Folha do Trabalhador # 21

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Liaison Committee for the Fourth International

CLQI Comitê de Ligação pela Quarta Internacional

Folha do Trabalhador

IRAQUE

J o r n a l d a L i g a C o m u n i s t a - a n o I V - n o 2 1 - a g o s t o / 2 0 1 4 - l c l i g a c o m u n i s t a . b l o g s p o t . c o m . b r - R $ 1 - contribuição solidária R$ 5

EDITORIAIS FALTA ÁGUA, AUMENTA O PREÇO DA LUZ E COMBUSTÍVEIS, ARROCHO SALARIAL, DÍVIDAS, DEMISSÕES,...

Nenhuma ilusão nas eleições! ELEIÇÕES BRASILEIRAS E A DISPUTA GLOBAL

Marina, a melhor candidata do imperialismo para enganar o povo

Imperialismo fabrica o EIIL para justificar nova intervenção

UCRÂNIA Governo de Kiev derruba avião e culpa a Rússia e a resistência antiimperialista

METALÚRGICOS DO ABC PAULISTA Contra o desemprego, CUT propõe o subemprego

ESPECIAL - ELEIÇÕES 2014

AS CANDIDATURAS E O PROGRAMA OPERÁRIOS DA LIGA COMUNISTA

ARGENTINA Por uma frente única pelo não pagamento de toda a dívida pública ORIENTE MÉDIO Por uma Palestina Operária e Multiétnica! TEORIA LENINISTA Porque Rússia e China não são países imperialistas METALÚRGICOS DE CAMPINAS E REGIÃO Operários ocupam agência do INSS de Indaiatuba (SP) ENTREVISTA O professor José Soares fala sobre as oposições metalúrgicas, o PT e a CUT

• Acesso gratuito à saúde, educação, transporte, previdência e bancos, em tempo integral, 100% estatais e sob o controle dos trabalhadores e usuários; • Frente Única Antiimperialista contra a direita e por uma alternativa operária e revolucionária ao PT; • Por um partido operário marxista e revolucionário.

• Redução da jornada de trabalho sem redução de salários e direitos; • Salário mínimo vital de 3.500 reais; • Não as demissões em massa, unir empregados e desempregados para ocupar as fábricas; • Em defesa da luta revolucionária por um governo operário e dos trabalhadores

• LC: candidaturas operárias nas eleições burguesas • Um chamado a vanguarda classista • Candidaturas pequeno burguesas, o cretinismo parlamentar e o cretinismo abstencionista • A falência da “Frente de Esquerda” e a tarefa dos revolucionários • Marina, a melhor candidatura do imperialismo para enganar-nos • Votar nas candidaturas do Partido da Causa Operária Literatura

A crise do imperialismo, as novas potências, e a luta pela revolução permanente no século XXI Debate com Grã Bretanha: Socialist Fight; Argentina: Tendencia Militante Bolchevique, Tendencia Piquetera Revolucionaria; Brasil: Liga Comunista, Partido da Causa Operária, Corrente Comunista Revolucionária, Coletivo Lenin, Resistência Popular Revolucionária 23/08/2014, 15h, ECLA, R. Abolição, 244, Bixiga, São Paulo

“O HOMEM QUE AMAVA OS CACHORROS”

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CARTA AOS LEITORES

FALTA ÁGUA, AUMENTA O PREÇO DA LUZ E COMBUSTÍVEIS, ARROCHO SALARIAL, DÍVIDAS, DEMISSÕES,...

Nenhuma ilusão nas eleições!

Vai ser com a retomada das lutas e construção de uma direção revolucionária para vencê-las que vamos derrotar os ataques de toda a burguesia! Há um ano, prevíamos a chegada da crise capitalista no Brasil, de modo retardatário, mas com um impacto negativo similar ao que ocorreu na Grécia, Portugal e Espanha, ou seja, desemprego em massa, queda profunda das condições de vida, duros ajustes de austeridade, etc. A profecia só se concretizou parcialmente porque se o ocidente europeu se manteve atado aos EUA e UE desde o início da crise, o Brasil modificou parcialmente sua orientação em relação ao comercio mundial. A crise capitalista, que teve como epicentro os EUA e Europa, abriu uma nova situação mundial. Por um lado, a recessão nas metrópoles cedeu espaço para a projeção da China e Rússia, duas economias capitalistas cujas tarefas nacionais burguesas foram resolvidas por revoluções sociais e implantação de ditaduras proletárias (ainda que deformadas). Dispondo de gigantes recursos naturais e humanos, as burguesias destes dois países avançam sobre o recuo econômico dos EUA e UE, atingidos pela recessão, ainda que nem de longe estas relações comerciais se comparem com as remessa de lucros e dividendos enviados pelo Brasil para os EUA e Inglaterra houve um aumento de 151% e 305%, respectivamente entre 2006 e 2013 (Dieese). Todavia, o

imperialismo reage a expansão mercantil do bloco Eurásico, manipulando o descontentamento popular sem direção revolucionária contra os efeitos da crise capitalista para golpear governos semicoloniais e expandir seu parasitismo como na Líbia, Paraguai, e Ucrânia, países cujos governos estreitavam suas relações comerciais em direção a China e Rússia. A copa do mundo de futebol, não apenas não correspondeu as expectativas de lucro no Brasil (a exceção foi a industria da construção e a própria Fifa) como também marcou um salto nas tendências recessivas, de crise no Brasil. Estas tendencias darão um salto nos próximos meses com a elevação dos combustíveis que incidirão em cascata sobre todos os demais preços, acompanhando o aumento de 20% na conta de luz. Veremos a disparada da inflação e demissões, onde a imensa massa de trabalhadores encontra-se endividada. Como alertamos há alguns anos, parte considerável da classe trabalhadora poderá ficar, além de sobre-endividada, sofrendo arresto de bens e despejos, demitida. Também estão previstos aumento geral de impostos e cortes de investimentos, tanto do Estado (inclusive nas áreas sociais), como privados.

É tarefa dos revolucionários explicar pacientemente por todos os meios possíveis (desde as redes sociais até as reuniões por local de trabalho, estudo e moradia, passando pelos programas eleitorais) o desastre da política burguesa que se anuncia no horizonte (arrocho salarial, demissões, falta d’água, golpismo, aumento das tarifas, das passagens, combustíveis, etc.) e como combatê-lo. É nesse contexto que devemos retomar o ascenso das lutas reivindicativas do 1o semestre, onde várias categorias de trabalhadores, como os garis e condutores, passaram por cima de seus pelegos e arrancaram conquistas importantes. Os petroleiros, bancários, carteiros, metalúrgicos, que possuem campanha salarial no 2o semestre, não devem nutrir qualquer expectativa das eleições patronais, devem confiar em suas próprias forças, métodos de luta e capacidade de parar a produção para dar resposta aos ataques em curso. Nesta luta, nós trabalhadores só podemos confiar em nossa organização política, construindo uma direção revolucionária para defender nossos salários, empregos, condições de vida, avançar para derrotar o capital e instaurar um governo operário e dos trabalhadores.

COMEÇO SANGRENTO DE ELEIÇÕES BRASILEIRAS FAZ PARTE DE DISPUTA GLOBAL PELO PLANALTO

Os EUA voltam a ter chances reais para substituir o PT As eleições do Brasil de 2014 estão cruzadas pela ofensiva dos EUA por reconquistar o terreno comercial e político perdido para o bloco de países capitaneados por China e Rússia. A candidatura tradicional da direita pró-imperialista, do PSDB à presidência, tendia a repetir as derrotas humilhantes dos três últimos pleitos. Por sua vez, para desespero dos EUA, no Encontro dos Brics pós Copa do mundo de futebol, o governo Dilma anfitriou o estreitamento das relações comerciais entre o bloco Eurásico e uma legião de países latino americanos. O próprio Brasil, já tendo substituído os EUA pela China como seu principal exportador e importador, estabeleceu uma aproximação inédita com a Rússia. “A América para os americanos” e “para onde pender o Brasil penderá o resto da America Latina”, que balizaram o golpe de 1964, são premissas que ressurgem com força total neste momento histórico. Sendo assim, passou a ser uma preocupação capital para Washington interromper o curso de governos petistas utilizando-se dos meios necessários. Esta conjuntura mundial, com tudo isto em jogo, faz da eleição presidencial brasileira a mais importante do ano. Testado, retestado e re-retestado que o PSDB é incapaz de derrotar o PT pelo voto nas eleições presidenciais, uma vez que mesmo não confiando do PT, as massas tem razão de sobra para não querer a volta do PSDB, era preciso apostar uma terceira via, uma trânsfuga do próprio PT como instrumento de substituição do mesmo. Sem estrutura partidária sólida, Marina foi convertida em um fenômeno eleitoral desde 2010, quando sua votação foi turbinada de forma espetacular, sendo uma forte candidata da oposição burguesa. Não por acaso, a ex-senadora foi estranhamente homenageada pelo imperialismo britânico nas olimpíadas de Londres de 2012 e apresentada como a suposta expressão de uma “nova política”, reivindicada nas manifestações das jornadas de junho de 2013. No contexto acima descrito, a aeronave que transportava Eduardo Campos, o terceiro candidato burguês na disputa eleitora, cuja função política até então era pressionar a existência de um segundo turno entre Dilma e Aécio, foi explodido de forma estranha, em pleno ar, destroçando-se antes de atingir no chão. Moradores de Santos testemunham que viram não um avião mas uma bola de fogo só antes de cair e se espatifar com uma violência tamanha que nenhum pedaço maior de qualquer parte do avião e menos ainda dos passageiros restou. Sem Eduardo pela frente, Marina teve o caminho livre para lançar-se a presidência com melhores chances que o mais fraco candidato do PSDB desde a ascensão do PT a presidência. No momento inicial, as bolsas despencaram, sofreram uma queda instantânea, com medo que não houvesse mais segundo turno e, pior, que Marina tivesse morrido junto. “O economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito,

lembra que notícia da queda da aeronave fez o Ibovespa cair forte, pois ainda cogitava-se que, além de Campos, era possível que sua vice, Marina Silva, estivesse à bordo.” (Exame, 13/08/2014) Mas o temor se reverteu em festa, quando não só Marina não havia morrido (ela teria desistido de última hora de acompanhar o candidato a presidente), quanto aproveitaria da comoção nacional para se lançar a presidência na vaga deixada por Campos: enção está voltada para ela. É uma mídia espontânea. Ela é a vice de um candidato que acabou de falecer e isso tem um apelo emocional muito forte. Se ela entrar na disputa, as chances de segundo turno podem crescer muito” (idem). Por fim, todos começam a fazer suas apostas com expectativa de grande realização de lucros se Dilma perde para Marina: “num cenário no qual a oposição ganhe as eleições, o Ibovespa poderia atingir os 70 mil pontos, uma alta de 25% em relação ao patamar atual. Já num cenário de manutenção de Dilma Rousseff na presidência, Miranda vê o Ibovespa retornando ao patamar dos 40 mil pontos, o que representaria um recuo de quase 30%.” (idem). Verifique-se que toda esta expectativa positiva pelos mercados ocorrera no próprio dia da morte de Campos. Tanta expectativa não poderia ser menor, o programa de Marina é mais próximo do de Aécio que Campos. Ela é defensora do neoliberalismo, dos interesses do capital financeiro; da “independência do Banco Central”, da manutenção do neoliberal “tripé macro-econômico” (regime de metas de inflação, fiscais e câmbio flutuante), da entregar das florestas brasileiras às ONGs imperialistas, de alugar a Amazônia. Evangélica, criacionista, antiaborto e defensora do arqui-reacionário deputado Marco Feliciano. A palataforma antiagronegócio de Marina não é pela reforma agrária e “coincide” com os dos EUA opondo-se ao setor do capital nacional mais interessado na manutenção dos negócios do Brasil com a China. A classe média que em um primeiro momento se viu beneficiada pelo esquema cambiário que expandia os serviços e o consumo, diante do esgotamento da bola de neve do sobreendividamento, procura saídas políticas para seu declínio econômico. Está sendo usada para dar consenso social ao golpe imperialista. Mas, mal suspeita que com Marina pode haver uma hiper-recessão, pois se mesmo com a China, a economia do Brasil está decaíndo, com os EUA, “depois da queda, terá o coice”. Marina se apoia na grande mídia (Globo, Veja, Folha,...), oposição de direita , capital financeiro e imperialismo. Ela tem como missão reorientar o Brasil, como quintal dos EUA, para seus antigos amos. Assim, os institutos de pesquisa já apontam a vitória de Marina sobre Dilma no segundo turno. Uma escandalosa fraude eleitoral está em curso!

O PT propicia lucros crescentes para as coorporações imperialistas, mas não é “o queridinho da América” hoje. Se no pré-crise de 2008, Lula era “o cara” para Obama, depois da crise, quando, no tocante às relações mercantis, o Governo Dilma trocou os EUA em recessão pela locomotiva chinesa como principal parceiro comercial, os EUA passaram a planificar como trocar Dilma. O substituto imediato seria da tradicional oposição burguesa de direita, do PSDB, que nestas eleições sinaliza abertamente que se lhe devolverem a presidência partirá para o ataque às condições de vida da população trabalhadora, ampliará a privatização da Petrobrás, elevará o preço do petróleo, cumprirá tudo que mandam os amos do norte. O quadro econômico da campanha de Aécio, Armínio Fraga (ligado ao mega especulador George Soros) defende o arrocho salarial e a redução dos gastos públicos. Mas justamente por temer que um governo do PSDB liquide suas condições de vida, as massas seguem votando no PT contra um tucanato cada vez mais exaurido. Na impossibilidade de vencer com a candidatura tradicional da direita, o imperialismo tenta criar uma alternativa ao PT a partir de rupturas do bloco governista que adotassem seu programa. Já nas eleições estaduais de 2012, vimos o crescimento espetacular do PSB, como alternativa das oligarquias nordestinas ao PT, crescimento que desembocou na candidatura Eduardo Campos em 2014, apoiado por setores do PSDB e do DEM. Mas, Eduardo era um ilustre desconhecido do grande público, ao contrário de Jornal da Liga Comunista Ano IV - NO21 - agosto de 2014 Marina que havia sido turbinada nas eleições de 2010 depois de se apresentar COMITÊ DE REDAÇÃO: Erwin Wolf, Marcelo Calasans, Davi Lapa. Jornalista Responsável: como continuadora da política econômiHumberto Rodrigues. As opiniões expressas nos artigos assinados ou nas correspondências não ca de FHC, mas se apresentando como expressam necessariamente o ponto de vista da redação. CONTATOS: lcligacomunista.blogspot. uma alternativa burguesa pós-moderna com - liga_comunista@hotmail.com - Caixa Postal 440 CEP 01031-970 São Paulo/SP - Brasil. A “de superação da velha política”. O PSB Liga Comunista é membro do Comitê de Ligação pela IV Internacional (CLQI) juntamente com o Socialist Fight (Grã Bretanha) e a Tendencia Militante Bolchevique (Argentina). era um partido fortalecido, mas sem candidato e Marina era uma candidata forta-

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Marina, a melhor candidata do imperialismo para enganar o povo lecida, mas sem partido. Nesse quadro, para o imperialismo, Eduardo Campos, como candidato a presidente desprovido de um ativo eleitoral como o de Marina, era um obstáculo aos interesses do imperialismo para trocar Dilma. Agora, explodido Eduardo Campos, candidato a presidente pelo PSB, ficou o caminho livre para que a candidatura out sider da picareta eco-imperialista Marina Silva, o Collor de 2014, ascendesse como a melhor via para quem sabe através de uma fraude eleitoral, derrotar Dilma e impor um governo que reestabelecesse o domínio completo do Brasil pelos EUA, rompendo os contratos e os acordos recém estabelecidos entre o Brasil e as potências burguesas ascendentes da China e Rússia. Diferente de 2002, quando Lula precisou fazer a “Carta aos Brasileiros” para se mostrar confiável, agora o imperialismo aposta em uma candidatura que rompa os acordos do Brasil com os rivais da Eurásia. A principal revista do capital financeiro mundial faz campanha pela ecoimperialista: “Em 2010, Silva abalou o Brasil com sua candidatura presidencial, e em particular seu uso inteligente das redes sociais. Isso fez com que ela partisse do nada para chegar no terceiro lugar, com 20 milhões de votos. Seu idealismo e probidade funcionam bem com eleitores jovens e urbanos, cansados da política de sempre.” (The Economist, Trágico Agosto, incerto Outubro, 16/08/2014). A candidatura Marina é a melhor candidata que o imperialismo dispõe hoje. Por isso, é preciso ter em mente que Marina e Aécio são os inimigos principais e realizar um duro combate de desmascaramento desta alternativa reacionária ao governo Dilma, chamando uma frente única antiimperialista contra a fraude eleitoral, a mídia imperialista, o golpismo e seus aliados do PSOL e PSTU, enquanto simultaneamente construimos uma oposição operária e revolucionária ao governo burguês do PT, como a melhor forma de fazer retroceder a direitização.


ESPECIAL ELEIÇÕES - 2014

Liga Comunista: candidaturas operárias nas eleições burguesas Assim, a Liga Comunista utiliza o terreno das eleições burguesas para propagandear suas posições, denuncia o caráter antidemocrático das mesmas e o papel reacionário do parlamento, do Estado e das instituições burguesas, visando a superação das ilusões eleitorais e constitucionais dos operários e do conjunto dos trabalhadores e a população oprimida. Nossas candidaturas denunciarão o caráter do Estado burguês e seu governo, que é o comitê executivo da política burguesa, o qual é ajudado nessa tarefa pelo parlamento e a justiça burgueses. Essas instituições não são neutras, mas existem para a manutenção do domínio da burguesia sobre os trabalhadores. Entre as características não democráticas do regime e, portanto, democratizante, denunciamos, além do viciado sistema baseado na opressão do peso econômico do grande capital sobre a eleição, do voto eletrônico (sem qualquer comprovante impresso), como um seguro do pacto burguês de governabilidade, e do “voto qualificado”, como um re-seguro deste pacto que favorece ao federalismo oligárquico nacional, expresso na fórmula do “presidencialismo de coalizão”. Tudo isto demonstra o quanto o regime democratizante brasileiro é oposto aos preceitos do voto universal, de “1 homem, 1 voto” conquistados na Revolução Francesa. Todavia, tais preceitos, revolucio-

nários na época de infância do proletariado, foram enriquecidos pela experiência da Comuna de Paris e pelas revoluções do século XX, sobretudo a Revolução Bolchevique de 1917, assumindo a luta pela tomada revolucionária do poder pelos trabalhadores, incorporando a luta pela realização de tarefas democráticas, cujo formato é o governo de conselhos proletários e camponeses, um governo soviético, única forma verdadeiramente legítima de representação dos trabalhadores. As eleições são profundamente anti-democráticas, com o controle das mesmas pelo Tribunal Superior Eleitoral, com o apoio da polícia e do Exército. O horário eleitoral é uma farsa, sendo o resultado desse controle, com o acesso real do mes-

mo apenas dos grandes partidos burgueses, com os outros partidos tendo apenas míseros segundos na TV. As candidaturas também são controladas de forma burocrática e antidemocrática. Enfim, nas eleições preponderam o poderio econômico dos bancos, das empreiteiras e grandes capitalistas que financiam os agentes do capital. Nas eleições, todos os candidatos apresentados pela LC são operários seguindo as determinações da III Internacional dos tempos de Lenin e Trotsky, que em seu IV Congresso estabeleceu como “regra inviolável” que pelo menos “90% dos candidatos partidários devem ser de trabalhadores comunistas que estejam trabalhando”. Nossos candidatos a deputado federal e estadual são,

respectivamente, Antonio Junior, metalúrgico, ex-dirigente estudantil no Amazonas, cipeiro em uma fábrica de trens de propriedade de uma multinacional e dirigente da corrente sindical Vanguarda Metalúrgica; e Levi Sotto, operário da construção civil, fundador do PT do bairro da Lapa e do núcleo operário conhecido como PT Catão (da Rua Catão), no início da década de 1980 e ativista do movimento negro. A finalidade destas duas candidaturas da LC é, em sentido amplo,

contribuir com a evolução revolucionária da consciência das massas, se apresentar como tribunos populares do conjunto da população trabalhadora brasileira, boliviana, ucraniana ou palestina nas eleições, e no sentido estrito, organizar a classe em seu local de trabalho e conquistar os simpatizantes desta campanha eleitoral bolchevique e internacionalista para a construção do partido marxista e revolucionário do proletariado.

Um chamado a vanguarda classista A Liga Comunista retoma as tradições marxistas de intervenção nas eleições burguesas. Fazemos um chamado ao conjunto da vanguarda que não possui candidatos nestas eleições para que conosco se delimite de forma rigorosa do oportunismo eleitoral, ao passo que aproveitemos essa conjuntura como tribuna de denúncia contra o próprio eleitoralismo, o trabalho escravo, as demissões, a falta d´água, de saúde, educação, habitação, o assédio moral, a repressão policial, o machismo, o racismo, o clericalismo, o arrocho salarial, o endividamento da população trabalhadora, seguindo o exemplo dos bolcheviques na IV Duma e de Karl Liebknecht, fundador da Liga Espartaco alemã, no Reichstag. É nesse sentido que chamamos a tomar como vossas as nossas canditaturas, a orgnaizar a luta no local de trabalho, a

Badayev, Petrovsky, Muranov, Samoilov, Shagov, deputados bolcheviques. À direita, Karl Liebknecht; genuínos parlamentares comunistas. votar nos candidatos operários da Liga Comunista, que intervém nas eleições para usá-las como tribuna de agitação a serviço da revolução socialista. Não de-

fender candidaturas autenticamente operárias e que fazem agitação pelos interesses imediatos e históricos da população trabalhadora, candidaturas que se opõem

a cretinismo parlamentar e eleitoral e ao oportunismo é um ato de sectarismo mesquinho, alijado de uma autêntica alternativa dos trabalhadores.

Votar nas candidaturas do Partido da Causa Operária Acerca da concessão democrática da legenda, das frentes únicas, acordos e diferenças com o PCO A Liga Comunista deliberou o apoio às candidaturas do Partido da Causa Operária (PCO) nestas eleições de 2014. Resumidamente, os motivos que levaram a Liga Comunista a apoiar a candidatura do PCO são: acordos importantes com pontos da plataforma programática apresentada pelo PCO em 2014; a concessão democrática da legenda à Liga Comunista e a outras organizações de esquerda não condicionada ao apoio ao PCO e a deliberação nacional adotada pelo PCO por não coligar-se com outros partidos com os quais a LC possui profundos desacordos políticos e programáticos; a experiência comum de um ano e meio de frentes de oposição sindicais nos trabalhadores em educação nas greves, Congressos e eleições sindicais no maior sindicato da América Latina, a APEOESP e no SINPEEM; em outras lutas, como a construção comum de manifestação pelo des-

processamento de Savas MichaelMatsas marxista intelectual, judeu e Secretário Geral do Partido Revolucionário dos Trabalhadores (EEK) da Grécia (03/09/2013); contra o golpismo da extrema direita saudosista da ditadura militar, (22/03 e 01/04/2014); e o ato político contra o fascismo e o imperialismo no Consulado Geral da Ucrânia de São Paulo (16/07/2014). Temos acordos com os seguintes pontos da Plataforma do PCO para as eleições: Não ao salário mínimo de fome: por um salário mínimo de R$ 3.500,00; Estatização dos bancos; não pagamento da dívida pública; Pela reforma agrária; Por uma jornada semanal de 35 horas; Não às demissões em massa: unir os empregados e desempregados. Ocupar as fábricas; Fim dos privilégios dos altos funcionários; Nenhum imposto sobre os trabalhadores; Fim da ocupação das comunidades operárias e contra as remoções; Por um

partido operário, revolucionário e de massas. Cumpre algumas ponderações sobre tal plataforma. No que diz respeito à palavra de ordem de reforma agrária, nós da LC concordamos com a mesma, nas áreas atrasadas do campo, como bandeira democrática. Todavia, entendemos que ela deve ser complementada com reivindicação de revolução agrária, em razão de que na área rural avançada, como, por exemplo, no Estado de São Paulo, com a industrialização e a mecanização, o que se coloca é a expropriação das grandes empresas agrárias. Vale destacar ainda a defesa da palavra de ordem de dissolução da polícia e a substituição por milícias operárias e camponesas. Embora essa consigna faça parte do programa histórico dos marxistas, utilizada, pelos bolcheviques leninistas (trotskistas) no programa de ação para a França de 1934, as candidatu-

ras pequeno burguesas de Zé Maria e Luciana Genro a abominam, enquanto o PCB acertadamente reivindica a luta pelo fim da PM. Consideramos ainda que o PCO fez mais dois acertos, se por um lado, ofereceu a concessão democrática do uso de sua legenda aos candidatos operários da Liga Comunista, concessão democrática, segundo nos informou o PCO, também disponibilizada a LER-QI e a LQB e não condicionada ao apoio às candidaturas do PCO, por outro lado, deliberou nacionalmente por não realizar qualquer frente eleitoral com outros partidos. Em 2012, a LC criticou uma coligação do PCOPCB em Teresina, cujo candidato majoritário, do PCB, reivindicava políticas públicas burguesas. Em sua política de frente única com o PCO, em todos os âmbitos da luta de classes internacional ou nacional, a LC mantém sua completa independência política, reali-

zando e recebendo críticas públicas com relação o PCO, publicadas nos nossos periódicos e no blog da Liga Comunista. Diferente dos acordos entre os partidos burgueses e pequenos burgueses, baseados ora no fisiologismo oportunista, ora no ultimatismo burocrático, a concessão democrática da legenda pelo PCO não torna a LC responsável, ainda que apenas em parte, pela linha política do PCO. Desde o primeiro momento, o PCO não condicionou a que a LC baixasse qualquer uma de suas bandeiras, nem se furtasse de qualquer crítica, ficou claro que a LC pudesse realizar plenamente sua agitação e sua propaganda, em seu próprio nome e com sua plena independência política. Agradecemos a concessão da legenda do PCO a LC, uma iniciativa progressiva nesta eleição de 2014. FdT 21 - agosto / 2014

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ESPECIAL ELEIÇÕES - 2014

Candidaturas pequeno burguesas e o cretinismo parlamentar Passado um ano das jornadas de junho, a antiga “Frente de Esquerda” (PSOL, PSTU, PCB) se encontra mais debilitada e fragmentada do que nunca. Isto é uma das provas que o campo político da Frente de Esquerda é incapaz de capitalizar e desenvolver progressivamente o descontentamento das massas pela esquerda do governo burguês com influencia de massas do PT, no máximo, como tem demonstrado a atuação parlamentar do PSOL e as políticas sindicais e internacional do PSTU, são a extrema esquerda da oposição de direita tucana ou eco-imperialista. Em segundo lugar, o PSOL, mas também o PSTU, depois das eleições passadas (2012) quando abandonaram qualquer pudor em relação ao vale tudo eleitoral demonstraram que “estão em outra” política muito distinta da de apostar na construção do movimento de massas insurgente contra o poder burguês e com os métodos e recursos da classe trabalhadora. Não é por acaso que a escandalosa caixinha que Luciana Genro havia feito com a Gerdau e com a Taurus, virou “troco” na frente da lambança junto ao empresariado que fez a candidatura Edmilson, apoiado pelo PSTU e PCdoB. E

já em 2014 a própria Luciana volta a ser patrocinada pela grande burguesia, do grupo Zaffari, com 50 mil reais, “dinheiro de pinga” é verdade, mas o suficiente para estes oportunistas venderem até a mãe e também todos os princípios de independencia financeira e política. A FALÊNCIA DA FRENTE DE ESQUERDA E AS TAREFAS DOS REVOLUCIONÁRIOS Como a LC já caracterizou, a rigor, o PSOL já não é mais um partido pequeno burguês, apesar de um setor da pequena burguesia ser sua base social predominante, mas um partido marginal da burguesia, com candidaturas que defendem inclusive o imperialismo anão de Israel contra os Palestinos. Não é por acaso que apesar de todo o custo político, o PSTU condenou a juventude que se apresentou como tropa de choque das lutas populares usando a tática dos Black Blocs, para não ser mal afamado como um partido que apóia “vândalos” e “baderneiros”, ou seja, no século XXI o PSTU não quer sequer a “má fama”, em seu entendimento e no entendimento da classe dominante, que possuía

o PT na década de 1980. O PSOL busca a todo custo angariar cargos no parlamento para se realizar como partido eleitoralista, mesmo que para isso seja necessário liquidar-se como uma sublinha de Marina Silva, à espera de pegar carona na ascensão de algum fenômeno popular da oposição burguesa com o desgaste do PT. Enquanto a direita disfarçada (Marina) não derrota o PT, o PSOL fica em compasso de espera, limitando-se, por enquanto, a governar o capitalismo microregional, como a prefeituras de Macapá, apoiada na direita (DEM, PSDB, PTB) contra os professores em greve, e de Itaocara, dirigida pela CST/UIT, que depois de algumas rusgas iniciais chegou a um acordo com os pau-mandados locais de Garotinho (PR). Após o aborto da conformação de uma central sindical comum da esquerda pequeno burguesa PSOL-PSTU, e excepcionalmente beneficiado por uma política eleitoral oportunista de 2012, que lhe rendeu dois vereadores em capitais, o PSTU deu um giro à direita, do sindicalismo ao cretinismo parlamentar. No sindical, o PSTU se revelou um pequeno organizador de grandes derrotas para a classe

e acordos traidores com os patrões, abrindo mão de direitos dos trabalhadores, como quando das demissões da Embraer, da GM no Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e no Sindicato dos metroviários de São Paulo. Adaptando-se a ofensiva golpista do imperialismo no campo internacional, a LIT adotou um política pró-imperialista, defendendo e embelezando os mercenários da CIA como “revolucionários” na Síria, Líbia, Ucrânia e o golpe de Estado no Egito. É preciso desmascarar o oportunismo eleitoreiro do PSOL e PSTU que participam do circo burguês sucumbindo ao cretinismo parlamentar e apresentar candidaturas ao parlamento de um novo tipo, operárias e revolucionárias. O PCB, apesar dos esforços recentes por superar o etapismo stalinista, segue em busca da constituição de um “bloco histórico” com partidos de esquerda que lutem por um “poder popular”, ou seja, buscam um etapismo envergonhado das frentes populares de colaboração de classes, aliando-se eleitoralmente aos oportunistas do PSOL em vários Estados.

PT adota o programa policialesco da direita, negociando 4o mandato O aburguesamento do PT e PCdoB, consolidado na década de 1990, seguido pela integração precoce do PSOL e do PSTU ao regime, nos anos recentes, colocam na ordem do dia a necessidade de um movimento pela construção de um partido trotskista do proletariado na era pósLula, que supere tanto os desvios oportunistas das direções tradicionais e dos neopelegos, quanto os sectarismos e a autoproclamação que semeia a aridez e esterilidade em nosso meio. A crise capitalista de 2008, detonada nos EUA, abriu um novo período dentro da etapa imperialista, fragilizando a correlação de forças dominante até então, marcada pela “Pax Americana”. O Brasil, governado pelo PT tornou-se membro dos BRICS. É um aliado de um novo bloco de nações semicoloniais e potências regionais burguesas ascendentes dirigidas pela Rússia e a China, mas o PT se mostra incapaz não só de defender os seus dirigentes históricos da perseguição judicial da direita pró-imperialista, como também

é incapaz de oferecer uma resistência ao golpismo dos EUA, que reluta em perder o terreno para o bloco Eurásico manobrando com golpes de Estado. O PT barganha sua sobrevida em um terceiro mandato na direção do Estado oferecendo a privação das condições de vida das massas e até do direito delas reagirem como moeda de troca para o imperialismo. O PT pavimenta o caminho da reação, quanto mais vê seu quarto mandato ameaçado. Antecipa-se candidatandose a desferir ele os ataques que o imperialismo exige e executará seguramente com a volta ao poder do atual bloco partidário composto hoje pela oposição de direita. Dispondo de seus mega aparatos judiciais coercitivos, repressivos e tropas de elite, os governadores dos principais Estados do país, São Paulo e Rio de Janeiro, postulantes a ocupação do Planalto, se esmeram para demonstrar o quão são funcionais no esmagamento do proletariado para a imposição da recolonização do país no pós-crise de 2008.

Disputar a consciência e construir o partido Neste cenário, a Liga Comunista, por meio de seus candidatos operários, atuará nas eleições, para disputar a consciência das massas em favor da construção de uma oposição operária e revolucionária ao governo Dilma ao mesmo tempo em que invocamos a necessidade de combinar esta via de alternativa de poder proletária com a tática da frente única antiimperialista contra a oposição de direita e todos seus satélites oportunistas. A LC vai propagandear o seu programa transicional das condições objetivas atuais para a revolução social, proletário e trots-

kista, denunciar o caráter anti-democrático da eleições burguesas e o papel reacionário do parlamento, do Estado e das instituições burguesas, visando contribuir para a superação das ilusões eleitorais e constitucionais dos trabalhadores, operários e do conjunto da população oprimida, no sentido da formação de um partido operário, marxista e revolucionário, seção brasileira da IV Internacional reconstruída, objetivando um governo operário e dos trabalhadores, isto é, a ditadura do proletariado.

O cretinismo abstencionista Não podemos deixar passar em branco o cretinismo abstencionista e antiparlamentar. Como bem denunciou Trotsky (“Espanha, última advertência”). Esta é a política dos agrupamentos que, sob a influência de um típico radicalismo liberal pequeno burguês e do ceticismo, passaram a defender o boicote ou o voto nulo, não como tática diante de uma conjuntura adversa, mas já como princípio para encobrir sua acomodação militante. Isto

é coerente com uma militância cada vez mas restrita ao mundo virtual. Ao contrário, a LC, em 2010 e 2012, defendeu o boicote e o voto nulo, respectivamente, mas realizou uma verdadeira campanha de agitação nos bairros e concentrações proletárias, com vendagem de jornais, panfletagens, pichações em muros, estações ferroviárias, reuniões em local de trabalho, etc.

LITERATURA

“O homem que amava os cachorros” Erwin Wolf “O HOMEM QUE AMAVA OS CACHORROS”, romance de Leonardo Padura Fuentes, de 589 páginas, publicado pela Boitempo Editorial, é um livro apaixonante, que tem como roteiro a obra de Leon Trotsky, inicialmente “Minha Vida”, passando pelo “Programa de Transição” e chegando ao “Diário do Exílio”. O autor conheceu, em Cuba, Ramón Mercader, ou Jacques Monard, assassino de Trotsky. Ramón espanhol, descendia de cubanos. A obra é maravilhosa, sendo que em apenas dois terços de uma página, a 337, Padura se perde, ao relegar a teoria da revolução permanente, a necessidade da revolução proletária em nível internacional, ao

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mencionar que “Aqueles dez anos acabaram por ser, além disso, os que viram nascer e morrer as esperanças da perestroiska e que provocaram em muitos o espanto gerado pela abertura da glasnost soviética (...)” e ao criticar do ponto de vista pequeno-burguês os regimes estalinistas de Ceausescu na Romênia, do Kmer Vermelho do Camboja de Pol Pot, e falar “da revelação dos horrores da sua Revolução Cultural genocida”, ao se referir ao regime maoista, concluindo que “Aqueles foram os tempos em que se concretizou o grande desencanto”. Menos de uma página é muito pouco. Não compromete a obra, porque ela toda desdiz esse trecho, uma vez que Padura reproduz, de forma romanceada, a trajetória da luta política e teórica de

Trotsky a partir de seu último exílio. No sábado, dia 9 de agosto passado, a SPORTV3 apresentou um programa sobre os esportes em Cuba na atualidade. A televisão mostrou que, a partir do fim da URSS, Cuba sofre os efeitos econômicos, com os esportistas cubanos partindo para o exílio. Hoje, Cuba está reconstruindo o trabalho esportivo, inclusive contratando estrangeiros. Paga bem aos atletas, ou seja, R$ 150 reais que, pasmem, dá para viver bem na Ilha, como dito pelos dirigentes cubanos, pois a água, luz, gás, tudo é subsidiado pelo governo. Durante o programa, foi apresentado Leonardo Padura como o maior escritor cubano da atualidade. Entrevistado, Padura disse que o seu livro que estamos comentando teve

tradução para vinte idiomas; que possuía uma biblioteca com 4.000 livros; e que se orgulhava de viver num país que praticamente não tinha analfabetos. Padura ganhou diversos prêmios, como o Prix Initiales, o Prix Roger Caillois, na França em 2011, o Premio de la Critica, em Cuba em 2011, o XXII Prix Carbet de La Caraibe, em 2011, e o V Premio Francesco Gelmi di Caporiacco, na Itália, em 2010. Finalmente, em 2012, ganhou o Premio Nacional de Literatura de Cuba pelo conjunto de sua obra.

PEDAGOGIA, FUTEBOL, POSMODERNISMO E DESINDUSTRIALIZAÇÃO

Em defesa da educação coletivizada!

Humberto R. e Leon Carlos A despeito de nossas profundas diferenças políticas com Mao, não sendo stalinofóbicos, reivindicamos a frase seguinte onde ele faz um apelo à juventude prévio a revolução cultural, uma afronta a educação burguesa, individualista, competitiva, que hoje sob o pósmodernismo reforça cada vez mais a meritocracia: “Os estudantes deveriam ter o direito de consultar-se durante as provas e de colar. Deveriam poder apresentar-se em uma prova com o nome de outro candidato. A única coisa que importa é ter boas respostas e é positivo que estas sejam copiadas pelos outros. Os estudantes devem, por outro lado, ter o direito de dormir quando as aulas são dadas por professores ruins.”, Mao Tse Tung em “Instruções de 13 de fevereiro de 1964”. Mao buscava um método educativo em um país que faltavam professores, no fundo realizava uma adaptação do método de Lancaster para o Estado operário, e não por casualidade, tanto na Inglaterra como na China, este método pedagógico foi empregado quando começava a urbanização do país, quando rapidamente a força de trabalho deveria adquirir novos conhecimentos, mas que todavia não haviam educadores suficiente para fazê-lo e era necessário suprir esta carência com o trabalho em equipe e inclusive foi nesta época que se estimulou e se desenvolveram no mundo anglo-saxão os esportes em equipe, como o futebol (uma vez que como todos sabemos, o esporte também educa). Era preciso superar o trabalho individual, próprio de camponeses e artesãos, para desenvolver o trabalho em equipe com maior rendimento próprio da industrialização. Não por acaso, em uma era decadente do pós-moderno e individualismo que vivemos no ocidente imperializado (a exceção é Cuba), que tem como base infraestrutural a desindustrialização, mesmo o futebol é cada vez mais visto, como espetáculo, e menos jogado. Já não se forma tanto uma aprendizagem em equipe, mas esportes cada vez mais barbarizados e individualistas, que marcam uma tendência reacionária.


METALÚRGICOS

Operários ocupam agência do INSS de Indaiatuba (SP) contra a criminosa aliança da instituição com os patrões Antonio Junior

Contra o desemprego, CUT propõe o subemprego Indústrias do ABC demitiram 6.351 trabalhadores em 2014 e burocracia cutista defende redução de jornada com redução de salário Erwin Wolf O Ministério do Trabalho informou que as indústrias do ABC demitiram 6.351 trabalhadores em 2014, conforme dados do CAGD (Cadastro Geral dos Empregados e Desempregados), segundo Leone Farias, do Diário do Grande ABC de 12 de julho. Por outro lado, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo, Rafael Marques, informou que há 2.300 trabalhadores em lay-off (suspensão temporário dos contratos de trabalho) na região. “SISTEMA DE PROTEÇÃO AO EMPREGO” OU SISTEMA DE ARROCHO SALARIAL PARA PROTEÇÃO DOS LUCROS PATRONAIS? Como solução para o problema da queda das vendas, da produção e dos postos de trabalho, o burocrata custista informou que “pediu o apoio do ministro para que saia do papel projeto de sistema de proteção emprego. O plano é inspirado em modelo alemão de flexibilização da legislação trabalhista, para permitir que, em momentos de crise, seja possível a redução da jornada, com a diminuição do valor pago pelas empresas aos funcionários, mas com a complementação dos salários por meio de verba do FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço) ou do FAT (Fundo de Amparo do Trabalhador).” (idem). O ministro a que se refere o burocrata é Ricardo Berzoini, da Secretaria de Relações Institucionais. Assim, a CUT passa a defender a

redução da jornada com a redução do salário, rasgando uma bandeira histórica do movimento operário para resguardar o lucro patronal diante da desaceleração das vendas de automóveis. Se dependermos desses pelegos, vamos voltar a escravidão do século XIX. PELA ESCALA MÓVEL DE HORAS E SALÁRIOS REPOSIÇÃO DAS PERDAS SALARIAIS JORNADA DE 35H TRABALHAR MENOS PARA QUE TODOS TRABALHEM! A Vanguarda Metalúrgica, corrente impulsionada pela Liga Comunista e independentes classistas nas fábricas, acredita que o proletariado não pode esperar outra coisa destes pelegos, carreiristas sedentos de cargos no Estado burguês e vendidos para os patrões e seus governos, particularmente para o governo federal encabeçado pelo PT, nem pode ficar parada diante deste profundo ataque as suas condições de trabalho, precisa construir grupos classistas de fábrica clandestinos e organizar o contra-ataque para derrotar essa política nas assembleias sindicais, nas eleições de CIPA, para aprovar a deflaragração de uma greve em repúdio a qualquer tentativa da redução salarial. Vanguarda Metalúrgica defende a escala móvel de horas e salários, a redução da jornada de trabalho sem redução do salário e inclusive com reposição das perdas salariais. Nosso lema contra o desemprego deve ser Trabalhar menos para que todos trabalhem! E pela redução da jornada de trabalho para 35h semanais.

No dia 08 de agosto de 2014, pela primeira vez os metalúrgicos ocuparam a agência do INSS de Indaiatuba, cidade que compõe o cinturão industrial de Campinas. Apesar do amedrontamento inicial dos funcionários da instituição e da direção da mesma, que convocou todo o aparato repressivo policial da cidade contra o protesto dos metalúrgicos (ver foto abaixo), surpreendidos com a ação convocada pelo Sindicato dos Metalúrgicos de Campinas e região (Intersindical/ASS), os operários não foram destruir o prédio ou agredir, mas apenas exigir que o órgão atendesse aos trabalhadores lesionados vítimas do regime de trabalho que adoece, aleija e mata, em vez de continuar cumprindo o papel criminoso a favor dos patrões que impõem ritmos e jornadas de trabalho massacrantes. Um dos golpes principais desta política anti-operária praticada pela instituição governada por Dilma (PT) é a negação da concessão ao direito de abertura de Comunicados de Acidente de Trabalho (CAT) com o benefício B-91 (o auxílio por doença acidentário), que obriga a empresa a dar outra função e a garantir estabilidade de 12 meses para o acidentado. Em vez deste, o INSS concede apenas o B-31 (auxilio por doença previdenciário), que não garante nenhuma estabilidade ao trabalhador que sofreu acidente de trabalho, permitindo assim que a empresa que o acidentou livre-se dele, demitindo-o. Depois do ato, o Sindicato comprometeu-se a fazer um levantamento minucioso de todos os casos em que os operários lesionados foram prejudicados pela negação da concessão do B31 e pela redução de seu direito com a transformação de seu caso de B91 para B31, a fim de que o INSS reanalise a todos. Dentre os casos mais evidentes de parceria criminosa entre o patronato e o INSS citados na reunião entre o sindicato e o representante regional do INSS, realizada durante a ocupação da agência. estão o da Toyota, Filtros Mann, Mahle. A montadora japonesa, por exemplo, impõe um ritmo alucinante de pro-

dução aos seus metalúrgicos de um carro a cada 2 minutos e 40 segundos. Por isso, mais de 120 operários encontram-se lesionados mas estão precisando brigar para que o INSS reconheça sua lesão e garanta. Por sinal, tal conduta criminosa, praticada pela multinacional fabricante de computadores, DELL, três dias antes do ato no INSS, matou de ataque cardíaco fulminante a uma operária que foi ao ambulatório da fábrica queixando-se de dor no peito. A empresa não apenas negou socorro a funcionária como impediu que a mesma pudesse sair da fábrica para ir ao hospital, obrigando-a a voltar para o trabalho. As empresas praticam fraudes descaradas contra os direitos dos trabalhadores e para sonegarem impostos. Os patrões se negam a abrir o CAT dos operários, porque também o recolhimento da folha das empresas da contribuição social para a previdência social é feito com base na quantidade de acidentes que são notificados em cada empresa, então, quanto menos acidentes de trabalho uma empresa possuir, menor será o valor que ela vai pagar de contribuição assistencial. Fica claro que o Estado, no caso, o INSS, não passa de testa de ferro dos patrões quando, os peritos do INSS desprezam os CATs abertos pelo Sindicato e sequer fazem a perícia nos trabalhadores para identificar a lesão, enfermidade. Um cipeiro desmascarou inclusive a um perito do INSS que também trabalhava como perito particular contratado por uma empresa para dar laudos favorável a mesma. Por isso, os manifestantes exigiram que nenhuma perícia (nem a judicial nem a visita de reabilitação) mais

se realizasse com os metalúrgicos lesionados sem a presença do sindicato. Orador da atividade, juntamente com o Sindicato, delegados sindicais, cipeiros e lesionados da Honda, Foxconn, Toyota, Sansung, etc., o camarada Antonio Junior, militante da Liga Comunista e dirigente da tendência Vanguarda Metalúrgica, denunciou o conluio das empresas com os convênios para que estes últimos se neguem a emitir atestados para os trabalhadores e a aliança entre os patrões e o Estado para que este último não aceite qualquer caracterização do INSS com doenças relacionadas ao trabalho, reivindicando, como está no programa da LC a redução da jornada de trabalho para 35 horas, sem redução de direitos e salários e a emissão e reconhecimento dos Comunicados de Acidente Trabalho por parte do INSS com beneficio B-91, em defesa da luta pela estabilidade plena no emprego para os lesionados. Como parte da luta por elevar a consciência dos trabalhadores, como a que demonstra o caráter patronal do Estado e de suas instituições e a necessidade da estratégia revolucionária por um governo operário e dos trabalhadores, bem como da necessidade da unidade internacional do proletariado contra o imperialismo e seus agentes, a militância bolchevique e internacionalista da Liga Comunista também distribuiu amplamente para os metalúrgicos do protesto e para os usuários da agência presentes a declaração do Comitê de Ligação pela IV Internacional “Palestina Vencerá! Abaixo Israel! Por uma Palestina Operária Multiétnica!”

ENTREVISTA REALIZADA POR DAVI LAPA, DO FDT, AO PROF. JOSÉ DE LIMA SOARES

“A Oposição Sindical Metalúrgica de São Paulo buscava integrar o sindicato e outros organismos de resistência operária na perspectiva da luta de classes.”

Folha do Trabalhador – Prof. Soares, como e quando se formou a Oposição Metalúrgica de São Paulo? R. Em primeiro lugar, gostaria de dizer que, inicialmente, quando ingressei na categoria metalúrgica, não era membro da Oposição Metalúrgica. Aliás, organicamente, nunca militei no MOMSP. Eu pertencia a um grupo trotskista, liderado por Paulo Skromov, pois havíamos rompido, em 1977, com a Organização Socialista Internacionalista (OSI), filiada ao Comitê de Reconstrução da Quarta Internacional (CORQUI, com sede na França). Essa organização mantinha, em suas fileiras, algumas figuras reconhecidas a nível internacional, dentre eles: o historiador Pierre Broué, o econo-

mista François Chesnais e Pierre Lambert. Então, quando saí do setor gráfico e vim para a categoria metalúrgica, começamos a editar um jornalzinho que se chamava o “Metalúrgico Independente”. Ou seja, já tínhamos um expressivo grupo de militantes atuando na categoria metalúrgica (que não pertencia a Oposição Metalúrgica). Só muito tempo depois, é começamos a participar das reuniões da Oposição, mas sempre mantivemos nossa autonomia. Historicamente, a Oposição Sindical Metalúrgica, como movimento, surge a partir de meados dos anos de 1960. Com o golpe militar, em 1964, a ditadura cassa os dirigentes sindicais combativos e implementa a política de intervenção nos sindicatos. É aí que surge a figura de Joaquim dos Santos Andrade (o Joaquinzão) que, embora fosse trabalhador metalúrgico, já era homem de confiança dos militares. Sem sombra de dúvida, a Oposição Sindical Metalúrgica (depois MOMSP). Ao longo de uma trajetória de mais de vinte anos, a OSM-SP (como passa a ser referida) afirmou-se como uma frente de trabalhadores, centrada em um programa de defesa de um sindicalismo livre, democrática e de massa e pela auto-organização dos trabalhadores nas fábricas, através de grupos e comissões orientados pela perspectiva de uma independência política e ideológica dos organismos operários. Seu objetivo imediato foi o de conquistar a diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos do Município de São Paulo, pela

via das eleições sindicais, portanto, por dentro da estrutura, assentada no apoio e na organização de base nas fábricas do centro da maior concentração operária do país. A OSM desenvolveu uma ação que buscava integrar o sindicato e outros organismos de resistência operária na perspectiva da luta de classes. Atuando dentro da estrutura sindical subordinada ao Estado e fora, a partir da fábrica, com uma prática direcionada para a construção de um sindicalismo de massa e democraticamente organizada com uma prática classista. FdT – Qual a sua participação na fundação do Partido dos Trabalhadores e na luta contra a Ditadura Militar? R. Sem dúvida, a fundação do PT foi muito importante para os trabalhadores brasileiros. Tive a oportunidade de participar desde o primeiro momento de sua fundação (como delegado), no Colégio Sion, em 10 de fevereiro 1980. Mesmo com a vigência da ditadura militar, havia um forte ascenso de massas que grassava em todo país. Esse foi um momento muito importante para a organização e mobilização dos trabalhadores. Nesse sentido, faço um balanço positivo de momento histórico. O problema do PT é que seu processo de degenerescência foi bem mais rápido do a velha socialdemocracia e os partidos ditos comunistas. Falo de tudo isso em meu livro O PT e a CUT nos 90: Encontros

e desencontros de duas trajetórias. Sabíamos que o PT - como partido de massa – não tinha nenhum perspectiva de se converter em um partido revolucionário, mas acreditouse (inclusive eu), durante um certo período, que fosse possível impulsionar as direções centristas, sindicalistas, no sentido de organizar e mobilizar os trabalhadores para a luta contra o capital. O que para um partido, com as características do PT, já seria um salto qualitativo de suma importância. O PT tinha, no seu horizonte, uma plataforma vaga, no que diz respeito ao socialismo, à emancipação dos trabalhadores, um governo de trabalhadores etc. Creio que nunca passou (pelo menos para aqueles revolucionários abnegadamente sérios) de que o PT fosse fazer a revolução no Brasil. O PT nunca teve essa vocação estratégica! Mas esperávamos que cumprisse um papel fundante: o de lutar pela independência de classe. Mas isso não foi levado adiante. FdT – Qual era a conjuntura política da época ? Quais eram as tendências políticas precursoras do PT da Lapa? Qual o balanço que o Prof. faz da atuação da Organização Quarta Internacional, que editava o Jornal Causa Operária na época ? R. Minha militância política começa muito cedo, no Estado da Paraíba. Lá, em 1969, fui preso, juntamente com outros jovens companheiros, quando ainda era menor de idade, por participar do movimento estu-

dantil secundarista, ligado ao Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR), uma organização clandestina, que havia rachado com o velho “Partidão”. Já, em São Paulo, nos anos de 1970, ingressei na Quarta Internacional, através do companheiro Paulo Skromov. Já falei dessa passagem pela OSI. Na Causa Operária, minha passagem foi bem mais rápida, mas no período de 1982, realizamos importantes atividades, desde campanhas contra o desemprego, a participação na Campanha Eleitoral, quando saí candidato a deputado estadual pelo PT, obtendo quase seis mil votos. Tudo isso foi importante para o avanço da consciência da classe trabalhadora. Em seguida, fui para Convergência Socialista, de onde saí para atuar no MTM (Movimento Por uma Tendência Marxista), que incorporava militantes de diferentes origens e ramificações políticas. Me desfiliei do PT, nos anos de 1990, me aproximei dos marxistas independentes, e hoje, atuo no movimento sindical, juntamente aos companheiros do PSTU e do PSOL. Não estou filiado a nenhuma organização política, mas sigo defendendo a ideia da centralidade do partido na luta pela emancipação dos trabalhadores e a construção de uma nova sociabilidade “para além do capital”. Leia na íntegra a Entrevista do Professor Soares: http://lcligacomunista.blogspot.com.br/2014/08/entrevista-prof-josede-lima-soares.html FdT 21 - agosto / 2014

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DECLARAÇÕES DO COMITÊ DE LIGAÇÃO PELA IV INTERNACIONAL TEORIA LENINISTA

China e Rússia não são Estados imperialistas Declaração do Comitê de Ligação pela Quarta Internacional - CLQI Junho de 2014 É necessário polemizar contra a justificativa ideológica adotada tanto pela posição pró-imperialista quanto pelo “terceiro-campismo” de “nem Moscou nem EUA/UE/OTAN, mas com a classe trabalhadora internacional!”; que qualifica a Rússia e a China como países imperialistas (“Imperialismo Oriental”). Portanto, para os que pensam assim qualquer conflito entre China e Rússia, ou de ambos, contra o imperialismo global dominado pelos EUA (“Imperialismo Ocidental”) não passaria de um conflito entre potências imperialistas rivais e, portanto, os socialistas revolucionários não deveriam apoiar nenhum dos dois lados nessa guerra. Deveríamos, seguindo essa concepção errônea, defender o derrotismo revolucionário tanto para nós como para a classe operária russa/chinesa, ou seja, eles deveríam defender a derrota de sua própria burguesia, a fim de combater o chauvinismo imperialista que varre as massas em tempos de guerra através de seus principais instrumentos dos tempos modernos, os partidos trabalhistas, social democratas e a burocracia sindical. Acreditamos que isso está fundamentalmente errado, ou seja, acreditamos que nem a Rússia nem a China são potências imperialistas no sentido marxista e que, portanto, diante de qualquer conflito entre o imperialismo e estes Estados é necessário formar uma Frente Única Anti-imperialista separadamente ou em conjunto com eles caso sejam simultaneamente atacados. O equilíbrio de forças a nível internacional não é equivalente aos períodos anteriores à Primeira ou Segunda Guerra Mundial, quando blocos de poder do imperialismo aproximadamente iguais enfrentaram-se uns aos outros; agora o poder econômico e militar está esmagadoramente com o imperialismo dos EUA e seus aliados da OTAN. Em termos marxistas, “imperialismo” tem um significado preciso que é o domínio do capital financeiro. Tomamos esta citação de Trotsky em 1939, quando os antigos impérios semifeu-

dais da pré-Primeira Guerra Mundial encontravam-se na lata de lixo da história: Sem dúvidas, a força propulsora da burocracia de Moscou é a tendência em expandir seu poder, seu prestígio, seus investimentos. No sentido amplo da palavra, este é o elemento de “imperialismo”, que no passado era próprio de todas as monarquias, castas dirigentes, Estados e classes medievais. No entanto, na literatura contemporânea, pelo menos na literatura marxista, se entende por imperialismo a política expansionista do capital financeiro, que possui um conteúdo econômico perfeitamente definido. Utilizar a palavra “imperialismo” para a política externa do Kremlin – sem esclarecer perfeitamente o que significa – equivale, simplesmente, a identificar a política da burocracia bonapartista com a política do capitalismo monopolista, baseados no fato de que tanto uma como a outra utilizam sua força militar para a expansão. Semelhante identificação, capaz unicamente de semear a confusão, é muito mais própria de democratas pequeno-burgueses do que de marxistas.” Por exemplo, a China e o Japão são de longe os dois maiores detentores de ações e títulos do governo estadunidense, os quais são obrigados a comprar para desovar seus excedentes de dólares e manter em aberto o mercado consumidor dos EUA, de longe o maior do mundo. Mas essas ações e títulos pagam apenas entre 1% a 2% de juros ao passo que os IEDs dos EUA na Rússia e na China rendem mais de 20% de juros. E o dólar como moeda de negociação não só do petróleo, mas também da maioria das outras commodities do planeta dá aos EUA uma enorme vantagem; alguns diriam que isso é a coisa mais importante que detém o mercado mundial. [Tendo o dólar como garantia, em finanças: lastro, o domínio militar imperialista sobre o globo] a contínua ameaça a esse monopólio global pode ser razoavelmente compreendida como a principal causa para a guerra contra o Iraque em 2003, contra a Líbia em 2011 e contra a Ucrânia em 2014. Se os EUA perderem essa imensa vantagem, seus dias de império estarão realmente contados.

Combinado a isso estão os sucessivos ataques de Quantitave Easing, ou seja, de desvalorização do dólar que reduz o valor das reservas em dólar da China e Rússia, em particular, mas também do Japão, dos Estados do Golfo, do Brasil etc. E há a questão da exploração de ouro. Há rumores de que os EUA saquearam as reservas de ouro da Líbia no final da guerra em 2011, não devolveu para a Alemanha a suas barras de ouro como Merkel solicitou no final de 2012 e ainda por cima acabaram saqueando toda a reserva de ouro da Ucrânia em 7 de março de 2014, cerca de 1,8 bilhão de dólares. Por esses mecanismos o mundo inteiro é forçado a subsidiar a economia dos EUA. A Rússia e a China nada mais são do que países semicoloniais, embora sejam grandes e avançados. Eles não estão ligados à rede mundial do imperialismo estadunidense da mesma forma que os imperialismos menores como a Holanda e a Bélgica ou seus aliados mais semelhantes, ainda que subordinados, como o Japão, Alemanha, Itália, Espanha e Canadá. Não, eles estão em um nível superior de países semicoloniais e se reconhecem como tal, aliando-se ao BRICS; Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Esboçamos o desenvolvimento de três correntes distintas dentro da extrema-esquerda, a direita que tomou uma posição pró-Maidan na Ucrânia, cujos exemplos mais extremos são os signatários da Declaração da Campanha de Solidariedade Socialista da Ucrânia de Chris Ford; Labour Representation Committee, Socialist Workers Party, Revolutionary Socialism 21, A World To Win e Socialist Resistance (FI) e, internacionalmente, o CWI-CIT (Comitê por uma Internacional dos Trabalhadores, cuja seção no Brasil é a corrente LSR do PSOL) e o PSTU do Brasil, principal corrente da LIT. No campo centrista, algumas organizações giraram à esquerda em relação à Ucrânia, aproximando-se dos trotskistas revolucionários que desde o início tomaram uma firme posição anti-imperialista sobre a Líbia e a Síria. Rechaçamos as teorias de que a luta de classes internacional está sendo impul-

sionada pelos conflitos interimperialistas entre o Imperialismo Ocidental, dos Estados Unidos, e o Imperialismo Oriental, da Rússia e China (inclusive na Venezuela, onde o LCC – Comitê de Ligação dos Comunistas – sugere ridiculamente que o conflito é o resultado das incursões da China no quintal dos EUA). Por uma campanha de solidariedade internacional para defender o que é agora a Novorossiya (Nova Rússia) do leste da Ucrânia e sua classe trabalhadora organizada dirigida pela União Borotba e pelo Partido Comunista da Ucrânia. Por uma Frente Única Antiimperialista com o “diabo e sua avó”, incluindo o próprio Putin, como demandas da classe trabalhadora em relação à Rússia para defendê-la contra o ataque fascista de Kiev. Por fim, esta orientação é impulsionada principalmente a fim de construir uma nova direção da classe operária socialista revolucionária como parte de uma Quarta Internacional reconstruída. • Defender a União Novorossiya contra os ataques fascistas, esmagar o ilegal

regime de Kiev instalado pelos EUA/ CIA! • Formar milícias operárias armadas para defender as sedes, edifícios e organizações da classe trabalhadora! • Nenhuma confiança nos oligarcas corruptos, nacionalizar suas fábricas, sistemas de transporte e terras! • Esmagar o regime reacionário e próimperialista de Kiev! • Por uma Frente Única Anti-imperialista com todas as forças que estão lutando agora contra os fascistas! • Exigir assistência material de Putin em armas e tropas para derrotar a conspiração global dos EUA contra a Rússia, China, Síria, Irã e Venezuela! • Avançar na construção de uma direção socialista revolucionária ucraniana, uma seção da Quarta Internacional reconstruída! Leia na íntegra a Declaração: http://lcligacomunista.blogspot.com.br/2014/06/ teoria-leninista.html

DERRUBADA DO BOEING 777 NA UCRANIA

Mais uma farsa do terrorismo imperialista Declaração do Comitê de Ligação pela IV Internacional - CLQI Julho de 2014 O KNOW HOW DA CIA EM ATAQUES “SOB FALSA BANDEIRA” PARA CULPAR O ADVERSÁRIO A derrubada do Boeing 777, vôo MH17 da aviação malaia, enquanto esse sobrevoava o espaço aéreo do leste ucraniano, representa o mais recente capítulo da guerra imperialista para esmagar a resistência antifascista da Novarússia, e acuar a Rússia. Morreram no ataque cerca de 300 pessoas, entre elas, 80 crianças, e mais de 100 cientistas, especialistas em HIV, que se dirigiam a um Congresso Internacional sobre AIDS na Austrália. É provável que a cura para a AIDS possa ter sido adiada por causa desta catástrofe. Acreditamos que o autor deste ataque foi o governo ucraniano, a serviço da OTAN e da CIA. Mas o imperialismo, como se já tivesse preparada uma campanha midiática antes do fato, imediatamente saltou a acusar a resistência antiimperialista e antifascista pela derrubada do avião civil. Simultaneamente, a grande mídia burguesa planetária faz uma campanha horrenda, dizendo que a resistência ucraniana, armada com mísseis pela Rússia, foi quem derrubou o Boeing. CUI PRODEST? QUEM SE BENEFICIA DERRUBANDO O VÔO MALÁSIO NA UCRÂNIA? A quem favorece este crime? Os criminalistas colocam entre os prováveis criminosos as pessoas a quem o delito podia beneficiar. A derrubada do Boeing 777 ocorreu em um momento difícil para os EUA. Nestes dias, o núcleo Eurásico, em torno da

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China e da Rússia, se fortaleceu e, de certo modo, ampliou sua blindagem econômica e diplomática, com a reunião de Cúpula dos BRICS, ocorrida no Brasil. Os BRICS estão sendo seguidos por uma constelação de países como a própria Malásia, Indonésia, Turquia, Irã, Síria, Venezuela, Bolívia, Equador, Argentina. A criação do Banco dos BRICS engendra a dês-dolarização do comércio mundial. Isto cai como uma bomba na guerra comercial que antecede a III Guerra Mundial. Somado a este “ataque” comercial, na verdade trata-se nada mais nada menos de que uma limitada autonomia econômica de comércio mais barato para um punhado de países semi-coloniais do globo, outro movimento importante do bloco Eurásico, que desafia o imperialismo, é a construção de um novo canal de navegação na America Central, na Nicarágua, pelo bloco Eurásico. Mesmo no século XXI, na “era espacial” as rotas marítimas continuam sendo a espinha dorsal do comércio global. O próprio imperialismo europeu vacila em seguir cegamente os EUA, em declínio, e isolar Moscou, a quem exploram através de dezenas de multinacionais (BMW, Siemens, Auchan, Raiffaisen Bank, BASF), assim como também se nutrem energeticamente da Rússia. O governo títere de Kiev também vinha colhendo revezes na guerra civil. Após ter perdido algumas batalhas iniciais, a resistência se entrincheirou em Donetsk e impôs baixas militares importantes, derrubando aviões militares das Forças Armadas ucranianas. Por isso também era importante criar um repúdio mundial a força antiaérea da resistência, poder que, como se viu contra o Boeing da Malaysia, o Exercito ucraniano possui, em muito maior escala. PELA DEFESA INCONDICIONAL DA

RESISTENCIA NOVORUSSA! Mesmo diante de todos esses indícios que apontam para os agentes do imperialismo em Kiev como autores de mais esse crime contra a humanidade, muita informação ainda precisa ser revelada. Até os governos europeus, sócios do imperialismo no apoio ao governo de Kiev, estão em uma situação de desconforto para acusar a Rússia e a resistência novorrussa pelo ataque (é verdade que em grande parte pelas necessidades comerciais). Para os que conhecem o modus operandi do império capitalista não há nada de novo sobre o sol: Este não foi o primeiro ataque criminoso armado pelo imperialismo para acusar seus adversários. E a medida que a besta imperialista agoniza em declínio ela tende a criar, de forma exponencial, mais e mais farsas como essa. Por exemplo, o assassinato dos três judeus, utilizado por Israel para desatar a atual ofensiva contra os palestinos. São atos desesperados e hediondos sim, mas o imperialismo goza da imensa vantagem de possuir um sofisticado sistema mundial de manipulação de informações e falsificação

da realidade a seu favor, imensamente mais poderoso do que o utilizado por Goebbles em um só país. Mas além das suspeitas, há um fato que objetivamente está provado, o imperialismo aproveita-se da tragédia por diversas razões: 1) fabricar um pretexto para a ofensiva da OTAN; 2) ameaçar diretamente a vida do principal líder e adversário mundial da Casa Branca hoje; 3) a morte dos cientistas beneficiou as multinacionais da indústria farmacêutica; 4) Tirar o foco da atrocidade da invasão israelense contra o povo palestino. Mas, ainda que, excepcionalmente, este ataque pudesse não ter sido obra do imperialismo, os revolucionários se colocam INCONDICIONALMENTE em defesa da resistência na luta para derrotar a ofensiva do nazi-imperialismo contra o povo oprimido da Novarússia, na Ucrânia! Defendemos uma frente única antifascista e anti-imperialista com a Rússia, para esmagar os agentes da OTAN e lutar por um governo soviético e operário na Ucrânia! Leia na íntegra a Declaração: http://lcligacomunista.blogspot.com.br/2014/07/derrubada-doboeing-777-na-ucrania.html


DECLARAÇÕES DO COMITÊ DE LIGAÇÃO PELA IV INTERNACIONAL

Palestina Vencerá! Abaixo Israel! Por uma Palestina Operária Multiétnica! No momento que escrevemos essas linhas já chegam a 1945 mortos na Palestina, e o próprio ministério interior palestino de Gaza denuncia Israel por romper a trégua obtida pela mediação do Egito. A LC não se opõe as reivindicações democráticas, que nós buscamos fusionar com as reivindicações socialistas, única forma de tornar possível as revindicações democráticas. Neste sentido, não somos contrários a consignas de “Por uma palestina laica, democrática e não racista”. Apenas assinalamos que esta consigna unicamente será possível através da luta por “uma palestina operária e multiétnica”, objetivo que as direções burguesas e pequeno burguesas palestinas são incapazes de realizar. Horríveis crimes de guerra são cometidos diariamente pela máquina assassina sionista. Israel submeteu 1.8 milhões de habitante em Gaza a um Estado de sítio acentuado depois da vitória do Hamas em 2006. Somente uma nação deu permissão implícita a Israel para realizar esta matança em massa: os EUA. ISRAEL ASSASSINOU ARAFAT PARA SUBSTITUÍ-LO POR SEU AGENTE: ABBAS Israel assassinou Arafat em 11 de novembro de 2004 envenenado com polônio radioativo, certamente com a ajuda de seus agentes e da Autoridade Palestina. A relutância de Abbas em investigar o assassinato e sua óbvia tentativa de encobrir os fatos foram denunciadas: “Desde 2005, a Autoridade Palestina de Abbas tem colaborado com o Sionismo através da ‘coordenação de segurança´ que ligou dois poderes ilegítimos linha dura com os que apóiam a Resistência ao Sionismo. Apesar da negativa dpois de Abbas dele próprio e de seus porta-vozes, ele finalmente admitiu a sua colaboração em março deste ano. Israel e o regime de Mubarak têm tranferido armas a Abbas, e os Estados Unidos dão milhões de dólares em ajuda para solapar a Resistência Palestina, principalmente o Hamas, e fortalecer o Sionismo para o domínio total da Palestina ocupada.” (http://www.maskofzion. com/2010_12_01_archive.html) AS DUAS INTIFADAS Embora Arafat tenha sido notoriamente corrupto, todavia ele foi assassinado por que arbitrava politicamente um equilíbrio entre Israel e o povo palestino. Ele apoiou as intifadas até certo ponto. Ele protegia as famílias dos suicidas homens bomba e de forma muito limitada se opunha a Israel. Enquanto Abba era simplesmente um fantoche de Israel que nunca venceria outra eleição. Mas as duas Intifadas são a história real da resistência palestina. A primeira começou em 1987 e terminou com a assinatura dos Acordos de Oslo em agosto de 1993 e a criação da Autoridade Palestina. A segunda (também conhecida como Intifada de Al-Aqsa) começou em setembro de 2000 e terminou em 8/02/2005 com o acordo de Sharm el-Sheikh, quando o Presidente Mahmoud Abbas e o primeiro Ministro Ariel Sharom acordaram em parar todos os atos de violência contra israelenses e palestinos e reafirmaram o compromisso de paz. Israel, apoiado no “Quarteto do Oriente Médio” (Nações Unidas, Estados Unidos, União Europeia e Rússia) recusa-se a aceitar o resultado das eleições livres para o parlamento palestino. Eles impuseram sanções para que o Governo palestino capitulasse as suas exigências: Renúncia à violência, Reconhecimento de Israel, e aceitação dos acordos prévios entre Israel e a Au-

toridade Nacional Palestina. DE

O GÁS DE GAZA E O APOIO

ISRAEL A ABBAS CONTRA O HAMAS Apesar do Hamas não ser menos reacionário que a “Autoridade Palestina” nas questões sociais é ele quem luta contra Israel agora. Distorcidamente ele expressa a ira dos oprimidos e por isso merece apoio incondicional no combate ao Estado sionista. Israel quer esmagar a resistência dos palestinos para eliminar o Hamas e impor Abbas e a Autoridade Palestina em Gaza. A estratégia é tomar das mãos do Hamas o controle dos direitos de exploração do gás natural da Bacia do Levante e ter uma marionete corrupta controlando Gaza. A 3A INTIFADA VENCERÁ, APOIADA NOS PALESTINOS DA CISJORDÂNIA, ANTISIONISTAS DE ISRAEL E NA SOLIDARIEDADE INTERNACIONAL O Hamas não matou os três adolescentes israelenses que foram sequestrados na Cisjordânia. Netanyahu sabia disso desde o início mas usou esta desculpa para atacar Gaza. Até a própria polícia israelense reconheceu que a justificativa para o início do massacre atual era uma farsa. A Terceira Intifada unirá os palestinos da Cisjordânia e Gaza com a oposição dentro de Israel frustrará o plano, com o qual Abbas, não eleito (desde 2009!) é, sem dúvida, cúmplice: Exterminar 1,8 milhões de palestinos ou expulsá-los em outra diáspora, plano que ainda não é politicamente possível. Isso exigiria um triunfo global fascista – que definitivamente ainda não aconteceu. Mesmo na Ucrânia ocidental, há uma grande revolta contra o governo de Kiev eu desferiu o Golpe de Estado de Maidan. Em protesto contra o assassinato em massa de Gaza os governos de países como El Salvador, Brasil, Chile, Equador e Peru retiraram seus embaixadores de Tel Aviv. Isso revela que: por um lado, a solidariedade internacional popular contra a tragédia palestina é um elemento que pressiona fortemente os governos semicoloniais. Os governos coloniais sentem-se fortalecidos pela ascensão do bloco Eurásico e os BRICS, e, contra Israel, testam até onde podem avançar no estabelecimento de autonomia política relativa em relação ao imperialismo. Além disso, a medida tímida diplomática, embora progressista, sem maiores consequências nas relações econômicas e militares entre Israel e esses governos semicoloniais. Os revolucionários devem exigir ruptura completa das relações destes governos com Israel para isolar Israel e, simultaneamente, expor a demagogia diplomática dos governos semicoloniais.

OS DIREITOS NACIONAIS EM UM ESTADO OPERÁRIO MULTIÉTNICO O Estado sionista é um posto avançado do imperialismo; os EUA subsidiam a suas despesas militares na ordem de mais de US $ 3 bilhões por ano. Esta despesa é para manter uma cabeça de ponte, para proteger militarmente o acesso do imperialismo aos campos de petróleo no Golfo e no Mar Cáspio e esmagar todos os processos revolucionários que possam ameaçar os interesses dos EUA na região. Apenas a Terceira Intifada, unindo a Cisjordânia e Gaza vai frustrar o plano de Israel. Nós reconhecemos que os judeus israelenses constituem uma nacionalidade como outras nacionalidades na região, os judeus, os cristãos, drusos, etc., mas nós não defendemos direito do Estado judeu à autodeterminação, porque isso seria a endossar o projeto sionista racista de exclusão dos não-judeus do Estado. A deformação imperialista do direito de autodeterminação da nacionalidade judia na Palestina produziu o sionismo que pressupõe a negação dos direitos nacionais dos palestinos e demais povos na região. Por isso, somos totalmente contrário a uma solução do estabelecimento de dois estados. Somos a favor da destruição do Estado teocrático, colonialista, sionista de Israel e a favor de um Estado operário multiétnico da Palestina onde os judeus, palestinos e todas as minorias têm direitos iguais como cidadãos, para que as várias gerações de refugiados palestinos possam exercer o direito de voltar e para que todos os imigrantes têm direitos iguais. REVOLUÇÃO PERMANENTE As Teses sobre a Revolução Permanente foi estabelecida por Trotsky em 1929: “No que diz respeito a países com desenvolvimento burguês retardatário, especialmente os países coloniais e semicoloniais, a teoria da revolução permanente significa que a solução verdadeira e completa de suas tarefas democráticas e de libertação nacional só é concebível por meio da ditadura do proletariado como o líder da nação oprimida e, acima de tudo, de suas massas camponesas... Isto por sua vez significa que a vitória da revolução democrática só é concebível por meio da ditadura do proletariado, que se baseia sobre a aliança com o campesinato e resolve em primeiro lugar o tarefas da revolução democrática.” O II Congresso Mundial da IV Internacional, reunido em abril de 1948, resumiu a posição geral do nosso movimento nos seguintes termos: No que se refere particular-

mente Palestina, a IV Internacional rejeita a solução “sionista”, utópica e reacionária para a questão judaica. Ela declara seu total repúdio ao sionismo é a condição sine quo para uma fusão das lutas dos trabalhadores judeus com as lutas sociais e nacionais emancipatórias dos trabalhadores árabes. Ela declara que é profundamente reacionário a exigir uma emigração judaica para a Palestina. Sustenta que a questão da imigração e as relações entre judeus e árabes não pode ser adequadamente decididas sem a expulsão do imperialismo e por uma Assembleia Constituinte livremente eleita com plenos direitos para os judeus como uma minoria nacional. BOICOTES E SANÇÕES DOS TRABALHADORES A Histadrut israelense não é uma federação sindical legítima. A Histadrut contém muitos empregadores em suas fileiras e em si é dona de uma parte substancial da indústria israelense e é um dos principais suportes do Estado sionista; ela sempre defende os bombardeios de Gaza por Israel. A Federação Geral Palestina de Sindicatos (PGFTU) é um braços da Fatah e não tem realizado eleições desde 1981, seus acordos com Histadrut são simplesmente uma extensão da colaboração de Mohamed Abbas com o sionismo contra os direitos e muitas vezes contra a vida dos sindicalistas militantes e combatentes pela libertação. Mas ainda assim é uma verdadeira federação sindical. Nós fazemos campanha pela expulsão do Histadrut das federações nacionais e internacionais sindicais. No entanto, a Histadrut organiza proporções substanciais da classe trabalhadora em Israel e os revolucionários devem trabalhar dentro dela lutando para dividi-la por classes sociais, se não houver alternativa disponível. Os sindicatos que apoiam o movimento Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS) são a minoria dos trabalhadores palestinos que realizaram uma Conferência que: “condenou a Histadrut e exortou os sindicatos internacionais a cortar todos os laços com ela devido à sua cumplicidade histórica e atual das violações do direito internacional e os direitos dos palestinos de Israel. A Histadrut sempre desempenhou um papel fundamental na perpetuação ocupação, colonização e do sistema de discriminação racial... Convida trabalhadores portuários de todo o mundo a boicotar o carregamento/descarregamento de navios israelenses, semelhante à campanha heroica realizada pelos trabalhadores portuários de todo o mundo em suspender o comércio marítimo com a África do Sul, em protesto contra o regime do apartheid.” Apoiamos todas as sanções e

boicotes contra o sionismo dos trabalhadores, o campanha do BDS e, no entanto, reconhecemos que as campanhas como o BDS são por si só impotentes. O mito de que as sanções ajudaram a acabar com o apartheid na África do Sul é usado para justificar a limitação destas campanhas com gestos simbólicos. A única vez que os capitalistas monopolistas do mundo começaram a desinvestir na África do Sul foi quando eles foram confrontados com uma rebelião em massa da classe trabalhadora lá. Defendemos um Estado operário multi-étnicos, porque somos confiantes em conquistar os melhores elementos da classe operária israelense para a revolução e para a construção de um partido revolucionário que utilize o método do programa de transição para impulsionar a unidade dos trabalhadores árabes e israelenses, como já aconteceu muitas vezes no passado, apesar dos esforços da Histadrut. O QUE DEFENDEMOS NESSA LUTA? Enquanto defendemos um Estado operário multiétnico, reconhecemos o papel das reivindicações democráticas na luta revolucionária. As exigências de uma Assembleia Constituinte e a luta pelos direitos democráticos seculares são muito susceptíveis de desempenhar um papel de destaque na revolução, mas sabemos que estes devem ser subordinadas ao objetivo de derrubar o capitalismo em Israel, na Palestina e em todo Oriente Médio. Rejeitamos a noção de ultra-esquerdista de que um programa revolucionário não pode conter tais demandas democráticas, como parte de toda a sua estratégia. Tal posição rejeita as tentativas do partido revolucionário de se relacionar com o estado atual da consciência de classe da classe trabalhadora e da luta para trazê-la para o combate. Por isso, reivindicamos: Destruição do Estado colonialista de Israel! Assembleia Constituinte revolucionária! Conselhos operários unidos por sobre as divisões étnicas e religiosas! Estado operário multiétnico palestino em uma Federação Socialista do Oriente Médio! Sanções operarias contra Israel! Ruptura de todos os laços das organizações sindicais internacionais com a Histadrut! Em defesa do Hamas contra o Estado sionista! Pela vitória militar das organizações guerrilheiras anti-imperialistas, do Hamas, do Hezbollah na Palestina, Líbano e Síria! FdT 21 - agosto / 2014

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IRAQUE

Imperialismo fabrica o EIIL para justificar nova intervenção Declaração do Comitê de Ligação pela IV Internacional sobre os ataques dos EUA as forças do EIIL no Iraque - 15/8/14 Há duas áreas principais no Iraque, a Mesopotâmia e o Curdistão, que têm as maiores reservas de petróleo e também são regiões que têm relações muito estreitas com os países que hoje são satélites de bloco que competem contra os EUA pela Mesopotâmia. A manobra do imperialismo é usar os ataques de tropas mercenárias imbuídos de fanatismo sunita para controlar essas áreas no Iraque e preparar as condições – com sua extrema barbárie – para a intervenção dos EUA. A necessidade de uma intervenção do imperialismo nessas áreas é reforçada porque, na Mesopotâmia, há fortes tendências sunitas nacionalistas e próIrã que podem desestabilizar um membro da OTAN: a Turquia. O CLQI se opõe completamente aos bombardeio das forças do EIIL no Iraque pelos EUA. Nós não acreditamos que os EUA estão intervindo aqui por razões “humanitárias”; seu currículo “humanitário” no Iraque, em toda a região, em Gaza é um escárnio. Como sempre os EUA intervêm em defesa de seus próprios interesses, neste caso, do petróleo, e no cumprimento de suas metas estratégicas globais, a dominação do mundo por seu grande capital financeiro e suas empresas transnacionais. Os 3 alvos estratégicos dos EUA são o Irã, a Rússia e a China; e a influencia destes países sobre o globo. Para alcançar este objetivo, o imperialismo não se furta

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de balcanizar os povos oprimidos e criar Estados mais frágeis e dependentes de credores, governados por seus fantoches que abrem suas economias para os lobos do “livre mercado”. E o petróleo é aqui a principal motivação para esse ataque. O CLQI sabe que o EIIL é financiado pela Arábia Saudita, sob as ordens dos EUA. O bombardeio tem também como objetivo certificar-se de que alMaliki não retornará ao poder, substituído por um fantoche dos EUA, anti-Irã, muito mais dócil. Organizar a classe trabalhadora na região é o mais importante. Muitas seções dos partidos comunistas têm sido pró-imperialista ou tem fingido tomar posições neutras, enquanto estas guerras são realizadas. A adoção de posições sindicalistasobreiristas diante da ofensiva do grande capital corresponde a uma capitulação envergonhada ao imperialismo. O Partido Operário Comunista do Iraque, é um excelente exemplo disso. Ainda mais abjeto é o Partido Comunista iraquiano: “O Partido Comunista iraquiano se opôs à invasão do Iraque pelos EUA em 2003, mas decidiu trabalhar com as novas instituições políticas estabelecidas após a ocupação. Seu secretário, Hamid Majid Mousa, aceitou um cargo no Conselho Interino do Iraque.” OS CONFLITOS DENTRO DO CURDISTÃO E DO PRÓPRIO IMPERIALISMO Por muitos anos, os EUA têm desenvolvido relações com a

União Patriótica do Curdistão (PUK), de Jalal Taliban, e Partido Democrata Curdo (KDP), dirigido por Massoud Barzani. Barzani sempre foi o favorito do Ocidente e de Israel. O Irã e os iranianos curdos apoiam o PUK e o PKK da Turquia, que também são politicamente aliado com os curdos sírios. A divisão aumentou na guerra civil curda, (wiki): “A Guerra Civil dos curdos do Iraque foi um conflito militar que ocorreu entre facções curdas rivais no Curdistão iraquiano durante meados dos anos 1990, principalmente entre o PUK e o KDP. Ao longo do conflito, as facções curdas do Irã e da Turquia, bem como as forças iranianas, iraquianas e turcos foram atraídos para a luta, com o envolvimento adicional das forças americanas. Entre 3.000 e 5.000 combatentes e civis foram mortos ao longo de mais de três anos de guerra “. [6] Os EUA apoiaram fortemente Barzani na Guerra Civil, o que resultou em um acordo onde Talibani teve de concordar em expulsar os iranianos, turcos e sírios curdos em troca de poder compartilhar o poder com Barzani. Talibani foi colocado mais tarde como um Presidente fantoche de todo o Iraque a serviço dos EUA até recentemente. Então politicamente o PUK de Talibani era apenas ligeiramente mais à esquerda e anti-imperialista que Barzani e à esquerda de ambos estava o PKK, grupo liderado por Abdullah Ocalan. Ocalan foi um prisioneiro da Turquia desde 1999 e tem realizado um “acordo histórico” com o imperialismo, tendo como seus mentores Gerry Adams (presidente do Sinn Féin, braço político do IRA, irlandês) e Nelson Mandela. No entanto, houve uma revolta aberta no interior do PKK contra essa política e agora o PKK, com seus aliados sírios intervieram no Curdistão iraquiano e começaram a lutar contra o EIIL, outra razão para que os EUA se apressassem para intervir militarmente no Iraque. De acordo com o Partido de Esquerda alemão (Die Linke) MP Ulla Jelpke relata no seu blogue “O Relatório Rojava”: “Foi o PKK, e não os aviões norte-americanos, quem salvou dezenas de milhares de pessoas. Ele disse que o PKK era “uma garantia de vida” para os Yezidis e cristãos no Sul do Curdistão e do Iraque. Jelpke lembrou que, embora o PKK esteja na “listas de terroristas” da UE e dos EUA, os terroristas do EIIL havia realizado ataques na Síria usando território da OTAN, membro da Turquia.” Em um comunicado de imprensa sobre a situação de dezenas de milhares de refugiados que fugiram Sinjar, Ulla Jelpke salientou que não foram os ataques aéreos dos EUA que protegeram as pessoas de serem massacradas pelo EIIL. Jelpke chamou a atenção para o papel desempenhado pelo PKK e YPG na prevenção contra os massacres, acrescentando: “o bombardeio dos EUA contra os ‘jihadistas’ que assumiram cidades e aldeias no Norte do Iraque só coloca a população civil em perigo. A milícia curda, os nomeadamente os guerrilheiros do PKK, estão defendendo mais ativamente a população contra essas gangues terro-

ristas. Jelpke observou que muitas pessoas que haviam sido resgatados da ameaça de massacre tinha dito a ela, ‘Allah e o PKK, eventualmente, nos salvaram.’ Ela acrescentou: “os guerrilheiros do PKK e as milícias Rojava (YPG-YPJ) em aliança com eles, conseguiu abrir um corredor de montanhas de Sinjar à fronteira com a Síria para os refugiados. Desta forma, nos últimos dias dezenas de milhares de pessoas, em particular os Yezidis, conseguiram escapar dos carniceiros do EIIL.” É um equívoco, pensar que o imperialismo dos EUA é um conjunto homogêneo. Republicanos e Democratas manipulam,

um contra o outro, peões internos e externos na disputa intraimperialista contra os monopólios rivais. Os republicanos e os sionistas patrocinaram o EIIL. Todos mundo sabe que McCaine é padrinho do EIIL. McCaine e os falcões republicanos patrocinaram e estimularam o jihadistas na Síria antes ainda que o grupo terrorista tomasse regiões petrolíferas do controle de Damasco. O EIIL é um subproduto dos mercenários da Al Qaeda, como o crack é um subproduto da cocaína. Hillary Clinton, o falcão Democrática, criticou duramente Obama, exigindo saber por que ele não havia patrocinado os grupos mercenários sírios “moderados” para fortalecê-los. Isso deu ao EIIL uma grande vantagem sobre outros grupos mercenários, que praticamente têm se dissolvidos agora ou se unido ao EIIL “. Os bombardeios ordenados por Obama, que representa a ala Democrática do imperialismo, contra EIIL são apenas tímidas tentativas para proteger seus curdos

fantoches mercenários. Por sua vez, o EIIL é um fantoche da ala republicana do imperialismo, de Israel, da empresa multinacional de petróleo Aramco, e da Arábia Saudita”. Assim como após a crise do terceiro século do Império Romano, nos EUA, após a crise de 2008, as diferentes frações do imperialismo cada vez mais recorrem a grupos mercenários (Academi / Blackwater, Al Qae-

da, EIIL, etc.) para atingir seus objetivos. Eles manipulam esses mercenários contra os interesses da fração imperialista oponente, dos EUA ou não. O acirramento da luta intra-imperialista, bem como sanções contra Moscou, e o cerco militar contra Pequim, forçou a burguesia da Rússia e da China a ir mais longe do que eles desejavam no caminho da ruptura com o imperialismo dos EUA; eles começaram a construir um bloco econômico e militar para a defesa mútua. Pela unidade entre Xiitas e sunitas para derrotar o imperialismo em toda a região! Por uma Frente Única Anti-imperialista de todas as minorias oprimidas e da classe trabalhadora! Pela a derrota militar dos EUA e todos os seus exércitos mercenários jihadistas! Construir seções revolucionárias da Quarta Internacional em toda região!


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