Livro do Concurso de produção textual 2019

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Concurso - 2019

Produção Textual



Concurso - 2019

Produção Textual


Equipe Direção geral Alexandre Abbatepaulo

Direção educacional Karyn Bulbarelli

Direção de currículo Fabia Helena Chiorboli Antunes

Gestão de unidade - Ensino Fundamental II Antonio Sérgio Pfleger de Almeida

Gestão de unidade - Ensino Médio Daniela Maria Bertero Coccaro

Coordenação de Língua Portuguesa Roberta Hernandes Alves

Ensino Fundamental II Ariadne Mattos Olímpio, Leonardo Teixeira da Rocha - 6º ano Débie dos Santos Bastos - 7º ano Larissa Teodoro Andrade - 8º ano Tatiana Albergaria Ricardo - 9º ano Milena Oliveira Silva - Estagiária

Ensino Médio Amanda Lacerda de Lacerda, Camila Flessati - 1ª série Gabriele de Souza e Castro Schumm - 2ª e 3ª séries Sinei Sales - 2ª série Roberta Hernandes Alves - 3ª série Camila Souza Santos - Monitora


Agradecimentos Nosso especial agradecimento aos colaboradores: Leonardo Teixeira da Rocha, DĂŠbie dos Santos Bastos, Larissa Teodoro Andrade, Tatiana Albergaria Ricardo, Amanda Lacerda de Lacerda, Gabriele de Souza e Castro Schumm, Camila Souza Santos, Simone de Ă vila Xavier.


Prefácio O menino que carregava água na peneira Tenho um livro sobre águas e meninos. Gostei mais de um menino que carregava água na peneira. A mãe disse que carregar água na peneira Era o mesmo que roubar um vento e sair correndo com ele para mostrar aos irmãos. A mãe disse que era o mesmo que catar espinhos na água O mesmo que criar peixes no bolso. O menino era ligado em despropósitos. Quis montar os alicerces de uma casa sobre orvalhos. A mãe reparou que o menino gostava mais do vazio do que do cheio. Falava que os vazios são maiores e até infinitos. Com o tempo aquele menino que era cismado e esquisito Porque gostava de carregar água na peneira Com o tempo descobriu que escrever seria o mesmo que carregar água na peneira. No escrever o menino viu que era capaz de ser noviça, monge ou mendigo ao mesmo tempo. O menino aprendeu a usar as palavras. Viu que podia fazer peraltagens com as palavras. E começou a fazer peraltagens. Foi capaz de interromper o voo de um pássaro botando ponto no final da frase. Foi capaz de modificar a tarde botando uma chuva nela. O menino fazia prodígios. Até fez uma pedra dar flor! A mãe reparava o menino com ternura. A mãe falou: Meu filho, você vai ser poeta. Você vai carregar água na peneira a vida toda. Você vai encher os vazios com as suas peraltagens. E algumas pessoas vão te amar por seus despropósitos. Manoel de Barros, Poesia completa. São Paulo: Leya, 2010, pp. 469-70.


Se o ato de escrever, criar, pode ser comparado à poética tarefa de carregar água numa peneira, a leitura pode ser aproximada, contemporaneamente, a uma brava luta contra todos os distratores que seduzem jovens e adultos dessa empreitada solitária e fundamental. Os despropósitos e o inusitado da linguagem podem ser criados a partir das mais diversas formas e imagens, como as que usa o poeta Manoel de Barros e seu olhar para as crianças e a natureza miúda, mas, sem leitores, sua arte se torna vazia e silenciosa, não atinge nem emociona, não é capaz de modificar a tarde ou fazer com que a pedra dê uma flor. Em tempos de desprestígio da leitura, de substituição do conhecimento reproduzido em textos e livros por buscas rápidas de conceitos em sites com pouca confiabilidade, tempo em que fake News proliferam devido à certeza de que o leitor não dispenderá tempo para a checagem da veracidade de uma notícia ou reportagem, qual o papel da escola na formação de leitores? A escola pode ser vista como uma das propagadoras do conhecimento construído através dos tempos, uma das responsáveis por transmitir aos jovens critérios com os quais possam investigar o mundo, interagir com ele, produzir conhecimento e repudiar preconceitos, estereótipos, equívocos conceituais e leituras rasas de mundo. Combinando precisão conceitual com estratégias de leitura que põem o aluno como centro da aprendizagem e da reflexão, a escola pode potencializar a leitura de textos e de mundo dos alunos, instrumentalizando-os para pensar de forma crítica por si próprios, para escapar de todo tipo de alienação que a reprodução de clichês e falsos conceitos pode propiciar. Formar leitores pode, assim, não ser tarefa muito fácil hoje, mas, certamente, é uma das formas mais recompensadoras de formar cidadãos e contribuir com uma sociedade mais justa e democrática. Em sua formação escolar, os alunos ocupam, alternadamente, o lugar de aprendizes e de produtores de conhecimento: leem textos e produzem textos, discutem conceitos e repensam conceitos, refletem sobre problemas e propõem soluções para eles, buscando atuar ativamente na sociedade em que estão inseridos e de que fazem parte. São, portanto, produtores e não meros reprodutores de conhecimento e ativam seu senso crítico a cada vez que um novo conteúdo/desafio é proposto a


eles. Sem a leitura, nada disso é possível e a escola não pode se furtar a essa tarefa primeira de formar os cidadãos do hoje e do amanhã. Neste momento em que a leitura se mostra fundamental e estratégica, ela foi escolhida como tema do sétimo Concurso de Produção Textual da Lourenço Castanho. Em 2019, nossos alunos foram convidados a refletir sobre a problemática da leitura na sociedade contemporânea e seu papel na construção da cidadania. A partir de diferentes recortes, os alunos, do 6º ano do Ensino Fundamental à 3ª série do Ensino Médio, foram instados a escrever sobre a importância e o papel da leitura em suas vidas. A partir de diferentes recortes temáticos e diferentes gêneros textuais, sempre respeitando o momento e a possibilidade de autonomia na escrita de cada faixa etária, nossos alunos produziram textos que têm a experiência de leitura como centro de sua reflexão. Por meio de relatos pessoais, reportagens, poemas, artigos de opinião, contos, cartas argumentativas e dissertações, os textos revelam as várias facetas do surgimento de leitores apaixonados, críticos, atuantes e que buscam estimular no outro, no leitor de seus textos, o mesmo exercício de reflexão por que foram atingidos com as propostas apresentadas a eles. Convidamos a comunidade escolar a conhecer um pouco mais do trabalho de produção textual em nossa escola por meio dos textos que compõem esta coletânea e a refletir, junto com eles, sobre o papel da leitura em nossa sociedade, deixando-se contaminar pelo entusiasmo que se entrevê em cada linha da produção dos jovens cujos textos apresentamos agora aos leitores. Roberta Hernandes Alves Coordenadora de Língua Portuguesa Anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio Escola Lourenço Castanho


Sumário Relatos pessoais - 6º ano Carolina Antunes de Paula Lima - 6º A............................................................................ 12 Gabriela Meirelles Del Valle Y Araujo - 6º C.................................................................. 13 Maitê Manhas Vieira - 6º C......................................................................................................... 14 Manuela Abbate Gonçalves - 6º A...................................................................................... 15 Olivia Levy Leal - 6º A...................................................................................................................... 17

Reportagens - 7º ano Artur Corrêa da Costa Oliveira - 7º C................................................................................ 20 Beatriz Dreyfuss Hurtado – 7º C............................................................................................. 22 Lis Tinoco Mendes – 7º C............................................................................................................. 24 Marina Fernandes Magalhães – 7º B................................................................................. 27 Nina Fernandes Epstein – 7º A................................................................................................. 30

Poemas - 8º ano Anita Bertero Coccaro – 8º C................................................................................................... 35 Donatello Vatanabe Reyman – 8º A.................................................................................... 36 Giovani Marques Millen Nigro – 8º C................................................................................... 37 Lara Cervone Naggar – 8º B..................................................................................................... 38 Tiago Cury Sauma Resk – 8º B ............................................................................................... 39

Artigos de opinião - 9º ano Lígia Santoro Hatschbach – 9º A............................................................................................ 42 Maria Elisa Fonseca de Rezende – 9º A............................................................................ 44 Maria Luiza Alves Elaiuy – 9º A ................................................................................................ 46 Mariana Bermudez de Almeida – 9º B ............................................................................. 48 Ricardo Mendes Trinas – 9º C................................................................................................... 50


Contos - 1ª série Felipe Frug Mauro – 1ª A............................................................................................................... 52 Gabriela Seitz – 1ª C........................................................................................................................ 54 Isabella Welker Antoni – 1ª C.................................................................................................... 56 Leticia Conte Lira – 1ª B................................................................................................................. 58 Maria Clara Magalhães Serrano – 1ª B............................................................................. 60

Cartas argumentativas - 2ª série Gabriel Mattos Frota – 2ª A ....................................................................................................... 62 Laura Pereira Gomes de Oliveira – 2ª A........................................................................... 63 Letícia Pereira Gomes de Oliveira – 2ª B......................................................................... 64 Manoela Bermudez de Almeida – 2ª A............................................................................ 66 Pedro Ribeiro Lodi – 2ª B................................................................................................................ 67

Dissertações - 3ª série Jamily Barbosa de Lima – 3ª B................................................................................................ 70 Julia Pereira Lima – 3ª B ............................................................................................................... 71 Natália Moraes Ferreira – 3ª B ................................................................................................. 73 Nina Laloni Gentil – 3ª A................................................................................................................. 74 Vinícius Vitorino – 3ª A .................................................................................................................... 75


Relatos pessoais 6º ano

A partir de citações em que escritores tratavam da importância dos livros e da leitura em sua vida, os alunos foram convidados a escrever sobre sua relação com os livros e contar um pouco sobre sua biblioteca particular. Produção Textual 2019

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Eu tive sorte, já encontrei a minha Não gostar não é odiar e gostar não é amar. Eu amos os livros. Tem gente que pensa que os livros são milhares de páginas infinitas, com bilhões de palavras, com um título e uma simples capa. Para mim, livros são cinco páginas, sentimentos que às vezes escorrem pelo meu rosto, em vez de palavras, e não uma capa, mas uma porta para outro mundo. Um livro é capaz de transformar algo emocional em algo físico, mudar o seu pensamento completamente e é possível que ele mude o seu olhar para o mundo. Eu adoro ganhar livros, pois também ganho uma nova aventura garantida. O único problema de ganhar um livro é que o tempo passa muito rápido mesmo. Comecei a gostar de livros pela minha madrinha. À tarde, ela lia por horas e horas, até eu me cansar por ela, mas a diferença é que ela nunca se cansava e eu me perguntava por quê. Eu ficava inconformada, pois ela dizia que era inexplicável, então resolvi experimentar. Adorava o quão ela lia com gosto e então eu lia com gosto. Adivinha, eu simplesmente AMEI! Comecei a ler os mesmos livros que ela para discutir o assunto enquanto nós não líamos. Depois de ler, o mundo teve mais cor e eu percebia que pensava muito, mas muito mesmo na hora de dormir. Na minha casa, eu tenho um cantinho só para eu ler e desfrutar todo o meu conhecimento e para eu mexer com a minha cabeça. As pessoas apenas têm que encontrar a chave certa para abrir a porta da capa de um livro. Eu tive sorte, já encontrei a minha. Eu concordo plenamente com a relação de José com os livros. Eu basicamente usei as mesmas palavras e também joguei tudo nesta folha. Eu ainda acredito que, hoje em dia, as pessoas possam encontrar suas chaves e deixar um pouco de lado esse mundo viciado e doente com os celulares, que fazem as pessoas nem quererem, de jeito nenhum, dar uma chance para os livros. Aluna: Carolina Antunes de Paula Lima - 6º A

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Página por página Minha biblioteca é pequena, mas cheia de histórias, os livros que estão lá expostos são a saga de Harry Potter e livros a ver com essa saga, uma prateleira se encontra vazia, pois alugar livros em bibliotecas públicas é sempre maravilhoso e, por conta disso, deixo uma prateleira vazia para apoiar os “passageiros” que logo serão devolvidos a “seu lar”. Na minha biblioteca, se encaixa quase todo gênero de livro, menos terror, pois esses livros não se encaixam no meu “paladar literário” e, por conta disso, nunca li sequer um livro de terror. Os livros antigos são maravilhosos, contam sobre o pensamento das pessoas no passado, esse é um dos tipos de livro que mais quero trazer à minha biblioteca com mais frequência. Na minha vida, um dos gêneros de que percebi gostar mais são as Histórias em Quadrinhos, pois são textos curtos, fáceis e gostosos de ler. Os livros que já não são mais bem-vindos à minha biblioteca são ou doados ou dados a alguém. Lendo livros eu sinto como se seu estivesse lá, isso se o livro for bem contato e não for confuso. Todos os livros merecem uma “casa”, pequena, grande, o tamanho não importa, eles apenas devem ser tratados com carinho e amor, cada livro deve ser apreciado página por página. Contando cada um uma história página por página, a curiosidade cresce e você não consegue parar de ler e se você para de ler, fica curioso e pega de novo o livro. Uma pessoa que não lê livros é uma pessoa sem aventura, sem emoção. Livros trazem cultura, história, aventura, amor, ficção, romance, outras culturas. Os romances são ótimas aventuras, nelas sua mente vai para outro lugar e viaja no tempo-espaço. Além de ter histórias maravilhosas, as capas são sempre bonitas. Ler é costume, é hábito, nós, crianças, precisamos aumentar esse hábito e ler porque gostamos, não por obrigação dos pais e da escola. Os livros cada vez mais maravilhosos, cada vez mais complexos e curiosos. Aluna: Gabriela Meirelles Del Valle Y Araujo - 6º C

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Mergulhando em novos conhecimentos Livros, tão difícil de dizer... tão amados por uns, desgostados por outros. Uma forma que achei de ver o mundo de outra maneira. Sentada no meu quarto, pude atravessar a barreira da realidade, do certo ou errado, dos critérios que, desde que me conheço por gente, foram impostos pela sociedade. Levo a leitura como um escape, uma fuga dos problemas cotidianos. Muitos livros abriram portas para eu ser hoje quem sou, como O Diário de Anne Frank e A menina que roubava livros, com os quais me diverti muito durante meu processo de leitura. Claro que há muitos livros de que não gostei, ou temas que não me dão o “apetite”. Mas essa busca ao próximo livro é como uma criança pequena que está em formação, aos poucos crescendo e evoluindo. Por exemplo, agora, meu próximo livro será O Corcunda de Notre Dame e espero que possa desfrutar ao máximo desse livro. Uma grande sacada que tive em relação aos livros foi quando percebi que cada leitura se encaixará em uma fase da sua vida, pois li aos 8 anos A Bolsa Amarela e, quando acabei, me identifiquei muito com a menina. Neste ano, com a escola, tive que ler de novo e minha percepção foi totalmente diferente da primeira leitura. Percebi que todos aqueles pequenos problemas, que também havia na minha vida quando era menor, ao final tinham um sentido, um novo aprendizado. E poder ter aquela visão foi muito bom, como a da menina protagonista. Por incrível que pareça, os livros desenvolvem em nós muitas coisas boas, que indico para você sentir... Somos diferentes, cada um com seus sentimentos, talvez você possa sentir algo diferente, mas acredito que tudo depende de como você vai enfrentar, não só ler, mas também como vai enfrentar seus problemas, os pequenos conflitos podem virar um furação, simples afazeres podem virar um peso, um impacto a continuar. Bom, essas foram algumas das minhas experiências junto à leitura e espero que você também possa vivenciar um pouco delas. Aluna: Maitê Manhas Vieira - 6º C

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Eu aprendi a ler de novo Livros. Sempre uma nova história para viver, sempre uma nova fantasia para sonhar e sempre um mistério para tentar adivinhar. Os livros sempre me deixam animada para saber como vão acabar. Não tenho muitos livros, mas os que tenho, amo de paixão. Quando você decide ler um livro, sempre é uma surpresa. Nunca sabemos o que nos aguarda depois da capa. Quando for ler um livro, sempre pense no ditado “Não julgue o livro pela capa”, pois a capa nem sempre é a essência do livro. Já li vários livros em que a capa não atraía o leitor, que não era nada demais, mas quando comecei a ler, o livro me fisgou, não parei de ler até acabar. Eu guardo meus livros na estante do meu quarto, mas, na maioria das vezes, eles ficam espalhados pela casa, vou lendo e esquecendo-os nos lugares, mas sempre volto para buscar. Antes, não gostava de ler, eu achava sem vida, mas, de uns tempos para cá, eu aprendi a ler de verdade, a me envolver com a história, a imaginar e entrar na fantasia, a aproveitar todo segundo lendo um livro. Hoje, minha biblioteca é uma prateleira singela, mas espero que, quando crescer, eu tenha estantes e mais estantes só de livros sensacionais que me fizeram viajar e imaginar. Para mim, eu só consegui ver um prazer em ler quando eu me deixava levar. Para mim, eu aprendi a ler de novo, e eu não vejo a hora de ter quantos livros quiser ter e aproveitar e amar cada um como se fosse o primeiro e único livro de que já gostei. Fico muito feliz que hoje vejo a beleza dos livros, consigo entrar na fantasia e deixar o livro me levar como o vento leva um balão, solto no ar da imaginação e da felicidade de ler. Aluna: Manuela Abbate Gonçalves - 6º A

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Como uma coisa que me faz tão feliz cabe em um lugar tão pequeno? Meu sentimento pelos livros é simplesmente inexplicável, afinal, como posso explicar o carinho, a paixão, a ternura, o amor que eu sinto por eles? Por mim, passaria horas e horas em um lugar onde tem um livro e é confortável para sentar, o que inclusive já fiz. Minha biblioteca pessoal, no meu quarto, é o melhor lugar para ir, quando você está triste, estressado, irritado, ou bravo, porque você “sai do seu corpo”, você esquece todos os problemas que você está enfrentando, todas as provas, trabalhos e lições. Ler um livro é como ganhar uma viagem gratuita para um mundo onde não existem problemas, onde a imaginação corre até o infinito e além, onde você sabe que está segura, onde tudo é feliz e radiante, como se fosse um conto de fadas. Quando os meus pais se separaram, eu tinha uns dois anos. No começo, eu nem me importava, porque não entendia o que estava acontecendo. Quando eu tinha sete, eu comecei a entender tudo isso e eu fiquei muito triste, era muito difícil “me dividir” entre os meus pais, ver eles brigando. Então, alguém da minha família me deu um livro de aniversário, eu comecei a ler, e a sensação era tão boa, era fantástica, eu esqueci de tudo, era como se minha cabeça estivesse vazia, só tivesse a história do livro nela. Uso a técnica de ler quando brigo com a minha amiga, com alguém da minha família, se eu me sinto sobrecarregada etc. Ler é meu hobby preferido, percebi isso quando muito se tornou pouco para expressar a minha paixão por aqueles blocos retangulares maravilhosos. Sempre me faço uma pergunta: como um mundo inteiro de imaginação e criatividade pode caber em um simples bloco retangular? Como uma coisa que me faz tão feliz pode ser tão pequena?

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Lá na minha biblioteca pessoal eu me sinto segura, protegida de todos os problemas do mundo, é meu lugar preferido no meu quarto. Se me perguntarem qual é o meu livro preferido, eu não saberia responder. Porque cada um é diferentemente extraordinário, cada um tem uma vida própria, uma história divertida. Alguns têm uma filosofia complexa, outros têm histórias de derreter o coração, outros são bobos, mas ainda legais. Resumindo: eu amo ler! E sempre que eu demoro, por exemplo, sete dias para ler, é como se eu vivesse na história por sete dias, como se eu fosse um personagem. Aluna: Olivia Levy Leal - 6º A

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Reportagens 7º ano

Os alunos deveriam pesquisar e escrever uma reportagem sobre “A importância da leitura” a partir da escolha de um dos enfoques: Retratos da leitura no Brasil; Adolescência e leitura ou Memórias de leitura. Produção Textual 2019

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“Por que ler se posso ficar jogando videogame” Entenda as causas e consequências da falta de leitura na adolescência Por: Artur Corrêa da Costa Oliveira - 7º C A escrita e a leitura foram uma melhoria na velocidade de das grandes revoluções humanas, raciocínio e de interpretação. que abriram portas para o Apesar de os livros nos conhecimento, e, sem ela, nós fornecerem tudo isso, existem provavelmente não saberíamos muitos adolescentes que não tudo o que sabemos hoje, gostam de ler e têm preguiça, inclusive o uso dos eletrônicos e preferindo ficar nos eletrônicos. da tecnologia, que substituíram “Eu e meus amigos não gostamos a leitura para os jovens e muito de ler... achamos que é adolescentes. perda de tempo, e “Eu e meus amigos Hoje, falar que nós preferimos ficar não gostamos muito os adolescentes jogando videogame de ler... achamos que não leem mais é ou mexendo no errado, pois, além é perda de tempo, e celular.”, diz Lucas de muitos gostarem nós preferimos ficar Albretch Ribeiro, de de ler livros, vários jogando videogame ou 13 anos, estudante. ficam lendo mexendo no celular.”, Também existem mensagens, notícias diz muitos jovens que Lucas Albretch da internet, etc., mas vivem em cidades Ribeiro, de 13 anos, a falta da literatura de baixa renda, que estudante. para os jovens é adorariam ler para extremamente prejudicial para a estudar e conseguir ter uma vida formação psicológica deles. melhor, mas suas escolas, muitas Os livros nos trazem muitos vezes, não conseguem fornecer benefícios e são muito importantes, tudo isso, pois, segundo o INEP, 55% principalmente para os jovens: das escolas brasileiras não têm eles nos ajudam a adquirir biblioteca ou sala de leitura, o que conhecimento, desenvolvem a dificulta muito a esses adolescentes forma de pensar e nos fornecem terem acesso à leitura.

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reclamavam quando eu os mandava ler um livro. E, na maioria das vezes, isso ocorria por conta da falta de influência dos pais, que não se importavam se o filho estava lendo ou não”, diz Carla Correa da Costa Oliveira, produtora rural, ex-professora de inglês, leitora compulsiva. Com isso, podemos concluir que, para os adolescentes não se afastarem da leitura, seus pais precisam ser uma ótima influência à leitura e, se o filho não gosta de ler, eles podem ver de quais gêneros ele mais gosta, quais assuntos lhe interessam mais e, com essas informações, escolher um livro de que ele goste. Também pode ser bom exigir dos políticos mais bibliotecas para o país inteiro e que façam projetos como o Programa Nacional do Livro Didático (PNLD), que entrega livros didáticos para o país inteiro, aproximando cada vez mais os adolescentes da literatura. encurtador.com.br/CDM15

Além da carência de bibliotecas, segundo o IBGE, o número de livrarias no Brasil encolheu 29% em 10 anos, por conta dos livros virtuais e pela entrega de livros online, o que pode ser uma forma boa de ler livros sem precisar sair de casa, porém, os jovens que ainda não têm acesso à internet (geralmente quando sua cidade é pobre) acabam se distanciando da leitura. Porém, existem algumas escolas (em geral, as privadas) que possuem bibliotecas e salas de leitura, mas, muitos alunos não aproveitam essa oportunidade rara que possuem. “As pessoas que alugam livros aqui da escola geralmente alugam por obrigação, quando um professor manda alugar tal livro e são poucos os alunos que alugam por prazer”, afirma Adriana Diniz Costa, bibliotecária. Ler um livro por obrigação pode ser um fato muito ruim, pois faz o jovem pensar que só está lendo aquilo porque o professor mandou, e não porque acrescenta algo para ele e os pais precisam servir de boa influência, explicando o porquê de ler aquele livro e os benefícios que ele traz, porém, se eles não fizerem isso dificilmente ele vai mudar de ideia. “Havia muitos alunos que não gostavam de ler e sempre

Adolescente deixando os livros para ficar no celular

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A importância de ler o “Era uma vez...” A importância da leitura na formação de um indivíduo Por: Beatriz Dreyfuss Hurtado – 7º C Estamos lendo o tempo todo, lendo

mensagens

redes

a leitura é um dos instrumentos

sociais, lendo comentários em

(e talvez o mais importante) que

vídeos, mas nossa atenção logo

esteve presente em todo o meu

se

recebemos

desenvolvimento”, conta Cleber

uma nova notificação. Enquanto

Hurtado, 42, engenheiro e leitor

isso, quando lemos um livro é

voraz.

perde

quando

necessária

nas

a importância é evidente, pois

constante

atenção

e esforço do cérebro, porém, adquirimos

maior

conhecimento. A leitura também traz benefícios para o cérebro. Segundo a

Universidade

Stanford, nos Estados Unidos,

durante

leitura

a

diferentes

áreas

do

cérebro

são

estimuladas.

empresas,

enriquece quando se lê, pois a leitura forma indivíduos

para

que

eles possam participar de

maneira

crítica

nas

práticas

sociais”,

Mariana Dreyfuss, 43 anos.

são

locais do órgão.

somente

contratadas

pessoas nível

com

de

ensino

superior, o que já pressupõe um grau de afinidade com a leitura. Além de que o aprendizado contínuo

é

algo

muito valorizado e estimulado

sanguíneo aumenta em certos

nessas

empresas. O

conhecimento

letrado

também tem grande importância letrado

na formação das pessoas como

também é de extrema importância

indivíduos. “A formação pessoal

na formação profissional de um

se enriquece quando se lê, pois

indivíduo. “No aspecto acadêmico,

a leitura forma indivíduos para

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conhecimento

grandes

“A formação pessoal se

Isso porque foi notado que o fluxo

O

Nos cargos mais altos de

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encurtador.com.br/aimAL

que eles possam participar de maneira crítica das práticas sociais”, explica Mariana Dreyfuss, 43 anos, professora de Educação Infantil de uma escola privada. Indo ao encontro do que foi dito anteriormente, estudos realizados pela New School de Nova York mostram que quem lê ficção desenvolve mais empatia. E entender o estado mental de outras pessoas é uma habilidade importante no aspecto social e faz parte de qualquer sociedade humana. Apesar de todos os benefícios da leitura, segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil 4ª edição (realizada pelo Instituto Pró-Livro), 44% da população brasileira não lê e 30% nunca comprou um livro. Existem diversos motivos para essa falta de leitura. Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas) e a Fundação Abrinq, isso ocorre devido à distribuição desigual da renda, o analfabetismo, inclusive funcional, de quase 30 milhões de pessoas, a falta de estímulo em casa e na escola, a carência de pontos de venda e de bibliotecas públicas e os 2,8 milhões de crianças e adolescentes, ou 6,2% dos brasileiros entre 4 e 17 anos, que estão fora da escola.

Três crianças pequenas se divertindo lendo livros

A solução para isso seria o investimento do governo brasileiro na educação e a criação de políticas públicas, em que resultados só apareceriam depois de muitos anos. Mas ainda existem os indivíduos que não são leitores, mas que tiveram estímulo em casa e acesso aos livros. Como o caso de Nerci Benjamin, aposentada, de 73 anos. “Quando eu começo a ler um livro, acabo ficando ansiosa para saber o final e acabo me desinteressando pelo resto da história, assim perdendo a paciência com o livro”. Para essas pessoas adquirirem o hábito da leitura, especialistas sugerem que elas leiam assuntos e temas mais agradáveis, que possuam um horário especifico para esse tipo de atividade e tenham sempre um livro em mãos.

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Escadas feitas de livros Como a leitura pode mudar a vida e a formação de uma pessoa. E, segundo a pesquisa do Instituto Pró-Livro, em 2015, 66% da população era leitora, o que é pouco Por: Lis Tinoco Mendes – 7º C Em todos os lugares podemos ver

pessoas

lendo,

mas

e

leitora

assídua.

Com

esse

não

estímulo, pessoas terão muito

são livros o que elas carregam,

mais facilidade de ler no futuro,

então o que leem? E por que

quando forem maiores.

não são livros? Ultimamente, as

Não ter tido essa influência

pessoas vêm deixando os livros

da leitura quando criança pode

de lado, o que é um problema,

ser um dos motivos por não ler

porque os livros formam uma

na adolescência ou ter mais

base educacional e, segundo de

pesquisa

2015

do

Instituto Pró-Livro,

“Estamos também em uma época em que se faz muitas coisas ao

dificuldades. Outras causas

podem

ser a preguiça e o desconhecimento

75% dos jovens entre

mesmo tempo, então

14 a 17 anos são

não nos concentramos

sensações

leitores, mas ainda

o

para

que a leitura traz,

não

ficarmos

em

uma

principalmente

atividade

por

são

muitas

pessoas.

suficiente

de

todas

muito tempo sem nos

acabam

um hábito que pode

distrair”, Valéria Tinoco,

mais

de um indivíduo. “Eu

psicóloga.

boas na

adolescência,

Ler na infância é ajudar na vida inteira

as

Os

pois tendo

preguiça. preços

também

altos podem

acho que a importância disso é que

justificar essa falta de leitura

crianças pequenas se interessam

na adolescência. “Tenho aluno

por livros com maior facilidade e

que economiza o dinheiro da

convencer um adolescente com

condução para poder comprar

certeza será uma tarefa muito

um

mais

Orlandi, professora de uma escola

difícil”,

comenta

Beatriz

Dreyfuss Hurtado,12, estudante

24

livro”,

diz

Marisa

Tinoco

estadual de Franco da Rocha.

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Para

muitas

pessoas,

a

ocorrerá mais dificuldade na hora

internet é o principal obstáculo

de ler livros mais complexos, para

dos adolescentes para a leitura.

o vestibular, por exemplo.

Mesmo que o adolescente leia

Na hora de se comunicar, terá

por aplicativos no telefone, a

uma conversa mais vaga. E na

possível distração é grande, pois

hora de escrever será mais difícil,

ao chegar uma nova mensagem

principalmente na redação do

a leitura será interrompida, mas

ENEM, que é o Exame Nacional do

esse não é o caso de todas os

Ensino Médio, por exemplo. encurtador.com.br/AMQY4

adolescentes, “onde eu dou aula as pessoas não têm tantos recursos como a internet, então não é a principal distração”, opina Orlandi. Atualmente, também é comum os adolescentes não conseguirem se concentrar por muito tempo em uma coisa só. “Estamos também em uma época em que se faz muitas coisas ao mesmo tempo, então não nos concentramos o

A imagem mostra como a leitura é importante no desenvolvimento do cérebro de uma pessoa. Ela pode abrir novas ideias e universos.

suficiente para ficarmos em uma só atividade por muito tempo sem

Se você ler, tudo poderá ser

nos distrair”, diz Valéria Tinoco,

mais fácil. Ler traz conhecimento

psicóloga e leitora compulsiva.

e ajuda na formação da base

diversas

educacional do adolescente. Os

poderão

livros ajudam a formar escadas que

aparecer. A leitura forma uma

levam ao conhecimento. “A leitura

base educacional na vida de

pode te ajudar na formação como

um adolescente, ou de qualquer

pessoa, além de proporcionar

pessoa, e sem esse hábito, essa

conhecimento”,

base vai ficando mais fraca, assim

Lendo, os adolescentes podem ter

tendo

um futuro melhor, alcançar seus

Por

não

consequências

menos

lerem,

conhecimento.

No futuro, para conseguir um

opina

Hurtado.

sonhos e objetivos.

emprego, tudo será mais difícil,

Para adolescentes que moram

pelo conhecimento vago. Também

em lugares mais pobres, a leitura

Produção Textual 2019

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pode mudar suas vidas. Eles

cada vez mais jovens brasileiros

podem

mundo

vão se envolver com a leitura de

além da comunidade, muitos não

livros, podendo então melhorar a

lutam por uma vida melhor por

sociedade e suas próprias vidas,

não saber que ela existe e, lendo,

com escadas feitas de livros que

novas portas irão se abrir para seu

levam ao conhecimento.

descobrir

um

futuro. É importante as pessoas terem uma influência na leitura, pois é mais fácil se acostumar com o hábito de ler livros. Segundo o

Instituto

Pró-

Livro,

quem

mais influência é a mãe ou a responsável do sexo feminino e em segundo lugar vem algum professor e professora e apenas em terceiro lugar aparecem os pais ou responsáveis do sexo masculino. Apesar desses dados, muitos leitores afirmam não ter influência e que leem por conta própria. Para cada vez mais os jovens serem leitores, é importante eles terem alguma influência, também serem primeiro estimulados a lerem livros de que gostem, que geralmente não tratem da sua vida cotidiana. “Oferecer leitura estimulante

de

assuntos

que

lhes interesse, propor horários específicos

para

leitura

para

desenvolver o hábito, e a família também deve ter esse hábito de ler”, sugere Tinoco. Assim,

26

Produção Textual 2019


O desafio de criar a sede Como tornar a leitura mais presente no Brasil Por: Marina Fernandes Magalhães – 7º B Sem a leitura, a tecnologia

avança lentamente: segundo o

mais inovadora já inventada, não

Banco Mundial, o Brasil demorará

teríamos uma humanidade em

260 anos para atingir um nível de

que há desejos e a possibilidade

leitores assíduos semelhante ao

de se desconectar do mundo real

de países mais desenvolvidos. “Vivi

por meio de um simples livro. No

na Inglaterra e nos Estados Unidos,

Brasil, é um desafio inserir a leitura

em ambos como estudante. A

no cotidiano das pessoas. Analisar

leitura é mais que uma obrigação

o cenário atual da leitura no

didática

para

Brasil pode ajudar

americanos

ingleses.

e

Essa

“A escola é onde se

atividade faz parte

formas de tornar a

desenvolve

leitura mais presente

de

na vida do brasileiro.

se forma a sede por

extasiada

lê,

conhecimento. A leitura

a

2,43

é o que satisfaz esse

pessoas lendo nas

desejo,

livrarias:

a

proporcionar

O em livros

brasileiro média,

anualmente,

o

desejo

da área de lazer em

aprender,

onde

suas vidas. Eu ficava

que sede.”,

sacia

segundo a pesquisa

essa

Fabian

“Retratos da leitura”,

Magalhães, consultor.

com

quantidade

nas

de

sentadas poltronas,

cadeiras e até no

de 2017, feita pela

chão de enormes

fundação Pró-Livro, e 25% dos

livrarias. Isso foi no final dos anos

leitores leem por prazer, mas

1990 e início dos 2000. Na época,

entre esses, 43% deixa de ler

livraria no Brasil era ainda um local

pois lhe falta tempo. A situação

para comprar livros e não um local

fica

de lazer.”, afirma Jane Fernandes,

ainda

mais

preocupante

quando nos damos conta de que

professora de Inglês.

11,8 milhões de brasileiros são

Existem maneiras de reverter

analfabetos, segundo a fundação.

essa situação. A medida mais

Nessa situação atual, o Brasil

eficiente

Produção Textual 2019

a

ser

tomada

é

o

27


investimento

do

governo

em

livros impressos. Segundo o Pró-

espaços adequados de leitura,

Livro, 30% da população brasileira

principalmente em escolas. De

nunca comprou um livro, devido

acordo com o INEP, 55% das

à grande taxa de analfabetismo

escolas brasileiras não possuem

e ao baixo poder aquisitivo de

bibliotecas ou espaços de leitura.

muitos brasileiros.

“A escola é onde se desenvolve

Com a tecnologia se tornando

o desejo de aprender, onde se

cada

vez

mais

presente

forma a sede por conhecimento.

vida

dos

A leitura é o que satisfaz esse

desenvolvidas novas formas de

desejo, que sacia essa sede.”, diz

leitura. Os brasileiros usufruem,

Fabian Magalhães, consultor e

em alguns casos, dos audiolivros.

leitor assíduo. Em muitos casos,

“Apesar de um certo preconceito,

cabe à escola inserir o desejo

acredito que o uso de diferentes

de ler no estudante, por meio de

plataformas pode ser uma porta

atividades literárias e espaços

de entrada para quem não tem

adequados para ler. Se esse

o hábito da leitura. A leitura é

incentivo não é realizado, corre-se

uma forma de acessar histórias e

o risco de o estudante levar essa

histórias podem ser transmitidas

falta de interesse em ler pelo resto

de várias maneiras, seja oral,

de sua vida.

visual, escrita.”, diz Fabian. Essa

brasileiros,

na

foram

Outro fator que resulta na falta

plataforma é bastante procurada

de leitura na vida do brasileiro são

por pessoas que preferem histórias

os preços dos livros impressos.

compartilhadas

A média do poder aquisitivo

que escritas. Outra plataforma

brasileiro muitas vezes dificulta

que começou a ganhar espaço

o consumo de livros. “O livro no

na leitura são os e-books, tablets

Brasil é caro para nosso poder

especificamente

aquisitivo.

passada

para fazer o download de livros,

mesmo, comprei um livro por

mas eles ainda são uma pequena

R$85! Nem todo mundo pode

parte do mercado. “Os e-books

pagar esse valor. Temos outras

são

prioridades.”, afirma a professora.

parte da venda total de livros e

Infelizmente,

os

estima-se que devam chegar,

brasileiros que não têm acesso a

no futuro, talvez, a 20% desse

28

Semana

são

muitos

apenas

oralmente

do

desenvolvidos

uma

pequena

Produção Textual 2019


total. Ainda assim, em 2018, nos

independentemente

do

modo

Estados Unidos, a venda de livros

como a leitura é compartilhada, é

impressos cresceu e a de e-books

fazer com que a leitura seja mais

caiu. Como curiosidade, a venda

presente em nossas vidas.

de audiolivros apresentou o maior crescimento.”,

diz

ele.

Mesmo

com todas essas possibilidades de

leitura,

as

livrarias

físicas

têm um papel importante na leitura, e, enquanto promoverem o

compartilhamento

de

conhecimento, terão seu espaço

encurtador.com.br/jkzK1

na leitura brasileira.

Tornar a leitura mais presente no Brasil começa com oferecer bibliotecas aos leitores.

Ler do

ainda

dia

a

não dia

diferentemente

faz

parte

do

brasileiro,

de

outros

países. Ainda é possível reverter essa

situação,

proporcionando

espaços adequados à leitura, principalmente oferecer

em

escolas,

plataformas

e

e

livros

com preço mais acessível para quem não tem grande poder aquisitivo.

O

mais

importante,

Produção Textual 2019

29


Metamorfose A memória de leitura pessoal e coletiva é algo que se constrói durante a vida. Essa memória é móvel, mutante, e ao longo do tempo vai se modificando e é capaz de transformar o indivíduo e toda a sua realidade Por: Nina Fernandes Epstein – 7º A No Brasil, a primeira memória

Ainda segundo esse estudo,

de leitura que muitas pessoas

o número de leitores da classe

possuem é a figura da mãe

alta brasileira é maior do que os

lendo um livro para a criança.

da classe baixa. Quanto menor

Mas, infelizmente, para muitos

a renda, menores as condições

brasileiros, a leitura nunca existiu

sociais e maior o número de não

em seu dia a dia, refletindo em sua

leitores, ou seja, vivemos em um

vida social e escolar.

país onde o conhecimento está

Comprovando

ainda

essa realidade, os dados

da

quarta

edição da pesquisa “Retratos de Leitura no Brasil”, realizada pelo

IBOPE

e

encomendada pelo Instituto

Pró-Livro

mais

restrito apenas à elite.

“... uma vez que descobri esse poder que a leitura tem de nos localizar em mundos tão diversos, inimagináveis improváveis!”,

e

até

Noemi

Jaffe.

“Eu me lembro de

me

com

encontrar

uma

depois para

da

amiga aula,

estudarmos

literatura

inglesa.

Ela lia os livros em voz alta e eu ia

em 2016, revelam que 30% da

escrevendo os resumos. Tive um

população nunca comprou um

professor que me marcou muito,

livro. Para muitos não é difícil

foi ele quem nos incentivava a

entender esse quadro social, já

ler e foi assim que comecei a

que no Brasil o analfabetismo

ficar rodeada de livros. Me tornei

ainda é uma realidade que atinge

professora de literatura inglesa

11,8 milhões de pessoas, segundo

influenciada também por esse

o Instituto Brasileiro de Geografia

professor”,

e Estatística (IBGE).

Epstein, 74, ex-aluna da escola

30

diz

Sylvia

Victoria

Produção Textual 2019


inglesa St. Paul’s e uma amante

e assim descobrindo a leitura,

dos livros.

gostando de ler e tornando isso um

Um dos maiores desafios no

hábito durante toda minha vida. A

Brasil é tornar a educação e o

Literatura me transformou como

acesso aos livros algo igualitário

pessoa e me tornou professora,

a todos, porque a construção de

ela ajudou a moldar minha forma

uma memória é a possibilidade de,

de ver o mundo e o meu caráter”,

através do passado, reconhecer e

conta

transformar o presente, mas isso

professora aposentada e leitora

só será possível se todos tiverem

assídua.

acesso aos livros.

Fernandes,

74,

É notório que o hábito de ler é

Sem a leitura, não é possível desenvolver

Darcy

a

e

da criança, para que ela seja um

sem a memória não é possível

adulto feliz, crítico e reflexivo. O fato

ter

do

é que através da leitura abrem-se

mundo,

portas de um novo mundo para o

existem as pessoas que cultivam

indivíduo, um mundo constituído

e

conhecimentos,

de muitas oportunidades, de uma

produzem ciência e tecnologia,

condição de dignidade, inclusive

criam, opinam, impõem. Esse é o

um instrumento transformador de

chamado Primeiro Mundo e para

vida, influenciando o emocional,

fazer parte dele, em primeiro

a pessoa se sente motivada e

lugar, é preciso saber adquirir e

comprometida

compartilhar

e com esse novo mundo de

acesso

ao

conhecimento. detêm

mas,

para

memória,

determinante para a formação

mundo

Nesse

os

o isso,

conhecimento, é

necessário

cultivar a memória. Para melhorar a memória, é preciso ler. “Quando eu era criança eu

com

os

livros

descobertas e conhecimentos. A

Metamorfose,

de

Franz

Kafka, “esse, em especial, mudou radicalmente

não

minha

não lia, minha mãe me contava

visão de mundo, como também

muitas histórias, ela ia passando

minha relação com a literatura,

roupa à noite e ia me contando.

uma

Eu passei a realmente ler depois

poder que a leitura tem de nos

que eu entrei no Ginásio, foi aí que

localizar em mundos tão diversos,

comecei a ler e fui conhecer José

inimagináveis e até improváveis!”,

de Alencar, Machado de Assis

conta

Produção Textual 2019

vez

que

Noemi

descobri

Jaffe,

esse

escritora,

31


professora

e

crítica

literária,

formada em literatura pela USP.

maneira as pessoas terão acesso

Com os avanços tecnológicos, que

permitem

à educação de base de qualidade,

melhor

ao ensino superior, aos livros e,

comunicação entre pessoas, a

principalmente, poderão construir

leitura tem encontrado crescentes

uma memória de leitura, afinal,

obstáculos para se desenvolver

é ela que ajuda na formação do

na

é

caráter, do senso crítico e da

maiores

história de uma pessoa e de uma

sociedade

considerado

a

uma metamorfose, pois só desta

atual.

um

Esse

dos

agravantes da falta de leitura no

nação. encurtador.com.br/oxL37

Brasil, que tende a piorar ao longo dos anos. Além disso, vivendo em um país onde muitas pessoas não têm acesso à educação de base de qualidade, só formaríamos um país de leitores proficientes se as pessoas começassem a ter um melhor acesso aos livros e à

Crianças na roda de leitura

educação, todavia, atualmente estamos

passando

por

uma

situação política delicada. “O maior dano de um país que não construiu uma memória de leitura é se tornar um eleitor de Jair Bolsonaro, por exemplo. Tornar-se

um

fanático,

sem

capacidade de leitura crítica e consciente do mundo, caindo na conversa de qualquer populista demagogo”, afirma Noemi Jaffe, escritora,

professora

e

crítica

literária, formada em literatura pela USP. A educação precisa passar por

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Produção Textual 2019


Poemas 8º ano

No início do ano, os alunos visitaram a exposição Biblioteca à noite, inspirada na obra de Alberto Manguel. A partir dessa experiência, a questão proposta para a escrita dos poemas foi: Qual biblioteca carrego em mim? Produção Textual 2019

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Renovando realidades Existem sensações Que não podemos descrever, A mágica de abrir um novo mundo E nele se perder. Ter uma nova vida Na distância de um toque delicado, Sentir letras flutuantes, Saber que esse momento é sagrado. La fora a guerra acontece, Mas eu tenho mundos independentes É possível encontrá-los Com capas diferentes. Perco-me na confusão Que pertence a alguém, Que é de todo mundo. Que se torna de ninguém. Carrego histórias, Amo minhas cicatrizes, Elas dizem quem eu sou, Mostram minhas raízes. Encontrei companheiros infinitos Que permanecem como conheci Que me moldaram, E assim eu cresci. Na minha mala de lembranças, Levo livros, universos,

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Produção Textual 2019


Organizo pensamentos E me perco em meus versos. Guardados a sete chaves, Continuam em minha mente, Historias acabam, Suas marcas são permanentes. Aluna: Anita Bertero Coccaro – 8º C

Produção Textual 2019

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O livro voador Num clássico estilo vitoriano, Vejo pássaros voando por todos os cantos. Poderia ficar aqui por até um ano, Ouço altos, belos e longos cantos. Exuberantes e incríveis aves Preenchendo um vasto espaço. Com seus finos assobios suaves Se amarram em seus ouvidos como num laço. Asas batendo por todos os lados, Como páginas passando nas mãos de um leitor. Versos e versos lidos e observados Era um livro voador. Aluno: Donatello Vatanabe Reyman – 8º A

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Produção Textual 2019


O ciclo da biblioteca Nasci pequeno, leve e frágil igual à biblioteca que carregava vassoura, tapete e dragão neles eu voava felicidade e emoção, eu imaginava Quando fiquei mais velho: Racismo, mortes e violência, não havia final feliz, não havia inocência apenas guerras pelo poder e pessoas a sofrer Minha biblioteca estava em chamas igual à de Alexandria leves, pesadas ou em cinzas, eu ainda a reconstruía, de palavras a textos, de texto a páginas, páginas que viram livros, em uma grande biblioteca cujo nome é “minha vida”. Aluno: Giovani Marques Millen Nigro – 8º C

Produção Textual 2019

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A Biblioteca clichê A minha biblioteca É um céu de livros clichês. Chovem romances adolescentes Sonhos a serem lidos Pedidos às estrelas cadentes. Histórias de amor Bobas e puras Que mexem de um jeito manipulador Com meu coração imaturo. A minha imaginação Alimenta as personagens dos melhores livros: Os da Paula Pimenta. São como a matemática Para a ciência; Como a gramática Para a literatura. Quando vou a minha biblioteca Viajo pelas palavras voando até a última página Como um passarinho Vai voando até seu ninho Ao chegar no último dos pontos finais Uma lágrima tão transparente Quanto o mais brilhante dos cristais Escorre pelo meu rosto. Aluna: Lara Cervone Naggar – 8º B

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Produção Textual 2019


O Mar de Páginas Entrando nas histórias, voo como o bruxo na vassoura. Sem pausa nem descanso, Cinderela lava roupa. Terra à vista, terra à frente! Um jornalista, pelos continentes. Relatos na revista, buscando a verdade, caçando a justiça, descobrindo mundos bravamente. Novos povos, novos mundos: Maias, Incas e Astecas. Aprendendo, adentrando, viajando entre universos mergulho em minha biblioteca. Aluno: Tiago Cury Sauma Resk – 8º B

Produção Textual 2019

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Produção Textual 2019


Artigos de opinião 9º ano

Depois de lerem a obra Farenheit 451, de Ray Bradbury, e o texto “A importância do ato de ler”, de Paulo Freire, os alunos discutiram a relação entre a leitura de mundo e a leitura das palavras e produziram seus artigos de opinião argumentando livremente sobre essa relação. Produção Textual 2019

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Mundo de autômatos Mesmo com o aumento da utilização dos dispositivos tecnológicos e um certo preconceito relativo à leitura em torno dos adolescentes, foi crescente o índice de leitores nestes últimos anos e isso revela que a importância da leitura tem sido levada com seriedade e importância. Considera-se um leitor aquele que leu pelo menos um livro nos últimos três meses, mas as pessoas têm capacidade de exercer essa difícil e prazerosa atividade com mais frequência e o que tem afetado isso é a presença das mídias sociais. Segundo pesquisa do We Are Social, o brasileiro passa, em média, nove horas hipnotizado pela internet. Esse tempo gasto no celular poderia estar sendo aproveitado para a melhora do funcionamento do cérebro, estímulo para criatividade, formação do senso crítico e sensação de empatia, que, em minha opinião, são os pontos mais significativos da leitura. Atualmente, há uma nova onda de e-books, porém, em minha visão, os livros físicos são insubstituíveis, os virtuais têm suas vantagens, mas os concretos facilitam a concentração, confortam a visão e permitem anotações, o que, para a compreensão de uma obra, é essencial. O Brasil, como um dos países mais desiguais, traz uma ampla diferença de repertório cultural e conhecimento, resultando em um débil desenvolvimento social, que fica explícito nos dados baixos de acesso à leitura, a atividade mais relevante para o progresso humano. Como afirmou Mario Vargas Llosa, “um mundo sem literatura se transformaria num mundo sem desejos, sem ideias, sem desobediência, um mundo de autômatos privados daquilo que torna humano um ser humano: a capacidade de sair de si mesmo e se transformar em outro, em outros, modelados pela argila dos nossos sonhos.” Consequentemente, o ato de ler é insubstituível e de extrema importância e não pode ser esquecido e abandonado pela sociedade. Aluna: Lígia Santoro Hatschbach – 9º A

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Produção Textual 2019


Importância da leitura para combater as fake news Durante a Idade Média, Joana D’arc foi morta na fogueira pela Igreja Católica após falsos boatos de ser uma bruxa. Entretanto, apesar de tal fato datar de séculos antepassados, as fake News ainda persistem na contemporaneidade brasileira, causando transtorno ou até mesmo medo nos internautas que leem essas falsas notícias. Meu ponto de vista me faz crer que um dos principais motivos para a propagação e compartilhamento dessas fake News é a falta de leitura. “As pessoas formam opinião sem checar o que recebem, a origem dos dados ou quem é que está publicando. Quando você tem um pouco de conteúdo, proporcionado pela leitura, vê que aquilo não tem nenhum fundamento”, diz Luís Antonio Torelli, presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL), ao dar uma entrevista. A fala do especialista apenas confirma que a falta da leitura realmente influencia o compartilhamento das fake News e reafirma a importância do conteúdo e do conhecimento para o combate à disseminação de notícias falsas. Segundo dados de uma pesquisa divulgada no fim do ano passado (2018) pelo Instituto Ipsos, os brasileiros são os que mais acreditam em fake News no mundo. De acordo com o Estudo, no Brasil, 62% dos entrevistados admitiram já ter acreditado em alguma notícia falsa. Os outros países onde mais entrevistados já foram enganados por fake News foram Arábia Saudita (58%), Coreia do Sul (58%), Peru (57%) e Espanha (57%). Na contramão, vieram os italianos. Apenas 29% deles declaram já ter acreditado em alguma das notícias falsas. Podemos relacionar os dados citados acima com a taxa de leitura no Brasil (44% não lê e 30% nunca comprou um livro). Além disso, podemos relacionar esse fato com a precariedade da formação de leitores em nosso país.

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Considero que o único modo de não “cair” nas fake News é lendo e adquirindo conteúdo e conhecimento através da leitura. Assim, com nosso próprio repertório ético e social, será mais fácil perceber e diferenciar se aquela manchete é realmente verdadeira ou mais uma das milhares de notícias que são publicadas na mídia para assustar e espantar os internautas do outro lado da tela. Aluna: Maria Elisa Fonseca de Rezende – 9º A

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Produção Textual 2019


Para quem sabe ler Se você está lendo isso, você não imagina o quão privilegiado você é. Para você, ler é algo natural, que faz parte da sua vida, mas nem todos tiveram ou têm essa mesma sorte. Imagina não conseguir entender ou se corresponder através de leitura e escrita, isso gera uma grande exclusão social, além de muitas vezes essa parcela da população não conseguir empregos de qualidade e muitas vezes sofrerem preconceitos apenas porque não tiveram as mesmas chances ou oportunidades que alguns de nós. O Brasil é um país emergente e, segundo o IBGE, possuímos uma taxa de analfabetos equivalente a 7% da população, isso é 11,8 milhões de brasileiros que não sabem nem ler e escrever. Quanto mais alta é essa taxa, mais pessoas sem ensino, sem trabalhos reconhecidos e sem possibilidades de se integrar pela escrita ou leitura, assim, esse indivíduo se priva de muito conhecimento. Vemos que países hoje desenvolvidos, como os Estados Unidos e o Japão, possuem apenas 1% de analfabetos, segundo o Indexmundi. Um país é definido e é o que é pela sua população e a taxa de analfabetos caminha junto com o desenvolvimento de um país. Algo curioso é que entre os analfabetos presentes no Brasil a taxa entre pretos e pardos, segundo o IBGE, é de 9,9%, mais de que o dobro de pessoas brancas, que é de 4,2%. Isso ocorre devido às pessoas brancas terem mais acesso à educação do que a outra parte da população. Ou seja, o analfabetismo é, infelizmente, outra injustiça que ocorre com os negros. A leitura é algo muito prazeroso para muitas pessoas, porém, é ótimo para nossa saúde também. Segundo a Universidade de Cambridge, a diminuição do funcionamento do cérebro, na velhice, pode ser reduzida em cerca de 90% se a pessoa mantiver hábitos de leitura, além de proteger contra doenças como o mal de Alzheimer e ser um bom exercício de memória para sua saúde em geral. Ler apenas traz benefícios, desde uma desalienação e uma integração maior com um mundo até uma melhora em sua saúde

Produção Textual 2019

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mental. Se você tem essa oportunidade, usufrua dela, mergulhe em suas leituras e em textos diversos e em sua escrita para transmitir conhecimento e coisas positivas para o mundo. Aproveite para entrar em um mundo e universos distintos e embarque nessa aventura que é ser um leitor. Aluna: Maria Luiza Alves Elaiuy – 9º A

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A Importância da Leitura Quando me foi proposta a ideia de escrever um texto sobre a importância da leitura, passei a me questionar muito sobre o assunto. Percebi, então, que, em 14 anos de vida, nunca havia parado para pensar sequer uma vez na tamanha importância que o ato de ler tem sobre a vida de uma pessoa. Mas, afinal, o que é ler? Geralmente, a leitura é tratada de modo superficial e é entendida apenas como a decodificação de palavras. Isso se deve muito à maneira como as crianças são alfabetizadas, uma vez que aprendemos a ler as palavras como uma mera junção de letras e não como uma junção de letras com a intenção de transmitir algo. Logo, ler torna-se não só a decodificação de palavras, mas uma forma diferente de entender e interpretar o mundo a nossa volta. Como já dizia Paulo Freire, “A leitura do mundo precede a leitura da palavra”, ou seja, é necessário um mínimo entendimento do mundo para que possamos ler palavras. E, uma vez que esta for dominada, nos é devolvida uma nova leitura do mundo e assim por diante. Nesse sentido, ler se torna uma forma de expandir nossos horizontes, abrir nossos olhares e nos fazer refletir e pensar. Sem os livros e as informações que eles nos trazem, não teríamos base nem apoio para nutrir nossas crenças, ideias e pensamentos, expondo-nos a um estado de vulnerabilidade que poderia resultar em um cenário de alienação absoluta, de distopia disfarçada de utopia e que, mais tarde, iria explodir. O livro Fahrenheit 451, de Ray Bradbury, é um ótimo exemplo disso, já que, ao começar a refletir, graças à leitura, o personagem principal percebe o caos em que viviam, mas que ninguém percebia devido à alienação e à falta de conhecimento. Além disso, os livros e a leitura em si também podem ser utilizados como válvula de escape, amigos e conselheiros. Ler nos permite fantasiar, imaginar. Nos faz focar em uma realidade que não é nossa e esquecer os problemas, nem que seja por um instante. Ler nos dá a sensação de conforto e lazer, nos dá espaço para sermos quem

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realmente somos ou quem queremos ser. Ao final, nos traz respostas, nos ajudando a revolver nossos problemas e a entender quem somos e o que estamos fazendo neste mundo. Se eu fosse listar quais seriam as consequências da extinção da leitura, chegaria ao fim do mundo, pois é ela que dá significado à vida, assim como a vida dá significado à leitura. É essa troca que permite ao ser humano evoluir, que nos permitiu chegar aonde estamos hoje, que me fez ser a pessoa que sou e que me permitirá crescer muito mais. Aluna: Mariana Bermudez de Almeida – 9º B

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Produção Textual 2019


Quem gosta de ler? De acordo com as pesquisas do conhecido Jornal Estadão, o brasileiro lê pouco, apenas 4,96 livros por ano e 0,99 desses são ou forçados ou induzidos pelos pais ou pela escola. Comparados com países como a França (que lê 7 livros por ano por pura e espontânea vontade) e a Índia (que dedica 10 horas semanais para a leitura), somos deixados para trás em questão de cultura e conhecimento. A leitura é fundamental para educar crianças, aprender coisas novas, para a sanidade mental, para o lazer. Ler é cultura, toda vez que se lê algo, não importa o que seja, manuais, livros, revistas, diários etc.... você sempre aprende algo novo, seja uma ideologia ou um tipo de escrita, ou um segredo de um amigo próximo, ou a nova namorada de seu ator favorito. Não importa o que seja, se aprende algo lendo. “A prática da leitura aprimora o vocabulário e dinamiza o raciocínio e interpretação”, afirma um dos portais da UOL, o Brasil Escolar. A leitura pode ir além disso, criando um mundo imaginário de suas fantasias da literatura. Não, isso não é loucura, pelo contrário, é bom para sua saúde mental, alimenta sua imaginação e te ajuda a sair um pouco da pressão do dia a dia. Nos atualiza sobre as notícias, sejam elas catástrofes ou apenas um novo filho real na Inglaterra (tem ficado bem frequente, mas é como eles dizem: quanto mais, melhor!) E com a internet ao nosso lado, muitas pessoas dizem que dificulta o aprendizado e enquanto estamos a utilizando poderíamos estar aprendendo algo. Na verdade, estamos aprendendo algo, seja ela uma piada inútil para divertir os amigos, tutoriais de como fazer uma bomba de fedor com o “Manual Do Mundo” ou vendo notícias sobre incêndios e cantores. Também existe muita coisa inútil na internet, não vou discordar. Mas ela facilita muita coisa, estudo, dar um google, ler um livro, baixar um PDF. Não acho que a culpa seja da internet por roubar nosso tempo, eu só acredito que os adolescentes têm que ser orientados a usá-la. 7% que

da nos

população revela

a

brasileira pesquisa

é do

analfabeta, Jornal

é

Gazeta

o do

Povo e a solução para isso são investimentos nas escolas de base,

Produção Textual 2019

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parcerias de grandes editoras com o país para fornecer livros às escolas Públicas e Bibliotecas Públicas. Temos que incentivá-los a ler, a ser cultos, a aprender. A geração que está aí precisa ser colocada nos trilhos, é preciso dar-lhes bons costumes e fornecer-lhes bagagem para superar desafios futuros. Aluno: Ricardo Mendes Trinas – 9º C

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Contos 1ª série

Depois de discutirem sobre a importância da leitura e realizarem uma série de atividades preparatórias, os alunos optaram por um dos temas apresentados a partir de leituras de tiras da HQ: a importância da leitura na infância ou a solidão que pode acompanhar bons leitores contemporâneos. Produção Textual 2019

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Um homem comum Ele era um homem comum, tinha um emprego comum, morava em uma casa comum e usava roupas comuns, mas ele tinha uma característica diferente, que o diferenciava dos outros: seu passatempo preferido era ler. Passava quase todo seu tempo livre lendo livro e indo a livrarias. Adorava pegar um livro novo, ir a um lugar calmo e ficar lendo por horas seguidas. Ele sabia que não tinha muitos amigos, mas não se importava, porque, enquanto ele lia, ele tinha várias vidas com amigos muito diferentes. Um dia, parou para olhar a seu redor e percebeu que estava sozinho, a única pessoa que ele via lendo era ele, todas as outras pessoas estavam sentadas, mexendo em seus celulares. Ele se sentia mal pelas pessoas, ele queria que todos pudessem pegar um livro e sentir a sensação de nostalgia por estar dentro de um mundo novo, onde tudo era possível. No dia seguinte, ele decidiu pegar todos os seus livros e levar a um local onde sabia que todos estariam, o shopping, então parou na frente dele, tentando dar um livro a qualquer pessoa, mas ninguém quis, ele então percebeu que já estava escurecendo, então pegou seus livros e voltou para casa. Naquele dia, porém, ele havia descoberto uma coisa muito importante, mesmo com um emprego comum, numa casa comum e roupas comuns, ele não era comum. Aluno: Felipe Frug Mauro – 1ª A

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O poder nunca tirado O ponteiro marcava quanto tempo estava na sala, as janelas tampadas de madeira impediam minha visão do mundo exterior, com meu livro sob as mãos as horas não pareciam passar, até ouvir uma forte batida em minha porta, eram meus alunos, eram apenas seis, mas, nos dias de hoje, são muitos. Nos sentamos em roda e começamos a conversar sobre o livro pedido e lhes perguntei se haviam escondido bem, todos balançaram a cabeça. “Gostamos bastante desse professor, mas por que esse?”, disse um de meus alunos. Ao folhear o livro comecei a explicar “Alunos, o mundo de hoje é outro, não podemos compartilhar com os demais a leitura, algo tão educativo e importante para abrir a mente, ao verem esse local cheio de livros, não os vejam como objetos, mas sim como uma porta para a inteligência, digo, saindo dessa bolha em que vivemos. Ao ler qualquer livro, somos humanizados. E vocês estão aqui para voarem, não serem manipulados ou abduzidos, pois têm algo que nunca pode ser tirado de vocês, o conhecimento, e esse livro diz exatamente isso. “Após dizer isso, os olhos deles abriram com um tom de esperança, algo recompensador para mim. Após acabarmos, indiquei-lhes outro livro, “Preconceito, a arte de pré-julgar.” Após todos saírem, coloquei um casaco com um capuz e abri a porta da frente, precisava de tinta para restaurar minha estante. A cidade estava escura, as folhas de outono caíam sobre o chão molhado, o barulho de buzina ecoava em toda avenida. De longe, pude ver a tropa militar saindo do novo parlamento, ao descerem as escadarias, eram ovacionados e prestigiados com gritos e bandeiras de apoio popular. Ao andar nessa direção, vi um grande cartaz “Diga NÃO aos livros, conhecimento falso e manipulado por comunistas! Venha hoje à praça parlamentar e viva a DITADURA conosco. E lembre-se, por lei, denuncie algum portador de livros e ganhe nosso apoio!! “Aquilo me paralisou, eu sabia exatamente o que eles iriam fazer na praça, ouvi os gritos de apoio vindos da frente e me dirigi até lá. Ao chegar, vi uma grande fogueira e uma pilha de livros, amontoados, após um discurso

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de ódio aos provedores de conhecimento, como professores e filósofos, o ditador iniciou o “massacre” aos livros, um por um eram jogados na fogueira, o conhecimento virou pó em minha frente e não pude fazer nada a respeito. Mas não iria desistir, há anos aprendo a ampliar meu olhar em relação ao mundo e hoje não amplio apenas o meu e sim de mais outros seis. Voltei para casa, sentei-me em minha poltrona e continuei a ler. Aluna: Gabriela Seitz – 1ª C

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A Rosa e a Primavera Rosa era trabalhadora de uma fábrica localizada numa cidade conhecida por Cidade Cinza, pois lá ninguém conhecia nenhuma cor além dessa e suas variações. O dia sempre estava nublado e o sol, sempre encoberto, o clima sempre frio. Todos os dias eram sempre iguais na cidade, os trabalhadores levantavam às 4h30 e chegavam em casa por volta das 20h, ninguém nunca havia conseguido (por conta da falta de tempo) explorar além do que já conheciam. Houve uma vez em que Rosa estava voltando para sua casa e se perdeu no meio do caminho, pois havia se distraído. De repente, ela se deparou com uma pequena casa com uma placa em sua frente. Rosa não sabia ler muito bem, mas entendeu algo como “Livraria”. Ao entrar, ela se maravilhou. Todos os livros estavam sujos de poeira, mas nada que a impedisse de ler. A mulher leu um, dois, quase três livros na mesma noite! Ela havia sido consumida pelo desejo do novo e, daquele dia em diante, Rosa sempre levaria consigo um livro para ler em seu horário de almoço na fábrica. Todos à sua volta se espantaram com tal ação, pois nunca haviam visto ninguém daquele jeito, almejando tanto por algo que parecia inatingível, o conhecimento. Até seu chefe ficou sabendo, mas, quando descobriu, ficou furioso. Ele arrancou todas as páginas de seu livro e, sem nenhum tipo de remorso, a mandou voltar ao trabalho. Rosa, por sua vez, não havia se intimidado, ela era uma mulher forte, de fato corajosa, mas sabia que enquanto fosse trabalhadora da fábrica, não conseguiria alimentar sua vontade de saber. Ela teria de tomar uma decisão que, por sua vez, não seria tão difícil de ser tomada, ao ponto que a leitora havia começado a questionar a condição em que se estava. A mulher pediu demissão e assim foi. Seu chefe estava tão bravo que cedeu à vontade dela.

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Rosa, sem rumo, começou a vagar pelo exterior da cidade cinza, andando por volta de dois dias, apenas com uma garrafa de água e dois pacotes de bolachas. Ela viu um portão, de cara dava para outra cidade. A moça quis entrar e um homem apareceu à sua frente, abrindo o portão. - Bem-vinda a Primavera. Fico feliz que o conhecimento a tenha libertado! – disse ele. Rosa, maravilhada, nunca tinha visto algo tão belo. Muitas cores, céu azul, pessoas que pareciam vivas de fato, e logo de início havia avistado várias bibliotecas! Ela entrou em Primavera. - Essa cidade foi construída por pessoas iguais a você, aproveite, e, ah, não feche o portão! Apenas o encoste para o próximo conseguir entrar. Aluna: Isabella Welker Antoni – 1ª C

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Universos Era julho, mês das férias escolares. Eu estava em casa sem saber o que fazer para passar o tempo. Lá fora, a grande massa cinzenta de nuvens tomava conta de todo o céu e grandes e gordas gotas de chuva caíam sem parar. Mamãe estava no trabalho, e eu só tinha a companhia de Gizimo, meu gatinho, o qual me seguia por toda a residência. Ah! Como vou brincar agora?! Lamentava, observando a janela do meu quarto, completamente arrasada. Naquela época, não havia internet ou videogames para distração e a única TV da casa já não tinha sinal pela força da chuva. O tempo mal passava. Já estava tão entediada que parava de procurar o que fazer e apenas olhava o gato perambulando por todo o cômodo. Gizimo, em certo momento, começou a miar para a estante que ficava no canto do quarto. Ela estava cheia de livros empoeirados, os quais um dia pertenceram à minha mãe. Fui até onde o bichano estava, fitando aquele monte de escritos aos quais nunca havia prestado muita atenção, apesar de estarem sempre em meu quarto. Pensei, então, em pegar um deles. Analisava atentamente seus nomes e capas coloridas, cheias de desenhos, letras decoradas e estilos variados. Eram tantas opções, tantos universos para desvendar... O vasto número de coisas para fazer, de livros para ler, agora me angustiava, em vez da falta deles, como anteriormente. “Este ou aquele?” a pergunta se repetia constantemente. Sabia que lembraria eternamente do livro que eu escolhesse, por ser um livro que leria em minha infância (um dos primeiros!) e além disso, também seria um dos primeiros dessa estante! Já estava quase chorando, quase fazendo uma grande birra; quando, de repente, escuto um barulho de alguma coisa caindo ao meu lado. Subitamente viro, deparando-me com uma cena que me emocionara. Gizimo estava puxando com suas patinhas livros da parte baixa da estante, como se procurasse um para mim. Me abaixei, ficando de sua altura, acariciando-o e pegando do chão aqueles escritos que ele derrubara e foi naquele momento que eu percebi que o que eu estava fazendo comigo mesma era uma tremenda de uma bobagem.

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No fim, eu apenas precisava apreciar o momento, sem me preocupar com o futuro. Daqueles pequenos universos que Gizimo me mostrara, surgiu o meu próprio universo! Aluna: Leticia Conte Lira – 1ª B

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O conhecimento que salva a gente Sou formado em Direito pela universidade de São Paulo, basicamente todos que se formaram na minha escola, que é privada, tiveram o mesmo privilégio, formação superior, algo restrito para a maioria das pessoas que moram aqui no Brasil. Minha mãe é professora, dá aula até hoje na escola em que me formei, eu ganhei bolsa na instituição porque ela dava aula lá. Ela me criou sozinha, nunca nem conheci meu pai, sou filho único com uma mãe que trabalhava muito, então tinha tempo livre de sobra, minha casa sempre foi repleta de livros de todos os tipos, desde que me lembro como gente sou um leitor voraz. Hoje, com 27 anos, trabalho, sou um home alto, não sou gordo, mas também não sou magro, meus cabelos são escuros, minha pele clara, tenho traços fortes e depois de tanto tempo usando aparelho, espero que eu tenha um sorriso bonito. Moro sozinho e me sinto cada vez mais distante das pessoas. Há seis meses foi eleito como presidente da República o homem mais incapacitado do mundo, que não era nem para ter conseguido ser candidato e eu não entendo como as pessoas cogitaram votar nele, isso provavelmente ajudou na distância. O presidente que faz discursos homofóbicos, racistas, machistas e violentos está há tão pouco tempo no poder e já fez uma proposta de privatização das escolas públicas, liberou o porte de arma, proibiu qualquer aluguel dos livros, proibiu também a venda de alguns autores e livros específicos, entre outras coisas inaceitáveis que eu não sei como fez sentido na cabeça de muitas pessoas, e eu pensava: será que elas nunca leram nem um livro sequer para ficarem revoltadas? Dia 23 de julho de 2019, o dia de hoje, estou na cama há horas esperando que alguma coisa aconteça. De manhã, o presidente aprovou que só pessoas autorizadas, com a autorização dele, poderão ter e ler livros, seriam coletados todos os demais livros, pelo discurso “não podemos deixar que todos leiam e escrevam o que quiserem”. As pessoas aceitaram e não saía da minha cabeça como era possível as pessoas serem tão ignorantes assim. São incontáveis os livros que já li e eu cresci assim, as pessoas crescem intelectualmente com os livros,

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viram caminhões de conhecimento, que é a melhor coisa que podemos adquirir durante a vida, algo que ninguém tira de nós, que nos dá o poder de questionar, ir contra e concordar. Ontem, dia 23, passei todo o dia na cama me questionando como era possível as pessoas serem tão ignorantes e pela primeira vez o governo foi eficaz, já fizeram toda a coleta de livros, consegui guardar, na verdade esconder, um comigo. Ninguém fazia nada, todos procrastinavam, então resolvi fazer algumas ligações. Liguei para minha mãe, que ligou para mais duas professoras; liguei para o bibliotecário da biblioteca que sempre frequentei, um professor da faculdade e uma mulher com quem fiz todos os trabalhos na faculdade e que hoje trabalha comigo, provavelmente uma das mais inteligentes que já conheci. Eu e mais 6 pessoas nos encontramos, todos possuíam um ou dois livros, conversamos por mais de 4 horas, talvez haja um jeito e talvez nem todos sejam tão ignorantes. Aluna: Maria Clara Magalhães Serrano – 1ª B

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Cartas argumentativas 2ª série

A partir de uma coletânea que problematizava a relação entre a leitura e o senso crítico, os alunos deveriam, escrever uma carta ao protagonista do romance Farenheit 451, Guy Montag, um dos bombeiros responsáveis pela queima de livros na obra, em que assumissem a perspectiva de um bibliotecário que problematiza a queima de livros, a partir da (des)importância da leitura em nossa sociedade. Produção Textual 2019

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São Paulo, 01 de agosto de 2019. Prezado Montag, Meu nome é Gabriel e eu tenho 60 anos. Meu objetivo com esta carta é fazer o senhor refletir, algo que parece ser proibido para vocês, queimadores de livros. Desde criança, tive paixão pela leitura, desde livros infantis até livros de faculdade e foram essas leituras principalmente que formaram quem eu sou hoje, um bibliotecário com ideias próprias formadas, senso crítico e, modéstia à parte, um bom escritor, e eu tenho muito orgulho disso. Por ser bibliotecário, eu posso ver com clareza o quanto a leitura tem sido desvalorizada, vejo o quão pouco é frequentada a biblioteca, por ser algo considerado “antigo” e cada vez mais a ciência e a leitura têm sido banalizadas. O avanço da tecnologia e como foi estabelecida a vida moderna são dois dos principais motivos para isso. As pessoas cada vez menos têm paciência e tempo para ler, querem as informações rapidamente, jogadas, simples. Por conta disso muitas vezes acabam se alienando, seja com o jornal ou com notícias distorcidas na internet, cada vez mais se deixam influenciar por outra pessoa e não criam senso crítico próprio. Por isso é importante estabelecer um hábito de leitura, pois, por meio dele, é possível perceber as coisas através de outro ponto de vista, ele contribui para o amadurecimento crítico, o desenvolvimento da capacidade de entender, compreender e aprender. Ler é importante, pois estimula a criatividade, aprimora sua escrita e permite um mundo novo de ideias, diferentemente de apenas buscarmos algo no Google e obtermos respostas imediatas, fatos. Não há um pensamento próprio por trás disso. Na leitura, diferentes pessoas conversam, mesmo sem se conhecer. É por isso que essa prática horrível de queimar livros deve parar, para que não viremos robôs, tipo Google, em que temos informações rápidas e prontas, além de sermos apenas obedientes, sem senso crítico. Atenciosamente, Gabriel Aluno: Gabriel Mattos Frota – 2ª A

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São Paulo, 1 de agosto de 2019 Prezado senhor Guy Montag, Venho por meio desta carta falar sobre seu “trabalho”. Começo dizendo que sou bibliotecário, talvez tenhamos trabalhos quase opostos, já que o seu consiste em queimar livros. É necessário que pensemos sobre esse ato, o que ele representa, afinal? Qual a importância da leitura para nossa sociedade? Decidi ser bibliotecário pela minha paixão pela leitura e pelo conhecimento, lembro-me de que, quando criança, lia livros e queria que todos ao meu redor os lessem também, sentissem o que eu senti: um novo mundo, novas possibilidades surgirem. Vejo que continuo com essa sensação até hoje quando leio algo novo. E é por isso que acho a leitura tão importante, aprendi muitas coisas através dela, pensar foi a mais importante. Então, para mim, ao queimar livros você também queima ideias e possibilidades, é isso que, na minha concepção, os livros representam. Por que queimar livros? O que eles têm de errado? Mesmo que eles tenham ideias contrárias às suas é importante a população ter acesso a amplos pensamentos para, assim, formar os seus. Talvez seja a finalidade de queimar livros: fazer a população não pensar de fato e não colocar em prática seus pensamentos e reflexões. Livros não apresentam perigo a uma sociedade comprometida com o pensamento crítico, pelo contrário, apresentam segurança em relação ao que é e ao que não é verdadeiro ou justo. Dessa forma, é interessante pensar na existência do seu “trabalho” e a maneira como ele pode empobrecer debates e levar pessoas a serem “robôs”, apenas absorvendo e aceitando o que lhes é apresentado. Desse modo, Montag, lembre que você também faz parte da sociedade que tem ideias se transformando em cinzas. R.G. Aluno: Laura Pereira Gomes de Oliveira – 2ª A

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São Paulo, 1 de agosto de 2019. Caro senhor Montag, Venho por meio desta carta contar a importância que a leitura tem na construção de uma sociedade crítica e com pensamentos próprios, uma sociedade que percebe a consequência de seus atos. Sou bibliotecário, e por viver cercado de livros muitos anos da minha vida, reconheço a importância que eles tiveram na minha vida, na minha formação enquanto ser humano. Veja senhor Montag, a leitura nos ajuda na compreensão do mundo! Queimar livros, portanto, seria nos privar de ter alguma consciência de onde vivemos. Livros foram queimados pela falta de consciência de como a leitura é fundamental, consciência tal que poderia ser adquirida caso, ao invés de queimar os livros, lesse-os. Leio muito, desse modo, acredito que pude ter acesso a diversos pontos de vista, que me fazem entender que tirar a oportunidade de leitura de alguém é também tirar a possibilidade de a pessoa ter um pensamento crítico, de questionar o que faz, como seu trabalho, por exemplo. Entendo que tomar consciência de certos fatos seja amedrontador, pois você percebe o que está errado. Você passa por um processo de desalienação, por isso, percebe que sempre há o que aprender e que essa atividade é eterna. Todos devem ter o direito de aprender para ter a competência de reconhecer informações, compreendê-las e fazer com que não seja formada uma sociedade ignorante e intolerante. Roberto Aluna: Letícia Pereira Gomes de Oliveira – 2ª B

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Carta para Guy Montag São Paulo, 1 de agosto de 2019 Prezado Guy Montag, Fiquei sabendo sobre a prática de queima de livros, pela qual você é um dos responsáveis. Eu, como bibliotecária, porém, antes de tudo uma amante dos livros, venho por meio desta carta alertá-lo sobre os perigos que uma sociedade não-leitora corre. A queima dos livros, como o senhor sabe, não foi uma ação inaugurada por você. Queimar livros é um eficaz escudo para a manutenção de governos despóticos, por exemplo. É uma prática que, até hoje, não levou a humanidade para nenhum caminho produtivo, pelo contrário, a conduziu para períodos de atraso científico, como a Inquisição, ou de extrema violência, preconceito e desunião, como é o caso da Segunda Guerra Mundial. Porém, de que forma os livros, um amontoado de folhas com palavras impressas, possuem um papel tão decisivo sobre o rumo da humanidade? A leitura contribui para o desenvolvimento do senso crítico do cidadão, para a formação de uma opinião própria e, por esse motivo, para a sua libertação. Segundo Paulo Freire, o ato de ler não é apenas uma decodificação de palavras, mas sim da compreensão do que foi lido, do universo presente no livro e como ele se articula com a realidade. Uma outra visão de mundo é apresentada ao leitor, o que amplia seu entendimento sobre sua própria realidade. Assim, a leitura é um importante instrumento de transformação, pois ela é capaz de criar uma sociedade mais harmônica, diversa e pacífica, uma vez que o contato com o distinto cria indivíduos mais tolerantes. Dessa forma, ler é uma ação anti-hegemônica. Consequentemente, o ato de não ler cria uma sociedade alienada, desprovida de senso crítico e, por conseguinte, de livre arbítrio. Por essa razão, serve como massa de manobra, o que é interessante para regimes autoritários. Sim, como o senhor mesmo disse, ler introduz um território desconhecido, “movediço”, no qual a felicidade nem sempre está

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garantida. Todavia, pensar que tudo está bem quando na verdade não está, é ser feliz? É ser enganado, manipulado. Falo por experiência própria que a realidade aberta pela leitura conduz a uma felicidade real, pois assim você é capaz de transformar o mundo. Laura de Costa Aluna: Manoela Bermudez de Almeida – 2ª A

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Caro senhor Montag, São Paulo, 1/8/2019 Escrevo para discutir a queima de livros realizada por bombeiros, incluindo você, já que esta configura um grande problema. Eu sou um bibliotecário desde os 15 anos e desde então eu aprendi a amar os livros e a entender a importância de sua leitura em uma sociedade. Vejo a queima de livros na sua sociedade e a não prática da leitura na minha como problemas parecidos, porém em diferentes escalas. A leitura desenvolve o senso crítico das pessoas, formando cidadãos questionadores e com poder reflexivo. Por isso, a leitura e os livros são vistos como algo a ser combatido em sistemas como o seu, em que a população é oprimida e o questionamento das práticas do governo não é permitido. Na minha sociedade, a população lê muito pouco e alega que o motivo por trás disse é a falta de tempo, causada por longas e cansativas jornadas de trabalho. Entendo que, assim como na sua sociedade, os livros não são permitidos pelo governo, de forma planejada e intencional, na minha, a não-leitura foi planejada pelos pensadores do sistema capitalista, mecanizando grande parte da população, como ovelhas, de forma que estas apenas produzam capital para os donos dos meios de produção, sem que os trabalhadores tenham tempo para ler e, portanto, criticar o sistema em que vivem. Caro Montag, espero que esta carta te ajude a entender a importância da leitura e a te inspirar a mudar a forma como os livros são tratados na sua sociedade. Atenciosamente, Max Aluno: Pedro Ribeiro Lodi – 2ª B

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Dissertações 3ª série

A partir de uma coletânea com textos de apoio, os alunos deveriam discutir a afirmação: “Falta amor no mundo, mas também falta interpretação de texto” (Leonardo Sakamoto), defendendo seu ponto de vista por meio de argumentos. Produção Textual 2019

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A Interpretação do Mundo A leitura feita de modo que seja compreendida a mensagem ou informação que o autor deseja passar ao leitor funciona como um mecanismo para que o mundo seja compreendido pelos próprios cidadãos de forma crítica e analítica, tornando-os, de certa forma, livres. Voltado para esse fato, o geógrafo e crítico Milton Santos, em sua obra Por uma nova Globalização, diz que o indivíduo está cada vez mais imerso em interpretações de outrem por ser mais fácil aderir a uma conclusão já estabelecida do que criar parâmetros com suas próprias vivências, ou seja, o indivíduo está se tornando passivo quanto à tomada de decisões e interpretação dos fatos. A partir disso, é possível perceber que, como no período escravocrata, em que os escravos, por não saberem ler, eram reféns da interpretação da Bíblia, feita pelos senhores, que justificava a escravidão, a sociedade atual está se tornando refém daqueles que estão dispostos a interpretar o mundo. Sendo assim, a população precisa se manifestar de modo mais ativo quanto à leitura e interpretação para que esteja realmente livre, sem alienações causadas pela falta de criticidade, evitando um futuro que seja muito parecido com o período escravocrata. Aluna: Jamily Barbosa de Lima – 3ª B

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A cidadania depende do ato de ler e compreender A leitura, assim como a escrita, é o princípio do processo de alfabetização dos indivíduos para que estes sejam inseridos na sociedade adequadamente e exerçam a cidadania plena. De acordo com Paulo Freire, “a leitura do mundo precede a leitura da palavra”, de modo que, sem a leitura, não há o desenvolvimento do senso crítico para que haja compreensão e questionamentos sobre a sociedade e seu funcionamento. No Brasil, de acordo com a pesquisa do IBGE, a média de leitura do brasileiro é de um livro por ano e, apesar de a leitura não ocorrer exclusivamente por livros, grande parte da sociedade é considerada analfabeta funcional, ou seja, sabe ler, mas não há compreensão do que está escrito, evidenciando as falhas que ocorreram no processo educacional e que afetam diretamente o social, pois este depende das mídias sociais para informação e compreensão. Dessa forma, não há o questionamento, pois não há o desenvolvimento do pensar, criando um cidadão passivo ao que é dito e estabelecido, podendo ser manipulado e convencido por dados direcionados. Em sistemas como o Nazismo, a leitura de textos da oposição ou de estrangeiros foi considerada ameaça e, assim, os livros foram queimados, pois poderiam fazer com que houvesse o desenvolvimento e fortalecimento do pensamento contrário, pois a leitura é uma maneira de transmitir ideias e pensamentos, é através desta que são desenvolvidas teorias e opiniões. A leitura fortalece o debate de ideias e o desenvolvimento social. Portanto, ler e interpretar são atos necessários para uma ampla e criteriosa observação do mundo, dos acontecimentos sociais, além da transmissão e desenvolvimento do conhecimento, e do pensar, pois, desta maneira, a cidadania é exercida plenamente, sem haver manipulações dos indivíduos por parte da mídia, de modo que as informações possam ser analisadas e questionadas pela população. Aluna: Julia Pereira Lima – 3ª B

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Interpretação é sinônimo de cidadania O hábito da leitura e da interpretação do que se é lido pelas pessoas não são pontos que se encontram atualmente em ascensão social. É através do exercício da leitura que o cidadão tem acesso à informação, mas, sem a compreensão literária, ele perde a capacidade de exercer plenamente a cidadania. De acordo com dados fornecidos pelo Instituto Pró-livro em uma de suas pesquisas, aproximadamente 50% dos brasileiros não conseguem compreender e interpretar os textos que leem, o que se caracteriza como um problema ao pleno desempenho da cidadania para estas pessoas, pois, à medida em que as pessoas não conseguem sintetizar as informações presentes em um texto, elas se tornam incapazes de entender de forma genuína os acontecimentos da sociedade e o cenário em que ela se encontra, de forma que não conseguem contribuir com ela. Além disso, a não compreensão do conteúdo presente em textos acaba também por transformar as pessoas em alienadas, pois estas acabam acessando informações provenientes majoritariamente da televisão ou de redes sociais, que apresentam análises muito parciais realizadas por terceiros ou que, com a expansão das chamadas fake News nas redes sociais, acabam sendo até mesmo falsas. Isso resulta em uma sociedade em que a opinião de poucos acaba prevalecendo, o que também gera a perda do desempenho efetivo da cidadania para algumas pessoas, que perdem a capacidade de usar suas próprias opiniões em detrimento das que recebeu “prontas” e considera “mais certas” devido à repercussão que tiveram. Esse cenário em que as opiniões são alienadas devida à falta de um acesso eficaz à leitura pode ser relacionado ao contexto do Estado Novo de Getúlio Vargas, pois, com o confisco de livros, as pessoas aceitavam as análises e o ponto de vista divulgado pelo Estado para as coisas, tornando-se igualmente alienados e sem opinião própria. Uma forma de diminuir tal problema é o ensino pelos professores nas

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escolas de como analisar e compreender textos desde a infância, além do incentivo por parte destes ao hábito da leitura, pois é com a prática que a capacidade de compreensão das pessoas é aperfeiçoada. Aluna: Natália Moraes Ferreira – 3ª B

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A importância da leitura Durante séculos, a leitura foi um privilégio das classes mais altas da sociedade, já que as classes mais baixas não tinham acesso às escolas e a taxa de analfabetismo era alta. Apenas no século XX houve uma mudança nesse cenário a partir da popularização das escolas e, como consequência, a democratização da leitura. Atualmente, a leitura não é um hábito muito incentivado pelas escolas e pela sociedade, porém continua sendo o principal agente de transformação intelectual e emocional dos indivíduos. Uma grande parte da sociedade atual, motivada pelas redes sociais, celulares e televisão, substitui o hábito da leitura pelo uso dos aparelhos, o que é um problema para a sociedade, já que a leitura de outras realidades e culturas faz com que os leitores conheçam, compreendam e respeitem costumes distintos. Assim, tornam-se indivíduos mais tolerantes e civilizados. Além disso, a leitura do passado é fundamental para o entendimento do presente e para evitar que erros já cometidos se repitam. O livro Minha luta, de Adolf Hitler, exemplifica a importância de se ler o passado na medida em que apresenta as ideias antissemitistas do líder do partido nazista alemão. Com isso, os leitores adquirem conhecimento e consciência em relação a acontecimentos passados para evitá-los e entender suas implicações no presente. Posto isso, é evidente que a falta de leitura tem consequências não só individuais, como também coletivas, de modo que as escolas, desde o começo do ensino, deveriam criar pedagogias de incentivo à leitura com livros ajustados à idade e ao interesse dos alunos para que, gradualmente, os alunos adquiram o hábito da leitura. Aluna: Nina Laloni Gentil – 3ª A

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Falta de leitura: um hábito perigoso e prejudicial A leitura tem o poder de transformar indivíduos e formar senso crítico. Franz Kafka dizia que a leitura deve ser como um machado que quebra o mar gelado que há em nós, metáfora que nos permite definir a leitura como uma ferramenta para desconstruir dogmas. No entanto, o Brasil não é um país de leitores. Dados da OCDE revelam que o Brasil está abaixo da média global de proficiência linguística. A falta de leitura é uma perigosa comodidade que os brasileiros não são incentivados a abandonar, o que reduz seu senso crítico, sua capacidade de questionar dogmas e seu pleno exercício da cidadania. A criação do hábito da leitura na formação escolar faz com que o governo, enquanto regulador dos planos escolares, seja o principal agente capaz de promover esse hábito. No entanto, a ausência de programas sólidos de incentivo à leitura faz com que não haja uma reversão no quadro de maus leitores, o que perpetua a cultura de formar alfabetos funcionais, que sabem ler, mas não refletir, filtrar e questionar o que foi lido. A incapacidade de reflexão faz com que o indivíduo se torne reativo aos acontecimentos de seu cotidiano, isto é, o indivíduo não promove grandes mudanças na sociedade, apenas reage às mudanças que lhe são postas. Quando há a formação de um indivíduo leitor, cria-se um sujeito ativo capaz de exercer a cidadania e, portanto, capaz de ser protagonista de grandes mudanças em seu meio social, pois a leitura proporcionará correlações dos fatos com o que aparece em textos. Na obra Desobediência Civil, Henry Troreau diz que, a partir da leitura de grandes obras, muitos homens iniciam novas eras em suas vidas, o que mostra quão revolucionária a leitura pode ser. Para auxiliar os cidadãos a serem protagonistas na sociedade, o governo deve promover programas que ajudem na formação do hábito da leitura, como o retorno do programa “Minha Biblioteca”, que distribuía anualmente obras para alunos de 8 a 17 anos. Aluno: Vinícius Vitorino – 3ª A

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