EV23

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estudio vertical 2023

escola da cidade eliza previatohelena ramosluiza falcãopamella bandini

1
de
Metodologia de análise quantitativa e estética de reformas Metodologia de análise quantitativa e estética
reformas
-

sumário

resumo..........................................................................................................................................4 introdução .................................................................................................................................6 contexto ......................................................................................................................................7 conceito.......................................................................................................................................10-11 imaginario..................................................................................................................................12-13 metodologia e processo...................................................................................................14-17

Kitnet 9 de Julho

apresentação............................................................................................................................18-21 demolição e construção...................................................................................................22-25 quantitativo................................................................................................................................26-33 imaginário..................................................................................................................................34-42

Apartamento Viadutos

apresentação............................................................................................................................44-47 demolição e construção...................................................................................................48-51 quantitativo...............................................................................................................................52-60 imaginário..................................................................................................................................61-65

conclusão....................................................................................................................................66 bibliografia ................................................................................................................................67

Escola da Cidade 2023 estúdio vertical - refloresta G_12 eliza ferreira helena ramos luiza falcão pamela bandini

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A regeneração como conceito e eixo, levantado pelo Estúdio Vertical, instiga o olhar crítico sobre a atuação dos profissionais de arquitetura, inclusive nos projetos de reforma. Considerando a questão proposta, o grupo buscou debater a estética buscada pelos clientes e profissionais de arquitetura e como isso está associado ao ciclo de desmonte/ remonte de materiais.

A presente publicação sugere um novo método de análise desenvolvido através de pesquisas e estudos de caso para chegar a um quantitativo de entrada, saída e permanência de materiais nas obras de reforma em São Paulo e, a partir disso, entender o imaginário que estimulou cada uma dessas demolições e construções.

4 5 resumo

Sabe-se que a construção civil é responsável por grande parte da poluição do mundo. No Brasil, ela é responsável por 51% a 70% dos resíduos sólidos (Ministério das cidades), mesmo o país estando na 4ª posição no ranking de países que mais investe em “prédios verdes” no mundo. Segundo o GBC Brasil, “Os esforços de sustentabilidade no Brasil contribuem para melhorias na saúde e bem-estar, e colocam o país na vanguarda em matéria de edificações projetadas, construídas e operadas com base nos critérios da certificação LEED, presente em 167 diferentes países.”.

Esses dados nos fizeram refletir a respeito dos resíduos da construção civil (RCC): quantidade, para onde vão, o caminho que percorrem na cidade, como são reciclados (ou não).

Falar “O início, fim e o meio” é compreender que o ciclo produtivo não tem exatamente essas etapas como imaginamos, é entender que existem infinitos tipos de início de vida um material [...] É tentar entender que o “fim” é uma ilusão propagandeada pelo sistema econômico vigente e que o verdadeiro fim para um objeto [...] reside dentro de nós e na memória que geramos deste objeto.

- Guilherme Trevizani

Foi a partir desse trecho do Trabalho de Conclusão de Curso do Guilherme Trevizani, aliado às provocações já colocadas em aula e a partir do escopo do trabalho, que começamos a caminhar para um olhar mais crítico em relação à escolha dos materiais nas obras de São Paulo.

Ainda que o pensamento tenha começado a partir de uma visão sobre a construção civil num todo, resolvemos ampliar essa escala para uma aproximação mais pessoal, observando as obras dos escritórios que temos contato e um ritmo de trabalho que já vivemos estagiando nesses lugares ou observando as pessoas ao nosso redor que trabalham neles.

Atualmente, dentro da escala de trabalho que selecionamos, existem duas principais formas de descarte de RCC na cidade de São Paulo: através de caçambas, como um serviço privado que os escritórios de arquitetura ou empreiteiras contratam, e através de ecopontos, uma iniciativa governamental que distribui lugares para onde vão os pequenos volumes e grandes objetos.

Cada tipo de resíduo deve ser classificado e descartado da forma correta, ainda que nem sempre isso aconteça.

6 7 Introdução
contexto

ciclo dos resíduos classificação dos resíduos

obra

empresas de coleta de entulhos Entrega voluntária

ecopontos

áreas de triagem de RCC (ATT) seleção, armazenamento e classificação dos materiais Ponto de Entrega Voluntária de Recicláveis (PEVs)

destinos finais de RCC área de reciclagem aterros

Classe A: Resíduos reutilizáveis ou recicláveis, como concreto, tijolos, telhas, estruturas pré-moldadas, argamassa, pedras, areias, rochas e solo de escavação em obras.

Classe B: Rejeitos recicláveis para outras destinações, como madeira, plástico, papel, papelão, vidro, drywall, metal ferroso e não ferroso e gesso.

Classe C: Resíduos que não têm sua reciclagem ou recuperação economicamente viáveis, como lã de rocha, lã de vidro, saco de cimento pós-consumo, tubos de poliuretano e massa de vidro.

Classe D: Rejeitos contaminados ou prejudiciais à saúde, como os provenientes de clínicas radiológicas, assim como os materiais que contenham amianto ou outros produtos nocivos à saúde, como solvente, textura, massa corrida, grafiato e telhas de amianto ou fibrocimento.

As caçambas (serviço privado) seriv devem ser utilizadas somente para os seguintes Resíduos de Construção Civil: RESÍDUOS

CLASSE A; RESÍDUOS CLASSE A +

CLASSE B.

Nos ecopontos (serviço público), ocorre a entrega voluntária de pequenos volumes de entulho (até 1 m³ ou 20 sacos), grandes objetos (móveis, sofás, etc.), poda de árvore, lâmpadas e resíduos recicláveis.

Criados com o objetivo de dar fim ao despejo desses tipos de itens em vias públicas, rios e terrenos baldios, que ocasiona desde problemas de saúde a enchentes, além de aumentar os gastos com a limpeza pública.

Os resíduos são sempre encaminhados a Áreas de Triagem e Transbordo de RCC (ATT), e depois vão para os seus destinos finais, que podem ser aterros ou áreas de reciclagem, dependendo da sua classificação.

8 9

Para além das questões materiais e sustentáveis, existem dois pontos que nortearam as discussões do trabalho, a ideia de superfície e a ideia de todo versus fragmento. No trabalho, entendemos os apartamentos através de suas superfícies, a partir delas, conseguimos decifrar algumas decisões projetuais, os materiais e processos que envolveram suas constituições. Seguindo essa lógica, elabora-se uma épura do desenho das plantas e elevações das paredes, como um aglomerado de todas as superfícies.

A contraposição entre o todo e o fragmento está tanto no processo sofrido pelos materiais durante os ciclos da demolição e construção, quanto na perspectiva estética. Considerando os materiais, entendemos que quando comprados e aplicados nas superfícies, eles chegam novos, separados, inteiros e encaixotados, metragens em oposição a volumes aglomerados de resíduo.. Sendo assim, existem dois volumes a serem considerados: o de entrada e o de saída, o todo (novo) e o fragmento (residual).

A associação do todo/ fragmento a dicotomia do novo/residual se expressa na perspectiva estética que acompanha muitas obras de arquitetura em apartamentos na cidade. Ainda que a estética do fragmento esteja, de alguma forma, “em alta”, com o uso de cacos de cerâmica, por exemplo, o que percebemos na grande maioria das obras é que a visão que ainda está intrínseca aos clientes e projetistas de arquitetura é a valorização do todo.

A estética fragmental é sobre suportar as imperfeições, segundo Paola Jacques Berestein, no livro “Estética da ginga”, a imagem tradicional da arquitetura sempre esteve ligada à ideia do sólido e do fixo. E mesmo que os arquitetos contemporâneos apresentem suas obras como instáveis, em pedaços, em movimentos, elas permanecem sólidas, estáveis e fixas. Muitas vezes, a ideia do fragmento está associada àquilo que é efêmero, o que nos leva a pensar em como as obras de arquitetura, que são sólidas e estáveis, com materiais novos e inteiros, têm durado menos do que se propõem a fim de alimentar

certos desejos. Seja do arquiteto, posta a predileção pela oportunidade de poder começar do zero e já naturalizado às plantas de demolição e construção. Existe uma lógica já instaurada no processo projetual formalizada através da planta demolir construir que sucede ao levantamento e essa pesquisa problematiza e busca entender um pouco mais dessa premissa. Seja os do cliente, ao associar a personalidade na construção de seu lar com o não aproveitamento das pré existências.

“tem uma coisa que são preconceitos que estamos querendo desfazer nesse sentido que é: todas as matérias que tange a sustentabilidade de materiais muitas vezes são vistas como hippie, e eu acho que não é bem por aí, é uma coisa de operar nesse processo” (...) “Uma vez que a gente entra em contato com esses assuntos isso reverbera pra sempre, por que você vai lidar com um lugar que tem uma pré existência, beleza vamos demolir, mas a partir da demolições como a gente pode contribuir de alguma/outra forma.“ - Anna Juni

Com o comentário da Anna Juni, arquiteta do escritório Vão Arquitetura, podemos perceber que existe um engajamento dos escritórios jovens de arquitetura na temática da sustentabilidade, mas ainda uma dificuldade de aplicação desse conhecimento, principalmente por questões ligadas ao imaginário estético construído pela sociedade de um modo geral.

10 11 conceito

O que é a construção estética da arquitetura no Brasil, e, mais precisamente, em São Paulo?

Esse trabalho nos condicionou a pensar sobre as razões das decisões projetuais dos profissionais e seus clientes no país hoje. A verdade é que, diante de uma realidade tão ampla, é possível encontrar todo tipo de construção estética e motivação projetual. No entanto, observando os projetos selecionados, conseguimos entender a narrativa de cada projeto e como ela se traduz nos materiais e técnicas escolhidos para execução de uma reforma.

É certo que muitas tendências atuais da arquitetura já estiveram, um dia, em um lugar de desprezo por parte das pessoas. Assim como, aquilo que já foi “moda” no passado, atualmente pode ser visto como algo ultrapassado.

O marketing, a forma como os materiais e suas aplicações são divulgados, lançados e relançados, influenciam e condicionam nosso modo de olhar e julgar a arquitetura, tornando uma

construção estética muitas vezes difícil de desconstruir.

Se olhássemos os materiais avaliando apenas a sua funcionalidade, se o valor estético da arquitetura estivesse diretamente ligada à sua utilidade, ainda estaríamos demolindo apartamentos recém reformados para dar início a uma nova reforma?

Contudo, o ideal da casa própria, fomentado entre os brasileiros e a pela concepção de lar, faz com que as pessoas direcionem aos seus apartamentos próprios diversos desejos estéticos que vem, também, de uma necessidade de criar a própria identidade nesse novo lar.

A provocação aqui é: por que a ideia de lar geralmente está associada à destruição das existências?

Acreditamos, e apontamos aqui, que o mercado de arquitetura e de produtos são os grandes responsáveis por essa concepção. A publicidade dita aquilo que está em alta ou não e, muitas vezes, isso é motivo suficiente para justificar uma demolição e uma produção enorme de resíduos.

Diante disso, elabora-se neste trabalho uma exposição de imagens, com o objetivo de avaliar a construção imagética e cultural por trás de conceitos e decisões projetuais, além de entender como essa construção estética se traduz nos materiais e técnicas, consequentemente, nos apartamentos estudados.

É importante ressaltar que, todos os apontamentos feitos nesta amostragem a respeito dos materiais e todas as questões debatidas dizem respeito não somente ao espectro do sustentável, mas também podem ser lidos a partir do ponto de vista da economia, eficiência, praticidade, entre outros. A análise proposta, pretende desenvolver um olhar crítico a respeito de decisões projetuais de reformas arquitetônicas.

12 13 imaginário

Nessa pesquisa, a metodologia do projeto e o processo caminham juntos, principalmente por ser um trajeto experimental e não linear. Por isso, pontuamos aqui os pontos metodológicos enquanto explicamos o processo para chegar até a metodologia de análise estética e quantitativa das reformas, objetivo final da pesquisa e que será apresentado ao longo do trabalho.

Para entender como analisar metodologicamente as reformas em São Paulo, tivemos duas frentes de trabalho que aconteceram simultaneamente: de pesquisa (1) e conceito (2), e de estudos de caso.

1.1 - Na pesquisa desenvolvemos melhor o entendimento a respeito do contexto e isso nos ajudou a definir critérios:

- metragem quadrada: optamos por trabalhar com apartamentos de 30m² a 60m² e de 90m² a 120m²

- reformas contemporâneas: , em prédios de diferentes épocas, atentas à variação do grau de intervenção ne-

cessário em cada uma.

- fácil acesso à documentação: foram selecionados projetos realizados por professores ou arquitetos próximos ao grupo, atuantes na cidade de São Paulo.

2.1 - Após a escolha dos projetos, nosso método de trabalho foi realizar o levantamento de documentações disponíveis na internet e realizar entrevistas com os escritórios escolhidos.

1.2 - Analisando a entrevista, conseguimos entender a visão de cada um dos escritórios, seus métodos de trabalho e informações de quantitativas e também de processo. O que fomentou a pesquisa.

1.3 - Após a análise espacial dos projetos selecionados, desenvolvemos uma planilha a respeito de cada uma das reformas estudadas, atentas as superfícies e seus revestimentos. Para entender como se deu a saída e entrada de materiais em cada um dos projetos, elaboramos uma planilha onde as

colunas descrevem as quantidades do que foi demolido e construído, as linhas se separam em agrupamentos, cada um dos planos observados em perspectiva: piso, parede, teto e outros. Sendo “outros” uma categoria voltada para bancadas, louças, metais, esquadrias, etc.

1.4 - Após a elaboração da planilha, esses elementos e quantidades foram trazidos em um catálogo ilustrado (página x), para que a leitura seja mais fácil e dinâmica, além de ajudar a construir o imaginário que será apresentado depois de compreender as quantidades.

2.2 - Voltamos aos estudos de caso para entender as superfícies que estávamos trabalhando e de que forma conseguimos trabalhar com as especificidades de cada projeto de reforma, pensando em um método que poderia ser aplicado aos nossos casos que são bem diferentes em materiais e propostas, pensando que isso levaria a um método aplicável a qualquer situação.

2.3 - Optamos por dar seguimento aos estudos de casos menores, dentro da categoria 30-60m², para conseguirmos chegar a um resultado final dentro do prazo estipulado.

1.5 - Desenvolvemos o método do pensamento em épura, planificando todos as superfícies dos apartamentos antes e depois das reformas, para que pudéssemos ter um panorama geral tanto de quantitativo de materiais que entram e saem da obra, quanto da estética escolhida para cada projeto.

1.6 - Entendemos que esse método (1.5) é uma forma de chegar à elaboração da planilha que havíamos feito anteriormente (1.4)

1.7 / 2.4 Elaboramos o estudo do imaginário de cada um dos projetos observando a questão estética ligada a cada material

14 15 metodologia e processo

saco de entulho parâmetros de medidas aplicados

caçamba de entulho

aproximadamente 0,07m³

suporta até 50kg

aproximadamente 0,11m³

suporta até 50kg

aproximadamente

16 17
50x70 60x90
4m³ 5m³
42
27
57 sacos de entulho 50x70 aproximadamente 36 sacos de entulho 60x90
71 sacos de entulho 50x70 aproximadamente 45 sacos de entulho 60x90
100 sacos de entulho 50x70
63 sacos de entulho 60x90
7m³ 3m³ aproximadamente
sacos de entulho 50x70 aproximadamente
sacos de entulho 60x90 aproximadamente
aproximadamente
aproximadamente
aproximadamente
kombi 4,8m³
69
sacos de entulho 50x70
aproximadamente 44 sacos de entulho 60x90

“A proposta de arquitetura para essa kitnet de 30m² surgiu de duas premissas principais: manter o orçamento o mais baixo possível e criar um ambiente sensual e prático -desejo influenciado pela cliente com referencia ao portfólio do escritório, principalmente o projeto do nuu.motel. Para isso, reutilizamos materiais de demolição ou optamos por aqueles com valor acessível, direcionando a pesquisa plástica para a mistura dos mesmos,aplicaçõesinusitadas, testes de luz.

Em termos de layout, mantivemos a planta original, uma vez que quebrar paredes não era um opção devido ao orçamento restrito. Os pontos de hidráulica e elétrica foram praticamente inalterados. O principal peso do orçamento foi a marcenaria, que organiza osespaçosefuncionatambém comolanternas.Umaabertura entre a sala de estar e o banheiro serve também como ambientadordeluzeespaço.”

memorialpublicadopelo escritório

18 19
Kitnet 9 de julho - Rodapé arquitetura + Ricardo
Kalil

planta demolir e construir

esc 1:100

demolir construir

metragem 30m²

projeto original 1960

projeto de reforma 2022

orçamento aproximado R$ 36.000

planta layout

esc 1:100

20 21
Kitnet 9 de julho - Rodapé arquitetura + Ricardo Kalil Kitnet 9 de julho – Rodapé arquitetura + Ricardo Kalil demolição
24 Kitnet 9 de julho – Rodapé arquitetura + Ricardo Kalil

suportado: 50kg

0,28m³ quatro sacos de entulho

contrapiso desnivelado na cozinha saco de entulho 50x70 peso máximo

contrapiso desnivelado na cozinha

26 27 construído
CLASSE A: REUTILIZÁVEIS CLASSE B: RECICLÁVEIS CLASSE C: NÃO RECICLÁVEIS CLASSE D: TÓXICOS
demolição de piso

construção de piso

argamassa 21,15kg

5 sacos de 5kg

cimento 4,23m²

cerâmica

10x10 7,12m²

cacos de cerâmica

reutilizada 5,86 m²

sinteco 2,2L

piso de taco restaurado

taco de madeira 22,4m²

28 29
CLASSE A: REUTILIZÁVEIS CLASSE B: RECICLÁVEIS CLASSE C: NÃO RECICLÁVEIS CLASSE D: TÓXICOS
piso
permanencia
CLASSE A: REUTILIZÁVEIS CLASSE B: RECICLÁVEIS CLASSE C: NÃO RECICLÁVEIS CLASSE D: TÓXICOS

demolição de paredes

saco de entulho 50x70 peso máximo suportado:

0,21m3

dois sacos de

emboço (concreto)

alvenaria (cerâmica)

emboço (concreto)

massa acrílica

tinta

emboço

alvenaria

emboço

argamassa

49,7kg

10 sacos de 5kg

tinta

73,39m²

5 latas de 3,6L

construção de paredes

tijolo de vidro 20x20

12 unidades

policarbonato

100x100

2 unidades

cerâmica

10x10

9,94m²

30 1 m
m 1 m
0,80
0,60 m
CLASSE A: REUTILIZÁVEIS CLASSE B: RECICLÁVEIS CLASSE C: NÃO RECICLÁVEIS CLASSE D: TÓXICOS
CLASSE A: REUTILIZÁVEIS CLASSE B: RECICLÁVEIS CLASSE C: NÃO RECICLÁVEIS CLASSE D: TÓXICOS

outras entradas

compensado de madeira 31,56m²

bacia cerâmica 1 unidade

cuba cerâmica 1 unidade

cuba inox 1 unidade

chapa de alumínio 1,74m²

metal 1 unidade outras entradas

metal 1 unidade

plástico

mármore 1,74m²

eletroduto galvanizado 10 mL

box de vidro 1 unidade

32 CLASSE A: REUTILIZÁVEIS CLASSE B: RECICLÁVEIS CLASSE C: NÃO RECICLÁVEIS CLASSE D: TÓXICOS
CLASSE A: REUTILIZÁVEIS CLASSE B: RECICLÁVEIS CLASSE C: NÃO RECICLÁVEIS CLASSE D: TÓXICOS

porta de madeira

2 unidades

janela de aluminio e vidro

1 unidade

porta de aluminio e vidro

2 unidades

A leitura desta e das demais obras chamou atenção para dois fatores de maior influência nas decisões projetuais que resultam na demolição: a troca de revestimentos e a integração de ambientes.

A obra da Kitnet 9 de Julho teve pouco volume demolido/construído. Isso está atrelado ao fato de que existiu uma fase de demolição que antecedeu à participação do escritório na obra, e também pelo apartamento já apresentar uma tipologia de kitnet, onde existem apenas as paredes do banheiro. Ainda assim, observamos que, mesmo não sendo necessário, aconteceu demolição em 100% das paredes internas para alcançar uma estética já exigida pela cliente, que tinha como referência o projeto do nuu motel do Rodapé Arquitetura.

“Teve muito pouco descarte de coisa (...) A gente pegou a obra começada, os contrapisos e as paredes amaciadas, eu nem sei quais eram os revestimentos originais.”

A “integração de ambien tes” aconteceu pela criação de janelas internas, materiais translúcidos e luminotécnica criando relações entre os espaços a partir de jogos de luz e sombra.

“ela queria o nuu motel dentro da kitnet dela, mas eu que propus de fazer o buraco. foi duplo.”

Devido a isso, o policarbonato foi utilizado na obra não somente no banheiro, mas também na marcenaria, aliado a fitas de LED para criar um efeito que vem ganhado bastante força na arquitetura. Esse material é visto como uma opção sustentável de fechamento, portanto ainda é uma boa alternativa.

A demolição inicial, anterior à participação da equipe de arquitetos que elaborou o projeto de reforma, não foi contabilizada. Já a metragem de revestimentos comprada, além daqueles comprados na loja do escritório RUÍNA Arquitetura, explicitou uma outra possibilidade dentro de uma dinâmica já conhecida.

34 35 outras permanencias
CLASSE A: REUTILIZÁVEIS CLASSE B: RECICLÁVEIS CLASSE C: NÃO RECICLÁVEIS CLASSE D: TÓXICOS
de
arquitetura + Ricardo Kalil
Kitnet 9
julho
Rodapé
36 37 Imaginário Kitnet 9 de julho – Rodapé arquitetura + Ricardo Kalil

“E no caso, por exemplo, com o Francisco (executor da obra da Kitnet 9 de julho), o piso da kitnet, a gente usou caco de uma outra obra que a gente estava fazendo (...) Às vezes é estar tocando mais de uma coisa juntos. E até se ele estivesse tocando obra com outro arquiteto, e se fosse um descarte, ele poderia ter usado o piso na kitnet. Ele tem um pouco, um pouco o que a Ruína (Ruína Arq) tem, o Francisco recolhe coisas e vai estocando algumas.”

“Uma moda que está voltando” os cacos de cerâmica eram muito comuns nas casas dos subúrbios brasileiros, mas hoje estão voltando à estética arquitetônica usando como referência projetos internacionais.”

Os descartes e demolições transitaram entre obras e suplementaram a compra de materiais novos. Mesmo com a adição de volume construído, a fonte e a prioridade da escolha de materiais de reuso tem efeito sobre a camada ecológica da análise.

Embora as demolições tenham sido mínimas, essa decisão se aproxima muito mais da camada investigativa que ecológica, como comentada pelos demais arquitetos entrevistados. As demolições aqui não se justificam pelo argumento da iluminação e ventilação natural, garantidas pela janela vitrô original entre banheiro e cozinha.

A decisão de criar frestas translúcidas entre esses ambientes tensiona limites da suposta privacidade dentro de um espaço mínimo, experimentando com o que é visto, não visto e o que pode ser vulto.

Depois do seu auge no final dos anos 70, os tijolos de vidro voltaram a ficar em evidência na arquitetu-

Dentre as obras analisadas e no tempo de atuação da arquiteta entrevistada, Luciana Ligeiro do Rodapé Arquitetura, esse é o primeiro caso em que essa dinâmica, onde a equipe de obra recolhe e reaproveita os descartes, se tornou um fluxo comercial alternativo para obtenção de materiais.

ra contemporânea, principalmente após o avanço da tecnologia do vidro. É um elemento construtivo muito vantajoso porque além de ser constituído por um material reciclável, ele permite a entrada de luz natural.

O projeto também não contou com demolições devido a recortes para passagem de elétrica e iluminação porque utilizou uma estética aparente, que se opõe à lógica das luzes embutidas e construções em gesso.

Por fim, questionamos a quantidade de desenhos, também mínima, e a produção de revisões. Segundo a arquiteta, o projeto se desenvolveu principalmente in loco. A opção por um acompanhamento de obras e incontáveis revisões, feitas in loco.

“Faz parte do acompanhamento a revisão de desenhos em decorrência de obra. Então eu sempre incentivo o acompanhamento, porque embutido nesse valor também estão revisões que são inevitáveis. (...) Essas coisas fazem parte e são naturais de acontecer e devem

acontecer, se não você não está considerando as pré-existências que são difíceis de encontrar a olho nu, e elas devem ser consideradas e adaptadas, na verdade, o projeto adaptado a elas.”

38 39 Imaginário
9 de julho – Rodapé arquitetura + Ricardo Kalil
Kitnet
40 41 Imaginário Kitnet 9 de julho – Rodapé arquitetura + Ricardo Kalil
42 43 Imaginário

“OEdifícioViadutos,projetado econstruídopeloarquitetoArtacho Jurado durante a décadade50,éummarcohistórico napaisagempaulistana.Asua imponente implantação em uma ilha resultante do Plano de Avenidas de Prestes Maia, demarca centralmente o eixo visual de quem transita pelo Viaduto Nove de Julho.

O apartamento em questão, no 18o andar do citado edifício, proporciona através da sua área avarandada uma vista privilegiada da área central da cidade. Demolir todas as alvenarias internas da recortada planta original foi, portanto, uma ação para que apaisagemealuznatural,enquadradas pelos caixilhos originais de madeira, pudessem adentraroespaço.

Para aumentar a sensação de amplitude dentro dos 46 m2 de área interna, a divisão entre ambientes se fez através de um mobiliário que flutua suspenso, sem tocar o piso verde que inunda todo o apartamento. O volume de

madeira em meio a planta tem dupla função, abrindo-se tanto para a sala de estar comoparaoquartodedormir: enquanto um lado é armário para livros e eletrônicos, o outroservecomoguarda-roupas. A funcionalidade da bancada de concreto também auxiliou na organização e ganho espacialpoisnelaestãoembutidos os utensílios de lavanderia, cozinha e o lavabo do banheiro, separadodestasporumespelhosuspensonabancada.

Por ser o único ambiente fechado e com pouca incidênciadeluznatural,obanheiro foi envolto por painéis de vidros translúcidos ao invés de alvenarias. O tratamento acidadogaranteaprivacidade, mas também permite a passagemfiltradadeluz,tantoda diurna que provém do quarto, como da artificial interna que o transforma a noite em uma grandelanterna.”

memorialenviadopeloescritórioaositeArchDaily

44 45
- Vão arquitetura
Apartamento Viadutos

metragem 56m²

projeto original 1956

projeto de reforma 2016

Orçamento: 80 mil

demolir construir

planta demolir e construir esc 1:100

demolir construir

1:100

planta layout esc 1:100

46 47
Apartamento Viadutos - Vão arquitetura
49 demolição Apartamento Viadutos - Vão arquitetura
Vão arquitetura demolição
Apartamento Viadutos -

demolição de piso

saco de entulho 50x70 peso máximo suportado: 50kg

0,60m³

8,6 sacos de entulho

argamassa 200kg

40 sacos de 5kg

cimento 2,4m³

taco de madeira 0,45m³

azulejo

cerâmico 0,27m³

argamassa

200kg

40 sacos de 5kg

cimento 2,4m³

resina epoxi 40,16m²

52 53
CLASSE A: REUTILIZÁVEIS CLASSE B: RECICLÁVEIS CLASSE C: NÃO RECICLÁVEIS CLASSE D: TÓXICOS
CLASSE A: REUTILIZÁVEIS CLASSE B: RECICLÁVEIS CLASSE C: NÃO RECICLÁVEIS CLASSE D: TÓXICOS
construção de piso

saco de entulho 50x70 peso máximo suportado: 50kg

6,15m3

87 sacos de

demolição de paredes

alvenaria (cerâmica) emboço (concreto)

massa acrílica

massa acrílica tinta tinta emboço (concreto)

54 55
3m 3,25m 0,325m 1,92m 2m 1,1m 1,3m 1,1m 0,87m CLASSE A: REUTILIZÁVEIS CLASSE B: RECICLÁVEIS CLASSE C: NÃO RECICLÁVEIS CLASSE D: TÓXICOS
CLASSE A: REUTILIZÁVEIS CLASSE B: RECICLÁVEIS CLASSE C: NÃO RECICLÁVEIS CLASSE D: TÓXICOS
demolição de paredes

construção de paredes

argamassa 94,45m²

18 sacos de 5kg

tinta 62,94m²

1 latas de 3,6L

vidro 9,59m²

resina impermeabilizante 7,7m²

partilha ceramica 9,48m²

bancada concreto 4,21m²

madeira MDF freijó 40m²

56 57
CLASSE A: REUTILIZÁVEIS CLASSE B: RECICLÁVEIS CLASSE C: NÃO RECICLÁVEIS CLASSE D: TÓXICOS
CLASSE A: REUTILIZÁVEIS CLASSE B: RECICLÁVEIS CLASSE C: NÃO RECICLÁVEIS CLASSE D: TÓXICOS
entradas

bacia cerâmica

1 unidade metal

3 unidade

janela vidro

+aluminio

1 unidade

150x110

porta de madeira

1 unidade

entradas

cuba inox

4 unidades plástico

chuveiro metal

1 unidade

janela vidro

+aluminio

1 unidade 120x110

janela vidro

+aluminio

1 unidade

50x110

box de vidro

1 unidade

porta de correr madeira e vidro

58 59
CLASSE A: REUTILIZÁVEIS CLASSE B: RECICLÁVEIS CLASSE C: NÃO RECICLÁVEIS CLASSE D: TÓXICOS
permanencias

bacia cerâmica

1 unidade

cuba inox

1 unidade chuveiro plastico

2 unidades

imaginário

cuba

cerâmica

1 unidade

janela vidro +aluminio

1 unidade 150x110

porta de madeira

4 unidades

metal

1 unidade

janela vidro +aluminio

1 unidade 120x110

janela vidro +aluminio

1 unidade 50x110

A partir da entrevista com o escritório Vão Arquitetura, ficou nítido o caráter experimental do projeto do Apartamento Viadutos. Foi o primeiro projeto de reforma de apartamento feito pelo escritório, e o cliente era o Gustavo Delonero, sócio do escritório que havia comprado um apartamento para morar.

“Uma coisa legal na obra é que você aprende muito, você está lá discutindo com os funcionários e depois acaba até incorporando em outros projetos, porque aquilo passa a ser ensaios de pesquisa que vão aprimorando e criando uma bagagem de pesquisa que pode ser incorporada.”

A planta do apartamento era pequena, mas com muitas divisões internas, então a decisão mais impactante e norteadora do projeto foi a demolição de das paredes, com a justificativa de integração dos ambientes e permissão da ventilação cruzada e iluminação, que são colocadas como premissas do escritório. Essa demolição, não gerou tanto resíduo por con-

ta da sua metragem quadrada, mas ainda assim representou 100% do seu volume interno construído.

“Ele já estava muito modificado, não era a planta original. As pastilhas originais já tinham sido removidas, aí teve um trabalho de achar as pessoas, que pegaram essa pastilha e refaziam com a paleta de cores do edifício. O piso já estava muito modificado, tinha um taco, mas estava todo cheio de cupim, com infiltração.”

“A planta do Artacho, desse edifício, era muito subdividida. O edifício tem um formato meio em diamante, aí ele resolve as fachadas principais e esses encontros do diamante ficam soltos, o apartamento era meio uma sobra na planta. Os outros apartamentos do edifício, maiores, são melhores de trabalhar.”

É interessante perceber que, ainda que o projeto trabalhe a maior integração dos espaços, o layout permanece exatamente o mesmo, apenas com a mudança das paredes por marcenarias.

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saidas
CLASSE A: REUTILIZÁVEIS CLASSE B: RECICLÁVEIS CLASSE C: NÃO RECICLÁVEIS CLASSE D: TÓXICOS

Apartamento

Os empreiteiros e funcionários de obra se mostram agentes determinantes do processo de ciclo e reúso de materiais, visto que eles muitas vezes são responsáveis pelo gerenciamento da obra e do despejo da demolição, assim como pelo reaproveitamento de louças, metais, revestimentos, etc.

“muita coisa que a gente tira, geralmente a gente disponibiliza para o próprio empreiteiro que está fazendo a obra. - inox, pia, chuveito, ventilador etc. Às vezes até isso entra na negociação.”

Houveram mudanças de elétrica e hidráulica, mas não houve demolição em decorrência dessas mudanças. A elétrica passou muito pelo piso, que antes era taco e eles tiraram, fizeram um novo e aproveitaram e passaram as mudanças de elétrica por baixo dele.

A bancada de concreto é uma estrutura que liga toda a hidráulica, de gás, água e elétrica também, mas é mais água (ela leva água pro chuveiro para a pia, passa por um aquecedor) ela é o

eixo estruturante de comunicação aí.

“Eu lembro de ver o epóxi uma vez na casa da Maria Luiza, uma professora da FAU que a gente trabalhava, e aí a entrada da casa é aquele chão vermelho.”

O epóxi pode ser uma boa alternativa para evitar a demolição e raspagem de pisos e paredes, mas quando ele é aplicado sobre o concreto, não tem muitos benefícios para além do efeito estético, por não ser sustentável, principalmente quando ela é a base de solvente.

Para alcançar uma estética mais atual e industrial, as paredes foram raspadas, o gesso foi retirado e houve muito trabalho de serralheria, incluindo a substituição das janelas de alumínio e vidro por outras de mesmo material, mas que acompanham referências mais contemporâneas.

“A chave é trazer, de certa forma, uma eficiência não só de qualidade espacial, mas energética, de iluminação natural, ventilação cruzada.

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Viadutos - Vão arquitetura
Vão
Apartamento Viadutos -
arquitetura

isso é o que a gente busca fazer sempre nos projetos, que essa amplitude se dê não só de uma forma estética, sendo entendida como um projeto de melhor qualificação do espaço.”

Percebemos que muitos escritórios associam aspectos de sustentabilidade à iluminação natural e ventilação cruzada, o que pode ser uma herança do pensamento modernista e de um discurso que ainda não alcançou as pautas atuais a respeito de uma arquitetura sustentável, visto que esses aspectos são, na realidade, essenciais para se fazer um bom projeto, que assegure a qualidade de vida das pessoas que nele habitam e não estão atrelados, necessariamente, a uma lógica de sustentabilidade.

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imaginário imaginário
Epoxi da casa da Maria Luiza, Barra Funda Foto: Victor Affaro

Em primeiro lugar, gostaríamos de fazer um agradecimento especial aos escritórios que se disponibilizaram a participar dessa pesquisa. Apesar de só termos usado os dados de dois apartamentos, todos os projetos que foram considerados no início do estudo de casos foram essenciais para alimentar nossa visão e entendimento a respeito dos temas abordados aqui. Portanto, gostaríamos de agradecer aos escritórios: Vão Arquitetura, Rodapé Arquitetura, Entre escalas e Ruína arquitetura, e em especial ao Gustavo Delonero, Luciana Ligeiro, Marina Canhadas e Julia Peres, pelo tempo de conversa e entrevista.

A metodologia de análise quantitativa e estética de projetos é uma forma de ler os materiais que estão sendo retirados e incluídos em um projeto de arquitetura. Esperamos que esse processo ajude os profissionais de arquitetura e escritórios a entender quais são as premissas do projeto e considerem possíveis alternativas para a demolição/construção, que envolvam um viés mais sustentável e um olhar mais sensível para as pré existências.

bibliografia

JACQUES, Paola Berenstein. Estética da ginga: a arquitetura das favelas através da obra de Hélio Oiticica. Rio de Janeiro: Casa da Palavra, 2003, 2ª edição.

RIBEIRO, Guilherme Trevizani. O início, o fim e o meio. São Paulo: 2020.

KRENAK, Ailton. Futuro ancestral. São Paulo: Companhia das letras, 2022.

https://www.gbcbrasil.org.

br/brasil-ocupa-o-4o-lugar-no-ranking-mundial-de -

-construcoes-sustentaveis -

-certificadas-pela-ferramenta-internacional-leed/

https://casavogue.globo.com/Arquitetura/ noticia/2019/11/piso-de -

-caquinhos-6-revestimentos-incriveis-com-residuos-de-azulejo-e-marmore.html

https://www.prefeitura.sp. gov.br/cidade/secretarias/ spregula/residuos_solidos/ entulho/index.php?p=4627

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estudio vertical 2023

escola da cidade eliza previatohelena ramosluiza falcãopamella bandini

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Metodologia de análise quantitativa e estética de reformas Metodologia de análise quantitativa e estética de reformas
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