Revista Shalom Maná - Abril 2013

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JMJ RIO2013| Muito obrigada, Bento XVI Shalom em Missão| Partir em missão: presença certa do cuidado de Deus

Ano 26 • nº 237 | Abril • 2013 • R$ 9,90

Cristo Ressuscitou! Aleluia!

Sim, verdadeiramente ressuscitou! Aleluia!



Virgem com o Menino (Madona do livro) Sandro Botticelli

(Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, trecho do Art. 217 – S. Luís Maria Grignion de Montfort, comemorado em 28 de abril)

“Ah! Quando chegará esse feliz tempo em que Maria Santíssima será constituída Senhora e Soberana dos corações, para os submeter plenamente ao Império do seu Grande e Único Amor, Jesus? Quando é que as almas respirarão Maria como os corpos respiram o ar?”


08 Sumário

Especial Somos gratos, Bento XVI, por suas palavras!

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A Igreja Celebra “Uma mulher como tantas outras, mas com alguma coisa a mais”

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Orando com a Palavra Se Cristo não ressuscitou, ilusória é a vossa fé

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Fé e cultura

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Acontece no Mundo

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Acontece na Comunidade

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Divirta-se

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Educar supõe o exercício da autoridade

Ele está vivo!

Shalom em Missão Partir em missão: presença certa do cuidado de Deus

22 Shalom Maná | Abril 2013

Fé e Razão

Só Família

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Testemunho Tudo é graça!

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Assunto do Mês Cristo ressuscitou! Aleluia! Sim, verdadeiramente ressuscitou! Aleluia!

Espiritualidade

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JMJ RIO2013 Muito obrigada, Bento XVI

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Especial Dá-me uma fé inquieta!

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Entrelinhas Pense nisso em seu próximo “Amém!”


Carta ao leitor 7

JMJ RIO2013| Muito obrigada, Bento XVI SHALOM EM MISSÃO| Partir em missão: presença certa do cuidado de Deus

Cristo ressuscitou! Aleluia!

C

risto ressuscitou! Exultemos de alegria com esta verdade! Ele, que morreu para nos salvar, está vivo no meio de nós, nos enche da sua graça e nos faz novas criaturas. Neste mês de abril, temos a grande alegria de meditar sobre a força da Ressurreição de Cristo na seção Assunto do Mês. O texto é de Moysés Azevedo, fundador da Comunidade Shalom, produzido a partir de sua pregação proferida durante a Páscoa de 2012. Em seu artigo, Moysés nos convida a fixar o nosso olhar no Cristo Ressuscitado, “porque Ele está vivo, Ele é o Senhor, a Sua misericórdia é eterna, a Sua misericórdia perdoa os meus pecados”. Padre Rômulo dos Anjos, na seção Espiritualidade, também nos fala do Cristo vivo, do Ressuscitado que se manifesta e se deixa tocar pela fé, “dilatando o coração para uma experiência que gera na vida daqueles que creem uma mudança radical”.

Filipe Cabral Coordenador Geral das Edições Shalom

Cristo Ressuscitou! Aleluia!

Sim, verdadeiramente ressuscitou! Aleluia!

EXPEDIENTE Fundador e moderador geral da Comunidade Católica Shalom Moysés Azevedo

Coordenação Geral das Edições Shalom Filipe Cabral

Coordenação Editorial Carolina Fernandes

Equipe de Redação José Ricardo F. Bezerra Irlanda Aguiar Carolina Fernandes

Revisão

Eunice dos Santos Sousa Silvestre

Diagramação Kelly Cristina

Gerente Comercial Eliana Gomes Lima

Assinaturas

Ângela Gonçalves

Jornalista Responsável Egídio Serpa

Impressão

Gráfica Pouchain Ramos

Serviço de Apoio ao Assinante Estrada de Aquiraz - Lagoa do Junco Aquiraz /CE CEP: 61.700-000 Para assinar ou renovar (85) 3308.7403 3308.7415 Para anunciar (85) 3308.7403 Para sugestões, dúvidas, reclamações e testemunhos, ligue-nos ou escreva-nos: shalommana@comshalom.org assinaturas1edicoes@comshalom.org www.edicoesshalom.com.br www.comshalom.org

Shalom Maná | Abril 2013

Nesta edição, despedimo-nos das mensagens de nosso querido Bento XVI divulgadas sempre na seção A Palavra do Papa. Ao nosso Papa Emérito a nossa imensa gratidão e o nosso amor. Ficaremos aguardando, em oração, pela eleição do novo Pontífice e pelas suas futuras palavras, que serão sempre registradas aqui, com muito zelo. Confira ainda nesta edição artigo sobre Santa Gianna Beretta Molla, celebrada no dia 28 de abril; texto da seção Só Família sobre educação e autoridade; veja também testemunhos de missionários; a presença da Comunidade Shalom na África; artigo da seção JMJ RIO2013 e muito mais. Que o Senhor, com a força da sua Ressurreição, transforme a nossa vida e nos faça homens e mulheres novos, capazes de evangelizar o mundo com parresia e amor. Boa leitura! Shalom!

Ano 26 • nº 237 | Abril • 2013 • R$ 9,90

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Fala leitor 6

ATUALIDADE | Maria, Santa Maria, rogai pelos jovens! ESPECIAL| Cardeal Rylko visita Comunidade Católica Shalom

Ano 26 • nº 236 | Março • 2013 • R$ 9,90

“Isto é o meu corpo que é dado por vós”

Lc 22,19

Jesus institui a Eucaristia em favor de todos

Na Shalom Maná de março, apresentamos como tema no Assunto do Mês a instituição da Eucaristia por Nosso Senhor Jesus Cristo. O texto, produzido a partir de pregação de padre Silvio Scopel, nos fala que o Esposo está conosco por meio da Eucaristia. Na seção Espiritualidade, padre Rômulo dos Anjos nos convida a refletir sobre a nossa amizade com Deus. Ainda na edição passada, apresentamos as palavras do Cardeal Stanislaw Rylco, durante a sua visita à Comunidade Shalom. Testemunho, artigos das seções A Igreja Celebra, Orando com a Palavra, JMJ Rio2013 e muitos outros fizeram parte desta edição. Veja a seguir a opinião de nossos leitores sobre estes e outros artigos. Escreva para nós você também, o nosso e-mail é: shalommana@comshalom.org.

Assunto do Mês: “Jesus institui a Eucaristia em favor de todos” A Eucaristia é o modo real com o qual Jesus permanece para sempre no seu corpo, no seu sangue, na sua alma e na sua divindade em meio aos seus fiéis para sempre. O Esposo está conosco através da Eucaristia. “Realmente, como Padre Sílvio Scopel comentou, a Eucaristia nos transforma, gera um dinamismo de ressurreição em nós. Gostei muito das reflexões sobre Judas, Pedro e João, de saber que existem dentro de nós estas realidades, de trair Jesus, de negá-lo, mas de amá-lo, e esse é o nosso drama interior, nossa realidade interior como discípulo de Cristo, e é a Eucaristia diária que gera em nós uma vida que seja realmente um sacrifício de louvor”. Meyre Fernandes Membro da Obra Shalom em Fortaleza/ CE

A Igreja Celebra: “No Ano da Fé, construindo a Igreja Doméstica com José”

Shalom Maná | Abril 2013

“José seguiu os passos de seu Filho, fazendo-se e deixando-se fazer por Ele pai e discípulo.”

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“Gostei muito do texto sobre São José. Particularmente a frase: ‘José tinha decidido obedecer sem entender e continuar obedecendo até o fim da sua vida’, tocou-me muito. Concordo plenamente que devemos retomar o costume de pedir a benção dos pais, abençoar os alimentos, etc. Vejo o quanto devo mudar na educação e formação dos meus filhos, bem como na relação com minha esposa. Que São José nos conduza e nos abençoe! São José, providenciai!

Renato Colaço Membro da Obra Shalom em Fortaleza/CE


Fé em versos

Vitória! Ricardo Vale Baumgratz

Cruz Vitoriosa Passagem para a eterna vida Qual estandarte do amor Avança gloriosa Irradiando glória e vitória Tomando espaços outrora tombados nas trevas Quebrando a muralha do ódio Cruz gloriosa Passagem do homem para a glória eterna Bendito amor que nela se oferta É Amor Ressuscitado que por ela passou Árvore bendita Árvore frondosa Suas raízes deitam no céu para sempre E na terra colhemos seus frutos Frutos de redenção Cruz e Ressurreição Dor vitoriosa Sofrimento redentor e misericórdia Redenção perene do perdido homem Homem redimido, lavado, santificado Santa Cruz Pela qual passou o Ressuscitado Bendita ressureição Pela qual passamos também para a ressurreição Páscoa Passagem da morte Para a nova vida em Cristo Vencedor, vitorioso Cheio de autoridade e poder Vence o pecado Eleva a criação Que se rejubila gloriosa Um só povo em perfeito louvor Ao Ressuscitado Pois nele para sempre viverá.

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ESPECIAl Shalom Maná | Abril 2013

Somos gratos, Bento XVI, por suas palavras!

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Ao longo dos oito anos de pontificado de Bento XVI, fomos presenteados com ensinamentos de grande sabedoria apresentados, a cada mês, na seção A Palavra do Papa. Somos gratos a você, nosso querido Bento XVI, pela riqueza espiritual e intelectual do seu magistério, por nos ensinar, com suas palavras e testemunho, a amar cada vez mais a Cristo e à Sua santa Igreja. Carolina Fernandes Jornalista e membro da Obra Shalom em Fortaleza/CE


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o dia 11 de fevereiro de 2013, fiéis católicos do mundo inteiro foram surpreendidos com o pedido de renúncia de Bento XVI ao seu ministério como Bispo de Roma. O anúncio da decisão foi feito pelo Santo Padre em discurso pronunciado, em latim, durante consistório originalmente convocado para decidir três causas de canonização, na cidade do Vaticano. Com muita humildade e serenidade, disse Bento XVI em seu pronunciamento: “Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idôneas para exercer adequadamente o ministério petrino. Estou bem consciente de que este ministério, pela sua essência espiritual, deve ser cumprido não só com as obras e com as palavras, mas também e igualmente sofrendo e rezando. Todavia, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado”, disse Bento XVI, agradecendo, ao final, por todo amor com que os fiéis o ajudaram a desempenhar sua missão. Diante de milhares de peregrinos reunidos na Praça São Pedro, no dia 27 de fevereiro, Bento XVI, em sua última Audiência Geral, agradeceu a Deus e a todas as pessoas que, com generosidade e amor, ajudaram-no e estiveram ao seu lado na condução da “barca de Pedro”. “Queria que a minha saudação e o meu agradecimento chegassem a todos: o coração de um Papa abraça o mundo inteiro”. Segundo ele, a barca da Igreja, nesses oito anos, passou por “momentos de alegria e luz, mas também momentos não tão fáceis”, no entanto, Bento XVI afirmou: “sempre soube que, naquela barca, está o Senhor; e sempre soube que a barca da Igreja não é minha, não é nossa, mas é Dele. E o Senhor não a deixa afundar”. Ao final, Bento XVI esclareceu que continuará “a acompanhar o caminho da Igreja, através da oração e da reflexão”, assegurando ainda que será com a mesma “dedicação ao Senhor e à sua Esposa

que procurei diariamente viver até agora, e quero viver sempre”. “Um simples peregrino” No dia 28 de fevereiro, último dia de seu pontificado, o Santo Padre deixou o Vaticano às 17h (de Roma) e foi para a residência apostólica de Castel Gandolfo. Para uma multidão de fiéis ali reunida, Bento XVI, muito emocionado, afirmou sentir-se feliz pela presença e pela simpatia de todos e lembrou que, a partir das 20h, não será mais o Sumo Pontífice da Igreja Católica e sim “um simples peregrino que inicia a última etapa da sua peregrinação nesta terra”. Às 20h, conforme anunciado, após a retirada da Guarda Suíça e o fechamento das portas da residência pontifícia de Castel Gandolfo, foi concluído o pontificado de Bento XVI e iniciada a Sé Vacante. O agora Papa Emérito permanecerá na residência pontifícia durante dois meses e logo se transladará ao mosteiro Mater Ecclesiae, localizado nos jardins vaticanos, onde viverá uma vida dedicada à oração. Homenagem a Bento XVI Até o fechamento desta edição da Shalom Maná, a Igreja permanece com a Sede de Pedro vacante. Corresponde, agora, aos 115 cardeais eleitores escolher o Sumo Pontífice no conclave que deverá ser convocado pelo decano do Colégio Cardinalício, Cardeal Angelo Sodano. Neste período, toda a Igreja se une em oração pelo novo papa e continua a manifestar a sua imensa gratidão ao Romano Pontífice Emérito, Bento XVI. Seu amor e dedicação a Deus e à Igreja, seu exemplo de humildade, além do seu legado espiritual e intelectual, estarão para sempre em nossa memória e em nosso coração. A Comunidade Católica Shalom agradece a Deus pela doação de Bento XVI, pelo seu acolhimento às comunidades novas e pelo reconhecimento da Comunidade como Associação Privada Internacional de Fiéis. Como forma de demonstrar a nossa gratidão e a grande contribuição do ministério de Bento XVI para a Igreja, lançaremos uma edição especial sobre o pontificado do Papa Emérito. Confira no próximo mês a vida, a obra e o legado do papa que nos deixou uma grande lição de humildade e de coragem, por amor e obediência a Deus. www.edicoesshalom.com.br

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A igreja celebra Shalom Maná | Abril 2013

“Uma mulher como tantas outras, mas com alguma coisa a mais”

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“Uma grande piedade e uma indiscutível confiança na Providência” são algumas das virtudes de Santa Gianna Beretta Molla, cuja vida foi exemplo de doação e amor a Deus, à família e aos mais necessitados. Savânia Biondo Missionária da Comunidade Católica Shalom em Aquiraz/ CE Colaboração: Ticianne Perdigão


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ianna Beretta Molla nasceu em Magenta (Milão, Itália) no dia 4 de outubro de 1922. Desde sua primeira juventude, acolheu plenamente o dom da fé e a educação cristã recebidos de seus pais. Esta formação religiosa ensinou-lhe a considerar a vida como um dom maravilhoso de Deus, a ter confiança na Providência e a estimar a necessidade e a eficácia da oração.

Durante os anos de estudos e na Universidade, enquanto se dedicava diligentemente aos seus deveres, vinculava sua fé a um compromisso generoso de apostolado entre os jovens da Ação Católica¹ e de caridade para com os idosos e os necessitados nas Conferências de São Vicente. Laureada em medicina e cirurgia em 1949 pela Universidade de Pavia (Itália), abre seu consultório médico em Mêsero (nos arredores de Milão), em 1950. Especializa-se em pediatria na Universidade de Milão em 1952 e, entre seus clientes, demonstra especial cuidado para com as mães, as crianças, os idosos e os pobres. Enquanto exercia sua profissão de médica, considerando-a uma verdadeira missão, aumentava seu generoso compromisso para com a Ação Católica1 e dedicava-se intensivamente em ajudar as adolescentes. Vocação: matrimônio Por meio da oração pessoal, Gianna questionase sobre sua vocação, considerando-a como dom de Deus. Ela opta pela vocação matrimonial, que abraça com entusiasmo, assumindo total doação “para formar uma família realmente cristã”. Inicia seu noivado com o engenheiro Pietro Molla e prepara-se para o matrimônio com expansiva alegria. Ao Senhor tudo agradece e ora. Na basílica de São Martinho, em Magenta, os noivos casam-se em 24 de setembro de 1955.

Gianna transforma-se em mulher totalmente feliz. Em novembro de 1956, já é a radiosa mãe de Pedro Luís; em dezembro de 1957, de Mariolina e, em julho de 1959, de Laura. Com simplicidade e equilíbrio, harmoniza os deveres de mãe, de esposa e de médica. “Gianna era uma mulher esplêndida, mas absolutamente normal. Era bonita, inteligente. Gostava muito de sorrir. Era uma mulher moderna, elegante. Dirigia, amava a montanha e esquiava muito bem. Amava as flores e a música. Gostava muito de viajar. Uma mulher como tantas outras, mas com alguma coisa a mais: uma grande piedade e uma indiscutível confiança na Providência. Esta confiança ela nunca a abandonou, nem mesmo nos seus últimos meses de vida”. A frase dita pelo seu esposo, Pietro Molla, descreve a simplicidade da santidade de Gianna, confirmando o que a mesma declarou: “Sempre me ensinaram que o segredo da felicidade é viver cada momento, e agradecer ao Senhor por tudo que Ele, na sua bondade, concede dia após dia. Por isso, o coração no céu e vivamos felizes”. Viver na Providência Santa Gianna levava uma vida normal: era médica, esposa e mãe de quatro filhos. Em seus papéis e funções habituais era exatamente onde se revelavam suas virtudes. Sua história demonstra que tudo é um meio para viver a vontade divina. “Viver a Providência é aceitar a vontade de Deus em nossas vidas”, dizia. Neste sentido, a grande conf iança em Deus de Santa Gianna poderá enriquecer as nossas vidas nos dando a sabedoria de unir, a cada momento, as nossas escolhas ao que é eterno: confiar em Deus. Confiar é abandonar-se a uma pessoa e não aos próprios desejos ou ao destino. Existe um projeto

“Sempre me ensinaram que o segredo da felicidade é viver cada momento, e agradecer ao Senhor por tudo que Ele, na sua bondade, concede dia após dia. Por isso, o coração no céu e vivamos felizes” (Santa Gianna Beretta)

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de Deus para cada um de nós. Muitas vezes fazemos muitos projetos, temos muitos objetivos e sonhos. Sempre teremos ocupações, mas, a pergunta a ser feita é se isso nos levará a Deus e aos outros. Santa Gianna vivia diariamente essa providência, sempre acolhendo a vontade de Deus. “A santidade é o cotidiano da vida vivida à luz de Deus”, escreveu. Com os seus pacientes, ela tinha uma maneira especial de atendê-los, ouvindo as suas dores e necessidades. Após a sua morte, foi descoberto que eles não saíam do consultório sem que seus problemas tivessem sido resolvidos. Gianna procurava emprego aos que não tinham ou doava remédios aos necessitados.

Caderno de anotações de Santa Gianna

Imolação meditada Em setembro de 1961, no final do segundo mês de gravidez, vê-se atingida pelo sofrimento e pela dor. Aparece um fibroma no útero. Antes de ser operada, embora sabendo o grave perigo de prosseguir com a gravidez, suplica ao cirurgião que salve a vida que traz em seu seio e, então, entregase à Divina Providência e à oração. Com o feliz sucesso da cirurgia, agradece intensamente a Deus a salvação da vida do filho. Ela passa os sete meses que a distanciam do parto com admirável força de espírito e com a mesma dedicação de mãe e de médica. Apenas receia que seu filho possa nascer doente e suplica a Deus que isto não aconteça. Alguns dias antes do parto, sempre com grande confiança na Providência, demonstra-se pronta a sacrificar sua vida para salvar a do filho: “Se deveis decidir entre mim e o filho, nenhuma hesitação: escolhei - e isto o exijo - a criança. Salvai-a”. Na manhã de 21 de abril de 1962, nasce Joana Manuela. Apesar dos esforços para salvar a vida de ambos, na manhã de 28 de abril, em meio a atrozes dores e após ter repetido a jaculatória “Jesus, eu te amo, eu te amo”, Gianna morre santamente. Tinha 39 anos. Seu funeral transformou-se em grande manifestação

popular de profunda comoção, de fé e de oração. A serva de Deus repousa no cemitério de Mêsero, distante 4 quilômetros de Magenta, nos arredores de Milão (Itália). “Meditata immolazione” (imolação meditada), assim Paulo VI definiu o gesto da Beata Gianna recordando, no Ângelus dominical de 23 de setembro de 1973, “uma jovem mãe da Diocese de Milão que, para dar a vida à sua filha, sacrificava, com imolação meditada, a própria”. É evidente, nas palavras do Santo Padre, a referência cristológica ao Calvário e à Eucaristia. Gianna Beretta Molla foi beatificada por João Paulo II no dia 24 de abril de 1994, no Ano Internacional da Família.

1. A Ação Católica – Associação de leigos que têm seu ponto de agregação e referência na paróquia – funde suas raízes em 1867, na Sociedade da Juventude Católica Italiana, aprovada no ano seguinte por Pio IX. Foi estabelecida com o nome e a configuração atual pelo Papa Pio XI (1922-1939). Fonte: zenit.org

Saiba mais Mais informações sobre a vida de Santa Gianna acesse www.medicaesposaemae. blogspot.com.br. O blog foi criado pela autora deste artigo, Savânia Biondo, que, durante o período em que viveu em missão na Itália, pesquisou sobre a santa.


orando com a palavra

Se Cristo não ressuscitou, ilusória é a vossa fé

José Ricardo Ferreira Bezerra Missionário da Comunidade Católica Shalom em Fortaleza/CE

Shalom Maná | Abril 2013

Desde os primeiros tempos, os cristãos, a cada páscoa, renovam sua fé proclamando com grande alegria uns para os outros: “Cristo ressuscitou, aleluia! Sim, verdadeiramente ressuscitou, aleluia!” Você realmente acredita nisso?

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niciemos pedindo o auxílio do Espírito Santo, para que esta lectio lida e meditada possa dar muitos frutos em sua vida. “Ó vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis, acendei neles o fogo do vosso amor. Enviai, Senhor, o vosso Espírito, e tudo será criado e renovareis a face da terra”. Oremos: “Ó Deus, que instruístes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas segundo o mesmo Espírito e gozemos sempre de sua consolação. Por Cristo, Senhor nosso. Amém”. O método da lectio divina consiste em quatro passos simples que, ao longo da vida da Igreja, tem tido sua utilidade comprovada. São eles: leitura, meditação, oração e contemplação. A leitura é a base. Leia devagar, sem pressa. Medite confrontando a Palavra lida com a sua vida. Em seguida, responda em oração ao que Deus lhe falou. Por fim, contemple e saboreie os mistérios manifestados. Tomemos hoje uma passagem da primeira Carta de São Paulo aos Coríntios, capítulo 15, versículos de 1 a 20 (1Cor 15,1-20) sobre a ressurreição de Jesus. Apesar de um pouco mais longo do que o normal, vale a pena ler e meditar este trecho. Portanto, leia os versículos indicados, à meia voz, exercitando os sentidos da visão e da audição. É importante que você pare neste ponto a leitura desta página, tome a sua Bíblia e siga as etapas da lectio.

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Shalom Maná | Abril 2013

Presença de Jesus São Paulo começa este trecho retomando a pregação inicial dos apóstolos, o querigma: “Transmiti-vos, em primeiro lugar, o que eu mesmo recebi: Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras. Foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras” (v.3). Note que estas afirmações foram incorporadas à profissão de fé (o Credo) da Igreja. Em seguida, ele narra algumas aparições de Jesus ressuscitado: “Apareceu a Cefas, depois aos Doze. Em seguida, apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma vez, a maioria dos quais ainda vive, enquanto alguns já adormeceram” (v.4-6). Além das aparições aos apóstolos, veja que somente nesta passagem é falado que Jesus ressuscitado se manifestou a mais de quinhentos irmãos de uma vez. Ele conclui este parágrafo dizendo que, por fim, Jesus “... apareceu também a mim como a um abortivo” (v.7b). Na verdade, mesmo tendo passado dois mil anos, Jesus continua a se manifestar aos seus discípulos. Você tem sentido sua presença? Medite sobre isso. Bons frutos Se Deus dá a mesma graça para todos, por que uns dão bons frutos e outros não? É que o resultado depende da resposta individual, de como a pessoa faz render os talentos recebidos. O apóstolo, por exemplo, trabalhou incansavelmente anunciando a Boa-Nova do Evangelho em muitos lugares. Por isso ele pôde dizer: “Mas pela graça de Deus, sou


o que sou; e sua graça em mim não foi estéril. Ao contrário, trabalhei mais do que todos eles; não eu, mas a graça de Deus que está comigo” (v.10). Claro que nem todos são chamados a serem grandes pregadores como São Paulo, mas cada um pode e deve fazer a sua parte na construção do Reino. O que você tem feito com a graça recebida de Deus? Entre os gregos, a crença na ressurreição da carne não foi fácil de ser aceita. Na célebre pregação de Paulo no areópago de Atenas, ao falar da ressurreição ele foi desprezado (cf. At 17,32). Já entre os judeus não havia unanimidade. Os fariseus acreditavam na ressurreição, mas os saduceus não (cf. At 23,8). Na comunidade de Corinto, mesmo após terem recebido o Batismo e aderido à fé cristã, alguns não aceitavam a ressurreição da carne. O apóstolo então vai mostrar que sem a ressurreição de Jesus de nada adianta a fé. Veja os argumentos: “Ora, se se prega que Cristo ressuscitou dos mortos, como podem alguns dentre vós dizer que não há ressurreição dos mortos?” (v.12). “Se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou. E se Cristo não ressuscitou, vazia é a nossa pregação, vazia também é a vossa fé” (v.14). “Acontece que somos falsas testemunhas de Deus...” (v.15). “E se Cristo não ressuscitou, ilusória é a vossa fé; ainda estais em vossos pecados” (v.17). “Se temos esperança em Cristo tão somente para esta vida, somos os mais dignos de compaixão de todos os homens” (v.19). A base de sustentação da fé cristã é a ressurreição de Jesus, que garante a ressurreição dos mortos. Se não acreditamos que Ele ressuscitou e está vivo, a nossa fé se torna vazia, vã, inútil, falsa, ilusória. Que tristeza seria! O apóstolo, porém contesta com o seu testemunho: “Mas não! Cristo ressuscitou dos

mortos, primícias dos que adormeceram” (v.20). Desde os primeiros tempos, os cristãos, a cada páscoa, renovam sua fé proclamando com grande alegria uns para os outros: “Cristo ressuscitou, aleluia! Sim, verdadeiramente ressuscitou, aleluia!” Você realmente acredita nisso? Paulo explica a seguir como a morte entrou no mundo e como Cristo já a venceu com sua morte e ressurreição. Caso você tenha tempo, continue sua lectio até o fim deste capítulo 15. Ou tome pelo menos o hino triunfal e a conclusão nos versículos 54 a 58: “Morte, onde está a tua vitória? Morte, onde está o teu aguilhão? Graças se rendam a Deus, que nos dá a vitória por nosso Senhor Jesus Cristo!” (v. 55.57) Oração Como quem canta reza duas vezes, retome alguma música ou canção que proclama a vitória de Jesus sobre a morte com a sua ressurreição. Por fim, tome o seu caderno de oração e anote algumas das graças que o Senhor o(a) fez experimentar neste dia. Se puder, escreva-nos dando o seu testemunho. É uma alegria tê-lo(a) como leitor(a). Veja os endereços no expediente da revista ou envie mensagem para este e-mail: josericardo@comshalom.org. Ó Deus, todo-poderoso, concedei que, conhecendo a ressurreição do Senhor e a graça que ela nos trouxe, ressuscitemos para uma vida nova pelo amor do vosso Espírito. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Ó Maria, concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós! Até o próximo mês! Shalom!

“A base de sustentação da fé cristã é a ressurreição de Jesus, que garante a ressurreição dos mortos. Se não acreditamos que Ele ressuscitou e está vivo, a nossa fé se torna vazia, vã, inútil, falsa, ilusória”

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só família Shalom Maná | Abril 2013

Educar supõe o e d a id r o t u a a d io íc c r e ex

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Educar vai muito além de ensinar ou instruir. É preparar para a vida, pois a educação abrange a pessoa em sua totalidade, favorecendo que nela desabroche e cresça o que ela tem de melhor. Laura Martins Missionária da Comunidade Católica Shalom em Fortaleza/CE


A

ssim como carregamos em nós as marcas do egoísmo, da vaidade, do orgulho (frutos do pecado), também trazemos as marcas daquele que nos criou à Sua imagem e semelhança, e que é a fonte de todo o bem. Proporcionar à criança, ao adolescente e ao jovem esse desabrochar e crescer para o bem é o “pano de fundo”, o alicerce onde devem crescer as virtudes e o conhecimento, servindo ao sentido mais profundo da existência – o amar a Deus e ao próximo – fonte das verdadeiras alegrias nesta vida. O ser humano tem necessidade de relacionarse, de amar e ser amado. E a necessidade dessa experiência que começa no meio familiar estendese ao âmbito escolar. Problemas de relacionamento com colegas de classe ou a má inf luência de alguns, produzem na criança e no adolescente a perda de concentração no estudo e baixo rendimento. Situações assim, se não sofrem uma intervenção positiva, podem gerar maiores problemas futuramente. Poderíamos ser tachados de alarmistas, se não fosse o fato de as estatísticas da Organização Mundial da Saúde apontarem que o suicídio é a primeira causa de morte entre os jovens de 18 a 24 anos. Infelizmente, diversos estudos em países ocidentais atestam que uma em cada cinco crianças apresenta problemas psicológicos sérios, e que um em cada seis jovens de 20 anos apresenta sintomas de embriaguez crônica. Uma boa educação é, entre outras coisas, aprender a desfrutar fazendo o bem, e a sentir desgosto fazendo o mal.

A prática das virtudes, o estímulo familiar a essa prática e a experiência afetiva do prazer de praticar o bem são um bom alicerce que, vivenciado desde a mais tenra idade, levará o jovem a uma existência cheia de significado. Sabemos, porém, que numa civilização permeada pelo consumismo, pelo hedonismo e pelo relativismo moral e religioso se torna um grande desafio para os pais e educadores o ato de educar autêntica e profundamente, uma vez que todo e qualquer ser humano respira este mesmo “ar social”. A correta autoridade A educação requer autoridade. Autoridade que não é autoritarismo feito de violência, repressão ou humilhação, e sim autoridade que gera liderança e o prestígio capaz de garantir uma ordem básica. Uma ordem que requer uma informação moral precisa sobre o que está bem e o que está mal, eliminando certos princípios relativistas que enfraquecem a norma ou a eliminam. A autoridade supõe também a transmissão sensata da obrigatoriedade de certas pautas e valores fundamentais, de certos critérios que ajudarão a construir personalidades equilibradas, capazes de agir com liberdade responsável. Chamamos de “transmissão sensata” aquela postura de educar que faz ref letir sobre os atos humanos e suas consequências; sobre a natureza humana que, às vezes, tendendo à transgressão e ao auto-prazer, necessita do estabelecimento racional de limites e regras em vista do próprio bem e do bem coletivo. Sabe-se que a autoridade deve ser primeiramente exercida e aprendida na família e que, também,

“Uma correta autoridade faz a criança e o jovem sentirem-se queridos e seguros, pois além de notarem que são importantes para alguém, são fortalecidos na adesão aos princípios essenciais a uma existência saudável do ponto de vista moral”

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“A prática das virtudes, o estímulo familiar a essa prática e a experiência afetiva do prazer de praticar o bem são um bom alicerce que, vivenciado desde a mais tenra idade, levará o jovem a uma existência cheia de significado”

nem sempre acontece. Assim como existe um pensamento débil, existe um modelo de paternidade e maternidade frágeis, que não quer arriscar-se a ser tachado demagogicamente de tirano ou repressor. Mas educar também é reprimir o que haja de indesejável numa conduta. Nestes últimos anos, muitos pais e professores se evadem dessa responsabilidade tratando seus filhos e alunos de igual para igual, como se fossem colegas ou amigos da escola, sem compreenderem que a educação não é nem deve ser uma relação entre iguais. Com os filhos, por exemplo, não se discute se é ou não necessário dar-lhes assistência médica: os pais são responsáveis por lhes dar essa assistência sem discussão. “É um erro atribuir à autoridade a possível infelicidade de um filho ou aluno. O que na verdade ocorre é o contrário”. Uma correta autoridade faz a criança e o jovem sentirem-se queridos e seguros, pois além de notarem que são importantes para alguém, são fortalecidos na adesão aos princípios essenciais a uma existência saudável do ponto de vista moral. Os especialistas em Psicologia infantil costumam explicar que os pais decepcionam a criança se a deixam fazer tudo o que quer, entre outras coisas porque essa sua equivocada tolerância irá transformar a criança num pequeno tirano antipático. A mentalidade hedonista tem gerado “adultos” que parecem obstinados em proporcionar às crianças e aos jovens uma felicidade absoluta e constante; e sobre esse erro se monta um outro ainda mais gritante: o de uma permissividade e impunidade quase completas. Qualquer preço lhes parece pequeno contanto que possam desfrutar da harmonia na família ou na escola. Mas uma harmonia conseguida à custa de todo tipo de concessões está montada sobre um barril de pólvora, pois a criança e o adolescente são por natureza insaciáveis. Texto baseado no artigo “Educação (Escolar?) para uma juventude em crise”, de José Ramón Ayllón, filósofo e professor de Ética - Universidades de Valladolid y Oviedo).

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shalom em missão

Partir em missão:

Deus, contribuir de a aç gr a m co , os m de po “Nós só o continente o nã e qu ra pa sa ro ne ge a rm de fo mundo inteiro” o as m o, ad liz ge an ev ja se o african Missionária

Vanda Santos em Madagascar/ África da Comunidade Católica Shalom

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presença certa do cuidado de Deus

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E

stou em missão em terras africanas há um ano e seis meses e com grande alegria partilho com vocês como tenho vivido aqui, em meio a esse povo que, em sua maioria, não tem uma experiência com o amor de Deus. Apesar de muitos se dizerem católicos, eles têm uma visão distorcida de Deus e do seu amor. Aqui, em Madagascar, as igrejas f icam completamente cheias aos domingos, porque muitos acreditam que se participarem da santa missa e morrerem durante a semana, serão salvos. Eles vivem a fé de forma um pouco distorcida, então, eis o nosso chamado como Comunidade

“Verdadeiramente, somente aqui, em terras longínquas, pude aprofundar a amizade com Deus, pois tendo somente Ele e em meio a tantas lutas, descobri um Deus tão presente que não paro de dizer para as pessoas: Deus existe! Você precisa acreditar, Cristo vive, é verdade!”

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Shalom: evangelizar por meio da verdade e do amor de Deus. Quando falo de Deus e das maravilhas que Ele fez e faz todos os dias em minha vida, muitas pessoas olham como se isso fosse impossível de acontecer. Fiquei muito feliz em saber que a Igreja instituiu o Ano da Fé, porque ser missionária em uma terra onde fé, esperança e confiança não fazem parte da vivência do povo é um pouco desafiante, mas vale a pena. À medida que vou tentando falar sobre a existência de um Deus que nos ama, nos escolheu, de um Deus que cuida de nós sempre, vou também reavivando a minha fé. Aqui, muitos vivem em um total desconhecimento da verdade de quem são eles e de quem é Deus. A maioria vive sem expectativa do amanhã, percebo que, apesar de ser um país que não tem guerra civil, a população vive em uma constante guerra interior. Por não acreditar no amor de Deus, acaba também desacreditando dela mesma e vive sempre uma grande insatisfação. Amar, amar e amar! Somente a vida de intimidade com Deus me faz acreditar que é possível, dia após dia, fazer com que Nosso Senhor Jesus Cristo seja conhecido, amado e seguido. Sei que é por meio da minha vida de oração e do meu testemunho que vou fazer isso. Um dia, em oração, perguntei ao Senhor o que fazer para que Ele fosse conhecido no meio de um povo tão sofrido, tão sem esperança. Logo me veio


a resposta: “AME! Somente por meio do meu amor você vai fazer com que eles tenham uma verdadeira experiência comigo”. Pronto recado dado, lição aprendida: AMAR, AMAR, AMAR, como dizia Madre Tereza de Calcutá, “amar até doer!”. Presença do Deus Vivo Vivo a cada dia envolvida numa graça sobrenatural, porque temos aqui somente DEUS, DEUS, DEUS e os irmãos. A presença de Deus é real e sempre eficaz. Nosso Senhor tem sido tão presente na minha vida, envolvendo-me com Seu amor, que a cada instante percebo o aumento da minha fé, esperança e confiança em relação a esse povo que o Senhor me confia como Shalom. Vejo o poder da ressurreição de Cristo na minha vida e, consequentemente, na vida desse povo. Verdadeiramente, somente aqui, em terras longínquas, pude aprofundar a minha amizade com Deus, pois tendo somente Ele e em meio a tantas lutas, descobri um Deus tão presente que não paro de dizer para as pessoas: “Deus existe! Você precisa acreditar, Cristo vive, é verdade!”. Aos muitos que, como Tomé, duvidam, eu mostro os Seus feitos e Sua presença de forma simples e concreta: a Eucaristia! Como aqui a falta de fé é muito grande, tenho de, com calma, criatividade e simplicidade, fazer com que as pessoas percebam e comecem a descobrir a presença de Deus nos acontecimentos de suas vidas. Diferença cultural Estar em missão em Madagascar é um grande mistério de Deus na minha vida. Apesar de me identificar com o povo, seus costumes e culturas são bastante diferentes do Brasil, por exemplo, o povo africano tem a cultura de festejar a morte e não a vida, por isso, muitos deles não sabem a data de seu aniversário. Como dizer que, apesar da morte ter sua importância, somos chamados todos os dias a louvar e agradecer a Deus por nos ter dado a vida? Entre os costumes está o de desenterrar seus entes queridos, depois de cinco anos do seu falecimento, fazendo festas de, no mínimo, cinco dias. Durante as festas, todos comem, embriagamse e dançam bastante. Costumes como esse não deixam com que eles valorizem a vida.

“Somente a vida de intimidade com Deus me faz acreditar que é possível, dia após dia, fazer com que Nosso Senhor Jesus Cristo seja conhecido, amado e seguido”

Resposta generosa, resposta de amor Estive em missão também em outra terra africana, participando de um congresso em Camarões. Lá fui renovada na fé de uma forma extraordinária! Deus me levou a outra terra africana para que eu pudesse melhor compreender e amar a minha missão. Pude ver a preocupação da Igreja em relação à evangelização nos continentes africanos e à evangelização dos jovens, de uma forma toda particular. Mais uma vez, senti a presença forte de Nosso Senhor a me dizer: “Vanda, a África, o mundo, espera a sua resposta generosa, a sua resposta de amor!”. Em Camarões, experimentei da grande alegria de ser Shalom, pois era gerada no meu coração a certeza de que o carisma tem muito a contribuir na evangelização dos nossos irmãos africanos. Tudo o que os senhores bispos falavam como necessidade para a evangelização, eu ia pensando e meditando: “Nós podemos, com a graça de Deus, contribuir de forma generosa, para que não só o continente africano seja evangelizado, mas o mundo inteiro”. Vi claramente o grito da Igreja a nos pedir socorro. Eles falaram muito na evangelização pela força do Espírito Santo e isso tem tudo a ver com a nossa forma de evangelizar. Como missionária Shalom, vivo cada momento com o meu coração em intercessão por esse povo, que necessita experimentar do amor e da presença de Deus que transforma as nossas vidas. Acredito que, a cada dia, o Senhor nos convida a partir em missão em vista de um povo! Deus nos conceda a graça de estarmos dispostos a seguir em missão para que Ele seja conhecido e amado. Na alegria de ser Shalom! www.edicoesshalom.com.br

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testemunho

Tu d o é g r a ç a ! Maria Auxiliadora (Dodora) partilha conosco sua entrada na Comunidade Católica Shalom, as fases de restauração de sua vida no amor, as missões, os irmãos, a obediência ao Amado, aprendendo pela experiência de vida que tudo é graça! Maria Auxiliadora Costa (Dodora) Missionária da Comunidade Católica Shalom em Natal/RN

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Q

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ueridos amigos, me proponho a dar este testemunho como forma de louvor e agradecimento a Deus pelas inúmeras maravilhas que Ele operou em minha vida. É tudo muito simples, porque Deus nunca se manifestou na minha vida de forma pomposa ou com grandes milagres ou feitos poderosos. Não! Sua forma de tratamento comigo sempre foi muito suave, branda, quase imperceptível. Para mim, tudo é graça. Aliás, para todos nós que cremos em Jesus, Filho de Deus feito homem, tudo é graça. Conheci a Comunidade Shalom por meio de minha mãe que, entre os anos 1991 e 1992, acolheu os primeiros missionários que chegavam a Natal. Acolheu-os e teve intensa

relação com eles até que veio a falecer em 25 de dezembro de 1996. Por dificuldades no meu casamento e no trabalho, não me aproximei logo do Shalom, mas admirava muito a Comunidade. Caminhava desde 1989 na Renovação Carismática Católica (RCC) e tinha grande sede de conhecimento de Deus. Tentava de todas as formas ter intimidade com o meu Senhor, mas não conseguia ter uma vida de oração perseverante. Sentia a necessidade de ter uma orientação mais pessoal e algo que me desse um método de vida de oração mais disciplinada. Foi quando em 1998 tomei coragem, me aproximei do Shalom e iniciei o curso de Formação Básica 1 (FB)¹. Pronto! Foi amor à primeira vista. Em 1999, já entrei no


Vocacional e em 2000 ingressei na Comunidade de Aliança. Restauração e missão Durante 10 anos o Senhor foi me formando no amor. Quanto mais eu me doava na Comunidade, mais Ele me pacificava e me amadurecia para amar mais e melhor. Quanto mais Ele me pedia, mais eu me doava. Minha família, quando entrei no Shalom, estava destroçada. Meu casamento estava desfeito e eu estava só um resto de pessoa, que tentou durante 26 anos salvar um casamento que nunca existiu. Era uma ilusão. Aí entra a obra de Deus em minha vida por meio da Vocação Shalom. Fui restaurada completamente. Eu lamento ter conhecido o Shalom somente aos 47 anos, mas Deus tem seus planos insondáveis. Depois destes 10 anos, pedi para ser enviada em missão. Minhas duas filhas já estavam com suas vidas organizadas e nada me impedia de sair, de ir em missão. Por pura bondade de Deus, misericórdia e grande amor, fui enviada para o “coração da Obra”: Diaconia Geral!² Que grande graça foi trabalhar esses dois anos na Diaconia, na Assistência Missionária, onde convivi com amigos e criei vínculo com outras pessoas maravilhosas: desde o Assistente, Pe. Karlian Vale (ele se ordenou 15 dias depois de minha chegada) e Tereza Brito, Ana Lúcia Brandão, Ana Cláudia Chagas, Gustavo Osterno, Andrea Magalhães, Evelyn, Junior Alves e Erivânia da Silva. Trabalhar e morar na Diaconia é algo indescritível, maravilhoso. Lá, existe um clima diferente. A fraternidade, a amizade, mas também as canseiras, os trabalhos, os eventos (que nunca acabam), tudo é feito em Deus, com Deus e por Deus. Bebe-se uma graça imediata que depois

“Quanto mais eu me doava na Comunidade, mais Ele me pacificava e me amadurecia para amar mais e melhor”

será difundida por todas as missões no mundo inteiro. Estar ao lado o tempo todo do fundador da Comunidade, Moysés Azevedo, e da cofundadora, Emmir Nogueira, vendo sua simplicidade de vida, são irmãos entre os irmãos, nos dá ânimo e coragem para enfrentar todas as dificuldades no trabalho e nos relacionamentos. Planos do Amado Eu não queria voltar. Estava vivendo como Comunidade de Aliança, morando em Aquiraz (CE), a 10 minutos da Diaconia, a pé. Era funcionária contratada da Diaconia para exercer a função de secretária da Assistência Missionária. Esforcei-me para cumprir com competência a minha missão (sempre gosto de rezar com o Escrito “Prof issionalização”, porque acho de uma sabedoria profunda, espelho-me nele). Mas, o Amado tinha Seus planos e por uma série de circunstâncias, me fez ver que estava na hora de voltar. Nem eu nem meus amigos queríamos que isso acontecesse, mas... é Ele quem manda e eu obedeço! Foi um sofrimento acolher este mandado, mas no momento que resolvi ter a minha vontade sintonizada com a do meu Amado, tudo se acalmou e voltei para a missão de Natal, em dezembro de 2012, feliz. Nestes dois anos de missão, Deus me deu a graça da minha Consagração Perpétua na Comunidade de Aliança. Fiz parte da primeira turma que se consagrou perpetuamente em Fortaleza, na Páscoa de 2012. Também participei bem de perto de todas as graças dos 30 anos da Comunidade, estando em todos os eventos de Fortaleza e de Roma. Bendito seja Deus pela maturidade na vocação, pela intensidade de oração que me proporcionou mergulhar mais profundamente em sua intimidade. Bendigo e louvo a Deus por toda a Diaconia Geral, todos os ambientes físicos, a adoração perpétua, todos os setores, todos os missionários que lá trabalham, sejam da Comunidade de Vida ou da Aliança, funcionários contratados ou voluntários. Todos são bênçãos de Deus uns para os outros. Shalom!!!

1. Curso de Formação Básica é um curso doutrinário, oferecido pela Comunidade Shalom, que tem seu conteúdo retirado principalmente do Catecismo da Igreja Católica e dos documentos eclesiais. 2. Diaconia é a sede do Governo Geral da Comunidade Católica Shalom localizada na cidade de Aquiraz (CE).

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assunto do mĂŞs

Cristo ressuscitou! Aleluia! Sim, verdadeiramente ressuscitou! Aleluia!

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“A força da Ressurreição de Cristo é uma força que se manifesta em todo o nosso ser. Não há nenhuma área da tua vida, da tua história, não há nenhuma realidade do teu viver que não possa ser atingida pela força da Ressurreição de Cristo.” Moysés Azevedo Fundador e moderador geral da Comunidade Católica Shalom Trecho de pregação proferida na Semana Santa de 2012. Mantido o tom coloquial.

C

r isto ressuscitou! Aleluia! Sim, verdadeiramente ressuscitou! Aleluia!”. Esta frase deveria estar ardente no nosso coração. Sem sombra de dúvida, ela tem que ser objeto do nosso conceito e da nossa consciência, mas não basta! Esta frase tem de estar forte na nossa alma, tem de estar dentro do nosso coração, tem que fazer brilhar os nossos olhos, tem que fazer exultar as nossas carnes, porque essa é a maior verdade que dá sentido à nossa, à minha, à sua vida, à vida do mundo, à existência da terra, à história dos homens e toda a criação. Este fato e esta verdade mudam tudo, muda a mim, muda a você, muda toda a história, muda a sociedade, muda os homens, muda a criação. Esta é a verdade que abala o mundo e que gerou um mundo novo, que gerou e gera criaturas novas e que fará com que o fim da história seja diferente do que como muitas vezes o mundo nos apresenta. Padre Raniero Cantalamessa, comentando o mistério da nossa redenção, recorre aos Padres da Igreja - a primeira geração que sucede aos apóstolos - que contavam uma história assim: “Imagine um estádio lotado, e um herói resolve enfrentar um poderoso, um forte tirano, que detinha sob seu poder todos os membros daquela cidade, que os escravizava, que os tinha como escravos de todas as formas, com os mais terríveis suplícios. Um herói se levanta e enfrenta este tirano. Com enorme esforço e sofrimento, ele o enfrenta e o vence. “

Uma luta corporal que traz chagas e feridas ao seu próprio corpo. Ele coloca o seu próprio corpo, coloca as suas próprias forças. Ele se deixa golpear, mas ele é mais forte do que a fortaleza desse tirano. Ele o enfrenta. Ele o vence. E você está na arquibancada desta grande batalha. Você é o escravo que vivia sob esse domínio que trazia infelicidade, desamor e amargura para a sua vida. Você não lutou, mas assistiu a luta. Você não se esforçou, não teve as feridas, mas você estava lá admirando o herói. Você se alegrava com ele, com a vitória dele. Você se alegrava tanto que exultava com a vitória dele, porque no fundo a vitória dele era sua também. Você tece uma coroa para ele e se ajoelha com alegria diante do vencedor. Você o exalta e se exalta por ele!”. E ele continua a imagem, dizendo: “Você, com certeza, com todo este ânimo e fervor, terá parte no prêmio do vencedor. Você terá experimentado o prêmio já do vencedor, mas tem mais! Imaginemos que o vencedor daquela luta não tinha nenhuma necessidade daquele prêmio que iria ganhar. Aquele prêmio que conquistou era como se não fosse para si, mas o que ele desejava não era outra coisa a não ser honrar você, o admirador da arquibancada, que não sofreu, não lutou, mas ele lutou e sofreu por você e quer honrar você. Ele não quer que a vitória seja somente dele. Ele chama você para o centro e diz: ‘A minha coroa não é minha. A minha alegria é te coroar. As feridas que eu tive, a minha alegria


“Fixaremos o nosso olhar Nele, porque Ele está vivo, Ele é o Senhor, a Sua misericórdia é eterna, a Sua misericórdia perdoa os meus pecados”

é te cicatrizar. A minha honra é te honrar. Tudo fiz por ti. A minha glória é te glorificar’. Imagine isso, o que acontece e o que deve acontecer no coração deste amigo... O prêmio para o lutador é a coroação do amigo”. E os Padres da Igreja que comentavam este assunto diziam: “Desta forma acontece com Cristo e conosco. Ele, na cruz e na ressurreição, venceu o antigo adversário e, ressuscitado, oferece-nos gratuitamente os louros, a coroa, os frutos, os benefícios, a glória da sua vitória. É o que de fato hoje nós celebramos”. São João Crisóstomo, falando sobre isso, disse: “Na luta entre o mal e o Deus, que vem nos libertar do mal e nos dar vida nova, as nossas espadas não estão sujas de sangue, não estivemos na arena, não temos lesões, nem sequer vimos a batalha, e eis que temos a vitória. Sua foi a luta, nossa, a coroa. E porque também nós vencemos, imitemos o que os soldados fazem nesse caso: com vozes de alegria exaltemos a vitória, entoemos hinos de louvor ao nosso Salvador”. A batalha que é travada na Semana Santa não é outra senão aquela que aconteceu no calvário e no sepulcro vazio: é a batalha de Cristo por nós e para nós, e hoje, neste dia, o seu corpo ferido, lesado, o seu corpo que experimentou a morte, que assumiu as nossas feridas, este mesmo corpo vencedor, vitorioso e glorioso, está vivo! Cristo está vivo! E em todos os séculos, em toda a história, a Igreja proclama como testemunha real, ocular, que experimentou com os seus olhos, com a sua fé, com a sua vida, com a sua carne, com a santidade que Ele derramou na Igreja, que experimentou com a cura das feridas dos homens no decorrer de toda a nossa 26

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história, a Igreja testemunha que Ele está vivo! Ele é vencedor! E nos concede o troféu que Ele traz. Os méritos da Sua vitória, Ele nos concede gratuitamente. Ele derrama sobre nós para curar as nossas feridas, para reanimar o nosso ânimo abatido, para iluminar os nossos olhos cegos, para fortalecer a nossa musculatura débil, para animar e fortalecer o nosso coração, para reavivar a chama da nossa fé, para nos dar a coragem, a força, para nos dar a autoridade, para termos a nossa vida santificada, para não permitirmos que nenhuma área, nenhum espaço da nossa vida não possa ser atingido pela mão gloriosa de Cristo, pelo olhar glorioso de Cristo, pelo coração traspassado de Cristo, que agora jorra luz, força, Espírito Santo, ressurreição, que atinge a nossa carne, a nossa vida, os nossos relacionamentos, as nossas famílias, as nossas fraquezas, os nossos segredos, as nossas dores e enfermidades, o nosso ser; e que nos recria, nos transforma, nos ressuscita com Ele, que nos faz participar de uma glória que não entendemos, mas a nossa carne experimenta, e aquele que crer, que acolher, que se abrir, experimentará. “Coragem! Eu venci o mundo!” Eu não estou fazendo apologia e nem fazendo poesia, muito menos um teatro. Eu estou testemunhando a verdade de Cristo, a verdade da Igreja, o que milhares e milhões de homens durante dois mil anos experimentam na sua carne, que a força da Ressurreição de Cristo mudou a vida deles. Eu estou testemunhando e fazendo da minha boca a voz de muitos e muitos santos que foram fracos como nós, débeis como nós, feridos como nós, que sofreram como nós, mas que jogaram o seu olhar, a sua fé e a sua esperança na verdade que ‘Cristo Ressuscitou! Aleluia! Sim, verdadeiramente ressuscitou! Aleluia!’ E porque Ele ressuscitou, eles também tiveram a vida de ressuscitados, foram homens novos, criaturas novas, suas histórias foram interceptadas por esta ação salvífica da Ressurreição de Cristo, e tudo se fez novo, porque Ele é o único que é capaz de fazer novas todas as coisas. E você pode dizer: “Ah, Moysés, mas a luta é árdua. Eu creio, mas muitas vezes parece que tudo fica escuro”. Você acha que na vida deles também não? Que na vida deles também não teve o deserto? Na vida de Moisés bíblico não teve o


deserto? Na vida de Abraão muitas vezes não teve momentos em que ele não sabia para onde estava indo? Na vida de Teresinha, ela não experimentou a noite espiritual? Na de São João da Cruz? Na de Santa Teresa D’Ávila, em que ela experimentou os limites das perseguições, das suas fragilidades? E de Francisco, com batalhas duras contra o demônio? Sim. Eles também lutaram, mas não lutaram com as forças deles, mas sim com os olhos fixos naquele que venceu, e aquele que venceu soube levantá-los em todas as suas quedas, aquele que venceu soube iluminar os seus olhos, aquele que venceu soube lhes dar a esperança, aquele que venceu soube lhes dizer: “Coragem! Eu venci o mundo!”. Também este que está vivo, que venceu, que fez uma legião de homens e mulheres que foram transformados pela força da graça, hoje, ressuscitado, também olha para mim e para ti e diz: “Coragem! Eu venci o mundo!”. E com Ele nós também venceremos! A força da Ressurreição de Cristo é real. Não obstante as inúmeras fragilidades da nossa humanidade, elas não são a última palavra, porque entre a fragilidade da humanidade e o fim último da nossa história tem algo, que é a Misericórdia Divina, força potente da Ressurreição de Cristo, que é capaz de nos recriar e de nos fazer de novo, de uma forma concreta, real. A força da Ressurreição de Cristo é real!

perto do fogo’. Este fogo é ao mesmo tempo calor: não uma luz fria, mas uma luz na qual vêm ao nosso encontro o calor e a bondade de Deus, que transforma o mundo e transforma a nós mesmos”. Cr isto Ressuscit ado. A Sua presença Ressuscitada. A Sua Palavra de Ressuscitado. A Sua presença nos Sacramentos. Diz São Efraim falando da Eucaristia e colocando também na boca de Jesus: ‘quem come deste pão come fogo!’ No Sacramento da Reconciliação, quem o busca com o coração reto e sincero, rasgado, aproxima-se do fogo. Na oração, com fé, quem se aproxima de Cristo se aproxima do fogo, o fogo da bondade, o fogo da potência de Deus, que é capaz de transformar você,

O fogo que transforma Na Vigília Pascal nós vimos o Círio Pascal, aquela grande vela que simboliza o Cristo e a força da Sua Ressurreição, que ilumina as trevas. O Papa Bento XVI nos diz sobre isso: “A reflexão sobre a luz da vela nos sugere, deriva do fato de a mesma ser fogo. Ora, o fogo é força que plasma o mundo, poder que transforma; e o fogo dá calor. E aqui se torna novamente visível o mistério de Cristo: Ele, a luz, é fogo; é chama que queima o mal, transformando assim o mundo e a nós mesmos”. E aí o Papa remete a uma frase que não está no Evangelho, mas que Orígenes, um escritor antigo, eclesiástico nos recorda e coloca na boca de Jesus. Ele diz: “’Quem está perto de Mim, está

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“Tende confiança, carne e sangue”

que é capaz de transformar a mim, que é capaz de transformar o mundo. Esta presença de Cristo Ressuscitado traz calor. Calor que nos aquece da frieza do nosso pecado. Nós, na nossa fraqueza, com o coração sincero e arrependido, aproximando-nos de Cristo, nos aproximamos do fogo, da verdade, que nos desnuda, mas não nos desnuda para nos pôr à vergonha, mas para nos aquecer, para curar as nossas feridas, nos desnuda para tirar toda a infecção da nossa carne, para iluminar os nossos olhos, nos desnuda para nos vestir com as vestes brancas, as suas vestes, as vestes gloriosas que poderão ser sinais fortes de transformação das nossas vidas e de testemunho de transformação deste mundo. Quem se aproxima de Cristo Ressuscitado se aproxima do fogo que cura e dá calor e vida, dá amor e bondade, e nos capacita a ser novos, novos homens, novas mulheres, novas criaturas, novos jovens. 28

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A força da Ressurreição de Cristo é uma força que se manifesta em todo o nosso ser. Não há nenhuma área da tua vida, da tua história, não há nenhuma realidade do teu viver que não possa ser atingida pela força da Ressurreição de Cristo que, penetrando, pode fazer novas todas as coisas, porque nós recitamos no Credo ‘Eu creio na Ressurreição da carne’. Na tua carne, nas tuas feridas, nas tuas dores, no teu vazio, na fonte das tuas lágrimas, na tua incapacidade, na tua dor, é aí que a força da Ressurreição de Cristo quer agir, quer operar, quer transformar e quer fazer novas todas as coisas. Você poderia se perguntar: poderá a nossa carne usufruir da vitória de Cristo? E aí vamos para mais dentro do nosso corpo, vamos para os nossos pensamentos às vezes tão fora do tempo e do espaço, o nosso coração do qual Jesus dizia que é dele que vêm todos os males dos homens, os raciocínios, as impurezas, o orgulho, os nossos desejos de grandeza, de glória e vanglória humana. A nossa afetividade ferida, carente. A nossa sexualidade que parece que se desgoverna e, quando percebemos, nos empurra aonde não queremos ir. Poderá o nosso corpo humano, poderá a nossa humanidade enfraquecida pelos vícios, poderá experimentar da força da Ressurreição de Cristo? A estas perguntas responde Tertuliano, escritor eclesiástico do século III, que diz: “Tende confiança, carne e sangue, tende confiança, carne e sangue. Graças a Cristo, adquiristes um lugar no céu e no reino de Deus”. Sim. A tua carne poderá, os teus olhos poderão, as tuas mãos poderão, o teu coração poderá, a tua mente poderá, por mais frágil e trêmula, por mais enfraquecida, pela força da Ressurreição de Cristo que é real, que está ao nosso alcance, que se coloca à nossa disposição, que nos dá a força que não temos, que nos dá a potência e o fogo que não temos, que nos dá a coragem de levantar quando não temos, que nos dá a coragem de recomeçar quando não conseguimos, que nos dá coragem para ir em frente quando a vontade é ir para trás, que nos dá a coragem de dizer sim. Eu creio, eu espero esta força que me fará ir até o fim. E se tu fixares os teus olhos Nele e em batalha com Cristo e em Cristo, aquecidos por este fogo,


unidos pela força da Sua Ressurreição, sim, a tua carne, a minha carne, o teu sangue, o meu sangue, poderão ver, contemplar, experimentar e gozar da face de Deus, e esta é uma verdade de fé, porque nós dissemos: eu creio na ressurreição da carne! Tende confiança, carne e sangue, não te desesperes, não te acomodes, não te retenhas, tende confiança, carne e sangue! Graças a Cristo, adquiristes um lugar no céu e no reino de Deus. Mas como isto se fará? A misericórdia de Deus Esta é a pergunta: como se fará isto? É a pergunta da Virgem Maria ao anjo. O que devemos fazer? É a pergunta de todos aqueles que ouvem o discurso de Pedro após a Ressurreição de Cristo, e a resposta não é outra: isto se fará por graça e misericórdia. Somos convidados a, gratuitamente, apropriar-nos da vitória de Cristo. Como? Peçamos auxílio a São Bernardo de Claraval, que diz: “Eu, o que não posso obter por mim mesmo, aproprio-me com confiança do lado aberto do Senhor, porque está cheio de misericórdia. Portanto, meu mérito é a misericórdia de Deus. E o que será da minha justiça? O Senhor recordar-me-á só da tua justiça. De fato, a Tua justiça é também a minha, porque tu és para mim justiça de Deus”. Como eu vou me apropriar da força da Ressurreição de Cristo? Como eu vou ser transformado? Indo gratuitamente pela fé e pela graça. Aproximar-me de Cristo, do Seu lado aberto e me apropriar, a palavra que o santo usa é usurpar, apropriação indébita, eu não mereço! Mas Ele me dá de graça, e eu vou na direção Dele com toda a minha alma, com todo o meu coração, com toda a minha fé e eu vou ao encontro Dele, aliás, eu me deixo atrair por Ele e me confio, me jogo e mergulho no seu coração misericordioso. Este coração misericordioso é a minha justiça. Essa misericórdia cancela o que ficou para trás, e esta mesma misericórdia é capaz de fazer o novo, de reiniciar, de recriar, de me dar a justiça que eu não tenho, de me dar a força que eu não tenho, de me dar a potência que eu não tenho e que eu preciso crer, que preciso confiar, que preciso me lançar, que preciso me apropriar indevidamente e experimentar na minha inteligência, na minha mente, nos meus pensamentos, na minha carne, nas minhas dores, no meu pecado; experimentar a força que cura, a força que salva, a força que me muda.

Essa misericórdia perdoa e transforma. Essa misericórdia que diz: “Não me interessam os pecados que você cometeu, eu os cancelo. Eles não existem mais na tua vida, agora olha para mim, se fixa em mim, porque este mesmo poder que eu tive para apagar tudo da tua vida, com esse mesmo poder eu sou capaz de gerar, de fazer criar, de fazer renovar, de fazer com que tu sejas novo, recriado, transformado. Lança-te, fixa-te, amarra-te, agarrate a mim e comigo tu ressuscitarás, e comigo tua vida nova começará, porque tudo que era velho ficou para trás, porque eis que faço novas todas as coisas. Sem mérito nenhum, mas com a tua confiança, crendo em mim, confiando em mim, agarrandose em mim, confiando na minha misericórdia e deixando que ela te mude, transforme, recrie, façate um homem, uma mulher nova”. Padre Raniero Cantalamessa diz: “Imaginemos que hoje sai uma grande notícia de um grande shopping da cidade dizendo que a loja mais cara e mais luxuosa anuncia: ‘Para todos os moradores de rua aviso, aos pobres, feridos, maltrapilhos, malcheirosos, moradores de rua. Venham até a nossa loja, nós os receberemos de braços abertos, os introduziremos na nossa sala de banho, os encheremos de perfume, um grande bálsamo. Vocês retirarão todas as suas vestes maltrapilhas e poderão andar na loja e escolherem a roupa que quiserem, não interessando o preço. Escolham, vistam e saiam. Ela é sua, de graça’. Ao terminar, ele diz: “Isso nunca acontece entre os homens, isto é história da

“Quem se aproxima de Cristo Ressuscitado se aproxima do fogo que cura e dá calor e vida, dá amor e bondade, e nos capacita a ser novos, novos homens, novas mulheres, novas criaturas, novos jovens”

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“Ele passou pelas provações da morte, das dores, Ele venceu, está vivo, e Cristo é o sinal de que com Ele não há provação, não há desafio, não há dor, não há fraqueza, não há limites que possam nos paralisar, porque Cristo ressuscitou”

carochinha”. É verdade! Isto nunca acontece entre os homens, mas o que nunca acontece entre os homens é o que pode acontecer a cada dia entre os homens e Deus, porque os homens não são capazes disso, mas Deus é. A cada dia, diante Dele, eu e você somos estes moradores de rua, sujos, maltrapilhos, talvez não por fora, mas por dentro, eu e você sabemos, fedorentos, às vezes até purulentos, e a cada dia Deus tem as portas da sua Igreja abertas, completamente abertas para nós usufruirmos da força da Sua Ressurreição com a reta, sincera e boa confissão. E lá, nessa reta, sincera e boa conf issão, você tira as suas roupas sujas, os seus pecados. Você recebe o banho da Misericórdia Divina, com o bálsamo mais puro e perfumado, que o mundo inteiro desconhece e que atrairá o olfato da humanidade, e você se levanta, e como diz o Profeta Isaías, será revestido das vestes da salvação, coberto com o manto de justiça. A única forma de nós usufruirmos desta potência da Ressurreição de Cristo é com o coração reto, sincero, nos aproximarmos Dele e pedirmos o que não conseguimos. Sabe o que a gente não consegue? Ter um coração arrependido. Os nossos arrependimentos são superficiais, mas nós podemos pedir a Deus até isso! Meu Deus, como tu és bom! Até o arrependimento que não podemos ter, Ele pode nos capacitar a ter, e se humildemente nós nos ajoelharmos diante Dele e dizermos: “Daime, Senhor, o que não tenho, um arrependimento 30

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sincero, porque peco, me arrependo, mas logo em seguida, no fundo da minha alma, parece que não pequei o suficiente e quero pecar mais; mas dai-me, Senhor, aquele arrependimento que entra no fundo da minha alma, que penetra nas minhas entranhas, que eu não consigo ter, mas que a força da Tua Ressurreição pode me dar, pode incutir em mim como graça. Esse arrependimento que quebranta a minha alma, que quebranta o meu coração e que abre espaço para que a Tua graça possa agir, para que a Tua misericórdia possa me banhar, para que o Teu perfume possa me encharcar, para que as vestes de justiça e salvação possam me envolver e eu possa ser transfigurado em ti! E os meus olhos não serão mais os meus, mas os teus. A minha boca não será mais a minha, mas a Tua. O meu coração não será mais o meu, mas o Teu. O meu corpo não será mais o meu, mas o Teu, que eu me alimento com ele. O Teu fogo habitará em mim e me transformará, me consolará, e eu saberei o que significam estas palavras: felicidade e paz. É nisto que nós confiamos e esperamos, e é isto que a força da Ressurreição de Cristo, de forma real nos traz”. Cristo é a nossa esperança O Evangelho nos mostra Maria Madalena. Ela presenciou o flagelo, a paixão e a morte do seu Senhor. Ela chorou dolorosamente sua ausência, mas jubilosamente o encontrou ressuscitado. Maria Madalena é aquela que, tendo sofrido na sua humanidade, no seu coração e na sua alma as dores da ausência de Cristo, experimentou o consolo e a força da Sua presença, e por isso Cristo ressuscitado para Maria Madalena é a sua esperança. O Papa Bento XVI, comentando este texto, nos diz: “Todo cristão revive a experiência de Maria Madalena. É o encontro que muda a vida. Eis o motivo porque Maria Madalena chama Jesus de minha esperança, porque foi Ele que a fez renascer, que lhe deu um futuro novo, uma vida boa, liberta do mal. Cristo, minha esperança, significa que todo o meu desejo de bem encontra Nele uma possibilidade de realização: com Ele, posso esperar que a minha vida se torne boa e seja plena, eterna, porque é o próprio Deus que se aproximou até ao ponto de entrar na nossa humanidade”. O Papa continua: “A esperança neste mundo não pode deixar de contar com a dureza do mal. O mal continua no mundo, mas não é apenas


o muro da morte a criar-lhe dificuldade, mas também e mais ainda as aguilhoadas da inveja e do orgulho, da mentira e da violência. Jesus passou através desta trama mortal para nos abrir a passagem para o Reino da vida. Houve um momento em que Jesus parecia derrotado: as trevas invadiram a terra, o silêncio de Deus era total, a esperança parecia reduzida a uma palavra vã. Mas, diz Hebreus, Ele perseverando até o fim, Ele em orações e súplicas, com grande clamor e lágrimas àquele que podia salvá-lo da morte, foi atendido por causa da sua submissão. Se Cristo Ressuscitou então algo aconteceu de verdadeiramente novo, que muda a condição do homem e do mundo. Sim, Cristo Ressuscitado não pertence ao passado, mas está presente e vivo hoje. Cristo é esperança e conforto de modo particular para todos os que passam provações”. Ele passou pelas provações da morte, das dores, Ele venceu, está vivo, e Cristo é o sinal de que com Ele não há provação, não há desafio, não há dor, não há fraqueza, não há limites que possam nos paralisar, porque Cristo ressuscitou! Aleluia! Sim, verdadeiramente ressuscitou! Aleluia! E Ele é a nossa esperança! Fixar o olhar em Cristo Fixem o seu olhar em Cristo Ressuscitado. Nada nem ninguém no mundo pode lhe dar o que só Ele pode lhe dar. Dinheiro? Prazer? Fama? Vanglória? Afeto humano? Poder? Não dá! No fim você estará só, caído, triste, mas em Cristo a infelicidade não é a última palavra, o pecado não é a última palavra. Você pode ter passado por todas estas experiências, mas fixe o seu olhar Nele, Ele pode te dar o que nada nem ninguém pode dar. Ele pode te dar a misericórdia, a compaixão, o amor, o poder, a graça de te tirar da morte, de te ressuscitar, de te renovar, de te restaurar, de te levantar, de te revestir de vestes de salvação, de te pôr uma coroa de glória e te dizer: “Eu venci o mundo e comigo tu também vencerás!”. Fixas os teus olhos Nele e bebes da Misericórdia Divina, que te faz um homem novo. O pecado não é a última palavra, o mal não é a última palavra, nem na sua vida, nem na sua família, nem nesta cidade, nem neste país, nem neste mundo. A última palavra é a do Cristo Vitorioso, Ressuscitado, que dirá olhando para nós

e olhando para o mundo inteiro - e felizes nós se experimentamos da força da Sua presença desde já, felizes nós se deixamos que a Sua misericórdia nos transforme - e aí nós ouviremos: “Eis que eu faço novas todas as coisas, o que é velho já passou, eis que faço novas todas as coisas!” Diante da Ressurreição de Cristo o nosso coração não pode ter a não ser esperança e alegria. O que ficou para trás, ficou para trás. O nosso pecado ficou para trás. As nossas vestes maltrapilhas, o fedor da nossa putrefação, a sujeira do nosso pecado são banhadas pelo mar da Sua Misericórdia Divina, o Seu olhar e o Seu coração ressuscitado nos dão as vestes novas, frutos do Seu perdão e da Sua misericórdia, vestes que são dele, e que Ele nos concede, de justiça e de salvação, e nós, perseverantemente, de mãos dadas com o Ressuscitado caminharemos. Se tropeçarmos? Continuaremos. Se cairmos? Ele nos levantará. Caminharemos sustentados Nele, querendo estar firmes, de pé, e perseveraremos com a força da Sua graça, com a esperança, animados pela esperança, não desistiremos. Fixaremos o nosso olhar Nele, porque Ele está vivo, Ele é o Senhor, a Sua misericórdia é eterna, a Sua misericórdia perdoa os meus pecados e a Sua misericórdia pacientemente, insistentemente, determinadamente me transforma, me recria, me faz um homem, uma mulher, um jovem, uma criatura nova, porque Cristo ressuscitou e Ele é a minha esperança.

“O pecado não é a última palavra, o mal não é a última palavra, nem na sua vida, nem na sua família, nem nesta cidade, nem neste país, nem neste mundo. A última palavra é a do Cristo Vitorioso, Ressuscitado”

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fé e razão

Fé e cultura A verdadeira fé cristã não pode fugir do compromisso de iluminar o mundo da cultura, começando por revelar o verdadeiro rosto do homem, aquele homem criado à imagem e semelhança de Deus e que, longe do seu Criador, desfigura-se e perde o seu sentido último.

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Josefa Alves Missionária da Comunidade Católica Shalom em Aquiraz/CE

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S

abemos que por meio da cultura os homens desenvolvem e expressam suas relações com o outro, com o mundo e com Deus e, desta forma, definem os valores e as características de um inteiro povo. Ou seja, a cultura tem um papel fundamental para o desenvolvimento dos valores humanos mais autênticos de uma nação. Sobre isso, a Igreja nos ensina, através do Vaticano II, que “é próprio da pessoa humana

necessitar da cultura, isto é, de desenvolver os bens e valores da natureza, para chegar a uma autêntica e plena realização. Por isso, sempre que se trata da vida humana, natureza e cultura encontram-se intimamente ligadas. A palavra ‘cultura’ indica, em geral, todas as coisas por meio das quais o homem apura e desenvolve as múltiplas capacidades do seu espírito e do seu corpo; se esforça por dominar, pelo estudo e pelo trabalho, o próprio mundo; torna mais


humana, com o progresso dos costumes e das instituições, a vida social, quer na família quer na comunidade civil; e, finalmente, no decorrer do tempo, exprime, comunica aos outros e conserva nas suas obras, para que sejam de proveito a muitos e até à inteira humanidade, as suas grandes experiências espirituais e as suas aspirações” (Gaudium et Spes, 53). Vida sem Deus? No último século assistimos a grandes mudanças culturais nos âmbitos da família, da política, da economia, da comunicação e da fé; ainda hoje assistimos e sofremos as consequências desastrosas do homem querer “organizar” um mundo sem Deus, como escreveu Paulo VI na Encíclica Populorum Progressio (n. 42): “O homem pode organizar a terra sem Deus, mas ‘sem Deus só a pode organizar contra o homem’. Humanismo exclusivo é humanismo desumano. Não há, portanto, verdadeiro humanismo, senão o aberto ao Absoluto, reconhecendo uma vocação que exprime a ideia exata do que é a vida humana. O homem, longe de ser a norma última dos valores, só se pode realizar a si mesmo, ultrapassando-se. Segundo a frase tão exata de Pascal: ‘O homem ultrapassa infinitamente o homem’”. A identidade do ser humano, portanto, não tem suas raízes numa determinada cultura, mas na fonte que o originou. Se o homem perde o sentido do seu valor, da sua dignidade e do seu fim último que é Deus, corre o risco de buscar tais valores nos modelos apresentados por uma cultura fragilizada e sem raízes. Por exemplo, o estilo de vida hedonista imposto por muitas culturas aos seus povos é prova de que a verdadeira crise que a humanidade está vivendo é, acima de tudo, uma crise espiritual e moral, a questão econômica é secundária. A crise de valores leva a sociedade ao seu declínio, como aconteceu com diversas culturas do passado. A fé que, por sua vez, é dom de Deus e assentimento livre do homem à revelação divina (cf. CIC, 143), não pode ser considerada um simples valor cultural entre tantos outros ou como um dos elementos de uma cultura. Ela é o alicerce para uma cultura sadia, na qual o homem é contemplado na sua totalidade. Sem esta visão holística do homem, corre-se o perigo do ceticismo e do relativismo

que rendem estéril qualquer cultura e todas as suas manifestações. Portanto, a verdadeira fé cristã não pode fugir do compromisso de iluminar o mundo da cultura, começando por revelar o verdadeiro rosto do homem, aquele homem criado à imagem e semelhança de Deus e que, longe do seu Criador, desfigura-se e perde o seu sentido último. Crise da fé Hoje já não existe mais um tecido cultural unitário compartilhado por todos no seu apelo aos conteúdos da fé e aos valores que ela inspira, porque grandes setores da sociedade vivem uma verdadeira crise de fé que atinge muitas pessoas, ao ponto que muitos cristãos preocupam-se mais com as consequências externas (sociais, culturais, políticas, etc.) da fé do que com a própria fé (cf. Porta Fidei, 2). O diálogo entre fé e cultura é, não somente possível como necessário, para o desenvolvimento sadio de qualquer sociedade, porque as barreiras erguidas pelos opositores de Cristo e do Seu Evangelho obscureceram a inteligência de muitos à compreensão da existência de uma verdade objetiva, o que resultou numa supervalorização da técnica a ponto de separá-la da sabedoria. Embora manifestando das mais diversas formas a sua rejeição a Deus, encontramos várias expressões de busca de Deus nos mais variados setores da sociedade do mundo inteiro, através das “modernas” formas de religiosidade. Mesmo nos setores onde não há uma abertura explícita ao transcendente, encontramos homens que buscam dar sentido às suas vidas e preencher o seu desejo mais profundo de felicidade com coisas, pessoas, ideias e os vemos sempre insatisfeitos, frustrados, vazios, ansiosos, depressivos, porque insistem em saciar a fome da alma satisfazendo as próprias concupiscências. Somente uma cultura iluminada e sustentada pelas verdades da fé renovará e levará ao verdadeiro progresso as realidades temporais de cada sociedade. Por outro lado, é imperativo que os homens de fé dialoguem com o mundo de forma madura e humilde, de modo a superar o antagonismo entre fé e cultura. Pontos importantes neste diálogo, além da humildade, são: o amor pela verdade e a caridade, porque o diálogo nasce do amor e conduz à verdade do amor. www.edicoesshalom.com.br 33


ACONTECE NO MUNDO

A JMJ explicada em quadrinhos Uma das iniciativas do Comitê Organizador Local (COL) da Jornada Mundial da Juventude, que será realizada em julho, no Rio, é uma história em quadrinhos (HQ) que explica o objetivo do evento. Em entrevista, o designer Gabriel Cruz explica que a ideia surgiu com os preparativos para a JMJ: “Eu já era voluntário e trabalhava no setor de preparação pastoral na área de criação de textos. Sugeri aos responsáveis a criação de um texto sobre a origem e objetivos da Jornada Mundial da Juventude numa mídia visual mais atrativa e leve. Não demorou muito para concluirmos que uma história em quadrinhos (HQ) seria o caminho ideal”. Gabriel explica que se inspirou nos discursos dos Papas João Paulo II e Bento XVI nas últimas JMJs, para fazer parte do roteiro: “Tive liberdade total para criar a história, começando de forma cômica e passando à informativa e, depois, reflexiva. Para esta última, recorri à leitura de textos de Monsenhor Luigi Giussani, sacerdote e teólogo italiano, fundador do Movimento de Comunhão e Libertação, e a discursos dos papas. A história escrita por Gabriel mostra um menino explicando aos pais a origem do evento e sua importância. As ilustrações, no estilo mangá, foram feitas pelo designer e ilustrador Sami Souza, que usou um tablet para acelerar o processo de criação. O arquivo, que está disponível pelo site oficial do evento, possui ainda versões traduzidas para inglês, francês, italiano, espanhol, alemão e polonês.

A ideia de fazer uma HQ durante o evento, no entanto, não é novidade. Na última edição da Jornada, em 2011, em Madri, foi publicada uma história que contava a vida de Joseph Ratzinger, o Papa Bento XVI, desde sua eleição, em 2005. Na ocasião, a história foi elaborada por um grupo de católicos estadunidenses com ilustrações de um artista de Cingapura.

Fonte: Rádio Vaticano

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Arábia Saudita: cristãos etíopes presos por rezar

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Cinquenta e três cristãos etíopes – 46 mulheres e seis homens – foram presos na Arábia Saudita enquanto realizavam um encontro de oração numa residência. Funcionários da polícia religiosa irromperam na habitação, prendendo os fiéis. Três lideranças cristãs presentes no encontro foram acusadas de converter muçulmanos ao cristianismo. O fato ocorreu na cidade de Damman, no sul da Arábia Saudita, em 8 de fevereiro. Segundo a Comissão WEA, as autoridades sauditas soltariam os cristãos por terem visto de permanência no país, no entanto, os líderes do grupo devem ser deportados. A Arábia Saudita não reconhece nem protege religiões diferentes do Islã. A polícia religiosa (muttawa) exerce forte controle para eliminar Bíblias, rosários, crucifixos ou impedir reuniões

de oração. Ainda que os reis permitam práticas religiosas diferentes do Islã, a nível privado, a polícia religiosa não faz distinção, proibindo qualquer manifestação religiosa que não o islamismo. Este não é o primeiro caso de perseguição contra a comunidade religiosa etíope. Em dezembro de 2011, as autoridades sauditas prenderam 35 cristãos etíopes - 29 das quais mulheres - sob a acusação de “associação ilícita”, por terem se reunido em uma residência para rezar. Segundo a Human Rights Watch (HRW), as mulheres sofreram ‘inspeções médicas’ arbitrárias durante a prisão. A cidade de Dammam é um importante centro industrial e portuário, rico em instalações petrolíferas e de gás natural.

Fonte: Rádio Vaticano


Avança processo de beatificação da Focolarina Ginetta Calliari Em março iniciou-se uma nova fase do processo de beatif icação de Ginetta Calliari, cofundadora do Movimento dos Focolares no Brasil. A próxima etapa diz respeito ao envio dos documentos do Brasil para o Vaticano. Segundo Dom Ercílio, Bispo da Diocese de Osasco, a candidata aos altares serve de exemplo para toda a sociedade. “Ginetta foi leiga. Sua vida mostra a todos os leigos e leigas que é possível amar, é possível viver a fé hoje! Mostra que um caminho de santidade suscita transformações, cria novas perspectivas, promove a fé, a paz, e a unidade. Precisamos dessa unidade, quando, por toda parte, existem tantas divisões”.

Neste Ano da Fé, destaca o bispo, Ginetta é para nós um modelo de fé em Deus, de adesão à sua Palavra e de confiança plena em sua vontade. Toda a sua vida evangeliza, através de sua ação em vista da construção do Reino de Deus, para que haja vida e todos sejam um. Ginetta Calliari chegou ao Brasil em 1959, na cidade de Recife, com outros sete jovens, entre os primeiros que seguiram Chiara. Faleceu em 8 de março de 2001. Seus livros, seus escritos e suas reflexões que agora fazem parte do material de estudo sobre sua vida e sua santidade, são um estímulo para os católicos na construção de um mundo novo.

Fonte: Rádio Vaticano

Falece a Dra. Evelyn Billings, a mulher que criou o ‘Método Billings’

pode ser observado pela própria mulher, torna-o antipático também à indústria farmacêutica. Como disse Bento XVI há alguns anos, “se o exercício da sexualidade se transforma em uma droga que quer sujeitar o parceiro aos próprios desejos e interesses, sem respeitar os tempos da pessoa amada, então, aquilo que se deve defender não é mais somente o verdadeiro sentido do amor, mas em primeiro lugar a dignidade das pessoas mesmas”. A Dra. Evelyng Billings Livingston usou quase toda a sua existência para defender esta dignidade, divulgando um método que as feministas, infelizmente, não souberam reconhecer. O casal John e Evelyn também entrou para a história por outras pesquisas realizadas, como aquelas sobre as mães durante o período da amamentação e sobre mulheres próximas à menopausa.

Fonte: Rádio Vaticano

Shalom Maná | Abril 2013

Evelyn Billings faleceu no dia 16 de fevereiro, aos 95 anos, na Austrália. Junto com seu marido John, deixou uma herança para a humanidade: a descrição do Método Billings, fundamentado na regulação da fertilidade baseada na observação do corpo feminino. Nascida em 8 de fevereiro de 1918, Evelyn entrou na Universidade de Melbourne, formando-se em Medicina. Ela prosseguiu seus estudos em Londres, onde se especializou em Pediatria, quando então retornou a Austrália para trabalhar no Departamento de Anatomia da Universidade na qual se formou. Exatamente no ano em que se casou com seu colega John, nascem ‘os Billings’, cuja fama estará para sempre ligada ao homônimo método natural de regulação da fertilidade. Por decênios, o mundo verá o incansável casal de médicos australianos descrevendo o Método Billings, utilizado também pela Organização Mundial da Saúde. Nascido a partir de pequenas e tímidas pesquisas realizadas em Melbourne no início dos anos 1950, o método foi descrito para mulheres, casais, estudantes de medicina e médicos de todo o mundo, incluindo a China. O casal teve a coragem de propor o uso do Método Billings no ambiente social e cultural da segunda metade do século XX, que viu o Ocidente inclinar-se à pílula sintética. O método foi acusado de primitivo, pré-científico, mas, sobretudo, de ingênuo. O fato de ser um método gratuito, já que

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ACONTECE Na comunidade

Congresso Nacional das Famílias Shalom 2013

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Nos dias 3, 4 e 5 de maio de 2013, no Ginásio Paulo Sarasate, em Fortaleza, acontecerá o Congresso Nacional das Famílias Shalom, com o tema: “Não te disse eu: se creres, verás a glória de Deus?”(Jo 11,40)

Quantas vezes nossas famílias passam por tempos de provações e logo de maneira imediata nossa ação é de “entregar os pontos”? Cremos em Deus, afirmamos nossa fé em Cristo, cantamos louvores rendendo-lhe graças, confiando nossas vidas, mas nos momentos das dificuldades o que sai dos nossos lábios é: “Senhor, se tivesses estado aqui...”. A fé é esperança que não decepciona (Rm 5,5). Aqueles que creem em Jesus precisam manter sempre viva essa verdade em seus corações. A Igreja vive o Ano da Fé, promulgado pelo nosso querido Papa Emérito Bento XVI. Dizia ele na abertura do Ano da Fé: “Jesus é o centro da fé cristã. O cristão crê em Deus através de Jesus Cristo, que nos revelou a face de Deus”. A fé em Jesus realiza em nós uma obra palpável. Somos chamados a um real abandono que gera grandes frutos em nossas vidas e nos revela a face do Pai, que é amor, em seu Filho Jesus. “Esta enfermidade não causará a morte, mas tem por finalidade a glória de Deus. Por ela será glorificado o Filho de Deus” ( Jo 11,4). Quando educamos nossa fam í lia nesse feliz caminho, com certeza, os dias de lutas, de dificuldades, de importantes decisões serão vividos com mais união e força. É próprio de uma família católica pautar os seus dias na oração comunitária, na Eucaristia, no santo terço, na fidelidade à Igreja e ao seu Magistério. Para os pais, esse é o maior e mais belo legado que eles podem deixar para seus filhos. Para os filhos, a educação cristã é o bem de maior valor que eles podem receber como presente

de seus pais, pois nela está Cristo, Salvador das nossas vidas, razão da nossa alegria. “Não te disse eu: se creres, verás a glória de Deus?”. É essa a promessa do Senhor para nós: a Glória de Deus. Da mesma forma como a alegria e a paz voltaram para a família dos três irmãos: Marta, Maria e Lázaro, mesmo em sua aparente falta de fé, o nosso Deus, também nas horas difíceis e alegres, há de estar conosco, não deixando que nada de mau nos acometa. É nessa perspectiva que se conduzirá o Congresso Nacional das Famílias Shalom de 2013. Fé e abandono em Cristo Jesus, saber que Ele é por nós, Senhor das nossas famílias. Aquele que pode gerar em nós testemunhos para a nossa edificação e de toda a Igreja, contribuindo com a evangelização de todos os homens.

Saiba mais: Para mais informações, ligar para a sede do Projeto Família Shalom (R. Dr. José Lourenço, 1451), no telefone: (85) 3224.0843, ou enviar e-mail para: congressonacionaldasfamiliassh@ gmail.com.

Por Leonardo Tertuliano Missionário da Comunidade Católica Shalom em Fortaleza/CE


Cidades e Personagens relacionados a São Pedro

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José Ricardo Ferreira Bezerra

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divirta-se

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HORIZONTAL 1.ANANIASESAFIRA; 2. MATIAS; 3.ROMA; 4.BETSAIDA; 5. ANTIOQUIA; 6.JESUS;7.CAFARNAUM; 8. CORNELIO; 9.JOAO; 10. SIMAO; 11.HERODES; 12.COXODENASCENÇA; 13.SOGRA

VERTICAIS 1–Libertou-o da prisão de Herodes (At 12,7) 12 2– Apóstolo e irmão que o chamou para ver Jesus (Jo 1,40) 3– Apóstolo que não acreditou logo na ressurreição (Jo 20,25) 4– Servo do sumo sacerdote que ele cortou a orelha (Jo 18,10) 5– Paralítico da cidade de Lida curado por ele (At 9,33) 6– Região aonde ele proclamou Jesus como o Messias (Mt 16,13) 7– Sumo sacerdote que o interrogou por causa da cura do coxo (At 4,6) 8– Apóstolo junto com ele e João considerados colunas (Gl 2,9) 9– Cidade onde foi hóspede de Simão o curtidor (At 9,43) 10– Cidade aonde se realizou o primeiro Concïlio (At 15,4) 11– Discípula de Jope que ele ressuscitou (At 9,36) 12– Quem o denunciou como discípulo de Jesus na paixão (Lc 22,56) 13– Evangelista que ele considerava um filho (1Pd 5,13)

VERTICAl 1. ANJODOSENHOR; 2. ANDRE; 3.TOME; 4.MALCO; 5.ENEIAS; 6.CESAREIADEFELIPE; 7.ANAS; 8.TIAGO; 9.JOPE; 10.JERUSALEM; 11.TABITA; 12.CRIADA; 13.MARCOS

HORIZONTAIS 1– Casal que quis enganar o Espírito Santo (At 5,10) 2– O escolhido para substituir Judas (At 1,15.26) 3– Cidade em que foi martirizado (Tradição) 4– Sua cidade natal (Jo 1,44) 5– Cidade onde foi repreendido por Paulo (Gl 2,11) 6– Aquele que o chamou e mudou o seu nome (Jo 1,42) 7– Cidade onde morava e ele tinha a barca (Mc 4,13.18) 8– Centurião que o convidou em Cesaréia (At 10,1) 9– Apóstolo e companheiro de prisão por ter curado o coxo (At 4,3) 10– Seu nome antes de ser mudado por Jesus (Jo 1,42) 11– Rei que o mandou prender (At 12,1-3) 12– Enfermo da Porta formosa curado por ele e João (At 3,1) 13– A mãe de sua esposa curada por Jesus (Mt 8,14)

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Indicamos

Como ver realizados os nossos desejos Os Miseráveis

Adaptação de musical da Broadway, que por sua vez foi inspirado em clássica obra do escr itor Victor Hugo. A história se passa na França do século XIX e traz Hugh Jackman na pele do ex-prisioneiro Jean Valjean, condenado por roubar um pão para alimentar a irmã e perseguido por décadas pelo implacável policial Javert (Russell Crowe), depois de v iol a r sua l iberd ade cond iciona l. Qua ndo Valjean concorda em cuidar de Cossete, a jovem filha de Fantine (Anne Hathaway), que é funcionária de uma fábrica, suas vidas mudam para sempre. Musical. 152 min.

Shalom Maná | Abril 2013

Estava eu olhando o velho João, entretido em varrer as folhas secas do jardim. A área era grande, e o velho caprichava em não deixar nenhuma folha no gramado. – João - disse eu sorrindo - que maravilha se você pudesse, só a um desejo seu, ver todas estas folhas, de repente, empilhadas num monte! – E posso mesmo - disse o velho prontamente. – Se você pode, vamos ver! - desafiei. – Folhas! Juntem-se todas! - disse o velho, numa voz de comando. E lá continuou limpando a relva até que as folhas ficaram juntas num só monte. – Viu? - disse-me, sorrindo - É este o melhor meio de vermos realizados os nossos desejos: trabalhar, com afinco, para que aquilo que queremos seja feito. O incidente calou-me no espírito. Mais tarde, ao estudar a biografia dos cientistas e de todos aqueles cujas obras nos parecem, por vezes, milagres verdadeiramente sobre – humanos, descobri que adotavam geralmente o sistema do velho jardineiro. Todas as suas realizações resultaram do fato de que estes homens, desejando fortemente chegar a certo objetivo, nunca cessaram de lutar por alcançá-lo.

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espiritualidade

Ele está vivo! O Ressuscitado se manifesta e se deixa tocar pela fé, dilatando o coração para uma experiência que gera na vida daqueles que creem uma mudança radical, uma passagem para o Pai, uma vida nova, ou seja, uma vida no Espírito.

Shalom Maná | Abril 2013

Pe. Rômulo dos Anjos Missionário da Comunidade Católica Shalom em Fortaleza/CE

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E

le está vivo! Essa afirmação significa o ponto culminante do caminho de Cristo que se manifesta na Ressurreição, ou seja, na sua Páscoa por meio da Paixão, que é o mistério que nos revela um acontecimento de amor insuperável, a definitiva vitória do amor que mudou para sempre o curso da História e o sentido existencial da humanidade. Graças a este mistério podemos professar que Ele está vivo, e que também nós podemos ressurgir para uma vida nova, uma vida “enxertada” na vida verdadeira, aquela que

nos revela o pleno sentido da nossa existência, que indaga constantemente a resposta sobre a razão de si mesma e que em si não encontra esse sentido definitivo. Ao professarmos essa verdade não estamos simplesmente falando de uma experiência histórica, mas de uma experiência da fé. Certamente, também a história nos direciona ao sepulcro de Jesus e nos faz acolher tudo o que as testemunhas disseram. Entretanto, a dimensão histórica simplesmente não é suficiente, mas faz-se necessária a experiência da fé. Com


precisão afirmou Kiekegaard: “Não basta constatar historicamente, é preciso ver o Ressuscitado, mas isto não o permite a história, mas apenas a fé”. Essa experiência de fé nos faz mergulhar na profundidade do amor Trinitário que manifesta ao homem a onipotência do seu amor. Celebramos o amor do Pai que entrega o Seu Filho amado para salvar o homem; o Filho que, com prazer, acolhe a vontade do Pai e se abandona totalmente a ela; e o amor do Espírito Santo, que ressuscita Jesus Cristo dentre os mortos. Agora a nossa humanidade está Nele transfigurada, e o pecado e a morte já não têm a última palavra sobre ela. A partir do século IV, a Páscoa passou a ser compreendida tanto como o dia em que o Cordeiro foi imolado como, sobretudo, a passagem de Cristo para o Pai. Este acontecimento incide diretamente na vida do homem, passagem do homem dos vícios para a virtude, da culpa para a graça. Santo Agostinho nos apresenta uma síntese entre paixão e passagem, na qual encontramos o significado da Páscoa cristã - ou seja, Páscoa de Deus, pois Jesus passa deste mundo para o Pai - e também páscoa do homem, que passa da vida velha para uma vida

nova. É a síntese entre Paixão e Ressurreição de Cristo, entre Páscoa litúrgica e sacramental, moral e ascética, portanto, é elemento central da fé da Igreja. Enfim, a Páscoa cristã é um transitus per passionem, uma passagem pela paixão e, por isso, nunca podemos desassociar a cruz da Ressurreição. Nosso santo doutor afirmou: “Não é grande coisa crer que Cristo morreu. Isto o creem até os pagãos, os judeus e todos os ímpios. Todos creem que morreu! A fé dos cristãos é a ressurreição de Cristo. Isto sim, que é grande coisa: crer que ele ressuscitou” (Enarr. Ps. 120, 6; CCL 40, p. 1791). Com essa afirmação, ele não deseja esvaziar o significado da morte, pois ele mesmo afirma que há três coisas que simbolizam o tríduo pascal: crucifixão, sepultura e ressurreição, e na nossa vida a que nos diz respeito mais diretamente é a dimensão da morte, simbolizada na Sexta-feira Santa. Entretanto, já nesta vida possuímos, pela fé, aquilo de que é símbolo a graça da Ressurreição de Cristo: “Nós realizamos na vida presente aquilo de que é símbolo a cruz, enquanto possuímos na fé e na esperança aquilo de que é símbolo a ressurreição” (Ep. 55, 14, 24; CSEL 34, 2, p. 195). Fica claro para nós a importância dessa compreensão da Páscoa, que é o dia em que celebramos ao mesmo tempo Paixão e Ressurreição de Cristo, esse movimento profundo que manifesta o dinamismo da obra da Redenção e assim manifesta a passagem radical da morte para a vida, do pecado para a graça. Enfim, essas duas realidades constituem juntas o mistério pascal e nunca devem ser vistas de maneira separadas ou movimentos justapostos que simplesmente se sucedem. Toda experiência com o Ressuscitado narrada pelos Evangelhos nos revela que é uma ação de Cristo, que vai ao encontro dos seus para comunicar-lhes essa grande novidade. Esse encontro agora se dá plenamente no âmbito da fé. O Ressuscitado se manifesta e se deixa tocar pela fé, dilatando o coração para uma experiência que gera na vida daqueles que creem uma mudança radical, uma passagem para o Pai, uma vida nova, ou seja, uma vida no Espírito. Os amigos professam No quarto Evangelho, aquele escrito por João, Jesus chama os seus discípulos de amigos pelo fato www.edicoesshalom.com.br 39


de lhes revelar a sua intimidade com o Pai (cf. Jo 15,15). A manifestação da sua Ressurreição entra nesta perspectiva de revelação da sua pessoa e da sua obra, ou ainda, o ápice da sua intimidade gera uma vida nova na vida dos discípulos e lhes confirma na missão, que nasce desta amizade com Cristo. A ressurreição de Cristo é como uma espécie de “divisor de águas” também na relação entre Cristo e seus amigos, pois eleva a um estado novo tanto a presença e as palavras de Jesus, como também a manifestação do Reino de Deus na vida dos discípulos. Esta atesta que nada foi por acaso e que a fé não é vã, a esperança não decepciona e que o amor é mais forte do que a morte. Nasce desse encontro com o Ressuscitado a necessidade de anunciá-lo aos outros. É uma dinâmica característica da graça própria do evento pascal, ou seja, o Ressuscitado vai ao encontro, se manifesta, os discípulos professam a sua fé e recebem um mandato missionário de comunicar o que eles tinham visto, ouvido, tocado, experimentado neste encontro. Essa experiência pessoal e comunitária está no coração do kerigma proclamado pela fé da Igreja, que consiste no anúncio da paixão, morte e ressurreição de Cristo. “Ele está vivo!” Era a profissão de fé dos discípulos e o principal conteúdo da sua pregação. A experiência com o Ressuscitado trata-se de uma experiência fortíssima de maneira tal que alguém que passa por este acontecimento já não pode calar (cf. At 4,20), mas sente uma necessidade de testemunhar aos outros esse grandioso fato. Somos suas testemunhas! As apar ições do Ressuscitado sempre culminam na missão, e é aí que se plenifica a experiência da Páscoa, pois o testemunho e o anúncio são uma exigência intrínseca à própria experiência, ao mesmo tempo tão real e tão misteriosa. A nós, mais felizes por crermos sem termos visto, cabe uma exigência de testemunho radical e coerente dessa verdade, testemunho que fortalece e confirma em nós a fé e seus frutos. Com precisão afirma Bento XVI na Carta Apostólica com a qual proclama o Ano da Fé: “Com efeito a fé cresce quando é vivida como experiência de um amor recebido e é comunicada como experiência 40

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“Ele vem ao nosso encontro, como outrora aos discípulos, e nos envia aos ‘Tomés’ de hoje, que não conhecem a bem-aventurança da fé e por isso desconhecem a paz”

de graça e de alegria”. Pela graça da fé podemos dizer como São Paulo: “Ele apareceu também a mim” (cf. 1Cor 15,8) e por meio do testemunho anunciar Cristo que vive para sempre e continua manifestando a sua vida, ressuscitando aqueles que se encontram na morte do pecado. Ele vem ao nosso encontro, como outrora aos discípulos, e nos envia aos “Tomés” de hoje, que não conhecem a bem aventurança da fé e por isso desconhecem a paz. Esse anúncio é, como temos dito, fruto e sinal da experiência que nos leva a uma profunda descoberta da vida, do amor e da paz do Ressuscitado. Por isso, cheio de parresia, afirma Bento XVI que evangelizar “é o serviço mais precioso que a Igreja pode prestar à humanidade e a cada pessoa que está em busca das razões profundas para viver em plenitude a própria existência”. Hoje, não raramente o homem marcado pelo relativismo se deixa levar por tantas ideias, filosofias, pseudoverdades, mudanças constantes que, muitas vezes, se vê distante da Verdade que tanto deseja, buscando-a em lugares errados. É nossa missão anunciar destemidamente a verdade da ressurreição, pois Ele está vivo e deseja reinar nos nossos corações para nos comunicar a plenitude da vida feliz.

BÍBLIA DO PEREGRINO, Edição de Estudo. São Paulo: Edições Paulus, 2002. CANTALAMESSA, Raniero. O Mistério da Páscoa. Editora Santuário, 1994. Lexicon, Dizionario Teologico Enciclopedico, Ideazione, direzione editoriale a cura di Luciano Pacomio e Vito Mancuso, Edizioni Piemme Spa, Casale Monteferrato (AL), 1993. PAPA BENTO XVI. Reflexões para o Ano Litúrgico, Anos A, B e C. Juiz de Fora: Editora Zás, 2010. PAPA BENTO XVI. Mensagem para o Dia Missionário Mundial 2011, disponível em: www.vatican.va. PAPA BENTO XVI. Carta Apostólica Porta Fidei, disponível em: www.vatican.va.


JMJ RIO 2013

Muito obrigada, Bento XVI! Das tuas mãos recebemos nosso Youcat, das tuas mãos contemplamos o que é ser Igreja, o que é ter fé nesse mundo tão secularizado e sedento do amor do Ressuscitado que passou pela Cruz. Flávia Barreto Missionária da Comunidade Católica Shalom em Quixadá/CE

Querido Bento X VI,

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nós o desejo reveu depositando sobre esc já r ho sen o s en jov s m, Quantas cartas ao sinal de contradição. Be se fos e qu e ta san , na er mod de ser mos uma juventude ho. uir tamanho amor e carin rib ret de z ve ssa no a de Bispo chegou o teu pedido de renúncia m co a res rp su de ga pe A tua juventude foi e de Cristo para o para nós é espelho da fac e qu o, ist Cr de a rej Ig avam de Roma, Papa da o, nossos corações respir eir Jan de io R no J JM de ano teus jovens. mundo de hoje. Em um para nós, que somos os us De de z vo a do an so fraqueza, a tua doce e fir me fala do m inistér io petrino é cia ún ren de o did pe teu Para o mundo, o nseg ue manipular. outros nomes que ele co tre en a, rej Ig da ” cia ên eno na sinal de “decad forte na fraqueza, pequ fez se e qu em m ho um garoso talvez Mas, para nós, é sinal de está frágil, teu andar va de saú a Tu . us De de e rre, corre em busca grandeza da vontad da tua juventude que co o ar nh pa om ac ais m não consiga

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da felicidade que não passa. Felicid ade nossa que é Deus. Porém, sabem os que tua oração alcança nossos corações de maneira profunda. Deixar de ser pap a não será um sinal de fraqueza, pois como bem sabemos, a maior vitória da humani dade foi a hum ilhação de Cristo na Cruz. Ele que se fez homem, assumiu nossa con dição de pobres degradados para nos amar até a última gota de sangue. Muito obr igada, Bento XV I, pois das tuas mãos recebemos nosso You cat, das tuas mãos vimos Cuba se abrir para a vivência e a prática da fé Católica, con templamos o que é ser Igreja, o que é ter fé nes se mundo tão secularizado e sedent o do amor do Ressuscitado que passou pela Cru z. Das tuas pobres mãos recebemo s a aprovação definitiva dos Estatutos da Comunid ade Católica Shalom, ouv imos de ti a voz de Deus para a Comunidade, que nos chama a viver com entusiasmo nos sa missão de evangelizar. Nós, Shalom, somos gra tos por tamanha confiança em nós e pela amizade. E quantas outras comunidades não têm a mesma gratidão a ti? Incontáve is. Hoje, assumimos junto contigo o des ejo de viver uma razão ilum inada pel a fé, conhecendo e aceitando nossos limites e, principalmente, amando a Deus sob re tod as as coisas. A tua renúncia é sinal de hum ildade e cuidado para com o teu pov o, o povo que Deus te con fiou (convenhamos que é um povo difícil, nós somos mis eráv eis). Nós, jovens, agradecemos pelo teu cuidado, respeito e amor na JMJ de Madrid, quando, em meio a uma tempestade, durante o momento de Adoração, o senhor não saiu de lá porque os teus jovens iria m continuar ali, naquela praça. Mu ito obr igada por dor mir no quarto mais simples e úm ido do Vaticano nos seus três primeiros meses de Pontificado só para viver a vontade de Deus e a vida de penitên cia que nos ensina tanto a viver. As palavras precisam ter um fim nes te texto, mas não no coração. Oito anos de Pontificado, oito anos de uma vida que se consome até o fim. Como o colo de tua mãe deve fazer falta, como o olhar de teu pai deve penetrar em teu ser, e como este encontra conforto e consolo nos braços da Virgem Maria e de Deus Pai. A tua juv entude agradece teu sim feliz, alegre e con dutor. E agradecemos o teu não dol oroso, cheio de fé e esperança, mas principalment e cheio de zelo por nós e por ti. Tua santidade é escrita pelas melhores linhas da vid a de um ser humano que é a linha da fé. Pode ir cuidar da tua saúde, viver tua vida de penitência, oração, poi s temos certeza de que o próximo papa terá um grande homem em quem se esp elhar, além de Jesus Cristo, para viver esta missão tão difícil. Saiba que o Cristo Redentor ainda estará de braços abertos a te acolhe r, e se o senhor puder assistir pela TV a JMJ, verá milhões de jovens cantando a uma só voz: “Somos tua juventude, Benedictus”. Enfim, é isso que expressamos. Estam os reunidos em oração e na Eucaristia diária. Ben dito seja nosso Senhor Jesus Cristo!

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Especial

Dá-me uma fé inquieta! Edinardo de Oliveira Júnior Missionário da Comunidade Católica Shalom em Lugano (Suíça)

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Todo aquele que crê deve ter uma sadia inquietação que lhe impulsione sempre a buscar a conversão e a vontade de Deus.

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udas Iscariotes era um dos doze apóstolos escolhidos por Jesus. Assim como eles, foi também chamado pessoalmente por Jesus a segui-lo. Viu grandes milagres acontecerem, escutou de lugar privilegiado as palavras de seu Mestre. Escutou inclusive aquilo que fora de certa forma negado às multidões: a explicação mais aprofundada de Suas parábolas e de Seus ensinamentos. Mas o que mais impressiona não é o fato de Judas ter testemunhado a tudo isso e ser ainda capaz de trair Jesus. Isso também eu sou capaz de fazer (e por que não dizer, com forte pesar, que o faço diversas vezes quando escolho o pecado à vontade de Deus?). O que é mais assustador é que Judas provou do amor de Jesus diversas vezes e não foi capaz de ceder à sua misericórdia. Naquela última semana de Jesus, que culminou com a Ressurreição e que revivemos a cada ano na Grande Semana, vimos diversas vezes como Judas não se deixara alcançar plenamente por Jesus: seja na unção de Betânia, quando critica Maria por ter ungido o Mestre com perfume, seja na Última Ceia, quando presencia o abaixar-se de Jesus e tem seus pés lavados pelo Senhor. O momento mais surpreendente vivido pelo apóstolo com Jesus me parece ser o da entrega no Horto das Oliveiras. Judas vem ao encontro de Jesus acompanhado de vários soldados armados. Aproxima-se dele e lhe dá um beijo. De fato, o apóstolo gozava de intimidade com seu Mestre. Jesus lhe responde revelando o quanto amou e amava Judas, chamando-o de “amigo” (cf. Mt 26,50). Amigo! Ainda nesse momento Jesus queria alcançá-lo, mas em vão: ele já havia se obstinado em seu pecado, e mesmo quando se arrepende, mostra o quanto não havia escutado o seu Mestre, pois não acreditava que Ele viera para salvar os pecadores. Como não aprender, com Judas, o quanto é possível estar com Jesus, mas não ser um dos apóstolos? O quanto podemos escutar sua palavra, mas através do insondável mistério da nossa liberdade, não deixar que ela transforme a nossa vida, a partir de dentro? O quanto é possível estar na Igreja, ir à missa todo domingo, cumprir

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diversos preceitos ou, quiçá, toda a lei, mas ter o coração distante do Senhor? O exemplo do traidor nos convida a entender que a fé não é um prêmio conquistado, que deve ser posto na estante de nossos troféus. Não! Todo aquele que crê deve ter uma sadia inquietação que lhe impulsione sempre a buscar a conversão e a vontade de Deus. A fé não é uma meta alcançada, mas um contínuo ponto de partida: “Seja qual for o grau a que chegamos, o que importa é prosseguir decididamente” (Fl 3,16). Ai daquele que, achando que já fez ou faz o que devia fazer, se acomodar – seu Senhor voltará e o encontrará desprevenido (cf. Mt 24,44). Se não vivermos assim, continuamente nos convertendo e nos perguntando, diante de Deus, o que há em nós que não condiz com sua vontade, o que ainda nos falta (cf. Mt 19,20), caimos no grande perigo de nos apoiar em falsas seguranças e construirmos nossa casa sobre a areia (cf. Mt 7,24-27). Aprendamos dia a dia quem é o nosso Senhor, para que seja Ele o nosso único apoio. Fazendo assim, mostramos que nossa vida está em Suas mãos e, mesmo se viermos a cair, não faremos como Judas, que não acreditou no perdão do Mestre e por isso se enforcou, mas seremos como Pedro, que errou, mas voltou atrás, certo de que seria acolhido novamente.

“A fé não é uma meta alcançada, mas um contínuo ponto de partida: ‘Seja qual for o grau a que chegamos, o que importa é prosseguir decididamente’ (Fl 3,16)”


Entrelinhas

Pense nisso em seu próximo “Amém!” Recebo o Menino, como Maria; o Crucificado, como Maria; o Ressuscitado, como Maria. E torno-me, assim, um muito pequenino anúncio, um muito pequenino instrumento vivo, visível presença do Corpo que me habita. Maria Emmir O. Nogueira Cofundadora da Comunidade Católica Shalom

“O Corpo de Cristo!” “Amém!”

U

ma vez mais, só Deus sabe que – pela enésima vez, ecoa o convite feito a Maria na Anunciação. “Aceitas ser a mãe do Salvador? Aceitas gerar em ti o Corpo de Cristo?”

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“Fiat! Amém!” “O Corpo de Cristo!”, anuncia o padre, o ministro. “Amém!”, responde o tantas vezes distraído membro do Corpo, sem saber ou pensar muito bem no que diz. Lembro-me de quando era ministro extraordinário da Sagrada Comunhão, repetia, dezenas, centenas de vezes, o anúncio: “O Corpo de Cristo”, para ouvir na maioria das vezes um “amém” meio distraído, o corpo já meio voltado para retornar ao seu lugar, como quem tem mais pressa em sair da fila do que em receber em si o Corpo. Sinceramente, ficava meio constrangida, com vontade de parar a pessoa e perguntar: “Você sabe ao que está dizendo “amém”?

Entende que está repetindo o consentimento de Maria, acolhendo em si o Corpo, o Sangue, a Alma, a Divindade de Jesus?” No entanto, não podia dizer nada, além do resignado anúncio mil vezes repetido: “O Corpo de Cristo!” Para consolar Jesus, conversávamos sobre isso ali, na fila. Às vezes, de comum acordo com Ele, imaginava-me dando às pessoas o Menino. Colocava-o, então, em suas mãos, com imensa delicadeza, como quem entrega um recém-nascido. Percebia que alguns, mais sensíveis ou atentos, olhavam-me ora com espanto, ora com cumplicidade. Saberiam que estavam recebendo o Corpo do Menino? Por vezes, combinava com Jesus de contemplá-lo entregando-se como o Jesus das Bem-aventuranças e, sempre sem modificar o anúncio: “O Corpo de Cristo!”, entregava aos fiéis o Pregador em sua mais bela e alta pregação. Outras vezes, contemplava-o entregando o novo mandamento: “Amai-vos como eu vos amei!”, e lá ia Ele, nas pessoas, pedindo que se amassem como Ele nos amou.

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Havia, ainda, espaço para o Jesus orante, o Jesus que cura, o Jesus que ri. Com minha boca, repetia sempre: “O Corpo de Cristo! O Corpo de Cristo!”. No coração, ora entregava o Menino, ora o Pregador, ora o Mestre, ora o Crucificado, especialmente quando percebia que a pessoa estava doente ou muito triste. Certa vez, contemplei-o ressuscitado ao levá-lo a um senhor com pancreatite na UTI. O médico não permitiu que ele comungasse e ficamos ali, uns dois minutinhos, orando, com a teca contendo o Ressuscitado entre as nossas mãos. No dia seguinte, inesperadamente, o enfermo saiu da UTI e passou a uma fase de inexplicável franca recuperação. Quando não tive mais possibilidade de ser ministro da Eucaristia, e, assim, frequentei, diariamente, o outro lado da fila, passei a me colocar quase sempre como Maria. Procurando seguir o que recomenda São Luis Grignon de Montfort para os servos de Maria que comungam, havia iniciado, com uma certa inquietação inconfessa, o exercício de receber Jesus em Maria, revestida de Maria, no Paraíso que é Maria, para que Ele fosse acolhido em lugar digno e, depois, dizer a Maria: “Tragote o teu Filho”. Talvez como prêmio por minha fidelidade a uma recomendação que me custava compreender, Deus me foi fazendo entender o que era receber Jesus como Maria. No início, imaginava-me como um cálice muito feio revestido de ouro para receber Jesus. O ouro era Maria. Depois, imaginava receber Jesus no seu Paraíso que é Maria com suas virtudes. Foi somente em um mês de maio – mês em que renovo minha consagração como escrava de Maria – que “compreendi” a semelhança entre o anúncio do padre ou ministro “O Corpo de Cristo!” e a Anunciação do anjo a Maria. Passei, então, a recebê-lo não revestida dela como um cálice, mas revestida – o mais possível – das intenções dela: participar inteiramente da vida de Cristo, como Ele participa inteiramente da vida dela. A partir daí, ao estender a mão para receber o Corpo, Sangue, Alma e Divindade de Jesus, estendo também minha alma, meu corpo, meu espírito, minha história e circunstâncias pessoais para acolher como Corpo Místico, o Corpo da Cabeça. Com Ele e como Ele, disponho-me a entregar46

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me aos outros, grão de trigo morto, fruto de trigo pisado, transformado para ser comido, gastado, por amor. Com Ele e como Ele, disponho-me a estar presente, sabendo que amor é presença em qualquer circunstância. Com Ele e como Ele, desejo dispor-me a ser esquecida, a ser alvo de indiferença, perseguição, calúnia, morte e, finalmente, ressurreição. Como Maria, acolho o Corpo e nos transformamos um no outro, para o que der e vier, para o que for preciso, para a maior glória de Deus. Muito mais que “força” ou “alimento”, encontro, então, compromisso, parceria, unidade de vida e o profundo sentido de comunhão. Muito mais que receber, sou chamada a dar, embora receba muito mais que dou. Recebo o Menino, como Maria; o Crucif icado, como Maria; o Ressuscitado, como Maria. E torno-me, assim, um muito pequenino anúncio, um muito pequenino instrumento vivo, visível presença do Corpo que me habita. Meu “Amém”, então, se torna “Fiat” e isso faz imensa diferença. Pense nisso em seu próximo “Amém!”



Chegou o Cantai a Deus com Aleg�ia 2013!

Com mais de mil canções escolhidas dentre as melhores composições da música católica, o Cantai a Deus com Alegria traz ainda o Hino da Jornada Mundial da Juventude e as músicas da Campanha da Fraternidade 2013.

“Que estas canções possam enaltecer a fé com a harmonia própria da arte de cantar e amar para a maior glória de Deus”. Nicodemos Costa

INFORMAÇÕES E PEDIDOS (85) 3308.7402/ 3308.7405 | www.edicoesshalom.com.br


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