Coletivo Cancrocítrico: O Fanzine como mídia radical e de defesa da identidade punk em Londrina

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97 confundiram.Vale destacar uma outra diferença: enquanto o Coletivo era formado por cinco integrantes fixos (na época que eu atuava), o Gralha Negra possuía um número relativamente maior de pessoas e, claro, uma rotatividade maior também desses integrantes. LEFDS: Primeiramente o Coletivo Cancrocítrico não virou Gralha Negra. Como as produções dependiam de grana que a gente conseguia realizando eventos, com uma sobra de um show produzimos 2 ou 3 edições (algumas delas prontas aguardando recursos). Como as coisas eram feitas pelo correio, mandavamos ao longo de 1993, conforme sobra dinheiro para mandar para os vários contatos. Mesmo assim o Coletivo (que era mais que um fanzine) continuou organizando eventos, protestos, reuniões, etc - até 1995 tenho certeza - e só não lançamos outra edição neste tempo por falta de recursos mesmo. Enquanto isto atuamos também no Gralha Negra, como membro do CC e particimos na realização de eventos, protestos, reuniões e na publicação do Grupo. 3. A Carolina Avancini e a Cintia Ito no TCC delas comentam que o Cancrocítrico foi um fanzine que surgiu para "propagar a ideologia anarquista". Entretanto em suas páginas o fanzine não se define como anarquista, nem coloca o punk como anarquista. Você sabe nos explicar melhor qual seria a relação com o anarquismo no "Coletivo Cancrocítrico"? FAC: Não nos limitávamos a escrever sobre o anarquismo. É claro que as ideias anarquistas orientavam o nosso pensamento, mas nunca limitavam a nossa produção dentro do Coletivo. Buscávamos, acima de tudo, despertar nas pessoas uma (re)tomada de consciência, um desejo de buscar a informação e a partir daí construir o conhecimento individual e coletivo. Eu lembro muito bem que nessa época eu sonhava e desejava mudar o mundo. Hoje, após todos esses anos, me conforta o fato de eu ter mudado; fiz história, tornei-me professor e acredito na mudança pelo caminho da educação, acredito na leitura e nos livros como elementos essenciais na construção do conhecimento. Acredito acima de tudo que o conhecimento adquirido dentro deste processo liberta. Quem desconhece ignora. Portanto, o conhecimento nos liberta da ignorância. E, sem dúvida alguma, o Coletivo contribuiu neste meu processo de conscientização. FS: Acho que a idéia nunca foi o anarquismo em si mesmo, os integrantes do grupo eram anarquistas ou "anarco-simpatizantes" (no caso, eu), mas a idéia principal do CancroCitrico, desde o nome - explico isto já - sempre foi a propagação de idéias para a criação de debates. FS: Me lembro que quando perguntei a origem do nome o Cientista me falou, didaticamente (rsrsrs) que: 1. "laranja" era a gíria para uma pessoa ignorante; 2. cancro cítrico era uma doença que dava em laranjas; 3. o CancroCítrico tinha como idéia "exterminar os laranjas", não fisicamente claro, mas sim tentando despertar na cabeça de um "laranja" uma vontade de buscar o conhecimento através das várias maneiras possíveis à época: troca de cartas, ouvindo música, lendo poesias, textos críticos, tendo acesso a informações cujo acesso pré-internet não era tão fácil quanto é hoje, entre inúmeros outros. Cada um que lia e/ou participava tinha uma


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