Ambientes de Prática de Enfermagem Positivos

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AMBIENTES DE PRÁTICA DE ENFERMAGEM POSITIVOS

Um roteiro para a qualidade e segurança

Lidel

Ambientes de Prática de Enfermagem Positivos

Olga

Um roteiro para a qualidade e segurança Coordenação
Ribeiro Lidel – Edições Técnicas, Lda. www.lidel.pt
©Lidel –Edições Técnicas, Lda. Índice Autores .............................................................................................................................................. V Prefácio XI Renata Cristina Gasparino Introdução ......................................................................................................................................... XIII Olga Ribeiro Siglas, abreviaturas e acrónimos ....................................................................................................... XV I DOS AMBIENTES DE PRÁTICA PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM
1. Os ambientes de prática profissional de enfermagem e a qualidade em saúde....................... 2 José Luís Guedes dos Santos; Fernando Henrique Antunes Menegon; Etiane de Oliveira Freitas; Diovane Ghignatti da Costa; Renata Cristina Gasparino 2. Os ambientes de prática de enfermagem e a segurança do doente 13 Soraia Pereira; Cintia Fassarella; Helena Resende; Paula Leite; Olga Ribeiro 3. Os ambientes de prática de enfermagem e a segurança dos profissionais .............................. 25 Marlene Ribeiro; Elaine Cristina Novatzki Forte; Lara Vandresen; Olga Ribeiro 4. Ambientes de prática de enfermagem positivos: realidade ou utopia .................................... 33 Olga Ribeiro; Letícia de Lima Trindade; Marlene Ribeiro; Alessandro Rodrigues Perondi 5. Avaliação dos ambientes de prática de enfermagem 40 Olga Ribeiro; Letícia de Lima Trindade; Alessandro Rodrigues Perondi; Clemente Neves de Sousa II OLHARES SOBRE O COMPONENTE ESTRUTURA DOS AMBIENTES DE PRÁTICA PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM 6. Gestão de pessoas e liderança nos serviços ............................................................................ 52 José Manuel Chora; Maria Antónia Chora 7. Ambiente físico e condições para o funcionamento do serviço.............................................. 61 Marlene Teixeira; Filomena Cardoso 8. Participação e envolvimento dos enfermeiros nas políticas, nas estratégias e no funcionamento da instituição/serviço 74 José Ribeiro Nunes; Cátia Moreira 9. Política institucional para a qualificação profissional ............................................................. 92 José Ribeiro Nunes; Cátia Moreira; Rogério Pacheco 10. Organização e orientação da prática profissional de enfermagem 101 José Ribeiro Nunes; Elsa Judite Mendes Pinto; Brígida Cavadas; Lídia Rodrigues; Cátia Moreira 11. Qualidade e segurança dos cuidados de enfermagem ............................................................. 111 José Ribeiro Nunes; Joaquim Moreira; Elisabete Pereira; Cátia Moreira
À QUALIDADE E SEGURANÇA
Ambientes de Prática de Enfermagem Positivos IV
OLHARES
PROCESSO DOS AMBIENTES DE PRÁTICA PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM 12. Colaboração e trabalho em equipa .......................................................................................... 126 Amélia Ferreira; Cláudia Veiga 13. Estratégias para a garantia da qualidade no exercício profissional 134 Áurea Andrade; Carlos Fernandes; Elisa Melo; João Filipe Graça Fernandes 14. Práticas autónomas no exercício profissional ......................................................................... 140 Vânia Coimbra; Ana Faria; Marlene Ribeiro; Olga Ribeiro 15. Planeamento, avaliação e continuidade de cuidados .............................................................. 146 João Miguel Almeida Ventura‑Silva; Ricardo Melo; Isabel de Jesus Oliveira; Olga Ribeiro 16. Sustentação teórica e legal do exercício profissional 153 Ana Faria; Soraia Pereira; Olga Ribeiro 17. Práticas interdependentes no exercício profissional ............................................................... 161 Vânia Coimbra; Tânia Dionísia Oliveira; Letícia de Lima Trindade; Olga Ribeiro
ENFERMAGEM 18. Avaliação sistemática dos cuidados e dos indicadores de enfermagem ................................. 168 Irene Cerejeira; Manuel Lourenço; Eloísa Maciel; Natália Ferreira 19. Avaliação sistemática do desempenho e supervisão dos enfermeiros 179 João Miguel Almeida Ventura‑Silva; Sónia Barros 20. Do real ao ideal: oportunidades de melhoria nos ambientes de prática de enfermagem ........ 185 Olga Ribeiro; Letícia de Lima Trindade; Filomena Cardoso; Clemente Neves de Sousa V AMBIENTES DE PRÁTICA PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM POSITIVOS: DA INTENÇÃO À AÇÃO 21. Da formação profissional à qualificação dos ambientes de prática de enfermagem ............... 200 Letícia de Lima Trindade; Carine Vendruscolo; Jouhanna do Carmo Menegaz; Olga Ribeiro 22. Os enfermeiros e os ambientes de prática de enfermagem 204 Pedro Moreira; Susana Mendes de Castro; João Miguel Almeida Ventura‑Silva 23. Os enfermeiros especialistas e os ambientes de prática de enfermagem ................................ 210 Marlene Ribeiro; Luís Rebelo; Marco Alves; Ana Faria 24. Os enfermeiros gestores e os ambientes de prática de enfermagem 219 Sónia Barros; João Miguel Almeida Ventura‑Silva 25. Estratégias promotoras de ambientes de prática de enfermagem positivos ............................ 225 Olga Ribeiro; Letícia de Lima Trindade; Soraia Pereira Posfácio ............................................................................................................................................. 237 José Luís Guedes dos Santos Índice remissivo 239
III
SOBRE O COMPONENTE
IV OLHARES SOBRE O COMPONENTE RESULTADO DOS AMBIENTES DE PRÁTICA PROFISSIONAL DE

Prefácio

Caro Leitor,

Este livro tem o intuito de contribuir para despertar e aprofundar o seu conhecimento sobre o ambiente no qual a enfermagem desenvolve a sua prática profissional e sua influência nos resultados alcançados por clientes e profissionais.

Após mais de cinco décadas de estudos, são crescentes as evidências de que características positi vas na administração (gestão compartilhada; tomada de decisão assertiva e descentralizada; recursos adequados e liderança qualificada), na prática profissional (responsabilidade, controle e autonomia para a promoção de um cuidado com qualidade; reconhecimento; suporte de profissionais qualificados; comunicação efetiva e prática colaborativa) e no desenvolvimento profissional (mentoria; educação continuada e permanente; incentivo à inovação e formação complementar e plano de carreira) repercutem de forma favorável nos resultados organizacionais.

Na sequência destes resultados, no que se refere aos clientes, essas características contribuem para maior satisfação, qualidade e segurança da assistência prestada, e, sob a perspectiva dos profissionais, encontram-se menores taxas de rotatividade e exaustão emocional e maiores níveis de satisfação e se gurança.

Órgãos internacionais como a Organização Mundial da Saúde, a International Labour Organization, e também o Institute for Healthcare Improvement, a American Nurses Credentialing Center, a American Association of Critical-Care Nurses, entre outros, recomendam que gestores e investigadores conduzam estudos que mapeiem as reais necessidades, dificuldades e potencialidades desses ambientes e, conse quentemente, auxiliem na implementação de estratégias que torne factível a transformação da prática profissional da enfermagem.

Espero que a leitura deste livro desperte no leitor o que despertou em mim: uma paixão e determi‑ nação para melhor conhecer e contribuir para que a transformação dos ambientes de prática do maior contingente de profissionais da área da saúde, peças-chave na prestação dos cuidados em todos os níveis de atenção, deixe de ser utópica e se transforme em realidade. A enfermagem merece que a qualidade do ambiente da sua prática seja garantida, para que as suas funções possam ser desempenhadas com qualidade, segurança, autonomia e dignidade.

Boa leitura!

©Lidel –Edições
Técnicas, Lda.
Renata Cristina Gasparino (Coautora)

Introdução

Ambientes de prática profissional que maximizem os resultados dos clientes, assegurem a saúde e o bem estar dos enfermeiros, e permitam alcançar um ótimo desempenho organizacional constituem um dos principais desafios da atualidade. As recomendações internacionais destacam o papel fundamental da liderança, da comunicação, da dotação de profissionais, do trabalho em equipa, das competências clínicas, da autonomia profissional e do reconhecimento.

Embora, no contexto internacional, existam diretrizes de melhores práticas para a promoção de am bientes de prática profissional saudáveis, em fase de recuperação de uma pandemia, torna-se emergente refletir sobre a realidade e, simultaneamente, sobre o investimento que tem sido feito em alguns contextos no sentido de garantir qualidade e segurança, e acrescentar valor.

Assim, após dois anos absolutamente inesquecíveis na história da humanidade, encarou-se como uma excelente oportunidade a possibilidade de compilar, neste livro, de forma simples e facilmente entendível, um conjunto de informações relevantes à criação de ambientes de prática de enfermagem mais positivos para todos – clientes, profissionais e instituições.

Conscientes das limitações impostas numa obra desta natureza, mas convictos dos benefícios que po derá trazer para os contextos de prática clínica, houve, em todos os momentos, a preocupação de explanar conteúdo teórico, mas, essencialmente, partilhar estratégias que garantam a sua translação para a prática. Vários estudos realizados no contexto nacional e internacional têm identificado uma série de elemen tos necessários à existência de ambientes de prática de enfermagem positivos. Esses estudos mostram que a criação de um ambiente de prática de enfermagem promotor de um impacto positivo nos clientes, nos profissionais e nas instituições, implica o investimento nos componentes Estrutura, Processo e Resultado.

A Estrutura refere-se aos fatores organizacionais que permitem o desenvolvimento do trabalho dos profissionais e as condições em que os cuidados são prestados. O Processo reporta-se aos fatores rela cionados com o desempenho das atividades inerentes à conceção e prestação de cuidados. O Resultado relaciona-se com as mudanças desejáveis ou indesejáveis relativamente aos clientes, aos profissionais e à instituição.

No seguimento do referido, com base no referencial de Donabedian e na Scale for the Environments Evaluation of Professional Nursing Practice, construída e validada em Portugal em 2020, esta obra está organizado em cinco partes.

Na primeira parte do livro, “Dos Ambientes de Prática Profissional de Enfermagem à Qualidade e Segurança”, além de uma perspetiva centrada na qualidade em saúde e na segurança dos clientes e dos profissionais, é colocada a tónica na relevância de investir na promoção de ambientes de prática de enfermagem positivos.

Na segunda parte, “Olhares sobre o Componente Estrutura dos Ambientes de Prática Profissional de Enfermagem”, são abordados conteúdos relacionados com a gestão de pessoas e liderança nos serviços; ambiente físico e condições para o funcionamento do serviço; participação e envolvimento dos enfermei ros nas políticas, nas estratégias e no funcionamento da instituição/serviço; política institucional para a qualificação profissional; organização e orientação da prática profissional de enfermagem e estratégias para a qualidade e segurança dos cuidados de enfermagem.

A terceira parte, “Olhares sobre o Componente Processo dos Ambientes de Prática Profissional de Enfermagem”, visa explanar aspetos relacionados com a colaboração e trabalho em equipa; estratégias para a garantia da qualidade no exercício profissional; práticas autónomas no exercício profissional; planeamento, avaliação e continuidade de cuidados; sustentação teórica e legal do exercício profissional e práticas interdependentes no exercício profissional.

©Lidel –Edições Técnicas, Lda.

A quarta parte, “Olhares sobre o Componente Resultado dos Ambientes de Prática Profissional de Enfermagem”, centra se na avaliação sistemática dos cuidados e dos indicadores de enfermagem, na avaliação sistemática do desempenho e supervisão dos enfermeiros, assim como, nas oportunidades de melhoria nos ambientes de prática de enfermagem.

Na quinta parte, “Ambientes de Prática Profissional de Enfermagem Positivos: da Intenção à Ação”, apresentam-se capítulos relacionados com a formação profissional e a qualificação dos ambientes de prática de enfermagem; o contributo dos enfermeiros, enfermeiros especialistas e enfermeiros gestores, assim como estratégias promotoras de ambientes de prática de enfermagem positivos. Resultando do envolvimento de vários enfermeiros com interesse e com trabalho realizado no âmbito dos ambientes de prática de enfermagem, acreditamos que a primeira edição desta obra, embora longe de esgotar os conteúdos relevantes a esta área, contribuirá para a definição e implementação de boas práticas no âmbito da promoção de ambientes de prática de enfermagem mais positivos, para clientes, profissionais e instituições. Além disso, responde ao desígnio de servir para divulgar o que tem sido feito nesta área. Na certeza de que todos somos fundamentais, espera-se que este livro sirva o propósito para o qual foi concebido: contribuir para a criação de ambientes de prática de enfermagem mais positivos.

de Prática de Enfermagem Positivos XIV
Ambientes

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Os ambientes de prática profissional de enfermagem e a qualidade em saúde

NOTA INTRODUTÓRIA

O ambiente de prática profissional de enfermagem corresponde às características e condições físicas e organizacionais que interferem no desempenho adequado do exercício profissional. Fatores como porte da instituição ou do serviço de saúde, modelo de gestão, hierarquias profissionais, cultura organizacional, infraestrutura e recursos humanos e financeiros para a realização da assistência podem potencializar ou limitar a prática de enfermagem (Numminen et al., 2016).

Assim, ambientes de trabalho que apresentem esses aspetos fortalecidos trazem maior satisfação profissional do enfermeiro, influenciando, assim, a qualidade da assistência de enfermagem. A qualidade em saúde é definida como o conjunto de atributos relacionados com a excelência profissional, o uso efi ciente de recursos, um mínimo risco para os doentes e a elevada satisfação por parte dos mesmos (Costa et al., 2020; Marquis, & Huston, 2010).

Este capítulo tem como objetivo discutir o impacto e os efeitos das características do ambiente de prática profissional de enfermagem na qualidade do cuidado em saúde. Para isso, serão desenvolvidos três tópicos:

z Ambiente de prática profissional de enfermagem;

z Qualidade em saúde;

z Impacto/Efeitos do ambiente de prática na qualidade em saúde.

AMBIENTE DE PRÁTICA PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM

O trabalho da enfermagem é influenciado pelas características do ambiente de trabalho em que os en fermeiros desenvolvem a sua prática profissional. Contudo, é necessário recordar que esta discussão surge com base na teoria ambientalista de Florence Nightingale, em que o meio ambiente é interpretado como causador de todas as condições e influências que intervêm na vida das pessoas, sendo ele capaz de contribuir no processo de saúde e doença. Desde então, muitos estudos têm sido realizados com o intuito de analisar esta relação: o trabalho e o ambiente de prática de enfermagem (Gasparino, & Guirardello, 2009; Medeiros, Enders, & Lira, 2015). Desde então, na década de 80 do século xx, os investigadores perceberam que o défice de profissionais de saúde nos Estados Unidos da América era significativo, e inúmeros hospitais e instituições de saúde apresentavam dimensionamento de pessoal inadequado. Assim, a Academia Americana de Enfermagem realizou um levantamento, em 1981, com o intuito de identificar características que pudessem facilitar a prática de enfermagem e descrever os componentes organizacionais que interferem na qualidade da assistência à saúde (Gasparino et al., 2019).

Já na década de 90, a American Nurses Credentialing Center (ANCC) introduziu o Magnet Recognition Program® , um processo voluntário para identificar os hospitais que tinham excelência na capacidade de retenção da equipa de enfermagem e apresentavam bons indicadores de resultados de enfermagem e baixos índices de burnout, bem como alta satisfação profissional (Aiken, Havens, & Sloane, 2009). Os hospitais com a reputação de “magnet hospitals” passaram a ser reconhecidos como hospitais de excelên cia no trabalho em enfermagem e considerados bons locais para a prática de enfermagem, evidenciando indicadores de mortalidade menores do que hospitais que não possuíam esse título (Aiken, Smith, & Lake, 1994; McHugh et al., 2016). Além disso, esses hospitais eram capazes de proporcionar maior autonomia

FIgura 1.1 – Relação entre ambiente de prática e qualidade em saúde

NOTA FINAL

Este capítulo procurou discutir o impacto e os efeitos do ambiente de prática profissional de enfermagem na qualidade dos cuidados em saúde. Para alcançar esse intuito, os autores apresentaram dois tópicos com uma breve retrospetiva histórica e conceptual sobre ambiente de prática profissional de enfermagem e qualidade em saúde. À luz deste panorama teórico -conceptual, foram referidos, no final, exemplos de artigos científicos que ilustram o impacto/efeitos do ambiente de prática na qualidade em saúde.

Este capítulo está longe de esgotar a problemática em causa; porém, pode contribuir para que estudantes, profissionais e gestores de enfermagem compreendam a articulação entre as características do ambiente de prática profissional de enfermagem e a qualidade do cuidado em saúde. Também pode auxiliar investigadores a identificar lacunas e/ou potencialidades que possam ser exploradas em novas investigações, a fim de fomentar melhores práticas de cuidado em saúde e enfermagem.

REFERÊNCIAS

Aiken, L. H., Havens, D. S., & Sloane, D. M. (2009). The Magnet Nursing Services Recognition Program: a com parison of two groups of magnet hospitals. The Journal of Nursing Administration, 39(7‑8), 5‑14. doi: 10.1097/ NNA.0b013e3181aeb469.

Aiken, L. H., Smith, H. L., & Lake, E. T. (1994). Lower Medicare mortality among a set of hospitals known for good nursing care. Medical Care, 32(8), 771‑787. doi: 10.1097/00005650‑199408000‑00002.

Baek , J., Cho, H., Han, K., & Lee, H. (2020). Association between nursing work environment and compassion satis faction among clinical nurses. Journal of Nursing Management, 28(2), 368‑376. doi: 10.1111/jonm.12937.

Camponogara, S., et al. (2022). Ambiente de prática profissional dos enfermeiros em hospitais universitários brasi leiros: estudo transversal multicêntrico. Acta Paulista de Enfermagem, 35, eAPE0333345. doi: 10.37689/acta ape/2022AO0333345.

Cho, E., et al. (2015). Effects of nurse staffing, work environments, and education on patient mortality: an observational study. International Journal of Nursing Studies, 52(2), 535‑42. doi: 10.1016/j.ijnurstu.2014.08.006.

Costa, D. G. et al (2020). Satisfaction attributes related to safety and quality perceived in the experience of hospitalized patients. Revista Gaúcha de Enfermagem [ online ], 41 (n. spe), e20190152. doi: 10.1590/1983 1447.2020.20190152.

Ambientes de Prática de Enfermagem Positivos 10 Resultado Estrutura Processo Ambiente de prática Qualidade

Tabela 2.1 – Conceitos‑chave da segurança do doente

Termo Definição

Evento Ocorrência que aconteceu a ou que afeta um doente

Dano associado aos cuida dos de saúde

Dano resultante ou que está associado a planos ou ações tomadas durante a presta ção de cuidados de saúde, e não a uma doença ou lesão subjacente

Erro Falha na execução de uma ação planeada de acordo com o desejado ou o desenvol‑ vimento incorreto de um plano

Quase evento (near miss) Um incidente que não alcançou o doente

Evento sem dano Um incidente em que um evento chegou ao doente, mas não resultou em danos discerníveis

Incidente com dano (evento adverso) Um incidente que resulta em dano para o doente

Reação adversa Um dano inesperado que resulta de uma ação ou tratamento justificado em que foi implementado o processo correto, para o contexto em que o evento ocorreu

Efeito secundário

Um efeito conhecido, além do principalmente desejado, relacionado com as proprie dades farmacológicas de um medicamento

Adaptado de Estrutura Concetual da Classificação Internacional sobre Segurança do Doente (DGS, 2011)

PLANO NACIONAL DA SEGURANÇA DO DOENTE 2021 ‑2026

Em Portugal, a área da segurança do doente tem vindo a ser trabalhada desde 2008/09, aquando da adesão aos desafios mundiais da Aliança Mundial para a Segurança do Doente da OMS, tendo sido, posteriormente, definida como uma das prioridades da qualidade organizacional no Plano Nacional de Saúde 2004 -2010 da DGS. Em 2015, com a publicação do PNSD 2015 -2020, a segurança do doente foi definida como uma prioridade estratégica, e o PNSD tornou -se numa ferramenta de apoio para os gestores e profissionais de saúde. Com a aprovação da Lei de Bases da Saúde, Lei n.º 95/2019, de 4 de setembro, a segurança do doente ganhou novo destaque, surgindo associada à Base 1, relativa ao direito à proteção da saúde, da qual se torna uma componente fundamental, ou à Base 2, na qual se determina que as pessoas têm direito ao acesso a cuidados de saúde adequados e de acordo com, entre outros, as boas práticas de qualidade e segurança em saúde (DGS, 2022).

O PNSD 2021‑2026 (Despacho n.º 9390/2021, de 24 de setembro) resulta da necessidade de conso lidar e promover a segurança na prestação de cuidados de saúde, e constitui uma ferramenta não apenas dirigida aos gestores de topo ou aos gestores da segurança do doente, mas também aos profissionais de saúde, exigindo o envolvimento ativo de todos, com o objetivo principal de aumentar a segurança na prestação de cuidados de saúde, tomando o doente e os seus cuidadores como foco. O PNSD 2021 -2026 encontra‑se estruturado em cinco pilares (Figura 2.3), constituídos por 14 objetivos estratégicos.

Ambientes de Prática de Enfermagem Positivos 16
P 2 P 1 P 3 P 4 P 5 Cultura de segurança Liderança e governança Comunicação Prevenção e gestão de incidentes de segurança Práticas seguras em ambientes seguros
FIgura 2.3 – Pilares do Plano Nacional de Segurança do Doente 2021‑2026

z SEE Nursing Practice – Structure (com 43 itens distribuídos por seis dimensões);

z SEE Nursing Practice – Process (com 37 itens distribuídos por seis dimensões);

z SEE Nursing Practice – Outcome (com 13 itens distribuídos por duas dimensões) (Ribeiro et

2021).

10.

SEE NURSINGPRACTICE

FIgura 5.1 – Dimensões da SEE Nursing Practice

Além dos contributos de diversos autores, os itens incluídos em cada dimensão da SEE Nursing Practice resultaram também de uma pesquisa qualitativa prévia, realizada no contexto português, integrando, portanto, todos os aspetos relevantes dos ambientes de prática profissional de enfermagem (Ribeiro, 2018).

Na SEE Nursing Practice, a resposta a cada item está pontuada numa escala tipo Likert com cinco opções, em que 1 corresponde a “nunca”, 2 “raramente”, 3 “às vezes”, 4 “muitas vezes” e 5 “sempre” (Ribeiro et al., 2021).

As seis dimensões da SEE‑Nursing Practice – Structure estão explanadas na Figura 5.1:

z Dimensão 1: Gestão de pessoas e liderança no serviço;

z Dimensão 2: Ambiente físico e condições para o funcionamento do serviço;

z Dimensão 3: Participação e envolvimento nas políticas, nas estratégias e no funcionamento da instituição;

z Dimensão 4: Política institucional para a qualificação profissional;

z Dimensão 5: Organização e orientação da prática de enfermagem;

z Dimensão 6: Qualidade e segurança dos cuidados de enfermagem.

A dimensão Gestão de pessoas e liderança no serviço é constituída por 12 itens:

z O enfermeiro gestor orienta os enfermeiros numa atuação congruente com os padrões de quali dade dos cuidados de enfermagem;

z O enfermeiro gestor gere os conhecimentos e capacidades de todos os enfermeiros da equipa, de modo a que sejam alcançados os objetivos definidos;

z O enfermeiro gestor utiliza os erros como oportunidades de aprendizagem;

z O enfermeiro gestor apoia os enfermeiros da equipa nas dificuldades que emergem no dia a dia, mesmo quando em conflito com outros profissionais;

Ambientes de Prática de Enfermagem Positivos 42
al., 1. Gestão de pessoas e liderança no serviço 2. Ambiente físico e condições para o funcionamento do serviço 3. Participação e envolvimento nas políticas, nas estratégias e no funcionamento da instituição 4. Política institucional para qualificação profissional 5. Organização e orientação da prática de enfermagem 6. Qualidade e segurança dos cuidados de enfermagem 7. Colaboração e trabalho em equipa 8. Estratégias para a garantia da qualidade no exercício profissional 9. Práticas autónomas no exercício profissional Planeamento, avaliação e continuidade de cuidados 11. Sustentação teórica e legal do exercício profissional 12. Práticas interdependentes no exercício profissional 13. Avaliação sistemática dos cuidados e dos indicadores de enfermagem 14. Avaliação sistemática do desempenho e supervisão dos enfermeiros

POTENCIALIDADES DA ESCALA DE AVALIAÇÃO DOS AMBIENTES DE PRÁTICA PROFISSIONAL DE ENFERMAGEM

O ambiente de prática profissional de enfermagem é determinante para a obtenção de melhores resultados para clientes, enfermeiros e instituições, tornando -se relevante a existência de instrumentos que permitam avaliar todos os seus atributos.

Comparativamente aos instrumentos já existentes (Ribeiro et al., 2020a), a SEE -Nursing Practice apresenta aspetos diferenciadores. Embora as escalas anteriores se centrem no componente Estrutura, a complexidade dos ambientes de trabalho e as exigências com a qualidade dos cuidados justificam a pertinência de instrumentos que, além da Estrutura, contemplem os componentes Processo e Resultado, considerados fundamentais à qualidade em saúde (Donabedian, 2003). Por esse motivo, a SEE -Nursing Practice é mais abrangente. Enquanto, na maioria dos instrumentos, a escala de resposta tipo Likert varia em níveis de concordância, na SEE Nursing Practice, o enfoque está em perceber a frequência com que os atributos dos ambientes de prática profissional de enfermagem são favoráveis à qualidade dos cuidados. Outra vantagem da SEE Nursing Practice é a incorporação de aspetos relacionados com os referenciais teóricos e legais da profissão e disciplina de enfermagem (Figura 5.3).

Fatores da dimensão Estrutura

1. Gestão de pessoas e liderança no serviço (12 itens)

2. Condições para o funcionamento adequado do serviço (13 itens)

3. Participação e envolvimento dos enfermeiros nas políticas, nas estratégias e no funcionamento da instituição (8 itens)

4. Política institucional para qualificação profissional (3 itens)

5. Organização e orientação da prática de enfermagem (4 itens)

6. Qualidade e segurança dos cuidados de enfermagem (3 itens)

Fatores da dimensão Processo

1. Colaboração e trabalho em equipa (9 itens)

2. Estratégias para garantia da qualidade no exercício profissional (7 itens)

3. Práticas autónomas no exercício profissional (7 itens)

4. Planeamento, avaliação e continuidade de cuidados (6 itens)

5. Sustentação teórica e legal do exercício profissional (4 itens)

6. Práticas interdependentes no exercício profissional (4 itens)

Fatores da dimensão Resultado

1. Avaliação sistemática dos cuidados e dos indicadores de enfermagem (7 itens)

2. Avaliação sistemática do desempenho e supervisão dos enfermeiros (6 itens)

FIgura 5.3 – Visão global da SEE Nursing Practice

Embora, no contexto internacional, existam escalas para avaliar os ambientes de prática, o desafio, na perspetiva de alguns autores, está na necessidade de existirem instrumentos ajustados não só aos ambientes de trabalho contemporâneos, mas também ao desenvolvimento da enfermagem e às particularidades do exercício profissional em diversos países. Neste contexto, a SEE -Nursing Practice, ajustada à realidade portuguesa, constitui uma ferramenta útil à definição de estratégias que garantam ambientes favoráveis à qualidade dos cuidados de enfermagem e ao bem -estar dos enfermeiros.

Na sequência do recurso à SEE -Nursing Practice, a Estrutura torna -se mais favorável à qualidade dos cuidados quando promove a gestão de pessoas e a liderança, e conta com boas condições para o funcionamento do serviço; quando envolve os enfermeiros na definição das políticas, na estratégia e no funcionamento da instituição; e quando esta possui uma política institucional para qualificação profis sional e dos cuidados. O Processo é influenciado pelo trabalho em equipa e colaborativo, pelas estraté gias de garantia da qualidade dos cuidados e pelo planeamento e avaliação das práticas autónomas dos

©Lidel –Edições Técnicas, Lda. Avaliação dos ambientes de prática de enfermagem 47
Estrutura 43 itens Processo 37 itens Resultado 13 itens

FIgura 8.1 – Enquadramento do PEE numa organização de saúde

Os enfermeiros envolvidos com a organização contribuem para a criação de um trabalho significa tivo e procuram um sentido de propósito no seu ambiente de trabalho, bem como nas suas atividades de trabalho diárias. Através do envolvimento dos enfermeiros neste processo de planeamento estratégico, a organização ajuda a criar a ligação entre a visão intrínseca e os objetivos de uma forma impactante. Este envolvimento dos enfermeiros no planeamento estratégico – e, mais tarde, na sua execução – promove uma força de trabalho empenhada que conduz ativamente a organização para o futuro. Envolver os operacionais da linha da frente que estão ativos no trabalho, ligando os seus cuidados aos objetivos da organização, resulta em avanços e melhorias significativas na qualidade clínica, inovação, segurança dos doentes e indicadores sensíveis à enfermagem. Exemplo disso é a acreditação dos contextos da prática clínica (CPC) à idoneidade formativa, projetos inovadores, projetos na área da humanização e projetos de investigação, entre outros.

A definição clara de objetivos, metas e métricas para a enfermagem é de relevância central. Os objeti vos são estruturados e definidos de acordo com o nível de atuação de cada enfermeiro. Os objetivos macro da instituição, definidos pela liderança de topo, abraçam os eixos estratégicos. As lideranças intermédias realizam a intermediação entre o que é a estratégia institucional macro e a atividade departamental. Esta definição não é aleatória, mas sim focalizada nos eixos estratégicos e metas previamente definidas no PEE realizado pela liderança de topo. A definição de objetivos micro, ao nível operacional, é realizada de acordo com os objetivos organizacionais de topo e departamentais (Figura 8.2).

A experiência revela que a existência de um PPE, cujo acesso e consulta são fáceis, permite grande interligação entre todos os envolvidos. Várias são as reuniões dos CPC que debatem os mesmos, por forma a operacionalizar de acordo com a sua área de atuação.

Objetivos operacionais

Objetivos táticos

Objetivos estratégicos

©Lidel –
Participação e envolvimento dos enfermeiros nas políticas, estratégias e funcionamento da instituição 77
Métricas
Edições Técnicas, Lda.
Objetivos Eixos estratégicos Objetivos Indicadores Metas
Visão Visão Valores Valores Missão Missão Plano estratégico institucional Plano estratégico de enfermagem FIgura 8.2 – Definição de objetivos de acordo com o nível de gestão de enfermagem

acompanha a gestão de risco clínico e não clínico no hospital. Várias são as ferramentas de suporte que estão em uso nesta unidade, com recurso a sistemas de informação (Figura 8.8).

Auditoria clínica

Efetividade clínica

Transparência

Governação clínica

Inovação e desenvolvimento

Cultura de segurança:

z Sistema de notificação de incidentes

Formação

Gestão de risco

z Ferramenta global Trigger Tool

z Prevenção e controlo de riscos clínicos e não clínicos

z Elos dinamizadores de enfermagem

z Formação contínua

FIgura 8.7 – Governação clínica: exemplo prático na gestão de risco

Identificação e caracterização dos riscos

Análise e avaliação de riscos

Cultura se segurança Governação clínica Formação dos profissionais Definição de planos de ação para a gestão de risco

Ferramentas

Sistemas de informação de apoio

Operacionalização, controlo e acompanhamento

FIgura 8.8 – Formato resumo do modelo de gestão do risco em vigor numa organização de saúde

Este grupo institucional vai gerindo também a informação interna, realizando programas de formação sobre práticas seguras ajustados a todos os grupos profissionais e aos elos de ligação. Desenvolve e con sensualiza indicadores que permitem comparar e trabalhar resultados. Este grupo gere e operacionaliza sistemas de notificação de eventos adversos, partilhando e comunicando a informação produzida através de sistemas de informação interna. Várias são as instruções de trabalho, normas e procedimentos, que estão

Ambientes de Prática de Enfermagem Positivos 86

Na área da gestão, a aposta está direcionada para formações relacionadas com o balanced score card, planeamento estratégico e suas ferramentas, motivação de equipas, governação integrada e clínica, ges tão de risco, idoneidade formativa, entre outras áreas temáticas fulcrais. A sua definição cronológica foi devidamente planeada com antecedência, prevendo aquilo que é a missão, a visão e os eixos prioritários de atuação, definidos em plano estratégico bienal.

FIgura 9.2 – Áreas formativas de acordo com os eixos prioritários do planeamento estratégico de enfermagem de uma instituição hospitalar

No que concerne à formação do âmbito operacional, esta foi definida de acordo com as diferentes áreas de cuidados e também em consonância com as áreas temáticas estratégicas da enfermagem na organização. As temáticas formativas foram diversas, incluindo a área do risco, prevenção e controlo de infeções e resistência aos antimicrobianos (PPCIRA), suportes básico e avançado de vida, indicadores, padrões da qualidade dos cuidados de enfermagem, sistemas de informação em enfermagem, entre outros.

Formação para Enfermeiros dos Contextos da Prática Clínica

Planeamento Estratégico de Enfermagem

Formação para Enfermeiros Gestores dos Contextos da Prática Clínica

FIgura 9.3 – Tipologia da formação segundo as funções da equipa de enfermagem

Ambientes de Prática de Enfermagem Positivos 94
Segurança do doente Humanização
Sistemas de informação
infeção
risco
estratégicos Perspetiva Áreas formativas
Qualidade
Indicadores
Padrões de qualidade dos cuidados de enfermagem Controlo da
Gestão de
Eixos

NOTA FINAL

Desenvolvimento de competências específica s Desenvolvimento profissional

Núcleo Enfermeiros Especialistas em Saúde Mental e Psiquiátrica

Núcleo Enfermeiros Especialistas em Enfermagem Comunitária

Núcleo Enfermeiros Especialistas em Saúde materna e Obstétrica

Núcleo Enfermeiros Especialistas em Saúde Infantil e Pediátrica

Núcleo Enfermeiros Especialistas em Médico-Cirúrgica

Núcleo Enfermeiros Especialistas em Reabilitação

Núcleo Enfermagem Cuidados Gerais

FIgura 9.5 – Núcleos de enfermagem de uma organização de saúde

A criação de ambientes de prática de enfermagem positivos deverá ter foco nas lideranças de enfermagem que privilegiem a formação e o desenvolvimento profissional dos enfermeiros. Para que os enfermeiros sejam líderes transformacionais dos sistemas de saúde do futuro, é premente que desenvolvam um suporte organizacional capaz de promover uma prática profissional atualizada, com formação permanente que permita o desenvolvimento de uma carreira e trajetória profissional profícua das equipas de enfermagem. Neste contexto, assume nuclear importância o reconhecimento da formação formal e informal, assim como a formação académica, tendo premente a criação de mecanismos que fomentem a sua prática sus tentada. Este desenvolvimento profissional, assente na formação e na diferenciação das equipas, assegura a prestação de cuidados de qualidade em ambientes favoráveis à prática profissional. O investimento por parte das organizações na qualificação profissional não é utópico e é passível de operacionalização, sendo exemplo disso a organização usada como referência prática neste capítulo.

REFERÊNCIAS

American Nurses Association. (2010). National Nursing Staff Development Organization. In Nursing professional development: Scope and standards of practice. American Nurses Association.

American Nurses Association. (2011). Continuing professional development of nurses. Disponível em: http://nursin gworld.org/CE/ cewelcom.cfm.

Anderson, V. L., Johnston, A. N. B., Massey, D., & Bamford -Wade, A. (2018). Impact of MAGNET hospital desig nation on nursing culture: An integrative review. Contemporary Nurse, 54(4‑5), 483‑510.

©Lidel –
Política institucional para a qualificação profissional 99
Edições Técnicas, Lda.

Embora o plano elaborado na instituição contemple as ações, os indicadores, as metas e as métricas, dada a impossibilidade de, neste capítulo, incluir a totalidade do conteúdo, serão apenas apresentadas as ações, em relação a cada um dos pilares.

Pilar 1: Cultura de segurança

Segundo a OMS, a cultura de segurança numa instituição de saúde corresponde ao conjunto de valores, crenças, normas e competências individuais e de grupo que determinam o compromisso e a ação relativos às questões da segurança do doente (Ministério da Saúde, 2021). Neste contexto, no Quadro 11.1, estão explanados os objetivos e ações definidos na instituição para o pilar cultura de segurança.

Quadro 11.1 – Objetivos e ações definidas no pilar 1

Pilar 1: Cultura de segurança

Objetivo estratégico 1.1 – Promover a formação dos profissionais de saúde no âmbito da segurança do doente

a) Realizar um curso, preferencialmente online, na área da segurança do doente e de notificação de inci dentes de segurança do doente

Ações

b) Implementar um plano de formação anual, no âmbito da segurança do doente, para os profissionais de saúde das unidades prestadores de cuidados de saúde

c) Implementar um plano de formação anual, no âmbito da prevenção e controlo de infeção, para os profis sionais de saúde das unidades prestadores de cuidados de saúde

Objetivo estratégico 1.2 – Aumentar a literacia e a participação do doente, família, cuidador e da sociedade na segu rança da prestação de cuidados

a) Realizar campanhas de comunicação e ações de sensibilização alusivas à segurança do doente

b) Criar um e‑book no âmbito da literacia em saúde

Ações

c) Promover a participação de doente, família, cuidador e sociedade nas ações promovidas pela instituição, no âmbito do PNSD

d) Realizar campanhas de comunicação e ações de sensibilização alusivas à prevenção e controlo de infeção

Pilar 2: Liderança e governança

Ao priorizar, desenvolver e criar condições que permitam garantir uma cultura centrada na segurança, as lideranças e gestores conduzem a instituição para um nível em que doentes, famílias e profissionais de saúde sentem confiança e abertura para discutir e antecipar as fragilidades do sistema, para relatar a ocorrência de eventos indesejáveis, mas também para responder de forma transparente aos desafios da complexidade inerente à prestação de cuidados de saúde (Ministério da Saúde, 2021). Neste contexto, no Quadro 11.2, estão explanados o objetivo e as ações definidas na instituição para o pilar liderança e governança.

Quadro 11.2 – Objetivo e ações definidas no pilar 2

Pilar 2: Liderança e governança

Objetivo estratégico 2.1 – Garantir o envolvimento dos órgãos máximos de gestão e das lideranças das instituições, na implementação do PNSD

a) Consolidar a articulação dos elos de gestão de risco com os profissionais e estrutura do serviço

b) Promover o desenvolvimento de projetos de gestão de risco clínico

Ações

c) Consolidar a articulação dos elos dinamizadores do Grupo Coordenador Local do PPCIRA com os pro fissionais e a estrutura do serviço: médicos, assistentes operacionais e enfermeiros

d) Promover o desenvolvimento de projetos no âmbito da prevenção e controlo de infeção a todas as categorias profissionais

©Lidel –Edições Técnicas, Lda. Qualidade e segurança dos cuidados de enfermagem 119

z Nos resultados – padrões de desempenho e gestão por objetivos;

z Na personalidade – escalas ancoradas em traços de personalidade;

z Na comparação do avaliado com outros colaboradores – comparação por pares, distribuição forçada e ordenação simples (Alves, 2016).

A avaliação de desempenho é uma prática com um papel de destaque na gestão de recursos humanos (GRH), pelas suas consequências ao nível da produtividade, por via direta, enquanto processo de controlo do desempenho, e por via indireta, pelas relações estreitas com as restantes práticas de GRH (Alves, 2016).

A noção de desempenho nos contextos organizacionais inclui um componente de desempenho da tarefa, desempenho contextual e comportamentos de cidadania organizacional, desempenho adaptativo, lidar com comportamentos contraproducentes e gestão das alterações do desempenho ao longo do tempo (Machado, 2018). Nesta linha, gerir o desempenho diz respeito ao processo contínuo de identificar, medir e desenvolver o desempenho dos indivíduos e das equipas, alinhando o desempenho com os objetivos estratégicos da organização (Rapin et al., 2022). Em relação ao referido, o autor destaca dois aspetos, nomeadamente a ideia de continuidade, isto é, a gestão de desempenho não é um momento, mas um con tínuo que envolve o estabelecimento e redefinição contínuos de objetivos, a observação do desempenho, o feedback e o coaching como meios de comunicar e de estimular o desenvolvimento; e a ideia de alinha mento, em que as chefias são responsáveis por garantir que as atividades e resultados dos colaboradores e das equipas são congruentes com os objetivos da organização, permitindo uma vantagem competitiva. Nesta linha, a gestão de desempenho faz a ligação entre o desempenho individual e a performance organizacional, tornando explícito para a organização o contributo de cada colaborador (Alves, 2016).

A gestão de desempenho representa uma evolução dos sistemas de avaliação de desempenho, em que existe uma avaliação, tipicamente anual, do desempenho dos colaboradores, destacando os aspetos positivos e os aspetos a melhorar, e que visa dar resposta a decisões sobre os colaboradores. De facto, tal como reforçam Nascimento e Pereira (2015), a avaliação do desempenho é uma das várias etapas do processo que visa a aferição do desempenho. No que diz respeito aos objetivos dos sistemas de gestão do desempenho, estes podem dividir -se em quatro quadrantes, conforme apresentado na Figura 19.1.

Alinhar o desempenho com a estratégia da organização; fornecer informação aos colaboradores sobre o que a organização valoriza; definir e medir objetivos; medir e melhorar o desempenho

Gestão e envolvimento dos colaboradores

Organizacional Administrativa Individual Controlling

Gestão de remunerações, de recompensas/promoções de carreira

Motivação e reconhecimento, desenvolvimento, coaching e mentoring

Ambientes de Prática de Enfermagem Positivos 182
FIgura 19.1 – Objetivos da avaliação de desempenho Adaptado de Nascimento e Pereira (2015)

Tabela 20.14 – Média dos itens da dimensão Avaliação sistemática do desempenho e supervisão dos enfermeiros

OLHARES SOBRE OS COMPONENTES ESTRUTURA, PROCESSO E RESULTADO DOS AMBIENTES DE PRÁTICA DE ENFERMAGEM

Em relação ao componente Estrutura (Figura 20.1), os estudos realizados comprovam que as dimen sões mais frágeis são: Participação e envolvimento dos enfermeiros nas políticas, nas estratégias e no funcionamento da instituição e Política institucional para qualificação profissional (Ribeiro et al., 2022).

Gestão de pessoas e liderança no serviço

Ambiente físico e condições no serviço

Participação e envolvimento dos enfermeiros

Política institucional para qualificação profissional

Organização e orientação da prática de enfermagem

FIgura 20.1 – Dimensões do componente Estrutura

Qualidade e segurança dos cuidados de enfermagem

No que se refere ao componente Processo (Figura 20.2), as dimensões que têm evidenciado mais fragilidades são: Estratégias para garantia da qualidade no exercício profissional e Práticas inter‑ dependentes no exercício profissional (Ribeiro et al., 2022).

Colaboração e trabalho em equipa

Estratégias para garantia da qualidade no exercício profissional

Práticas autónomas no exercício profissional

Planeamento, avaliação e continuidade de cuidados

Sustentação teórica e legal do exercício profissional

Práticas interdependentes no exercício profissional

Ambientes de Prática de Enfermagem Positivos 194
Dimensão: Avaliação sistemática do desempenho e supervisão dos enfermeiros 2020 Média (DP) 2021 Média (DP) 2022 Média (DP) A satisfação profissional dos enfermeiros é monitorizada de forma sistemática 2,5 (0,9) 2,3 (0,9) 2,2 (0,9) A avaliação de desempenho dos enfermeiros é precisa e rigorosa, sendo reveladora do seu real desempenho 2,9 (0,9) 2,7 (0,9) 2,6 (0,9) O absentismo dos enfermeiros é monitorizado de forma sistemática 2,8 (0,9) 2,9 (1,0) 3,1 (0,9) Os acidentes de trabalho dos enfermeiros são monitorizados de forma sistemática 3,1 (0,9) 3,2 (0,9) 3,4 (0,9) A sobrecarga de trabalho dos enfermeiros é monitorizada de forma sistemática 2,6 (0,9) 2,4 (0,9) 2,5 (0,9) A rotatividade de enfermeiros no serviço é monitorizada de forma sistemática 2,7 (0,9) 2,7 (0,9) 2,8 (0,9)
FIgura 20.2 – Dimensões do componente Processo

FIgura 24.1 – Características promotoras de ambientes favoráveis

Adaptado de Ribeiro et al. (2020), Wang et al (2015) e Wei et al. (2018)

No seguimento do referido, a realidade vivenciada na atualidade, em que é notória uma escassez global de enfermeiros, coloca um desafio essencial aos gestores de enfermagem, no sentido de maximi‑ zarem a retenção e o bem -estar destes profissionais. Embora sejam vários os fatores que concorrem para a satisfação e retenção dos profissionais, Donley (2021) adverte para a necessidade de criar ambientes que caracterizados por qualidades já bem descritas na literatura (Figura 24.2).

Reconhecimento e apoio

Automonia e envolvimento nas decisões

Comunicação clara

Principais qualidades dos ambientes de prática de enfermagem saudáveis

Autenticidade do líder

Interações respeitosas, confiança e segurança

Oportunidades pessoais e profissionais de crescimento

Trabalho em equipa e colaboração

FIgura 24.2 – Principais qualidades dos ambientes de prática de enfermagem saudáveis

Adaptado de Donley (2021)

Ambientes de Prática de Enfermagem Positivos 220 Liderança eficaz e participativa Reconhecimento da autonomia Descentralização na tomada de decisão
Responsabilidade profissional Características de ambientes favoráveis Comunicação eficaz intra e interprofissional
Trabalho em equipa

Ainda neste contexto, cabe aos enfermeiros gestores estar atentos às necessidades e solicitações dos enfermeiros da equipa, definindo estratégias que garantam mais prontamente a sua capacitação (Góes et al., 2022; Bitencourt et al., 2020).

Ainda que a comunicação, o trabalho em equipa, as práticas colaborativas, o reconhecimento, a autonomia e as oportunidades de crescimento e desenvolvimento profissional sejam elementos fulcrais, a promoção de ambientes de prática de enfermagem positivos requer uma atenção particular às diversas dimensões que, na literatura, se relacionam com a temática. A existência de um instrumento que reúne essas dimensões, de que é exemplo a Escala de Avaliação dos Ambientes de Prática Profissional de Enfermagem (SEE‑Nursing Practice, do inglês Scale for the Environments Evaluation of Professional Nursing Practice) (Ribeiro et al., 2021), além de facilitar o diagnóstico da situação, permitirá uma mo nitorização contínua (Figura 24.3).

Processo

zzColaboração e trabalho em equipa

zzEstratégias para a garantia da qualidade zzPráticas autónomas no exercício profissional

zzPlaneamento, avaliação e continuidade de cuidados

zzSustentação teórica e legal do exercício profissional

Estrutura Resultado

zzPráticas interdependentes no exercício profissional

zzGestão de pessoas e liderança no serviço

zzAmbiente físico do serviço

zzParticipação e envolvimento dos enfermeiros

zzPolítica para a qualificação profissional

zzOrganização e orientação da prática de enfermagem

zzQualidade e segurança dos cuidados de enfermagem

zzAvaliação sistemática dos cuidados e dos indicadores de enfermagem

zzAvaliação sistemática do desempenho e supervisão dos enfermeiros

FIgura 24.3 – Dimensões da Escala de Avaliação dos Ambientes de Prática Profissional de Enfermagem

Adaptado de Ribeiro et al. (2021)

De facto, a avaliação dos ambientes de prática profissional, sob a ótica dos enfermeiros da equipa, além de ser uma prioridade, pode dar excelentes contributos aos gestores, na medida em que permitirá identificar as áreas mais frágeis e definir estratégias de melhoria (Ribeiro et al., 2022).

O diagnóstico situacional é essencial para a implementação de ações de melhoria no sentido de um ambiente mais positivo para clientes, profissionais e instituição. No âmbito da melhoria contínua dos ambientes de prática profissional, as áreas de atenção devem estar voltadas para os componentes Estru tura (características relativamente estáveis das instituições), Processo (atividades desenvolvidas para a produção de bens e serviços) e Resultado (realização de alterações desejáveis nos produtos ou serviços) (Donabedian, 2003), que se coadunam com a já mencionada SEE -Nursing Practice (Ribeiro et al., 2021). Nesta perspetiva, na gestão de enfermagem, a monitorização dos ambientes de prática profissional é também uma oportunidade única para melhorar a qualidade assistencial.

Face ao exposto, o enfermeiro gestor assume um papel de destaque na promoção de ambientes de prática profissional de enfermagem positivos, na medida em que é o elo de ligação entre os diferentes elementos da equipa e as diferentes estruturas de gestão das instituições.

Ambientes de Prática de Enfermagem Positivos 222

avaliação dos cuidados prestados e da cultura de segurança, sob a ótica desses profissionais, além de ser uma prioridade, pode dar excelentes contributos aos gestores, na medida em que permitirá identificar as áreas mais frágeis e definir estratégias de melhoria (Fassarella et al., 2018). Apesar de, durante a pan demia, ter sido evidente o investimento em algumas áreas dos ambientes de prática e da segurança do doente, a inexistência de uma cultura de notificação de eventos, já conhecida em Portugal no contexto pré -pandémico (Fassarella et al., 2018), dificultou a adoção de atitudes e comportamentos diferentes pelos profissionais. Este dado chama a atenção para a necessidade de investir nesta área (Ribeiro et al., 2022). Assim, torna‑se relevante:

z Avaliar a cultura de segurança;

z Avaliar os incidentes notificados;

z Avaliar os cuidados omissos (cuidados que ficam por realizar);

z Avaliar a qualidade dos cuidados prestados.

CONTRIBUTOS DAS ORGANIZAÇÕES DE SAÚDE PARA A CRIAÇÃO DE AMBIENTES DE PRÁTICA DE ENFERMAGEM POSITIVOS

Na sequência dos aspetos abordados ao longo do capítulo, torna -se claro o contributo das organizações na promoção de ambientes de prática de enfermagem positivos. Além da adoção e implementação dos elementos‑chave (Figura 25.3), a divulgação dos avanços é fundamental como retorno não só para os profissionais, mas também para os cidadãos.

Elementos-chave da dimensão Estrutura

1. Gestão e liderança

2. Fundamentos de enfermagem

Ambientes de prática de enfermagem positivos:

Elementos-chave

Estrutura

3. Dotação de profissionais

4. Materiais, equipamentos e instalações

5. Capacitação profissional

6. Desenvolvimento profissional

7. Reconhecimento, valorização e incentivos

8. Saúde e segurança no trabalho

Elementos-chave da dimensão Processo

Processo

Resultado

1. Práticas autónomas

2. Práticas colaborativas

3. Sustentação teórica, legal e científica

4. Qualificação do exercício profissional

Elementos-chave da dimensão Resultado

1. Envolvimento e satisfação dos clientes

2. Indicadores de prevenção de complicações e ganhos em saúde

3. Bem-estar, envolvimento e satisfação dos profissionais

4. Acidentes de trabalho, absentismo e rotatividade

5. Segurança e qualidade dos cuidados

FIgura 25.3 – Elementos‑chave de ambientes de prática de enfermagem positivos

Ambientes de Prática de Enfermagem Positivos 234

Posfácio

Em 25 capítulos e mais de 200 páginas, este livro apresenta e discute diferentes olhares sobre os ambien tes de prática de enfermagem a partir das dimensões Estrutura, Processo e Resultado, que permeiam a busca pela qualidade nos cuidados em saúde e na segurança do doente. A fim de conclusão e fechamento do conteúdo deste livro, é oportuno registar que a obra chega num momento mais do que oportuno, em que os sistemas de saúde estão a começar a recuperar das consequências da pandemia de COVID-19. A pandemia surgiu justamente num momento de acúmulo de necessidades e condições de saúde não tratadas, crescimento nas demandas de saúde e uma grande meta global de oferecer saúde para todos. Uma das principais consequências foi o agravamento ainda maior das condições laborais dos profissionais de enfermagem, que estavam e estão na linha de frente da assistência à saúde.

Historicamente, a enfermagem tem lutado por melhores condições de trabalho, as quais envolvem instalações físicas adequadas ao exercício profissional, reconhecimento, autonomia e melhor remunera ção. Com o advento da pandemia, estudos e relatos sobre burnout, insatisfação no trabalho, intenção de deixar o emprego ou mesmo a profissão têm-se tornado cada vez mais frequentes. Face a este contexto, é fundamental a busca pela construção de ambientes de prática de enfermagem positivos que possibilitem a recuperação da força de trabalho de enfermagem e a reestruturação dos sistemas de saúde.

A construção de ambientes de prática de enfermagem positivos envolve a promoção de um clima de trabalho saudável e produtivo, com valorização e respeito pelos profissionais de enfermagem. Para isso, é necessário haver comunicação eficaz, liderança, apoio, reconhecimento, empatia, colaboração e trabalho em equipa. Cada um desses tópicos foi amplamente explorado nos capítulos que compõem as partes I a IV desta obra, escritos por colegas especialistas, que têm investido nessas áreas nos seus contextos de trabalho.

O livro finaliza com um convite à ação, como indica o título da parte V, “Ambientes de Prática Profissional de Enfermagem Positivos: da Intenção à Ação”. Este convite reforça a importância do envolvimento individual de cada um de nós, enquanto profissionais de enfermagem, mas também a necessidade de um engajamento coletivo que possibilite a busca de respostas políticas, visando a melhoria das condições de trabalho da enfermagem nos diferentes cenários de cuidado. Neste sentido, o livro cumpre com o seu objetivo ao se mostrar como um roteiro para a qualidade e segurança assistencial em enfermagem e saúde. Por fim, registo a minha honra em redigir este posfácio e congratulo a organização pelo brilhante trabalho empreendido na conceção deste livro.

©Lidel –Edições
Técnicas, Lda.
José Luís Guedes dos Santos (Coautor)

AMBIENTES DE PRÁTICA

DE ENFERMAGEM POSITIVOS

Um roteiro para a qualidade e segurança

Ambientes de prática de enfermagem positivos são fundamentais para maximizar os resultados ao nível da segurança e satisfação dos clientes, assegurar a saúde e o bem-estar dos pro ssionais, e alcançar um ótimo desempenho organizacional. Decorrente deste triplo impacto, desenvolveu-se o presente livro que, de forma simples e facilmente entendível, re ete sobre um conjunto de informações relevantes à criação de ambientes de prática de enfermagem mais positivos para todos os intervenientes da área da saúde.

A informação compilada resulta da investigação realizada e do investimento que tem sido feito em alguns contextos no sentido de garantir a qualidade e a segurança, e acrescentar valor. Neste seguimento, destacam-se os conteúdos, na sua relação com os ambientes de prática de enfermagem:

Qualidade em saúde

Segurança do doente

Segurança dos pro ssionais

Avaliação dos ambientes

Dimensões do componente Estrutura

Dimensões do componente Processo

Dimensões do componente Resultado

Contributo dos enfermeiros, dos enfermeiros especialistas e dos enfermeiros gestores

Oportunidades e estratégias promotoras de ambientes de prática de enfermagem positivos

Dada a relevância da temática, esta obra destina-se a enfermeiros, a investigadores, a estudantes e a interessados na temática dos ambientes de prática pro ssional.

9 789897 528798

www.lidel.pt
ISBN 978-989-752-879-8
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