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TRAÇADO URBANO

4. TRAÇADO URBANO

Esta planta (Figura 1) apresenta um grau alto de detalhamento. Ela indica o parcelamento do solo e deixa nítida a presença de quintais (elemento pouco demonstrado nos documentos históricos) A origem da imagem foi localizada por Jose Antônio Gonsalves Mello, destinada a Companhia das Índias Orientais e datada de 3 de abril de 1630, onde constava o seguinte trecho: “com esta vai uma planta [plaan] desta cidade [de Olinda], o melhor que o conseguiu fazer um pintor [schilder]; a do engenheiro Commersteijn ainda estar por concluir e será enviada na primeira oportunidade” o que significa que o desenho é apenas uma prévia do que estava sendo feito pelo engenheiro.

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Figura 1 -Identificação dos elementos destacados no Mapa de Olinda. Infográfico elaborado pela autora, utilazando detalhe de Johannes Vingboons, Mapa de Olinda 1665. Fonte do mapa: Nestor Goulart Reis Filho, 2000

O caso do mapa ao lado, Civitas Olinda, que ilustra o livro de Barléu (Figura 2), demostra grande similitude nos traços e na localização dos edifícios, e o mesmo ocorre com as outras plantas, com mudança em apenas alguns aspectos morfológicos. É possivel observar ruas de traçado organico com representação mais leve, localizadas nas partes internas das quadras, provavelmente correspondente as ruas de serventias, onde acontecia o trafego de escravos, despejo de dejetos, entrada de cavalos e outros trabalhos de caráter comum e ordinário.

Figura 2 - Identificação dos elementos destacados e dos principais acessos no mapa de Olinda. Infográfico elaborado pela autora, utilizando o mapa Civitas Olinda, de autor não identificado. Fonte da imagem: Gaspar Barléu, 1974.

A imagem que ilustra o livro de Nieuhof (Figura 3) se preocupa em apresentar as áreas onde aconteciam as atividades de subsistência da vila: as redes de pesca que eram feitas pelos escravos próximas ao rio, e mais para o interior é visível os sítios e áreas de cultura diversificada.

Figura 3 - Planta de Olinda usada para a indicação de acessos a edifÍcIos em destaque, com base em gravura que ilustra o livro de Joan Nieuhof, Gedenkweerdige Brasiliaense Zee - en Lant-Reise... (Amsterdã, 1682) Fonte: Joan Nieuhof, 1981. Na Figura 4, pode-se distinguir com maior facilidade as áreas representadas: a área verde escura e de maior destaque sendo a borda correspondente a natureza selvagem; a segunda área mais destacada, que se expande do rio até as proximidades da igreja amparo, corresponde ao plantio que deve suprir a vila como um todo; as terceiras delimitando cercados e possíveis quintais de quadra sem menção ao caráter doméstico.

Os lotes de maior valor se encontravam no topo dos montes e colinas, já que na época, os nobres deveriam morar no alto para maior valorização. (exemplo: arredores da igreja matriz e igreja da misericórdia).

Sobre as quadras, é visível que a tendência pela ortogonalidade é impedida pela topografia porem é ocupada em todas suas faces. Este modelo de quarteirão português se compõe a partir de três modelos, de acordo com Helder Carita:

‘’A estrutura de quarteirões e a estrutura de loteamento caracterizam igualmente as formas urbanas portuguesas, apresentando três tipos fundamentais que se desenvolvem ao longo do tempo, mas ao mesmo tempo coexistindo em várias situações. O primeiro tipo de quarteirão é o quarteirão medieval, estreito e comprido, com lotes que vão de lado a lado do quarteirão, definindo uma alternância de ruas de frente e de traseira. O segundo, mais tardio, é o quarteirão em que existem lotes dispostos costas- -com-costas virados para faces opostas do quarteirão. O terceiro tipo de quarteirão é quadrado, ou tendendo para o quadrado, e tem lotes virados para suas quatro faces; este último, permitindo uma melhor utilização do espaço urbano, surge a partir do século XVI.’’ Cf. Helder Carita (1999, p. 29)

As vias eram continuamente ocupadas em seus dois lados na maioria de sua extensão, e na parte de traz encontramos espaços vazios e quintais de grande porte. A vila era composta por 5 tipos de ruas, como demonstrado na Figura 5.

- Aqui podemos observar a interação das linhas que formam vias e como elas se relacionam com a linhas paisagísticas e topográficas.

Podendo-se notar que as ruas principais eram cumeadas em montes (linha vermelha), ou em espigões divisores de água (linha laranja). As ruas sobre talvegue funcionavam como calha para o traçado urbano, o que indica que a topografia natural foi usada também como forma de planejar o escoamento das águas pluviais. Este tipo de rua fica em sua maioria localizada nas ruas de serventia.

Figura 5 - Estudo da relação entre a topografia e descidas de águas, e o traçado urbano, elaborado pela autora. Fonte do mapa altimétrico: Prefeitura Municipal de Olinda.

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