Tomada de posse ou simples troca de dono? Por Anabela Lemos & Daniel Ribeiro ``Cahora Bassa é nossa``. Foram estas as primeiras palavras proferidas pelo Presidente de Moçambique, Armando Guebuza, após a assinatura do acordo com o Primeiro Ministro português, José Sócrates, na ocasião da transferência da posse da Hidroeléctrica de Cahora Bassa (HCB) (27 anos de idade, localizada no rio Zambeze) para o Estado moçambicano. A útima ligação com a colonização de Moçambique por Portugal foi finalmente quebrada, mas estarão os novos elos económicos de Moçambique tomando um padrão semelhante de exploração e abuso? Interesses económicos abusivos não são novidade nas relações internacionais e há vários exemplos de países em desenvolvimento que estabeleceram relações desestabilizadoras. Estas experiências negativas têm trazido má reputação a organizações multilaterais como o Banco Mundial. Nesse sentido, vários doadores foram forçados a tomar mais em conta os impactos sociais e ambientais dos seus financiamentos, desenvolvendo políticas e regras que encorajam a transparência e a justiça social, assim como a sustentabilidade ambiental. As experiências passadas mostram como estas medidas protectivas são requisitos vitais na procura do verdadeiro desenvolvimento sustentável. No entanto, um dos novos investidores estrangeiros, a gigante China, rivalizando com o Banco Mundial o lugar de maior doador/financiador das nações africanas, tem vindo a subestimar a importância da transparência, justiça social e sustentabilidade ambiental. A China e a sua crescente necessidade de novas energias e materiais brutos (assim como novos mercados para os seus produtos) tem feito de África um foco para obtenção de valiosos recursos naturais; e várias nações se têm tornado seus importantes parceiros económicos. A China é o um dos maiores consumidores de zinco, nickel, cobre e petróleo, e o maior importador de madeiras tropicais. Os fracos requisitos sociais e ambientais chineses, o seu desrespeito pela protecção dos direitos humanos, a falta de transparência e a sua política de não-interferência nos assuntos internos dos países que financia, tem resultado na inundação de países africanos em fundos, permitindo que se evite a pressão internacional anti-corrupão. Como resultado: ditadores mantém o poder, as riquezas são mal distribuidas, não se alcançando o verdadeiro desenvolvimento sustentável. Moçambique é um dos países africanos que se aliou ao financiamento chinês, e agarrou-se com as duas mãos à oportunidade de não-interferência política e fracas regras impostas. Abaixo citam-se alguns exemplos do impacto negativo resultante desta relação. Abate de árvores na provincia da Zambézia Os compradores de madeira chineses, em conjunto com empresários moçambicanos e alguns membros do governo e serviços florestais, estão a