13 Síndrome do Túnel Társico e Outras Síndromes Canalares do Pé e Tornozelo João Melo Sousa, André Gomes
Introdução Designa-se por síndrome canalar a compressão crónica de um nervo periférico causada pelo seu curso num compartimento/túnel rígido de reduzidas dimensões (PNL). O nervo sofre uma lesão direta por pressão e indireta por isquemia, sendo a segunda aquela que mais influência tem em processos crónicos. Assim como noutros segmentos anatómicos, também no pé e tornozelo ocorrem, de uma forma rara, importantes compressões nervosas que são fonte de grande morbilidade: XX lncidência no pé e tornozelo; XX Relação anatómica.
Considerações anatómicas e etiologia O pé e tornozelo são inervados pelos ramos do nervo ciático e por um ramo do nervo femoral (nervo safeno). Do ponto de vista motor, os nervos tibial e peronial profundo são os únicos que suprem a musculatura intrínseca do pé. A inervação sensitiva é realizada pelos nervos tibial (ramos: nervo medial calcâneo; nervo medial plantar e nervo lateral plantar), peronial profundo (ramo interdigital do primeiro e segundo raio), peronial superficial (ramos: nervo cutâneo dorsal intermédio e nervo cutâneo dorsal medial, sural (ramos: nervo calcâneo lateral e nervo cutâneo dorsal lateral) e safeno (Fig. 13.1). Cada um destes nervos ou ramos pode estar comprimido em qualquer parte do seu trajeto, existindo zonas de compressão em determinados túneis ou compartimentos onde esta situação se torna mais frequente. É necessário um perfeito conhecimento anatómico dos prováveis locais de
compressão ao nível do pé e tornozelo assim como de neuropatias compressivas que possam ocorrer proximalmente. É igualmente essencial despistar outras entidades sistémicas causadoras de neuropatias periféricas que possam justificar determinadas queixas sobreponíveis ou semelhantes com a clínica das síndromes canalares.
Clínica e diagnóstico Em termos genéricos, a neuropatia compressiva de qualquer um destes ramos origina uma clínica dependente nas funções desempenhadas pelo nervo em causa. Podem surgir distúrbios motores, perda de reflexos, alterações da sensibilidade ou défice de funções autonómicas. A área de atingimento de um nervo ou raiz obriga a um conhecimento detalhado da topografia sensitiva e função motora dos nervos periféricos e raízes espinais. A colheita de uma história clínica e exame físico completos, atendendo a causas sistémicas, extrínsecas ou compressivas locais, são muitas vezes a chave do diagnóstico. Em termos sensitivos os doentes expressam normalmente uma dor PT FDL
Retináculo flexor
Nervo tìbíal posterìor FHL
Nervo plantar medial
Tendão de Aquiles
Nervo plantar lateral
Curto flexor dos dedos (corte)
Nervo calcaneano medial Abdutor hallux (corte)
Figura 13.1 · Inervação do pé.
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