IV IPCE 2015

Page 284

Investigação, Práticas e Contextos em Educação 2015

O referencial de nível básico, como um regulador dos processos de educação e formação de adultos, encontra-se organizado em três níveis: B1, B2 e B3, distribuído por quatro áreas de competência-chave nucleares a Linguagem e Comunicação (LC); Matemática para a Vida (MV); Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) e a Cidadania e Empregabilidade (CE) - transversal às restantes. Cada uma das áreas tem estruturado os respetivos níveis: B1 (4º ano); B2 (6º ano) e B3 (9º ano), com conteúdos correspondentes a cada um dos níveis. Dentro das áreas, temos as unidades de competência – combinatórias coerentes dos elementos da competência em cada área de competência-chave, que dizem respeito aos objetivos a atingir e a cada um deles corresponderão os critérios de evidência, são os distintos modos e ações através dos quais o adulto pode indiciar o domínio da competência em questão. A área de Linguagem e Comunicação, de nível Básico, distingue quatro unidades de competência: oralidade, leitura, escrita e linguagem não-verbal, sendo que todas elas preveem competências correspondentes a cada nível, que vão amplificando a dificuldade consoante a mudança de nível. Visto que é objetivo deste artigo o tratamento que é dado à leitura, nos referenciais de formação, debruçar-nos-emos, somente, sobre a leitura, preterindo a escrita, por ser este o propósito desta investigação, não nos esquecendo, porém que as restantes unidades de competência também são importantes e essenciais para a desocultação das competências de cada adulto. Consideramos, contudo, fundamental que os processos de educação de adultos enalteçam, sobremaneira, as competências da leitura e da escrita, que em nosso entender são as basilares para a integração do indivíduo na sociedade. Sem elas, o adulto é incapaz de interpretar a realidade social que o rodeia, de conhecer as realidades ideológicas, artísticas e técnicas. Existe um Plano Nacional de Leitura regulador das obras literárias a serem alvo de análise por parte dos professores e alunos e, também, nas ações de educação e Formação de Adultos, um projeto de LER+, à semelhança do plano anterior, mas destinado a adultos que frequentem as modalidades de formação, mas, não é como veremos adiante, muito motivador para exploração de muitas das competências e poder envolver os adultos na leitura das obras, na sua análise e na sua exploração. 1.1 – A Literacia vs. Literacia da leitura na Educação de Adultos Cada vez mais, a sociedade exige aos cidadãos novas competências que respondam aos constantes desafios, tanto sociais como profissionais, ao nível de documentos escritos, área tecnológica e nas mais diversas áreas, que solicitem a articulação da escrita e da leitura. É neste contexto que emerge um novo conceito nas ciências sociais - a literacia. Segundo o PISA (OCDE, 2001: 21)2, “Literacy involves the ability of individuals to use written information to fulfill their goals, and the consequent ability of complex modern societies to use written information to function effectively” o que significa a capacidade individual de cada indivíduo, perante uma situação da sociedade moderna, em processar a informação escrita, facto que leva Pinto (2002: 98) a afirmar que “o conceito de literacia não é coincidente nos países em desenvolvimento e nos países desenvolvidos”. Se atentarmos na realidade que nos rodeia, podemos confirmar que a literacia engloba um todo, na atualização de competências, pois a ela se atribui a capacidade/competência, não só da leitura e os usos concretos da língua, na forma oral ou escrita, mas também as funções que a leitura e a escrita assumem, enquanto estrutura social (Olson, 1994). A vida dos indivíduos está perpassada por momentos de afirmação das competências literácitas, quer na utilização do computador, exploração da internet ou envio de uma mensagem por correio eletrónico; na consulta da lista telefónica ou decifração de um mapa de estradas; leitura de uma embalagem de produtos alimentares; leitura da posologia de um medicamento; realização de um depósito bancário; preenchimento de múltiplos formulários; consulta de um horário de transportes, folheto de instruções; conferência de uma lista de compras; verificação de um prazo de validade; envio de um cartão de boas festas; leitura e resposta a um anúncio de emprego; operações profissionais; leitura de legendas na televisão (Ávila, 2008). Estas atividades, aparentemente simples e básicas, para nós, poderão criar determinados entraves a adultos pouco escolarizados e com dificuldades em demonstrar o nível de literacia; revelam competências de literacia e atestam a autonomia dos indivíduos, que evidenciadas de uma forma deficitária poderão conduzir a contextos de exclusão social. De facto, a leitura não se confinou ao espaço escolar e académico, ela é hoje, uma competência essencial, para participar, interagir e fazer parte do mundo atual e, quando ela falha ou existe a incapacida-

280

2 Cf., ainda, Lurdes Dionísio, National Reading Achievement: Using PISA/PIRLS Data for Informed Discussion, janeiro 2005; Shiel, 2002:61; Ramalho, 2001 / 2002).


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.