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CONFEDERAÇÕES ABOLICIONISTAS NO MARANHÃO NA SEGUNDA METADE DO SÉC. XIX (1870-1888)

WELLINGTON BARBOSA DOS SANTOS

Trabalho monográfico apresentado ao Curso de História da Universidade Estadual do Maranhão, como requisito para obtenção do grau de licenciado em História. Orientador: Prof. Ms. Yuri Michael Pereira Costa - São Luís 2008

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Nascido em Codó, Francisco Antonio Brandão Junior formou-se em Ciências Naturais na Universidade de Bruxelas, onde publicou, em março de 1865, “A escravatura no Brasil”, além de um artigo sobre a agricultura e a colonização no Maranhão. Em sua obra, o referido autor faz severas críticas ao Brasil por ainda manter “vergonhosamente” a instituição escravista. Contudo, mostrou-se desfavorável a qualquer iniciativa repentina de libertação dos escravos, o que certamente arruinaria a aristocracia, além de atentar contra o tão propalado direito de propriedade.

Brandão Júnior apresenta um projeto para a superação do “problema” de maneira gradual, visando diminuir os danos tanto aos escravos quanto aos senhores. O primeiro passo seria libertar os cativos, mas não totalmente, ligando-os ainda à terra onde trabalhavam.

Em seguida, deveria ser pago um salário, ao agora “servo da gleba”, proporcional a seu trabalho, até que o mesmo pudesse acumular o suficiente para pagar por sua alforria.

Sabendo o cativo que o ordenado recebido seria convertido em prol de sua libertação, trabalhariam eles mais, aumentando seu pecúlio e, consequentemente, a produção, o que seria bom para o escravo e para seu senhor.

Visivelmente moderado, mesmo assim o projeto de Brandão Junior teve repercussão extremamente negativa no meio aristocrático, como podemos observar, em carta de sua irmão.

Lamento assim como meus pais, que o primeiro trabalho que publicaste, tenha tido por objetivo granjear-te grande número de inimigos logo no inicio de tua carreira, e que os enormes sacrifícios feitos por nosso Pai para a tua educação, queiras pagá-los com a ruína da fortuna dele, lançando à miséria a sua família. Que satisfação seria a nossa ver-te estudar para te tornares depois o apoio de nossa família e dar-nos o prazer de ver nosso Pai fazer brilhante figura no país: mas com a leitura de teu trabalho, todas essas belas esperanças se esboroaram , e hoje não vemos em ti mais do que um homem que, achando-se na situação de viver à custa dos deus estudos, nem ao menos olha para a família e atira-a à miséria, contanto que o seu nome apareça como reformador do Brasil!!!... Não podias escolher mais detestável assunto – está é a opinião até mesmo de teus amigos. Havia tantas coisas belas que podiam servir-te de motivo para exibir os teus talentos: mas, tal é a nossa desgraça, havias de escolher o que havia de pior pra escrever e hoje és tido como um louco, um utopista! – Sinto, o mais possível, a celeuma que aqui se levanta contra ti: teu trabalho foi condenado por todo mundo e deves lembrar-te de teu Pai, de tua Mãe e de tuas irmãs, que perderão a mais bela porção de sua fortuna, e não deves ser um ingrato e egoísta, porquanto podes viver do teu trabalho, enquanto nós não o podemos senão através dos nossos escravos, e se eu viesse a perder a minha fortuna, diria: Meu irmão lançoume à miséria. (apud LINS LINS, Ivan. História do Positivismo no Brasil. 2ª. edição. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1967.

Diogoguagliardoneves

O palacete, dos mais bonitos da cidade, entrou para sua história como o local do “Crime da Baronesa”, onde Ana Rosa Viana Ribeiro, esposa do chefe político Carlos Fernando Ribeiro, futuro barão de Grajaú, matou uma criança escravizada de nome Inocêncio.

A edificação, à semelhança do chamado “Palácio Cristo Rei”, na praça Gonçalves Dias, possuía um vasto e monumental jardim, talvez mesmo o maior de São Luís, tomando todo um canto de quadra, entre as ruas de São João e do Sol.

Essa verdadeira praça privada era guarnecida por uma grande estátua de louça ao centro, proveniente das oficinas de artesanato do Porto, vielas de cascalho e muitas plantas, nativas e exóticas (imagem 01).

Povoadodepalmeirinhas esamambaias,eralugardecontemplaçãodosmoradores,comonoregistrodeEmília de Lima Furtado, irmã de Lúdce Furtado Neves, esposa de Euclides Mathias de Souza Neves, filho dos proprietários (imagem 02).

Os proprietários do palacete, Manuel Mathias das Neves Filho e sua esposa, Celeste de Souza Neves, ali recebiam amigos, como no caso do registro fotográfico em que ela (à esquerda) está com uma amiga. A parede de vãos tampados, tem a rua de São João por fundo (imagem 03).

O jardim foi barbaramente demolido nos anos 1990, quando de uma reforma de gosto duvidoso que arrancou o piso de ladrilho hidráulico externo, demoliu colunas e apagou as trilhas. A ideia do governo do Maranhão era integrar o Museu de Arte Sacra, instalado em suas dependências, ao Museu Histórico e Artístico do Maranhão, fronteiro.

Infelizmente, o Palacete, aqui retratado no começo do século XX (imagem 04), nos dias presentes, apesar de sua alta relevância para a capital maranhense, é subutilizado como reserva técnica e biblioteca do Museu Histórico e Artístico do Maranhão, não possuindo uma destinação própria, condigna do que representa.