Flaviamartinsconstant

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E eu, pensando que era um serviço de pintura, disse: “Não vou perder esse serviço.” Mas cheguei lá não era serviço de mão-de-obra. Era justamente para participar do espetáculo. Foi no Rosa de Ouro que o, até então, Nelson Mattos ganhou o apelido pelo o qual é conhecido até hoje: Quando saí do Exército... (...) Eu servi de 45 a 49 e meio. E era o Nelson, simplesmente. Mas quando eu fui para o Rosa de Ouro... Naquele tempo, antigamente, o teatro fazia uns livretozinhos com a peça, com o elenco, com a história, fotografia. Então, botaram lá: Nelson Sargento. F.C.: Foi assim? N.S.: Foi. [risos] Nelson aproveita para falar sobre sua experiência no Exército. Segundo ele conta, serviu por sua própria vontade, para fugir do controle rígido de sua mãe. Nelson, lembra, inclusive, o episódio de uma punição que recebeu, em 1948, por carregar um violão no quartel: Eu fui voluntário para o Exército. (...) Fui por vontade própria, eu não fui convocado. (...) Porque eu saí de uma prisão para uma liberdade. Eu sou do tempo em que a mamãe não dorme enquanto eu não chegar. [risos] (...) Mãe não adianta... (...) Inclusive eu tive uma punição por entrar no quartel com um violão debaixo do braço. (...) Estava em uma farra qualquer e fui para o quartel com o violão debaixo do braço. (...) O oficial do dia deu parte. Aí veio a quarta parte do boletim de justiça, que dizia: o sargento número 66, Nelson Mattos, da segunda companhia, por transpor os portões da armas sobraçando um violão fica repreendido. [risos] (...) Sobraçando um violão fica repreendido. E uma repreensão por boletim te estragava a vida, viu? (...) Você precisa de dois anos para limpar aquela repreensão. Pelo menos na época precisava, eu não sei como é que está isso daí hoje. Nelson Sargento teve sucesso em outras atividades artísticas, além do samba, como o cinema, as artes plásticas e a literatura. Ele é hoje um dos compositores da Mangueira mais requisitado pela mídia, tendo algum espaço para divulgação de seus trabalhos nesses diversos campos. Nelson atribui esse prestígio a seu êxito como compositor: Eu acho que o samba me ajudou muito, tanto no cinema, como nas artes plásticas. Sei que foi o samba. Se eu não soubesse fazer samba isso talvez não tivesse acontecido, sabe? Eu trabalhei com bons cineastas, não é? O Estevão Pantoja, Walter Salles, Cacá Diegues. 143 (...) E nas artes plásticas eu fiz esses... O Sérgio Cabral fez a minha primeira exposição em 73 na casa dele. O

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Nelson Sargento participou como ator dos filmes Perdi minha cabeça na linha do trem, Nelson Sargento no morro da Mangueira, ambos de Estevão Pantoja; Contagem regressiva, de Walter Salles Junior, e Orfeu do carnaval, de Cacá Diegues (DINIZ, 2006: 108). 110


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