SUBMARINO #03 - contos dos confins

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Era as ninjas chegarem que eu ia me acabar no rala-bucho. Mas fizeram jus ao adjetivo e sumiram. Bolo nos três patetas. Fazer o quê? Ficamos por lá mesmo, formando um par aqui outro acolá, e fugindo das profissionais que sempre apareciam para pegar algum desgarrado sem sorte ou sem talento. Três da matina e Marquinhos largou a ideia:

– Bora pra Morro?

– Que morro, Marquinhos? Nem se for Morro do Gato, porque Aline mora lá. Tá maluco?

– Morro de São Paulo, porra! Rumbora!

– Eu sei, mas o ferry vai tá uma fila da zorra. Esqueceu que é feriado?

– Painho voltou pra Itabuna e esqueceu aqui.

– Ói essa porra... E na hora que ele voltar?

– Niqui ele voltar, já esqueceu. Lá ele tem um monte.

Não é que não tivesse fila no ferry, mas até que tava tranquilo. O sol raiando, no primeiro que chegou conseguimos entrar. Ficamos dentro do carro mesmo com o Chicletão no toca-fitas. Marquinhos tinha trazido copo e gelo dentro do isopor. Lembrei que no ferry-boat costumava ter água de coco. o gelo.

– Vou pegar lá em cima pra misturar aqui com

– Rapaz, quem tinha de ir já foi. Vai tá melzinho na chupeta...

Subi pro bar e não tinha nada. Mas tinha um menino vendendo picolé e peguei dois de coco. Cheguei e meti um no copo de Marquinhos.

– E nionde a gente vai ficar?

– Que porra é essa?

– Vai ter pousada lá. Relaxe, Bob.

– Picolé de coco.

– Eita desgraça. E aí, Betuca, vote aí.

– Tá bêbado, sacana? Uísque com picolé?

– Se vocês forem, eu tô colado.

– Não, tô são, abestalhado. Beba a zorra com picolé mesmo para não desperdiçar.

– Fudeu. Mas vamos em seu carro, Betuca, porque você é o melhorzinho aqui.

– É niúma.

Passei em casa pra pegar uns panos de bunda. Entrei pisando fino, peguei short, camiseta, sungótica, escova e pasta de dentes e joguei tudo na sacola de Paes Mendonça. Saí mais quieto que caranguejo na toca, mas meu pai me viu.

Depois de duas horas de relógio, atracamos na Ilha. Era rumar pra Valença e de lá pegar o tó-tó-tó até Morro. Betuca de pé embaixo, a estrada cheia de curvas, o isopor e o gelo pra lá e pra cá. – Ó, seus porra, não vão tomar a garrafa inteira! Tô me fudendo aqui no volante. Lá em Valença vou derramar!

– Vai onde?

– Vou pra Morro com Marquinhos e Betuca.

Batemos no cais quase meio-dia e deu tempo de pegar o barco que já tava pra sair. Brinde com três copos. Sol da porra. O barco parou, a gente se picou e o marinheiro se esgoelou pra nos avisar:

– Vai dirigir?

– Não. Betuca não bebeu e a gente vai no carro dele.

– Ligou para Zé Luiz?

Descemos na parada de Gamboa. Corre todo mundo de volta pro barco... Alguém gritou do barco:

– Não.

– Deixa os bêbo aí!

– Resolve isso logo.

Na parada certa, ele olhou pra nós rindo:

– Deixa que eu vou falar com calma com ele.

– Agora pode saltar!

– E se te procurar de novo?

– Diga que na terça tô de volta.

Saímos do atracadouro para dar de cara com aquele portal de pedra bacana querendo nos convencer que valia a pena subir aquele ladeirão apontando pro céu.

– Tá bom. Juízo.

– Tenho muito.

Como é que três bêbados sobem uma pirambeira daquela? Lá fomos, um passo de cada vez, um puxava o outro, sentava um pouquinho, andava mais um tanto, devagar, parava, respirava, andava de novo e primeira etapa vencida. Ficamos um tempinho olhando feito bestas a vista linda de um lado e do outro. Naquela época, Morro de São Paulo ainda se mantinha como uma vila pequena e as pousadas eram lá embaixo, a partir da entrada da Primeira Praia. A gente achava a Segunda Praia longe e que a Terceira ficava a dois dias de viagem. Não existiam Quarta e Quinta Praias e, pra chegar em Boipeba, precisava passar por um portal quântico. Mas íamos ter que descer e parecia uma tarefa mais difícil que

Porra nenhuma. Se havia uma coisa que partiu junto com a aliança de noivado foi o tal do juízo. Não deu dez minutos e eles chegaram. Marquinhos mostrou duas garrafas de Ballantine’s.

– Esconda isso, mizéra! Minha mãe tá na janela!

– Bob tá muito estressado hahaha.

– Onde você arrumou isso?

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– Não é aí não! Não é aí não!

– Creiemdeuspai!


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