina - Intersolar, 2023.

Fonte: Autor.

Quando criei o Boteco Solar, meu objetivo era conceber um podcast que promovesse o poder de fala dos integradores, acredito que o DNA desse propósito foi tão forte que o fez se tornar o maior podcast do mercado solar. A verdade é que montar uma comunidade não é sobre colocar um monte de pessoas juntas em um mesmo lugar e esperar que elas passem a se relacionar. É uma missão que precisa de muita dedicação. Por isso, uma vez que o fluxo é estabelecido, se torna uma vantagem competitiva praticamente impossível de ser copiada pelos concorrentes já que cada grupo de pessoas desenvolve a sua própria cultura e um jeito muito específico de fazer as relações acontecerem. Uma das coisas mais importantes a se fazer é elevar o poder da comunidade e da conversa, e usar conteúdo não para ditar, mas para aprender sobre a sua audiência e saber melhor quem ela é, além deser necessário ter muita atenção: a comunidade não é só externa, mas interna também. Precisamos cuidar e formar comunidades internas dentro da empresa também.

Assim como tudo que se trata de comportamento humano, criar uma comunidade não tem uma fórmula infalível, uma receita de bolo pronto, mas tem alguns caminhos que já foram percorridos algumas vezes (até por mim mesma) e que se mostraram eficientes na maioria das tentativas. A cultura assim como em qualquer outro ambiente se estabelece através do exemplo das lideranças e se desenvolve por meio da aderência e colaboração dos outros. Podemos dizer que para constituir uma comunidade sustentável no ecossistema é necessário nove elementos-chave: propósito, membros, estrutura, governança, atividades, rituais, recursos, narrativa e resultados. Cada elemento é projetado para guiar a criação de uma comunidade robusta e sustentável.

Conclusão Quando se multiplicam comunidades sustentáveis em volta de um ecossistema, o crescimento é exponencial igual ao mercado solar. Uma comunidade sustentável é uma oportunidade, mas é preciso olhar com seriedade e comprometimento sabendo que os resultados não serão conquistados do dia para a noite. Unir pessoas em torno de um objetivo com foco em um interesse genuíno e transparente é um diferencial muito difícil de ser replicado e tem o poder de elevar a sua marca de diversas formas diferentes.

Referências ABSOLAR. Infográfico ABSOLAR. 2023. A B S O L A R . D i s p o n í v e l e m : https://www.absolar.org.br/mercado/infografico/. Acesso em: 23 de dez. 2023. Lei 14.300/2022. Disponível e m : http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato20192022/2022/ lei/L1430 0.htm. Acesso em: 23 dez. 2023.

Figura 6 - Comunidade Conexão Genyx, 2023.

GOMES, Thomaz. Economia de Plataformas: Retrato de um Ecossistema. Qurio. Maio, 2023. GODIN, Seth. Tribos: Nós precisamos que vocês liderem. Setembro, 2023. ZENG, Ming. Alibaba: Estratégia de sucesso, Agosto, 2019. Fonte: Autor.

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REFRIGERADORES EFICIENTES CONGELAM AUMENTOS NA CONTA DE ENERGIA DOS LARES BRASILEIROS Bruno Herbert nadjacortes@agenciars.com ABESCO Bruno Herbert é o atual diretor presidente da Globalsun, empresa de soluções em energia solar, e já era conselheiro da ABESCO. Também atua no cargo de diretor presidente do Grupo Publikimagem,

desde 2003, e da Revert Brasil, empresa de soluções ambientais e de manufatura reversa, desde 2009.

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Resumo O final de 2023 foi marcado por grandes debates relacionados ao tema da eficiência energética. Enquanto em novembro houve a COP 28, em Dubai, no Brasil o Ministério de Minas e Energia (MME) publicou as regras do novo Programa de Metas para Refrigeradores e Congeladores, com foco no uso doméstico para fabricados ou importados para o país. Palavras-chave: Eficiência Energética; Programa de Metas para Refrigeradores; Normas Técnicas (ABNT e IEC).

Introdução A resolução número 02/2023 é definida em duas etapas. A primeira iniciará em 2024 e seguirá até final de 2025. Já a segunda vai de 2026 até o final de 2027. A medida traz uma nova realidade para as famílias brasileiras, que consomem 39% da sua renda com eletricidade, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

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Desenvolvimento Na primeira fase, o índice de eficiência energética para os refrigeradores é de 85,5%, conforme o ensaio de desempenho IEC 62552 de 2007. Já na segunda fase, o índice sobe para 90% e segue o ensaio de desempenho da IEC 62552 de 2020. Estes índices de eficiência serão verificados de acordo com o Programa de Etiquetagem Brasileiro (PEB) do Inmetro. A fabricação e importação dos equipamentos que não atingirem estes níveis de eficiência foram encerradas até 31 de dezembro de 2023 para a primeira fase e até 31 de dezembro de 2025 para a etapa dois. A comercialização pelo fabricante e importador ganha um ano a mais de prazo em cada etapa. Para o varejo, o prazo estende-se por mais dois anos ao final de cada fase de fabricação ou importação. Com esta resolução, o Brasil avança na eficiência energética desses equipamentos e reduz o seu atraso em relação ao resto do mundo, uma vez que implementará normas de 2007 e 2020 da International Electrotechnical Commission (IEC). energia3s.com.br


Quando chegarmos em 2028 e a segunda etapa for concluída e os equipamentos não estiverem mais sendo comercializados no varejo, já teremos quase uma década da IEC 62552/2020. Por um lado, as famílias brasileiras terão suas contas de energia reduzidas. Do outro, os fabricantes e importadores terão que se adaptar aos novos padrões de eficiência energética. Neste caso, o Brasil ganha duplamente. Primeiro, será beneficiado quando o consumidor, em poucos anos, custear a possível diferença de valor nos modelos atuais com a economia da redução da conta, diminuindo, portanto, o consumo de energia total ao equivalente à região Norte do país durante o ano de 2022, minimizando a carga do sistema elétrico nacional. Ganhará uma segunda vez ao estimular a modernização da indústria nacional, que sairá em busca de novas tecnologias para a fabricação de novos equipamentos mais competitivos mundialmente, além de evitar a importação de refrigeradores de baixa eficiência energética. Os refrigeradores menos eficientes, sob o argumento de uma aparente redução de preços, criam uma armadilha para o consumidor pagar contas de energia elétrica bem mais altas. Produzir refrigeradores de baixo custo e com grande eficiência energética não é novidade para a indústria brasileira e em muitos projetos de eficiência energética das concessionárias de energia dentro do programa da eficiência energética da ANEEL foram aplicados

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refrigeradores de baixo custo de aquisição, com consumo mensal estimado abaixo dos 25kw/h por mês. O retorno desses modelos eficientes ao mercado será um processo natural e, em poucos meses, fará com que o argumento de que a resolução 02/2023 terá como efeito um aumento no preço dos refrigeradores não se concretize. Para que nossa indústria seja capaz de rapidamente se adaptar às mudanças implementadas e beneficiar também a população de baixa renda, seria importante, e muito bem-vindo, o governo federal implantar programas de financiamento e desoneração fiscal para o setor. Estima-se que no Brasil são trocados anualmente entre 6 e 8 milhões de refrigeradores e esta é uma grande oportunidade do nosso país ter uma evolução essencial no sentido de atingir as cotas de melhoria de eficiência energética, meta assumida no acordo de Paris em 2015.

Considerações Finais Com a norma, o Brasil avança no seu programa de eficiência energética, dá um passo importante para a estabilidade do sistema elétrico brasileiro, protege a indústria nacional da importação de produtos baratos sem qualidade e melhora o orçamento da família brasileira ao reduzir a conta de energia elétrica.

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