CUADERNO DE BITÁCORA _Letícia Ramos

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AteliĂŞ397 Coordenadores Carolina Soares Marcelo Amorim Mariana Trevas Thais Rivitti Assistentes Cesar Rivitti Isabella Rjeille

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R175c

Ramos, Letícia, 1976Caderno de bitácora / Letícia Ramos, Gabriela Kremer Motta, Josefina Trotta, Marcio Harum. -- São Paulo: Edições397, 2011. 76 p. : il. ; 15 x 21cm. Títulos e textos em português e inglês. ISBN 978-85-911472-1-2 1. Arte contemporânea - Brasil. 2. Artes plásticas. 3. Espaço independente de arte. 4. Exposição de arte. I. Título. II. Trotta, Josefina. III. Harum, Marcio.

CDD 709.81 CDU 7.037.(81)

Foi feito o depósito legal na Biblioteca Nacional (Lei nº 10.994 de 14/12/2004)


S達o Paulo 2011



Aproximar-se da margem da ciência de forma tangente, para que as palavras, mesmo técnicas, ainda possuam significados poéticos. É esta borda que me interessa. Descobrir a técnica certa também é encontrar elementos que se articulem para criar uma linguagem específica. Uma ficção que descreve uma técnica, que conduz a um período histórico, que sugere outra invenção, que torna-se outra ficção. É neste caminho circular que, em algum momento, as peças se encaixam e se tornam a parte perfeita de uma engrenagem. Este caderno de bitácora é um relato do percurso de todas as peças soltas que preenchem o abismo conceitual* de uma viagem fotográfica ao Polo Norte, uma história de ficção e aventura. Letícia Ramos



“Depois de uma hora de investigação , foi preciso retomar o caminho do norte e lutar contra os últimos furores da tempestade. Às cinco horas da manhã do dia onze de julho, o vento amainou, as ondas acalmaram-se, o céu readquiriu a claridade polar e, a menos de cinco quilômetros de distância, avistou-se a terra em todo o seu esplendor. Aquele continente novo era apenas uma ilha ou, antes, um vulcão, que se erguia qual farol no polo boreal do mundo.” Júlio Verne, Viagens extraordinárias. As aventuras do Capitão Hatteras

“After an hour of exploration, we had to get back to the north path and struggle against the last furies of the tempest. At five o’clock in the morning of July 11th, the wind decreased, the waves went calm, the sky regained its polar clearness and, within five kilometers of distance, the land appeared with magnificence. That new continent was only an island, or rather a volcano, peering up like a lighthouse at the Boreal Pole of the world.” Jules Verne, The Voyages and Adventures of Captain Hatteras











“ O conceito do globo celeste Convenção para compreensão dos astros Estudo da projeção da tela do globo celeste Constelações do Polo Norte e do Polo Sul Zênite Equador Ursa Maior- Estrela Polar: serve como bússola quando não há nuvens (céu claro) 4 X1/2 Polo Sol Celeste- Cruzeiro do Sul >Zenite de 90º de latitude >Eixo visto ao longo da noite no nascimento do Cruzeiro do Sul Bússola quando não se vê as estrelas- aponta para o Polo Norte magnético. Estrela da Manhã Dalva Vênus Vesper Medição de ângulo: sextante e octante ” *(Página do diário de bordo sem datas do aprendiz de navegador espanhol Enrique Contreras, adquirida no mercado de pulgas de La Latina, Madri, 2008. Transcrição e livre tradução do espanhol pelo pesquisador e colaborador Marcio Harum para o Bitacora Project). ……………………………


Balão tombado pela neve durante a expedicão de Andrée ao Polo Norte




À deriva – Histórias de exploradores polares O Ártico está se tornando mais duotônico para mim devido à influência dos registros em preto e branco das antigas expedições a regiões polares. Penso no diário de Hurley, o fotógrafo da inacreditável expedição de Shackelton para a Antártida. As câmeras pesadas, os negativos de vidro, os laboratórios improvisados e os esconderijos “arqueológicos”, cuidadosamente projetados para armazenar as relíquias fotográficas de modo que outros exploradores, no caminho de seus rastros, pudessem encontrar os registros de sua aventura. Um intenso exercício de adaptação, de invenção técnica e de registro poético. A preparação para a viagem já é uma bagagem de possibilidades. Olho para as minhas câmera Polaroid Lupa 6 enfileiradas na mesa do ateliê e vejo a mesma grande e pesada câmera de Hurley, Andrée e Amundsen. Exploradores de incríveis empreitadas, fotógrafos insistentes, fotos emocionantes. Apegados aos seus cadernos de bitácora, onde registram tudo até o último instante. O último mesmo. No meu desafio de construir uma câmera fotográfica polar, as histórias e os tempos se misturam.



Polo Norte 360º – A panorâmica de Andrée Panorâmica realizada pela expedição de Andrée ao Polo Norte. Os negativos, juntamente com os restos do acampamento dos exploradores, foram encontrados trinta anos mais tarde. Somente durante o processo de restauração dos negativos se percebeu que as fotografias formavam um 360º do acampamento.









Reciclagem Os equipamentos reciclados que utilizo na construção das minhas câmeras, em geral, resultaram de especulações tecnológicas e rapidamente tornaram-se obsoletos. São objetos no estado “entre”, suspensos na linha do tempo, que ficaram no meio do caminho. A câmera Polaroid representou nos anos 70 a imagem instantânea, espontânea, imediata. No contexto atual, esse equipamento contempla os mesmos princípios, os mesmos desejos e talvez a mesma força simbólica de outrora; a materialização da imagem no papel a partir de um único objeto. As câmeras atuais, câmeras pequenas e móveis, produzem uma imagem virtual, imediata. Utilizar uma Polaroid neste projeto é buscar um registro poético instantâneo, como um caderno, imagem única, irreproduzível. A câmera Polaroid que levarei na expedição será a Lupa 6, uma câmera utilizada para os retratos 3×4. Ela possui 6 lentes que produzem 6 fotogramas do mesmo instante. Uma vez que as lentes possuem o centro ligeiramente deslocado em relação ao objeto que fotografam, as fotografias, quando colocadas em uma sequência fílmica, reproduzem a sensação de movimento. Gosto da ideia de pensar que uma câmera construída para retratos instantâneos irá fotografar paisagens. Por fim, todas as câmeras que construí acabam sendo descartáveis, afinal, independentemente do tempo ou complexidade do projeto, elas são usadas apenas uma vez, para uma imagem específica.




Vista lateral da c창mera


Vista superior da c창mera - esquema de engate de chassis


Os batiscafos russos Mir 1 e Mir 2, com três ocupantes a bordo cada um, pousaram em 2007 no fundo do Oceano Glacial Ártico, próximo ao Polo Norte, a 4.261 m de profundidade, onde instalaram a bandeira russa .


“Nós pousamos suavemente. O solo era de cor amarelada e não se viam habitantes das profundezas marinhas. Era tão adorável lá embaixo” . Artur Chilingarov Explorador russo, logo apos o êxito da expedição com os submarinos nucleares Mir 1 e Mir 2 para colocar uma bandeira subaquática nos limites russos da região ártica.

“We landed softly. The ground was of a yellowish color with no sight of any inhabitant of the marine depths. It was so lovely down there.” Artur Chilingarov

Russian explorer, soon after the successful expedition with nuclear submarines Mir 1 and Mir 2 placed a flag on the sub-aquatic Russian limits of the arctic region.


…desde que desembarquei do HMS Beagle, em junho de 1834, acá estou na Terra do Fogo. Não sinto-me como um desertor, as razões que me levaram a esta dura decisão não têm comprometimento algum de descontentamento com a missão de Mr. Darwin. O que realmente conta, sim, é o fato de eu não ter conseguido abandonar o deslumbramento da paisagem desta região: Patagônia Austral- Travessia do Estreito de Magalhães- Terra do Fogo- Canal de Beagle- Cabo HornIlhas do Atlântico Sul- Antártida. Não há nenhuma beleza natural mais maravilhosa que as florestas retorcidas pelo vento, os pássaros pernaltas que sobrevoam sempre muito acima da altura da linha de neve no horizonte da cordilheira. A descida das geleiras para o mar azul infinito e os lagos glaciares são o que há de mais espetacular neste mundo.Ocupo-me por algum tempo diário em analisar o transporte de blocos de gelo pelas correntezas e as mudanças repentinas da direção do vento polar. Pela segunda vez, quando atravessei a abertura oriental do Estreito de Magalhães, um sentimento fantástico me fazia querer estar preso ao panorama deste lugar. E assim soube que deveria ficar por aqui, sem tempo determinado para o regresso à civilização. Desejo permanecer por entre estas montanhas misteriosas de florestas petrificadas. Viver com as tempestadas marítimas que fazem o céu despencar do azul mais profundo, transformando o dia em noite, e amedrontando as planícies de ravinas com seus pequenos animais selvagemente belos. Quando estivemos ancorados na Baía Gregory, tive o primeiro contato com os famosos gigantes patagônicos. São reservados e aparentemente hospitaleiros à distância de 50 passos, esses fueguinos. Vestem mantas imensas de pele de guanaco e usam os seus cabelos longos soltos ao cair dos ombros. Medem por volta de 1,80 m a maioria dos homens, e as mulheres também são bastante altas. Pintamse com uma tinta de corpo como meio de proteção contra as baixas temperaturas- trazem largas listras brancas sobre a pele, inclusive a do rosto. O capitão Fitzroy me


confirmou que dão mais importância ao tabaco inglês do que às ferramentas de navegação. Comunicam-se frequentemente com a tripulação das embarcações dos baleeiros.Possuem diversos cavalos, até mesmo as crianças. Que agradável perceber que o Natal já se aproxima, isso mostra que o verão começou de verdade. Quando cheguei aqui no princípio do inverno, a atmosfera era absolutamente pesada como o gelo, e nunca havia enfrentado um clima tão desolador em minha vida antes. Nem em alto mar a caminho da Groenlândia no inverno de 1931. Tamanha a destruição que vivi do vento frio mais cortante que o que mais se assemelhava era a um cenário de guerra e morte. O fundo enevoado do vale do Monte Sarmiento, a montanha com 2.070 metros de altura, exibe-se com o seu espetáculo de exaltada beleza austral: a perfeição da natureza. Esta é a elevação topográfica onde estarei acampado nas próximas semanas como método exploratório. A escalada dura, pelo meu planejamento, 4 dias. Pretendo descrever a partir de desenhos os 360o da riquíssima paisagem à minha volta.

*(Fragmento de carta de Mark Harris, marujo do HMS Beagle, à irlandesa Lætitia Branches, escrita e datada na Terra do Fogo em 20 de dezembro de 1834- encontrada num antiquário de San Telmo, em Buenos Aires, 2007, pelo pesquisador e colaborador Marcio Harum. Traduzido livremente do inglês para o Bitacora Project).


Didática bipolar: o Polo Norte é mar , o Polo Sul é terra Ficção geopolítica “A última ‘terra incognita’ vai desaparecer. O imenso silêncio, os horizontes infinitos, as vastas brancuras do Polo Norte e seu nada vão ser substituídos por regiões às quais os homens, seus barulhos, seus motores de explosão, seus barcos, seus contêineres terão acesso. Vamos assistir a este fenômeno raro: uma subversão da geografia que se desenrolará diante de nossos olhos.” Gilles Lapouge, 2010

MIRAGEM POLAR - Estudo para fi lme: Colagem a partir de imagens documentais em vídeo de submarino nuclear russo submergindo no Polo Norte.


Durante mais de 300 anos, exploradores polares perderam suas vidas, dedicaram seu heroísmo. Para além da conquista do Polo Norte, essas expedições também tinham o objetivo de descobrir as passagens norte e sul, rotas comerciais que poderiam tornar-se importantíssimas no século XX e fundamentais no XXI, ligações rápidas entre o oriente e o ocidente. A atual questão geopolítica do Polo Norte passou a fazer parte do mapa imaginário da minha expedição. Quem imaginaria que, depois de todo esse tempo, o degelo provocado pela ação do homem tornaria livres essas passagens? Esse território mítico, agora acessível, é remapeado sob a ótica das novas fronteiras energéticas. Um novo capítulo se abre , um novo desenho surge no globo. Em 2007, uma expedição polar de submarinos nucleares russos fixou, com braço mecânico, uma bandeira no solo que o país considera seu limite geográfico submarino. Considerada um feito histórico, com transmissão ao vivo em rede nacional, acompanhada de declarações oficiais como “este feito para Rússia é como colocar a bandeira na lua”, essa expedição encerra o ciclo em que a mística imagem da região do Polo Norte era um deserto de gelo imaginário e branco, a ponta do globo, o final do mundo.



Engenharia poética - Marcenaria sensível Acho que a melhor forma de construir esta câmera será criar uma estrutura que lembre os primeiros submarinos de madeira. Os materiais de construção serão os mesmos utilizados pela engenharia naval, mais precisamente aqueles empregados na construção de modelos. Compensado aeronaval, cola e fibra. A câmera foi projetada em partes separadas e assim dividida: sistema frontal de lentes, fole, chassi, casco. No casco optei pela técnica de construção com casco trincado (clinker built), recomendada pelo meu amigo construtor de barcos, Pedro Terra. Esse tipo de técnica, além de ser o mesmo utilizado nos submarinos de madeira, proporciona uma excelente vedação e dispensa o uso de fibra como revestimento. A minha câmera “dos ventos” se inspira nos primeiros modelos de submarino e escafandros desenhados por Leonardo da Vinci, Cornelius Drebbel , Simon Lake e John Lethbridge. A semelhança entre as técnicas construtivas desses primeiros inventores e as aplicadas no Projeto Bitácora se aproximam, pela simplicidade dos materiais e ferramentas, a um estilo de engenharia onde a invenção se materializa na ilustração, assumindo também um tom ficcional.


Projeto da primeira mรกquina subaquรกtica de mergulho, por John Lethbridge, em 1715










121o dia

A partir de amanhã bem cedo começo o trabalho de medição precisa do imenso curso do canal natural do rio Cassiquiare que liga as bacias hidrográficas dos outros dois rios, o Orinoco em terras venezuelanas e o Amazonas em terras brasileiras. Levo somente um baú abarrotado de sextantes, barômetros e o valioso taqueômetro. Estou muito atento às histórias que ando ouvindo dos índios sobre os peixes elétricos. Imagino a dificuldade dos cavalos em atravessar águas infestadas dessas estranhas enguias. Esse é um exemplo dos muitos temas que me fascinam nesta inóspita região amazônica. Gostaria de providenciar algum exemplar para estudo de dissecação a ser enviado à Alemanha em breve. Uma de minhas metas neste trabalho é desvendar que dínamo é esse, que energia é essa que é produzida com violenta descarga no interior deste peixe. Talvez precise enviar igualmente, como maneira de retribuição, um exemplar dissecado à Academia de Ciências Naturais, como agradecimento ao aval do rei Carlos IV em Madri para que eu embarcasse para a América do Sul no ano passado. Outro tema de estudo que buscarei desenvolver em minha estadia nestas paragens do planeta são, sem dúvida, as causas e os efeitos das diversas cores dos rios amazônicos. Urge o tempo de compreender, com tantas cachoeiras, as dificuldades de navegação pelo baixo rio Amazonas e suas marés de influência. *(Trecho de fac-símile documental de autoria do naturalista alemão Alexander von Humboldt datado de 1800 em exposição na Zentral- und Landesbibliothek Haus Amerika- Gedenkbibliothek, Berlim, 2004. Transcrição e livre tradução do alemão pelo colaborador Marcio Harum para o Bitacora Project).



Química polar As baixas temperaturas do Ártico e a pouca luminosidade das lentes da câmera não fazem do FP – 100c, ISO 100/21 a 20 da Fuji o filme ideal para a expedição. Mas tudo é uma questão de invenção; perguntei para o Walter, técnico da antiga fábrica da Polaroid, o que fazer a respeito da temperatura do químico e do tempo de revelação. O Walter me sugeriu levar um secador de cabelos a bordo para aquecer o químico que vem junto com o papel. Achei a ideia boa mas não definitiva, porque talvez a curva do negativo se modifique bruscamente. Fiz um teste na geladeira do laboratório e a grata surpresa é que tendeu para o azul. Ainda tenho que pensar melhor o problema da condensação das lentes, por enquanto penso em criar uma caixa para a câmera e deixá-la no convés do barco, assim a temperatura da câmera se manterá sempre igual à do ambiente. Construirei um fole para o corpo da câmera. Com o fole terei autonomia, e se for necessário posso trocar as lentes, tirar as lentes, fazer pinhole e até mudar de ideia. Agora que a câmera existe só resta levá-la ao polo e finalmente fotografar os ventos.






0 - Calmo / Aspecto do mar - Espelhado Efeitos em terra - Fumaรงa sobe na vertical


Ilmos. Srs.,

A proposta de criar uma máquina “capaz de registrar nuances cromáticas da paisagem, baseada na influência dos ventos” não tem muita importância enquanto informação sobre a obra. Interessa, sim, saber que a artista está estudando e reinventando a estrutura mecânica das câmeras Polaroid, absorvendo o que essa tecnologia representava quando surgiu – a possibilidade do registro instantâneo, imediato – e relacionando esse tipo de registro com as anotações e tecnologias empregadas pelos viajantes que se lançaram precariamente aos polos Norte e Sul no fim do século XIX. Ou seja, não há possibilidade de essa máquina não atingir o seu propósito, posto que este é menos importante que a máquina em si. E a imagem que resultar desse aparato será a única imagem possível.

G. M. São Paulo, março de 2011.




BULA O Projeto BITÁCORA é um projeto artístico inspirado pela escala de Beaufort e suas descrições do efeito dos ventos sobre a terra e o mar. A artista irá montar uma “câmera observatório” capaz de recolher amostras da paisagem do Polo Ártico e, assim, construir uma escala própria, criando uma nova classificação poética e cromática da paisagem com base na influência dos ventos. Em 2010, o Projeto Bitácora venceu o Prêmio Marc Ferrez de criação fotográfica, concedido pela Funarte, e foi selecionado para o programa de residência artistica “The Artic Circle 2011”, uma expedição multidiciplinar que irá viajar pelo Polo Ártico a bordo de um veleiro. BITÁCORA - É o nome em espanhol que se dá à parte da embarcação onde se guardam os livros, “cuadernos de bitácora”, em que os marinheiros anotam o estado da atmosfera, dos ventos, dos vulcões e das máquinas, a velocidade do barco, as distâncias navegadas, observações astronômicas. Os “cuadernos de bitácora” registram qualquer fato importante que ocorra durante o período de observação da paisagem. FRANCIS BEAUFORT - Navegador inglês criador da escala Beaufort dos ventos. Para observar o vento é necessário ter um referente. Algo que demonstre fi sicamente seu efeito, que diferencie o grau de sua intensidade. Pensando nisso, em 1805 o oficial naval e hidrógrafo Francis Beaufort cria uma escala para classificar e quantificar a força dos ventos e seu efeito na terra e no mar. Trata-se de uma classificação que não exige o uso de aparatos técnicocientíficos, mas que se baseia na observação da paisagem. A escala de Beaufort se distingue de outras escalas de intensidade pelas suas descrições extremamente poéticas e narrativas. ESCAFANDRO - Escafandro é uma armadura de borracha e ferro usada por mergulhadores para trabalhos no fundo da água. Essa estrutura comunica-se com a superfície através de um duto que assegura a livre respiração e permite resistir à pressão da água. Ao profissional que usa do escafandro para mergulhar dá-se o nome de escafandrista. CARTAS SINÓTICAS - O termo sinótico deriva do grego synoptikós, que significa obter a visão geral de um local. Em meteorologia, este termo é utilizado para nomear as cartas elaboradas para a observação de fenômenos que possuem grande variação espaçotemporal como ciclones e anticiclones, sistemas frontais, deslocamento de massas de ar, jetstreams, sistemas de alta e baixa pressão, entre outros. Para melhor apreensão dos elementos observados, é comum fazer as observações sinóticas sempre nos mesmos horários ao longo de vários dias. LUPA 6 - Câmera Polaroid com 6 lentes, criada para tirar fotos instantâneas “em meia dúzia” para documentos. Foi lançada nos anos 80 e ainda utilizada em algumas pequenas lojas de fotografia do interior. Possui aberturas de 22, 16, 11, 8 e chassis destacável .

ABISMO CONCEITUAL - Conceito citado por Gabriela Motta em texto crítico ao Dossiê Videobrasil sobre Letícia Ramos. “Se o problema visual que a artista nos apresenta é a paisagem, algo já bastante complexo para ser enfrentado, há ainda a questão que diz respeito ao equipamento audiovisual que capta as imagens dessa paisagem. Essas máquinas, construídas especialmente para registrar determinada paisagem, condensam o esforço científico e imaginativo de antever aquilo que se quer captar e elaborar a tecnologia capaz de fazê-lo. Ou seja, no princípio nada existe, nem a câmera, nem a imagem. Entre a assepsia daquilo que é visual, distanciado, quase abstrato, da imagem/paisagem registrada pela câmera, e o aparato fílmico cheio de materialidade física, há um abismo conceitual que a artista insiste em enfrentar com pregos e poesia, madeira e música, furadeira e fasma.” MIRAGEM POLAR - Também chamada de fata morgana, é uma ilusão óptica que ocorre nas regiões polares, onde, com tempo calmo, a separação regular entre o ar quente e o ar frio (mais denso) perto da superfície terrestre pode atuar como uma lente refratora, produzindo uma imagem invertida sobre a qual a imagem distante parece flutuar. Essa ilusão é classificada como uma “miragem superior”. O efeito de fata morgana é uma referência em italiano à meia-irmã feiticeira do Rei Arthur que, segundo a lenda, conseguia mudar de aparência. Objetos que se encontram no horizonte adquirem uma aparência alargada e elevada.


M. H. é Marcio Harum (São Paulo, Brasil), crítico, curador e um inspirado interlocutor que cresceu lendo as Históriais extraordinárias de Júlio Verne. Nesta publicação, escreve textos ficcionais. J. T. é Josefi na Trotta (Buenos Aires, Argentina), escritora, roteirista e correspondente dedicada e que escreve em seus cadernos com letra rápida e incompreensível, por todos os cantos e em todas as páginas, e por isso usa máquina de escrever. Nesta publicação, escreve cartas de observação do tempo. G. M. é Gabriela Motta, crítica de arte.

ESCALA BEAUFORT Aspecto do mar

Efeitos em terra

0

Calmo

Espelhado

Fumaça sobe na vertical

1

Aragem

Pequenas rugas na superfície do mar

Fumaça indica direção do vento

2

Brisa leve

Ligeira ondulação sem rebentação

As folhas das árvores se movem; os moinhos começam a trabalhar

3

Brisa fraca

Ondulação até 60 cm, com alguns carneiros

As folhas agitam-se e as bandeiras se desfraldam ao vento

4

Brisa moderada

Ondulação até 1 m, carneiros frequentes

Poeira e pequenos papéis levantados; movem-se os galhos das árvores

5

Brisa forte

Ondulação até 2,5 m, com cristas e muitos carneiros

Movimentação de grandes galhos e árvores pequenas

6

Vento fresco

Ondas grandes até 3,5 m; borrifos

Movem-se os ramos das árvores; dificuldade em manter um guarda-chuva aberto; assobio em fios de postes

7

Vento forte

Mar revolto até 4,5 m com espuma e borrifos

Movem-se as árvores grandes; dificuldade em andar contra o vento

8

Ventania

Mar revolto até 5 m com rebentação e faixas de espuma

Quebram-se galhos de árvores; dificuldade em andar contra o vento; barcos permanecem nos portos

9

Ventania forte

Mar revolto até 7 m; visibilidade precária

Danos em árvores e pequenas construções; impossível andar contra o vento

10

Tempestade

Mar revolto até 9 m; superfície do mar branca

Árvores arrancadas; danos estruturais em construções

11

Tempesta- Mar revolto até 11 m; pequenos de violenta navios sobem nas vagas

Estragos generalizados em construções

12

Furacão

Visibilidade nula; destruição total

Mar todo de espuma, com até 14 m


ENGLISH VERSION My interest is to approach the margin of science from a tangent angle so that the words, although technical, hold poetic meaning. To come upon a certain technique is also to discover elements that, once articulated, create a specific language. A fiction that describes a technique, that leads to an historic period of time, that suggests another invention, that turns into another fiction. In this circular path, the parts fit together turning into the perfect piece of the machinery. Th is bitácora is the story of the trajectory of all the loose pieces that fi ll the conceptual abyss* of a photographic trip to the North Pole; a story of fiction and adventure. (Letícia Ramos) First observation: June 17th to June 22nd 2008. An imprecise accumulation of lines and letters, moreover chaotic. Ondulated letters and lines that look like roads. Roads to nowhere. Interrupted. (J. T.) “The concept of celestial globe Convention to cognize the Stars Study the projection shelter of the blue globe North Pole and South Pole constellations Zenith Equator Ursa Major – Polar Star: serves as a compass when there are no clouds (clear sky) 4 X½ Pole Sun Light Blue - Crux 90º Zenith latitude Axis seen during the night when Crux appears When there are no stars in the sky, the compass points to the Magnetic North Pole Morning Star Dalva Venus Vesper Angle measurement: sextant and octant” *(Page of the undated logbook that belonged to Spanish seaman apprentice Enrique Contreras, obtained in 2008 at the La Latina Flea Market, Madrid. Adapted translation by researcher and collaborator Marcio Harum for Bitácora Project.) (M. H.) ADRIFT – STORIES OF POLAR EXPLORERS The Arctic is turning more duo-toned for me influenced by the black and white records of the early expeditions to the Polar Regions that I found. I think about Hurley’s diary. He was the photographer of the unbelievable expedition of Shackelton to Antarctica. I think about the heavy cameras, the glass negatives, the improvised dark rooms and the “archeological” places carefully projected to store their photographic relics so that other explorers, in search of their paths, could fi nd records of the adventure. Those polar explorers went through an intense exercise of adaptation, technical and poetic invention. The preparation for a trip, in itself, is a baggage full of possibilities. I look at the Polaroid Lupa 6 cameras lined up over the table of my atelier and I can see the heavy cameras of polar explorers such as Hurley, Andrée and Amundsen. Explorers of incredible missions, persistent photographers that captured impressive images; men attached to their logbooks, where they registered everything till the last moment, with their last breath. In this challenge of constructing a polar photographic camera, times and stories are mixed. (L. R.) Th ird and fourth observation: From July 16th to July 20th and from July 27th to August 3rd. The letters move from day to day, they change places, size, they multiply, they vanish and show up again; sometimes they are alone and isolated, other days, they come closer to one another, and later


they return to their solitude, being trapped by concentric circles that seem to swirl around them like small tornados. The wind modifies time (time known as climate) but it also seems to alter space. The wind shortens distances bringing observers closer. (J. T.) RECYCLING Usually, the recycled equipment that I use for the construction of my cameras is a result of technological speculation that rapidly becomes obsolete. They are objects in a state “in between”, suspended on a timeline, left in the middle of the road. During the 70’s, the Polaroid camera represented the instant, spontaneous, immediate image. In the present context, the camera maintains those same principles to materialize the image on the paper from a unique object and, probably, also bears the same symbolic force. Nowadays the small portable cameras produce an immediate virtual image. For this project I choose the Polaroid camera, in search of an instant poetic record, like a notebook, a unique image, irreproducible. The Polaroid camera I will use in the expedition is the Lupa 6, a camera used for 3x4 portraits. It has 6 lenses that produce 6 stills at the same time. In relation with the object they photograph, those lenses have its centre slightly dislocated from the center. When placed in a fi lm sequence, they reproduce the feeling of movement. I like thinking of the idea that a photographic camera made for instant portraits is going to photograph landscapes. In the end, all the cameras I construct turn up to be disposable. Independently of the time frame or complexity of the project, they are used only once and for a specific image. (L. R.) … I’ve been in Tierra del Fuego, since I disembarked the HMS Beagle in June of 1834. I don’t feel like a deserter. The reasons that led me to this hard decision have nothing to do with any dissatisfaction regarding Mr. Darwin’s mission. What really counts is the fact that I couldn’t surrender to the dazzling landscape of this region: Patagonia Austral, voyage through the Strait of Magellan, Tierra del Fuego, Beagle Channel, Cape Horn, Islands of the South Atlantic Ocean, Antarctica. There is no other natural beauty more astonishing than the woods bended by the wind, the long-legged birds flying over the line of snow on the mountain range horizon. One of the most spectacular things of this world is the descent of the glacier into the infi nite blue sea and the glacier lakes. I spend some time during the day analyzing the transportation of the ice blocks by the currents, and also the sudden changes in the polar wind direction. A fantastic feeling arose the second time I crossed the Strait of Magellan’s eastern passage: I wanted to stay captive by that scenery. In that moment, I realized I would remain in that place without a fi xed period of time to return to civilization. I would stay around the mysterious mountains of petrified woods, dwell with the marine storms that make the sky turn deep blue, transforming day into night, alarming the plain ravines with its small and beautiful wild animals. While anchored in Gregory Bay, I had my first contact with the famous gigantic Patagonians. These “fueguinos” are reserved and, eyed from a 50 feet distance, also seem hospitable. They dress with large guanaco fur blankets and use their long hair loosen over the shoulders. They are 1.80 meters high and the majority of the men and women are tall. They paint their bodies with long white strips, as a way of protection from the low temperatures. Captain Fitzroy confirmed me that they give more importance to English tobacco than to navigation tools. They frequently communicate with the whaling-ships’ crews. They own many horses, and even the children have their own. It’s nice to perceive that Christmas is near, that means fi nally summer has started. When I arrived at the beginning of winter, the atmosphere was absolutely extreme, stronger than ice. In my whole life, I had never been confronted with such a desolate weather, not even during the trip by sea to Greenland in the winter of 1831. Enduring the sharp cold wind, I experienced a kind of destruction that seemed more like the scenery of a war. The snowy background with the Sarmiento Valley, a 2.070 meters high


mountain, exhibits itself as a spectacle of austral beauty; nature’s perfection. During the following weeks, and as an exploratory method, I will be camping at this topographic elevation. According to my plans, the rough climbing will take 4 days. I intend to describe the sumptuous 360o landscape that will surround me with my drawings. * (Letter fragment written by HMS Beagle’s sailor Mark Harris in Tierra del Fuego, dated on December 1834 and addressed to Laetitia Branches from Ireland. The letter was found in 2007, at a San Telmo antique shop, Buenos Aires, by the researcher and collaborator Marcio Harum. Adapted translation for Bitácora Project.) (M. H.) BIPOLAR DIDACTIC: THE NORTH POLE IS SEA, THE SOUTH POLE IS LAND. Geopolitical fiction “The last ‘terra incognita’ is going to disappear. The immense silence, the infi nite horizons, the vast North Pole whiteness and its absence will be substituted for regions accessed by men with their noises, their combustion engines, their banks, their containers. We will assist to a strange phenomenon: a subversion of the geography will come unwound before our eyes.” Gilles Lapouge, 2010 More than 300 years ago, polar explorers lost their lives, dedicated to heroism. Beyond the aim of conquering the North Pole, the expeditions also had the objective of discovering a north-south passage, commercial routes to connect east and west that could become important for the 20th century and essential for the 21st century. The current geopolitical issue of the North Pole becomes part of the imaginary map of my expedition. Who would have imagined after so many years that, as a consequence of polar thaw caused by human influence, those passages would open naturally? Th is mythic territory, now accessible, is re-mapped over the optic of new energetic frontiers. A new chapter is opening, a new globe design. In 2007, a Russian polar expedition aboard a nuclear submarine placed — with help of a mechanic arm — a flag on the ground where the country considers their geographic sub-aquatic border is. It was considered an historic event, with live transmission on the national TV network and official declarations such as: “for Russia, this event is as important as the day they planted a flag on the moon.” Th is expedition ends a cycle where the mystic image of the North Pole region was an imaginary dessert of white ice, the edge of the global, the end of the world. POETIC ENGINEERING  SENSITIVE CARPENTRY I think that the best way to construct this camera is to create a structure inspired by the early wooden submarines. The construction materials will be the same ones used in naval engineering, more precisely, those for model construction: marine plywood, glue and fiber. The camera was projected separately and divided in: frontal lenses system, bellows, chassis, hull. By recommendation of my friend, ship constructor Pedro, I chose to build the hull with a construction technique called “clinker built”. Th is type of technique, naturally waterproof, dispenses the use of fiber as a coating material and was used to construct wooden submarines. My “wind camera” is inspired by the early submarine models and escafandros* designed by Leonardo da Vinci, Cornelius Drebbel, Simon Lake and John Lethbridge. The similarity between the construction techniques of these early inventors and the ones applied to Bitácora Project is the simplicity of the tools and materials used, and also an engineering style where the inventions are materialized on illustrations, assuming a fictional tone. (L. R.)


121st day. Tomorrow morning I will start the job of measuring precisely the immense natural canal course of the Cassiquiare River which connects the hydrographic basin of two rivers, the Orinoco in Venezuela and the Amazon in Brazil. I carry with me a chest full with sextants, barometers and a valuable tacheometer. I’m very alert with the stories I’ve been listening from the Indians about the electric fishes. I imagine the horses will have some difficulty to cross the waters infected by those strange eels. Th is is one example of the many subjects regarding the inhospitable Amazonian region that fascinates me. I would like to provide and send to Germany as soon as possible, a specimen of electric fish for study of dissection. One of my goals is to reveal what kind of dynamo, what kind of energy is produced by the violent discharge generated inside this fish. Maybe, a dissected specimen could be sent to the Natural Science Academy of Madrid in retribution and appreciation for the support given by King Carlos IV so that I could embark to South America last year. During my stay in this location I will seek to develop other theme of study related to the causes and effects of the diversity of colors of the Amazonian rivers. The urge to understand the difficulties to navigate the Amazonian river and its affluents is a consequence of the large number of waterfalls in the area. *(Facsimile — Documentary snippet written by German naturalist Alexander von Humboldt. Dated in 1800 and shown at Berlin’s Zentral- und Landesbibliothek Haus Amerika- Gedenkbibliothek, in 2004. Transcription and adapted translation by collaborator Marcio Harum for Bitácora Project.) (M. H.) POLAR CHEMISTRY Considering the Arctic’s low temperatures and the camera lenses low luminosity, Fuji’s fi lm FP – 100c, ISO 100/21 to 20, is not the ideal for this expedition. But, as everything is a matter of invention, I asked Walter —who used to be a technician at the old Polaroid factory— what should I do in relation to the chemical temperature and the development time. Walter suggested I should take on board a hairdryer to warm up the chemical that comes with the photographic paper. I think it’s a good idea, but not defi nitely because it’s possible that the negative curve modifies severely. I did a test on the laboratory refrigerator and I was surprised to see that the photograph tended to the blue color. I have to think more about the problem regarding lens condensation. In the meantime, I will create a box for the camera that will stay on the ship’s deck so that the temperature remains static. I will also construct a bellows for the camera body. In case it’s necessary, with that bellows I will have the autonomy to change the lenses, take off the lenses, make a pinhole, and even change the original design. Now that the camera exists, the next step is to take it to the North Pole and fi nally, photograph the winds. (L. R.) OFFICIAL LETTER Honorable Sir, The proposal of creating a machine “capable of recording chromatic nuances of the landscape, based on the influence of the wind” is not very important in terms of information about the work. What is of interest indeed is to learn that the artist is studying and reinventing the mechanical structure of Polaroid cameras, taking in what this technology represented when it emerged—the possibility of instant, immediate recording—, and relating this sort of record to the notes and technologies used by the travelers who set off precariously to the North and South Poles in the late 19 th century. In other words, there is not a chance that this machine will not fulfi ll its purpose, considering that the latter is less important than the machine itself. And the image that results from this apparatus will be the only image that could result from it. G. M. São Paulo, March 2010.


PROSPECTUS BITACORA* Project is an artistic project inspired by Beaufort’s Scale and its descriptions of the effect of the wind on land and sea. The artist will build a “camera-observatory” capable of collecting samples of the Arctic Pole landscape in order to make her own scale create a new poetic and chromatic classification of the landscape based on the influence of the wind. In 2010, Bitácora Project won the Marc Ferrez Grant for photographic creation given by Funarte and was selected to take part in the artistic residency “The Arctic Circle 2011,” a multidisciplinary expedition that will travel around the Arctic Pole on a sailing ship. BITÁCORA – Spanish name given to a case or stand on the deck of a ship, generally mounted in front of the helm where the logbooks are placed. The logbook (cuaderno de bitácora) is a notebook where sailors record atmosphere and wind conditions, operational data related to the ship’s machinery, navigation velocity, traveled distances, astronomic observations. The logbook registers any important fact that occurs during the period of observation of the landscape. FRANCIS BEAUFORT – English navy officer and hydrographer. In the year 1805 he creates the Beaufort Wind Scale to classify and quantify the force of the winds and its effects on land and sea. His classification doesn’t demand the use of scientific technical apparels and it’s based on the observation of the landscape. The Beaufort’s Scale distinguishes itself from other intensity scales by its extremely narrative and poetic descriptions. SCAPHANDER – Diving suit made of rubber and iron, used by divers to submerge in deep waters. Th is structure communicates with the surface through a conduct that assures free breathing and resists the pressure of water. Divers that use this suit are called “escafandristas”. SYNOPTIC CHARTS – The term “synoptic” comes from the Greek synoptikós. It means to summarize the principal parts or a general view of the whole. In meteorology, this term is used to name charts that are elaborated by observing phenomena such as cyclones and anti-cyclones, frontal systems, masses of air dislocations, jetstreams, low and high pressure systems, etc. LUPA 6 – Six-lens model Polaroid camera. Created to take 6 instant pictures, commonly used for ID portrait photography. Has aperture settings of 22, 16, 11, 8 and disposable chassis. Launched by Polaroid during the 80’s and still used in small photography shops in Brazil’s countryland cities. CONCEPTUAL ABYSS – Concept cited by Gabriela Motta in her critical text on Letícia Ramos for Dossier Videobrasil. “Whereas the visual problem the artist presents us with is the landscape – a theme quite complex in itself – there is also the issue of the audiovisual equipment that captures the images of that landscape. These machines, specially built for recording a certain landscape, condensate the scientific and imaginative effort of foretelling what one wishes to capture and elaborating the technology capable of doing so. That is, in the beginning there is nothing, neither camera nor image. Between the asepsis of that which is visual, distant, quasi-abstract, the image-landscape recorded by the camera, and the fi lmic apparatus fi lled with physical materiality, there lies a conceptual abyss that the artist insists on facing using nails and poetry, wood and music, drill and phasma.” POLAR MIRAGE – The “superior image”, also called fata morgana, is an optical illusion that occurs in polar regions. In calm weather, the separation between air layers of different temperatures close to a surface can act like a refracting lens, producing a series of both inverted and erect images, over which the image seems to float. The objects seen on the horizon become elongated and elevated. The name fata morgana is a reference to the belief that King Arthur’s half sister was a witch who had the power to change her appearance. M. H. is Marcio Harum (São Paulo, Brazil), art critic, curator and an inspired interlocutor that grew up reading Jules Verne’s Extraordinary Stories. In this publication he writes fiction texts. J. T. is Josefi na Trotta (Buenos Aires, Argentina), writer, scriptwriter and dedicated correspondent whose expeditious and incomprehensible handwriting forces her to use a typewriter machine. G. M. is Gabriela Motta (Porto Alegre, Brazil), art critic.


BEAUFORT WIND SCALE Brief Name

For use at sea

For use on land

0

Calm

Sea like a mirror

Smoke rises vertically

1

Light air

Ripples like scales are formed, but without foam crests

Direction of the wind shown by smoke drift but not wind vanes

2

Light breeze

Small wavelets, still short but more pronounced. Crests have a glassy appearance and do not break

Wind felt on ace, leaves rustle, ordinary wind vanes moved by the wind

3

Gentle breeze

Large wavelets. Crests begin to break. Foam of glassy appearance. Perhaps scattered white horses

Leaves and small twigs in constant motion, wind extends light flags

4

Moderate breeze

Small waves, becoming longer, fairly frequent white horses

Wind raises dust and loose paper, small branches move

5

Fresh breeze

Moderate waves, taking a more pronounced form, many white horses are formed. Chance of some spray

Small trees in leaf start to sway, crested wavelets on inland waters

6

Strong breeze

Large waves begin to form, the white foam crests are more extensive everywhere. Probably some spray

Large branches in motion, whistling in telegraph wires, umbrellas used with difficulty

7

Near gale

Sea heaps up and white foam from break- Whole trees in motion. Inconveing waves begins to be blown in streaks nient to walk against the wind along the direction of the wind

8

Gale

Moderately high waves, edges of crest break into spindrift, foam is blown in well marked streak along the direction of the wind

9

Strong gale

High waves. Dense streaks of foam along Slight structural damage occurs, the direction of the wind. Crests of waves chimney pots and slates removed begin to topple, tumble and roll over. Spray may affect visibility

10

Storm

Very high waves with long over hang- Trees uprooted, considerable ing crests. The resulting foam in great structural damage occurs patches is blown in dense white streaks along the direction of the wind. On the whole, the surface of the sea takes on a white appearance. The “tumbling” of the sea becomes heavy and shock-like. Visibility affected

11

Violent storm

Exceptionally high waves (small and me- Widespread damage dium sized ships might be lost for a time behind the waves). The sea is completely covered with long white patches of foam lying along the direction of the wind. Everywhere, the edges of the waves are blown into froth. Visibility affected

12

Hurricane

The air is fi lled with foam and spray. Sea Widespread damage completely white with driving spray, visibility very seriously affected

Twigs break from trees, difficult to walk


LETÍCIA RAMOS (Santo Antônio da Patrulha, 1976) É artista e videomaker, cursou arquitetura e urbanismo na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e cinema na Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP). Seu foco de investigação artística é a criação de aparatos fotográficos próprios para a captação e reconstrução do movimento e sua apresentação em vídeo. Seja por suspensão temporal, seja por deslocamento dos pontos de vista, seu trabalho baseia-se nas pesquisas sobre a formação da imagem e as tecnologias de registro do movimento. Seus trabalhos já foram expostos em importantes mostras e galerias, como a Tate Modern em Londres, 16º Videobrasil em São Paulo e o Laboratório de Arte Alameda, México. Em 2009, seu trabalho CRONOPIOS foi selecionado pelo prêmio Rumos de Artes Visuais do Instituto Itaú Cultural e realizou uma itinerância de exposições pelo Brasil, incluindo a Casa Andrade Muricy em Curitiba, o Museu de Arte Moderna em Salvador, Itaú Cultural em São Paulo e Paço Imperial do Rio de Janeiro. Em 2009-10, realizou a exposição individual ERBF ‐ estação radiobasefotográfica, dentro do programa de exposições do Centro Cultural São Paulo. Recentemente foi selecionada para a residência “The Artic Circle” para desenvolver o Projeto Bitácora a bordo de um veleiro no Polo Norte. Também é ganhadora do Prêmio Marc Ferrez 2010 – Funarte para criação fotográfica. Letícia Ramos is a videomaker and artist who lives in São Paulo, Brazil. Studied Architecture and Urbanism at the Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) and Film at the Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP), in São Paulo. Her artistic investigation focuses on the creation of her own photographic apparatus to capture and reconstruct movement and its ulterior representation in video. Her works have been presented in important exhibitions and galleries; Tate Gallery in London; the 16º Videobrasil in São Paulo; the Laboratório de Arte Alameda, Mexico. In 2009, was selected by the Instituto Itaú Cultural for the award Rumos of Visual Arts and her work CRONOPIOS, within the collective exhibition Trilhas do Desejo, was exhibited at the Casa Andrade Muricy in Curitiba, Museu de Arte Moderna in Salvador, Itaú Cultural in São Paulo and the Paço Imperial in Rio de Janeiro. In 2009‐10 she had the individual exhibition ERBF‐ radio based photographic station at Centro Cultural São Paulo as part of the annual exhibition programme. She has recently been selected for the “Artic Circle Residency” to develop a project named Bitacora, which will take place on board of a sailboat on the North Pole. This project won the Marc Ferrez 2010 award by Funarte for photographic creation.


Caderno de bitácora Letícia Ramos Publicação/ Publication Edições397 Textos/ Texts Letícia Ramos Josefina Trotta Marcio Harum Conversas com/ Interviews with Pedro Terra Jose Roberto Leite Projeto gráfico/ Graphic design Marcelo Amorim Assistente de artista/ Artist assistant Deco Farkas Registro fotográfico/ Photos Letícia Ramos Deco Farkas Edição e tradução/ Editing and translation Josefina Trotta Revisão/ Proofreading Érico Melo Produção editorial/ Editorial production Isabella Rjeille Agradecimentos/ Acknowledgements Aos meus pais, Lauro Ramos e Maria do Carmo Passos de Azambuja Ramos, e querido irmão Lucas Ramos. A todos os amigos que compartilharam esta jornada, em especial a Josefina Trotta, Camila Groch, Laura Futuro, Alessandra Marder, Rose Blagden, Gabriela Motta, Marcio Harum, Luiz Roque, Gabriela Ribeiro, Roberta Segura, Ateliê Novo, Ademir Correa, Impossible Project NY, Pedro Terra, José Roberto Leite, Theo Craveiro, Yara Richter, Sofia Fan e toda a equipe do Itaú Cultural. Apoio

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Distribuição gratuita, proibida a venda

Título Formato Tipografia Miolo Número de páginas Tiragem

Caderno de bitácora - Letícia Ramos 15 x 21 cm Typewriter,Handwriting e Minion Pro offset 120 g/m2 76 500

Este livro foi produzido em março de 2011.



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