CONSOANTES TARDIAS DO PORTUGUÊS /r/, /l/ e /ʎ/

Page 1

Consoantes ta rd ias do português /r/, /l/ e /λ /

A prendizagem e consolidação de modelos linguísticos

Para técnicos,
pais
ROSA LIMA
professores e

Consoantes Tardias do Português

Lima
Rosa
/r/,/I/,/ / Aprendizagem e consolidação de modelos linguísticos

A Lidel adquiriu este estatuto através da assinatura de um protocolo com o Camões — Instituto da Cooperação e da Língua, que visa destacar um conjunto de entidades que contribuem para a promoção internacional da língua portuguesa.

Edição e Distribuição

Lidel — Edições Técnicas, Lda.

Rua D. Estefânia, 183, r/c Dto — 1049‑057 Lisboa

Tel: +351 213 541 418 lidel@lidel.pt

Projetos de edição: editoriais@lidel.pt www.lidel.pt

Livraria

Av. Praia da Vitória, 14 A — 1000‑247 Lisboa

Tel: +351 213 511 448 livraria@lidel.pt

Copyright © 2023, Lidel — Edições Técnicas, Lda.

ISBN edição impressa: 978 989 752 509 4

1.ª edição impressa: abril 2023

Layout: magnetic; adaptação de layout: Pedro Santos

Paginação: Pedro Santos

Impressão e acabamento: Tipografia Lousanense, Lda.

Depósito Legal: 514583/23

Capa: José Manuel Reis

Foto da capa: © Seventyfour

Todos os nossos livros passam por um rigoroso controlo de qualidade, no entanto, aconselhamos a consulta periódica do nosso site (www.lidel.pt) para fazer o download de eventuais correções.

Não nos responsabilizamos por desatualizações das hiperligações presentes nesta obra, que foram verificadas à data de publicação da mesma. Os nomes comerciais referenciados neste livro têm patente registada.

Reservados todos os direitos. Esta publicação não pode ser reproduzida, nem transmitida, no todo ou em parte, por qualquer processo eletrónico, mecânico, fotocópia, digitalização, gravação, sistema de armazenamento e disponibilização de informação, sítio Web, blogue ou outros, sem prévia autorização escrita da Editora, exceto o permitido pelo CDADC, em termos de cópia privada pela AGECOP — Associação para a Gestão da Cópia Privada, através do pagamento das respetivas taxas.

3 © LIDEL –EDIÇÕES TÉCNICAS Índice Sobre a autora .............................................................................................. 6 Fonemas e símbolos 7 PARTE I ‑ Abordagem conceptual 1. Introdução .............................................................................................. 11 2. Objetivos e distribuição de atividades 27 PARTE II ‑ Aspetos práticos de intervenção 3. Fonema/r/ .............................................................................................. 33 Caracterização do fonema 33 Propostas para a realização e automatização articulatória do fonema /r/ .... 34 Fase propedêutica à produção do fonema ............................................... 34 3.1 Fonema /r/ – Sílaba Cr V ........................................................................ 39 Discriminação e identificação de modelos lexicais .................................... 39 Nomeação e memorização de imagens ................................................... 39 Evocação léxico‑semântica .................................................................... 42 3.2 Fonema /r/ – Sílaba VCr ........................................................................ 43 Discriminação e identificação de modelos lexicais .................................... 43 Nomeação e memorização de imagens 43 Evocação léxico‑semântica .................................................................... 45 3.3 Fonema /r/ – Sílaba CVCr ...................................................................... 46 Discriminação e identificação de modelos lexicais .................................... 46 Nomeação e memorização de imagens 46 Evocação léxico‑semântica .................................................................... 49
Consoantes Tardias do Português 4 3.4 Fonema /r/ – sílaba CCr V ....................................................................... 50 Discriminação e identificação de modelos lexicais .................................... 50 Nomeação e memorização de imagens ................................................... 50 Evocação léxico‑semântica .................................................................... 53 3.5 Atividades que contemplam distintos tipos de sílabas com o fonema /r/ 54 Encerramento léxico‑semântico em enunciados com interrogativas ............ 54 Atividades para respostas e re‑elaboração de enunciados, partindo de interrogativas ..................................................................... 56 Memorização de quadras ...................................................................... 59 Reconto de histórias ............................................................................. 61 4. Fonema /l/ ............................................................................................. 69 Caracterização do fonema /l/ ................................................................ 69 Propostas para a realização e automatização articulatória do fonema /l/ ..... 69 4.1 Fonema /l/ – Sílaba ClV 72 Discriminação e identificação de modelos lexicais .................................... 72 Nomeação e memorização de imagens ................................................... 72 Evocação léxico‑semântica .................................................................... 75 4.2 Fonema /l/ – Sílaba VCl ......................................................................... 76 Discriminação e identificação de modelos lexicais .................................... 76 Nomeação e memorização de imagens ................................................... 77 Evocação léxico‑semântica .................................................................... 78 4.3 Fonema /l/ – Sílaba CVCl ....................................................................... 79 Discriminação e identificação de modelos lexicais 79 Nomeação e memorização de imagens ................................................... 80 Evocação léxico‑semântica .................................................................... 82 4.4 Fonema /l/ – Sílaba CClV ....................................................................... 83 Discriminação e identificação de modelos lexicais 83 Nomeação e memorização de imagens .................................................. 84 Evocação léxico‑semântica .................................................................... 85
5 © LIDEL –EDIÇÕES TÉCNICAS Índice 4.5 Atividades que contemplam distintos tipos de sílabas com o fonema /l/ ...... 86 Encerramento léxico‑semântico em enunciados com interrogativas ............ 86 Atividades para respostas e re‑elaboração de enunciados, partindo de interrogativas ..................................................................... 89 Memorização de quadras 91 Reconto de histórias ............................................................................. 93 5. Fonema / / ............................................................................................. 100 Caracterização do fonema ..................................................................... 100 Propostas para a realização e automatização articulatória do fonema / / .... 100 5.1 Fonema / / – Sílaba C V ....................................................................... 102 Discriminação e identificação de modelos lexicais .................................... 102 Nomeação e memorização de imagens ................................................... 102 Evocação léxico‑semântica .................................................................... 104 5.2 Atividades que contemplam distintos tipos de sílabas com o fonema / / 105 Encerramento léxico‑semântico em enunciados com interrogativas ............ 105 Atividades para respostas e re‑elaboração de enunciados, partindo de interrogativas ..................................................................... 108 Memorização de quadras ...................................................................... 110 Reconto de histórias ............................................................................. 112 6. Criatividade linguística ........................................................................... 118 Domínio lógico verbal e expansão da narrativa através de ilustrações que evocam nomes em que constam os fonemas /r/, /l/, / / .................... 118 Bibliografia ................................................................................................... 141

Sobre a autora

Doutorada em Psicologia, na área da Psicologia da Linguagem, Rosa Lima tem trabalhado em problemáticas vinculadas à educação de crianças com necessi‑ dades educativas especiais, em particular as que apresentam dificuldades na aquisição da linguagem em geral e da Fonologia em particular.

É docente da Escola Superior de Educação Paula Frassinetti, Porto, onde tem orientado várias teses de mestrado e arguido diversas teses de doutoramento.

É membro de investigação do Departamento de Fonética do Centro de Línguas, Literaturas e Culturas da Universidade de Aveiro.

Com formação específica na área da fala, voz e linguagem, desenvolveu e cola borou em vários projetos de investigação sobre a aquisição da linguagem, entre os quais se salienta a investigação na área da aquisição da linguagem entre 8 a 15 e 15 a 30 meses, através do Instituto de Educação da Universidade do Minho.

A fala e linguagem na infância tem constituído a linha mestra do trabalho da autora, tendo como base a aplicação prática e a reunião de dados empíricos para intervenção reeducativa, particularmente para a aprendizagem articulató‑ ria e estabilização fonológica dos fonemas apresentados nesta obra.

6

Fonemas e símbolos

Nota: Utilizamos os parênteses retos [ ] sempre que nos referimos a uma dimensão articulatória, ou seja, à produção do fone que representa o som da língua. As barras // são utilizadas quando pretendemos referenciar o fonema, quer dizer, quando este se encontra inserido numa sequência de sons, apenas interpretados por um ouvinte com conhecimento da língua. O uso das barras representa a maior parte dos casos ao longo desta obra.

Fonemas

/r/ Fonema correspondente ao som [r], considerado consoante tardia. As se guintes palavras são exemplo da existência desse fonema em diferentes posições e extensões silábicas: cara, cadeira, urso, fotografia, arbusto.

/l/ Fonema correspondente ao som [l], considerado consoante tardia. As se guintes palavras são exemplo da existência desse som em diferentes posi ções e extensões silábicas: limão, vulcão, farol, floresta, alto.

/ / Fonema correspondente ao som de aquisição tardia [ʎ], que corresponde à grafia lh. As seguintes palavras são exemplo da existência desse som em diferentes posições e extensões silábicas: olho, colher, telhado, ovelha, mealheiro.

/j/ Fonema que corresponde à semivogal grafada <i>. Ocorre, com gran de frequência, em substituição dos fonemas tardios /r/ e / /, ou, mais raramente, do fonema /l/, em qualquer tipo de sílaba da qual possam constar. Exemplo da substituição do fonema /r/, /l/ e / / por semivogal /j/: embora → emboia; calado → caiado; palhaço → paiaço.

/w/ Fonema que corresponde à semivogal grafada <u>. Ocorre, com grande frequência, em substituição dos fonemas tardios /r/ e /l/, ou, mais rara‑ mente, do fonema / /. Exemplo da substituição dos fonemas /r/, /l/ e / / por semivogal /w/: pera → peua; salada → sauada, telhada → teuado.

7 © LIDEL –EDIÇÕES TÉCNICAS

Consoantes Tardias do Português

/z/, /s/ Fonemas consonânticos da classe das fricativas correspondentes ao som [z] e [s], ambos com ponto de articulação alveolar, não existindo escoamento lateral do ar. Tais consoantes diferenciam se pelo tipo de vozeamento, o qual se refere à vibração ou não vibração das cordas vocais, fato pelo qual o fonema /z/ é sonoro, ou seja, existe vibração das cordas vocais (exemplos: zero, casa, exame) e o /s/ é surdo, uma vez que não existe vibração das cordas vocais (exemplos: sopa, laço, massa). Estes dois fonemas podem realizar‑se sob forma de distintos valores ortográficos (z, s, ss, ç, x).

Símbolos

C r V Sílaba formada por Consoante (C) Vogal (V). Na consoante, assinala se o fonema que a constitui — /r/.

VC r Sílaba formada por Vogal (V) Consoante (C). Junto da consoante, assi nala se o fonema que a constitui — /r/.

CVC r Sílaba formada por Consoante (C) Vogal (V) Consoante (C). O fonema /r/ encontra se junto da consoante que o representa — a última con soante da sílaba.

CC r V Sílaba formada por Consoante (C) Consoante (C) Vogal (V). O fonema /r/ está assinalado junto da consoante que o representa — segunda consoante.

ClV Sílaba constituída por Consoante (C) Vogal (V), sendo a consoante o fonema /l/.

VCl Sílaba constituída por Vogal (V) Consoante (C), sendo a consoante o fonema /l/.

CVCl Sílaba formada por Consoante (C) Vogal (V) Consoante (C), tratando ‑se esta última consoante do fonema /l/.

CClV Sílaba constituída por Consoante (C) Consoante (C) Vogal (V), sendo a segunda consoante o fonema /l/.

C V Sílaba formada por Consoante (C) Vogal (V), sendo a consoante o fonema / / — correspondente ao grafema <lh>.

8

Parte I

Abordagem conceptual

Fonema /r/

2. Objetivos e distribuição de atividades

O objeto central desta obra diz respeito à aquisição dos fonemas /r/, /l/ e /ʎ/, considerados de tardia aquisição, na escala de apropriação dos fonemas da língua portuguesa, apresentando, não obstante, carácter interventivo no que concerne à consolidação de desempenhos fonológicos dos fonemas em questão. Com alguma frequência, o domínio destes fonemas prolonga‑se até fases que se sucedem à educação de infância, podendo prevalecer em faixas etárias e esco lares posteriores. Reforçando quanto anteriormente dito, o mau uso de uma lín gua pode constituir a génese de subsequentes dinâmicas interativas negativas, pautadas pela utilização de recursos ou estratégias de comunicação variadas onde marcados desajustes de tipo psicossocial poderão estar presentes, assim como interferir num insuficiente domínio da linguagem escrita.

A primeira parte desta obra refere‑se a um amplo enquadramento conceptual acerca do fenómeno linguístico e encontra‑se subdividida em sucintas aborda gens que abarcam tanto a linguagem em seus aspetos pluridimensionais como adulterações no uso da fonologia, dados básicos acerca da aquisição da lingua‑ gem produtiva, etc.

A segunda parte apresenta‑se como linha orientadora para a aprendizagem fonético‑fonológica dos fonemas /l/, /r/, /ʎ/, considerados de mais tardia aquisi‑ ção e visa não apenas a aprendizagem dos mecanismos articulatórios de cada um dos fonemas mas também a consolidação de padrões fonológicos nos quais estes fonemas se inserem. Pretende‑se, assim, o incremento e a exploração de uma interação comunicativo‑linguística mais facilitada e uma performance verbal mais fluente e criativa.

O uso de uma linguagem produtiva, de tipo espontâneo, “dispensando” qualquer estratégia ou processo de simplificação, constitui a meta a atingir.

A linha orientadora desta obra baseia‑se em progressivos domínios tanto de aspe tos fonéticos como fonológicos dos fonemas‑alvo deste trabalho, considerados

27 © LIDEL –EDIÇÕES TÉCNICAS

de mais tardia aquisição na sua apropriação, por parte da criança, que se confron‑ ta com a aprendizagem do português europeu, seguida da integração de vocá bulos que os contém, em outras dimensões da linguagem, tais como estruturas morfossintáticas dirigidas e espontâneas.

Partindo de uma metodologia formal, de intervenção dirigida, pretende‑se estabilizar o padrão motor necessário à realização de cada um dos referidos fonemas, em contextos silábicos variados que percorrem as distintas consti tuências silábicas, desde o ataque simples em sílaba canónica (CrV) à ramifi cação de ataque em sílaba complexa (CCrV).

Objetivo último mas igualmente fundamental é o acesso ao domínio semântico em que a nomeação, a evocação, a construção de curtos enunciados e textos se fundem na indissolúvel relação entre a forma e o conteúdo verbal, tornando possível a partilha de saberes num universo plural de sujeitos, capacitados para fazerem uso das regras que a mesma língua lhes impõe e lhes permite uma comunicação verbal facilitada.

Por se considerar que o treino da perceção auditiva, de tipo verbal, constitui um importante dado para um reconhecimento da produção‑modelo (sobretudo quando esta se revelar inconsistente, caso da perturbação de tipo fonológico), uma atividade de discriminação auditiva da fala, diferenciando o verdadeiro do falso modelo de produção, é apresentada e explorada com a criança. O seguin te passo faz apelo à nomeação de imagens, sugerida através de indicadores gráficos que induzem a sua evocação léxico‑semântica e fazendo uso do(s) referido(s) fonema(s).

Organizadas de menor a maior extensão silábica, as referidas imagens constituem‑se como ilustrações que contemplam distintos tipos de sílabas (CV; CCV; CVC; VC) assim como distintas posições da sílaba na palavra.

A fim de se encontrar um fio condutor e explicativo dos propósitos desta obra, explicitam‑se a seguir os momentos ou passos globais da mesma.

Terminada a Parte I, dedicada a uma introdução conceptual acerca do tema lin‑ guagem como fenómeno pluridimensional e aquisição da fonologia na infância, a Parte II desta obra, dedicada à parte prática da reeducação, inclui momentos dedicados às atividades que conduzem à aquisição e estabilização produtiva dos fonemas /r/, /l/, /ʎ/, respetivamente.

De uma forma global, contemplam‑se para cada fonema as seguintes ativi dades:

28
Português
Consoantes Tardias do

1. Caracterização do fonema.

2. Propostas para a realização e automatização articulatória do fonema.

3. Discriminação e identificação de modelos lexicais.

4. Nomeação e memorização de imagens que contemplam o fonema em sua distinta ocorrência silábica e número de sílabas.

5. Evocação léxico‑semântica (encerrar frase com palavra que contenha fonemas /l/, /r/ e /ʎ/, em distintos tipos de sílaba).

6. Encerramento léxico‑semântico em enunciados com interrogativas (res posta a frase interrogativa com palavra que contém fonema /l/, / r/ e / ʎ/).

7. Memorização de quadras que contenham palavras que incluem o(s) fone ma(s) /l/, /r/ e /ʎ/.

8. Reconto de histórias previamente escutadas e ilustradas das quais fazem parte nomes que contêm, cada uma delas, o fonema que se pretende estabilizar, em diversos contextos de produção fonético‑fonológica.

9. Criatividade linguística: Domínio lógico verbal e expansão da narrativa através de ilustrações que evocam nomes em que constam os fonemas /r/, /l/, /ʎ/.

Por uma questão didática, os itens atrás referidos podem ser resumidos em quatro grandes direções ou pontos:

• Realização articulatória do(s) fonema(s) (itens 1 e 2);

• Perceção de modelos fonológicos (item 3);

• Linguagem dirigida (itens 4, 5, 6 e 7);

• Da linguagem dirigida à linguagem espontânea (itens 8 e 9).

A última parte desta distribuição — Da linguagem dirigida à linguagem espontânea — constitui‑se como atividade que deverá revelar o grau de estabilização relativamente ao adequado uso do(s) fonema(s) em processo de aprendizagem. Portanto, o recurso a este tipo de produção, sob forma de narrativa, deverá ser usado com alguma “proteção” ou ajuda por parte do adulto.

Com isto pretende‑se evitar o uso de erros de produção com os fonemas em processo inicial de aprendizagem, uma vez que a memória semântica ou memória dos conteúdos inerentes à narrativa que advém da escuta de his‑ tórias ou sequências temporais gráficas fazem apelo a processos de grande carga cognitiva.

As simplificações de fala que possam persistir e que traduzem, por consequên cia, um inconsistente domínio do fonema, em qualquer tipo de sílaba ou vocábu lo que o contenha, deverão constituir o alerta para a continuidade da persistente

29 © LIDEL –EDIÇÕES TÉCNICAS
Objetivos e distribuição de atividades

Consoantes Tardias do Português

aprendizagem baseada nos anteriores momentos ou espaços que correspondem à linguagem dirigida.

O contexto familiar e escolar deverão constituir uma preciosa ajuda para o refor‑ ço da autoperceção do erro ou incorreção produtiva que a criança apresenta, alertando para o adequado modelo.

Todas as propostas de atividades atrás descritas, cuja finalidade se centra na correção e acesso ao domínio facilitado da fonologia do português, constituem, a nosso ver, uma entre muitas outras, passíveis de grande funcionalidade na hora de levar a cabo a adequada produção da fonologia.

Seguros de que qualquer estratégia reeducativa será boa quando funcional e tal funcionalidade basear‑se‑á no cumprimento do objetivo em vista com a maior brevidade possível, deixamos o critério da eficácia deste tipo de metodologia a quem possa testemunhá‑la, expandindo‑a.

Partilhamos, pois, com pais, professores, educadores em geral e terapeutas, o uso do material presente nesta obra, na mira de uma produção verbal infantil que não desperte qualquer reparo por parte de um vulgar ouvinte.

Não sendo pequena a meta a atingir, acreditamos ser qualquer criança dela merecedora, dado a interface entre a socialização e a produção verbal oral que ocorre durante o percurso de desenvolvimento neuromotor e sociopsicolinguís‑ tico que marca os primeiros patamares da evolução da criança.

Qualquer tipo de atraso ou dificuldade na aquisição da linguagem produtiva deverá, pois, constituir preocupação latente tanto por parte da família como dos profissionais implicados no processo de educação da criança. O encaminha‑ mento para os agentes que, por formação e uso de específicas estratégias de intervenção que poderão orientar, dirigir, incrementar, estimular e cimentar um bom desempenho linguístico, será, pois, a atitude que a família, a escola e a sociedade em geral deverão apoiar e estimular.

30

Parte II

Aspetos práticos de intervenção

3. Fonema/r/ Caracterização do fonema

Este fonema é caracterizado como uma consoante vibrante simples (produzida mediante a vibração de um articulador, correspondente a um só batimento), apicoalveolar (porque o seu ponto de articulação ocorre por batimento da pon ta/ápice da língua contra os alvéolos), sonora (porque entram em vibração as cordas vocais) e oral porque o escoamento do ar, vindo dos pulmões, sai apenas pela cavidade oral.

Tendo em conta que este fonema nunca ocorre em posição de sílaba inicial mas, sim, em posição medial ou final, apresenta dificuldades acrescidas em relação aqueles que apenas se constituem como fazendo parte da sílaba universal, for mada por uma consoante e uma vogal (CrV).

Tal facto justifica ser este fonema assumido como constituinte de vários tipos de sílaba, a saber:

• C rV, consoante‑vogal (ex.: cara);

• CC rV, também designado grupo consonantal, constituída a sílaba por consoante‑consoante‑vogal, na qual surge como segunda consoante (ex.: prato; padre);

• CVC r, em final de sílaba (ex.: porta; recorte; comer);

• VC r, em final de sílaba com consoante inicial ausente (ex.: erva; arco);

• CC r VC r, em segunda e última sílaba deste complexo formato silábico (ex.: cobrir), que, nos tipos de sílaba constituídos por Cr V ou CC rV, a vogal que deles poderá fazer parte pode apresentar traço nasal, sem que se modi fique a sua estrutura silábica. São exemplo os nomes Miranda e frente. Neste caso, a estrutura da sílaba é constituída por Cr V~ ou CC rV~, respe tivamente.

Para além deste facto (pluralidade de contextos silábicos), também a atividade neuromotora que a sua articulação exige está na base da sua tardia aquisição. A elevação da ponta da língua, até atingir os alvéolos superiores, traduz um movimento fino da mobilidade lingual, para o qual se exige suficiente tonicidade e treino muscular.

33 © LIDEL –EDIÇÕES TÉCNICAS

3.1 Fonema /r/ – Sílaba CrV

Discriminação e identificação de modelos lexicais

Objetivo: Discriminar, auditivamente, pares de palavras relativamente à igualdade e à identificação do modelo correto para treino da perceção auditiva, de tipo verbal.

Atividade 1: Apresentar qualquer um dos pares que constam da tabela abaixo apresentada (ex.: pirata → piata) e perguntar à criança se estes se ouvem de forma igual ou diferente. A criança deverá selecionar a palavra que considera corretamente pronunciada.

Pirata

Farinha

Tesouro

Xarope

Girafa

Caracol

Dinossauro

Furador

Senhora

Tartaruga

Piata

Fainha

Tesouo

Xaope

Giafa

Caacol

Dinossauo

Fuador

Senhoa

Tartauga

Nomeação e memorização de imagens

Objetivo: Ampliar o vocabulário e incrementar o modelo correto de produção com o fonema‑alvo (/r/), em palavras de uso frequente e distinta extensão silábica. Para conseguir tal objetivo, a seguir se apresentam atividades que o fomentam.

Atividade 1: A criança deverá nomear todas as imagens que constam desta série e contêm o fonema /r/ em formato silábico C r V com ou sem ajuda do adulto.

Atividade 2: A criança deverá assinalar e nomear, na tabela abaixo, as ima gens que correspondem à função ou qualidade, pelo adulto enumeradas.

39 © LIDEL –EDIÇÕES TÉCNICAS
Fonema/r/

Consoantes Tardias do Português

Atividade 3: Memória visual e fonológica

Como primeira opção, o adulto apresentará à criança séries diversas de elemen‑ tos gráficos, baseados naqueles que são abaixo apresentados. Posteriormente, os elementos de cada conjunto serão desorganizados e ocultados. A criança deverá reorganizá‑los e, de novo, nomeá‑los, tendo em conta o correto modelo de produção.

Uma segunda opção para esta atividade consiste em perguntar à criança qual o nome e o lugar que ocupava determinada imagem, depois de ter sido desfeita ou oculta uma qualquer ordem sequencial de imagens, inicialmente apresentadas. Uma terceira opção, que faz apelo à memória verbal, consistirá em a criança memorizar e repetir, oralmente, uma sequência de nomes, dita pelo adulto, em que consta o fonema /r/ neste tipo de sílaba, a qual poderá ou não fazer parte das imagens abaixo presentes.

Imagens dissilábicas

40
PERU LAURA PERA TOURO MURO CARA ZERO VERA SARA HORAS

EDIÇÕES TÉCNICAS

Imagens trissilábicas – sílaba medial

CORAÇÃO GIRASSOL SEREIA GIRAFA LARANJA

MORANGO ORELHA CEREJA ARANHA LAREIRA

Imagens trissilábicas e polissilábicas – sílaba medial e final

PINHEIRO BANDEIRA CENOURA BIBERÃO CADEIRA

CHUVEIRO BATEDEIRA BAILARINA DINOSSAURO CARANGUEJO

41 © LIDEL –
Fonema/r/

Evocação léxico‑semântica

Objetivo: Explorar a compreensão e a memória verbal, através da evocação e explicitação do conteúdo de palavras que fazem parte de campos semânticos particulares.

Atividade 1: O adulto lê um enunciado considerado incompleto. A criança deverá encerrá‑lo com a palavra que considere adequada. Caso apresente difi‑ culdades, deverá o adulto oferecer‑lhe o adequado nome.

Atividade 2: Usando a palavra que encerrou o enunciado e qualquer inter‑ rogativa (O que é?; Quem…?; Onde…?; Quando…?; Porquê…?), o adulto fará uma pergunta à criança, cuja resposta faça parte do enunciado apresentado, de forma incompleta.

Ex. 1: Adulto: Quem faz o pão é o…

Criança: Padeiro!

Ex. 2: Adulto: Quem é o padeiro?

Criança: É quem/a pessoa que faz o pão.

Quem tem cara de mau e uma perna de pau é o… (pirata)

O sol é de cor… (amarela)

Os coelhos gostam de comer… (cenoura)

As fadas, para fazerem magia, têm uma… (varinha)

Quem faz o pão, é o… (padeiro)

A laranjeira dá… (laranjas)

O animal que tem um pescoço comprido é uma… (girafa)

Uma pessoa que não tem cabelo na cabeça é… (careca)

A teia foi feita pela… (aranha)

Quando está muito frio, acendemos com lenha a… (lareira)

42 Consoantes Tardias do Português

3.2 Fonema /r/ – Sílaba VCr

Discriminação e identificação de modelos lexicais

Objetivo: Discriminar, auditivamente, pares de palavras relativamente à igualdade e à identificação do modelo correto, para treino da perceção auditiva de tipo verbal.

Atividade: Apresentar qua lquer um dos pares abaixo apresentado (ex.: erva → eva) e perguntar à criança se estes se ouvem de forma igual ou diferente, selecionando, a seguir, qual a palavra que considera corretamente pronunciada.

Irmão Imão

Orca Oca

Harpa Hapa

Árvore

Avore

Artur Atur

Arco Aco

Ervilha

Evilha

Nomeação e memorização de imagens

Objetivo: Ampliar o vocabulário e incrementar o modelo correto de produ ção com o fonema‑alvo (/r/), em palavras de alta frequência de uso e distinta extensão silábica.

Atividade 1: A criança deverá nomear todas as imagens que constam desta série e contêm o fonema /r/ em formato silábico VCr, com ou sem ajuda do adulto.

Atividade 2: A criança deverá assinalar e nomear, na tabela abaixo, as ima gens que correspondem à função ou qualidade, pelo adulto enumeradas.

43 © LIDEL –EDIÇÕES TÉCNICAS
Erva Eva
Urso Usso
Arca Aca
Fonema/r/

• Vou ao cinema com o meu irmão.

• Passo férias com os meus primos, em Borba.

• Canto na igreja com o grupo coral.

• Vou para a escola com o Duarte.

• Como com a Teresa e a Francisca na cantina da escola.

Memorização de quadras

Objetivos:

• Consolidação de modelos fonológicos dos quais faça parte o fonema /r/;

• Ampliação do vocabulário básico;

• Sensibilização para o reconhecimento e uso da rima;

• Alargamento dos domínios semântico e pragmático da linguagem;

• Compreensão de sentidos implícitos, na linguagem produtiva;

• Treino da memória auditiva, de tipo verbal.

Atividade 1: O adulto pronunciará dois versos de cada vez, pertencentes a cada uma das quadras, com rima cruzada. A criança deverá memorizá‑los, reproduzindo‑os oralmente. O adulto prestará particular atenção à forma como a criança pronunciará os nomes que contêm o fonema /r/.

Atividade 2: A criança tentará repetir a quadra completa, depois de o adulto a ter pronunciado, de forma lenta. Sempre que necessário, este ajudará a criança a reproduzi‑la, preservando o acesso ao correto modelo de produção dos nomes que dela constem e contenham o fonema /r/.

Atividade 3: O adulto pronunciará, lentamente, cada uma das quadras. A criança deverá identificar as palavras que, em cada uma delas, se empare lham por terminarem da mesma forma ou sejam passíveis de rimar.

Atividade 4: O adulto, pausadamente, pronunciará cada verso. De seguida, conduzirá a criança à exploração do seu conteúdo.

Atividade 5: O adulto apresentará uma palavra, ao acaso, à criança, pedindo ‑lhe que encontre uma outra que com ela rime usando, de preferência, aquela(s) que contenha(m) o fonema /r/, em qualquer tipo de sílaba.

59 © LIDEL –EDIÇÕES TÉCNICAS
Fonema/r/

Consoantes Tardias do Português

Eu adoro a natureza

Com o rio e com o mar

Do rio vem a beleza

Da lua vem seu luar

Os palhaços mostram ter

Sempre uma grande alegria

Pois sua forma de ser

Alimenta a fantasia

Gato e rato são rivais

Ambos com grande esperteza

Daquela que animais

Ao homem mostra grandeza!

O futebol é desporto

Não é qualquer malandrice

E quando corre pro torto

Então é grande a chatice!

Fui o doutor consultar

Pois febre, alguma, eu já tinha

Deu Benuron pra tomar

E dois dias de caminha

Gosto de ir ver o mar

E pensar que no verão

Gosto muito de brincar

E de fazer natação

Se estiveres doentinho

O doutor te vai curar

Logo te dá remedinho

Pra bem depressa ficar!

Diz a borracha pro lápis:

Ai, como é bom escrever!

Minha vida é emendar

Os erros que alguém fizer

Macaquinho e jacaré

Começaram a dançar

Mas ao torcerem o pé

Desataram a chorar

A escola é um lugar

Onde vamos aprender

Como devemos estar

Sempre atentos, chama a arder!

Gosto do canto do galo

Na aldeia ao acordar

Parece alguém a quem fala

Que o dia vai começar

Gosto muito de somar

Não menos subtrair

Gosto de ver aumentar

E nunca ver diminuir

Na escola há amizade

É muito bom aprender

E não importa a idade

Aprender é até morrer

Corre, corre, todo o dia

A pobre da formiguinha, Pensando com alegria

Ir encher a barriguinha!

A lebre é muito veloz

Corre que nem avião!

O leão é bem feroz

Mas tem um bom coração

Fui a casa da Maria

Pois dela tinha saudade

Ficou com grande alegria

Por tal gesto de amizade

60

A girafa vai a andar

Com seu grande pescocinho

Difícil é lá chegar

Para lhe dar um abracinho.

Quando souberes dançar

O vira do alto Minho

Logo poderás lembrar

O voar de um passarinho

Reconto de histórias

Objetivos:

Tenho no meu mealheiro

Dinheiro para comprar

Uma prendinha barata

Muito não quero gastar!

Co’a professora aprendemos

Muito sobre a Natureza

Mas o que nós mais gostamos

É da língua portuguesa

• Treino da memória auditiva verbal e da organização e sequenciação espa ciotemporal;

• Evocação de palavras escutadas, de frequente uso, que contenham o fone‑ ma /r/;

• Estabilização da correta produção do fonema /r/ em seus múltiplos contex tos silábicos;

• Recriação linguística através do apelo à imaginação, domínio vocabular, composição morfossintática individual;

• Exploração do conhecimento linguístico nas dimensões fonético‑fonológicas e semântico‑pragmáticas.

Atividade 1: O adulto, inicialmente, fará a leitura, pausada, de cada parágrafo das narrativas abaixo apresentadas. Depois de apresentado um exemplo, ele pedirá à criança que, no referido parágrafo, ela identifique as palavras nas quais ouviu o fonema /r/. O modelo correto ser‑lhe‑á oferecido caso a criança não o domine.

Atividade 2: De seguida, o adulto lerá o texto em velocidade normal. Quando finalizada a leitura, ele pedirá à criança que tente reconstruí‑lo, verbalmente. Caso necessário, a criança deverá ser auxiliada em suas fragilidades de recons trução da narrativa, tanto no que diz respeito à organização básica da mesma, como no correto uso de palavras das quais faz parte o fonema /r/.

61 © LIDEL –EDIÇÕES TÉCNICAS
Fonema/r/

Consoantes Tardias do Português

Atividade 3: O adulto conduzirá a criança para a exploração dos conteúdos do texto, através de estratégias variadas que façam apelo ao conhecimento da língua, usando palavras do texto:

• Exploração do conhecimento da fonologia (número de sílabas, localização, substituição, omissão e inserção silábica no contexto da palavra);

• Ampliação léxico‑semântica (exploração cognitivo‑linguística multiface tada: evocar/adivinhar palavras que contenham o fonema /r/ através da descrição de seus variados atributos, antónimos e sinónimos, palavras do mesmo campo semântico, etc.);

• Atividades de pragmática que fomentem a interação comunicativa e a pro‑ jeção oral de vivências interpessoais.

Atividade 4: A criança fará uma ilustração sobre o material verbal escutado.

62

Texto 1 — A Formiga Cozinheira

Numa velha cozinha, juntinho ao forno e num buraquinho apertado, morava uma família de formigas.

Assim que a dona da casa, D. Teresinha, entrava na cozinha, as formigas aproximavam‑se. Formavam uma grande fila e ficavam à espreita. Certo dia, a formiga mais pequenina, a quem todos chamavam formiga cozinheira, desceu pelo buraquinho, subiu até ao balcão da cozinha e ali ficou atenta à receita e aos bocadinhos de massa que a senhora guardava, para fazer o seu bom cozinhado.

A D. Teresinha fazia sempre a mesma tarte: morango em forma de coração.

Ora, como ela era muito distraída, dizia sempre, em voz alta, os ingredientes que levava a tarte para não se esquecer: ovos; farinha; açúcar; fermento; sumo de laranja e morangos… agora é só misturar tudo, com a batedeira!

Em pouco tempo, a massa amarela e bem cheirosa, passava para a forma, com formato de coração e era colocada no forno.

Ora a formiguinha cozinheira, que era muito esperta, roubava, cada dia, bocadinhos de massa que sobravam e com eles começou a fazer também ela, pequeninas tartes que, sem a dona da casa saber, as levava ao forno quando ela não estava na cozinha.

Nunca a dona da casa, que era muito distraída, se apercebeu que no forno coziam também pequeninas tartes em forma de coração que as formiguinhas, em fila, escondidas no buraquinho apertado, esperavam todos os dias, feitas pela formiguinha cozinheira, no forno da D. Teresinha

63 © LIDEL –EDIÇÕES TÉCNICAS
Fonema/r/

Séries de duas ilustrações

120 Consoantes
do Português
Tardias

Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.