ALL EM REVISTA 8.1,2 - agosto 2021 - EDIÇÃO ESPECIAL DE ANIVERSÁRIO

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PREFÁCIO (ALL) DILERCY ARAGÃO ADLER Membro fundador e Presidente da Academia Ludovicense de Letras-ALL Membro do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, Cadeira Nº 01 Presidente da Sociedade de Cultura Latina do Brasil

É uma grande honra a Academia Ludovicense de Letras-ALL em parceria com o Instituto Histórico e Geográfico de Guimarães-IHGG realizarem este projeto de publicação, num único exemplar, de duas obras de Maria Firmina dos Reis, Cantos à Beira Mar e Gupeva. Cantos à Beira Mar teve apenas duas edições anteriores: a original, em 1871, e a 2ª Edição, Impressão FacSimilar publicada por José Nascimento Morais Filho, em 1976. O Gupeva conta com três publicações em jornais literários: em 1861, O Jardim dos Maranhense, inicia a publicação do conto indianista Gupeva, dividido em quatro capítulos; em 1863, nova edição do Gupeva pelo Jornal Porto Livre e, em 1865, o jornal literário Eco da Juventude. Mas a primeira edição em livro dá-se em 1975, no livro de Nascimento Morais Filho, intitulado: Maria Firmina: fragmentos de uma vida, no qual publica o Gupeva juntamente com outras obras da escritora. Como já foi referido, embora talvez não suficientemente, esta renomada autora maranhense, sem contar o montante da sua obra que aglutina várias vertentes da arte, não tem as suas obras literárias disponibilizadas no mercado editorial, com exceção do romance Úrsula, que já conta com seis edições em nível nacional e duas pela Academia Maranhense de Letras - AML. Com o intuito de preludiar de forma que traduza o mais próximo possível da riqueza e beleza destas obras, encantei-me de início com a Dedicatória de Maria Firmina para a sua mãe, no seu Cantos à Beira Mar: À MEMÓRIA DE MINHA VENERADA MÃE, e na primeira oração, me parece, de forma imperativa e doce, diz: Minha mãe – as minhas poesias são tuas (grifo meu). E continua... É uma lágrima que verto sobre as tuas cinzas! – acolhe-as, abençoa-as para que elas possam te merecer. [..]verti lágrimas de pungente saudade, de amargura infinda sobre a tua humilde sepultura, como havia derramado sobre o teu corpo inanimado. [...]a dor era cada vez mais funda, mais agra e cruciante – tomei a harpa, - vibrei nela um único som, - uma nota plangente, saturada de lágrima e de saudade... [...]Este som, esta nota, são meus cantos à beira-mar. Ei-los! É uma coroa de perpétuas sobre a tua campa, - e uma saudade infinda com que meu coração te segue noite, e dia - é uma lágrima sentida, que dedico à tua memória veneranda. [..] Eis pois, minha mãe, o fruto dos teus desvelos para comigo; - eis minhas poesias: - acolhe-as, abençoa-as do fundo do teu sepulcro. E ainda uma lágrima de saudade, - um gemido do coração... Guimarães, 7 de abril de 1871. Maria Firmina dos Reis. (grifos meus). Alguns podem achar um texto piegas, sentimental ao extremo; eu não comungo com essa interpretação. Traduzo nesses versos um amor profundo e adornado por muita admiração e gratidão de uma filha por sua mãe. Aí me vem a constatação de quão necessária é essa obra, porque vestida e revestida de sentimentos nobres e, nesse sentido, pouco usuais na nossa empobrecida contemporaneidade, na qual o consumismo e a necessidade de poder são exortados como condições indispensáveis de bem viver. Quem sabe assim possamos refletir acerca do quê estamos vivendo, para quê estamos vivendo e como estamos vivendo.


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