Trilogia Scythe Crítica Literária
Karine Glinn
O mundo venceu os maiores medos da humanidade: a fome, a doença, a corrupção e até mesmo a morte. Nesse mundo, governado pela evolução da nuvem de dados, nenhum ser é o que foi no passado, os sentimentos não são os mesmos, os pensamentos também mudaram e, na era da imortalidade, a única fonte de medo vem dos ceifadores, os controladores da morte.
No primeiro livro dessa distopia, com toque de ficção científica, tem-se o foco na trajetória de Citra e Rowan, dois jovens escolhidos para se tornarem aprendizes de ceifadores. Já no segundo livro, o foco passa para a Ceifa, pois sua ética e moral parecem cada vez mais escassas. Por fim, o último livro da série mostra como os problemas apresentados até então são resolvidos. Dessa maneira, pode-se dizer que a trilogia tem uma história inovadora e cheia de reviravoltas.
Durante toda a trajetória dos personagens, Neal Shusterman consegue manter a fluidez da escrita, sempre apresentando diversos pontos de vista, em terceira pessoa, com o objetivo de introduzir as variadas faces da realidade criada. Com isso, percebe-se que o contexto em que se passa o livro é muito bem desenvolvido, pois o leitor tem acesso a vários detalhes que uma narrativa em
primeira pessoa com a visão de um só personagem não forneceria.
Além disso, o autor sempre traz profundidade nos temas abordados, principalmente, na conclusão dos capítulos, quando uma reflexão é explorada por meio dos fragmentos de texto dos diários dos ceifadores ou pelos pensamentos da Nimbo-Cúmulo, a governante do planeta. Nesse sentido, nota-se que Shusterman tem o intuito de incentivar o leitor a comparar a atual conjuntura da humanidade com a realidade distópica, levada ao extremo, que ele criou. Dessa forma, o leitor é instigado pelos dilemas morais apresentados.
Ademais, como consequência da exposição de diversos pontos de vista, nota-se que a personalidade de cada personagem é muito bem construída, pois é possível perceber a diferença de pensamentos e atitudes tomadas por cada um, ponto importante para que o leitor crie empatia ou antipatia por eles.
Ainda no que se refere aos personagens, é importante destacar que o autor traz diversas representatividades para a história. Durante a narrativa, encontram-se pessoas com traços físicos provenientes da África, Ásia, América Latina e outras regiões. Para mais, questões que envolvem gênero e identidade de gênero são exploradas no decorrer da história. Desse modo, é notória a inclusão de minorias de forma respeitosa.
Em síntese, a trilogia escrita por Neal Shusterman tem a capacidade de cativar o leitor que se interessa por distopia e ficção científica com maestria, uma vez que suas obras são de uma criatividade impressionante.