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A EDUCAÇÃO FÍSICA NA UFMA

LEOPOLDO GIL DULCIO VAZ

"Quando eu levei a minha primeira equipe de ginástica olímpica para o JEB's, nessa época o governo militar, com a criação dos JEB's houve um... surgiu um grande dilema, só três ou quatro Estados do centro-sul ganhavam tudo [São Paulo, Rio, Minas Gerais e Paraná, e Rio Grande do Sul às vezes disputando o terceiro ou quarto lugar], tinham destaque em tudo e os outros Estados eram um fracasso total... "Então o que acontece, era um desnível fabuloso... até hoje; então, os dirigentes sentiram a necessidade de reciclar e dar incentivo para os Estados, foi a melhor coisa que existiu para a Educação Física do Brasil, que eu considero, foi a criação dos JEB's, porque ai eles abriram o curso a três por quatro, para a melhoria do nível técnico pedagógico dos professores dos Estados; "então, todo ano tinha curso de handebol, de basquetebol, de ginástica olímpica - só eu fiz cinco cursos nacionais de ginástica olímpica, todo ano eu fazia um -; eu estou adiantando um pouco para depois voltar um pouco -, quando foi criado o primeiro curso de ginástica olímpica lá em Brasília, que eu fui convocado por ter levado uma equipe para os JEB's, lá encontrei... Simei Ribeiro Bilho, maranhense - inclusive tinha sido Miss Maranhão anteriormente -, professora de Educação Física e estava também fazendo este curso, no Rio de Janeiro... não... este primeiro curso de ginástica olímpica foi em Belo Horizonte, depois houve no Rio de Janeiro -, e eu me reencontrei com Simei, porque a gente não se conhecia antes, ela era uma grande amiga de Ary21, que era contemporâneo dela; o Ary Façanha Sá, que era coordenador e sempre estava envolvido nesses cursos todos, e eu fiz essa amizade com ela, lá no curso, isso tudo para chegar lá na Universidade - na criação do curso na Universidade -, então quando a Lei tornou obrigatória a prática de Educação Física no terceiro grau, nossa Universidade teve necessidade de - eu não sei precisar bem a data - [a Lei 69.450 é de 72] -... então para implantação do curso a Universidade nossa, aqui, mandou buscar... (DIMAS, Entrevistas).

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O ingresso na UFMA

"o Reitor solicitou do MEC que mandasse uma pessoa para fazer implantação aqui, e para a minha alegria foi a Simei - era maranhense, e que eu acredito até ter sido mandada pelo Ary Façanha -, ela veio fazer a implantação; como nós já éramos conhecidos, já tínhamos feito curso juntos, e ela já conhecia minha história, ela me convocou para ajudar na implantação. Eu entrei na Universidade logo na implantação, junto com a Simei, apenas com um contrato... para a implantação das práticas de Educação Física obrigatória, não o curso... ainda não era o Departamento, era só implantação, o Departamento veio depois. Ela veio, foi feita a implantação, ela ficou aqui uma temporada, nós começamos as primeiras aulas no Jaguarema22 , as primeiras aulas que nós demos foi lá, e eu já estava contratado nessa época... (DIMAS, Entrevistas).

Os primeiros professores concursados

Trata-se de ARY FAÇANHA DE SÁ, maranhense de Guimarães, um dos maiores atletas brasileiros, tendo participado de três Olimpíadas (anos 50). Formou-se em Educação Física, pela Escola Nacional, da Universidade do Brasil, hoje UFRJ. Trabalhou no Ministério do Educação, sendo um dos idealizadores dos Jogos Estudantis Brasileiros – JEBs, coordenador do Convenio Brasil-Alemanha (década de 70) para desenvolvimento do esporte brasileiro. Contemporâneo de Dimas, a quem encontrou no Rio de Janeiro, já atleta consagrado, nos anos 50. Pelos depoimentos, observa-se que foi um dos responsáveis pelo desenvolvimento do esporte escolar maranhense, nos anos 70, mandando cursos e professores para o Maranhão. Nunca teve o reconhecimento de sua terra... Refere-se ao Clube Recreativo Jaguarema, fundado em 1953, e que encerrou suas atividades em 1994.

"Quando ela foi embora, que deixou implantado abriu o concurso para três professores, então prestou concurso, eu, professora Cecília23, e professor Rinaldi Maia, foram os três primeiros concursados; e entramos apenas para atender as práticas desportivas... (DIMAS, Entrevistas).

Sidney Zimbres fala da contratação dos demais professores, em 1981, já para atender o Curso de Educação Física:

"Ai depois a criação da SEDEL, em 81 eu era Técnico da SEDEL, tinha 40 horas na SEDEL, e trabalhava 20hs como professor substituto, colaborador horista na UFMA, dando aula; ai em 81 aconteceu o Concurso, eu fiz o concurso, fui aprovado, na época foi aprovado o Moacir24 , Demóstenes25, eu26, Laércio27, Paschoal, Isidoro; Ulisses ficou em quinto lugar, mas não entrou; eram cinco vagas, ele ficou em sétimo, por causa do Currículo, embora tenha ficado em segundo lugar na classificação das provas, ele caiu para sexto ou sétimo, para o sétimo lugar por causa do currículo e ai foi quando nós ficamos efetivados como professores da Universidade; foi quando eu pedi demissão da SEDEL e fiquei com dedicação exclusiva na Universidade, a partir do Concurso em 81.” (ZIMBRES, Sidney. Entrevistas).

O Departamento de Saúde Pública, o Núcleo e o Departamento

"... nós pertencíamos ao Departamento de Saúde Pública, éramos agregados ao Departamento de Saúde Pública, depois é que foi aumentando a quantidade de alunos e nós não estávamos mais dando conta, aí é que veio a criação do Núcleo de Educação Física, começaram as instalações, e a criação de Departamento de Educação Física; e aí começaram a entrar já novos professores - que eram os paulistas -, que já estavam aqui; aí eles fizeram o concurso também para preencher mais vaga - na época foi Laércio, Demóstenes, Moacir [Moacir veio depois, já em 1979], Lino, Zartú [veio depois], eles já estavam aqui no Maranhão... "esses professores vieram em função dos JEM's, todos esse vieram em função de JEM's e de JEB's... agora eu já estou falando nesses que já estavam aqui, que foram aproveitados para ir para a Universidade, então aí eu estou nesse ponta já... os três primeiros ...- Paschoal - ....eu estou falando de quando o Departamento foi criado...O Curso de Educação Física foi criado em 84...". (DIMAS, Entrevistas).

“Tínhamos um corpo discente muito bom e um corpo docente muito fraco" “... eu não te garanto, mas até acredito que seja realmente, tanto que o nosso curso, você bem sabe como ele começou devagar, teve uma época que nós tínhamos um corpo discente muito bom e um corpo docente muito fraco, porque os alunos não conseguiam passar no vestibular [refere-se à concorrência do Curso de Medicina, ou quando passavam logo depois que terminavam o ciclo básico pediam transferência para Medicina, Odontologia, Farmácia]... “o curso não tinha assim uma grande aceitação, então eram poucos candidatos, mais ex-atletas [que só se dedicavam aos esportes, e não tinham uma boa base educacional, não conseguiam

CECÍLIA MOREIRA, professora de Ginástica; foi chefe do Núcleo de Esportes e Coordenadora do Curso de Educação Física por vários anos; foi Secretária de Desportos e Lazer, já falecida. MOACIR MORAES DA SILVA, paulista, mas não daquela equipe trazido por Claudio Vaz; chegou aqui em 1978, trabalhando como professor contratado. Professor de Atletismo, já aposentado. DEMÓSTENES MANTOVANI, professor de Judô, já aposentado. SIDNEY FORGIERI ZIMBRES, um dos paulistas trazidos por Claudio Vaz; Mestre em Educação Física. LAÉRCIO ELIAS PEREIRA, paulista, daquela equipe do Claudio Vaz, o grande responsável pela evolução da educação física e dos esportes maranhense, responsável pela vinda de todos os outros; criando do Centro Esportivo Virtual – www.cev.org.br Doutor em Educação Física. Hoje, um dos mais respeitáveis pensadores da educação física brasileira, junto com o Lino Castellani Filho. Ambos, viveram por quase 30 anos no Maranhão, contribuindo pela formação de várias gerações de esportistas, professores, dirigentes. Estão a merecer um justo reconhecimento por seu treabalho...

passar porque concorriam com o pessoal de Medicina como segunda opção]... então aconteceu numa época em que o número de alunos que passava era tão pequeno, que tinha até dificuldade de funcionar o curso, porque o básico de nosso de Educação Física, da área médica era todo igual, Medicina, Odontologia, Farmácia, Educação Física28, era tudo a mesma coisa, depois que mudou um pouco, ainda tem... mudou um pouco, isso tudo para te dizer se tivesse outro curso realmente não tinha, não tinha lógica de ter dois cursos de Educação Física naquela época29 . “Só completando, mudou completamente, agora o curso de Educação Física tem uma aceitação muito boa, tem um número de candidatos concorrendo muito grande; eu estive olhando o número de vagas, estão todas preenchidas, os alunos que estão entrando agora, todos são alunos com base teórica, o que ocorreu uns anos atrás foi o inverso, o corpo docente foi que caiu muito, muitos professores foram embora, outros foram fazer mestrado e não voltaram mais, outros se aposentaram e outros morreram, então caiu muito, o corpo docente uns anos atrás, agora é que já está melhorando um pouco mais. A gente tem que reconhecer que já houve uma melhoria, alguns que estavam mestrado, doutorado, já voltaram, está um pouco melhor agora". (DIMAS, entrevistas).

Sidney esclarece melhor essa fase do Curso de Educação Física, ao falar da administração da Profa. Cecília quando coordenou o Curso de Educação Física: "Minha relação com Cecília foi essa eu tive alguns atritos com a professora Cecília era uma pessoa também muito séria, eu tive alguns atritos acadêmicos com ela; eu separo a Cecília como mulher, como mãe, como profissional; eu vejo que a professora Cecília atrasou muito a Educação Física dentro de Universidade Federal do Maranhão, ela tinha uma visão de Educação Física, ela tinha uma forma dela coordenar o curso, forma de administrar, muito centralizada, ela dificultou muito, lembro que o curso chegou uma época, um período que os cursos de Licenciatura da Universidade, como Educação Artística, Matemática e tal, estavam entrando no Vestibular, um, dois alunos por semestre, no Curso de Educação Física; o curso todo chegou a ficar numa época com uma faixa de sessenta alunos, uma média de sessenta alunos, o curso todo, o que estava entrando a cada semestre um, dois, três alunos, “eu cheguei a dar uma aula para uma turma de um aluno, aula de didática 120hs para um aluno por semestre... Oitavo Período, que dizer, oito aulas por semana para uma aluno, foi até o Mauro Santiago, então foi o problema, ela achava que o curso de vestibular devia ser bem difícil e só poderiam entrar aqueles que realmente tinham condições, por que isso iria engrandecer o curso, aí quando ela saiu houve uma mudança no vestibular, a gente mudou a área, mudou o peso, aumentou o número de vagas, e hoje o curso conta com quase seiscentos alunos ou mais. "Teve um período, isso também acontecia além de entrar poucas pessoas, também acontecia isso, o curso de Educação Física, eu tenho também um trabalho de pesquisa que eu fazia, com a primeira turma, que eu também dou caracterização profissional, eu aplicava um questionário para traçar o perfil do aluno e numa das perguntas, perguntava qual o interesse, se ele tinha interesse em ficar ou passar para outro curso e uma boa parte dos alunos respondiam que tinha interesse de pular, houve uma época que eu era coordenador, que a Pró-Reitora de Graduação era? (Margarida Leal) que foi um escândalo, dentro da Universidade, foi até chamado de O TREM DA ALEGRIA, houve uma transferência de dezessete alunos dos cursos, vários cursos, entre eles Educação Física parece que foram cinco alunos do Curso de Educação Física e do

28 Segundo pesquisa que o Autor fez, de 79 até 82, em que eram 25 vagas, preenchiam as 25 vagas, mas ao término do primeiro período havia apenas 15 alunos, 10 já tinham migrado para Odontologia ou Medicina; quando terminava o ciclo básico, ficavam quatro ou cinco alunos que efetivamente queriam Educação Física, os outros já tinham todos sido transferidos para os outros cursos. Lembra que teve um ano, que ficaram dois ou três semestres letivos sem ter um único aluno que tenha concluído o curso, isso até recentemente, até três anos atrás [1988/89], lembrando que Sidney Zimbres dava Didática a um único aluno, no oitavo período de Educação Física; isso ocorreu até que se desvinculou aquela segunda opção, e o aluno de Educação Física, só faz opção por Educação Física, não tendo mais a opção de mudar para outro curso.

29 Aqui, refere-se àquele curso da FESM, que não chegou a funcionar, embora criado antes do da UFMA.

Curso de Medicina, foi em escândalo na época, isso foi parar no Conselho e rolou, como a Universidade vivia na época em clima de opressão um clima de, o reitor era o Cabral, ele não havia essa, o Conselho não tinha muita força, passou isso mudou depois, depois que o Cabral saiu entrou o reitor Jerônimo Pinheiro, aí acabou isso daí, houve conselho, e proibiu essa transferência de um curso para outro, mas isso acontecia muito." (ZIMBRES, Sidney. Entrevista).

José Maranhão Penha, hoje professor de Educação Física do CEFET-MA, lembra dessa época, como aluno do Curso de Educação Física, quando de sua entrevista foi dito que Dimas havia colocado que o grupo de alunos era muito bom, com o pessoal vindo de uma carreira esportiva muito grande; já o corpo docente, tinha seus problemas: “... Porque, na realidade era isso que acontecia, a maioria desses alunos foram para Universidade só para legalizar a sua situação porque, a realidade era essa, todo mundo, tinha uma experiência de atleta muito grande, não tinha a parte didática, mas a parte de vivência muito grande, tanto é que tinha professor que dava aula e virava aluno dos próprios alunos, né, o Pascoal, perguntava para o Reinaldo se estavam certas as atividades do Basquete; o Moacir tirava muita dúvida comigo, no Atletismo, na hora das demonstrações dos arremessos; tem muita fotos, por sinal, das aulas; que foram tiradas... se quiser, até posso mostra alguma coisa, a gente tem; mas é isso mesmo, a turma era muito boa, muito experiente, essa turma; seriam os alunos maduros também, em termo de idade, era uma turma acima de vinte, vinte e dois anos, Jorge Luís, Jorge Luís Ferreira; Rubem Goulart Filho pegou algumas cadeiras, Rubem passou na terceira turma; ... Reinaldo - Reinaldo Conceição Cruz, que hoje é professor de Basquetebol; Dionete, Silvana Cintra, Liana Fiquene; Reinaldo Estrela, que era professor da Universidade; Viché veio depois; Paulão veio depois; Paulinho, que hoje é mestre, Paulo Neres, Doutor, terminando Doutorado, professor da Universidade; Braide Ribeiro, hoje é Técnico de Futebol, na Túnisia; Tem o Reinaldo, que era funcionário da Polícia Rodoviária, também não atuou na área não, era funcionário da Polícia Rodoviária e tinha uma frota de caminhão que puxava óleo dos postos de combustíveis, esse não trabalha na área, deixa eu ver quem mais ... só eu vendo...eu tenho na fotografia..." (PENHA, José Maranhão. Entrevista).

A Educação Física na UFMA, Parte II - o Curso de Educação Física

Sidney Zimbres contesta Laércio Pereira quando afirma, em sua entrevista, que o mérito do curso ter vingado seja de Dimas, Domingos Salgado ou de Cecília Moreira. Em sua entrevista esclarece como foi a fundação do Curso de Educação Física da UFMA:

“... Mas ai que entra a questão, quando ele [Laércio] coloca que [o curso] foi criado por Cecília, Dimas e Rinaldi, os três não tiveram participação efetiva na criação do curso, tiveram uma participação mínima na criação do curso... "Eu tenho a impressão - eu fui do curso do ITA, eu fui o coordenador do curso do ITA -, então eu tinha uma relação muito íntima com Terezinha30, de trabalho; a gente trabalhava muito junto, conversamos muito e eu tenho a impressão que a Terezinha estava torcendo para que se criasse um curso na UFMA... ela tinha interesse que o curso da UFMA fosse criado, porque ela já estava com interesse de vender ou passar o ITA; e isso aconteceu; ela alugou a sala lá do 3º andar, eu lembro bem disso, ela alugou para o Márcio que fez um cursinho, o Márcio depois foi... vendeu o 2º grau, eu me lembro até hoje quando ele assinou um cheque lá e pagou para

30 Refere-se a Profa. Terezinha Rego

ela, comprar o 2º grau, ai ela foi passando, foi e vendeu tudo para Márcio, ele acabou adquirindo o ITA e transformou em MENG, ela mesma tinha interesse que esse curso passasse... "... eu [já] estava dando aulas de Prática Esportiva na UFMA; teve uma pessoa que foi fundamental para a criação do curso de Educação Física na UFMA, essa coisa que passou assim, a história apaga... Houve um envolvimento do Laércio; eu, conversando lá no Centro nós éramos lotados em Educação Física, nessa época a Educação Física era lotada no Departamento de Saúde Pública; o diretor do Centro, que ficava lá no CCS, lá atrás da Igreja da Praça Gonçalves Dias, era um prediozinho que ficava ali atrás da Igreja, funcionava o Departamento de Saúde Pública, junto com o Departamento de Saúde Pública, CCS - Centro de Ciências da Saúde -; o Diretor do CCS era o Carlos Borges, o Dr. Carlos Borges, médico, que tinha um grande poder político dentro da Universidade, era muito bem conceituado naquela época, e a companheira dele era Glória Leitão, que eram uma enfermeira, tinha um cargo até de chefia como diretora, muito forte; e Glória Leitão, talvez por questões pessoais, que encabeçou a criação do curso de Educação Física... ela, se não fosse política dela, não teria sido criado o curso, e ela foi assessorada por duas pessoas para montar o currículo: por mim e pelo Lino; e nessa época, o Lino não era professor da UFMA; ele era técnico da UFMA; o Lino, ele entrou não como professor... "então a criação do curso se deve a Glória, ao Lino e a mim, então nós trabalhamos o currículo todinho; o Dimas, a Cecília e o Rinaldi - Rinaldi nem aparecia, era um professor meio tímido, meio calado, que trabalhava com o futebol fora da Universidade. então ele não teve participação nenhuma... Era professor da UEMA, era técnico do Ferroviário, às vezes pegava o Sampaio, o Moto e então, ele não tinha nenhuma afinidade com isso, ele não gostava disso; "... o Dimas também, não tinha nenhuma afinidade com currículo, não tinha nenhuma experiência; a Cecília também ficava ali, ela não tinha nenhum conhecimento sobre o assunto, então fui eu... até gostaria de ressaltar, o curso da UFMA só saiu, só foi em frente, porque teve um padrinho muito forte que foi a Glória Leitão, que era esposa, a companheira, do Dr. Carlos Borges, que era um chefão dentro da Universidade; "... e ai começou o processo, o curso foi fundado em 1978, começou a primeira turma... isso eu me lembro bem, que a gente fez o currículo mínimo, que era ainda aquela resolução 69/69 do currículo mínimo; o curso era curso de licenciatura em Educação Física e Técnicas Esportivas; a Legislação só cabia para isso, então a pessoa fazia o curso e no final um esporte e se especializava entre aspas porque não seria especialização como hoje, em futebol, basquete; essa foi a origem do curso de Educação Física... Praticamente Dimas não participou, ele chegava lá, olhava e tal, mas ia embora, também a Cecília fazia a mesma coisa, pouco participava, porque também não entendia nada sobre o assunto, currículo é uma coisa... Hoje eu tenho bastante conhecimento, por que eu venho trabalhando há muito tempo, mas na época, era uma coisa muito diferente, estranha". (ZIMBRES, Sidney. Entrevistas)

Dimas tece alguns comentários sobre o Curso de Educação Física e o difícil início: "Olha o nosso curso teve muitos altos e baixos, como eu comentei antes, no início, nós tínhamos um corpo docente muito bom - você conhece a maioria deles todos -, e nós tivemos infelizmente... aliás, não podemos mudar que nas primeiras turmas tivemos bons alunos, esta aí a Denise31 que foi das primeiras turmas... e tivemos bons alunos, a Silvana32, posso dizer que as

DENISE MARTINS DE ARAÚJO, Professora de Educação Física, graduada pela UFMA; Sócia-propretária e Diretora Pedagógica da Escola de Natação Viva Água; uma das maiores especialistas brasileiras em natação para bebês; filha de Dimas. SILVANA MARTINS DE ARAÚJO, Professora de Educação Física, graduada pela UFMA; Mestre em Educação; Professora do Curso de Educação Física da UFMA; filha de Dimas.

minhas três filhas foram boas alunas33, elas tinham conteúdo, e saíram boas profissionais, haja vista que a Silvana hoje é uma professora de lá muito credenciada - ela quando fez seleção para o Mestrado, foi primeiro lugar dentre todos os alunos, ela estava fazendo na área de educação e foi classificada em primeiro lugar e tem um conceito muito bom, é estudiosa, é competente, eu reconheço, não é pelo fato de ser minha filha, ela seguiu os meus passos, até as minhas disciplinas ela assumiu quando eu sai, ela foi professora de ginástica olímpica, de recreação, hoje ela tem outras ... "então, nós tivemos bons alunos no começo, depois eu acho que caiu um pouco e agora novamente está entrando uma leva muito boa de alunos, isso eu falando em nível de discente, então estivemos bons no começo, teve uma queda e agora novamente tem bons alunos, as últimas turmas que eu ensinei eu tive oportunidade de constatar alunos de nível muito bom, de conhecimento geral, técnica de aprendizagem, meninos de conteúdo bom... "mas houve uma época que o nosso corpo docente estava um desastre, não só pela saída dos primitivos, como pela entrada de alguém que chegou como que se diz assim, veio do inferno para nós34... então aquela época foi um desastre, esse pessoal - volto a dizer -, veio do inferno para infernizar nosso departamento, felizmente eles foram embora, nós conseguimos nos libertar deles [embora] ainda tenha um restinho, mas já não têm mais força, porque o Departamento teve uma época que... tinha uma divisão muito forte, entre nós os primitivos, os que carregavam e vestiam a camisa e nós éramos considerados por eles os radicais, os pelegos, os atrasados e eles é que eram os donos da verdade, e eles é que estragavam tudo, eles eram que estragavam tudo, eles eram os vermelhos, os comunistas vermelhos que vieram aqui para "bagunçar o coreto", então ficou uma época em que para conseguir ir numa Assembléia Departamental, ter mando, ter predominância nas resoluções, era uma luta muito grande, porque eles tinham uma força muito grande, eles conseguiram... manipulavam os alunos, alguns alunos ingênuos, mais a proporção que eles foram indo embora, as reminiscências foram perdendo força, perdendo força, e o que tem agora acho que já não pesa mais, então foi a proporção que os nossos próprios alunos - nossos primeiros alunos, que hoje são professores - foram assumindo e foram ficando do lado da terra, pode se dizer - e eu até que acho que hoje eu perdi um pouco contato, não tenho indo muito -, mas eu acho, que pelo o que eu converso com a minha filha, melhorou... "... melhorou o corpo discente, está muito bom, e o corpo docente está melhor, pelo menos tem mais harmonia, não tem muita briga, uma coisa que se falava era que nós éramos só licenciados, poucos eram, eram... Pós-graduados - por sinal eu ainda não falei na minha pósgraduação em Manaus, ainda falta a gente falar nisso -, "então isso era uma crítica muito grande que a gente sofria, mais a partir de um tempo vários nossos professores foram fazer mestrado e doutorado, então esse nosso corpo docente hoje está bem melhor, temos ai já.". (DIMAS, entrevistas).

Sidney também se refere a essa fase negra do Curso de Educação Física da UFMA:

VIVIANE MARTINS DE ARAUJO, outra das filhas de Dimas que também cursou educação física na UFMA; trabalhou no Serviço Público Federal, por onde se aposentou. Dimas refere-se ao ingresso de FRANCISCO MÁURI DE CARVALHO FREITAS - Máuri de Carvalho - licenciado em Educação Física pela Universidade Federal de Fortaleza (1978); Especialista em Ciência do Treinamento Esportivo, pela UGF; Mestre em Educação Física (UGF, 1988); foi professor da UFRJ, de onde passou para a UFMA; transferindo-se para a UFC e dali para a UFES; autor de "A miséria da Educação Física" (Papirus, 1991); o Sr. Máuri é conhecido, além de suas posições de esquerda, pela truculência com que aborda aqueles que não aceitam suas idéias, o que lhe vem causando inúmeros processos por agressão e de tentativas de homicídio, além de dispensa naquelas instituições em que trabalha. Sempre acompanhado por um grupo de professores, que o seguem em todas as instituições de ensino em que ingressa, implantando células do projeto BrasilBrasis; alguns remanescentes desse grupo, ainda se encontram em São Luís, porém sem a virulência do passado recente, que quase afundou o Curso de Educação Física.

"Esse foi a maior desgraça que aconteceu para a Educação Física aqui no Maranhão. Aí eu tenho uma parte uma parcela de culpa... foi uma época em que o Maranhão estava carente de professores; o professor Lino tinha ido embora, o Laércio tinha ido embora, tinha um pessoal saindo e aí eu pensei; eu era Coordenador eu falei: - olha temos que trazer pessoas de fora, com Mestrado, para dar uma levantada. Aí por indicação de um professor que o conhecia, o professor Tarcísio - ele tinha muita relação com o Tarcísio porque ele foi o seu orientador - ele estava trabalhando na Vale do Rio Doce, lá na serra do Carajás, então ele sempre ligava para mim, ele fez um concurso aqui, ficou em segundo ou terceiro lugar, quando ele vinha para cá, ele ficava hospedado às vezes na minha casa, e aí quando teve aquele concurso Tarcísio já era professor do departamento, aí entrou, se inscreveram o Mauri, entrou o Adriano, entrou a Cássia ... "aí explodiu o departamento, porque eles entraram com uma visão, a filosofia deles era desobediência, desordem e guerra civil, então eles achavam que, dentro de uma visão marxista, comunista... da linha Albanesa, você só poderia construir, se você destruísse primeiro, primeiro você tem que fazer a revolução, destruir o que existe, para depois construir de novo, então eles queriam destruir tudo, fizeram coisas absurdas. "... destruíram tudo, inclusive chegaram a destruir até o material do departamento como quadro de giz, quebraram televisão, vídeo cassete, riscaram meu carro várias vezes. "... eu abri todos os processos contra o Mauri, por tentativa de agressão, e por agressão verbal, abri um processo dentro da Universidade e um processo na Polícia Civil; o Moacir abriu um processo também contra ele, pois ele ameaçava mesmo. “... Eu tenho esses documentos todos guardados comigo até hoje, ele era uma pessoa completamente desequilibrada, eu considero o Mauri assim, uma pessoa esquizofrênica, um paranóico, uma pessoa altamente agressiva, que na segunda ou terceira palavra que você não concordasse com ele, partia para porrada, aconteceu uma vez uma Assembléia eu contestei, educadamente, academicamente, com todo cuidado, ele levantou para mim me dá uma porrada, foi agarrado, aquela coisa toda, foi horrível, eu tive que sair do departamento, porque eu era agredido verbalmente, diariamente por ele, nos corredores, na sala de aula; "... o que mais me entristece, era que alguns professores, inclusive um que eu tinha amizade, desde quando cheguei aqui, que foi o Vicente [Calderoni], ficou da mesma forma, ficou do lado dele chamando ele de pai. "Ficou doido, está totalmente desequilibrado, uma pessoa que tem uma dificuldade muito grande para elaborar uma teoria, para pensar, para ler, é uma pessoa muito limitada. "É um "trenero", você vê técnico de handebol, mas fica nisso, uma pessoa que não consegue ler um capítulo e resumir e fazer uma critica do capítulo, uma pessoa limitadíssima acadêmica, eu falo isso porque eu morei com o Viché muitos anos, convivi muito com ele é um excelente técnico, mas como professor universitário é muito limitado; e o Viché, hoje, se acha que é um intelectual, um grande revolucionário, ele é um, com todo respeito aí a gravação; um idiota, totalmente idiota, hoje dá pena de ver, tá lá totalmente isolado, para você ver a extensão da gravidade, desse Mauri, depois que ele fez isso tudo aqui, ele voltou algumas vezes aqui, participou do Congresso Latino Americano, agrediu um professor peruano que estava na mesa, ele na platéia fez uma crítica, para o professor, o professor respondeu a crítica dele, e quando terminou o debate que o professor saiu, ele deu um tapa na cara do professor, lá fora, num caso, desse, a APRUMA a ASSUMA o sindicato deveria tomar uma decisão firme, aí pelo cooperativismo acoberta, porque ele faz parte; não deixa para lá. Para você ver o grau de loucura desse Mauri e como ele foi embora daqui, quando ele viu os processos que haviam contra ele, quando ele ia acabar numa demissão por justa causa, ele conversou com o reitor e fez um acordo com o reitor, ele fez um concurso lá em Vitória do Espírito Santo, na Universidade Federal e havia sido aprovado, e fez um acordo com o reitor ... Para se livrar, que

acho que foi um erro, acho que ele deveria levar até o final, liberou o Mauri, e ele foi embora, e ele tirou todos os processos, que haviam dentro da Universidade, foi apagado dos computadores se você for hoje no computador não tem nada, eu tenho esses documentos todos mas apagaram dos terminais, todo esse processo contra ele, foi uma coisa interessante isso, com uma semana no departamento, lá em Espírito Santo ele brigou com o chefe do departamento, ele quebrou o braço do chefe do departamento. ... Pois é, com uma semana; então uma pessoa dessa não pode ser normal, a poucos tempos atrás talvez uns oito meses atrás, ele deu cinco tiros num orientando dele, o orientando foi se concursar, quando conseguiu voltar, não morreu, acusou, é a última informação que eu tive agora recente, faz dois dias atrás, que o Mauri estava preso, um aluno do curso que estava dependente da nota dele ligou lá para ele ver se podia resolver o problema da nota, falou com a esposa dele, o Abelardo Teles, eu vou até confirmar isso com ele, e a esposa disse que ele estava preso, eu acho que finalmente ele encontrou o lugar certo dele." (ZIMBRES, Sidney. Entrevistas).

Lino também se refere a esse momento da criação do Curso de Educação Física: "Quando eu entro em 78, na Universidade nessa função de técnico nós estávamos já envolvidos na criação do curso, tinha a Cecília, o Dimas... diria que o movimento de criação, a construção das instâncias organizadoras, construtoras do material do processo necessário para a criação junto às instâncias Federais do curso, o envolvimento foi o Laércio, que era a pessoa mais antiga e com mais influência. Isso aí em 75, não é? O Sidney fazia parte desse grupo, eu fazia parte de outro grupo eu não saberia dizer quem se envolveu mais, quem se envolveu menos. Naquela época o que mais ficou na minha memória foi o sentimento de trabalho colegiado, trabalho coletivo, trabalho em equipe, resistência por parte de Dimas e de Cecília, nunca explicitada, não é porque aquele receio dos "paulistas" ocuparem o espaço dos maranhenses, muito comum, numa postura muito regionalista, não é? E a gente apontando aquilo ali, como seria bom para o desenvolvimento da Educação Física, para o Maranhão, para a própria São Luis e para o interior, e que aquele medo não tinha sentido, não é? mas eu diria que foi o esforço dessas pessoas aí, não saberia dimensionar ou quantificar, mais ou menos o esforço (...). “Ficou faltando eu falar do papel do Domingos Salgado. O Salgado já estava na Universidade com a prática desportiva, antes da nossa chegada, mas ele foi um personagem muito controvertido e polêmico, ele não se envolveu nesse processo de criação desse curso, não saberia dizer exatamente quais os motivos, não senti atrapalhando, certamente ele não ajudou, eu não saberia dizer se ele atrapalhou. Eu não me lembro, não tenho notícias de presença dele impedindo, dificultando o trabalho. Mas, logo depois ele saiu do País e se afasta da Universidade, e ele criou, deixou uma imagem ruim para a Educação Física, por algumas coisas que ele desenvolveu lá dentro que nós tivemos que, devagarzinho, construindo outra imagem e tal; principalmente é isso que dificultou um pouco mais ainda a assimilação de outros paulistas, não é? mas eu também não saberia dizer até que ponto isso influenciou muito; eu sei que o trabalho foi feito, eu me tornei docente do curso só praticamente na época de eu sair da Universidade para o mestrado e tudo mais; desenvolvi na Universidade um projeto de desporto universitário, me envolvi no refortalecimento da Federação Acadêmica, tinha o projeto de criação das atléticas; criei as Atléticas para os Centros Estudos Básicos, de Saúde, de Ciências Humanas, aquela coisa toda. “Fui chefe de delegação universitária maranhense em 77, para Natal; em 78, para Curitiba; em 79, para João Pessoa; em 80, para Florianópolis; e fui o coordenador geral dos XXX Jogos Universitários Brasileiros e foi minha última ação articulada nesse setor de desporto universitário. “Em 83, eu me afastei para o mestrado; eu legitimei minha presença na Universidade a ponto do Reitor não colocar obstáculos na minha saída para o mestrado, na condição de Técnico; não era docente, e eu saí com todo respaldo do Cabral na época, pelo trabalho desenvolvido nesse

setor; os jogos foram um sucesso, conseguimos recursos federais para fazer o restaurante, que até hoje está lá, Universitário. Recurso para construir o Complexo do Castelão, também veio por conta dos jogos universitários. Lá, o Ginásio, a pista, a piscina, isso em 82; e foi uma experiência esportiva muito valiosa naquela época.". (CASTELLANI FILHO, Lino. Entrevista).

Aqui, em seu depoimento, há um equivoco do Prof. Dr. Lino Castellani Filho. Os recursos para a construção do Complexo Social e Esportivo de São Luís – chamado de Castelão pelo povo – foi inteiramente recurso do Tesouro estadual. Havia um projeto de construção de um estádio de futebol; havia um projeto elaborado pela construtora SEEBLA, de Minas Gerais, inclusive com maquete. E havia o interesse do Governador, João Castelo, em escrever seu nome numa obra monumental. Havia criado a SEDEL. Fora de São Luis, a capital, não havia praticamente nada em relação à educação física, aos esportes e ao lazer, a não ser algumas iniciativas em algumas poucas cidades, como Imperatriz, Caxias, Bacabal, Carolina. Pista de Atletismo, por exemplo, havia duas em São Luis – a do 24 BC, com cerca de 300 metros, e a da Escola Técnica, com 250 metros. Em Imperatriz havia uma de tamanho oficial, no 50 BIS. Só. Ginásio de Esportes, o Costa Rodrigues e o da Escola Técnica, o do SESC; isso em todo o estado do Maranhão... Algumas quadras poliesportivas em algumas cidades interioranas, em alguns poucos colégios, a sua maioria particulares. Esse era o retrato. Havia um dinheiro disponível, cerca de U$ 2 milhões, para a terraplanagem do terreno... Mas não havia o terreno... Então o Secretário de Desportos, o Sr. Elir de Jesus Gomes, um dia me chamou e disse estar com um problema, pois o Governador exigia uma solução. Levou-me até a sede da SEEBLA, num prédio por traz do Casino Maranhense, na Beira-Mar e lá vi o projeto, a maquete e conversei com o engenheiro responsável. Era apenas um estádio de futebol... Falei das experiências do Paraná, em que se construíam instalações esportivas aproveitando-se de encostas de morro, para evitar gastos com terraplanagem, e depois erguer-se o prédio; nas encostas, cortavam o morro, e aproveitavam essa terra para fazer a base, nivelada, e os cortes, as arquibancadas; ate mesmo a cobertura era facilitada, pois feita entre as duas encostas em arco, levava menos tempo, menos material e custava menos... Dei exemplo de Paranavaí... Ficou de ir lá verificar. Nesse tempo, fui encarregado, junto com o Coordenador-Geral, Dr. Olimpio de Sousa Guimarães, de encontrar uma área para alocar a obra. Ouvi falar da Chácara Barreto, que era do Estado e havia sido cedida em comodato à Prefeitura para construção de um novo estádio de futebol. Foi o Prof. José Maranhão Penha quem me disse isso, e o Prof. Reinaldo Conceição da Cruz não só confirmou como me levou ao local. Comentei com o Dr. Olimpio, que verificou ser verdade. O Sr. Elir e o Dr. Olimpio foram à Prefeitura. Não houve acordo com o Prefeito – não lembro se era o Roberto Macieira ou o Mauro Fecury -; então acionaram um assessor parlamentar – o então Deputado Nan Sousa, para anular o ato oficial junto à Assembléia Legislativa, que concedia a área à Prefeitura. O terreno fora cedido com prazo determinado para uso e já se passara quase dez anos e nada fora feito. Lembro que a anulação da Lei cedendo a área foi anulada em menos de um mês, graças a atuação do Nan. Tínhamos a área... O engenheiro da SEEBLA retorna; fora ao Paraná, vira a técnica de construção. No Barreto havia um morro, alto, que o levantamento planialtimetrico demonstrou ser suficiente para construção do Estádio. Utilizando o corte das encostas, em forma de escada e a terra retirada, para o nivelamento do solo. O projeto foi refeito. Os custos baixaram consideravelmente... A idéia inicial era apenas de se construir as arquibancadas do lado do morro, sem fechar o perímetro, que teria que ser em concreto. Ampliamos o projeto, pois haveria sobra de dinheiro. Foi planejado outro ginásio de esportes, o Castelinho; a Piscina Olímpica, junto o tanque de saltos ornamentais; e um kartodromo... Ai me ‘rebelei’; ‘exigia’ uma Pista de Atletismo... Seria mais útil e serviria para toda uma população do entorno do Barreto, não apenas para um grupo de empresários brincarem de piloto. Tanto que o projeto da pista foi feito depois... E ainda sobrou dinheiro, e o Governador mandou, então, construir a parte da arquibancada que faltava. Depois de o projeto pronto, o Complexo planejado, ai sim, a SEED/MEC se interessou, e praticamente exigiu participar com algum recurso. Com a construção do Complexo, nos habilitamos para os JUBs e para os JEBs. Ai entrou mais dinheiro, não para a construção, mas para equipamento...

Fui fiscal da obra, discutindo com os engenheiros das diversas empresas contratadas detalhes técnicos de construção esportiva, sempre com os livros de regras nas mãos, quanto às medidas exatas, recomendadas, e quanto ao material. Especialmente a Pista de Atletismo. Trazíamos os dirigentes máximos das confederações esportivas para ver a obra e dar palpites na construção. Deve-se louvar aqui o posicionamento do Dr. Olimpio – responsável pela construção, presidente da Comissão de Obras, e do Sr. Elir. Sempre que nós, um de seus técnicos, dizíamos que alguma coisa não estava correta, mandava parar e só prosseguir quando tirássemos nossas duvidas e fosse feito da forma que achássemos melhor, pois nos éramos os professores e os técnicos da área e que iríamos nos utilizar daquele espaço. Um detalhe: a não ser na época da construção, nunca entrei no Castelão... Lembro que o Sr. Elir me telefonava lá pelas 10, 11 horas da noite. Avisava que o Governador queria ir ver a obra. Ele passava em minha casa, íamos ate o Complexo, e aguardávamos o Governador. Devia ficar a disposição para algum detalhe, alguma explicação... Lá pelas três, quatro da manhã, terminada a inspeção da obra, estávamos liberados, o Sr. Elir, o Dr. Olimpio, o Dr. João Rodolfo (Secretário de Transportes e Obras Públicas, sempre chegava com o Governador). Algumas vezes, o Gafanhoto acompanhava... Sempre tinha um ou dois deputados juntos, Nan sempre...

Pós-graduação

Em 84,85, a UFMA ofereceu dois cursos de especialização: Ciências do Esporte - que não terminou, faltando duas disciplinas -, e outro, Recreação e Lazer, em que apenas um aluno terminou: "Que foi você, o único que apresentou monografia, todos terminaram o conteúdo, o de Recreação o conteúdo todo foi dado, mas monografia quem apresentou foi só você." (DIMAS, Entrevistas).

Sidney dá maiores detalhes sobre esses cursos promovidos pela UFMA:

"... foram dois os cursos, inclusive eu participei da coordenação dos dois, um foi sobre Ciências dos Esportes. Laércio começou depois eu continuei; o outro foi Lazer e Recreação, que começou com Dimas, eu acabei terminando a coordenação. O que aconteceu? Aquilo foi, na época que foram feitos os cursos, pouquíssimos, acho que dois alunos que terminaram com a monografia, um foi você. "... eu lembro que eu fechei a coordenação, me entregaram a coordenação no final eu fechei, teve um que o Paulinho terminou, acho que foi o único aluno; é o outro foi você, não foi?... Foi você por quê? Porque não tinha quem orientasse, não havia tradição aqui dentro da Universidade, não tinha ninguém, com mestrado, não tinha ninguém com Doutorado, então essa foi a dificuldade, falta de orientação e tradição dentro da Pesquisa, agora uma coisa, interessante, porque que não tem mais curso de especialização? É uma pergunta que eu fico até um pouco revoltado. “... Com tantos mestres, porque quando a gente adotou essa política, até a criação do Prata da Casa, foi na UFMA, a idéia era a seguinte: o grande problema aqui na Educação Física, é que nós não temos mestres e doutores suficientes, então é preciso criar essa elite, para que possa desenvolver a Educação Física, aí se criou o Prata da Casa para fazer isso, não só com a Educação Física, mas em outras áreas; o Prata da Casa, é um projeto da Universidade Federal do Maranhão, que pega os ex-alunos brilhantes da Universidade, e os coloca em várias universidades para fazer mestrado. E aí saíram vários professores daqui, que foram fazer mestrado; Paulo fez Mestrado e Doutorado, a Silvana Moura, a Silvana, filha do Dimas, fez o mestrado aqui na Educação; hoje temos, o departamento tem vários mestres: o Zartú, está

fazendo Doutorado, só que o Departamento nunca mais fez um Curso de Especialização. Eu pensei que hoje, com esse Corpo Docente, o departamento teria obrigação de tr, no mínimo, dois cursos de especialização permanentes, um na área de esporte, outro na área escolar; deveria ter além desses dois cursos, e permanentes, deveria ter uma revista, deveria ter pelo menos um Congresso ou Simpósio Estadual, e o departamento não faz absolutamente nada disso; é uma pergunta que a gente deve fazer a essas pessoas, porque essas pessoas, hoje estão à frente desses departamentos, como o Paulo foi chefe do departamento, porque, que o departamento não faz isso?" (ZIMBRES, Sidney. Entrevistas).

Dimas e Sidney referem-se, ainda, a um curso de especialização - o primeiro - em que participaram professores do Maranhão: "Agora, o primeiro curso para docente, que nosso Departamento fez, foi em Manaus; esse curso foi dado para toda a Região, do Centro-Sul e Norte-Nordeste; foi feito um no sul, e outro no norte; então fomos daqui eu, Moacir [Moraes da Silva, professor de Atletismo], Isidoro [Cruz Neto, professor de Voleibol], Cecília [Moreira, coordenadora do Curso de Educação Física, professora de Ginástica], Rinaldi Maia [professor de Futebol]... nós fomos os primeiros que fizemos o curso a nível de Especialização, em Didática da Educação Física; esse curso nós fizemos em dois módulos, então fomos nós os primeiros, deve ter sido em 82, 83 - depois eu posso te dar esta data. Depois disso é que os outros começaram a fazer, começaram a sair para fazer mestrado, que você já falou, que a maioria deles só ia [Laércio Elias Pereira, em 82 fazer mestrado em Educação Física; em 83, foi Lino Castellani Filho, que levou 6 anos para terminar o mestrado na PUC] ... se ele não foi, não apresentou monografia, nem Demóstenes [Mantovani], mas a partir daí os que têm ido tem cumprido...". (DIMAS, entrevistas).

Sidney lembra das condições em que foram para Manaus, fazer a especialização, e a convivência com os colegas, especialmente Rinaldi Maia, à época, chefe do departamento: "... quando nós fizemos esse curso de especialização em Manaus, nós ficamos juntos, nós alugamos um apartamento, o pessoal do Maranhão alugou um apartamento com exceção da Cecília e o Dimas que ficaram morando no... a Cecília ficou num Hotel, e o Dimas no apartamento de um amigo; eu, Isidoro, Moacir mais um pessoal de Goiás, ficamos num apartamento juntos, durante algum tempo, o professor Rinaldi Maia, foi quando o conheci bastante, a gente conviveu durante dois meses morando juntos, uma pessoa muito integra, uma pessoa muito séria, talvez o infarto dele tenha sido por causa disso, por que ele era uma pessoa muito integra, e não aceitava uma série de coisas. É professor de futebol, foi a experiência que eu tive dele, sempre jogava Basquete na Escola, Eu já peguei o Rinaldi já com uma idade bastante já, na época eu tinha 28, ele já devia ter uns 55, 60 anos, não me lembro." (ZIMBRES, Sidney. Entrevistas).

A Produção Intelectual

Uma das coisas que chama muita atenção, na Universidade Federal do Maranhão, é a produção intelectual de seu corpo docente. Há uns anos atrás - 1995 - quando se fez a III Jornada de Iniciação Científica da Educação Física da UFMA, em que se tratou sobre a produção intelectual da Educação Física no Maranhão, o que se notou, foi que não havia produção nenhuma, ninguém escrevia, ninguém fazia pesquisa. Encontrouse apenas uma pesquisa do Sidney Zimbres; outra de Tânia Biguá quando ela não tinha saído da Universidade ainda, sobre menarca de atleta; o Isidoro Cruz Neto, com a eterna pesquisa dele sobre o negro no esporte; Demósthenes Mantovani sobre avaliação física.

Lembro que em 1980 foi realizada a I Conferência sobre Documentação e Informação Esportiva na América Latina, na Colômbia. Participou, representando a SEDEL, o Prof. Laércio Elias Pereira, então professor da UFMA. A segunda Conferência seria realizada em 1982, em São Luís do Maranhão. Mas o que apresentar ? Qual era nossa produção científica ? A SEDEL, com sua Divisão de Estudos e Pesquisa não estudava nada e não pesquisava nada, embora contasse com um quadro de funcionários lotados; a UFMA estava ainda se debatendo com a formação de seu quadro de professores. Partiu-se então, para produzir alguns trabalhos que pudessem ser apresentados naquele evento. Surgiu, então, na área da documentação, o "Índice da Revista Brasileira de Educação Física e Desportos", do Prof. Laércio Pereira, publicado pelo MEC em 1983; o "Índice da Revista Stadium", dos Prof. Leopoldo G. D. Vaz e Laércio Pereira, publicado pela SEDEL, em microficha, em 1984; o Prof. Sidney Zimbres iniciou uma pesquisa sobre aptidão física de jogadores de voleibol; a Profa. Tânia Araújo, sobre menarca de atletas; o prof. Demóstenes, sobre aptidão física; o Vicente Calderoni - era acadêmico à época, começa a resgatar a história do Handebol maranhense. Também em 1980 apareceu a "Revista Desportos & Lazer", editada pela SEDEL, tendo o Prof. Sebastião Jorge como Editor-Chefe e o Laércio Pereira como responsável - ambos professores da UFMA. Durou nove números, apenas (foi publicada até 1983), mas teve uma boa repercussão a nível nacional, com inúmeros trabalhos de pesquisa divulgados. O primeiro trabalho de pesquisa publicado foi o do Prof. Sidney Zimbres; apareceu o no. 2, janeiro/março de 1981, p. 20-23 - "Futuros campeões do voleibol passam pela análise científica". Ainda em 1980 foi realizado em São Luís o Congresso Brasileiro de Ciências do Esporte - Região Norte/Nordeste, no período de 10 a 13 de setembro; trabalhos de pesquisa foram apresentados: Isidoro Cruz Neto (Ascensão social do negro através do desporto); Lino Castellani Filho (Análise dos aspectos do desenvolvimento política/desporto, face aos XXII Jogos Olímpicos); Demóstenes Mantovani (Prescrição de treinamento aeróbio levando em consideração somente a distância percorrida); Sidney Zimbres (Voleibol infanto-juvenil do Maranhão: características das qualidades físicas, dados antropométricos e aspectos gerais). Pode-se estabelecer como o ano de 1980 como o do início das atividades de pesquisa científica no âmbito da UFMA, da SEDEL e da então Escola Técnica Federal do Maranhão, hoje CEFET-MA." 35

Sidney Zimbres também concorda com essa data, quando perguntado porque a Divisão de Estudos dos Desportos, da SEDEL, não funcionou, haja vista que ele, Sidney, foi o primeiro coordenador e já atuava na UFMA:

"Olha, por um motivo simples: a Educação Física na época, não tinha... nós professores de Educação Física, não tínhamos tradição em pesquisa, isso era uma coisa nova, porque eu não defendi minha tese de mestrado? Porque quando eu entrei no mestrado em 81/82 – as primeiras turmas do mestrado, a primeira turma entrou em 80, a turma do Laércio, parece que foi em 80/81, eu entrei em 82 -, então as primeiras turmas, nos cinco/seis anos, isso tem até um trabalho, numa revista do CBCE, quase 70; 80% de quem fez o mestrado ninguém defendeu tese, porque não havia tradição de pesquisa dentro da área de Educação Física. “O mestrado era novo, professores de fora, de outros países, não havia orientação; nós tínhamos dificuldades para realizar, então não havia tradição em pesquisa, a pesquisa era feita, era muito ligada à questão biológica, menarca da criança, estudos de qualidade física; foi a época da criação dos Laboratórios de Fisiologia, então era uma coisa assim, não havia essa tradição de pesquisa, “Mas trabalhos de pesquisa na divisão, foram feitos trabalhos de pesquisa, eu fiz um trabalho, foi até publicado naquela revista, você até divulgou, houve um trabalho interessante que não foi

35 VAZ, Leopoldo Gil Dulcio. Produção do Conhecimento em Educação Física e Desportos no Nordeste Brasileiro. In REVISTA MOVIMENTO HUMANO & SOCIEDADE, São Luís, v. 2, n. 5 ...ANAIS DA III JORNADA DE INCIAÇÃO CIENTÍFICA DA UFMA, São Luís, 05 a 08 de dezembro de 1995. São Luís : NEPAS, 1995, p. 14-21

levado ao final, porque eu acabei saindo da divisão, ficou para outra pessoa, que ficou na divisão, mas não tocou isso em frente, foi um trabalho, um levantamento dos dados antropométricos, feitos pelo Osmar Rio, da UNB, de Brasília; ele tinha um trabalho que fazia sobre a caracterização, tipo do atleta em relação ao esporte (o entrevistador interrompe e lembrando sobre o JEM’s e o JEB’s) se pegou a seleção, houve um trabalho enorme todo tabulado todo em cima do, foi feito pelo Osmar Rio, só que não foi levado ao fim, foi quando eu acabei saindo da divisão, ficou esse trabalho, ficaram esses dados na divisão, quem entrou depois na divisão eu acho até que foi até.... [Tânia]. Acho que deve ter sido ela. [Demóstenes fez outro sobre] Condicionamento Físico; e não havia tradição como tem hoje, esse é o grande problema da Educação Física, foi esse." (ZIMBRES, Sidney. Entrevistas).

Perguntado, se chegou a escrever alguma coisa, produzir alguma coisa, Dimas respondeu: "Não, eu participei de uma banca, foi a respeito de recreação; mas eu não apresentei como trabalho de pesquisa, apresentei como trabalho pelo lado da experiência, que por sinal foi muito bem aceito, a professora que veio na época, eu não me lembro o nome dela, ela gostou das minhas colocações; esse - eu já tinha feito três ou quatro cursos de recreação conforme eu te disse, naquela época eu fiz cinco cursos nacionais de Ginástica Olímpica; fiz quatro na área de recreação; fiz dirigente esportivo; fiz a primeira vez que Kennet Cooper veio no Brasil, sobre o método dele, e sobre condicionamento físico em geral; fiz sobre handebol; "com esse embasamento todo que eu adquiri e à proporção que eu fui me dedicando também para recreação, porque ultimamente eu fui deixando os esportes de competição e fui me concentrando... eu ainda fui professor de Ginástica Olímpica na Universidade, as primeiras turmas eu era professor, depois, quando eu saio, passei para Silvana, que ela tinha sido minha atleta e monitora, e não tinha outra pessoa, até chegar o Molusco [José de Ribamar ?] que foi meu atleta e tem até especialização em Ginástica Olímpica, então ele é que é atualmente. "Recreação é que se tornou sendo a minha disciplina predileta no final da minha carreira... eu me aposentei em..., eu estou péssimo agora para datas viu, mas você sabe que existe uma coisa impressionante, a memória recente e a memória primitiva, as coisas da minha infância eu me lembro muito melhor que as coisas mais recentes, então essas ultimas datas assim, eu estou com uma deficiência muito grande de precisar as datas, eu me lembro de todos os fatos, mais até ano que eu me aposentei...". (DIMAS, entrevistas).