Revista Letraset #1

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letraset Revista digital do curso de Design Gráfico da Faculdade Satc - 1ª edição - nov/2013

A customização como diferencial competitivo página 10

Design de superfície na indústria têxtil página 30

Entrevista com os ilustradores Phil e Ico

página 24


Realização:

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Outubro de 2013

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Humor

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EXPEDIENTE

Ilustração Sérgio Honorato Diretor Faculdade Carlos Antônio Ferreira Coordenação de Ensino Jovani Castelan Coordenação do curso de Design Gráfico Diego Piovesan Medeiros Editores Amanda Rodrigues Anselmo Davi Frederido do Amaral Denardi Agradecimento Laboratório de Orientação em Design Núcleo Multimídia

Colaboradores Diego Piovesan Medeiros Eduardo Evangelista Jan Raphael Reuter Braun Jonas Cechinel Rosso Maiara Sant’ana Pacheco Philippe Costa Alexandrino Rafael Hoffmann Maurílio Rodrigo Costa Alexandrino Sérgio Honorato Thiago Mendes Túlio Filho

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EDITORIAL

A

revista Letraset é um esforço do curso de graduação em Design Gráfico da Satc no sentido de aproximar três grandes públicos do Design, a academia, formada por todas as pessoas que se interessam e estudam o design (dentro das universidades ou fora delas), os produtores de design (como agências e estúdios de design) e os empresários, que sempre demonstraram interesse em conhecer melhor a forma e os métodos de atuação dos designers. Por isso, a revista é composta por textos de mestres e doutores, que apresentam e aprofundam conceitos emergentes da área, além de profissionais de design, que fazem a ponte entre o conhecimento acadêmico e a realidade de mercado. A produção puramente acadêmica também é contemplada com trabalhos de estudantes de graduação que, de alguma forma, tenham atingido excelência técnica, teórica Outubro de 2013

e metodológica em disciplinas de projeto, apontando direções criativas viáveis para outros estudantes ou profissionais de design. A revista está organizada em quatro grandes eixos, o design estratégico, contemplado pela editoria “negócios”, os processos de desenvolvimento e referências criativas, apresentados na editoria “design”, o eixo tecnológico, contemplado na editoria “tecnologia”, e a produção acadêmica, através da editoria “educação”. Como em toda atividade de design essa organização é apenas uma referência de leitura, já que todos esses eixos se inter penetram e se cruzam na prática do design. Esperamos que a leitura seja agradável e os textos, todos inéditos, possam contribuir na formação consistente e na discussão do design como prática, teoria e processo. Boa leitura! 5


LETRASET

A

s “Letraset’s” fazem parte da própria história do Design Gráfico, antes do boom dos softwares gráficos praticamente todas as soluções visuais passavam em algum momento por essa ferramenta. Elas eram folhas plásticas com diferentes famílias tipográficas vendidas em diversos tamanhos. Para usá-las, as letras eram transferidas uma a uma na peça gráfica até formar palavras, frases, slogans, e tudo o mais que se possa imaginar. Essas letras transferíveis fizeram parte de cartazes, projetos de indentidade visual, livros, revistas - só para citar alguns - de toda uma era da história do Design. E foi para homenagear essa mistura de história, conhecimento (muito fortemente ligado às palavras) e estética, que o nome “Letraset” foi escolhido para a revista do curso de Design Gráfico da Faculdade Satc.

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O objetivo da revista é apresentar e discutir tendências e fundamentos do design, além de elementos estratégicos, criativos e de inovação. Além disso, a revista vai ajudar a desmistificar a atuação do designer para quem ainda não conhece esse profissional, e ajudar a pensar onde e como um designer pode ou deve atuar. O processo de desenvolvimento levou cerca de um ano, entre reuniões, pesquisas, geração e seleção de alternativas, coleta de material (que contou com um enorme contingente de alunos, professores e profissionais de design), revisão e edição. Esperamos que a Letraset possa ajudar você a conhecer, discutir e se aprofundar no universo do design gráfico, e se tiver alguma coisa para falar sobre ela é só falar conosco (letraset@satc.edu.br).

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sumário negócios DESIGN ESTRATÉGICO

IDENTIDADE VISUAL

DESIGN CAMBIANTE

A customização como diferencial competitivo

Logotipo? Quer pagar quanto?

Porque empresas precisam entrar na onda do Design?

por Diego Piovesan

por Jan Braun

por Eduardo Evangelista

página 10

página 14

página 15

design INSPIRAÇÃO

BRAINSTORM

EGRESSO

Criando pelo prazer de criar

Tempestade de ideias ou tempestade de clichês.

Conhecimento acadêmico no mercado cerâmico

por Rafael Hoffmann

por Tulio Filho

por Jonas Cechinel

página 16 8

página 22

página 23 letraset - 1ª edição


educação

tecnologia PROCESSOS GRÁFICOS

DESIGN DIGITAL

Design de superfície: Sua importância na indústria têxtil

O design no desenvolvimento de videogames.

por Maiara Sant’ana

por Thiago Mendes

página 33

página 30

Projeto Cerâmico

página 34 Identidade Visual

página 36 Projeto de Superfície

página 37

Matéria de Capa

ILUSTRAÇÃO

Entrevista com Phil e Ico

Projeto Editorial

página 38 Projeto Web

página 24 Outubro de 2013

página 39 9


design estratégico 10

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design estratégico

A customização como diferencial competitivo

O

consumidor moderno é feito de mudanças, de tendências, de estímulos, de condições culturais, sociais e até midiáticas. A cultura do consumo faz parte de uma cultura de mercado. Nos tempos atuais, o consumidor é o foco central da vida social, ganhando autonomia de escolha em meio a uma diversidade gigantesca de marcas, produtos, objetos. Isso faz com que as necessidades dos consumidores tenham a tendência de se tornarem ilimitadas e insaciáveis. Cada ser humano possui uma personalização de desejos que evoca necessidades diferentes de seu amigo, colega ou companheiro. Essa relação de necessidade pessoal muitas vezes não é atendida pelos produtos tradicionais, que não se diferenciam dos demais. Nesse sentido, o design é um Outubro de 2013

dos campos de atuação profissional que mais tem a contribuir para as transformações sociais, sobretudo pelo seu caráter de inovação. A criação de um objeto que leve em conta as características focadas no usuário requer que o processo de projeto implique em atender expectativas e requisitos de várias necessidades, consequenDiego Piovesan temente com reflexos em características Coordenador do curso como desempenho, usabilidade e a interade Design Gráfico da ção com seu público, além de reflexos na Satc. sociedade. A liberdade de escolha do consumidor é derivada do fenômeno da alta industrialização, onde os produtos e serviços precisam ser mais atraentes e diferenciados, pois existe uma grande concorrência de mercado. Para atender essa diferenciação, surge a customização, que subverte alguns » 11


design estratégico

É importante reforçar que os consumidores não precisam ter o know-how, experiência e habilidades práticas para customizar seus produtos aspectos da hegemonia industrial e faz com que o “fazer por você mesmo” se torne cada vez mais usual. Essa escolha pode ficar puramente no ato da compra, ou levar os consumidores a serem pós-criadores das mercadorias adquiridas. Pode-se notar a constante transformação e força que a customização vem ganhando com alguns exemplos de produtos em que o usuário tem liberdade de personalizar suas características já existentes, com cores, formas, arranjos formais ou simplesmente texturas. A customização está presente nos processos que envolvem a customização em massa, na indústria automotiva, em casos de customização pós-produção e até mesmo em personagens de realidade virtual em jogos de videogame. Em uma cultura industrial, que cada vez mais a sociedade busca se diferenciar, seja no modo de se vestir, no mobiliário, na 12

sua casa, as pessoas sentem a necessidade de recursos que lhe atribuam essa autonomia, seja na escolha ou até na execução. O acesso a ferramentas de produção e informação facilitaram a intervenção e a iniciativa dos consumidores. Muitas pessoas têm alcançado altos níveis de consciência do design e da alfabetização visual. Em toda sociedade há uma demanda sem precedentes e um acesso às ferramentas de auto-publicação, como blogs, instagram, youtube e as demais mídias digitais. As pessoas querem fazer e participar da sua própria mídia e, com isso, muitos consumidores desejam ser menos dependentes do império corporativo, desejando um novo redirecionamento do fluxo de consumo para os seus próprios fins. Ou seja, ser mais únicos, possuir mais produtos únicos. Mas é importante reforçar que os consumidores não precisam ter o know-how, letraset - 1ª edição


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design estratégico

experiência e habilidades práticas para customizar seus produtos. Além disso, os consumidores podem se confundir com o grande número de opções disponíveis. É tarefa do designer criar um contexto em que um equilíbrio é encontrado entre a criação de oportunidades de design, garantindo a qualidade do produto adequado. Assim, os designers podem criar um kit de ferramentas como embalagem, ponto de venda, materiais, para apoiar os consumidores na sua escolha. Em um mercado repleto de concorrência, a customização de produtos e serviços é uma estratégia interessante para estimular a fixação de longa duração do produto e, assim, contribuir para uma sociedade sustentável, pois os consumidores podem perceber o produto customizado como insubstituível. Se o produto é percebido como insubstituível, outros produtos no mercado não podem transmitir um significado semelhante ao do proprietário. Substituição e eliminação de um tal produto é assim percebido como uma perda do seu significado especial. Como resultado, a experiência de ligação a um produto é provável que dure ao longo do tempo, resultando na longevidade deste. Percebe-se, dentro do nosso próprio entorno familiar, que a cada produto que

se adquire, monta-se uma personalidade no mundo do consumo. Quando uma pessoa sabe quais são suas características e estilos, sabe como se afirmar dentro da sociedade e com isso sabe se identificar por meio do que se consome. Por isso o consumo é um processo cultural e está totalmente ligado à economia, implicando um exercício de preferência, como um ato de auto-identificação. Sobre a ótica capitalista, a cultura do consumo trata de ter para ser. A Dell Computadores desempenha esse papel de experiência por meio da customização no setor de informática. O cliente pode encomendar um computador da Dell de acordo com suas necessidades e gostos. Assim, o computador é feito sob medida para o usuário. Uma vantagem óbvia e potencial da customização é a maior satisfação do cliente. Outra vantagem potencial sugerida por esse exemplo é estratégico e muitas vezes a customização serve como elemento competitivo nas indústrias, restaurantes, bancos, vestuário, diferenciando produtos. Com isso, concluise que a customização em si é um ponto de diferenciação e além disso assegura ao próprio produto ser único e cada vez mais próximo das exigências individuais do consumidor. 13


identidade visual

Logotipo? Quer pagar quanto?

Q Jan Raphael Reuter Braun Mestre em Design pela Universidade Federal de Santa Catarina, professor do curso de Design e coordenador do Laboratório de Orientação em Design - LOD.

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uanto vale o logo de uma empresa? Meio clichê esta pergunta não é? Deixa eu reformular: quanto você, como designer, cobraria para criar uma identidade visual? Bom, se você tem alguma noção de processo, método e todo o trabalho de pesquisa e análise que este tipo de serviço envolve, sabe que isto dependerá de muitos fatores. Que será necessário um briefing bem elaborado com o responsável da empresa, várias etapas de desenvolvimento e pesquisa e consequente análise destas informações, onde constarão o perfil do público alvo, características do mercado e concorrência etc, etc, etc. Ou seja, um projeto que irá definir de forma visual quem a marca é, qual seu DNA, o que faz, a quem quer atingir, além de mostrar porque é diferente e melhor que as outras. “Simples”! Então por que cargas d’água encontramos tantos serviços de criação de “logomarca” (não vou nem entrar na questão da terminologia) que prometem criar seu logo em até dois dias?! Sim, dois dias! Fora isto, ainda permite que você faça quantas alterações quiser. Não gostou da cor?

Eles trocam. Não achou a tipografia legal? Eles mudam. Sem justificativa, sem base de pesquisa, simplesmente pelo gosto do cliente. E os “kits”? Sim, por que apenas criar o logo não basta, você pode incluir ele aplicado em camisas, cartões de visita, papel timbrado, entre outros. E tudo por menos de cento e vinte reais. Ah!!!, mas espera aí, tem uns que tem processo sim, inclusive enviam um modelo de briefing para ser preenchido, apresentando perguntas como: Tem em mente algum estilo ou algo que queira que esteja presente no logo? Possui alguma preferência de cor? Como deseja que apareça a tipografia? Script, itálica, light, negritada, manuscrita, informal, etc. É pessoal, a concorrência por aí está complicada, mas com “empresas” como estas acredito que não devemos nos preocupar ainda. O difícil continua sendo explicar para o cliente por que nosso preço está “tão salgado”, sendo que outras cobram só cento e vinte pilas. Faz com eles então, e boa sorte! Lá na frente irão perceber que o barato sai caro!!! letraset - 1ª edição


design cambiante

Porque empresas precisam entrar na onda do Design?

A

palavra design está habitualmente associada à estética de produtos, o que é importante no papel do design, mas a parte visível é apenas um dos resultados no processo. O design tem por objetivo promover o bem-estar na vida das pessoas, valorizando a imagem corporativa de empresas. Inovar no meio empresarial tradicionalmente significa buscar inovações tecnológicas, porém, o diferencial tecnológico não é o suficiente para destacar-se diante a concorrência. O mercado gera um grande número de produtos semelhantes em tecnologia, preço, desempenho e características, confundindo o consumidor que tem dificuldade em decidir por qual produto optar. Valorizar o design, desde que feito por profissionais experientes, é garantir competitividade ao produto e desenvolvimento à empresa, adequando seus recursos, necessidades do mercado e metas a serem alcançadas. O Brasil está passando por um momento de inovação empresarial, contendo decisões com enormes oportunidades e ameaças. Desta forma, a tendência das Outubro de 2013

empresas é projetar produtos e serviços para novos mercados, utilizando o design thinking (o que implica o modo de pensar do design), introduzindo novos significados aos produtos, serviços ou relacionamentos focados nas pessoas. Inserir a metodologia de design no processo em um ambiente organizacional tem um caráter multidisciplinar, colaborativo, estando presente em muitas áreas de decisão gerencial, integrando a pesquisa de mercado à distribuição e políticas de comunicação corporativa. O design como ferramenta estratégica consegue interpretar o desejo e a necessidade das pessoas e transformá-los em produtos autênticos, com personalidade e capazes de conquistar a fidelidade do consumidor, que se mostra cada vez mais exigente, reivindicando bens e serviços que melhor os atendam.

Eduardo Evangelista Mestrando pela Univerdade Federal de Santa Catarina (UFSC) e professor do curso de Design e Jornalismo.

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inspiração

Ilustração “Can’t buy me love” Rafael Hoffmann Maurílio 16

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inspiração

Criando pelo prazer de criar O Rahma Projekt nasceu pelo desejo de criar simplesmente pelo prazer de criar. Sem briefing, sem pressão, sem cliente, sem pretensão. Criando o que eu gosto, como eu gosto, sem me preocupar em ter que dar explicação, fazer sentido ou dar satisfação. Nada muito inovador ou genial, só um projeto pessoal, conceitual e experimental. Uma válvula de escape que junta duas das minhas paixões: design e rock’n’roll.

experiência bem interessante. Às vezes a ilustração é uma representação literal do que diz a música, outras é meio que uma piada, interpretações minhas sobre a letra ou coisas que só quem conhece bem a banda ou a música entendem. Às vezes eu tenho a ideia primeiro e procuro uma música que se encaixe. Outras vezes quero brincar com tipografia, então pego o trecho de uma música e começo a procurar fontes que se encaixem. Quando já estou no computador, não faço rascunho. Como normalmente as ideias não têm momento para aparecer, sempre faço um rabisco inicial usando lápis e papel e depois passo para o computador. Como é uma coisa autoral e conceitual, pra mim, o que vale é a ideia. Tento deixar de lado um pouco a ordem e os métodos que se usam no dia-adia do mercado.

Rafael Hoffmann Maurílio é idealizador do Rahma Projekt, mestrando em

Processo de criação Ciência da Linguagem Pelo fato de o Rahma ser um projeto pela Universidade do Sul experimental e sem um objetivo ou meta de Santa Catarina (Unisul) a ser cumprida, eu não me preocupo com e professor no curso de metodologias pra criação. Normalmente Design da Satc. as ideias aparecem quando estou ouvindo uma música. Acho que tudo se mistura, a música, minhas referências e inspirações e parece que a ideia surge como mágica. Depois que comecei a criar os cartazes pasCartazes de música sei a ouvir as músicas sempre pensando Desde muito novo eu sou apaixonado em como uma estrofe ou refrão poderiam por música, principalmente o rock, fui inser representados graficamente. É uma fluenciado por coisas que meu pai e meus » Outubro de 2013

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inspiração

tios ouviam. Então, desde que comecei a trabalhar com design tenho tentado fazer coisas que tenham ligação com a música. Meu primeiro trabalho foi o site de uma banda que fiz com alguns amigos. Por isso, quando eu estava em um momento meio complicado, com sobrecarga de trabalho, dúvidas profissionais e existenciais, fui me refugiar na criação sem briefing, sem pressão, criando o que eu gosto, do jeito que eu gosto, porque eu gosto. Ou seja, juntar duas paixões, o design e a música, foi como uma válvula de escape.

Ilustração “Light my fire” Rafael Hoffmann Maurílio 18

Inspiração Minhas referências são muitas, mas tento buscar inspiração principalmente em grandes nomes da história do design e em estilos históricos, e tento adaptá-los a referências mais contemporâneas. Sou muito fã do trabalho do Saul Bass, responsável por alguns dos pôsteres e aberturas de filmes mais clássicos do Hitchcock. Algumas das minhas ilustrações são claramente inspiradas no estilo dele. Gosto muito também do trabalho do brasileiro Alexandre Wollner. Admiro como ele consegue criar coisas simples, mas carregadas de significado. Lester Beall, Paul Rand e Lucian Bernhard também são referências constantes, além de nomes mais atuais como Olly Moss, Mico Toledo, Pedro Vidotto e Noma Bar. Mas minha inspiração vem de tudo, dá pra ver isso nos cartazes. Cinema, games, as referências de design, tipografia, cultura pop em geral. Penso que o projeto, como uma forma de criar “sem coleira”, é como se fosse um laboratório em que eu posso misturar os químicos sem ter medo de explodir tudo.

Conheça nas próximas páginas mais algumas ilustrações e se quiser conferir ainda mais trabalhos acesse o site official: http://www.rahmaprojekt.com

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inspiração Ilustração “I used to love her” Rafael Hoffmann Maurílio Setembro 2013 Outubro dede2013

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inspiração Ilustração “Faroeste caboclo” Rafael Hoffmann Maurílio 20

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inspiração Ilustração “Bad moon rising” Rafael Hoffmann Maurílio Outubro de 2013

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brainstorm

Tempestade de ideias ou tempestade de clichês?

D Tulio Filho Designer gráfico e administrador de empresas. Diretor de Planejamento há 12 anos na Blu Design e Comunicação e presidente da ProDesign Associação Para o Design do Paraná, conselheiro do CBD e delegado do Colegiado de Design do CNPC.

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esde que Alex Osborn teve um grande cesso que há mais de 70 anos é base para insight e desenvolveu a técnica do o processo criativo, mas confesso que o brainstorming, muita água caiu e cor- brainstorming não me representa mais. reu pelas valas da criatividade. Mas parece Prefiro acreditar no embate de ideias, traque estamos cada vez mais desviando este balhando em um processo de alavancafluxo criativo para as valas comuns. Bem gem contínua que traz um resultado efeticomunzinhas. Talvez a vamente mais criativo. fonte deste desvio seja Foi através de críticas, exatamente a forma Foi através de críticas, ora construtivas, mas como esta chuva cai. muitas vezes destruora construtivas Existe uma regra quase tivas, que consegui intocável na metodolo- mas muitas vezes meus melhores resulgia do brainstorming: a tados. destrutivas, que “não crítica”, ou seja, Com minha equipode se fazer quase consegui meus pe não foi diferente. tudo em uma sessão Em um mundo onde o melhores resultados. de brain, menos julnúmero de impactos gar. Mas será que isto de comunicação sobre é válido mesmo? Qual a cada ser humano cresprofundidade alcançada sem críticas? Sem ce de maneira exponencial dificultando a ninguém questionando se aquela é real- tomada de atenção e o foco em determinamente uma puta ideia, ou somente uma da mensagem, parece que o tempo fechou ideia honesta, que na prática resolve, mas para o brainstorming puro, como o idealinão encanta. zado por Osborn. Chegou a hora de fazer Pode parecer loucura criticar um pro- um brain para redefini-lo? Ou não. letraset - 1ª edição


egresso

Conhecimento acadêmico no mercado cerâmico

O

Design vem ganhando espaço na última década graças aos avanços da comunicação. Atualmente, não importa o tamanho da empresa, é preciso estar preparado! Ter um site, por exemplo, deixou de ser um luxo e passou a se tornar uma necessidade, facilmente observável que estamos entrando numa fase mais consciente acerca da necessidade do Design. O mercado cerâmico, não muito diferente de tudo, vem passando por uma importante revolução: a revolução digital. A cerâmica expandiu os horizontes criativos e por assim dizer nivelou as ferramentas de produção das empresas. Como consequência, a qualidade, antes apenas um argumento, transformou-se em premissa básica e a estratégia passou a ser a diferenciação. Frente a essas mudanças, o mercado de trabalho para o design de superfície em cerâmica cresceu muito. Hoje o profissional de design se tornou uma peça fundamental. É muito comum encontrar empresas Outubro de 2013

que já funcionavam há anos e admitiram seu primeiro designer apenas agora graças a essa transformação. Hoje o profissional de design recém formado tem a possibilidade de entrar para um dos segmentos mais importantes da região, cuja demanda era anteriormente suprida por profissionais formados no Rio Grande do Sul e pessoas autodidatas. O curso de Design Gráfico não teria momento melhor para integrar este cenário e formar pessoas para tornar possível essa grande transformação. Os projetos desenvolvidos durante a vida acadêmica correspondem fielmente à realidade do mercado, e além dos métodos criativos, o conhecimento nas mais variadas áreas do design coloca no mercado profissionais completos. Para satisfazer esse mercado, além de determinação - fundamental a qualquer desafio - é preciso ser um criativo atento a tudo, ligado aos mais diversos segmentos: moda, arquitetura, arte, enfim, sem limites para a inspiração e sem medo de inovar, o que se torna mais importante do que manipular softwares.

Jonas Cechinel é designer gráfico no Grupo Torrecid e bacharel em Design Gráfico pela Faculdade Satc.

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Entrevista

ilustração 24

Uma relação que não teria uma palavra melhor para definir do que a própria natureza nos impôs. IRMÃOS. Phil e Ico são daqueles irmãos que estão sempre conectados e se acompanhando no decorrer da vida. Com cinco anos de diferença, os dois não sabem como ficaram tanto tempo longe um do outro. Pelo menos o Phil, que é o mais velho, pensa assim. O Ico, que já chegou ao mundo com um irmão riscando ele de canetinha não tem como negar. Quando se tem alguém com as mesmas afinidades dividindo tudo, inclusive a mesma mãe, fica fácil buscar aperfeiçoamento naquilo que se gosta. E foi assim, incentivando um ao outro que a arte passou a fazer parte da vida deles diariamente, com muitos rascunhos e técnicas compartilhadas. Hoje, formados em Publicidade e Propaganda, trabalham juntos, frente a frente na criação, como publicitários/diretores de arte/ilustradores na agência UP Comunicação de Marcas, de Tubarão - SC. E garantem que, como todos irmãos, se amam, mas tem vontade de se socarem de vez em quando. Confira ao lado a entrevista com os ilustradores.

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ilustração

Há quanto tempo ilustram? Se ilustrar é o ato de tentar representar algo de alguma forma que não seja o próprio elemento representado, acreditamos que a gente faça isso desde que nos conhecemos por gente. Em casa, mamãe sempre incentivou ao desenho, sempre nos deus folhas brancas para nos desafiar a desenhar objetos, pessoas, lugares. No colégio sempre fomos os desenhistas da sala. Na faculdade não foi diferente. Muitos cadernos de matéria rabiscados por todo o canto, muitos favores para os amigos e familiares e, claro, muitos desenhos feitos para representar da nossa maneira o que a gente gosta e para alcançar o nível de quem a gente admira. Enfim, a trajetória de muitos ilustradores por aí. No sentindo profissional da palavra, acreditamos que ainda levamos a ilustração como um hobby, pois não vivemos disso de maneira que a ilustração pudesse nos sustentar 100%. Mas é um bom complemento para a renda de publicitário. Como funciona o processo de criação? Por sermos dois, fica difícil de formatar um único processo, ainda mais que os dois têm mais de um processo. Mas se formos tentar colocar isso na ponta do lápis, seria: Antes de começar qualquer coisa no papel ou direto no digital precisamos ter uma base de formação que começa na mente. »

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ilustração

Observação Olhar é diferente de observar. Observar é o olhar estudioso, que tenta ver a forma completa e suas funcionalidades. Observar é ver o contexto das imagens que se apresentam a sua frente. Como os elementos se encaixam e porque se encaixam. Qual o sentimento que o que está a nossa frente está nos transmitindo.

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Inspiração A inspiração serve para compararmos nossas observações de mundo com a observação de outros e tentarmos pegar o que a gente considera melhor de cada um para assim aperfeiçoarmos o nosso trabalho.

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ilustração

Criação É nesse ponto em que as experiências de cada, somados às observações e inspirações, se conectam. É nesse ponto que surge a identidade de cada artista. É aqui que começam as experimentações, mas com a ideia quase que completa na cabeça. Aplicação Agora sim é que entra aquela famosa frase. “Tudo começa em um papel em branco”. É no papel que vamos ver se a imagem que se formou na criação mental consegue ser transmitida para a realidade. E nesse processo de testes surgem novas possibilidades que só o contato direto com a aplicação poderiam trazer. Feito todos testes e ajustes, partimos para o digital. É como se recomeçássemos toda a ilustração, só que agora com muito mais certeza do que estamos fazendo. O que não quer dizer que não teremos infinitos Control+Z. De onde vem a inspiração e as referências para ilustrar? No começo, o que nos motivava muito, como toda criança que começa a desenhar, eram os desenhos animados, gibis, filmes e até brinquedos. A ideia era tentar ser o mais fiel possível ao que víamos. Um abraço para as tartarugas ninjas! Hoje em dia não é muito diferente. Afinal, o desenho do momento que a gente » Outubro de 2013

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ilustração

curte muito é A Hora da Aventura. Mas claro que com a profissionalização, a gente acaba conhecendo não só a arte, mas também o artista, e muitas inspirações nossas são grandes artistas que graças a internet ficou fácil ter acesso. Seja o cara do 2d, 3d, escultor, pintor, diretor, animador, designer, showman. Todos eles trazem inspiração para nós somarmos em nosso jeito de ver e expor da nossa maneira única. Qual a relação entre a ilustração/design/publicidade (como vocês aplicam as ilustrações na UP)? No trabalho como diretores de arte, um certo conhecimento em ilustração agrega muito na hora de compor um layout. Tanto para ilustrar uma foto que será produzida, manipulada e encaixada no layout, quanto para usar a própria ilustração em materiais que precisam dela. No design, a visão de quem ilustra ajuda a respeitar formas e proporções. A ilustração em si ajuda muito a viabilizar materiais que sem ela não teriam condições de serem produzidos. Ser um diretor de arte multitarefas tem muitas vantagens, mas também muito trabalho. Dicas que vocês podem dar para quem quer iniciar nesse ramo. A dica é e sempre será: treine muito, goste muito, seja feliz. No mais, esperamos que você tenha observado, se inspirado e já tenha começado a criar em sua cabeça as ideias que surgiram ao longo da leitura. 28

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ilustração Outubro de 2013

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processos gráficos

Design de superfície: sua importância na indústria têxtil 30

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perfície são: têxtil, cerâmica, porcelana, plástico e papel. Uma das aplicações mais comuns do DS é o desenvolvimento de projetos para superfícies continuas, como tecidos em metro. Todas as técnicas e tecnologias têxteis que encontramos à nossa disposição atualmente tiveram que ser criadas e proje- Maiara Sant’ana tadas em algum momento da história. Ao Designer de Superfície trabalharmos com superfícies têxteis, não na empresa La Moda podemos apenas pensar em estampas e e bacharel em Design outras formas de ornamentação. Devemos Gráfico pela SATC. observar e entender de a tecelagem de o bordado e estamparia digital. Afinal, um projeto de DS pode ser desenvolvido para a construção de tecelagem, diretamente ligado as fibras do tecido. Ele pode abranger todos os tipos de tecidos e não tecidos construindo novidades a partir de diferentes entrelaçamentos de fios. O jacquard, por exemplo, possibilita as mais complexas opções de desenvolvimento de elementos/ formas e texturas táteis. Dentro do processo têxtil existem várias formas de embelezamento e ornamentação. Segundo o designer de moda Geraldo Coelho Junior, é fundamental a pesquisa inicial sobre as técnicas de estamparia/ bordado/tingimentos e lavanderia. Essas técnicas de acabamento de superfície são aplicadas ao tecido para modificar sua aparência e toque. Podemos citar o bordado e a estamparia como as principais técnicas utilizadas atualmente. » 31

processos gráficos

D

iferente do Design Gráfico, que surgiu a partir da industrialização e da emergência da sociedade de massas, o Design de Superfície tem origens muito mais antigas. A arte da tecelagem e da cerâmica, feitas desde a idade da pedra, somadas ao longo dos tempos aos padrões visuais da estamparia e da azulejaria, são basicamente os pais do que hoje chamamos de Design de Superfície. Porém, o momento de maior destaque e reconhecimento ocorreu, também, durante a industrialização. Afinal a área têxtil foi a primeira a ser desenvolvida, projetada e produzida em grande escala, ocorrendo assim o grande surto da industrialização. A possibilidade de reprodução ilimitada de um padrão na produção de tecidos (sendo que este teria um custo único para obter o padrão original que depois só seria repetido) foi o que levou o setor têxtil a ser um dos primeiros alvos da participação do designer. Mesmo sendo tão antigo, no Brasil o Design de Superfície (DS) ou Surface Design é ainda quase desconhecido. Nos EUA esse termo já é utilizado há muito tempo para definir todo o tipo de projeto elaborado em uma superfície, seja ele industrial ou não. O importante é que a superfície seja projetada por meio de um processo de elaboração e uso de cores, e principalmente, que seja desenvolvido por um Designer. As principais aplicações do Design de Su-


processos gráficos

A estamparia, seja silkscreen ou impressão digital, por ser aplicada sobre o tecido, é mais acessível e de fácil reprodução. A estamparia é parte fundamental do design de uma peça ou coleção. Geralmente é por meio da estampa que se costuma ilustrar e mostrar uma determinada cartela de cores, além de mostrar os temas, influências e tendências sofridas pelo design durante o desenvolvimento. A técnica de estamparia, tanto silkscreen quanto digital, não apresenta toque ou formas de relevo na peça. Para criar tal sensação tátil é necessário adicionar sobre a estampa outros tipos de materiais, os mais utilizados são o plastizol, o foil, o flocado, o glitter e o puff. O bordado consiste na criação de elementos e texturas utilizando diferentes tipos de linhas e pontos. Sendo assim, é possível criar figuras bem elaboradas e com diferentes alturas, dando mais tridimensionalidade a arte desenvolvida. Os bordados ainda são pouco utilizados e suas soluções estéticas poderiam ser mais bem exploradas caso vista de uma maneira nova. O laser, como forma de estampa ou como corte, e os materiais termocolados são algumas outras opções de acabamentos disponíveis atualmente no mercado. Todas essas técnicas, porém, são aplicadas de acordo com a tendência de cada coleção. Acompanhar essas tendências não é apenas analisar o setor da moda, 32

mas levar em conta o comportamento do público alvo e as tecnologias disponíveis. É utilizando as análises de tendências que o designer tem a certeza que está criando para o público certo, no momento certo. Sendo assim, é possível afirmar que o design não é composto por nenhuma regra universal de configuração, mas sim por uma ação interpretativa, criadora, que permite diversas formas de expressão. A possibilidade de aproximações e distanciamentos entre diferentes áreas do design pode ser comparada com a construção de um tecido. É necessária a definição das interconexões estabelecidas entre designer (trama)*, usuário (urdume)* e o seu desejo (fio). Quando estes se entrelaçam e se interconectam, o tecido é configurado. Por fim, o segredo de tamanha variação nas áreas de atuação de todo designer é que existem muitas maneiras de compor essas interconexões.

*É através do entrelaçamento de fios dispostos verticalmente (urdume) com fios dispostos horizontalmente (trama) que se produz o tecido por meio da tecelagem.

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design digital

O design no desenvolvimento de videogames

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indústria de jogos, não surpreendentemente, aparece como uma das principais áreas da indústria criativa, por que agrega não só profissionais com diferentes formações e conhecimentos, mas também reúne aspectos de diversas outras áreas na sua produção. É muito natural para um leigo imaginar que uma equipe de desenvolvedores de jogos é formada por programadores. Esse raciocínio, no entanto, foge de uma realidade que reúne programadores, artistas 2D, artistas 3D, produtores musicais, roteiristas, diretores de fotografia, designers de informação, de interfaces, mais uma série de outros profissionais. No centro dessa equipe de produção está o game designer. Ele é o profissional responsável por conceber a experiência de jogo entregue ao jogador. No jargão do desenvolvimento de jogos, a jogabilidade ou gameplay. Hoje, sabe-se que não importa o quão esteticamente perfeito é um determinado jogo. O que mantém o jogador gruOutubro de 2013

dado no computador, videogame, celular e até na web é a jogabilidade. O Angry Birds, desenvolvido pela sueca Rovio, é um grande exemplo disso. O game não possui nada de destaque, no que se refere à gráficos ou sons. A grande mágica de Angry Birds é a sua jogabilidade. Um game designer é um profissional que consegue tratar um problema de design pelo viés da experiência. Isso exige, desse profissional, conhecimentos em antropologia e ergonomia cognitiva, além de muitos conhecimentos gerais e uma capacidade de aprender constantemente. Além disso, o game designer é o profissional que vai dar o tom para todos os outros profissionais da equipe de produção, para que o resultado final esteja em conformidade com a experiência desenhada por ele. Apesar de complexa, a atividade é tremendamente prazerosa e divertida, além de um excelente campo de atuação profissional.

Thiago Mendes Game designer, mestre em design, professor do curso de jogos digitais da Universidade Feevale e coordenador do Laboratório de Objetos de Aprendizagem da Instituição.

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cabeça do estudante

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editoria “cabeça de estudante” traz matérias de interesse para acadêmicos e estudantes de design. Nesta edição serão apresentados trabalhos produzidos em sala de aula, nas disciplinas de projeto gráfico, do curso de graduação em Design Gráfico da Faculdade Satc. Foram contemplados trabalhos de excelência nas áreas de Identidade Visual, Design Editorial, Design de Superfície, Design Cerâmico e Web Design. Os trabalhos selecionados foram produzidos no período de 2011 a 2013 e indicados pelos professores das disciplinas.

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Esperamos que essas referências possam servir como inspiração para acadêmicos e designers e que possam se tornar uma fonte de discussão para a prática do design. Nas próximas edições, além dos resultados finais, apresentaremos os processos de desenvolvimento dos projetos, com o intuito de esclarecer as práticas, processos e ferramentas de projeto subjacentes aos produtos. Também serão contemplados outros centros de formação, a fim de ampliar e qualificar a discussão e as referências das práticas de design.

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Identidade Visual Iolanda Honorato Júlia Savi Kérolin Bonfante Luan Justi

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Projeto Cerâmica Ana Cláudia Plácido Bruno Silva Derlei Willian Botelho

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Design de Superfície Caroline de Oliveira João Vitor Severo

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Projeto Editorial Camila Pinter Giovana Zanelatto Karen Carvalho

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Projeto Web

Aline Koehler Cardoso Monica Gomes Machado Rafaela da Rosa Lopes Samuel Bernardo Iladi Outubro de 2013

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