Psicoterapias

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PSICOTERAPIAS

“Em todos os debates intelectuais, ambas as partes tendem a estar certas naquilo que afirmam e erradas naquilo que negam.” John Stuart Mill

A presente secção tem como objetivo contextualizar, justificar e clarificar a emergência do movimento integrativo em psicoterapia. Iniciemos com uma pequena parábola! Consta que, certo dia, um grupo de discípulos, na ânsia de solução, terá levado à presença de um meditabundo Mestre Zen duas mulheres que se encontravam em conflito. O Mestre solicitou, com gentileza, à primeira mulher que relatasse a sua versão dos acontecimentos, escutou-a atentamente, refletiu demoradamente e deu-lhe toda a razão. Após repetir o mesmo procedimento com a segunda mulher, deu-lhe também toda a razão. Espantados e perplexos, os discípulos chamaram a atenção do Mestre para o facto de ter dado razão a duas versões completamente diferentes do mesmo acontecimento, e o Mestre deu-lhes toda a razão! A resolução de muitos problemas e conflitos não passa necessariamente por uma lógica aristotélica de “não contradição” ou de “terceiro excluído”. Lógica esta que, imprescindível ao nível formal e da “filosofia analítica” (relações entre símbolos e critérios de verdade estabelecidos arbitrariamente), pode claramente funcionar como obstáculo, quando pensamos em termos de psicoterapia, que pertence ao reino da “filosofia sintética” (relações entre acontecimentos no tempo e no espaço e critérios de verdade probabilísticos, empíricos e racionais). Senão, como explicar o famoso “Veredicto do Pássaro Dodó” – “todos ganharam, todos merecem prémio” –, referido pela primeira vez por Saul Rosenzweig (1936) e, posteriormente, por Luborsky e colegas (1975; 2001). Tomando em consideração critérios nosológicos, com poucas exceções, a “eficácia de todas as orientações teóricas empiricamente testadas parece ser relativamente semelhante” (Elliott et al., 2013; Lambert & Ogles, 2004; Wampold, 2006). Esta constatação de equivalência, na opinião recente de Stiles, Hill e Elliot (2015), tem sido sistematicamente apoiada pela investigação em psicoterapia ao longo dos últimos 25 anos, com muito poucas exceções! Neste contexto, diferentes orientações teóricas, recorrendo a diferentes visões do mundo, diferentes teorias de causalidade, diferentes teorias do bem-estar e da saúde mental, diferentes teorias da perturbação e diferentes teorias da intervenção, parecem obter resultados semelhantes, lembrando-nos a parábola anterior – todos têm alguma razão! E talvez sejam complementares! Ou talvez as diferenças pragmaticamente úteis entre as diversas orientações teóricas se encontrem não na tomada de decisão clínica baseada em critérios nosológicos, mas baseada, ao invés, em fatores comuns a todas as orientações e em variáveis do paciente, para além da perturbação, numa lógica integrativa, como iremos 364


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