Suplemento: Mais educação - Tablóide

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!

ão iç Ed

LONDRINA, DOMINGO, 03 DE OUTUBRO, 2010

Foto: Lucas Godoy

Entrevista

Universidade

Tecnologia

Com a criadora da escola livre Paidéia

Brasileira entre os 10 melhores da Inglaterra

Revolução tecnológica em sala de aula

Josefa Martín Luengo explica o método libertário adotado pela escola sediada na cidade de Mérida na Espanha.

Gisela Schilling, estudante de Ciência Ambiental pela Oxford Brooks University conta como atingiu essa conquista.

Sabe o que é Podcast? Tablet Pc? Pois essas são algumas das novidades que agora chegam com tudo às escolas.

Páginas 12 e 13

Página 10

Páginas 6 e 7

Local

Especial alfabetização Reportagem detalha de modo humano a alfabetização de jovens e adultos em Londrina Páginas 4 e 5

Educadora é premiada pela segunda vez por projeto de incentivo a leitura Foto: Luciana Romeu

Gestora nota 10!

Iniciativa desenvolvida por professora voltante leva aos alunos livro sobre as Aventuras de Criança no mundo dos contos infantis Páginas 8 e 9


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Opinião EDITORIAL

CHARGE

e os livros.. Jornalismo educacional O brasileiro Por Renato Canini por “Mais educação” Esse suplemento mensal surge com o intuito de atender a demanda de mães, pais, educadores, estudantes, instituições e empresas. Acreditamos que pensar e discutir a educação publicamente é pode melhorá-la. Assim chega as bancas a primeira edição do Mais Educação. Cabe aqui agradecer aos nossos leitores que por muito tempo insistiram na necessidade de uma publicação deste porte. Com um foco nas experiências e de olho no que há de mais inovador em educação, pretendemos ampliar a bagagem cultural sobre o processo concomitante de ensino e aprendizagem. A publicação aborta a política educacional do estado mas também procura ir além, não entendemos a educação como um monopólio. Para ser efetiva e ter efeitos duradouros ela deve ser compreendida e trabalhada como responsabilidade por toda a sociedade. Queremos dialogar com as escolas, os cursinhos , cursos técnicos e as Universidades. Mas é preciso romper essa barreira óbvia e pensar de que forma as Empresas, os sindicatos, Ong´s e principalmente você, caro leitor, podem contribuir para uma sociedade melhor. Temos convicção um este mundo mais digno e justo só poderá advir do empenho

Foto: Agência Voz do Povo

solidário coletivo em transformar a educação. Ela deve ser mais que mera obrigação, deve ser desejada e gerar mudanças imediatas, no ambito individual e social, de modo concomitante. Vemos com carinho e destaque as perspectivas lúdicas da descoberta no âmbito educacional como um meio de atingir esses objetivos e melhorar efetivamente as qualidade de vida. Consideramos de extrema importância discutir a educação nos dias atuais pois a ciência aponta transformações conceituais pedagócias. Por um lado, o castigo, a avaliação meticulosa e a ausência de autonomia do educando são apontados

como principais motivos do desinteresse dos jovens pelo conhecimento. Por outro, altos índices de violência nas escolas públicas gera um regime de insegurança com o qual ainda não sabemos a lidar sem o uso da força. É preciso recuperar o afeto. Traremos as últimas novidades, os detalhes das reformas gráficas, dicas aos professores, vestibulandos e concurseiros. Tudo isso com uma linguagem saborosa e agradável. O objetivo é, cada vez mais, se ampliar o espaço aos leitores e, assim, queremos tornar esta publicação um ae referência constante para o pensarmos a educação em Londrina e a região.

Sobre .. A charge acima é de autoria do grande cartunista brasileiro Renato Canini, conhecido por seu trabalho em diversas publicações e para a Editora Abril, onde ilustrou histórias em quadrinhos da Disney e destacou-se desenhando o personagem Zé Carioca e apartir de agora ilustrará a página de opinião do suplemento Mais Educação.

Mais EDUCAÇÃO PUBLICAÇÃO Ed. Voz Do Povo - CNPJ 77.879.875/0001-09 DIRETOR GERAL Lucas de Godoy Chicarelli - lucasgch@ gmail.com - DRT/PR 656 DIRETOR COMERCIAL Louis Armstrong Buenaventura - nocomercial@vozdopovo.com DIAGRAMADOR Lucas de Godoy Chicarelli ORIENTADOR Mario Benedito Sales CIRCULAÇÃO Regional TIRAGEM 20 mil exemplares DISTRIBUIÇÃO Suplemento do jornal “A Voz do Povo” ENDEREÇO Rua Quintino Bocaiúva, 1083, Centro CEP 86020-400 - Londrina-Pr - Fone: (43)99602683 ** Esta publicação não é vendida separadamente **


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OUTRA LEITURA..

Pesquisa aponta que brasileiro não lê.. GLAUCO CORTÊS É muito comum ouvir que o brasileiro não lê. Uma pesquisa publicada recentemente pelo Instituto Pró-Livro, apontou que aqui os estudantes lêem por volta de 7 livros ao anos, mas 5,5 deles são livros indicados pela escola ou didáticos. Uma visão acelerada associa o cidadão a uma cultura da ignorância. Propomos aqui uma outra leitura. Quantas bibliotecas foram construídas esse ano em sua cidade? Quantos bibliotecários foram contratados? Quantos livros foram distribuídos? Pois é, o brasileiro não lê porque não há incentivo por parte dos poderes públicos e, nas escolas, as bibliotecas ficam reservadas apenas aos alunos e estes normalmente a frequentam para concluir os trabalhos exigidos pelos professores. Há em média no Brasil uma biblioteca, quando funciona, para cada 50 mil habitantes. Uma pesquisa do Ministério da Cultura, encomendada à Fundação Getúlio Vargas, vem para comprovar isso. Chamada de 1º Censo Nacional das Bibliotecas Públicas

Foto: Agência Voz do Povo

ATRASO: Criada em 1940 a biblioteca pública no centro de Londrina é, ainda hoje, a única opção aos leitores da cidade. O acesso à periferia é dificultado pelo alto valor do transporte público

Municipais, a pesquisa mostra que 79% dos municípios brasileiros possuíam ao menos uma biblioteca aberta, o que corresponde a 4.763 bibliotecas em 4.413 municípios. Em 13% dos casos, as BPMs ainda estão em fase de implantação ou reabertura e em 8%

estão fechadas, extintas ou nunca existiram. Considerando aquelas que estão em funcionamento, são 2,67 bibliotecas por 100 mil habitantes no país. A pesquisa, que foi feita no ano passado, traz outras informações. Veja a seguir texto sobre a pesquisa.

Foram pesquisados todos os 5.565 municípios brasileiros. Em 4.905 municípios foram realizadas visitas in loco para a investigação sobre a existência e condições de funcionamento de BPMs, no período de setembro a novembro de 2009. Os 660 municípios

restantes – em bibliotecas entre 2007 e 2008 pelo Sistema Nacional de Bibliotecas Públicas e atendidos pelo Programa Mais Cultura com a instalação de BPMs – foram pesquisados por contato telefônico, até janeiro deste ano. O Censo Nacional tem por objetivo subsidiar o aperfeiçoamento de políticas públicas em todas as esferas de governo – federal, estadual e municipal – voltadas à melhoria e valorização das bibliotecas públicas brasileiras. Segundo o levantamento, em 420 municípios as BPMs foram extintas, fechadas ou nunca existiram. Esses dados são alarmantes. É necessário um efetivo comprometimento por parte das empresas e do poder público. O Ministério da Educação e da Cultura tem o dever de facilitar e incentivar o acesso às bibliotecas. Nós, brasileiros, por nossa ver devemos reconhecer e preservar nossa cultura. A leitura é uma forma de extrapolar as fronteiras e as limitações do ser humano e descobrir novos mundos. A liberdade advém de compromisso e entendimento.

U A VOZ DO LEITOR ! U Onde foi parar o Bestseller brasileiro? Porque no Brasil os mais vendidos são todos estrangeiros? O engraçado é que, na escola, somos educados, do ponto de vista da leitura, por autores nacionais: Machado de Assis, José de Alencar, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Drummond e etc. Ainda assim, não nos tornamos fiéis a esses autores ao abandonamos a escola, ou seja, na fase adulta.

Duvido que as obras locais não tenham qualidade. Então, ficam as dúvidas: será que somos vítimas do mercado externo de best-sellers? E, ainda, qual a falha na educação que nos deixa vulnerável a esse determinismo da indústria? Onde está o vácuo entre os renomados e os novos escritores brasileiros que não suportam a concorrência estrangeira? São questões que precisamos debater, e muito. Marcelo Almeida Professor de literatura

Para mi a leitura é um hábito cotidiano Sempre fui de muito ler, não por virtude, mas porque em nossa casa livro era um objeto cotidiano, como o pão e o leite. Lembro de minhas avós de livro na mão quando não estavam lidando na casa. Minha cama de menina e mocinha era embutida em prateleiras. Criança insone, meu conforto nas noites intermináveis era acender o abajur, estender a mão, e ali estavam os meus

amigos. Algumas vezes acordei minha mãe esquecendo a hora e dando risadas com a boneca Emília, de Monteiro Lobato, meu ídolo em criança: fazia mil artes e todo mundo achava graça. E a escola não conseguiu estragar esse meu amor pelas histórias e pelas palavras. Chega de reclamar que o brasileiro não gosta de ler: a família precisa abrir essa porta e educar com o exemplo. Liz Dantas Mãe de 3 filhos leitores

U

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As cartas devem ser enviados com o título “Opinião” com identificação, ocupação e telefone por correio ou para: maiseduca@vozdopovo.com


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Teia de diversidades: Alfabetização em Londrina LUCAS GODOY

LONDRINA - Ler e escrever é fundamental, o mercado de trabalho exige cada vez mais e os educadores poderiam ser melhor remunerados pelo bom trabalho que desenvolvem.. A matéria poderia acabar aqui, mas ao mergulhar no mar de personagens invisíveis que compõe esta rica teia de diversidade - a educação de jovens e adultos - compreendi que para informar é preciso romper a superficialidade fria dos números e estatísticas e permitir aflorar experiências. Inferno ou paraíso? “Aqui nóis é pá” e “bem vindo ao inferno”.. Foi isso que li pichado no muro ao chegar no Conjunto Pindorama. Essa visão não acolhedora seria aos poucos quebrada: As casas eram simples, o futebol corria solto e as bicicletas abundavam. Na sala de aula da creche, apesar das cadeiras baixas, não ouvi queixas e assim entendi a importância de voltar a estudar. Satisfaziam-se mesmo sem as melhores condições. Já no SESC a estrutura é boa e existe uma turma inicial e outra mais avançada. Os alunos podem ser promovidos a qualquer momento pela professora. Além de motivar, de acordo com a educadora Lyn Nunes, isso permite um acompanha-

Fotos: Lucas Godoy

Do trauma nos vestígios de uma velha escola ao despertar da felicidade: Após anos de esforço e árduo trabalho nos entornos da cidade de Londrina os alunos descobrem a capacidade e a importância de aprender mento maior dos estudantes blemas: mercados cobram a e a aprendizagem acaba fa- mais, patrões fazem funciocilitada. nários assinarem a demissão A cegueira da visão.. sem direitos, trapaças até na “A sensahora acertar a ção de quem colheita e pa“a sombra da velha não sabe ler gar financiaprática escolar do ao receber mientos. castigo povoa as um papel é “Uma vez lembranças” de ser cego” fui depositar - Arlete Siqueira. Os não al- R$500 no banco e a moça fabetizados enfrentam pro- disse que enviaria o com-

provante em minha casa, achei estranho mas não sei dessas coisas. Tinha muita vergonha, agente da roça não fala muito porque fala errado” - Relata a agricultora Grazilina Maziero, que estuda no SESC. Ela nunca mais viu o dinheiro. Da palmatória ao grão de milho.. Ao tentar entender por-

que só agora começam a aprender o alfabeto. Revelam-se muitas histórias de vida e, além disso, a sombra da velha prática escolar do castigo povoa as lembranças. Cleuza Gonçalves achava desnecessário estudar por ser casada e trabalhar no sítio. Sebastião da Silva, que saiu do nordeste com 13 anos, foi expulso com violência ao bri-


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Esta é uma história tecida por pessoas, vindas de longe, cheias de esperança, que encontram nos entornos urbanos um recanto para trabalhar, educar os filhos. Que só agora conseguem retomar os estudos e descobrem uma nova felicidade em viver

A educadora Lyn Nunes diz trabalhar na educação de jovens e adultos pelo prazer de ver os alunos felizes gar com a filha da professora que o beliscava e lembrou como a palmatória era usada: “se agente errava e o outro aluno acertava ele nos dava uma na cabeça e se não gostasse de você doía eim”. Para a paraibana de São Bento, há um ano em Londrina, Maria Dalva a palmatória era um cabo de vassoura. Dorival Ferreira foi jogado

pelas crianças no espinhal: “a professora disse apenas que homem não chora. Depois fiquei no sítio em que seríamos expulsos porque meu pai não tinha o papel de propriedade, chutaram ele e mataram os bois”. Ao ouvir os relatos, Cleuza perde a timidez e conta também que já foi obrigada a ajoelhar em grãos de mi-

lho, outros alunos afirmam ter sofrido a mesma punição. O trauma ainda existe, são os vestígios de uma velha escola. Os alunos entretanto demonstram ter boa vontade para superá-lo. A alegria de uma nova vida.. A principal conquista é superar a vergonha e ganhar independência. “Só comecei porque meu filho me matriculou, eu achava que não poderia mais aprender e que não precisava. Hoje leio até a letra do médico e escolho meus remédios”. Explica Arlete Siqueira, de 54 anos, com um brilho especial no olho daqueles que nos fazem rir e chorar. “Muito bom mesmo foi poder ler os bilhetes no bolso do marido. Agora ele tem que ficar esperto comigo” - Neusa Andrade divertiu-se ao contar. Já Grazilina Maziero destaca-se. Em poucos meses foi promovida de turma e é admirável o desempenho pois sua rotina, aos 67 anos, é pesada: “acordo 5h, faço o café e vou para a roça até as 11h. Volto, faço almoço e venho para a aula. Depois faço a janta. O que eu mais gosto é matemática porque já escutoww os preços da soja e do milho e ligo na cooperativa para confirmar. Quero aprender mais”. Uma pitada de amor e cuidado.. “quando eu escrevi a carta para minha mãe ela chorou. Ela não sabia ler, mas

chorou porque eu era a úni- gostaria de dizer que todos ca filha que ainda não sabia deveriam vir aprender a ler ler e escrever” - Grazilina e escrever, isso é muito bom Maziero. e muito importante” - Arlete A escola também é vivi- Siqueira. da como uma nova casa. A Pedagogia do afeto relação estudante-professor É essa simplicidade e é quase familiar. Cada alu- essa humildade que comno tem suas dificuldades e põe a diversidade da educaa proximidade ção de jovens “Muito bom mesmo foi auxilia a cone adultos em poder ler os bilhetes tinuar os esLondrina. Mais no bolso do marido. tudos e venque uma hisAgora ele tem que ficar cer o medo tória, nos atrai esperto comigo” inicial. O caria pedagogia nho transboradotada. da e podemos vê-lo pois ao Baseada nas idéias de terminar a aula todos fazem Paulo Freire e incentivada questão de se despedir das nas oficinas de formação professoras e desejar um promovidas pelo estado do bom dia. Paraná, o afeto se destaca “Se essa reportagem fos- como principal potencializase passar na televisão eu dor da aprendizagem.

A distância entre o discurso e a prática A falta de valorização dos alfabetizadores é latente e preocupa pois dela depende a manutenção da qualidade do serviço.. O governo paranaense faz muita propaganda do Paraná Alfabetizado mas a prática não é tão poética. Os educadores se inscrevem como voluntários e o resultado disso é que eles não tem direitos trabalhistas. São ainda responsáveis por conseguir os alunos e o local para as aulas. Se conseguem, dentro do pra-

zo, ganham por oito meses uma bolsa mensal de R$ 260,00 mais R$28,00 de auxílio transporte para participarem de reuniões pedagógicas de formação. Além da precariedade e do baixo valor as bolsas são pagas com atraso. A educadora Luzenir Marques se queixa: “é ruim pois temos despesas que precisamos pagar com nosso dinheiro, como fotocópias ou até mesmo o transporte para as reuniões pedagógicas”.(L.G.)


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Revolução tecnológica na sala de aula Nove dicas para usar bem as inovações Por Adriano Teixeira Especialista em educação e tecnologia da UFRGS

Fotos: Agência Voz do Povo

LUCIANA CARBONIERI TICs são tecnologias da informação e comunicação. Cada vez mais, parece impossível imaginar a vida sem essas letrinhas. Entre os professores, a disseminação de computadores, internet, celulares, câmeras digitais, e-mails, mensagens instantâneas, banda larga e uma infinidade de engenhocas da modernidade provoca reações variadas. Qual destes sentimentos mais combina com o seu: expectativa pela chegada de novos recursos? Empolgação com as possibilidades que se abrem? Temor de que eles tomem seu lugar? Desconfiança quanto ao potencial prometido? Ou, quem sabe, uma sensação de impotência por não saber utilizá-los ou por conhecê-los menos do que os próprios alunos? Mas afinal: quando usar a tecnologia em sala de aula? A segunda: como utilizar esses novos recursos? É preciso estabeler, de cara, um critério: a tecnologia vale se estiver a serviço do conteúdo. Isso exclui as apresentações em Power Point que apenas tornam as aulas mais divertidas, os jogos de computador que só entretêm as crianças ou aqueles vídeos que simplesmente cobrem buracos de um planejamento malfeito. “Para o aprendizado, essas fer-

HI-TECH: João Pedro de apenas 6 anos adora desenhar na tela do mini-tablet pc, um pequeno computador sem teclado que possui jogos educativos e ferramentas de desenho e alfabetização ramentas devem colaborar com conteúdos que muitas vezes nem poderiam ser ensinados sem elas”, afirma Regina Scarpa, coordenadora pedagógica. Da soma entre tecnologia e conteúdos, nascem oportunidades de ensino. Mas é preciso avaliar se elas são significativas. Isso acontece, por exemplo, quando as TICs cooperam para enfrentar novos desafios, como pesquisar na internet e se localizar no mapa virtual. “A tecnologia tem um papel importante no desenvolvimen-

to de habilidades para atuar no mundo de hoje”, afirma Marcia Padilha, coordenadora da área de inovação educativa da Organização dos Estados IberoAmericanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI). Em outros casos, porém, ela é dispensável. Não faz sentido, por exemplo, ver o crescimento de uma semente numa animação se podemos fazer na prática. Existem recomendações gerais para utilizar os recursos em sala. Mas os resultados são melhores quando é con-

siderada a didática específica de cada área. O importante é construímos um planejamento que una tecnologia e conteúdos e que, dessa forma, motive os alunos e os mantenha atentos. Esse painel pode incluir até disciplinas do Ensino Fundamental. Nas próxiimas edições traremos casos reais e planos de aula para ajudar a mostrar quando - e como computadores, internet, celulares e companhia são fundamentais para aprender mais e melhor nos dias de hoje.

Enquete: O que você acha da tecnologia no colégio? “Tive uma aula de geografia na sala de informática, agente usava o google maps em duplas para escrever o Paraná. Foi muito legal e não vou esquecer”

Rafael Fernandes 13 anos - Estudante

“Ai acho ótimo, mas a professora tem que ter um curso pelo ou menos. Nossa professora de literatura faz uns power points horríveis. É tenso aguntar a aula dela” (risos)

Pâmela Muri 17 anos - Estudante

“Antes eu mesma ajudava meus netos com a lição de casa quando minha filha ia trabalhar. Hoje é impossível, eles fazem tudo no computador. Não acompanho mais”

Rosa Teresan 72 anos - Avó pela sexta vez

O INÍCIO Investigue o potencial das ferramentas e sobre experiências bem-sucedidas. O CURRÍCULO No planejamento anual, avalie quais conteúdos são mais bem abordados com a tecnologia e o que mais é necessárias ao mundo de hoje. O FUNDAMENTAL Conheça o básico: editores de texto, correio eletrônico e mecanismos de busca. O ESPECÍFICO Antes de iniciar: certifique-se que compreende as funções elementares dos recursos que irá usar. A AMPLIAÇÃO Para avançar no uso pedagógico os cursos do MEC são boas opções. O AUTODIDATISMO A internet é aliada: Procure tutoriais: textos que explicam passo a passo o funcionamento dos recursos. A RESPONSABILIDADE Ajude a turma a refletir sobre o conteúdo de blogs e fotologs. Debata qual o nível de exposição adequado, lembre: cada um é responsável por aquilo que publica. A SEGURANÇA Discuta as precauções com a internet: qual a importância e como navegar de modo seguro. A PARCERIA Em caso de dúvidas: recorra aos alunos. A parceria não é sinal de fraqueza: domine o saber em sua área e você seguirá respeitado.


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BOM EXEMPLO

Aula oralidade e podcast é premiada

ALEXANDRE PRESLEY Poeta, dramaturgo e romancista, o paraibano Ariano Suassuna ficou famoso graças à genialidade presente nas comédias O Auto da Compadecida e O Santo e a Porca. Em 2007, por causa das comemorações de seu aniversário de 80 anos e da exibição na TV de A Pedra do Reino, minissérie fruto da adaptação de um de seus romances, ele ficou em evidência para o grande público. E chamou a atenção dos alunos do 9º ano do Colégio Universitário. Para trabalhar leitura e interpretação, com foco nas marcas de oralidade, o professor Jorge Luiz Marques de Moraes aproveitou a curiosidade e escolheu esse autor. O trabalho poderia ter preso a atividades tradicionais, mas o educador resolveu investir numa proposta mais tecnológica, combinando a vida e a obra de Suassuna com uma ferramenta moderna. “E se estudássemos com podcasts?”, desafiou o grupo. “Pod o quê?”, muitos estudantes perguntaram. Uma parte deles até conhecia os tais programas de áudio. Disponibilizados via internet, eles podem ser baixados e ouvidos no computador ou em aparelhos

Fotos: Oiticica Filho

PARCERIA EFICIENTE: Alunos e professores ganhadores do prêmio Civita - Educador Nota 10 deste ano festejam a parceria funcional e divertida entre tecnologia e educação de MP3. Mas ninguém nunca tinha feito um, nem mesmo o professor. “A ideia de usar essa ferramenta surgiu durante uma reunião pedagógica. Foram as professoras de Informática Educativa que vieram com a sugestão”, conta Moraes. Começava a nascer uma rica parceria. “Percebemos que era uma boa maneira de utilizar os recursos multimídia disponíveis na escola, ainda pouco explorados, para ensinar um

ORALIDADE EM FOCO: Os alunos mergulharam nas obras do autor paraibano para conhecer as marcas do oral

conteúdo de maneira prática”. O projeto foi tão bem-sucedido que lhe rendeu um troféu no Prêmio Victor Civita - Educador Nota 10 deste ano. Objetivo A ideia de Moraes era fazer com que os alunos percebessem a diferença entre a oralidade e o texto escrito. Para isso, elegeu a vida e a obra de Suassuna como objeto central a ser trabalhado no formato podcast. O educador também almejava

LEITURA EM VOZ ALTA: Aprender a importância das marcas da linguagem oral

inserir os estudantes na sociedade digital, fazendo com que trabalhassem com o computador, operando programas de gravação e edição. Passo-a-passo Primeiro, apresentou o livro O Casamento Suspeitoso. A turma deveria produzir textos que explicassem o título e, depois, ler a obra. Depois, pesquisar sobre o autor e organizar os podcasts. Com roteiro pronto, os estudantes começaram

a ensaiar. Assim, percebiam a diferença entre a língua falada e a escrita, trabalhavam oralização e observavam marcas de linguagem em Suassuna. Avaliação Moraes observava, a todo momento, se os estudantes conseguiam distinguir as diferenças entre a linguagem oral e a escrita e se compreendiam a função e as características de cada um dos gêneros trabalhados nos programas. É moda? Mais do que simplesmente aderir a um recurso tecnológico da moda, o professor tem nessa tecnologia uma forma de ensinar o conteúdo com riqueza. Criar programas de áudio que remetem à linguagem do rádio e mostrem a oralidade presente nas obras de um autor como Suassuna que evidencia os personagens características de fala do nordestino que mora no sertão. O desafio é grande. Em trabalhos como o organizado por Moraes, os alunos precisam transitar da fala para a escrita e da escrita para a fala a todo momento, o que é fundamental para a aquisição de habilidade linguística”, afirma Cláudio Bazzoni, assessor de Língua Portuguesa da prefeitura de São Paulo e selecionador do prêmio.

LAPIDAR A CRIAÇÃO: Para adequar o roteiro aos gêneros orais, é preciso ensaiar muito e prestar atenção nas falas


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Especial

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Conheça a gestora nota 10

Conheça o projeto de formação continuada elaborado pela coordenado segundo ano consecutivo na categoria Gestor Nota 10, que apro

PAULINO BENVENUTO

cenário. LONDRINA - Quando alFoi o que a coordenadora guém pergunta para Giulia pedagógica Angélica Arroio Lopes, aluna do 1º ano do Quiqueto de Sousa decidiu Champagnat, em Londrina, fazer. Ao assumir o cargo, em se ela tem algum escritor fa- 2008, ela começou a observorito a garotinha não pensa var o que acontecia em clasduas vezes antes e responde se nos momentos de leitura. com convicção: “Ruth Ro- Com base no diagnóstico cha”. Giulia conhece vários inicial, que Angélica Souza livros e o estilo da afirma: “Percebí autora e comenta que os professores as histórias com os necessitavam de amigos e a famíformação específica lia. Seus colegas para poder formar também são leitoleitores de verdade. res entusiasmados. Era preciso que eles Uns gostam mais lessem com objede poesia e outros de contos. tivos claros (ter propósitos), Todos, porém, já descobriram fizessem as turmas apreno prazer que a literatura pro- derem a usufruir as obras, porciona. da capa ao posfácio (ensinar Mas nem sempre as coisas procedimentos leitores) e esforam assim nessa escola. timulassem atitudes comuns Até recentemente, as crian- a quem gosta de ler, como ças não eram incentivadas fazer indicações literárias e a ler. As famílias - a maioria seguir autores (desenvolver de zona rural - têm poucos os chamados comportamenlivros em casa. Na escola, os tos leitores)”. professores pegavam exemNessa época, Angélica plares na biblioteca para ler participou de um prograpara as turmas, mas faziam ma de formação oferecido isso sem um objetivo claro. pela Secretaria de Educação Muitas vezes, do município essa tarefa era em parceria “Percebí que executada de com o Instios professores maneira autotuto Avisa Lá, necessitavam de mática, apenas de São Paulo. formação específica para preencher Nele, aprendeu para poder formar a agenda, e como ajudar leitores de verdade” sem a conscios professores ência de que a leitura em voz a agir como bons modelos de alta também é uma atividade leitores e, assim, ensinar as didática de grande importân- crianças a se tornarem leitocia na formação de leitores. ras (leia mais sobre a trajetóEra urgente, portanto, pensar ria da coordenadora na últiem ações para mudar esse ma página). O próximo passo

Fotos: Luciana Romeu

HORA DE ESTUDO: A organização da equipe deve variar de acordo com os objetivos pretendido

foi voltar os olhos novamente adequar as propostas pré-depara as necessidades reais finidas pelo programa da Seda escola e montar o projeto cretaria às especificidades da de formação continuada Uma escola e da equipe docente. Escola de Leitores. Focado na Para garantir a eficácia dessa leitura em voz alta pelo pro- adaptação, a coordenadora fessor, o trausou estratébalho rendeu gias como ob“O processo só o segundo tíservação de funciona quando o tulo de Gestosala de aula, formador planeja os ra Nota 10 no momentos de trabalho devolutivas aos Prêmio Victor docentes, tecoletivo, fica atento Civita - Educa- às respostas do grupo matização da dor Nota 10 a prática (discuse conhece bem cada pedagoga Ansão teórica soprofessor” gélica Sousa. bre atividades Atenção necessária desenvolvidas com os aluEntre os 496 trabalhos ins- nos), dupla conceitualização critos na categoria Gestor, o (reflexão sobre o objeto e as de Angélica se destacou pela condições didáticas) e regispreocupação constante em tros reflexivos. “O processo

só funciona quando o formador planeja os momentos de trabalho coletivo, fica atento às respostas do grupo e conhece bem cada professor. Angélica tem esses cuidados, por isso fez o grupo questionar antigas práticas e construir novos conhecimentos em equipe”, diz Ana Inoue, selecionadora do Prêmio Victor Civita. Outras ferramentas importantes foram a organização e o planejamento dos encontros pedagógicos. Dependendo do objetivo desejado, Angélica agrupava os professores de maneiras distintas. Se a meta era que colegas com diferentes conhecimentos trocassem


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especial

0: Segundo prêmio Civita

ora pedagógica Angélica Sousa, vencedora do Prêmio Victor Civita pelo oxima de modo intuitivo as crianças e jovens à arte literaturária

zíamos isso para despertar o interesse pela literatura nem para refletir sobre as obras. Não dávamos importância às etapas necessárias à leitura. Hoje, as crianças têm mais familiaridade com os livros e participam ativamente”, conta a diretora, Ana Cláudia Miranda Bacchi Gutinieki. Além dos ganhos na aprendizagem dos alunos, o projeto teve outros desdobramentos importantes. Os professores se apaixonaram pelos livros, pediram que a equipe gestora ampliasse o acervo de obras para adultos e adquirisse tanto as literárias como as específicas para a formação continuada. Hoje, na hora do intervalo, eles trocam sugestões de títulos e opiniões sobre as leituras que os pela escola e o professor fazem. Os pais estão incentivando mais o hábito de ler ideias, juntava-os em duplas. em casa, ampliando o acervo Se o propósito era discutir um da família e buscando adquiconteúdo específico, organi- rir bons livros para os filhos. zava grupos por disciplina ou Os funcionários participam de série. Em todas as ocasiões um momento semanal de leiexplicava os motivos das es- tura em voz alta para a escola toda (aberto colhas. aos familiares). Todos os “Não dávamos Com tantos leiprofessores importância às tores entusias(inclusive os etapas necessárias mados, a ideia especialistas, à leitura. Hoje, as é que, com o como os de crianças têm mais tempo, todos, Arte e de Edufamiliaridade com os independentecação Física), livros e participam mente da idaa diretora e a ativamente” de e da função, vice-diretora se engajaram no projeto e tomem a frente do auditório participaram das reuniões. para que compartilhem com “Mudamos nossa concepção os demais a aventura de emsobre o que é ler em voz alta barcar em uma história literápara os alunos. Antes, não fa- ria e descobrir seus encantos.

PERFIL

Afinal, quem é Angélica Souza ? Angélica Arroio Quiqueto de Sousa tem 36 anos. Fez Magistério no começo dos anos 1990, mas, naquela época, optou por não exercer o ofício de professora e foi trabalhar no comércio, área em que ficou por dez anos. Mudou de opinião quando sua irmã, Adriana Sobhie, insistiu para que cursassem juntas a faculdade de Pedagogia (hoje já é diretora de Orientação Educacional da rede municipal de Londrina). Em 2006, Angélica chegou à sala de aula e trabalhou com turmas de alfabetização e reforço. Dois anos mais tarde, aceitou o cargo de coordenadora pedagógica que hoje ocupa na EMEF Professor Odinir Magnani. A implantação do projeto sobre leitura de textos literários, entre setembro de 2009 e junho de 2010, ajudou a fortalecer seu papel como formadora. “O trabalho me ensinou a importância de estudar, traçar metas claras e valorizar

a formação continuada como espaço de confronto de ideias e de aprendizagem. Assim, pude cumprir minha função e ajudar os professores a melhorar a prática de sala de aula. Jamais

LANÇAMENTO

Cordel em arte e versos A Editora Acatu lança “Cordel em Arte e Versos”, de Moreira Acopiara. A proposta do livro é motivar o leitor a descobrir o universo do cordel e motivá-lo a conhecer a linguagem

e os meios para criar versos e ilustrar, com xilogravuras, seu próprio livreto de cordel. Editora: Acatu Formato: 32 páginas Preço: R$ 17,00

imaginei que ganharia o Civita novamente”, conta ela. No currículo, a coordenadora tem também dois filhos: Leonardo, 12 anos, e Juliana, 6 - dois leitores apaixonados. (P.B.)


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Brasileira fica entre os dez melhores estudantes da Inglaterra Foto: Lúcio Mari

Dez dicas para você não fazer feio lá fora

FUTURO: Gisela, que está fora do Brasil desde os sete anos, pretende voltar para desenvolver projetos sociais za e Belém, onde trabalhou em ONGs ligadas à questão ambiental. “Escolhi ONGs do Brasil porque quero voltar. Sintome brasileira, amo este País.” A estudante pretende atuar em organizações com projetos ligados à água. A intenção dela é trabalhar no Brasil. “É um lugar que amo, e acho que há muito trabalho a ser feito aí.” Os principais problemas com água no Brasil, segundo Gisela, são a falta de saneamento e a poluição de indústrias e residências. Há apenas um mês, a estudante mudou-se para Londres, onde começou a cursar o mestrado em Gerenciamento

de Água no Imperial College London. Prêmio O Graduate 100 é uma iniciativa desenvolvida por empresários britânicos e universidades. O prêmio identifica anualmente cem graduandos que têm perfil para serem futuros líderes. Eles são tidos como pessoas que terão grande impacto no mercado de trabalho, em áreas consideradas importantes como negócios, mídia, arte, setor público e esportes. Os vencedores ganham visibilidade, inclusive por meio de uma revista distribuída em empresas e ong´s de várias partes do mundo.

Esteja aberto para novas experiências; Inofrme-se sobre a cultura e costumes do país em que irá estudar e respeite. Lembre-se de que é você que deve se adaptar ao país. Então, antes de viajar, leia sobre o local onde vai ficar, os costumes da população, o tipo de comida, etc.; Prepare-se para o clima, levando roupas adequadas; No exterior, aproveite para fazer amizades com quem mora lá. Agindo desta maneira, você pratica o idioma e conhece mais sobre o país; Troca de Informação: não deixe de mostrar aos seus novos amigos estrangeiros um pouco sobre o Brasil. Muitos nem imaginam como é o país e todas as belezas que existem. Leve livros, fotos e o que quiser para apresentar o lugar de onde você veio, pois, certamente, eles gostarão de saber; Procure saber o máximo possível da língua do país de destino antes de viajar. Mesmo assim, saiba que só a prática vai fazer com que você desenvolva a fluência no novo idioma; Para facilitar a adaptação, escolha um lugar onde você tenha maior chance de se adaptar com o clima e a alimentação; Prepare-se psicologicamente para a saudade e para viver novas experiências em uma nova cultura, conviver com pessoas de diferentes costumes, língua, clima e culinária; Aproveite, ao máximo, o tempo lá fora. O intercâmbio é uma experiência única, uma lembrança, um aprendizado que marca a vida de todo mundo. (L.L.) Foto: Agência Voz do Povo

LARISSA LINDER AGÊNCIA ESTADÃO Gisela Schilling, de 23 anos, ficou entre os dez melhores universitários da Inglaterra na área de Ciência. Ela também ficou entre os cem melhores do país, pelo prêmio Graduate 100, no qual 130 mil pessoas se inscreveram. A estudante que se formou em Ciência Ambiental pela Oxford Brooks University. “Não esperava nem ser indicada pela minha universidade, quanto mais ganhar o prêmio.”, conta. Os estudantes premiados participarão de um jantar este mês, em uma solenidade com empresários e representantes do governo e de setores estratégicos como energia. “Pude conversar com pessoas do Ministério do Meio Ambiente, ter um primeiro contato. Foi muito importante para mim”, conta. Filha de mãe brasileira e pai alemão, Gisela saiu do Brasil aos 7 anos, quando foi morar na Alemanha. Saiu de lá para Oxford em busca do curso de Ciência Ambiental que considerava o ideal por ser interdisciplinar. “Sempre me interessei pelo assunto, desde criança, e acho que é uma área que tem urgência por causa dos problemas ambientais que temos”. Antes mesmo de entrar na faculdade, morou em Fortale-

Capes abre intercâmbio entre Brasil e USA Instituições de ensino superior brasileiras interessadas no intercâmbio com instituições norte-americanas podem participar do Programa de Consórcios em Educação Superior

entre o Brasil e os Estados Unidos. O programa é uma parceria do MEC com o Fund for the Improvement of Post Secondary Education dos EUA. As inscrições ficam abertas até 30

de abril. Para participar, as universidades devem apresentar projetos de consórcios institucionais bilaterais em qualquer área de formação acadêmica, envolvendo, pelo menos, duas

instituições de cada país. Os projetos devem ter como foco o apoio a estudantes do nível de graduação. Saiba mais sobre o Capes-Fipse no portal: wwww.capes.gov.br (L.L.)


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Universidade

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Mercado para tecnólogos em alta

SONNYBOY WILLIAMSON Agência Blues A procura pelos cursos tecnológicos gratuitos e a entrada dos tecnólogos no mercado de trabalho tiveram um crescimento surpreendente nos últimos anos: para se ter uma idéia, de 1998 a 2004, a quantidade de alunos ingressantes nas graduações tecnológicas aumentou 395%, de acordo com dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Trata-se, na verdade, de um reflexo da situação do mercado de trabalho no Brasil - se, por um lado, o mercado está saturado de bacharéis de cursos tradicionais como Administração e Direito, por outro, há uma grande carência de técnicos e tecnólogos no país. “Eu costumo dizer que os cursos de tecnologia estão ‘ficando na moda’. A empregabilidade é muito mais alta que a de um curso de bacharelado. O aluno faz o curso especificamente numa área que tem um apelo mercadológico grande. Ao terminar, pode ser inserido nesse mercado com uma

rapidez maior e com bastante sucesso inclusive”, comenta o coordenador dos cursos superiores de tecnologia da Fatec, Ângelo Cortelazzo. Na sede do Universidade Tenológica Federal do Paraná de Londrina, além dos investimentos prediais, em equipamentos e no setor técnico-administrativo, o diretor Garabed Kenchian

dá destaque à expansão dos cursos: “Na unidade de Londrina, estamos expandindo as Engenharias. Temos três engenharias, quatro licenciaturas; são áreas que apresentam uma demanda muito grande por profissionais”. A Engenharia Civil é oferecida somente no vestibular do começo ano, a de Produção

ANA ELIZE Agência Estado Segundo o professor de psicologia da UnB (Universidade de Brasília), Áderson Costa, “a ansiedade nessas situações pode ter até conseqüências físicas, como diarréia ou dores”. Para saber como lidar com a pressão, o UOL Vestibular ouviu especialistas e selecionou dicas de diferentes áreas. “Tem de liberar as tensões no dia a dia, senão acumula e estoura tudo no dia do vestibular”, opina a terapeuta corporal Kika Lourenço. “Um exercício simples e útil é inspirar fundo, pelo nariz, segurar um pouco o ar e soltar pela boca, suspirando e fazendo barulho”. Para Costa, “terapias alternativas e atividades menos

convencionais são bem-vindas. Cada um encontra um jeito diferente para sentir-se bem”. O psicólogo faz uma ressalva: “é importante evitar excessos na semana de prova. Começar uma atividade física, como ioga ou ginástica, bem na semana de provas não é a melhor idéia. O corpo precisa de um tempo para acostumar”. Os pais também têm papel importante na preparação: “Pode parecer óbvio, mas tem família que não se lembra de que, nessa fase final, o filho precisa ainda mais apoio e atenção”, aconselha Costa. Mudanças repentinas de humor ou irritação em excesso podem ser sinal de que o estresse apertou, segundo o professor de psicologia. “Aí tem de

ter calma e conversar. O pior que pode acontecer é brigar na véspera da prova”, alerta. Comida A alimentação também pode ajudar o desempenho na hora de estudar. “Frituras, gordura e refrigerantes tornam a digestão mais lenta. O raciocínio, por conseqüência, também desacelera”, avisa Jane Corona, nutricionista em São Paulo. Mais uma vez, o equilíbrio é a regra de ouro para o vestibulando em época de provas. “Tem de comer leve, saladinhas, frutas, legumes”, recomenda a nutricionista. Quem não consegue ficar sem refrigerante, o conselho é reduzir a dose - mas, abandonar o consumo, só depois da prova. “Há quem vicia e largar

UTFPR: Campus Londrina ofertará novo curso a partir de 2011: Engenharia de Materiais

Saiba como agir na hora H

Mecânica no meio do ano e a Engenharia de Controle de Automação em ambos os vestibulares do UTFPR. Bons salários De acordo com a pesquisa divulgada em 2009 pelo instituto Data Folha, “a remuneração de todos os tecnólogos egressos apresenta uma concentração na faixa de 3 a 6 salários

mínimos com remuneração média de 5,5 SMs [salários mínimos]”. Outro dado da pesquisa mostra que 46,5% das empresas empregadoras são de grande porte. “No começo do curso enviei currículo para a Cummins e fui contratado. Estar cursando a Fatec e ter feito o curso técnico em mecânica na Etec ajudou bastante na minha contratação”, afirma Ivoney do Melo Santos, tecnólogo formado em Produção de Plásticos pela Fatec Zona Leste, que trabalha atualmente na montagem de motores a diesel na multinacional norte-americana. “A média salarial é em torno de R$ 3.500,00”, completa. Thais Andrade, terceira colocada no curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas da UTFPR, confirma: “É um ótimo curso. Já soube pelos professores que o curso é voltado para o mercado de trabalho. A Fatec tem convênio com mais de 1.800 empresas que oferecem estágios na faculdade. Há casos como o de uma aluna que conseguiu um estágio de R$ 2.000,00”.

XÔ STRESS: segundo pscicólogo a tranqulidade e saúde em dia pode fazer a diferença durante o vestibular deerrepente pode dar crise de abstinência”, diz Corona. O dia da prova também exige cuidados. “Almoçar? Só se for duas horas antes do exame, para não dar sono”, aconselha. “Mas não adianta ficar com fome. O ideal é um café da manhã reforçado, com café, leite, frutas e pão integral”, afirma.

Para o período do exame, a recomendação é evitar balas que elevam o açúcar no sangue de modo brusc - e refrigerantes, vilões da digestão. “Comer banana é uma boa. Ela é rica em potássio e o açúcar é digerido bem pelo organismo. Já a maçã dá a sensação de fome em muita gente”, conclui.


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entrevista

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A criadora da escola livre Paidéia na Espanha FRANCIELE NAQOY Quem forma a Paideia? Agência El País Paideia está formada por ESPANHA - A escola livre dois grupos: O Coletivo e a Paideia, instituída na cidade de Cooperativa. O coletivo é comMérida na Espanha funciona de posto por educadores e todas forma autogerida; isto é, não as pessoas que colaboram com segue os ostumes ou métodos o projeto. Já a cooperativa da educação oficial. A respon- está composta pelas pessosabilidade é dividida em todos as que sustentam e ajudaram os aspectos; as decisões são economicamente (pedidos de coletivas e tomadas em assem- empréstimo, etc.) para comebléias, cada pessoa dá segun- çar o projeto Paideia. Algumas do suas possibilidades e recebe dessas pessoas fazem parte do conforme suas necessidades. coletivo de educadores e outras Sem o apoio do estado e de ainda participam em tempo inempresas privadas, são os pró- tegral como educadores. Atualprios pais, educadores e ami- mente são responsáveis pelos gos da escola que contribuem déficits que surjam na escola. para o seu funcionamento. O que cada um faz? Isso é estranho para nós, O coletivo é encarregado de acostumados a dois modelos levar adiante o projeto, de anabásicos: o estatal e o privado. lisar se as coisas estão saindo Mas é por esse método gestivo como esperado ou, pelo conque tem dado Foto: Arquivo pessoal trário, se algucerto a mais ma mudança de 30 anos é necessária. que a escola A cooperativa, Paidéia tem como foi dito obtido recoanteriormente nhecimento. tem uma funO prestígio ção de mandeve-se tamtenedora e bém ao bom colabora ecorelacionamennomicamente to entre os com a escola. alunos, pais Na Paideia e professonão há assores que já foi ciação de pais estudado na e mestres, Josefa Martín Luego Université Panem é aconris e até messelhável que mo na brasileira USP. exista porque pode dificultar o Apesar disso, a proposta é projeto ou interfererir no moousada e muito polêmica. Por delo educativo. Podem partiisso o Mais Educação entrevista cipar integrando-se individualhoje esta escritora e pedagoga, mente ao coletivo. professora e educadora Josefa Os alunos participam no dia Martin Luengo que você confe- a dia, já que a el@s é dirigida re a seguir. a educação, mas não podem

Foto: Agência El País

CULINÁRIA COLETIVA: Muitas aulas são dotadas de um cunho prático e usual que tendem a mesclar a teoria e a prática necessária ao dia a dia enquanto seres humanos intervir no projeto ideológico por não terem maturidade suficiente. (por ex.: rechaçando a assembléia, assimilando a hierarquia, violência, etc). Quais são os órgãos decisórios? O Coletivo Paideia. A cooperativa só está lá fazer os pagamentos. Existem cargos? Existe um administrador, mas em geral todos fazem de tudo conforme o momento. Como admitem alunos? O projeto é amplamente explicado aos pais e mães para que não restem dúvidas a respeito do que é a Paideia. Isso resulta em uma maior sintonia entre o que fazemos aqui e o comportamento dos pais e mães, já que devem saber perfeitamente o que fazemos. Qual será o número ideal de alunos por educador? No máximo 15. No caso dos

pequenos 8 já seriam muitos. soa tenha segundo suas necesDe qualquer forma, o número sidades e auxilie como puder. de educadores deve ser sufiLiberdade: Para gozar dela ciente para controlar o espaço são necessários os valores ane não deixar sozinhos os me- teriormente citados. nores diante de qualquer imNão violência: Educação previsto (mudança de turnos, não violenta, soluciona os proetc.) É necessário no blemas sem a utili“Felicidade: mínimo de 2 adultos zar e ensina a comÉ a soma de ainda que ainda que bater a violência. tenham menos de 8 todos os pontos Acreditamos que a anteriores e o crianças, tanto pelos educação assim irá imprevistos como objetivo final da gerar menos insPaideia” para trocarem opitabilidade entre os niões. povos, tantos nas Quais os valores básicos crianças como adultos. da educação de vocês? Cultura: Para adquirir coIgualdade: Para educar e nhecimentos que os auxiliem a conviver. Também para dar a interpretar as coisas sem a nemesma quantidade de educa- cessidade de que outros interção a todos e assim evitar as pretem a realidade por eles, já diferenças educativas. que “a cultura nos fará livres”. Solidariedade: Para que se Felicidade: É a soma de toajudem, sejam tolerantes, pro- dos os pontos e o objetivo final curem conhecer seus atos e su- da Paideia. Ela não é entendida perem as contradições. como a realização de caprichos Justiça: Para que cada pes- mas sim como conseguir pes-


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entrevista

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A pedagoga e escritora Josefa Martín Luego resume ao Mais Educação as dúvidas mais comuns que país, mães e educadores tem sobre o funcionamento de uma escola autogerida e o método pedagógico libertário que coloca em prática há mais de 30 anos

Foto: Agência El País

estabelecer diferenças e cair do e todos podem mandá-lo fano consumismo. Quando se ce- zer coisas. Isto não é do agrado lebra o aniversário na Paideia, deles e procuram sempre cumo felizardo escolhe a comida e prir seus compromissos para todos juntos fazemos um bolo. serem livres. Mesmo assim, as Geralmente trazem coisas crianças tem uma curiosidade para comer juntos. Quando op- enorme que os leva a querer tam por celebrar fora, as pes- saber e aprender tudo. soas maiores tem o cuidado de Também existem os trabaconvidar todos de seu grupo. lhos coletivos onde um adulto Diante dos dias santos lhes presta ajuda. Esses são eleitos dizemos a verdade. Se trazem pelo grupo, se optaram por eles algum jogo a escola para com- devem comparecer, se não os partilhar com os interessa melhor demais. Procura- “Procuramos evitar que não distraiam mos evitar con- contradições entre o resto, mas se escola e os jogos. tradições entre não estão devem Explicamos aos escola e os jogos. se dedicar. Se não Explicamos aos pais sobre os jogos há unanimidade pais sobre os jo- sexistas ou bélicos” oferecemos outras gos não sexistas, atividades, se não ou bélicos, assim como vídeos for possível no mesmo dia, o inadequados e etc. mais rapido que for possível. Como se distribui o temFinalmente existem as asAMBIENTE LÚDICO: A árvore roxa em frente a escola foi proposta dos alunos. Ambiente po de trabalho? sembléias de exposição. Aconlúdico e aberto a intervenções aproxima o ambiente escolar e incentiva o protagonismo Cada pessoa escolhe o tem- tecem uma vez ao mês e nelas soas com estabilidade emocio- o espanhol como assunto. de de cada um e se adquirem po que quer se dedicar ao es- as crianças explicam individualnal, maturidade, etc. E a informática, a músi- hábitos contrários aos quais tudo. Geralmente depende da mente o que aprenderam. Os Como se modificam e ca, e etc? defendemos na Paideia como a idade da criança. O trabalho demais fazem perguntas, se social, isto é, fazer a comida, algo não estiver claro o adulto ampliam esses vaA informática se competitividade e o êxito. lores? ensina aos alunos Na Paideia cozinham limpar, etc. não é obrigatório já pode esclarecer e auxiliar. “O menu de Qual a continuidade dos Entre os memque desejam apren- coletivamente. Como esco- que não devem deixar sua parcada semana bros do coletivo. Em der e os ensina que lhem o menu? E como tra- te com os demais e sim fazer alunos após a Paideia? é escolhido o que decidem em assembléia. Atualmente todos seguem geral não se modios computadores tam o vegetarianismo? por um grupo ficam esses princísão ferramentas e O menu de cada semana Algumas tarefas tem tempo estudando e o mais gratificante de alunos e os é que alguns continuam a visipios, só a dinâmica não um fim em si é escolhido por um grupo de para serem realizadas. grupos mudam Como incenti- tar a escola mesmo não tendo diária para sua conmesmos. A música alunos e os grutoda semana” “Cada pessoa vam o estudo e a mais nenhum vínculo diretaquista e isto nota-se também é passada pos mudam toda escolhe o tempo responsabilida- mente familiar com ela. diariamente. se desejarem. Isso semana. A comida que quer se de? Há compatibilidade enComo se resolvem pro- é feito com todos os meios cria- é equilibrada. E o Cada criança tre os métodos educativos? blemas entre: alunos, edu- tivos existentes. Mas geralmen- vegetarianismo é dedicar ao estudo. Geralmente elege um comPodem-se aproveitar todas cadores e de alunos frente te querem saber de tudo. uma opção que o sema- as técnicas educativas desde a educadores? Como veem as ativida- aluno fará quando depende da idade promisso da criança” nalmente, desde que essas não contradigam os Entre eles diretamente. No des extra-escolares? tiver maturidade melhorar nos tra- princípios sobre os quais se bacaso em que não seja possível Não de forma positiva. To- para decidir o que na assembléia. Em todos os ca- dos tem um limite. Quem ad- quer comer. Pais não devem se balhos sociais ou nos valores seiam a escola e ajudem ao seu pessoais, até fazer determina- fomento e consecução. sos é assim. mitiria em seu trabalho que au- meter nessa escolha deles. Algo a acrescentar? No país Vasco existem três mentem a jornada? Além disso, Como tratam os aniver- do número de lições (matemáticas, linguagem, etc). Se não Gostaria de agradecer e enmodelos educativos:: O “A” fere pontos básicos em nossa sários, dias santos e etc.? que é em espanhol com euske- educação como a Igualdade, já No aniversário eles podem cumpre essa meta significa que viar um fraterno abraço a todos ra como assunto; o “B” que é que uns teriam mais educação celebrar na Paideia ou fora. não é responsável e por isso os colegas do Brasil. Quero visimeio a meio; e o “D” que é in- que outros; E a Justiça, porque Não é bom que se celebre nos necessita que mandem nele, tá-los em breve e poder trocar tegralmente em “euskera” com não se estabelece a necessida- nos dois lados pois podem se convertendo-se em um manda- experiências com vocês.


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crÔnica

LONDRINA, DOMINGO 03 DE OUTUBRO 2010

Por RUBENS ALVES

A complicada arte de ver Ela entrou, deitou-se no olhos, de todos os órgãos dos é ensinar a ver. O zen-budismo divã e disse: “Acho que es- sentidos, são os de mais fácil concorda, e toda a sua espitou ficando louca”. Eu fiquei compreensão científica. A sua ritualidade é uma busca da em silêncio aguardando que física é idêntica à física óptica experiência chamada “satori”, revelasse os sinais de loucu- de uma máquina fotográfica: o a abertura do “terceiro olho”. ra. “Um dos meus prazeres é objeto do lado de fora apare- Não sei se Cummings se inscozinhar. Vou para a cozinha, ce refletido do lado de dentro. pirava no zen-budismo, mas corto as ceboMas existe algo o fato é que escreveu: “Agora “Mas, cortada a las, os tomates, na visão que não os ouvidos dos meus ouvidos cebola, eu olhei para os pimentões pertence à física. acordaram e agora os olhos ela e tive um susto. é uma alegria! William Blake dos meus olhos se abriram”. Percebi que nunca Entretanto, faz sabia disso e Há um poema no Novo havia visto uma uns dias, eu fui afirmou: “A árvo- Testamento que relata a cacebola” para a cozinha re que o sábio vê minhada de dois discípulos para fazer aquinão é a mesma na companhia de Jesus reslo que já fizera centenas de ve- que o tolo vê”. Sei disso por suscitado. Mas eles não o rezes: cortar cebolas. Ato banal experiência. Quando vejo os conheciam. Reconheceram-no sem surpresas. Mas, cortada a ipês floridos, sinto-me como subitamente: ao partir do pão, cebola, eu olhei para ela e tive Moisés diante da sarça arden- “seus olhos se abriram”. Vinium susto. Percebi que nunca te: ali está uma epifania do cius de Moraes adota o mesmo havia visto uma cebola. Aque- sagrado. Mas uma mulher que mote em “Operário em Consles anéis perfeitamente ajusta- vivia perto da minha casa de- trução”: “De forma que, certo dos, a luz se refletindo neles: cretou a morte de um ipê que dia, à mesa ao cortar o pão, tive a impressão de estar ven- florescia à frente o operário foi “Isso é estranho do a rosácea de um vitral de de sua casa portomado de uma porque os olhos, catedral gótica. De repente, a que ele sujava o súbita emoção, de todos os órgãos cebola, de objeto a ser comi- chão, dava muiao constatar asdos sentidos, são do, se transformou em obra de to trabalho para sombrado que os de mais fácil arte! E o pior é que o mesmo a sua vassoura. tudo naquela compreensão aconteceu quando cortei os to- Seus olhos não mesa - garrafa, científica” mates, os pimentões... Agora, viam a beleza. prato, facão o que vejo me causa espanto.” Só viam o lixo. era ele quem faEla se calou, esperando o Adélia Prado disse: “Deus zia. Ele, um humilde operário, meu diagnóstico. Eu me levan- de vez em quando me tira a um operário em construção”. tei, fui à estante de livros e de poesia. Olho para uma pedra A diferença se encontra no lá retirei as “Odes Elementa- e vejo uma pedra”. Drummond lugar onde os olhos são guarles”, de Pablo Neruda. Procurei viu uma pedra e não viu uma dados. Se os olhos estão na a “Ode à Cebola” e lhe disse: pedra. A pedra que ele viu vi- caixa de ferramentas, eles são “Essa perturbação ocular que rou poema. Há muitas pessoas apenas ferramentas que usaa acometeu é de visão perfeita mos por sua função prática. “Os olhos que comum entre os que nada vêem. Com eles vemos objetos, sinais moram na caixa de poetas. Veja o “Não é bastan- luminosos, nomes de ruas - e ferramentas são os que Neruda diste não ser cego ajustamos a nossa ação. O ver olhos dos adultos. Os se de uma cebopara ver as ár- se subordina ao fazer. É neolhos que moram na la igual àquela vores e as flores. cessário mas muito pobre. Os que lhe causou caixa dos brinquedos, Não basta abrir olhos não gozam.. Mas, quandas crianças” assombro: ‘Rosa a janela para ver do os olhos estão na caixa dos de água com esos campos e os brinquedos, se transformam camas de cristal’. Não, você rios”, escreveu Alberto Caeiro, em órgãos de prazer: brincam não está louca. Você ganhou heterônimo de Fernando Pes- com o que vêem, olham pelo olhos de poeta... Os poetas soa. O ato de ver não é coisa prazer de olhar, querem fazer ensinam a ver”. natural. Precisa ser aprendido. amor com o mundo. Ver é muito complicado. Nietzsche sabia e afirmou que Os olhos que moram na Isso é estranho porque os a primeira tarefa da educação caixa de ferramentas são os

Ilustração: Raul Airon

olhos dos adultos. Os olhos na mão e olha devagar”. Por isso - acho que a prique moram na caixa dos brinquedos, das crianças. Para ter meira função da educação é olhos brincalhões, é preciso ter ensinar a ver - eu gostaria de sugerir que se as crianças por “gostaria de suge- criasse um novo nossas mestras. Alberto Caeiro rir que se criasse um tipo de profesdisse ter apren- novo tipo de profes- sor, um profesdido a arte de sor, um professor que sor que nada ver com um me- nada teria a ensinar, teria a ensinar, mas que se denininho, Jesus mas..” dicaria a apontar Cristo fugido do céu, tornado outra vez crian- os assombros que crescem nos ça, eternamente: “Ensinou-me desvãos da banalidade cotidiatudo. A olhar para as coisas. na. Como o Jesus menino do Aponta-me as flores. Mostra- poema de Caeiro. Então a sua me como as pedras são engra- missão seria partejar os “olhos çadas quando a gente as têm vagabundos”...


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LONDRINA, DOMINGO 03 DE OUTUBRO 2010

serviço

CINEMA E EDUCAÇÃO

Foto: Divulgação

A língua das Mariposas é educativo RAVI JAGANATHA Ir a escola pela primeira vez é desafiador às criança. Não importa a idade, o país e o contexto. A superação da insegurança requer alguns dias. Nessa adaptação a criança faz colegas, compreende a dinâmica escolar e trava o primordial contato com o professor. Nesse aspecto, a figura do professor é definidora não só na adaptação. Os mestres respondem pela própria paixão a ser despertada nos infantes. Parte deles toda a energia vital que, necessariamente, contagia os alunos e faz com que eles não apenas se sintam bem na escola, mas também, que alimentem certa paixão pela aprendizagem. José Luiz Corda, cineasta espanhol, retratou com grande êxito, os primeiros passos do menino Moncho (Manuel Lozano), de sete anos, nessa grande aventura de ingressar na escola, através de seu filme “A Língua das Mariposas”.

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O filme tem como foco a relação professor-aluno. Estabelece a imagem do professor humano, caloroso, próximo e paciente. Nos mostra a atitude do profissional da educação como aquela do erudito, que lê, pesquisa, conversa regularmente com muitas pessoas e é admirado pela comunidade. Mais que teorias, ele ensina a seus alunos novas posturas perante o mundo, onde as pessoas devem se respeitar, ter sensibilidade e jamais abandonar seus ideais.

Sinopse A vida do pequeno Poncho está começando. Entrou na escola do bom professor Gregório, fez amizades e poderá excursionar com a banda de seu irmão mais velho. Mas nem tudo são flores. Mas quando seu pai e seu professor se envolvem na Guerra Civil Espanhola e a trama se aprofunda. Ficha técnica Gênero: Drama Origem/Ano: ESP/1999 Duração: 96 min Direção: José Luís Cuerda

AGENDA EDUCATIVA

Teatro educativo é destaque neste final de semana

UEL promove sexto congresso de educação

Kinoarte exibe “O milagre de Ann Sullivan”

O Fábrica de Teatro do Oprimido de Londrina irá apresentar um espetáculo gratuito com enfoque educativo neste final de semana. “Ladrão de jornais” será apresentada fala sobre os entraves em obter acesso ao conhecimento. Local: pç. Tomi Nakagawa Data: Sábado as 17h

A Universidade Estadual de Londrina promove o sexto congresso estadual de estudos da educação. O enfoque deste ano será a utilização de novas práticas como formas de superar as dificuldades no ensino. Local: Campus da UEL Data: Começa hoje as 19h e se encerra no sábado.

O cineclube Kinoarte exibirá o filme “O milagre de Ann Sullivan“. Produzido em 1962 é um clássico, com 2 horas de duração, que fatorou 2 oscars e conta a relação comunicacional que se da entre uma dedicada professora e uma aluna surda. Local: Rua Uruguai, 298 Data: Quinta-feira, 20h

OPORTUNIDADES

Cursos de formação

Educação para a paz A a ONG Educadores para a Paz do RS, abriu inscrições gratuidas para o curso de capacitação de educadores sociais com duração de 3 meses. As aulas serão realizadas as terças e quintas, das 19h às 21h no vila cultural Alma Brasil. As vagas são limitadas e os interessados podem se inscrever pelo telefone 3324-7557. Capacitação em rádio comunitária na UEL A Universidade Estadual de Londrina por meio da especialização em Comunicação Comunitária convida os interessados em radiodifusão comunitária a participar dos 4 encontros abertos que serão realizados durante o mês de outubro deste ano. Serão todos os sábados do mês, das 14h as 16h no anfiteatro do centro de ciências humanas. Serão abordados os temas: Função e funcionamento, legislação e autorga, equipamentos e tecnologia e no úlimo encontro línguagem radiofônia e comunicação popular. SESC oferece curso de informática básica O Sesc Londrina localizado na rua Fernando de Noronha oferece curso de informática básica para professores e alunos da rede estadual e municipal de ensino. Serão 4 turmas divididas por faixas etárias. Os interessados devem comparecer ao Sesc até o próximo dia 10 portando documentação pessoal e escolar para efetuarem a inscrição.

Concursos Prefeitura contrata professores A prefeitura de Londrina irá abrir concurso para professores da rede municipal de ensino. As inscrições iniciam no dia 5 inscrições e vão até dia 15. Poderão se inscrever profissionais formados nas seguintes áreas: Sociologia, história, filosofia e português. Mais informações no site: www.Londrina.pr.gov.br UTFPR adia divulgação do resultado do concurso A UTFPR adiou por uma semana a publicação do resultado final do concurso para professores de engenharia ambiental. O motivo, segundo a instituição, é um problema técnico no site do concurso que já está sendo corrigido. O resultado será publicado no próximo dia 9 em: http://www.utfpr.edu.br/

Mercado de trabalho

Colégio seleciona arquivologistas O colégio particular Maxi, localizado na Duque de Caxias, está selecionando profissionais formados em arquivologia para três novas vagas. Os interessados devem enviar curriculo para o email: rh@colegiomaxi.com.br Estagio em educação A ong Mais Viver, com sede em ibiporã, necessita de dois estudantes que estejam ao menos no terceiro ano de pedagogia para auxiliar no planejamento didático de seus cursos. Deseja-se que os candidatos tenham interesse em permanecer trabalhando na instituição após a conclusão do curso. Os interessados devem enviar currículo profissional para: solidariedade@maisviver.org Instrutores de informática A editora Voz do Povo está selecionando dois instrutores de informática básica para trabalhar em projeto social na zona norte. Interessados entrar em contato pelo telefone: (43)99602683


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+Ezinho!

LONDRINA, DOMINGO 03 DE OUTUBRO 2010

A água das chuvas, rios e mares é a alegria de muitas plantas e animais! COLORIR

Ezinho foi para a escola e choveu!

LABIRINTO

Torneira aberta: Ajude Ezinho a evitar o desperdício:

CRUZADINHA

A água é a casa de muitos animais: Ajude Ezinho a conhecer alguns escrevendo abaixo o que significa cada um destes desenhos:


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