Necrópole Megalitica do Ameal

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A Necrópole Megalítica do Ameal, no contexto do Megalitismo da Plataforma do Mondego __________________________________________________________________________________________________________________________

do conhecimento dos monumentos desta área, tendo em conta as suas características "tardias" é mais seguro considerar as amostras como terminii post quem, do que o contrário, permitindo-nos inseri-los na 2ª metade do IV milénio cal AC.

Quanto ao Dólmen 3 da Senhora do Monte (Penedono, Viseu) configura-se como um monumento de câmara poligonal e corredor, ao qual se encontram também associadas estruturas complexas, como "átrio" "corredor intratumular" e "estrutura de condenação" (CRUZ, 1995:100). Ao momento da redacção deste ponto, não tinham ainda sido publicados os resultados definitivos sobre o espólio recolhido e da sua inserção arqueológica.

Tal como nos monumentos da Lameira de Cima, foram detectados fragmentos de cortiça e madeira carbonizadas, na área do "átrio" do monumento, no entender do escavador, consequência das fogueiras rituais aí ocorridas. Estas amostras (GrN-20791, ICEN-1200 e GrN-21304) são estatisticamente idênticas, englobando um intervalo de tempo entre 4036 a 3713 anos cal AC. Existe uma quarta amostra (ICEN-1201) recolhida numa fogueira realizada à superfície do tumulus, sob a carapaça pétrea que o revestia (CRUZ, 1995:101) à qual foi atribuído um intervalo de tempo 3943 a 3661 anos cal AC, por isso também estatisticamente idênticas às anteriores. Considerando esta ultima amostra como representando um terminus post quem, para a construção do monumento, podemos considerar, que as outras amostras provenientes deste monumento se inserem na mesma categoria, podendo assim ser afirmado com uma certa certeza, de que o monumento terá sido construído e utilizado, no 2º quartel do IV milénio cal AC42.

Outro monumento megalítico, para o qual dispomos de informação cronométrica é a Orca dos Padrões (Mangualde, Viseu), que em termos arquitectónicos se apresenta como sendo um dólmen de câmara poligonal e de corredor médio. Em recentes trabalhos de consolidação e restauro (GOMES & CARVALHO, 1995) foi possível recolher, sob os calços de um dos esteios do corredor, uma amostra de madeira carbonizada (OxA-4484) a que corresponde um intervalo de tempo de 3943 a 3638 anos cal AC (CRUZ, 1995:102), correspondendo também a uma situação de terminus post quem, pelo que no caso particular deste monumento, ele teria sido construído em momentos finais da 1ª metade do IV milénio cal AC ou, mais provavelmente, já na 2ª metade deste milénio, delineando assim uma situação em tudo similar à ocorrida no Dólmen 1 de Moinhos de Vento (Arganil, Coimbra) e, muito possivelmente dos monumentos 1 e 2 de Lameira de Cima e da Senhora do Monte (Penedono, Viseu).

42 Recentemente foram disponibilizadas algumas informações relativas ao Dólmen de Areita, S. João da Pesqueira, inserível na bacia hidrográfica do Távora. Este monumento, constituído por uma câmara megalítica poligonal de 7 esteios e um corredor de médias dimensões, permitiu a recuperação de um espólio considerado "arcaico" na câmara, onde sobre uma base de areão coberta de ocre, foi recuperado um importante conjunto de geométricos, lâminas não retocadas, uma goiva e dois machados de pequenas dimensões e cerca de 3000 contas discóidais em xisto. Este conjunto teria sido selado pela queda da estrutura ortostática da câmara e corredor. O monumento teria sido, eventualmente, modificado, com "corredor intratumular" e "estrutura de condenação" em momentos posteriores, possivelmente relacionados com os poucos fragmentos de cerâmica manual recuperados do corredor. Uma série de troncos carbonizados, localizados na Câmara megalítica, quer estejam associados a uma estrutura anterior ou a elementos de suporte dos esteios, durante a construção, permitiram os seguintes valores cronométricos: "Amostra 4" 5629±38 BP (4531 a 4357 anos cal AC [a 2 σ]) e a "Amostra 7" 5699±31 BP (4654 a 4462 anos cal AC [a 2 σ]). Os valores apresentados foram calibrados com CALIB 3.0.3 (STUIVER & REIMER, 1993). Estes valores terminus post quem para a construção da estrutura megalítica, permitem inserir, pelo menos em parte, este monumento na primeira etapa do megalitismo local (GOMES L., et al., 1997a e 1997b).

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