Revista Shalom Maná - Janeiro 2013

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ESPECIAL | A conversão de São Paulo SHALOM EM MISSÃO | Missão em Lugano: formação e evangelização

Ano 26 • nº 234 | Janeiro • 2013 • R$ 9,90

Maria, Mãe e Mestra da Fé



“A água com a qual estas crianças serão marcadas, em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, as imergirá naquela ‘fonte’ de vida que é o próprio Deus e que as tornará seus verdadeiros filhos.” (Bento XVI, durante homilia na Festa do Batismo do Senhor, dia 13 de janeiro de 2013)


08 SUMÁRIO

A Palavra do Papa Bem-aventurados os obreiros da paz

Formação e evangelização na missão de Lugano (Suíça)

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Pois o nosso combate não é contra o sangue...

• Cruzadas • História • Indicamos

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O legado espiritual e cultural de São Tomás de Aquino

• Jovem professora cristã entregou a própria vida para salvar 17 crianças em massacre nos EUA • Papa perdoa ex-mordomo e concede indulto: gesto paternal

A Igreja Celebra

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Especial O monge, o menino e o ano novo

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Especial São João da Cruz: o “Doutor” místico (parte 2)

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Shalom em Missão

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Orando com a Palavra

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Assunto do Mês Maria, mestra da fé

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Especial “Mas o que era para mim lucro, tive como perda, por amor de Cristo”

Divirta-se

Acontece no Mundo

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Acontece na Comunidade • Comunidade Shalom participa do Congresso Internacional Ecclesia in America • Escola de Líderes 2013

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Promoção Humana Conhecendo a Promoção Humana Shalom

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Entrelinhas Creio! !


Carta ao leitor 4

Ano 26 • nº 234 | Janeiro • 2013 • R$ 9,90

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este santo Ano da Fé, já iniciado em outubro de 2012, não poderíamos deixar de falar sobre Maria, a Virgem Mãe de Deus e a grande mestra da fé, aquela que verdadeiramente acreditou no Senhor e nos Seus planos divinos. Nesta primeira edição de 2013, padre Rômulo dos Anjos nos convida a voltar o nosso olhar para Nossa Senhora, modelo de quem crê e de entrega incondicional a vontade de Deus.

Filipe Cabral Coordenador Geral das Edições Shalom

Maria, Mãe e Mestra da Fé

EXPEDIENTE Coordenação Geral FILIPE CABRAL

Coordenação Editorial

CAROLINA FERNANDES

Equipe de Redação

José Ricardo F. Bezerra Irlanda Aguiar

Revisão

Eunice dos Santos Sousa Silvestre

Editor de Arte

KELLY CRISTINA

Gerente Comercial

ELIANA GOMES LIMA

Assinaturas

ÂNGELA GONÇALVES

Jornalista Responsável Egídio Serpa

SERVIÇO DE APOIO AO ASSINANTE Estrada de Aquiraz - Lagoa do Junco Aquiraz /CE CEP: 61.700-000 Para assinar ou renovar: (85) 3308.7403/ 3308.7415 Para anunciar: (85) 3308.7403 Para sugestões, dúvidas, reclamações e testemunhos, ligue-nos ou escreva-nos: shalommana@comshalom.org assinaturas1edicoes@comshalom.org www.edicoesshalom.com.br www.comshalom.org

Shalom Maná | Janeiro 2013

Ainda neste novo ano que se inicia, desejamos renovar o nosso desejo de mudança e conversão de nossos corações. Na seção “Especial”, trazemos um rico artigo sobre a conversão de São Paulo, cuja festa é celebrada no dia 25 de janeiro. Apresentamos o exemplo do grande apóstolo de Cristo que, de perseguidor dos cristãos, passa a confirmá-los na fé e a evangelizar com parresia. Por meio da seção “A Igreja Celebra”, iremos conhecer um pouco mais sobre o legado espiritual e cultural de São Tomás de Aquino, celebrado pela Igreja no dia 28 de janeiro. A partir desta edição, apresentaremos ainda para você as principais ações de Promoção Humana da Comunidade Católica Shalom em uma seção especialmente reservada para ela. Além disso, mostraremos ao longo do ano, na nova seção “Shalom em Missão”, o dia a dia, as graças e os desafios dos missionários nos diferentes países em que a Comunidade está presente. Confira ainda na Shalom Maná deste mês a palavra de Emmir Nogueira, na seção “Entrelinhas”, que nos apresenta uma rica reflexão sobre o Ano da Fé. Estes e muitos outros artigos formativos, além de notícias da Igreja e da Comunidade Shalom no Brasil e no mundo estão presentes nesta edição. Agradecemos a você por nos acompanhar no ano de 2012 e o convidamos a continuar a caminhada conosco neste santo ano que se inicia. Boa leitura! Shalom!

EDITORIAL

Maria, Mestra da Fé

ESPECIAL | A conversão de São Paulo SHALOM EM MISSÃO | Formação e evangelização na missão de Lugano (Suíça)

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Fala leitor Opinião

A IGREJA CELEBRA | Imaculada Conceição: caminho seguro para Cristo TESTEMUNHO | Unidos a exemplo da Sagrada Família

Ano 25 • nº 233 | Dezembro • 2012 • R$ 9,90

Natal

o ceu se manifesta no meio de nos

O Natal do Senhor foi o tema da edição de dezembro. O texto de padre Rômulo dos Anjos nos revela que Deus vem ao nosso encontro, que Ele não está distante de nós, pois o Senhor é o Emanuel, o Deus conosco. Ainda na Shalom Maná, apresentamos artigos das seções “A Igreja Celebra”, “Papo Jovem”, “Orando com a Palavra” e muito mais. Emmir Nogueira, na seção “Entrelinhas”, também nos trouxe uma reflexão sobre a graça de celebramos o Menino Jesus. Confira logo abaixo os comentários de nossos leitores sobre estes e outros artigos. Escreva também para nós, este espaço é seu. O nosso e-mail é: shalommana@comshalom.org. ERRATA: No artigo “São João da Cruz: o ‘Doutor’ místico”, erramos ao informar a data da celebração do santo (14 de novembro). A Igreja celebra a memória de São João da Cruz no dia 14 de dezembro. Na seção “Orando com a Palavra”, a passagem bíblica correta é Jo 8,12.

A Igreja Celebra: “Imaculada Conceição: caminho seguro para Cristo” A Imaculada Conceição leva os fiéis a uma confiança inabalável na graça redentora, que tudo refaz, redime, santifica. Ler sobre Maria é sempre maravilhoso. É conhecer mais de alguém que já amamos tanto, que já queremos tão bem, aprender sobre Ela é uma grande alegria. Excelente publicação sobre Nossa Senhora e o dogma da Imaculada Conceição, desmistificando todas as falsas mentalidades sobre nossa linda Mãe. Amei! É exatamente isso: “Contemplar a Imaculada, a toda bela, é encontrar o caminho mais curto, mais belo, mais seguro, que leva ao Cristo, a verdadeira paz”. Renata Teixeira Marciano Postulante da Comunidade Católica Shalom em Fortaleza/CE

Shalom Maná | Janeiro 2013

Especial: “São João da Cruz: o Doutor místico” “Neste artigo, apresentamos quem é São João da Cruz, o contexto histórico em que ele viveu e sua participação na reforma da Ordem Carmelita.

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Interessante e providencial artigo para nós que, no meio de tantos “barulhos” em que vivemos, vem nos lembrar a sabedoria de São João da Cruz, que nos ensina que só no silêncio interior poderemos unir nossa vontade a de Jesus, que trabalha no mais profundo de cada um de nós. Também vem nos mostrar a importância dos santos dentro do contexto histórico da Igreja. Com sua oferta de vida e seguimento radical a Jesus Cristo, São João da Cruz ajudou a sustentar a Igreja nos momentos cruciais e desafiantes. Maria Teresa Ponte de Aguiar Missionária da Comunidade Católica Shalom em Fortaleza/CE


Fé em versos

Mãe de Deus e nossa Ricardo Vale Baumgratz Privilégio incomparável A ti, oh Mãe, amar-te A ti, chamar-te Mãe Donde me vem que a Mãe do meu Senhor me visite? Das entranhas misericordiosas do teu Filho Mãe do Filho de Deus Que a mim e a todos deu como Mãe Ó Mãe amável, puríssima, admirável... Ó bem inestimável de doçura Para nós apareces Da luz precisamos E onde jazem trevas Ó Mãe da divina graça Tu vens e apareces Nesta terra santa Do Ressuscitado que passou pela cruz És Mãe e Rainha Em nossa história apareceste para os mais pobres E no seio das famílias sempre apareces como Mãe Ó bendita Senhora, consolo, auxílio, refúgio... Quantos favores devemos agradecer-te? Quanto perfume de graças se derrama de tuas mãos? Aparecida para nós, teu povo Teus filhos te amam Honram-te Ó causa de nossa alegria Mãe de Deus e nossa. www.edicoesshalom.com.br

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A palavra do papa

Bemaventurados os obreiros da paz Trecho da Mensagem do Papa Bento XVI para a celebração do 46o Dia Mundial da Paz, janeiro de 2013

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“O obreiro da paz, segundo a bemaventurança de Jesus, é aquele que procura o bem do outro, o bem pleno da alma e do corpo, no tempo presente e na eternidade.”

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ada ano novo traz consigo a expectativa de um mundo melhor. Nesta perspectiva, peço a Deus, Pai da humanidade, que nos conceda a concórdia e a paz a fim de que possam tornar-se realidade, para todos, as aspirações de uma vida feliz e próspera. À distância de 50 anos do início do Concílio Vaticano II, que permitiu dar mais força à missão da Igreja no mundo, anima-

nos constatar como os cristãos, povo de Deus em comunhão com Ele e caminhando entre os homens, se comprometem na história compartilhando alegrias e esperanças, tristezas e angústias, anunciando a salvação de Cristo e promovendo a paz para todos. Na realidade o nosso tempo, caracterizado pela globalização, com seus aspectos positivos e negativos, por sangrentos conflitos ainda em curso e por ameaças de guerra, requer um


renovado e concorde empenho na busca do bem comum, do desenvolvimento de todo o homem e do homem todo. Causam apreensão os focos de tensão e conflito causados por crescentes desigualdades entre ricos e pobres, pelo predomínio de uma mentalidade egoísta e individualista que se exprime inclusivamente por um capitalismo financeiro desregrado. Além de variadas formas de terrorismo e criminalidade internacional, põem em perigo a paz aqueles fundamentalismos e fanatismos que distorcem a verdadeira natureza da religião, chamada a favorecer a comunhão e a reconciliação entre os homens. E, no entanto, as inúmeras obras de paz, de que é rico o mundo, testemunham a vocação natural da humanidade à paz. Em cada pessoa, o desejo de paz é uma aspiração essencial e coincide, de certo modo, com o anelo por uma vida humana plena, feliz e bem-sucedida. Por outras palavras, o desejo de paz corresponde a um princípio moral fundamental, ou seja, ao deverdireito de um desenvolvimento integral, social, comunitário, e isto faz parte dos desígnios que Deus tem para o homem. Na verdade, o homem é feito para a paz, que é dom de Deus. Tudo isso me sugeriu buscar inspiração, para esta Mensagem, às palavras de Jesus Cristo: “Bem-aventurados os obreiros da paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9).

efeito, na tradição bíblica, a bem-aventurança é um gênero literário que traz sempre consigo uma boa-nova, ou seja, um Evangelho, que culmina numa promessa. Assim, as bem-aventuranças não são meras recomendações morais, cuja observância prevê no tempo devido – um tempo localizado geralmente na outra vida – uma recompensa, ou seja, uma situação de felicidade futura; mas consistem, sobretudo, no cumprimento de uma promessa feita a quantos se deixam guiar pelas exigências da verdade, da justiça e do amor. Frequentemente, aos olhos do mundo, aqueles que confiam em Deus e nas suas promessas aparecem como ingênuos ou fora da realidade; ao passo que Jesus lhes declara que já nesta vida – e não só na outra – se darão conta de serem filhos de Deus e que, desde o início e para sempre, Deus está totalmente solidário com eles. Compreenderão que não se encontram sozinhos, porque Deus está do lado daqueles que se comprometem com a verdade, a justiça e o amor. Jesus, revelação do amor do Pai, não hesita em oferecer-se a Si mesmo em sacrifício. Quando se acolhe Jesus Cristo, Homem-Deus, vive-se a jubilosa experiência de um dom imenso: a participação na

A bem-aventurança evangélica As bem-aventuranças proclamadas por Jesus (cf. Mt 5,3-12; Lc 6,20-23) são promessas. Com

“Para nos tornarmos autênticos obreiros da paz são fundamentais a atenção à dimensão transcendente e o diálogo constante com Deus, Pai misericordioso, pelo qual se implora a redenção que nos foi conquistada pelo seu Filho Unigênito.”

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própria vida de Deus, isto é, a vida da graça, penhor de uma vida plenamente feliz. De modo particular, Jesus Cristo dá-nos a paz verdadeira, que nasce do encontro confiante do homem com Deus. A bem-aventurança de Jesus diz que a paz é, simultaneamente, dom messiânico e obra humana. Na verdade, a paz pressupõe um humanismo aberto à transcendência; é fruto do dom recíproco, de um mútuo enriquecimento, graças ao dom que provém de Deus e nos permite viver com os outros e para os outros. A ética da paz é uma ética de comunhão e partilha. Por isso, é indispensável que as várias culturas de hoje superem antropologias e éticas fundadas sobre motivos teóricos e práticos meramente subjetivistas e pragmáticos, em virtude dos quais as relações da convivência se inspiram em critérios de poder ou de lucro, os meios tornam-se fins e vice-versa, a cultura e a educação concentram-se apenas nos instrumentos, na técnica e na eficiência. Condição preliminar para a paz é o desmantelamento da ditadura do relativismo e da apologia de uma moral totalmente autônoma, que impede o reconhecimento de quão imprescindível seja a lei moral natural inscrita por Deus na consciência de cada homem. A paz é construção em termos racionais e morais da convivência,

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fundando-a sobre um alicerce cuja medida não é criada pelo homem, mas por Deus. Como lembra o Salmo 29, “O Senhor dá força ao seu povo; o Senhor abençoará o seu povo com a paz” (v. 11). A paz: dom de Deus e obra do homem A paz envolve o ser humano na sua integridade e supõe o empenhamento da pessoa inteira: é paz com Deus, vivendo conforme a sua vontade; é paz interior consigo mesmo, e paz exterior com o próximo e com toda a criação. Como escreveu o Beato João XXIII na Encíclica Pacem in terris – cujo cinquentenário terá lugar dentro de poucos meses –, a paz implica principalmente a construção de uma convivência humana baseada na verdade, na liberdade, no amor e na justiça. A negação daquilo que constitui a verdadeira natureza do ser humano, nas suas dimensões essenciais, na sua capacidade intrínseca de conhecer a verdade e o bem e, em última análise, o próprio Deus, põe em perigo a construção da paz. Sem a verdade sobre o homem, inscrita pelo Criador no seu coração, a liberdade e o amor depreciam-se, a justiça perde a base para o seu exercício. Para nos tornarmos autênticos obreiros da paz são fundamentais a atenção à dimensão transcendente e o diálogo constante com Deus, Pai misericordioso, pelo


“A realização da paz depende sobretudo do reconhecimento de que somos, em Deus, uma única família humana.”

qual se implora a redenção que nos foi conquistada pelo seu Filho Unigênito. Assim o homem pode vencer aquele germe de obscurecimento e negação da paz que é o pecado em todas as suas formas: egoísmo e violência, avidez e desejo de poder e domínio, intolerância, ódio e estruturas injustas. A realização da paz depende sobretudo do reconhecimento de que somos, em Deus, uma única família humana. Esta, como ensina a Encíclica Pacem in terris, está estruturada mediante relações interpessoais e instituições sustentadas e animadas por um “nós” comunitário, que implica uma ordem moral, interna e externa, na qual se reconheçam sinceramente, com verdade e justiça, os próprios direitos e os próprios deveres para com os demais. A paz é uma ordem de tal modo vivificada e integrada pelo amor, que se sentem como próprias as necessidades e exigências alheias, que se fazem os outros comparticipantes dos próprios bens e que se estende sempre mais no mundo a comunhão dos valores espirituais. É uma ordem realizada na liberdade, isto é, segundo o modo que corresponde à dignidade de pessoas que, por sua própria natureza racional, assumem a responsabilidade do próprio agir. A paz não é um sonho, nem uma utopia; a paz é possível. Os nossos olhos devem ver em profundidade, sob a superfície das aparências e dos fenômenos, para vislumbrar uma realidade positiva que existe nos corações, pois cada homem é criado à imagem de Deus e chamado a crescer contribuindo para a edificação de um mundo novo. Na realidade, através da encarnação do Filho e da redenção por Ele operada, o próprio Deus entrou na história e fez surgir uma nova criação e uma nova aliança entre Deus e o homem (cf. Jr 31,31-34), oferecendonos a possibilidade de ter “um coração novo e um espírito novo” (cf. Ez 36,26). Por isso mesmo, a Igreja está convencida de que urge um novo anúncio de Jesus Cristo, primeiro

e principal fator do desenvolvimento integral dos povos e também da paz. Na realidade, Jesus é a nossa paz, a nossa justiça, a nossa reconciliação (cf. Ef 2,14; 2Cor 5,18). O obreiro da paz, segundo a bem-aventurança de Jesus, é aquele que procura o bem do outro, o bem pleno da alma e do corpo, no tempo presente e na eternidade. A partir deste ensinamento, pode-se deduzir que cada pessoa e cada comunidade – religiosa, civil, educativa e cultural – é chamada a trabalhar pela paz. Esta consiste, principalmente, na realização do bem comum das várias sociedades, primárias e intermédias, nacionais, internacionais e a mundial. Por isso mesmo, pode-se supor que os caminhos para a implementação do bem comum sejam também os caminhos que temos de seguir para se obter a paz. Uma pedagogia do obreiro da paz Concluindo, há necessidade de propor e promover uma pedagogia da paz. Esta requer uma vida interior rica, referências morais claras e válidas, atitudes e estilos de vida adequados. Com efeito, as obras da paz concorrem para realizar o bem comum e criam o interesse pela paz, educando para ela. Pensamentos, palavras e gestos de paz criam uma mentalidade e uma cultura da paz, uma atmosfera de respeito, honestidade e cordialidade. Por isso, é necessário ensinar os homens a amaremse e educarem-se para a paz, a viverem mais de benevolência que de mera tolerância. Incentivo fundamental será “dizer não à vingança, reconhecer os próprios erros, aceitar as desculpas sem as buscar e, finalmente, perdoar”, de modo que os erros e as ofensas possam ser verdadeiramente reconhecidos a fim de caminhar juntos para a reconciliação. Isto requer a difusão de uma pedagogia do perdão. [...] Faço votos de que todos possam ser autênticos obreiros e construtores da paz, para que a cidade do homem cresça em concórdia fraterna, na prosperidade e na paz. www.edicoesshalom.com.br

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orando com a palavra Shalom Maná | Janeiro 2013

“Pois o nosso combate não é contra o sangue...”

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No combate espiritual, São Paulo exorta os cristãos a vestirem uma armadura, a de Deus. Com ela, podem resistir às insídias ou ciladas do diabo e, no dia mau, sair firmes de todos os combates. José Ricardo F. Bezerra Missionário da Comunidade Católica Shalom em Fortaleza/CE


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omo sempre fazemos antes de iniciar a leitura, peçamos o auxílio do Espírito Santo. Oremos: “Ó vinde, Espírito Santo, enchei os corações dos vossos fiéis, acendei neles o fogo do vosso amor. Enviai, Senhor, o vosso Espírito e tudo será criado e renovareis a face da terra”. Oremos: “Ó Deus que instruístes os corações dos vossos fiéis com a luz do Espírito Santo, fazei que apreciemos retamente todas as coisas segundo o mesmo Espírito e gozemos sempre de sua consolação. Por Cristo, Senhor nosso. Amém”. Você que é leitor antigo da Revista Shalom Maná sabe que o objetivo desta seção é levá-lo a ler, meditar e orar com a Palavra de Deus por meio do antigo e comprovado método da lectio divina, que consiste em quatro passos: leitura, meditação, oração e contemplação. Tomemos hoje uma passagem da primeira Carta de São Paulo aos Efésios, capítulo 6, versículos de 10 a 20 (Ef 6,10-20) sobre o combate espiritual e façamos a nossa lectio deste dia. Leia, devagar, à meia voz, os versículos indicados. A armadura de Deus

“Contra uma pessoa de fé o Maligno perde a força, pois ela sabe que Deus é fiel e já derrotou a morte e venceu todo o mal. Qual o tamanho da sua fé?”

Shalom Maná | Janeiro 2013

O apóstolo inicia este trecho dizendo: “Fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos da armadura de Deus...” Na Antiguidade, as principais armas usadas eram as espadas, as lanças e as flechas lançadas dos arcos. Para se protegerem contra elas, os soldados iam para as guerras vestindo uma armadura. No combate espiritual, São Paulo exorta os cristãos também a vestirem uma armadura, a de Deus. Com ela, podem resistir às insídias ou ciladas do diabo e, no dia mau, sair firmes de todos os combates. E que armadura era esta? Vejamos. O primeiro item é o cinto da verdade. Dizer a verdade, ser sempre verdadeiro em atos e palavras e não compactuar com a mentira, pois o

diabo é mentiroso e pai da mentira (cf. Jo 8,44). No Evangelho, Jesus diz que o nosso sim seja sim e o não, não, pois o que passa disto vem do Maligno (cf. Mt 5,37). Examine suas palavras e atitudes. Você tem usado o cinturão da verdade? O segundo item da armadura é a couraça da justiça. O que é a justiça? Diz o Catecismo da Igreja Católica (§1807) que “a justiça é a virtude moral que consiste na vontade constante e firme de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido.” E o que é devido a Deus? A Ele devemos todo amor, obediência e adoração. É por isso que o apóstolo João alerta: “Filhinhos, que ninguém vos desencaminhe. O que pratica a justiça é justo, assim como ele é justo. Aquele que comete pecado é do diabo, porque o diabo é pecador desde o princípio. Para isto é que o Filho de Deus se manifestou: para destruir as obras do diabo. Nisto se revelam os filhos de Deus e os filhos do diabo: todo o que não pratica a justiça não é de Deus, nem aquele que não ama a seu irmão.” (1Jo 3,7-8.10). Colocar a couraça da justiça é ser justo com Deus e com os outros. É não pecar e sim amar a Deus e ao próximo. A couraça protege o peito e as costas contra os golpes do inimigo. Como está a sua couraça da justiça? Você anda protegido por ela ou está desguarnecido? Você tem dado a Deus e ao próximo o que lhes é devido? O terceiro ponto é ter os pés calçados com o zelo para propagar o Evangelho da paz. “Ai de mim se eu não evangelizar”, diz São Paulo. Além de ser um dever do cristão e a melhor proteção para os pés, anunciar a Boa-Nova torna belos os pés do apóstolo, como nos diz o profeta Isaías: “Como são belos sobre os montes, os pés do mensageiro que anuncia a paz, do que proclama boas novas e anuncia a salvação...” (Is 52,7). Como está o seu zelo em evangelizar? Você anuncia Jesus Cristo com parresia, com

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“Colocar a couraça da justiça é ser justo com Deus e com os outros. É não pecar e sim amar a Deus e ao próximo.” ousadia, ou ainda é tímido e tem vergonha do que vão pensar de você? O próximo item da armadura de Deus é o escudo da fé para extinguir os dardos inflamados do Maligno. No Evangelho, Jesus nos diz que se tivermos fé, mesmo pequena como um grão de mostarda (cf. Lc 17,6), poderemos realizar grandes maravilhas. Contra uma pessoa de fé o Maligno perde a força, pois ela sabe que Deus é fiel e já derrotou a morte e venceu todo o mal. Qual o tamanho da sua fé? Você crê, de fato, na vitória da cruz e da ressurreição de Jesus? Você acha que pode resistir ao Maligno sem o escudo da fé? O escudo da fé e a espada do Espírito Para proteger a cabeça o apóstolo nos exorta a usar o capacete da salvação. Jesus quer que todos os homens sejam salvos (1Tm 2,4) e já pagou um alto preço pelo nosso resgate (1Cor 6,20). Por isso, devemos assumir a salvação, mas sem cair no pecado da presunção. O Catecismo (§2092) também nos diz que “há duas espécies de presunção. Ou o homem presume de suas capacidades (esperando poder salvar-se sem a ajuda do alto), ou então presume da onipotência ou da misericórdia de Deus (esperando obter seu perdão sem conversão e a glória sem mérito).” Na Carta aos Romanos, São Paulo nos diz que “já é tempo de acordar, pois a nossa salvação agora está mais perto do que quando começamos a acreditar. A noite avançou e o dia se aproxima. Portanto, deixemos as obras das trevas e vistamos a armadura da luz.” (Rm 13,11b-12). Sua vida demonstra que você já assumiu a salvação? Se numa mão precisamos ter o escudo da fé, na outra devemos empunhar a espada do Espírito, que é a Palavra de Deus. Mas atenção! O Diabo também conhece a Palavra de Deus (cf. Mt 4,1-11), mas a diferença é que não a pratica. Quem ouve a Palavra e a põe em prática está firme e nenhuma tempestade o pode abalar. Você conhece e vive a Palavra de Deus? Com esta armadura, o cristão estará preparado para o combate espiritual, pois não é contra criaturas de carne que devemos lutar e sim contra 14

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os espíritos do mal que querem a nossa perdição ao nos desviar dos caminhos de Deus. E sem orações não conseguiremos. “Orai em todo o tempo, no Espírito...” (Ef 6,18b). Oração Na luta contra o Maligno, você pode começar sua oração renunciando a Satanás e suas obras e seduções. Peça a ajuda de São Miguel: “São Miguel Arcanjo, protegei-nos no combate, cobri-nos com vosso escudo contra os embustes e ciladas do demônio. Subjugue-o Deus, instantemente o pedimos e vós, príncipe da milícia celeste, pelo divino poder, precipitai no inferno a Satanás e aos outros espíritos malignos que andam pelo mundo para perder as almas. Amém.” Reze também a oração da medalha de São Bento: “A Cruz Sagrada seja a minha luz. Não seja o dragão o meu guia. Retira-te, Satanás, nunca me aconselhes coisas vãs. É mau o que tu me ofereces, bebe tu mesmo os teus venenos.” E ainda a oração de exorcismo de Santo Antônio: “Eis a cruz do Senhor! Fugi forças inimigas! Venceu o Leão de Judá, a raiz de Davi! Aleluia!”. Continue seguindo as moções que o Espírito Santo lhe inspirar. Ao final da lectio, lembre-se de tomar o seu caderno de oração e anotar as graças que o Senhor o(a) fez experimentar. Se puder, escreva-nos dando o seu testemunho. É uma alegria tê-lo(a) como leitor(a). Veja os endereços no expediente da revista ou envie sua mensagem para o e-mail: josericardo@ comshalom.org. C onc e d ei - nos , ó S en hor, c on he c er profundamente o mistério da Salvação, para que, sem temor e livres dos inimigos, vos sirvamos na justiça e santidade, todos os dias da vida. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Ó Maria, Rainha dos pecadores e consoladora dos aflitos, rogai por nós! Até o próximo mês! Shalom!


a igreja celebra

O legado espiritual e cultural de São Tomás de Aquino

Josefa Martins da Rocha Missionária da Comunidade Católica Shalom em Civita Castellana (Itália)

Shalom Maná | Janeiro 2013

São Tomás de Aquino desempenhou um trabalho de importância fundamental para a história da filosofia, da teologia e da cultura. Mostrou que entre fé cristã e razão subsiste uma harmonia natural.

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fetivamente, a fé é de algum modo exercitação do pensamento; a razão do homem não é anulada nem humilhada quando presta assentimento aos conteúdos de fé; é que estes são alcançados por decisão livre e consciente”, é o que afirma São Tomás de Aquino, na obra “Summa theologie I”. Conhecer a história e a obra deste santo é ter acesso a um testemunho concreto e um estímulo para se vivenciar, de maneira mais profunda e coerente, o Ano da Fé. Tomás de Aquino foi declarado Patrono das Escolas e Universidades Católicas em 1880, pelo Papa Leão XII, devido ao grande legado espiritual e cultural que deixou não só para a Igreja, mas para a humanidade. Com grande mérito, demonstrou a harmonia entre a fé e a razão e trouxe incomparável contribuição para a Teologia e a Filosofia. A Igreja o chama Doutor Angélico e Doutor Comum ou Universal, devido à riqueza de sua obra, e celebra sua memória no dia 28 de janeiro. A influência aristotélica Tomás nasceu entre os anos 1224 e 1225, em Roccasecca (Itália), nos arredores de Aquino, perto da célebre abadia de Montecassino. Foi nessa

“Todos os dotes intelectuais de S. Tomás de Aquino estavam aliados a uma serenidade e domínio sobre si incomparáveis, pois, como fonte do saber, não recorria apenas aos livros, mas se prostrava em longo tempo de oração diante de Jesus Sacramentado.” 16

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abadia que recebeu sua instrução inicial. Mais tarde transferiu-se para a capital do Reino da Sicília, Nápoles, onde Frederico II tinha fundado uma prestigiosa universidade. Ali nasceu a vocação dominicana de Tomás e a forte influência do pensamento do filósofo grego Aristóteles, de quem intuiu imediatamente o grande valor. Em 1245, Tomás foi enviado a Paris para estudar Teologia sob a guia de Santo Alberto Magno. Alberto levou Tomás para Colônia, onde entrou em contato com todas as obras de Aristóteles e dos seus comentadores árabes Avicena e Averroes, que as transmitiram ao mundo latino. Naquele período, os escritos de Aristóteles sobre a natureza do conhecimento, as ciências naturais, a metafísica, a alma e a ética, ricos de informações e de intuições que pareciam válidas e convincentes, influenciavam profundamente a cultura do mundo latino. Muitos ficaram fascinados e acolheram com entusiasmo acrítico o que lhes era transmitido da filosofia aristotélica, acreditando que poderia renovar grandemente a cultura, abrir horizontes totalmente novos. Porém, outros temiam que o pensamento de Aristóteles, com a sua racionalidade radical e desenvolvido antes e sem a presença de Cristo, estivesse em oposição à


fé cristã e, por isso, rejeitavam estudá-lo. Alguns rejeitavam Aristóteles também por causa da apresentação que os comentadores árabes fizeram dele. Desencadearam-se disputas infinitas nos mundos universitário e eclesiástico. Tomás de Aquino encontrou novas traduções latinas dos textos originais de Aristóteles em grego e os leu e estudou profundamente, fazendo o mesmo com os escritos de seus intérpretes. Ele comentou uma boa parte das obras aristotélicas, fazendo a distinção entre o que era válido daquilo que era duvidoso, ou que deveria ser totalmente rejeitado. Demonstrou a consonância dos escritos de Aristóteles com os dados da Revelação cristã e utilizou, ampla e perspicazmente, o pensamento aristotélico na exposição dos escritos teológicos que ele mesmo compôs. Fé e razão Aquino desempenhou um trabalho de importância fundamental para a história da filosofia, da teologia e da cultura. Mostrou que entre fé cristã e razão subsiste uma harmonia natural. Naquele momento de desencontro entre duas culturas, em que parecia que a fé devia render-se perante a razão, ele demonstrou que fé e razão caminham juntas. Demonstrou ainda que quanto parecia ser a razão não compatível com a fé, não era razão; e aquilo que parecia ser fé, não era tal, enquanto se opunha à verdadeira racionalidade. Assim, Tomás criou uma nova síntese, que veio a formar a cultura dos séculos seguintes. E esta foi sua grande obra. São Tomás nos faz compreender que a graça divina não anula, mas supõe e aperfeiçoa a natureza humana. Ele estabeleceu a doutrina da analogia. Com base em argumentos puramente filosóficos, Tomás de Aquino explicou também que, com a Revelação, Deus mesmo falou a nós e, portanto, nos autorizou a falar Dele. Tomás escreveu comentários sobre a Sagrada Escritura, sobre os escritos de Aristóteles, tratados e discursos sobre vários argumentos e obras sistemáticas inigualáveis, entre as quais se sobressai a Summa Theologia. A interpretação de Aristóteles formulada por Tomás não era aceita por todos, mas até os seus adversários no campo acadêmico admitiam que sua doutrina era superior a outras pela sua utilidade e valor. Além do estudo e do ensino, Tomás dedicou-

se à pregação pública. Todos esses dotes intelectuais estavam aliados a uma serenidade e domínio sobre si incomparáveis, pois, como fonte do saber, não recorria apenas aos livros, mas se prostrava em longo tempo de oração diante de Jesus Sacramentado. Aquino assegurou, depois, ter aprendido mais desta forma do que em todos os estudos que fizera. Ele fazia também frequentes jejuns e penitências. Faleceu enquanto viajava para Lião, onde participaria do Concílio Ecumênico proclamado pelo Papa Gregório X. Seu falecimento ocorreu na Abadia Cisterciense de Fossanova, depois de ter recebido o Viático com sentimentos de grande piedade.

“São Tomás nos faz compreender que a graça divina não anula, mas supõe e aperfeiçoa a natureza humana.” www.edicoesshalom.com.br

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especial

O monge, o menino e o ano novo Peçamos a Deus, que faz novas todas as coisas, que esse ano seja realmente novo. Não por que conquistarei tudo que quero, mas por que eu sou uma nova criatura. Rodrigo Santos Missionário da Comunidade Católica Shalom em Fortaleza/CE

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erta vez, um garoto fora apanhado pelo abade roubando frutas no pomar do mosteiro. O velho monge debaixo d a ár vore, irritadíssimo, observava o menino. Ao se perceber olhado, o jovem apavorou-se e teve medo. O abade, porém, investigando os tesouros de sua vasta sabedoria, resolveu mudar de reação, julgando que houvesse um motivo providencial para que ele e nenhum outro monge surpreendesse o jovem. Ele sorriu e gritou lá debaixo: “Colha algumas para mim!!! Sou muito idoso e não posso fazê-lo”. O jovem suspirou aliviado. Depois de colher o bastante, sentou-se debaixo da árvore com o venerável monge e conversaram sobre muitas coisas. O adolescente, encantado com a vida do velho monge, perguntou com os olhos cheios de vida e ávidos de desafio como é próprio

dos jovens: “Que tentações um monge como o senhor ainda pode sofrer, visto que és tão experiente e já venceu tantas batalhas?” O abade, com o rosto sulcado pela idade, sorriu largamente, amando aquele garoto como Jesus amou o jovem do Evangelho (cf. Mc 10,21) e disse: “Nunca estaremos livres das tentações. Mas, penso – continuou o monge agora com o rosto grave e olhar fitado no horizonte – a maior tentação que corremos o risco de cair, mesmo depois de anos de amizade e intimidade com Deus, é uma só. Todas as outras tentações provêm desta”. O garoto arregalou os olhos e mais ainda os ouvidos, como que querendo não perder nada e registrar no íntimo da memória as sábias palavras do velho religioso. Disse então o monge: “É achar que Deus não é mais novidade para nós. É pensar que tudo que era para eu ter


visto, ouvido e experimentado da parte de Deus, já vi, já ouvi, já experimentei. Como se Deus fosse um ser descodificado para mim”. O jovem interessado, mas ainda confuso, interpelou o velho, dizendo: “E isso é muito ruim, não é?” “Sim”, continuou o monge: “Traz inúmeras consequências. Se Deus não for uma eterna novidade para mim, Jesus se transforma numa personagem histórica simplesmente, como Galileu, Tiradentes e outros, que fizeram e disseram grandes coisas, mas ficaram sepultados no passado. Se Deus não for novidade para mim, a Bíblia vira um livro de história, de romance, de poesia e nada mais que isso. A missa vira uma peça de teatro ou um filme que eu já vi mil vezes. O terço vira uma série de repetições vazias, nosso trabalho na vinha do Senhor vira um funcionalismo mecânico, sem amor. Nossa evangelização fica sem ardor e nossa vida de oração fria, sem unção, por que estamos nos relacionando com um ser desgastado, sem vida. Ao contrário, meu caro jovem – continua o monge – se Deus for uma eterna novidade, tudo ganha cor e vida. Jesus se apresenta para mim, como o Vivente, Aquele que não só curou, mas continua curando, salvando, amando”. O velho monge dá uma pausa e parece embargar a voz. Com os olhos umedecidos, continua: “A Bíblia se torna para nos, verdadeiramente, a Palavra de Deus. ‘Luz para nossos passos, lâmpadas para nossos pés’. Torna-se direção, rocha na qual jovens como você podem construir seu futuro e anciões como eu podem encontrar consolo e repouso na velhice”. “Ah! A santa missa – diz o monge com a face radiante – torna-se para mim a atualização da paixão, morte e ressurreição de Jesus. Somos transportados pelo Espírito até o calvário. O terço vira uma arma de combate e um escudo contra o mal. Por fim, meu

“Onde está Deus, não há rotina. Deus é amor, e o amor faz com originalidade as coisas mais repetitivas e ordinárias.”

filho, a evangelização...” Interrompe o garoto: “Já sei! Já sei! A evangelização ganha ardor, vida e leva muitas pessoas a experiência com o amor de Deus”. Sorriu o monge, dizendo: “Isso mesmo. Como você percebeu isso?” Disse emocionado o garoto: “É o que está acontecendo comigo agora”. O abade o abraçou e o levou para casa. Eterna novidade Essa história muito tem a nos ensinar. Acabou-se um ano, estamos iniciando outro. Quantos propósitos, planos e promessas as pessoas envolvidas pela emoção das festas de final de ano acabam fazendo? Emagrecer, passar no vestibular, fazer aquele curso, se casar, etc. Pode ser que tais propósitos sejam muito lícitos ou até mesmo santos, mas, se Deus não for a eterna novidade, podemos correr o risco de não encontrarmos sabor em nada. Para alguns, o ano se inicia com uma lista imensa de rotinas a ser cumprida no trabalho, na família, na Obra, etc. Se, porém, Deus for novidade, não há monotonia nem rotina. Onde está Deus, não há rotina. Deus é amor, e o amor faz com originalidade as coisas mais repetitivas e ordinárias. Precisamos, antes de tudo, iniciar esse ano com o seguinte entendimento: eu não conheço quase nada de Deus. Tudo que experimentei até hoje, em seminários, retiros, aprofundamentos ao longo de minha vida de fé, é ainda um grão de areia perto de tudo aquilo que Deus é e pode dar-me de experiência com Ele e com seu amor. O pior ainda pode acontecer se Deus não for esse novo eterno a irradiar luz na nossa vida. Corremos um sério perigo de buscar novidade em outros lugares, longe de Deus e do seu amor. Fechados em nós mesmos, morreremos nos velhos hábitos, comportamentos e mentalidades. Peçamos a Deus, que faz novas todas as coisas, que esse ano seja realmente novo. Não por que conquistarei tudo que quero, mas por que eu sou uma nova criatura. Sem dúvida alguma terei um ano feliz, mesmo sem dinheiro no bolso ou, se assim Deus permitir, sem saúde para dar e vender, como diz a tradicional canção. Terei um ano feliz, mesmo com aquela sensação de que talvez tenha deixado muitas coisas incompletas, humanamente falando, e não tenha conquistado quase nada que planejei, mas vivi o que Deus queria que eu vivesse. Feliz ano novo! www.edicoesshalom.com.br

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especial

São João da Cruz: o “Doutor” místico (parte 2)

Continuando o artigo sobre São João da Cruz iniciado na edição passada, adentraremos agora no mistério do Amor Esponsal, na fé, na esperança e na caridade, vias seguras para a santidade.

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Cristiano Pinheiro Missionário da Comunidade Católica Shalom em Roma

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oão da Cruz é também conhecido como “príncipe dos poetas espanhóis”, homem de uma aguda inteligência que soube usar a simbologia e o lirismo poéticos como veículos de transmissão da sua profundíssima experiência espiritual. João da Cruz, como pai do Carmelo reformado, soube passar muito bem aos seus “filhos espirituais” este modo de descrever com beleza os mistérios do mundo interior, da capacidade de transcendência que cada um de nós possui. O homem entra em relação com Deus, fala com Ele como se fala a um amigo, como diz Teresa de Ávila, e mais que isso, a alma humana, na experiência espiritual da oração e da vida, entra em uma relação esponsal com Deus. São João da Cruz é um dos grandes mestres da “esponsalidade”, trazendo à luz esta grande imagem esponsal presente já desde os tempos do antigo povo de Israel, como nos mostra o Primeiro Testamento. Santa Teresa de Lisieux, a Beata Elisabete da Trindade, o Servo de Deus padre Maria Eugênio e tantos outros grandes homens e mulheres da Ordem Carmelita foram autores de uma particular e fecunda “literatura espiritual”, patrimônio de indizível valor que ilumina a vida da Igreja em muitas partes do mundo. Estes santos podem ser considerados, certamente, herdeiros de seu “pai” João da Cruz, e todos eles puderam, de uma forma ou de outra, compartilhar daquela sua forte “veia esponsal” presente na sua experiência pessoal e nos seus escritos. Um selo divino Em meio às perseguições que sofreu pelas mãos de seus próprios irmãos da Ordem do Carmelo de antiga observância, João da Cruz passou longos meses encarcerado em Toledo, na época em que ele

foi diretor espiritual do convento da Encarnação, em Ávila, onde Santa Teresa foi priora. No “Cárcere de Toledo”, vivendo física e psicologicamente a experiência da prisão, da privação de tudo, da escuridão, voltou-se para a beleza de seu mundo interior e redigiu um de seus mais belos e importantes escritos: o “Cântico Espiritual”. Na estreiteza do cárcere, João testemunha a largueza de sua interioridade, compondo uma das mais belas obras-primas da mística católica, cujo conteúdo é predominantemente esponsal, uma releitura do livro do Cântico dos Cânticos, páginas bíblicas que estavam cravadas em seu coração, tanto que alguns anos mais tarde, no leito de morte, pediu que este livro fosse lido em voz alta enquanto ele partia para o Pai. Criado à “imagem e semelhança de Deus” (cf. Gn 1,26), o coração humano foi marcado com um “selo divino”, uma meta a qual tende pelo simples fato de ser quem é: imagem de Deus. O homem, então, não pode tirar Deus do seu horizonte, pois seria uma negação que faria a si mesmo. A humanidade vive em Deus e para Deus, existe para unir-se a Ele, e fora disso tudo é pouco, é medíocre, não diz respeito à sua essência e ao seu destino. O “Doutor Místico”, São João da Cruz, é um dos grandes santos da Igreja que, munido de uma profunda experiência pessoal de união com o Senhor, tenta descrever este caminho de “subida” que o homem, durante o percurso de sua vida, faz em direção a Deus. Mística e ascese São João da Cruz possui uma frase muito forte, mas muito acertada do ponto vista teológico e existencial: “O que Deus deseja é fazer-nos deuses por participação, sendo Ele Deus por

“Deus tem um propósito de união, criou o homem justamente para isso: para que este, livremente, escolhesse “perder-se” em Deus e assim “existir” em plenitude.” www.edicoesshalom.com.br

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natureza." Assim como o Fogo tudo transforma em fogo, faz participar às suas chamas tudo aquilo que, por natureza, não é fogo. Deus tem o intento de transformar-nos nele comunicando a nós, dia após dia, a Sua graça e a Sua santidade. Nós que, todavia, não fomos criados “deuses”, fomos criados “capazes de união”, capazes de “deificação”, com uma sede infinita de retornar Àquele que nos fez para si, como diria, em outras palavras, Santo Agostinho de Hipona. Deus tem um propósito de união, criou o homem justamente para isso: para que este, livremente, escolhesse “perder-se” em Deus e assim “existir” em plenitude. Vocacionado à divinização, o homem pode escolher percorrer, com liberdade e adesão profunda de coração, a via evangélica da santidade, via de uma forte presença das livres iniciativas da graça divina e na qual ocorre desempenhar uma adesão pessoal a esta graça, colaborando com ela através do amor. Em outras palavras, podemos encontrar dois termos que, resumidamente, podem nos introduzir no caminho proposto por João da Cruz: mística e ascese. Em modo simples, podemos dizer que a “mística” é o “amor recebido”, aquilo que Deus nos dá como graça e força no caminho que leva ao “cume do monte”. Da mesma forma, podemos chamar de “ascese” o “amor oferecido”, é a “nossa parte” em relação a Deus, o que fazemos movidos por sua graça e por amor a Ele e aos outros. Acolher a oferta gratuita e generosa de Cristo sobre a cruz, ali onde o Esposo se entrega por sua Esposa (neste caso, toda a humanidade), é o verdadeiro ponto de partida de uma “vida mística”. Por outro lado, a participação nesta “mística” que

“Só a Fé, a Esperança e a Caridade podem nos encher de Deus, esvaziando-nos de tudo aquilo que não é de Deus.” 22

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envolve todo o ser e o operar do homem, o unir-se ao sacrifício de Cristo nos mais diversos acontecimentos da vida concreta, nas “cruzes” simplesmente acolhidas ou naquelas ofertadas em penitência ao Senhor, é a “ascese” necessária para entrar em uma dinâmica esponsal com Deus: amor recebido e amor doado, um só movimento de amor. O amor de Cristo Esposo As duas obras poéticas mais longas compostas por nosso santo poeta são o “Romance sobre a Trindade e a Encarnação” e o já citado “Cântico Espiritual”. Estas obras são como que dois “faróis” que iluminam o grande símbolo do Esposo e da Esposa, fundamental em todas as obras de João da Cruz. No “Romance”, a simbologia esponsal é contemplada por João nas mais vastas dimensões da história da Criação e da Redenção, símbolo que chega a nós a partir do coração do Deus-Trindade e que encontra seu fundamento no mistério da Encarnação. O “Romance” narra de modo geral este movimento esponsal da Trindade com relação a toda a história, enquanto no “Cântico”, este mesmo símbolo esponsal é contemplado na história da própria pessoa, de cada pessoa, na “história de uma alma” de cada um, tomando emprestado o título da autobiografia de Teresa de Lisieux. No “Cântico Espiritual”, a esponsalidade encontra seu fundamento no mistério da cruz. O Esposo é sempre o Cristo, a Esposa é a Igreja, ampliada às dimensões da história da Criação e da Salvação (poesia do Romance) ou concentrada na história de cada pessoa (Cântico Espiritual). Na cruz, “leito das almas esposas”, o Redentor do homem toca o mal do pecado e o destrói em si, restituindo a liberdade à sua “amada”: a Igreja e cada homem. Com a grande crise moral e espiritual que atingiu o mundo em 1968 e com toda a carga egoísta-hedonista-consumista-materialista que tocou os homens daquele tempo e toca até os nossos dias, a simbologia esponsal, assim como todos os valores que foram eclipsados pelo relativismo moral, precisam ser redescobertos. Particularmente, o valor esponsalidade é imprescindível para que o homem de hoje reaprenda o valor de amar e de viver o dom da castidade, virtude que capacita o homem a uma fé límpida, que o habilita à “visão de Deus”, pois, de


fato, “os puros verão a Deus” (cf. Mt 5,8) e são estes que “subirão à montanha do Senhor” (cf. Sl 24,3). Fé, Esperança e Amor Segundo o ensinamento de São Paulo (cf. 1Cor 13), os dons principais do Espírito Santo na Igreja, nesta vida, são a Fé, a Esperança e a Caridade (o amor: ágape); sendo o maior de todos a Caridade. São as três modalidades essenciais da graça recebida no Batismo, os meios para a santidade, para a união com Deus e para o conhecimento de Deus em Jesus Cristo. São Tomás de Aquino as chama Virtutes Theologicae, ou seja, “Virtudes Teológicas”, ou “teologais”. Para São João da Cruz, estas virtudes são o único fundamento da alma de uma vida espiritual autêntica, o lugar da expressão mística, o único meio para a união com Deus, da santidade. Na Fé, Esperança e Caridade, a graça de Deus “desposa” plenamente a nossa liberdade humana; é como o ponto de intercessão entre a ação de Deus e a ação do homem. São João da Cruz as considera do ponto de vista ativo na Subida ao Monte Carmelo, já que elas colocam em jogo todo o empenho da nossa liberdade, do nosso esforço para viver a vida que Deus nos oferece, eis o verdadeiro significado da ascese.

Longe de ser uma agressão à nossa vida, sermos “tomados” por Deus é o caminho da mais perfeita felicidade para o coração do homem, criado com o “selo divino”, vocacionado, desde a sua criação, à santidade de Deus! Abraçado pelo amor da Trindade, o homem vai sendo envolvido por uma “chama viva de amor”, através de Cristo, no Espírito Santo. É um abraço no qual reside um sempre mais profundo conhecimento amoroso de Deus. Nunca poderemos esgotar o conhecimento ao qual a nossa inteligência tem acesso com relação a Deus, contudo, vamos sendo envolvidos por um fogo cada vez mais ardente, que vai nos fazendo penetrar nele, na Sua verdade, na Sua essência, no Seu amor. Não transformamos Deus “em nós”, não podemos esgotá-lo, não podemos fazer dele um dos muitos conteúdos que trazemos na mente e no conhecimento, mas Deus pode nos “acolher” em Si, nos unir a Si, respeitando tudo aquilo que somos, mas trazendo-nos sempre mais “apertados contra o peito”, como um “selo em Seu coração” (cf. Ct 8,6). O amor esponsal é uma via de “dom de si” e união. A união reside justamente neste dom recíproco das partes. No seu poema “Porque te amo, Maria”, Santa Teresinha do Menino Jesus faz uma simples, mas muito densa afirmação: “Amar é dar tudo, é dar a si mesmo”. No ambiente desta “parentela espiritual” do Carmelo Descalço, podemos ver que também na doutrina de João da Cruz a esponsalidade passa por um acolhimento total do dom que o Deus-Esposo faz de Si, na Encarnação e na cruz, e por uma oferta total de si que a alma-esposa não pode “não fazer”, pois é já toda rendida em amor Àquele que deu tudo, deu a Si mesmo por ela. O matrimônio espiritual é esta “mística do dom”, um amor baseado na escolha mútua de darse desmedidamente ao outro. A doutrina de João da Cruz, no grande recital da mística carmelita, é uma verdadeira sinfonia de esponsalidade, que nos ensina o valor da abertura ao acolhimento de um “amor maior” que transcende todos os outros amores que podemos provar nesta vida, e que se transforma em resposta e dom da nossa parte. Amor que provoca amor: é isso que prova alguém que foi “ferido” pelo amor do Cristo-Esposo, assim como João, assim como eu e você. www.edicoesshalom.com.br 23


assunto do mês Shalom Maná | Janeiro 2013

Maria, mestra da fé

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Ela sempre acreditou, seja no momento do anúncio do anjo, no cotidiano da sua vida e da vida de Jesus, guardando tudo no seu coração; seja também nos momentos decisivos da sua vida e missão, até o momento da cruz. Pe. Rômulo dos Anjos Missionário da Comunidade Católica Shalom em Pacajus/CE


“Maria faz da vontade do Pai o princípio inspirador de toda a própria existência, buscando nela a força necessária para o cumprimento da missão que fora confiada”. (Papa João Paulo II)

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este primeiro artigo deste ano que se inicia, estando no Ano da Fé, queremos voltar o nosso olhar para Maria, que é Mãe e Mestra nos caminhos da fé. Mestra porque toda a sua vida e o seu caminho estão fundamentados na fé em Deus e nos Seus desígnios. Notamos que na vida de Maria o caminho da fé representa este caminho de relação com Deus e com a Sua santíssima vontade, atitude que a coloca sempre diante de Deus numa perspectiva sempre aberta e voltada para o plano divino e nunca voltada para si mesma. Portanto, já o fato de sermos chamados a crer nos coloca de algum modo na direção de Maria, pois ninguém como ela acreditou, e esta é a causa da sua bem-aventurança: “Feliz és tu que creste, porque se cumprirá o que o Senhor te anunciou” (Lc 1,45). Ela sempre acreditou, seja no momento do anúncio do anjo, no cotidiano da sua vida e da vida de Jesus, guardando tudo no seu coração; seja também nos momentos decisivos da sua vida e missão, até o momento da cruz. Portanto, nos encontramos verdadeiramente diante de um modelo de quem crê e se entrega incondicionalmente ao desejo de Deus. Em Maria, Deus sempre fez tudo o que queria, pois ela não colocou medidas e nem condições, mas fez da sua vida um verdadeiro sacrifício agradável ao Pai.

“Porque se cumprirá o que o Senhor te anunciou”! Afirma Santo Agostinho que Maria acreditou e nela se cumpriu tudo aquilo que outrora foi proferido, pois Deus sempre cumpre as suas promessas na vida daqueles que lhe são dóceis. Na Virgem encontramos uma profunda docilidade, que não significa uma simples aceitação, mas uma real assunção convicta dos projetos divinos para a sua vida. Ela, sem reservas, coloca à disposição divina, com todo empenho, todos os seus recursos pessoais. Diante desta grande atitude de Maria vemos que, de fato, Deus manifesta não somente o anúncio de mais um tempo de graças, mas o tempo por excelência da manifestação da Sua ação na vida da humanidade, revelando o seu Filho, que inaugura a plenitude dos tempos. Como foi importante esta abertura de Maria que passou a fazer, deste modo, da vontade de Deus o centro da sua vida, segundo afirmou o Papa João Paulo II em uma das suas catequeses marianas: “Maria faz da vontade do Pai o princípio inspirador de toda a própria existência, buscando nela a força necessária para o cumprimento da missão que fora confiada”. Aqui percebemos uma total obediência a tudo o que o Senhor lhe anunciou por meio do seu mensageiro, e ela está disposta a viver tudo o


“Em Maria, Deus sempre fez tudo o que queria, pois ela não colocou medidas e nem condições, mas fez da sua vida um verdadeiro sacrifício agradável ao Pai.”

que o amor divino projeta a seu respeito. Toda a vida de Maria precisa ser vista nesta perspectiva, somente assim podemos compreender o mistério da sua própria existência. Maria, Mestra para toda a Igreja No tempo dos Padres da Igreja encontramos um princípio muito belo a respeito do mistério da Virgem Maria e da Igreja: “Maria, vel Ecclesia, vel anima”, que significa: “Maria, ou seja a Igreja, ou seja a alma”. Este princípio nos revela o sentido de que aquilo que nas Sagradas Escrituras se afirma, especialmente de Maria, se entenda universalmente da Igreja e, por sua vez, o que se diz universalmente da Igreja, se entenda singularmente para cada pessoa que crê. Isso nos mostra o quanto Maria tem a dizer e ensinar a toda a Igreja e a cada cristão que deseja também viver a sua fé de maneira íntegra, unida a própria vida. Desse modo, esta reflexão não deseja simplesmente aumentar a nossa devoção à Virgem Maria, mas, sobretudo, fazer-nos compreender como Maria nos ensina a colocarmo-nos diante da Palavra de Deus e da Sua graça, que agem constantemente na 26

Shalom Maná | Janeiro 2013

nossa vida. Aquela que acreditou sempre nos revela que a primeira coisa que devemos fazer é crer, pois a fé está na base de tudo, é o fundamento de nossa vida. De fato, Jesus nos diz que a fé é a primeira obra que devemos realizar e que, por sua vez, essa é a obra de Deus (cf. Jo 6,29). Vejamos como Deus deseja em tudo se relacionar conosco através da fé e tudo realizar por meio dela. São Paulo afirma que fomos salvos pela graça de Deus mediante a fé (cf. Ef 2,8), e isso nos revela que a graça e a fé são como duas colunas da nossa salvação operada gratuitamente por Deus, sem mérito nenhum da parte do homem, mas dom gratuito e generoso do Deus Uno e Trino. Uma vez salvos, somos então conduzidos pela graça e pela fé a caminhar e a avançar nos caminhos do Senhor, que deseja nos levar à santidade. Maria acreditou com o coração, ou seja, com todo o seu ser e seu ato de fé, é tanto um confiar em Deus quanto também confiar-se plenamente a Deus. Deste modo, a graça e a fé sempre presentes na vida de Maria se tornam como duas “asas” que lhe fazem “voar” nas alturas do amor e dos planos


divinos. Maria, portanto, por meio da obediência na fé, da disponibilidade sem reservas, da fé sólida e do amor até o sacrifício, colaborou com a obra da Salvação. Ela nos indica assim um caminho seguro de santidade, que se realiza na união com Deus. Sua vida, enfim, é caracterizada por uma perfeita sintonia com a de Cristo e por uma total dedicação à obra redentora por Ele realizada, como afirma o Papa João Paulo II. A sua fé operante deu-lhe um coração generoso na sua missão. Todos juntos na “escola de Maria” Para atendermos ao apelo do Santo Padre, o Papa Bento XVI, neste ano dedicado à Fé, precisaremos nos colocar na “escola de Maria” e deixar que a sua vida e seu exemplo nos fale acerca da vivência desta fé, que deve gerar em nós seus efeitos salvíficos e nos colocar num caminho de contínuo retorno ao Pai. Retorno que consiste num acolhimento da Sua vontade para a vida de cada um e que em nada ameaça o homem, mas que, na verdade, é a única realidade que conduz o homem para a realização da sua plena liberdade e felicidade. Olhar para Maria neste ano dedicado a Fé nos faz compreender ainda mais que somos

“Aquela que acreditou sempre nos revela que a primeira coisa que devemos fazer é crer, pois a fé está na base de tudo, é o fundamento de nossa vida.”

chamados não somente a rever os elementos da nossa fé, como também a fazermos uma renovada experiência com Deus que deseja, mediante a fé, gerar uma relação nova conosco, relação esta que é vital para cada um de nós. O evangelista Lucas nos revela uma atitude singular de Maria que a caracterizou e que é um grande ensinamento para nós: “Maria, porém, conservava isso e meditava tudo em seu coração” (Lc 2,19). O verbo grego usado “sumbállousa” literalmente significa “colocar junto” e nos revela que essa atitude mariana nos indica que o Mistério deve ser descoberto pouco a pouco. Maria guardava tudo no seu coração e somente na sua escola aprendemos a captar com o coração aquilo que nossos olhos e mente não conseguem compreender sozinhos e nem podem conter, pois todo Mistério divino nos ultrapassa. O seu coração era um coração aberto à fé e, assim, ela sempre acolhia mesmo sem compreender tudo. Como Maria, somos também convidados a conservar no nosso coração tudo aquilo que Deus, por meio da sua Divina Providência, vai nos concedendo e governando a nossa vida, para que possamos acolher com o coração cheio de fé o Seu amor e a Sua vontade na nossa vida e na vida da humanidade. Tudo isso se torna possível se acolhemos esta grande Mestra, que deseja nos guiar sempre na direção de Deus. Afinal, não é ela a melhor especialista em tudo o que afirmamos acima?! PAPA BENTO XVI. Reflexões para o Ano Litúrgico, Anos A, B e C. Juiz de Fora: Editora Zás, 2010. LEXICON, DIZIONARIO TEOLOGICO ENCICLOPEDICO. Ideazione, direzione editoriale a cura di Luciano Pacomio e Vito Mancuso. Casale Monteferrato (AL): Edizioni Piemme Spa, 1993. BIBLIA DO PEREGRINO. Edição de Estudo. São Paulo: Edições Paulus, 2002. CANTALAMESSA RANIERO. Maria specchio per la chiesa. Milano: Editrice Àncora, 1990.

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especial

“Mas o que era para mim lucro, tive como perda, por amor de Cristo” Aquele homem vigoroso, que antes perseguia os cristãos, agora quer confirmálos na fé e fazer com que os judeus passem também a ser cristãos. Ele evangeliza com parresia aqueles que, antes, queria perseguir. Pe. Sílvio Scopel Missionário da Comunidade Católica Shalom em Fortaleza/CE

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Trecho de pregação proferida por Pe. Sílvio Scopel em 2012. Mantido tom coloquial.

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a partir do comércio de Tarso, a partir da sua família, conheceu também a possibilidade de realização através do mundo dos negócios. No entanto, Paulo conheceu uma quarta possibilidade de realização. Essa o marcou mais que as anteriores, que era o fato de ele ser filho de hebreu. Paulo, um homem nascido no mundo grego, que conhecia o Império Romano, o comércio de Tarso, e que era hebreu, e como hebreu, conhecia bem a sua fé. Como citamos a pouco, Paulo fora estudar junto a Gamaliel em Jerusalém, o maior mestre da época. Paulo conhecia muito bem a sua fé e, por isso, conhecia a possibilidade de realização através da prática religiosa. Sendo assim, havia quatro grandes colunas que colaboraram na formação de Paulo: o mundo grego, o mundo romano, o comércio (e o mundo hebreu) e a vida religiosa. Paulo se tornou um hebreu vigoroso, um fariseu, que perseguia os cristãos, e nós sabemos disso. Aí entra o momento da experiência dele com Cristo. Só um dado biográfico: Paulo nasceu provavelmente entre os anos 6 e 15 da era cristã, e Paulo, provavelmente entre os anos 40 e 45 da era cristã, pede aos sumos sacerdotes uma carta para ir na perseguição aos cristãos que estavam em Damasco. Ele considerava os cristãos, a Igreja nascente, realmente uma seita. Tal era a sua fé judaica, tal era o seu fervor, tal era o seu apego à lei, que Paulo vai perseguir os cristãos em Damasco. A conversão No caminho para Damasco (leia o capítulo 9 dos Atos dos Apóstolos), Paulo tem uma experiência com Cristo. O Senhor aparece a Paulo e diz: “Saulo, Saulo, porque me persegues?” Saulo, cujo nome significa “aquele que pede”, ou “aquele que é pedido”, ou seja, alguém que é cortejado, desejado. Depois da sua experiência com Deus, ele

“A vida é um tempo para colaborarmos com a graça em vista de sermos transformados em Cristo. O morrer, tanto as pequenas mortes do dia a dia como a passagem dessa vida para a eterna, é lucro.”

Shalom Maná | Janeiro 2013

ão Paulo, grande apóstolo de Jesus Cristo, apóstolo dos gentios, apóstolo que evangelizou os pagãos, homem que recebeu do Senhor a missão de edificar o Reino de Deus nos corações que estavam distantes. E quem era Paulo? Paulo de Tarso, nascido na cidade de Tarso, no mundo grego, era um homem que cresceu no mundo da filosofia, do saber. Durante toda sua infância, adolescência e início da vida adulta, era esse homem quem conhecia a possibilidade da realização humana a partir do saber humano, a partir da filosofia grega. Paulo conhecia o poder do saber, e essa realidade da filosofia grega era uma possibilidade de realização conhecida pelo nosso apóstolo: o homem que se realiza através do saber. No entanto, outra realidade que marcou a personalidade de Paulo, antes da sua experiência com Cristo, foi o mundo romano. Tarso é uma cidade do mundo grego, porém é também do Império Romano, o maior Império jamais visto na história, a maior organização política e militar jamais vista na história, uma organização sem fronteiras, com um poder militar muito grande. Paulo, então, a partir do contato com o mundo romano, via o homem também capaz de se realizar na política, de se realizar a partir do serviço militar. Aqui, nós já temos duas realidades que são basilares na formação de Paulo: a filosofia grega e o Império Romano, com toda a sua organização política e militar. Paulo não era de uma família economicamente muito simples, mas abastada, e Tarso era uma região de comércio, de mercado. A prova de que Paulo não era um homem economicamente de condição humilde, é que ele foi estudar em Jerusalém na sua juventude, junto do maior professor, do maior mestre judeu da época, Gamaliel, o que era custoso para a família. Paulo,

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A evangelização

passou a ser chamado Paulo, que significa pequeno, ou seja, ele é uma obra de kenosis, de descida na vida desse homem. Ele deixa de usar o nome Saulo para usar o nome Paulo. Deixa de ser aquele que é pedido para ser aquele que é pequeno. A partir do seu encontro com Cristo na estrada de Damasco, há uma reviravolta na vida de Saulo [eu vou a partir de agora usar o nome Paulo, que é o nome de missão cristã desse grande apóstolo]. Essa reviravolta faz com que, imediatamente, em Damasco, Paulo saia evangelizando, tentando confirmar os cristãos na fé e tentando converter os judeus ao cristianismo. Parecia uma loucura, porque os cristãos de Damasco sabiam que Paulo estava indo para lá em sua perseguição a fim de aprisioná-los e matá-los. De repente, aquele homem começa a evangelizar, entra na cidade, pede ajuda, é acolhido por Ananias. Isso criou uma confusão na cabeça do povo, sendo necessária a ajuda de um irmão mais velho na caminhada – como nós tantas vezes precisamos dessa ajuda ou como tantas vezes precisamos ser esse irmão mais velho na caminhada e na vida de tantas pessoas. Paulo, então, foi tomado pela mão por Barnabé, que o apresentou à comunidade de Damasco, onde ele já começou a evangelizar. 30

Shalom Maná | Janeiro 2013

O texto dos Atos dos Apóstolos, em 9,27-28, diz que Paulo evangelizava com parresia. Nas nossas traduções, às vezes aparece o termo franqueza, coragem, audácia, mas o termo grego é parresia. Aquele homem vigoroso, que antes perseguia os cristãos, agora quer confirmá-los na fé e fazer com que os judeus passem também a ser cristãos. Ele evangeliza com parresia aqueles que, antes, queria perseguir. Várias realidades na vida de Paulo nos dão a entender como houve uma mudança muito grande de valores. A Carta aos Filipenses mostra bem essa reviravolta na vida de Paulo. Para compreendermos o que Paulo nos diz em Filipenses 3,7-8, devemos lembrar que ele conhecia muito bem a cultura grega, o Império Romano, o comércio, os valores financeiros da vida e também conhecia muito bem a cultura hebraica, o valor da religião hebraica, o valor da lei. De repente, diante da experiência com o Cristo, ele diz: “Mas o que era para mim lucro, tive como perda, por amor de Cristo”, ou seja, o que era lucro? Ele considerava que ganhar dinheiro fazendo tendas era lucro; o exercício do poder no Império Romano, a filosofia grega, até mesmo a religião hebraica, os seus valores, a sua vida, o seu vigor físico. Tudo aquilo que ele considerava lucro cai diante de Cristo, não que estas coisas não tenham mais valor; elas têm, até mesmo porque o próprio Paulo, em vista do Evangelho e para viver mais um tempo, fez valer o seu direito de cidadão romano algumas vezes. Quando ele era afrontado pelos judeus, dizia: “Eu conheço a lei mais do que vocês todos”, para fazer valer aquilo que ele sabia. Não era qualquer pessoa que estava anunciando – e ele não estava anunciando aos judeus em nome de Jesus sem conhecer a lei – mas ele O anunciava, por experiência, porque sabia que Jesus era superior à lei, porque ele também fizera uma experiência com a lei. Ou seja, quando Paulo diz que tudo se transformou em lixo diante da experiência com Cristo, não significa que ele anulou o seu saber filosófico, mas ele o usou para pregar, por exemplo, na Grécia e em Atenas. Ele não anulou o seu saber religioso, ele usou dele para pregar aos judeus. Ele não aniquilou a possibilidade de um trabalho, tanto que ele continuou trabalhando, fazendo tendas para se sustentar e continuar o anúncio do Evangelho.


“Queridos irmãos, a experiência de Paulo com Cristo foi tamanha que ele viu em Cristo a verdade que lhe deu uma convicção, uma certeza de que ‘eu não serei confundido’.”

Ele não anulou a sua identidade romana, visto que ele a usou para permanecer vivo por mais um tempo e continuar anunciando o Evangelho. Essa expressão de Paulo: “Tudo, tudo para mim se tornou lixo, se tornou esterco diante da experiência com Cristo” não foi uma desvalorização total daquilo que ele tinha como bagagem intelectual e cultural, mas foi, sim, o reconhecimento de que tudo deve estar a serviço de Cristo, que nada vale a pena sem Ele, que o mistério de Cristo é infinitamente superior a tudo, nos ultrapassa, e que vale a pena colocar tudo a Seu serviço. Paulo deveria pensar: “O que eu aprendi da cultura grega, o que eu aprendi do Império Romano, o que eu aprendi como profissão, o saber religioso hebraico, tudo só tem valor à luz de Cristo. Sem Cristo tudo isso é nada”. E ele diz: “Mas o que era para mim lucro, ou seja, judeu, filho de judeu, homem do conhecimento grego, tudo isso eu considero como perda por amor a Cristo. Mais ainda: tão grande é o conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, que tudo pode ser considerado perda. Tudo tenho como esterco”. Paulo, um homem que antes se considerava muito realizado na vida, tem todos os bens desse mundo como esterco. Viver em Cristo Paulo, humanamente falando, era um gênio, um homem que poderia se realizar muito bem em várias áreas da sociedade. No entanto, “tudo eu considero lixo diante do conhecimento de Cristo Jesus”. A vida de Paulo, então, há de falar aos nossos corações tantas vezes apegados, que tantas vezes querem construir os nossos mundinhos, aprisionar pessoas, querendo de um modo ou de outro ganhar a nossa vida aqui na terra. Paulo foi um homem que viveu em sua vida aquela frase do Evangelho: “Buscai em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e tudo mais será dado em acréscimo”. Paulo era consciente de que ele não tinha mérito algum. Os méritos são de Cristo Jesus,

e é por Cristo Jesus que vamos dar a nossa vida. Conhecer Jesus é maravilhoso! Viver em Cristo é a nossa alegria, é a nossa salvação, é a certeza de vitória, por isso eu não me importo se sou flagelado, como Paulo, eu não me importo se sou caluniado. Eu não quero saber se eu vou ter o que comer amanhã ou não, eu quero anunciar o nome de Jesus, eu quero me envolver cada vez mais com o mistério de Cristo, porque me envolvendo com o mistério de Cristo, eu realizo a minha vida e a realizo em plenitude. Não há maior realização para a minha vida do que o conhecimento de Cristo Jesus. E nós sabemos que Paulo, como grande conhecedor da cultura hebraica, sabe muito bem o que significa conhecer, ou seja, significa um envolvimento total. Só para termos uma ideia, a Palavra de Deus em Gênesis 4 diz assim: “Adão conheceu sua mulher e ela concebeu um filho”, ou seja, o verbo conhecer significa um envolvimento tão grande que a Sagrada Escritura usa este verbo para expressar a vida conjugal de um casal, a vida conjugal que gera vida. Paulo vai dizer: “Tudo eu considero perda diante do conhecimento de Cristo Jesus”, ou seja, não é só um “saber” da vida de Cristo, não é só um conhecimento intelectual do Jesus histórico, mas é um envolvimento, é a amizade, é a intimidade de Cristo Jesus. Essa intimidade faz com que todas as coisas caiam diante dela, faz com que todas as coisas só tenham valor a partir dela, e que sem ela nada vale a pena. Para entendermos a transformação de vida deste homem, Paulo, em Filipenses 1,12-21, diz: “Quero que saibais, irmãos, que o que me aconteceu redundou em progresso do Evangelho”. Aqui ele se refere às perseguições que sofria, porque Paulo era um homem que sabia usar de todos os momentos para anunciar Cristo Jesus, e ele não via nas perseguições algo que ofuscasse o anúncio, mas via nelas possibilidades de anúncio: “Tudo o que me aconteceu redundou em progresso do Evangelho”. Era como se ele já não quisesse existir www.edicoesshalom.com.br

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mais, o que existe é Cristo nele. Ele já dizia na Carta aos Gálatas: “Já não sou mais eu que vivo, mas é Cristo que vive em mim”. Tudo redundou em progresso do Evangelho: ‘minhas’ prisões se tornaram conhecidas em Cristo por todo o pretório, em toda a parte. Paulo aproveitou o fato de estar encarcerado e escreveu quatro cartas apostólicas e as enviou para as comunidades. Cartas que hoje fazem parte das Sagradas Escrituras que nós lemos e que edificaram, ao longo da história, bilhões de pessoas e que continuarão edificando, até que Cristo volte. Ou seja, ele faz de uma prisão um palco do anúncio do Evangelho por meio dos seus escritos. “E a maioria dos irmãos, encorajados no Senhor, pelas minhas prisões” - ou seja, as prisões de Paulo faziam com que ele encorajasse os irmãos - “proclamam a Palavra com mais parresia e sem temor”. Queridos irmãos, a experiência de Paulo com Cristo foi tamanha que ele viu em Cristo a verdade que lhe deu uma convicção, uma certeza de que “eu não serei confundido”. No processo de amadurecimento da nossa conversão, podemos trazer essa convicção para nós: em Cristo eu não serei confundido. Eu tenho a certeza de que o conhecimento de Cristo me coloca na verdade, de tal forma, que eu não serei confundido, mas, com toda a ousadia, agora e sempre, Cristo será engrandecido no meu corpo pela vida ou pela morte! Viagens apostólicas Como já dissemos, a partir de uma experiência com Jesus Cristo, narrada em Atos dos Apóstolos, capítulo 9, a vida de Paulo é transformada totalmente. Para tocarmos um pouco mais nessa transformação, basta também lermos Gálatas, capítulos 1 e 2, e Filipenses, capítulos 1 e 3. Nós percebemos como Paulo foi transformado pela graça de Deus e, a partir dessa experiência, ele parte em missão, realizando, de acordo com diferentes pontos de vista, três ou quatro grandes viagens apostólicas.

Em sua primeira grande viagem apostólica, Paulo estava em Antioquia ao lado de Barnabé. Como eles eram judeus de nascimento, de cultura, até mesmo de religião, Paulo e Barnabé procuravam uma comunidade judaica e anunciavam o nome de Jesus a ela. Alguns aderiam a Jesus, outros não. A partir daqueles que aderiam, Paulo formava uma pequena comunidade cristã e nela começava a evangelizar os pagãos, que não tinham uma religião tão firme como os judeus. De certo modo, eles tinham um coração mais dócil e, no final da primeira grande viagem apostólica, quando Paulo retorna à Antioquia, ele e Barnabé dizem para os outros cristãos de origem judaica: “Queridos irmãos, através de nós, Deus abriu as portas da fé para os pagãos”. Isso se tornou uma revolução na Igreja, porque Deus era assunto dos judeus, era a fé hebraica, o povo eleito, o povo amado e, de repente, a partir de uma experiência missionária, Paulo vai dizer que a situação mudou: que Deus abriu as portas da fé para os pagãos, até porque eles tinham sido mais sensíveis ao anúncio do que os judeus. Isso revolucionou muito, causou grande problema para a Igreja primitiva, sendo necessário um Concílio convocado por Pedro em Jerusalém, narrado em Atos dos Apóstolos 15, no qual se discutiu se os neo-convertidos ao cristianismo, oriundos do paganismo, deveriam sofrer a circuncisão ou não. Na segunda viagem apostólica, narrada em Atos dos Apóstolos, capítulos 15 a 18, por volta dos anos 49 a 52, Paulo gira uma boa parte do mundo, passa pela Grécia, por Corinto, fundando lá uma comunidade, e passa por Atenas, onde não chegou a fundar uma comunidade porque o seu discurso não foi bem recebido pelos filósofos atenienses. No entanto, Paulo sai evangelizando mundo afora, sofre perseguição de todo tipo, sofre prisões. Ele retorna à Antioquia e parte para uma terceira viagem apostólica, por volta dos anos 54 a 58. Paulo fica viajando novamente por 4 anos, passando por Éfeso, por tantas diferentes realidades,

“Paulo era consciente de que ele não tinha mérito algum. Os méritos são de Cristo Jesus, e é por Cristo Jesus que vamos dar a nossa vida.”

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sofrendo perseguições, e aí ele vai dizer na Segunda Carta aos Coríntios: “Sofri 5 açoites menos 1. Sofri perseguições de todo jeito, sofri 3 vezes o naufrágio, tudo por amor de Jesus Cristo”. Paulo conclui em Atos dos Apóstolos, capítulo 21, essa sua caminhada para Jerusalém, findando, assim, sua terceira viagem apostólica, sabendo que em Jerusalém correria o risco de morrer por Cristo, mas ele enfrenta essa realidade. De fato, em Jerusalém Paulo é preso, exige os seus direitos de cidadão romano e, por isso, não é morto imediatamente. Ele é levado para ser julgado em Roma e durante a viagem continua evangelizando, recebendo pessoas, escreve suas cartas e exorta às comunidades que ele fundava. De repente, a vida de Paulo se conclui em Atos dos Apóstolos, capítulo 28, no qual é narrado o seu martírio em Roma. Paulo termina em Roma, seria a sua quarta viagem apostólica, uma viagem só de ida a Roma. Martírio em Roma A vida de Paulo terminar em Roma tem um valor muito grande: histórico, espiritual, à luz da fé. Roma, na época, era a capital do mundo. Circulavam em Roma pessoas de todas as nações da face da Terra. A presença do Evangelho em Roma, a presença de Paulo, o grande pregador, em Roma, significa que o Evangelho atingiria todas as nações da Terra, ou seja,

quando o Espírito Santo faz com que o evangelista Lucas conclua os Atos dos Apóstolos com Paulo em Roma, o Espírito Santo quis dizer que “o Evangelho venceu. O Evangelho chegou a Roma e, chegando a Roma, atingiu todas as nações da Terra”. Paulo não foi o fundador da comunidade de Roma, mas ele colaborou para firmar aquela comunidade que seria a mãe da Igreja como um todo. A presença de Paulo, junto da presença da comunidade em Roma, significa que o Evangelho triunfou, que o Evangelho atingiu todas as nações ainda na era apostólica. Olhemos para Paulo e aprendamos a rever com ele todos os valores da nossa vida à luz de Cristo, a termos conhecimento de Cristo como nossa grande riqueza, como o sentido das nossas vidas. Tornemo-nos homens fraternos, contemplativos, que apreciem o mistério e, a partir do conhecimento de Cristo, deixemos que a graça faça de nós os missionários do terceiro milênio para anunciarmos o Evangelho até os confins da Terra, para anunciar o Evangelho nas ‘Romas’ da vida, nas regiões paganizadas do nosso ser, da nossa cidade, do nosso país e do mundo inteiro. Sejamos como Paulo: “Para mim o viver é Cristo e o morrer é lucro. Já não sou mais eu que vivo, é Cristo que vive em mim. Essa vida presente na carne eu a vivo na fé do Filho de Deus.” www.edicoesshalom.com.br 33


SHALOM EM MISSÃO

Missão em Lugano: formação e evangelização

Por meio desta nova seção, conheceremos um pouco mais a atividade missionária da Comunidade Shalom nos diferentes países em que ela está presente. Neste artigo, saiba como vivem os nossos irmãos em Lugano (Suíça).

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Elton da Silva Alves Missionário da Comunidade Católica Shalom em Lugano (Suíça)

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N

o s s a m i s s ã o e m L u g a no (Suíça) foi fundada no dia 1º de setembro de 2001, quatro anos após um Congresso das Novas Comunidades realizado em Assis (Itália). Na ocasião, nosso fundador Moysés Azevedo esteve presente e pôde contar o testemunho missionário da Comunidade Shalom. O sacerdote Dr. Libero Gerosa, então reitor da Faculdade de Teologia de Lugano (FTL), que também participou desse Congresso, conheceu e se interessou por nosso Carisma e desejou, a partir daí, a presença da Comunidade Shalom em Lugano.

Para isso, nos ofereceu bolsas de estudo. Em 2001, portanto, tivemos os primeiros irmãos estudando na FTL, que além de receberem formação acadêmica, podem vivenciar a oportunidade de evangelizar. Como o nosso ritmo de missão é muito particular, devido aos estudos na faculdade, colocarei aqui alguns horários para que seja mais fácil compreender o nosso dia a dia. Vida acadêmica e evangelização Acordamos às 6h durante a semana. Às 7h, partimos para a Santa Missa na Igreja do Sagrado Coração, onde também fazemos as


“A ação de Deus é múltipla, é bondosa, é providencial, é generosa, é surpreendente e, por tudo isso, bendizemos o Senhor que nos colocou nesta terra de missão.” Laudes com os irmãos dominicanos. Depois da missa e das Laudes, inicia-se a nossa jornada de estudos na faculdade, que vai das 8h30 às 12h15. Voltamos para casa para o almoço e, logo depois, temos que partir novamente, pois às 14h30 recomeçam os cursos na faculdade, que vão até às 17h. Nossas noites são intercaladas com oração e formação comunitárias, partilha de vida e algum tempo livre, em que podemos organizar as diversas atividades que temos, como trabalhos da faculdade, exercícios e apostolado. Devido à nossa realidade, a maior parte do nosso tempo é investida nos estudos (como apresentado anteriormente), que para nós é um apostolado. A FTL se apresenta não somente como uma “escola de Teologia” para nós, mas também como uma oportunidade que temos de propagar o Carisma, de fazê-lo conhecido, pois estudamos com leigos, seminaristas e sacerdotes de diversos países e temos uma ótima relação com os nossos professores. C omo exemplo d a opor tunid ade de difundirmos o Carisma na faculdade, temos a fundação da missão da Holanda, que se deu por meio do atual Arcebispo, o Cardeal Willem Jacobus Eijk, que foi professor na FTL. Antes de ele assumir a Arquidiocese de Utrecht, o Cardeal passou suas férias em Lugano, onde encontrou o Pe. João Paulo Dantas (sacerdote e missionário da Comunidade Shalom), por meio do qual teve um primeiro contato com a Comunidade. Posteriormente, o Cardeal Willem pôde conhecer mais profundamente o nosso Carisma e, enfim, pedir a presença da Comunidade na sua Arquidiocese.

Cotidiano e apostolado Nós realizamos outros trabalhos, em sua maioria, relacionados à paróquia, tais como: Crisma, acompanhamento e formação dos coroinhas, animação de uma missa mensal para as crianças e, regularmente, os irmãos servem como acólitos nas Celebrações Eucarísticas. Ministramos também aula de religião para quatro turmas em uma escola infantil, evangelizamos porta a porta durante os tempos do Advento e da Quaresma e realizamos anualmente (em conjunto com uma paróquia vizinha) uma colônia de férias para adolescentes, na qual podemos evangelizar por meios de jogos, brincadeiras e teatros. Promovemos outras iniciativas, como o terço com as mães, retiro de Semana Santa, “Réveillons da Paz” e um grupo de oração que acontece no sábado pela manhã. Conscientes do dom que recebemos pela formação acadêmica no campo teológico, temos também a alegria de servir à Comunidade no campo formativo, por meio de formações para a Comunidade de Vida, pesquisas, entre outras iniciativas que nos são pedidas pelas missões. Graças e desafios Como toda missão, muitas são as graças e tantos os desafios. Precisamos, de maneira tranquila, sadia e feliz, equilibrar a vida de oração, a vida fraterna e a urgência da evangelização com os estudos e tantos afazeres. Como se pode perceber, não temos um horário fixo para oração pessoal e estudo bíblico, e isso se apresenta como um desafio. Contudo, os irmãos que aqui moram são chamados a ter uma grande responsabilidade para com estes

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compromissos, entre muitos outros, organizando os seus horários (com o auxílio da formação comunitária) e discernindo constantemente o que é essencial e o que é prioritário diante do Carisma, da faculdade e da paróquia. A cada semestre, os horários da faculdade mudam e temos que aproveitar - quando houver - os espaços sem aula, durante as manhãs e as tardes, para cumprir nossos compromissos comunitários e apostólicos. Assim como na vida de oração, também na vida de evangelização temos alguns desafios, gerais e particulares. A indiferença religiosa que encontramos aqui é um deles. Ela toca não só os jovens e adultos, mas, muitas vezes, as próprias crianças, que não têm consciência do “sagrado”. Outro desafio que enfrentamos como missão é o de não termos o tempo que gostaríamos para nos dedicarmos ainda mais a evangelização deste povo. No entanto, isso não nos tem privado do constante esforço de, pessoalmente, nas atividades do dia a dia, anunciar Cristo, rezar pelas pessoas, convidá-las a vir a nossa casa, participar de nossa oração e, até mesmo, fazer a refeição conosco (esta tem sido uma das estratégias que temos utilizado para aproximar as pessoas de nós para, assim, aproximá-las de Cristo). Mesmo diante desses desafios, o Senhor faz nascer frutos em nosso meio, dos quais o maior para nós foi o ingresso da nossa irmã Lorenza na Comunidade de Aliança neste ano, o que indica a força contagiante do Carisma e sua assimilação por parte de uma suíça, que, para a nossa maior alegria,

“Esta missão nos forma para a responsabilidade pessoal diante de Deus, diante do Carisma e diante daquilo que o Senhor nos confiou aqui.” 36

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é jovem. Temos ainda a alegria de poder contar com sete sacerdotes da Comunidade de Vida que foram formados aqui e tantos outros irmãos que hoje, graças à formação teológica recebida, podem servir à Comunidade e contribuir para o crescimento da Obra Shalom em seus diversos aspectos. Na missão de Lugano, a nossa experiência nos ensina que a formação que recebemos não se restringe ao campo acadêmico (esta é, sem dúvida, fundamental), mas percebemos que esta missão nos forma para a responsabilidade pessoal diante de Deus, diante do Carisma e diante daquilo que o Senhor nos confiou aqui. A ação de Deus é múltipla, é bondosa, é providencial, é generosa, é surpreendente e, por tudo isso, bendizemos o Senhor que nos colocou nesta terra de missão. São poucas palavras, mas espero que este breve testemunho possa fazê-los compreender um pouco mais de nossa vida e missão. Shalom!


Números relacionados a São Paulo José Ricardo Ferreira Bezerra

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8 6

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C

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1

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6

4

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DIVIRTA-SE

9 8

9 7 10 2

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O velho e jabuticabeira

Indicamos

bbit:umajornadainesperada OHo

A aventura conta a trajetória do personagem Bilbo Bolseiro, que enfrenta uma jornada épica para retomar o Reino de Erebor, terra dos anões que foi conquistada há muito tempo pelo dragão Smaug. Levado à empreitada por Gandalf, o Cinza, Bilbo encontra-se junto a um grupo de treze anões liderados pelo lendário guerreiro Thorin Escudo de Carvalho. Essa aventura irá levá-los a lugares selvagens, passando por terras traiçoeiras repletas de Goblins e Orcs, Wargs mortais e aranhas gigantes. Embora o objetivo aponte para o Leste e ao árido da Montanha Solitária, eles devem escapar primeiro dos túneis dos goblins, onde Bilbo encontra a criatura que vai mudar sua vida para sempre, Gollum. A sós com Gollum, nas margens de um lago subterrâneo, o despretensioso Bilbo Bolseiro não só descobre sua profunda astúcia e coragem, que surpreende até mesmo a ele, mas também ganha a posse do “precioso” anel de Gollum, que possui qualidades inesperadas e úteis. Um simples anel de ouro que está ligado ao destino de toda a Terra-Média, de uma maneira que Bibo nem pode imaginar. 170 min. Aventura. 2012.

Shalom Maná | Janeiro 2013

Um velho estava cuidando da planta com todo o carinho. Um jovem aproximou-se dele e perguntou-lhe: - Que planta é essa que o senhor está cuidando? - É uma jabuticabeira - respondeu o velho. - E ela demora quanto tempo para dar frutos? - Pelo menos uns quinze anos - informou o velho. - E o senhor espera viver tanto tempo assim? - indagou, irônico, o rapaz. - Não, não creio que viva mais tanto tempo, pois já estou no fim da minha jornada - disse o velho. - Então, que vantagem você leva com isso, meu velho? - Nenhuma, exceto a vantagem de saber que ninguém colheria jabuticabas se todos pensassem como você.

HORIZONTAL 1.MAIS DE QUARENTA, 2.DOZE, 3.CINQUENTAMIL, 4.DEZ, 5.TREZE, 6.OITO, 7.NOVE, 8.SETENTA, 9.DUASOUTRES, 10.QUATROCENTOSECINQUENTA, 11.DUZENTASESETENTAESEIS, 12.MAISDEQUINHENTOS

VERTICAIS 1- Quantos anos morou Paulo em casa alugada em Roma (At 28,30) 2- Quantas vezes ele foi apedrejado (2Cor 11,25) 3- Após quantos anos de sua conversão Paulo voltou a Jerusalém (Gl 2,1) 4- Quantos anos tinha Abraão quando recebeu a promessa de Isaac (Rm 4,19) 5- Quantos anos deveriam ter as viúvas (1Tm 5,9) 6- Quantos dias ficou Paulo com Pedro em Jerusalém (Gl 1,18) 7- Quantas vezes foi flagelado (2Cor 11,25) 8- Quantos homens não se dobraram a Baal segundo Paulo (Rm 11,4) 9- Quantos dias Paulo ficou em Tiro, na última viagem a Jerusalém (At 21,4) 10- Quantas vezes ele recebeu os quarenta golpes menos um (2Cor 11,24) 11-Quantos foram enviados pelos apóstolos juntos com Paulo (At 15,22.27) 12- Quantos anos Paulo disse que o povo andou no deserto (At 13,18)

VERTICAL 1.DOIS, 2. UMA, 3.CATORZE, 4.CERCADECEM, 5.SESSENTA, 6.QUINZE, 7.TRES, 8. SETEMIL, 9.SETE, 10.CINCO, 11.DOIS, 12.QUARENTA

HORIZONTAIS 1- Quantos homens juraram matá-lo (At 23,13.21) 2- Quantos homens receberam o ES pela oração de Paulo em Éfeso (At 19,7) 3- Quantas moedas de prata valiam os livros queimados em Éfeso (At 19,19) 4- A quantos mil pedagogos não se compara à sua paternidade (1Cor 4,15) 5- Quantas cartas do NT são atribuídas a ele como autor. 6- Após quantos dias de nascido foi circuncidado (Fl 3,5) 7- A que horas da noite ele foi levado para Cesaréia (At 23,23) 8- Quantos cavaleiros levaram Paulo a Félix (At 23,23) 9- Quantas testemunhas decidem uma questão segundo Paulo (2Cor 13,1) 10- Em quantos anos o povo teve Juízes segundo Paulo (At 13,20) 11- Quantas pessoas estavam no navio que o levou a Roma (At 27,37) 12- A quantos irmãos Jesus apareceu segundo Paulo (1Cor 15,6)

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ACONTECE NO MUNDO

Jovem professora cristã entrega a própria vida para salvar 17 crianças em massacre nos EUA eram parte de uma brincadeira e que para ganhar deviam esconder-se nos armários da sala e permanecer em silêncio. Os pequenos a obedeceram. Segundo diversos meios de comunicação locais, quando Lanza ingressou na sala de aula, Victoria disse que as crianças estavam em aula de ginástica, mas a explicação não convenceu o homicida. Ele abriu fogo contra um dos armários e ela se colocou entre as balas e as crianças para protegê-los, o que terminou custando sua vida.

Victoria Soto era uma professora cristã de origem porto-riquenha que trabalhava no colégio Sandy Hook, em Connecticut (Estados Unidos). Ela conseguiu salvar a vida de 17 crianças no dia do massacre perpetrado por Adam Lanza, que deixou como trágico saldo a morte de 27 pessoas, entre eles 20 pequenos e o próprio assassino, que cometeu suicídio depois da matança. Soto, de 27 anos, reagiu rapidamente quando escutou os disparos na sala de aula vizinha que Lanza havia invadido. Ela disse às 17 crianças que os ruídos

Um primo de Victoria , Jim Wiltsie, disse que Victoria “perdeu a vida fazendo o que amava. Ela amava essas crianças e sua meta na vida era chegar a ser uma professora para moldar estas jovens mentes”. Victoria Soto vivia com seus pais e suas irmãs e frequentava a Lordship Community Church, em Stratford. Uma de suas amigas, Andrea Crowell, disse que a professora “pôs suas crianças em primeiro lugar. Ela sempre falava disso. Ela quis fazer o melhor por eles, ensinar-lhes algo novo cada dia”.

Fonte: ACI Digital

Papa perdoa ex-mordomo e concede indulto: gesto paternal

Shalom Maná | Janeiro 2013

“Hoje tenho uma boa notícia”, assim Pe. Federico Lombardi, jesuíta Diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, anunciou no dia 22 de dezembro aos jornalistas que o Papa Bento XVI concedeu o indulto a seu ex-mordomo Paolo Gabriele.

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Gabriele, 46 anos, estava preso em uma cela na sede da ‘gendarmaria’ do Vaticano, cumprindo uma sentença de 18 meses por furto qualificado. Padre Lombardi contou que Bento XVI fez uma surpresa e visitou a prisão em que se encontrava seu ex-mordomo, perdoando-o por roubar e deixar vazar documentos confidenciais. Ele definiu a iniciativa como “um gesto paternal para uma pessoa com a qual o Papa dividiu sua vida durante vários anos. Esse é um final feliz nessa temporada de Natal para esse episódio triste e doloroso”. “Bento XVI passou cerca de 15 minutos com Paolo Gabriele antes de o preso ser libertado e poder

retornar à sua casa, ao lado de sua esposa e filhos”, prosseguiu padre Federico Lombardi. De acordo com o sacerdote e a advogada de Gabriele, Cristiana Arru, o encontro foi “intenso”, porque foi a primeira vez que ambos se viram desde maio, quando Gabriele foi preso depois de a polícia do Vaticano encontrar em sua casa documentos que tinham sido roubados do escritório papal.

Fonte: Rádio Vaticano


Virtudes heróicas de Paulo VI são reconhecidas pelo Vaticano O Papa Bento XVI autorizou à Congregação das Causas dos Santos, no dia 20 de dezembro de 2012, a promulgar os Decretos referentes a numerosos novos Santos, entre os quais, Antônio Primaldo e companheiros, mais de 800, assassinados por ódio à fé durante o assédio turco de Otranto (sul da Itália), em 1480; concernentes também a 40 novos beatos, entre os quais muitos mártires durante a guerra civil espanhola; e por fim relativos a 10 novos Veneráveis, entre os quais está o Papa Paulo VI, de quem foram reconhecidas as virtudes heróicas.

O Papa Paulo VI ficou à frente da Igreja Católica por 15 anos, entre os anos 1963 e 1978. Um decreto assinado pelo Sumo Sacerdote tornou Paulo VI “venerável”, primeiro dos três passos que levam à canonização. Giovanni Battista Enrico Antônio Maria Montini, nome de batismo de Paulo VI, nasceu em 1897, na cidade de Concésio, na Itália. Ele foi responsável por dar continuidade ao Concílio do Vaticano II, após o falecimento do Papa João XXIII. Paulo VI é lembrado pelas viagens que fez ao redor do mundo — visitou Jerusalém, Índia, Colômbia, Uganda, entre outros países — e por sua busca por um diálogo sem precedentes com outras nações e religiões. “Paulo VI teve um papel muito importante para a Igreja. Foi um dos primeiros a viajar para fora da Itália e entendeu a necessidade de mudanças para que a Igreja voltasse a atrair os mais pobres e necessitados”, atesta Dom Leonardo Ulrich Steiner, bispo auxiliar da arquidiocese de Brasília (DF).

Fonte: CNBB

Bispos costarriquenhos contestam decisão de Corte Interamericana

No documento, os prelados sustentam que “a sentença é uma ação baseada em critérios subjetivos de funcionários internacionais, cujos critérios particulares ferem a soberania jurídica e constitucional do país”. “Apelando à tradição costarriquenha de defesa e respeito do Direito Internacional” os bispos consideram que “a sentença é um exemplo lamentável da ideologia e cultura de morte, que contradiz a lei natural e o

princípio cristão de dignidade humana, negando na teoria e na prática, o valor transcendente da pessoa”. Os prelados lamentam como uma sentença - “um abuso interpretativo dos juízes com uma mentalidade anti-vida” -, possa “alterar a constituição e o sistema de valores de um país”. E acrescentam: “como bispos e cidadãos seguiremos insistindo que a vida humana possui um caráter sagrado e que todo ataque contra ela deve encontrar uma firme e clara oposição por parte dos fiéis”. Mesmo esta técnica sendo legalizada, “continuará sendo imoral”, enfatizam. Por fim, os bispos recordam que “não se pode construir o bem comum sem reconhecer e tutelar o direito à vida como o pilar em que se apoia toda a sociedade civil”.

Fonte: Rádio Vaticano

Shalom Maná | Janeiro 2013

A Conferência Episcopal da Costa Rica publicou uma declaração em que manifesta contrariedade pela sentença da Corte Interamericana de Direitos Humanos que obriga o país a mudar sua legislação, que proíbe a fecundação in vitro. Os bispos defendem que este método de fecundação “é e sempre será, até que não se comprove em contrário, um procedimento desumano para o bebê”.

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ACONTECE Na comunidade

Comunidade Shalom participa do Congresso Internacional Ecclesia in America No dia 9 de dezembro de 2012, 15 anos após a Assembleia especial dos Sínodos dos Bispos para América, teve ínicio o Congresso Internacional Ecclesia in America, com a celebração da santa missa na Basílica de São Pedro, presidida pelo Presidente da Pontifícia Comissão para a América Latina, Cardeal Marc Ouellet, organizador do evento. Estiveram presentes na Celebração pessoas de diferentes lugares da América, entre eles, alguns membros da Comunidade Católica Shalom, junto com o seu fundador e moderador geral, Moysés Azevedo. Ao final da celebração, o Papa Bento XVI veio à Basílica saudar os congressistas. “O meu venerado predecessor, o Beato João Paulo II, teve a intuição profética de incrementar as relações de cooperação entre as Igrejas das Américas do Norte, Central e do Sul, e despertar uma maior solidariedade entre suas nações. Hoje, esses propósitos merecem ser retomados para que a mensagem redentora de Cristo seja colocada em prática com maior afinco e produza abundantes frutos de santidade e renovação eclesial”, disse o Papa aos presentes. Ao final de sua palavra, o Papa saudou pessoalmente alguns dos participantes e Moysés Azevedo foi um deles. Ele se apresentou ao papa dizendo: “Sou Moysés Azevedo, da Comunidade Católica Shalom de Fortaleza”. “Comunidade Católica Shalom! Eu conheço a Comunidade Shalom”, disse o Papa. “Ele é o fundador”, completou o Cardeal Marc Ouellet, seguido das entusiasmadas palavras do Sumo Pontífice: “O fundador aqui! Obrigado por sua presença!”. Após 3 dias de conferências e trabalhos em grupo, o Congresso foi encerrado no dia 12 de dezembro com uma solene Celebração Eucarística a Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira da América.

Shalom Maná | Janeiro 2013

Por Pedro Fonseca Assistência Internacional Shalom

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Escola de Líderes 2013 Com o tema “Teologia do corpo”, a Escola de Líderes 2013 será realizada de 25 de janeiro a 3 de fevereiro, no Centro de Espiritualidade Santa Teresa (CEST), em Fortaleza (CE). O retiro, promovido pela Escola de Formação Shalom, terá a presença de Emmir Nogueira e outros pregadores da Comunidade, que aprofundarão aspectos importantes sobre o tema. Para mais informações, envie e-mail para escoladelideres@ comshalom.org/, ou entre em contato pelos telefones: (85) 3221.2311 / (85) 3308.7421 / (85) 9655.2445 / (85) 8166.6239.


PROMOÇÃO HUMANA

Conhecendo a Promoção Humana Shalom

Vítor Bomfim Santos Missionário da Comunidade Católica Shalom em Aquiraz/CE Assessoria de Promoção Humana

Shalom Maná | Janeiro 2013

Ao longo deste ano, iremos aprofundar o nosso conhecimento acerca dos trabalhos de Promoção Humana da Comunidade Católica Shalom. Ela faz parte da grande obra evangelizadora da Comunidade. Confira!

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Projeto José do Egito

seguindo a inspiração de Deus em cada missão onde a Comunidade está presente, a fim de dar de graça o que de graça recebemos (cf. Mt 10,8), de proporcionar a experiência com Jesus Cristo Ressuscitado a todo homem sofrido e ferido de hoje. Cada projeto da Promoção Humana, por meio da sua atuação e serviço ao seu público-alvo, tornase um meio evangélico concreto e eficaz, através da promoção da dignidade do homem e do resgate da valorização da vida. Os diferentes projetos exercem atividades com crianças e adolescentes em situação de risco, com desabrigados, dependentes químicos e jovens infratores, enfermos, presidiários e famílias em situação de vulnerabilidade social. Os Projetos

Projeto Mãe das Dores

A “

fim de acolhermos em nossas vidas o dom da Paz e comunicá-lo ao mundo, é necessário que sejamos instrumentos do consolo e da compaixão de Deus para com os que sofrem a ausência do pão espiritual e material. Através da evangelização, do serviço e da autêntica partilha de bens, a Comunidade esteja aberta a acolher o dom que são os pobres e neles identifique oportunidade privilegiada para servir ao próprio Senhor através de meios evangélicos concretos e eficazes.” (ECCSh, Preâmbulo III) Os pobres em nossa vocação são verdadeiros dons que precisam ser acolhidos e amados. Com o passar do tempo, fomos nos estruturando e

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Shalom Maná | Janeiro 2013

Do desejo de melhor evangelizar, surge a Assessoria de Promoção Humana com o objetivo de animar e conduzir o desenvolvimento da dimensão de Promoção Humana da Obra Shalom. Alguns já ouviram falar desses Projetos, outros os conhecem de perto, vejamos juntos o muito que Deus tem feito por meio da Promoção Humana Shalom. Apresentamos a seguir a metodologia e as formas de atuação que a Promoção Humana utiliza no desenvolvimento dos seus trabalhos. Projeto Volta Israel: atua no combate ao uso de álcool e outras drogas, por meio da evangelização, prevenção e tratamento, promovendo o retorno ao convívio social e familiar. Formas de atuação: tratamento ambulatorial, tratamento em comunidade terapêutica, campanhas de prevenção e reinserção social. Projeto José do Egito: acolhe e evangeliza crianças e adolescentes em situação de degradação

“Os pobres em nossa vocação são verdadeiros dons que precisam ser acolhidos e amados.”


Nas próximas edições

“Cada projeto da Promoção Humana, por meio da sua atuação e serviço ao seu público-alvo, torna-se um meio evangélico concreto e eficaz, através da promoção da dignidade do homem e do resgate da valorização da vida.” pessoal e social. Formas de atuação: abrigo, casa de apoio, abordagens de rua, casa de artes e acompanhamento familiar. Projeto Jesus, meu abrigo: acolhe moradores de rua e pessoas em situação de abandono, buscando o resgate de sua dignidade e a reintegração na família e na sociedade. Formas de atuação: albergue e abordagens de rua. Projeto Mãe das Dores: presta assistência humana e espiritual a pessoas em situação de enfermidade, privação de liberdade e de abandono institucional. Formas de atuação: visitas de evangelização a hospitais, abrigos, leprosários e presídios. Destacaremos em cada mês um destes Projetos, a fim de crescermos na comunhão e partilha, no conhecimento e no aprofundamento dos serviços de Promoção Humana, para que cada vez mais possamos oferecer ao homem de hoje a resposta certa: o Ressuscitado que passou pela cruz. Somente a partir de Cristo poderemos resgatar a dignidade humana, pois como pensa Moysés Louro de Azevedo Filho, fundador da Comunidade Shalom: “O homem não é plenamente homem fora de Cristo”.

Ao longo deste ano, apresentaremos na Shalom Maná testemunhos, indicadores, casas dos Projetos de Promoção Humana no Brasil e no mundo. Desta forma, você poderá participar conosco desta obra de evangelização através do conhecimento e encaminhamento de pessoas para as casas de acolhimento, do engajamento nos serviços e muito mais. Nós desejamos, além de apresentarmos a contribuição da Comunidade Católica Shalom por meio dos Projetos, conhecer cada vez mais a profunda ligação que estes trabalhos têm com a Doutrina Social da Igreja. Desta forma, este também será um espaço para aprofundarmos a nossa fé, possibilitando-nos um testemunho embasado na visão da Igreja. Ao lermos o conteúdo deste ano, seremos chamados a testemunhar diante do mundo e da sociedade a nossa fé em Cristo, apresentando o nosso trabalho em defesa da vida e do regate da dignidade humana. Como nos diz a Caritas in veritate: “O testemunho da caridade de Cristo através de obras de justiça, paz e desenvolvimento faz parte da evangelização, pois a Jesus Cristo, que nos ama, interessa o homem inteiro. Sobre estes importantes ensinamentos, está fundado o aspecto missionário da doutrina social da Igreja como elemento essencial de evangelização. A doutrina social da Igreja é anúncio e testemunho de fé; é instrumento e lugar imprescindível de educação para a mesma.” (Caritas in veritate, 15) Encontramo-nos próximo mês com a apresentação do Projeto Volta Israel e com destaques da Doutrina Social da Igreja. Não deixe de conferir!

Para obter mais informações entre em contato conosco: Assessoria de Promoção Humana Shalom www.comshalom.org/promocaohumana promocaohumana@comshalom.org Fone: (85) 3308-7453

www.edicoesshalom.com.br 43


entrelinhas

Creio! Ani maamin! “Ano da Fé, ano de ani maamin! Ano de adesão pessoal à Pessoa de Deus até as últimas consequências práticas de minha vida.”

Shalom Maná | Janeiro 2013

Maria Emmir O. Nogueira Cofundadora da Comunidade Católica Shalom

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C

reio! Em hebraico, língua mais próxima da falada por Jesus, ani maamin! Essa expressão hebraica não significa “acredito nisso, ou sei que isso existe”, mas “identifico-me com isso, uno meu ser ao dele e o adoro”! Neste Ano da Fé somos chamados, então, a ani maamin! Acreditar em Deus, saber que Ele existe, até os demônios o

fazem, como nos ensina São Tiago. Hoje em dia é a característica mais marcante do “ateísmo prático”, aquele dos batizados que não vivem sua fé e todas as suas implicações em sua vida. Dizem que creem, mas, vivem como se não cressem. Acreditam, mas não ani maamin. Vivem como famintos de felicidade e verdade à beira de uma mesa farta da qual não se servem. Acabam por escandalizar os que


Não sou filho de um pai que me considera “caro demais” para me dar outros irmãos. Tenho bilhões de irmãos e, a depender do meu Pai, sem a interferência do egoísmo humano, nada faltaria a ninguém. Não sou caro. Tenho valor. Só é caro o que não corresponde o seu valor em dinheiro, tempo ou carinho, não é verdade? Pois é. Meu preço é a cruz de Cristo. É Ele, esse Filho escorraçado e morto o meu valor. Quem valeria mais que eu? Quem ousaria dizer que nós, todos os bilhões de filhos desse Pai, somos “caros”, não valemos a pena existir? Ani maamin Deus Pai, todo poderoso. Seu poder não depende de nada nem de ninguém. Nem de eleições, nem de dinheiro, prestígio, mídia. Não! O poder do Pai a quem eu ani maamin vem do amor. Isso mesmo. Vem do fato de Ele, por amor, curvar-se até meus pés e me servir, me amar, me salvar, me curar, me fazer feliz. O amor é a fonte do seu poder. Não a fama, avareza, ganância, dominação, corrupção, mentira, egoísmo, que são a fonte do poder do mundo. O poder do meu Pai está no amor que se abaixa, aceita até ser esquecido ou ultrajado para respeitar minha vida e liberdade. Esse é meu Pai. O Pai a quem eu ani maamin, o Pai a quem adiro, o Pai com quem me faço um, o Pai com quem me comprometo, com quem me relaciono, a quem amo e por quem me deixo amar. O Pai que me direciona, sustenta, liberta, ama sem condições. Este é o Pai revelado por Jesus Cristo. Nele creio. A Ele adiro. A Ele adoro. A Ele, nesse Ano da Fé e sempre, ani maamin!

“Ani maamin em Deus Pai, Todo Poderoso. Deus é Pai, é meu Pai, pessoal, amoroso. Tenho com Ele e Ele comigo um relacionamento pessoal, filial, íntimo, afetuoso, comprometido.”

Shalom Maná | Janeiro 2013

buscam coerência e podem tornar-se poderoso antídoto contra a verdadeira fé. Ano da Fé, ano de ani maamin! Ano de adesão pessoal à Pessoa de Deus até as últimas consequências práticas de minha vida. Graças a Deus, em Português, o verbo “aderir” não é mais defectivo para a primeira pessoa do singular! Posso dizer à vontade, por estranho que soe, que eu “adiro”, isso é, eu “me colo”, “me faço um só”, “me identifico”, ani maamin. Ano da Fé é tempo de suplicar a graça do Espírito Santo, que nos convence acerca da verdade e dizer, do fundo do coração: Ani maamin em Deus Pai, Todo Poderoso. Deus é Pai, é meu Pai, pessoal, amoroso. Tenho com Ele e Ele comigo um relacionamento pessoal, filial, íntimo, afetuoso, comprometido. Em um mundo onde faltam pais que adiram aos filhos, é salvífico aderir ao Pai que tem todo o poder sobre todas as coisas, inclusive sobre mim mesmo. Em um mundo de órfãos de pais vivos, do qual os “mestres da suspeita” e seus seguidores insistem em apagar a figura de proteção, segurança, direção, referência, verdade, origem da vida e provisão ligada ao Pai e, de preferência, transferi-la para o Estado, o Big Brother que anseia todo o poder, inclusive sobre as consciências, é essencial, libertador, sadio termos Deus por Pai. Sim! Sou feliz ao ani maamin o Pai. Não sou filho do Estado. Sou filho de uma Pessoa. Eterna. Ele, sim, todo poderoso independentemente da vontade dos homens. Não sou filho de um Pai ausente. Muito menos indiferente. Sou filho do Pai que me conhece melhor que eu mesmo e está sempre comigo. De um Pai que me olha com amor e se alegra quando o amo e amo meus irmãos. Não sou filho de um pai egoísta, que coloca seus interesses e pseudo felicidade acima dos meus. Não! Meus interesses são os seus. Minha felicidade é a sua. É feliz quando sou feliz. Não sou filho de um pai que me domina e oprime, que faz de mim marionete dos seus próprios anseios e planos. Pelo contrário, sou filho de um Pai que me respeita, que não constrange minha liberdade de consciência, que respeita minha liberdade a ponto de cercear a sua.

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Shalom Manรก | Janeiro 2013




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