Miltoncunha

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sido usada na primeira parte da narrativa para caracterizar as riquezas das posses do Rei Salomão, quando da descrição da construção do templo. Na segunda parte, tais pedras são usadas como enfeites que as amazonas usam sobre seus corpos, ao lado de flores, para receber os visitantes. A narrativa irá se embasar nas inscrições rupestres pré-históricas brasileiras, ou itacoatiaras (pedras pintadas), para afirmar que estas são provas da presença dos fenícios no Brasil. E para isso, o narrador nos leva, no início do segundo bloco narrativo, a dar um salto temporal, e a estar no “hoje, aqui e agora” (1975). Iniciando esta segunda parte da narrativa, o narrador declara que “ninguém vai negar o que ele afirma”, utilizando-se desta frase de efeito, de forte poder de coerção. Uma palavra de ordem, de convencimento para os leitores. “Em letras antigas está escrito...”, a palavra “antiga” é usada para juntar os dois blocos e trazer o Oriente para as margens do rio das amazonas, as bravas guerreiras que recebiam os fenícios e que tinham entre suas funções as defesas de suas ricas terras, a “terra de Ofir”. A narrativa associará o Rei Salomão e as amazonas através de suas capacidades de despertar a inveja e a cobiça em seus inimigos, que elas combatiam com gritos de guerra. Gritos que elas só transformavam em gritos de amor uma única vez por ano, o que pressupõe uma imagem de “histeria” desta tribo de mulheres, sobretudo pelo fato de tal histeria só se aplacar quando a guerra cede lugar ao amor e ao sexo, que elas praticam com os fenícios. Como se comunicavam, não nos é informado, nem como se deu o primeiro encontro. Mas nos é dito que elas os consideram semideuses. Talvez pelo fato de falarem outra língua, se vestirem de maneira diferente, navegarem em embarcações estranhas (todas hipóteses). Mas nada disto é explicado pela narrativa. Entretanto, é bastante plausível a atribuição à Iara, deusa das águas, do envio de navegadores, afinal, os igarapés, rios e paranás são os caminhos mais utilizados pelos ribeirinhos.


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