OS FILHOS, OS BOTÕES DE PUNHO E O FA R O L N A B E I R A D A B A R R A
Sai pela manhã com um risco de horizonte nos
ninguém se suicide hoje porque está cansado
olhos.
das bocas do chefe quando chega tarde para a inauguração do dia que será duro.
Deixa em casa os filhos de mochila às costas e escola nas mãos.
Arregaça as mangas, não porque não esteja frio mas porque assim, o olhar se espraia no mar e
A mulher atira-lhe o último beijo que, se não
pensa que o Verão virá breve.
voltar, será isso mesmo, o último. À beira da Barra um farol apaga-se
pela
Não pode deixar de ir porque tem a mesa dos
madrugada todos os dias e volta a acender-se
filhos para pôr e qualquer coisa para comprar
à noite, quando os miúdos já dormem, a Rosa
à Rosa . É Natal. Qualquer coisa que ela achará
fechou as pétalas e os pensamentos mergulham
valiosa só porque vinda dele, ela a tudo dá valor.
no Futuro.
Na estação aguarda o comboio. Espera que
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