Por um fio

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, 2021/2022.

Capa: À Beira da Margem

POR UM FIO

Galeria de Arte ‒ Sesc Nova Friburgo 15 de março a 15 de junho de 2025

realização: produção:

LUME CULTURAL

Apresentação

Antonio Florencio de Queiroz Junior

Entre um fio e muitos fios, modos de existir na obra de Juliana Hoffmann

Rosângela Cherem

Formas sobreviventes: Juliana Hoffmann

Raul Antelo

Exposição: Por um fio

Antonio Florencio de Queiroz Junior Presidente da Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro | Fecomércio RJ

Apresentação

Criado em 2021, o Edital de Cultura Sesc RJ Pulsar foi concebido com a proposta de reativar o setor cultural gravemente impactado após a pandemia da Covid-19. Seus objetivos foram reconectar o artista com os espaços de apresentações culturais, intensificar as oportunidades de encontros da classe artística com um público diverso e impulsionar o fazer artístico em todas as suas esferas e potências. Desde então, vem se consolidando como uma das mais importantes ferramentas de incentivo à cultura do país, se dedicando a fomentar e apoiar a produção artística e cultural em suas diversas manifestações, comprometendo-se com o estímulo aos processos artísticos consolidados e em desenvolvimento, com a formação de público e com a inclusão social.

Assim, conseguimos garantir a seleção e participação de projetos de todo os estados nas diferentes linguagens, em realizações de exposições, apresentação de obras audiovisuais, espetáculos teatrais e circenses, apresentações de dança por meio de circulações dos espetáculos temporadas inéditas, realização de saraus literários, shows em diferentes gêneros, intervenções artísticas, performances e obras virtuais. Todas as iniciativas destinadas a um público intergeracional.

No campo das Artes Visuais, o Sesc RJ vem incentivando a pluralidade de encontros e experiências entre artistas de diferentes territórios e gerações, com produções consolidadas e experimentais, por meio de exposições nos mais variados formatos e ambientes. Reafirmando o compromisso com todos os atores envolvidos na produção do setor da Cultura e da Economia Criativa, entendemos que oportunizar tal programação é garantir o acesso, a renovação e a qualificação do nosso público e um investimento naquilo que nos é mais valioso, o ser humano.

Rosângela Cherem Curadora

Entre

um fio e muitos

fios, modos de existir na obra de Juliana Hoffmann

A ideia de fio pode estar associada a uma linha que compõe a trama de um tecido ou a algo que reveste um carretel ou constitui um novelo. Igualmente pode indicar uma fiação elétrica, o filamento de um músculo ou um vegetal. Também pode ser a lâmina de uma faca ou caracterizar a largura estreita de um corte. A mesma palavra pode, ainda, ser usada para explicar a sequência de um raciocínio ou um triz como distância ínfima entre corpos ou tempos. Curto ou comprido, grosso ou fino, um fio pode estar sozinho ou fazer parte de um bordado, uma teia ou uma rede. Pode ser um fiapo ou felpa, fazer parte dos tufos de um capinzal, pelagem, crina ou cabeleira. Por um fio alguém pode perder a vida ou se salvar, pode ter esperança, medo ou dúvida, perceber um fio de luz, encontrar um fio de água, reconhecer um fio de metal. De todo modo, é diferente de um ponto porque contempla a ideia de algo mais fino e alongado, mesmo que esteja emaranhado. Não à toa, pode-se encontrar ou perder o fio da meada. Em diferentes sentidos, a noção de fio perpassa tanto o trabalho de Juliana Hoffmann, como também os vínculos que compõem este texto. Vejamos como isto é possível.

Um fio que acabou por delinear uma imparidade.

Juliana Hoffmann conta que tinha pouco mais de dez anos e já desenhava e pintava. Gostava de fazer esta atividade até mesmo no carro em movimento, enquanto seu pai levava a família para passar os finais de semana no sítio. Pelos quinze anos, já participava de exposições com seus desenhos esquemáticos, mas naturalistas, feitos com caneta nanquim sobre papel. Ocorre que, sem se dar conta, ali nasciam

algumas marcas que seriam suas e que a acompanhariam, posteriormente, nas suas telas e instalações. As linhas estavam lá: eram retas nas estradinhas e casinholas, nos cercados, postes e fios de eletricidade. Obedientes, seguiam os contornos dos morros, das árvores e das nuvens, eram tracejadas nas ondas do mar e nos telhados, eram circulares na vibração luminosa dos raios de sol. Nas pinturas à óleo, depois trocadas por tinta acrílica, as linhas surgiam geométricas nas fachadas, escadarias e faixas de pedestres, ou, então nos pisos e assoalhos, estantes e mobílias. Mais adiante, quando resolveu dar um aspecto mais aguado para suas superfícies pictóricas, passava-lhes uma escova, trocando as linhas pelas ranhuras.

Neste meio tempo, fez um curso de Técnico de Construção de Estradas como opção para o ensino médio, e escolheu Engenharia Civil para seguir na graduação. Se no começo dos anos 80, a paisagem parecia cintilar pela composição com plantações, animais e outros detalhes bucólicos, ampliados por meio de efeitos ornamentais, antes que aquela década terminasse, as linhas imaginativas pareciam ceder lugar para o desenho com curvas de nível e para as plantas dos projetos arquitetônicos. Porém, no começo dos anos 90, a engenheira com destaque para cálculo estrutural abandonou a profissão para dedicar-se ao que aprendia nos cursos avulsos de História da Arte e nas oficinas de desenho e fotografia. Munida deste repertório, seus traços se tornaram mais abstratos, assumindo de vez a tinta acrílica. Por volta dos anos 2000, a construção desordenada dos prédios e as modificações da paisagem urbana afirmavam-se como uma questão recorrente, por meio de um olhar que reconhecia o tênue fio a ligar cidade e ruína, seus emaranhados e excessos. Em seu processo poético passou a combinar pinturas com fotografias na mesma superfície. As linhas, trazidas do desenho e contempladas no interior de seus quadros, passaram a ser um tipo de material enleado na tela, por vezes com uso de parafusos e suportes em acrílico. As experimentações em diferentes contextos biplanares e instalações passaram a ser apresentadas com mais frequência nas exposições individuais e coletivas, além de trabalhos visibilizados nas intervenções urbanas, residências artísticas e exposições na Itália, Espanha e França.

Desse modo, o que se observa é uma certa ambiguidade entre a natureza do objeto e sua reconfiguração, entre a preservação e a desintegração visual. Cabe aqui destacar a ênfase dada à memória como um arquivo inextenso e incorpóreo, infinitamente

móvel. Assim, não se trata de considerar o arquivo de Juliana Hoffmann como um lugar, mas sim como uma instância imaterial onde as coisas se avizinham e articulam, alcançam e ressignificam a partir de impressões e vestígios, supressões e outras contingências. Eis um escopo que a artista parece destacar: entre o excesso e a insuficiência, habitamos e somos habitados por tudo aquilo que se dirige e afeta apenas a cada um, mas que só se torna verdadeiramente nosso quando processado na mais absoluta imparidade.

Situado num campo oposto ao determinismo, ao evolucionismo e ao positivismo, em fins do século XIX, Henri Bergson 1 abordou dois tipos de conhecimento em Matéria e Memória, Ensaio Sobre a Relação do Corpo com o Espírito. De um lado, aquele associado à produção de conceitos e juízos, fossem indutivos ou dedutivos; ao conhecimento analítico e técnico, baseado na lógica e no cálculo, na comparação, quantificação e sucessão linear. De outro lado, existe um tipo de conhecimento gerado por uma sorte de impulso vital, que não distingue corpo e alma, consciência e vida, cérebro e pensamento, experiência interior e sonho, que não divide o tempo e nem se conta cronologicamente, porque sua duração permanece indivisível e interpenetrada. Este é o lugar da intuição e da memória, cujos domínios pertencem ao espírito. Ou seja, o que constitui o humano não é um mero jogo de ideias racionais ou abstratas, mas é assunto meta-físico. Considerando corpo e alma de modo distinto de Descartes, para o filósofo, enquanto o corpo se situa no presente, a alma existe em relação ao passado.

Cerca de sessenta anos depois, Martin Heidegger 2 refletiu em Construir, Habitar, Pensar sobre o fato de que construímos e habitamos espaços sensíveis, moramos em nossos afetos e percepções, sendo que habitar é diferente de construir ou residir, pois habitar é resguardar: somente os humanos habitam, somente os humanos são, enquanto habitam sob este céu e sobre esta terra. O que estes dois autores possuem em comum com os trabalhos de Juliana Hoffmann? Para ambos, a matéria mais singular de nossa humanidade provém de um passado alimentado através de nossa

1 BERGSON, Henri. Matéria e Memória, Ensaio Sobre a Relação do Corpo com o Espírito São Paulo: Martins Fonte, 1999.

2 HEIDEGGER, Martin. Construir, Habitar, Pensar. In: Multitemas 23(53):275. March 2018. DOI: 10.20435/multi.v23i53.1593. https://www.researchgate.net/publication/324253871_Construir_habitar_pensar

memória. A medida em que a elaboramos e processamos, somos por ela constituídos. Nossa matéria é nossa memória e tudo aquilo que com ela podemos construir neste lugar a que chamamos mundo e em nossa condição de mortais. Eis, pois, o enredo e desafio pelo qual a artista parece transitar.

Por outro lado, Aion era uma divindade grega, cujas asas ficavam nas têmporas, possuindo uma capacidade ilimitada de mover-se no tempo, subdividindo-o e recombinando-o. A ele pertenciam os acontecimentos sem corpo, sendo por isso eternamente jovem. Seu contraponto era Kronos, o deus da finitude e do irreversível; todo vivente estaria a ele subordinado, não sendo possível ignorá-lo. Porém, quando ficamos presos num instante, quando o tempo parece não se mover e nem conseguimos contá-lo, este pertence a uma divindade chamada Kairós; a ele pertence o que lampeja em encontros temporais que paralisam e se acoplam em cintilações e permanecerão suspensos por uma eternidade. Na obra de Juliana Hoffmann estas três temporalidades estão presentes. Mas, se é verdade que há uma transitividade que permanece e faz uso da matéria mnemônica metamorfoseando-a, é aqui também que nos encontramos: no exato momento em que o passado coabita o presente e assim ficamos detidos por uma chama, como pequenos insetos fascinados por aquilo que não podemos alcançar. Porém, se acontecer de nos darmos conta de uma inatualidade que fricciona passado e presente, de pressentirmos uma temporalidade fraturada, disjuntiva e falha, onde também nós chegamos muito cedo ou demasiado tarde, é a vez de ouvirmos o que nos murmuram suas obras: lembrar é um modo de habitar, é o que os humanos fazem, antes que seus olhos se fechem para sempre.

Um fio que considera as multiespécies.

Quando ainda era insuspeita a pandemia de proporções planetárias que nos assolou em 2020, Juliana Hoffmann já prefigurava, de modo bastante contundente, a questão sobre nosso lugar no planeta como espécie. Na exposição intitulada Exprimível do Vazio 3 apresentou um conjunto de obras feitas a partir da ação

3 Exprimível do Vazio. Exposição de Juliana Hoffmann. Curadoria de Juliana Crispe. Fundação Cultural BADESC. Florianópolis: 2017.

de cupins e traças sobre páginas de livros e sua transformação em outra coisa. Distantes daquilo que um dia foram, destituídos da função que um dia tiveram como meio de conhecimento ou mesmo objeto simbólico, os livros tornaram-se vestígios reconfigurados, cujas páginas foram enleadas, cerzidas ou reagrupadas; suas capas foram dadas a ver como estamparias ou bordados, além das suas estruturas carcomidas que foram mostradas como objetos tridimensionais e dos seus títulos que ganharam sentidos irônicos e instigantes. A propósito deste material, com o qual iniciou-se como leitora, a artista conta que, por mais de uma década, não soube o que fazer com os restos da biblioteca paterna, composta por autores como Herman Melville, Jack London, Jonathan Swift, William Shakespeare, dentre outros. Ruína de uma biblioteca, temor de um bibliófilo e de leitores ávidos, o trabalho dos cupins e traças tornou-se o foco da exposição de 2017. Na maioria dos casos, a ação dos insetos recebeu destaque, dispensando qualquer elaboração ou desdobramento em outras faturas, sendo que o trabalho da artista consistiu em evidenciar o seu protagonismo, atuando como uma espécie de interlocutora atenta. Além dos pontilhados e amarras, o trabalho do tempo e a decomposição das páginas acabou por receber destaque pela veemência dos fios vermelhos esvaídos ou pelas suturas com linha preta, numa ação de reparo do impossível. Assim, combinavam-se decomposição e recomposição, perfazendo de modo colaborativo as demarcações entre o que é resultado da ação animal e da ação humana. Por fim, como deixar de reconhecer nestes trabalhos uma espécie de vanitas, com a qual as naturezas-mortas foram tão prestigiadas no período barroco, tornando-se metáfora da condição a que todos os viventes estariam fadados?

Para Fernando Beresñak 4, pesquisador e professor de Filosofia na Universidade de Belgrano, Argentina, embora as bactérias, arquéias e vírus não sejam organismos complexos, a vida complexa não contempla nenhum privilégio sobre àquelas, tampouco conta a intencionalidade de uma sobre as demais. Ao invés de considerar o planeta como fonte de recursos para serem explorados e dominados ou de pensar a natureza como um entorno ou exterioridade, é preciso repensar o

4 BERESÑAK, Fernando. La importancia tonal del fracaso universal. In: ROMANDINI, Fabián Ludueña (Director): Pensar la pandemia. La filosofía interpelada por el COVID-19. Bitacora de la Biblioteca da la Filosofia Venidera. ISSN 2684-0030. https://germyd.wixsite.com/bitacorabfv

desejo de controle e a relação co-original, onde o humano é apenas uma pequena parte no inextricável campo frequentado por diferentes espécies e reinos. De sua parte, considerando a partícula que ameaça a espécie humana como um elemento situado no limite da vida e que coloca em xeque inúmeras escolhas e arapucas civilizatórias, German Prosperi 5, professor de Filosofia na Universidade Nacional de La Plata, questiona o que constitui isso que chamamos de corpo humano na sua mais completa condição de recolhimento e fragilidade biológica. Entre as premissas tecno-civilizatórias e as sutilezas da existência, nos remete a Nietzsche 6 , para quem a vida não passa de um acidente sempre sujeito a novos acidentes.

Algum tempo depois de Exprimível do Vazio, foi a vez da exposição Sobre Viventes 7 , na qual Juliana Hoffmann explorou a relação entre natureza e devastação ambiental.

A temática nascia meses antes de proliferarem nos noticiários e reportagens denúncias de queimadas nas florestas brasileiras. Se a ausência humana seguia marcante nos trabalhos daquela ocasião, isto se devia ao fato de ser menos para assinalar um lugar intocado e mais para destacar um sistema que sobrevive sob ameaça e risco de extinção: conseguirão as formas de vida vegetal se recuperar antes de seus destruidores? Poderão estes sobreviver após extinguí-las? Entre as duas formas de vida, a humana e a vegetal, qual delas poderá se recuperar após o desaparecimento da outra? Além de pinturas com tinta acrílica sobre tela, compareciam fotografias impressas sobre páginas de livros antigos em caixas de luz, além de múltiplos com impressões em fine art e sobre acrílico. Cada obra dava a ver um gesto por onde eram construídas aproximações e afinidades entre desenho e bordado, entre contenção formal e desacato ornamental. Através de pontilhados, perfurações e tracejados, surgiam florestas noturnas, cujos troncos e galhos compunham estranhas torções, árvores respiravam pelos poros, deslindados por pequenos ponti-

5 PRÓSPERI, Germán. La muerte del cuerpo y el dispositivo de corporalidad. In: ROMANDINI, Fabián Ludueña (Diretor): Pensar la pandemia. La filosofía interpelada por el COVID-19. Bitacora de la Biblioteca de la Filosofia Venidera. ISSN 2684-0030. Bitacora de la Biblioteca da la Filosofia Venidera. ISSN 2684-0030. https://germyd.wixsite.com/bitacorabfv

6 NIETZSCHE, Friedrich. Sobre verdade e a mentira no sentido extra-moral. In.: Os pensadores. São Paulo: Ed. Nova Cultural, 1987, vol. 1, p. 37.

7 Sobre Viventes. Exposição de Juliana Hoffmann. Curadoria Rosângela Cherem & Equipe. Galeria Helena Fretta. Florianópolis, SC: 2019.

nhos, apresentando uma paisagem por onde espreitavam perigos. Tudo parecia estar por um triz, junto com luzes de diferentes colorações, vindas de um fundo indiscernível. Assim, a ambientação luminosa oferecia uma espécie de desafio pictórico, produzindo jogos de claridade e escuridão, opacidade e transparência.

Ainda em 2019, na exposição Florestas 8 , Juliana Hoffmann prosseguiu a problemática da relação entre humanos e vegetais, embora trazendo trabalhos mais experimentais, tais como pinturas sobre folhas de papel arroz, vindas do alto da parede até se desenrolarem no chão, e caixas de luz, com páginas de livro pintadas, pontilhadas ou costuradas, cuja fiação elétrica ficava aparente, estendendo-se também pelo chão. Nos dois casos, o papel como vestígio material da árvore tanto ampliava a problemática da vida vegetal como a questão da vida para além do orgânico, em sua perpétua cambiância. Em relação às caixas apresentadas como retângulos verticais, contornadas pelas molduras brancas, estas remetiam a uma cenografia, cujas imagens lembravam poros, faíscas ou estrelas sob a forma de grãos de luz e de cor, tal como desenhos compondo distantes constelações, multiplicando a intencionalidade dos claros e escuros e dos minúsculos pontilhados, numa espécie de cosmogonia portátil, entre as escalas do micro e do macro, entre as dimensões do orgânico e do inorgânico. Sensível ao que perece, era a condição dos viventes que permanecia em questão. E era assim que as árvores como signo espectral seguiam deslindando a persistência e a transitoriedade daquilo que não cessa de nos interpelar.

Neste contexto, no jogo especular por onde a luz da natureza se revela e se ausenta como obra, tudo não passa de ornamento e cintilação que se dirige ao perecível. Retratos fantasmáticos que permitem reconhecer a heterogeneidade profusa que nos é dada a ver: um mundo no qual a solidez dos corpos, a clareza dos contornos e a fixidez das imagens se dissipa, dando lugar a verbos que afetam todos os modos de existência: aparecer, desaparecer, reaparecer 9. Mantendo a antiga prática de perceber seu entorno, Juliana Hoffmann olhou para a vegetação, sobretudo as árvores, mais uma vez, como parte de seus trabalhos, tal como já o fazia em seus desenhos de juventude. Sem tomar para si uma causa ou bandeira que se sobrepõe

8 Florestas. Exposição de Juliana Hoffmann. BIENAL DE CURITIBA. Memorial Meyer Filho. Florianópolis: 2019.

9 LAPOUJADE, David. As existências mínimas. São Paulo: N-1, 2017, p. 117.

ao pensamento plástico, persistia e mantinha em seus trabalhos uma sensibilidade em relação aos elos entre natureza proliferante e paisagem modificada, ampliando sua sensibilidade em relação à devastação ambiental.

Bom lembrar, ainda, que para o filósofo Emanuelle Coccia10 no livro A vida das plantas, pouco se pensa as plantas na perspectiva da filosofia e das ciências da vida, colorido relegado às margens do campo cognitivo, sendo que mesmo a biologia é zoocêntrica, muito embora interrogar as plantas seja compreender o que significa estar no mundo. O mundo é um fato vegetal, sem a fotossíntese não haveria oxigênio [...]. Para este autor, as plantas abalaram os pilares das ditas ciências naturais nos últimos séculos, devendo-se considerar que o meio tem primazia sobre os viventes: pois sua história, sua evolução, provam que os viventes produzem o meio em que vivem [...]. É por e através delas que nosso planeta produz sua atmosfera e faz respirar os seres que cobrem a sua pele [...].

Por sua vez, é aqui que ainda parece procedente referenciar Nietzsche11, na medida em que suas reflexões nos permitem pensar a exposição Florestas, particularmente para lembrar que a vida não é argumento, mas é erro, o ser humano é pura contingência e acaso. Sendo o conhecimento um disfarce ou logro, a verdade é uma convenção assentada sobre a mentira, aglomeração estrangeira do confuso. É por isso que a cada instante, como no sonho, tudo é possível, enquanto a natureza inteira esvoaça em torno do homem como se fosse apenas uma máscara dos deuses. Não sendo o mundo justo nem perfeito, o orgânico é exceção, a totalidade é postiça, a matéria é erro e nada possui substância eterna. Se a razão solapa a vida, só a arte compreende que a beleza e a nobreza rastejam, permitindo pressentir o a-histórico no limiar do instante, esquecendo que a vida é feita de insignificâncias e acidentes incompreensíveis, mas que também os grandes acontecimentos, por sua vez, não passam de um engano.

10 COCCIA, Emanuele. A vida das plantas: uma metafísica da mistura. Florianópolis: Cultura e Barbárie, 2018, p. 11 a 17.

11 NIETZSCHE, Friedrich. Op. Cit.

Um fio que leva aos labirintos do outro e nos implica.

Em 2024, sob o título Exaptações, Juliana Hoffmann realizou uma grande exposição em que apresentava uma espécie de síntese das reflexões que precederam e atravessaram os anos pandêmicos12. Se apenas um de seus cupins e traças pudessem se fazer ouvir por meio de seus trabalhos ali presentes, talvez dissesse: Olhe bem para mim, você sabe quem sou? Chegue mais perto, perceba as sutilezas que contenho, procure acompanhar minhas considerações. Posso me apresentar como um ourives marchetando, produzindo ricos detalhes, perfurando e criando novas superfícies. Também posso me parecer com um cartógrafo a desenhar mapas, redefinir distâncias, indicar novos territórios. Se você quiser, posso ser apenas um paisagista a deslindar lugares e ignorar fronteiras; mas, se preferir, poderei ser um tipo de anatomista a perscrutar entranhas e órgãos, indicar os ossos corroídos pela passagem do tempo. Não me queira mal por ser demasiado indiferente as suas valiosas leituras. É que nada disso interfere sobre meus sentidos ou direção, tampouco sobre as leis que ditam minha sobrevivência. Bem verdade que cada um de nós só se tornou parte de alguma obra, primeiramente, pela ação de nosso diminuto tamanho, mas também por nossa laboriosa e incansável paciência. Não nos subestime pelo tamanho ou lentidão, pois somos capazes de fazer você pensar a sua própria fragilidade e ausência. Estamos neste mundo muito antes da sua chegada e ficaremos muito depois que sua espécie tiver partido.

Justapondo este suposto monólogo, cabe destacar uma obra na qual a artista de Exaptações transformou um livro de música destroçado num objeto escultórico protegido por uma cúpula de acrílico e espalhou capas de livros numa parede, como se fosse uma constelação feita de pequenas pinturas ou um mostruário de ricos e coloridos brocados. Numa das salas expositivas criou, com espantosa firmeza de traços e obstinada repetição, conexões entre coisas díspares, circundando furos como ondas vibratórias expandidas até quase sua dissolução através das páginas. Distribuiu um conjunto daquelas que compunham outrora um livro atravessado pela ação dos cupins, vendo-as agora como partituras de uma meticulosa e silente sinfonia, iniciada por dois minúsculos pontinhos nas primeiras páginas e seguindo

12 Exaptações. Exposição de Juliana Hoffmann. Curadoria Raul Antelo & Equipe. Fundação Cultural BADESC. Florianópolis: 2024.

até surgirem surpreendentes pontos de interrogação, cuja forma vai se desfazendo nas páginas seguintes, até voltarem, novamente, a ser dois pontinhos nas últimas páginas. Assim, diante de suas obras perpassa uma gama enorme de semelhanças deslocadas que surgem tanto pela capacidade de projetar outros modos possíveis de existência, como também por podermos reconhecer nelas uma parte daquilo que nós mesmos somos capazes de imaginar e fazer. Merecem destaque, ainda, os delicados interruptores, cujas caixinhas foram pintadas de preto em seu interior e em cuja superfície das tampas surgem imagens de árvores impressas sobre páginas de livros, algumas delas bordadas, outras apenas pontilhadas e que, quando acesas, funcionam como pequenos poemas visuais ou constelações que a nós se dirigem para nos revelar um segredo que não podemos alcançar.

Numa sequência de raciocínio, vemos as paredes de uma casa como se fossem um corpo a transpirar e a descamar, levando-nos à compreensão de que nada está apartado de nós. Como aquelas paredes comidas pelos fungos, somos apenas uma espécie abrigando infinitas outras espécies. Não ocupamos o centro do planeta, tampouco ele existe para nós. Nossos corpos, como nossas florestas e casas, são nossa morada, somos viventes entre viventes, matéria entre matérias. Em algum ponto cego de nossa compreensão, espreita-nos o fato de que não somos apenas seres que um dia virarão pó, mas também produtores de ruínas que ameaçam outros viventes. Se desaparecer é o traço que iguala tudo aquilo que um dia existiu e existe, pensemos melhor nossa condição de ruínas, materializada tanto nas paredes que se desfazem, como nas capas de livros esvaziadas e carcomidas. A casa construída, o livro escrito, tudo isto foi um dia relevante para alguém, um futuro deslumbrado pela confiança nas promessas e certezas da consciência. Agora este material nada mais é do que restos visitados por pequeníssimos seres, os quais, além de cegos, desconhecem o sentido de indivíduo, pois só existem em colônias, sendo que a matéria por eles alterada é devolvida na forma de montanhas de papel ou madeira tornados excrementos.

Antes que elevemos a voz para afirmar nossas diferenças, outra sala no final de um corredor nos aguarda para que possamos encontrar mais afinidades com os cupins do que gostaríamos. Sobre blocos cimentícios, vemos placas de madeiras, algumas apenas envernizadas, outras mais coloridas. Nelas reconhecemos vestígios

deixados por máquinas de corte a laser para fazer letreiros e aparar placas, cujas marcas sobre o tampo de madeira parecem restos de uma escritura tão enigmática como os caminhos construídos pelos insetos. Ocorre que a superfície de madeira descartada como lixo foi recolhida pela artista, passando a funcionar como quadros ou vitrais foscos de uma estranha capela, a qual nos convida a contemplar o ciclo interminável de vazio e preenchimento, de dispêndio e rumo irremediável sobre o qual perambulam todos os viventes. Contemplando as ruínas que construímos, quiçá tenhamos mais chances de gerar uma outra linguagem, capaz de produzir um outro olhar com o qual conseguiremos reconhecer outras possibilidades de coexistência que agora nos escapam. Quem sabe estejamos mais equipados para vislumbrar outros modos de convívio entre as espécies, além destas que somos capazes de reconhecer por enquanto. Tudo indica que não encontraremos alternativas com os equipamentos que dispomos, pois com eles conseguiremos apenas produzir mais do mesmo. Eis o desafio, eis a urgência.

Um fio que remete ao risco de uma obra sem mestre.

Comecemos este item identificando três figuras invisíveis, mas muito presentes nos trabalhos de Juliana Hoffmann, os quais se tornam melhor reconhecidos porque foram referenciados em conversas com a artista durante a pesquisa que resultou neste texto: o pai, a mãe e a menina pequena. Em Exaptações, é preciso ressaltar: a principal matéria de sua obra, os livros, é oriunda da antiga biblioteca paterna, constituída em boa parte pela literatura inglesa, a qual a filha assimilou através de um lento aprendizado que compreendia sessões de leitura e conversas, muitas vezes em inglês. Este idioma foi um importante recurso com o qual o pai complementava o sustento da família. Também foi por conta deste material que a casa era frequentada por artistas e escritores que ali vinham para conversar, enquanto a criança e suas irmãs eram alfabetizadas. A outra presença é a materna. Lembrando que também a avó bordava, a artista conta que durante os últimos meses em que a mãe esteve doente, sentava-se ao seu lado e punha-se a bordar. Assim passavam o tempo, às vezes silenciosas, às vezes conversando sobre bordado ou outros assuntos. Tal atividade, seguiu sedimentando a relação entre mãe e filha até a beira da morte. Cada uma das sutis perfurações feitas pela agulha com esmerada repe-

tição e capricho era uma insistência naquilo que desaparecia para reaparecer em seguida, reafirmando contornos e preenchendo vazios. Assim, trabalhar a delicadeza maleável do fio sobre um tecido, parecia um modo de resistir e tentar adiar a ausência materna mais definitiva, ao mesmo tempo em que as linhas processadas nos bordados eram também um modo de iniciar a elaboração da própria dor causada pela perda que se prefigurava.

A criança relembrada em sua familiaridade com as páginas dos livros e as linhas dos bordados é reconhecida pela artista como sendo a mesma que busca construir figurações e formas dotadas de carga mnemônica, num esforço involuntário e impremeditado para reter as cintilações de um estado de plenitude infantil, do qual a menina ia se afastando na proporção em que crescia. Ao que parece, as figuras paterna e materna, associadas aos instantes de felicidade amorosa, constituem-se numa espécie de registro eivado de vivências revigoradas em seu teor de emoções e lembranças, processadas pelas sutilezas poéticas e as minúcias de sua fatura. Neste sentido, reter e rearranjar surgem como esforços pelos quais Juliana Hoffmann translada o arsenal imagético de suas afecções. Em alguns trabalhos, a frágil composição da linha entornando o livro repetidas vezes, cria uma força visual que transcende sua delicadeza material, confrontando o espectador com uma ambiguidade entre a natureza do objeto e sua desnaturalização. Em outros, através da costura, perpassa e fere as páginas dos livros sem desfazê-las como suporte, tentando preservar sua integridade.

A artista observa que, embora tenha constatado a decomposição dos livros há mais de dez anos, um longo caminho se fez até poder amarrá-los, decompor as páginas e sustentá-las por alfinetes, expor sobre uma mesa, enquadrar em placas de acrílico e/ou sob foco de luz, bordar, desenhar sobre um relevo de páginas, reaproveitar as capas marcadas por fungos. Desgarrados e brilhantes, os objetos explicitados em sua decomposição e inoperância, tanto travam um combate com a imponência do que foi a presença paterna e sua biblioteca, como um trabalho de elaboração da dor causada pela perda materna. Assim, enquanto a literatura é processada como coisa, a linha torna-se um texto indecifrável que segue pontilhado, contornado, amarrado ou esvaído. Suspensos pelo fascínio entre o quase tudo que foi e o quase nada que resta, seus trabalhos acolhem o espectro que habita o âmago daquilo que

insiste e consiste, o que desaparece e o que persiste. Questão que conduz ao paradoxo de que as imagens são como fantasmas situados, concomitantemente, entre a condição de clausura e de extrapolação do tempo.

Munidos deste panorama, onde incidem não apenas diferentes linhas e fios, como diferentes entendimentos e sentidos sobre os mesmos, passemos agora a observar alguns trabalhos que são apresentados na exposição Por um fio13. Assim, sobre a temática da vida vegetal, desdobrada a partir da exposição Sobre Viventes, comparecem: Sem o poço, sem o pêndulo, 2018. Série A Construção do Mundo Moderno –Sobre Viventes. Vídeo com duração de 4’20”. Sobre uma fotografia de três trabalhos da série Sobre Viventes, a partir de uma programação, o computador vai simulando uma costura com linha vermelha até cobrir totalmente a obra. O título é inspirado no conto O Poço e o Pêndulo, de Allan Poe, no qual a parte mais sufocante é quando as paredes de uma sala de tortura com imagens de uma floresta pegando fogo vão comprimindo o torturado e a temperatura da sala vai aumentando insuportavelmente, até resultar em sufocamento; Sem título, 2019. Série A Construção do Mundo Moderno – Sobre Viventes. Fotografia adesivada sobre três vidros e linhas vermelhas, medindo 40 x 20 cm cada; Floresta: Pele, Poros, Respiros, 2019. Série A Construção do Mundo Moderno – Sobre Viventes. Impressão digital – impressão fine art com pigmento mineral sobre papel, bordada e perfurada. Dimensão: 90 x 110 cm; Apague ao sair, 2022. Série A Construção do Mundo Moderno – Sobre Viventes. Instalação interativa: dezoito interruptores luminosos com pedaços de páginas de livro perfuradas e bordadas. Dimensão do interruptor: 9 x 9 cm cada. Por sua vez, sobre a temática das fronteiras, desdobradas desde a exposição Exprimível do Vazio, apresentam-se: Sem título, 2019. Série A Construção do Mundo Moderno – Fronteiras. Técnica mista sobre tela: pintura, colagem, perfuração, desenho, com dimensão de 160 x 110 cm; Geografia em ruínas, 2020. Série A Construção do Mundo Moderno – Fronteiras. Objeto: livro corroído por cupins. Dimensão: 26 x 20 x 2 cm; Notas da Pandemia I e Notas da Pandemia II, 2020. Série A Construção do Mundo Moderno – Fronteiras. Vídeo com duração de 1’26”; Notas

13 Por um fio. Exposição de Juliana Hoffmann. Curadoria de Rosângela Cherem. Edital Sesc RJ Pulsar – 2024/2025. Nova Friburgo, RJ: 2025.

da Pandemia II, 2021. Série A Construção do Mundo Moderno – Fronteiras. Objeto: desenho de mapa sobre página de livro antigo e linhas vermelhas. Dimensão: 70 x 15 cm; À Beira da Margem, 2021/2022. Série A Construção do Mundo Moderno –Fronteiras. Vinte telas de tamanhos diferentes formando um painel de 280 x 280 cm. Técnica mista sobre tela – pintura, colagem, perfuração, desenho, bordado/ costura. Compõe um grande mosaico cujos mapas em P&B são páginas tiradas de um antigo dicionário enciclopédico ilustrado encontrado em uma caçamba de material de descarte, sendo depois arranjados aleatoriamente. Antes de serem colados, estes mapas foram todos perfurados com agulha, criando poros de respiros necessários. Sobre esta grande colagem, foram desenhadas linhas de propagações, contornando estas divisões geopolíticas como um mundo que vibra e pulsa. Das “fronteiras” ou margens destes “países” pendem linhas vermelhas. O mar, no entorno, é um mar de palavras, composto por verbetes de dicionário. Para finalizar a relação de obras expostas em Por um fio, desdobradas desde a exposição Exprimível do Vazio, emergem: Sem título, 2018. Série A Construção do Mundo Moderno – Ruínas. Nove objetos com 18 x 12 cm cada: bordado e perfuração sobre página de livro antigo; Sem título, 2019. Série A Construção do Mundo Moderno –Sobre Viventes. Backlight: impressão sobre quatro páginas de livro antigo, bordada e perfurada, medindo 30 x 21 cm cada; Sem título, 2019. Série A Construção do Mundo Moderno – Sobre Viventes. Instalação interativa: cinco páginas de livros antigos bordadas e perfuradas, cobertas com placas de acrílico e dispostas sobre bancada com backlight, medindo 18 x 12 cm cada. Estas páginas estão sobre uma bancada, podendo ser manuseadas; Para/To, 2019. Série A Construção do Mundo Moderno – Ruínas. Páginas de livros antigos com dedicatórias, medindo 18 x 12 cm cada; Avant Garde, 2020. Série A Construção do Mundo Moderno – Ruínas. Instalação com capas de livros antigos medindo 21 x 12 cm e 3 cm de espessura cada; Praias, 2021. Série A Construção do Mundo Moderno – Ruínas. Objeto: bordado sobre uma das páginas de um livro aberto e corroído por traças/cupins. Dimensão: 21 x 24 cm.

Cabe ressaltar que estes três conjuntos de obras estão distribuídos em um mesmo espaço, embora agrupados no que poderíamos considerar como dois ambientes. Assim, logo ao entrar na exposição, o visitante se depara com questões

para pensar nosso modo de convívio com a vida vegetal, particularmente nossa responsabilidade em relação às florestas, de quem tanto dependemos, esquecendo-nos de que somos espécies entre espécies. Na outra metade do espaço expositivo, é possível reconhecer os mapas e as fronteiras como algo a ser pensado em termos planetários, bem como suas implicações para a continuidade da espécie humana. Livros decompostos pelos cupins e páginas ressignificadas por linhas que servem para cerzir e proteger, mas também para demarcar e limitar, apresentam-se como principal material trabalhado, além de se constituir como matéria para nos fazer refletir sobre as urgências do mundo e do tempo em que vivemos.

Para encerrar este texto, cabe lembrar o livro que Didi Huberman 14 escreveu em época muito próxima àquela em que Juliana Hoffmann criou a maior parte dos trabalhos das últimas exposições, notadamente aqueles que são apresentados na exposição que acontece no Sesc de Nova Friburgo, RJ, em 2025. Ao tratar da obra de Steve McQueen, o autor viu nos trabalhos com selos postais do artista britânico, a marca de quem preferiu criar, colocando-se sob risco e se desterritorializando, ao invés de reduzir sua obra a um belo objeto parido por alguém que renuncia à autodeterminação e à coragem, pronto para se abrigar sob o manto seguro do reconhecimento e da comodidade, assegurando à própria imagem um lugar glorioso onde permanece inarredável. Cotejando seu pensamento com O Funâmbulo de Jean Genet, o historiador reconhece que o fio está sempre por um fio, pois a criação mais radical é reiteradamente incerta, arriscada e frágil. Privilegiando não a grande obra, mas o objeto menor, há uma linhagem de artistas capazes de se projetar para além do objeto exponível e espetacular, em proveito de uma figuração que é, ao mesmo tempo, ancestral e atual. Juliana Hoffmann parece pertencer a esta família, lançando-se ao desafio de produzir uma obra que, tal como o equilibrista sabe: se não cair do fio, ao menos voltará a descer ao chão.

14 DIDI-HUBERMAN, Georges. Sobre o fio. Florianópolis: Cultura e Barbárie, 2019.

Raul Antelo
Autor Convidado

Formas sobreviventes:

O fio é algo muito simples: apenas uma linha no espaço. Mas é também algo de muito complexo: um novelo, um emaranhado. O fio sustenta a estrutura (teia de aranha, cordame, rede de ligaduras), mas pode também se desfiar e, de repente, se romper. Ele se junta (fiação, malha) ou se alinhava (laço, franja, trança). Ele traça um destino (as Parcas), nos aprisiona (amarras, laços) ou se divide em quatro (racionalizações, argúcias, subterfúgios). Guia-nos para o melhor (Ariadne, curso d’água) ou nos extravia para o pior (cipós, cardos). O fio liga, encadeia e dá curso. Ou, ao contrário, corta, afia, amola e faz romper. O fio está sempre por um fio. Essa é sua beleza – seu belo risco – e sua fragilidade. Daí que a noção de soberania se mantenha ela própria sobre o fio, como essa figura funambulesca que encontramos, antes do filme de Steve McQueen, num admirável texto de Jean Genet em que o dançarino de corda servia de parábola ao duplo status – soberania, impoder – do artista em geral.

Georges Didi-Huberman – Sobre o fio (2013).

Marcel Duchamp assumiu as rachaduras acidentais do suporte material de seu Grande Vidro como um dado do Acaso que, no entanto, escrevia a história. Um objeto fechado em si mesmo dava enfim a ver sua melancolia, seu abandono. A beleza da obra-prima ofuscava, paradoxalmente, a relevância da obra, do simples trabalho como deliberação do Artista. Da mesma forma, quando Juliana Hoffmann recolhe, na biblioteca paterna, o exemplar, sulcado pelas traças e térmitas, de The Building of the Modern World (1942), de John Adams Brendon, sua abertura ao Acaso ressignifica seu trabalho a partir da coleção de traços-das-traças, marcas da vida não-humana, como condicionantes de nossa própria vida.

Ressignifica-se, assim, A Construção do Mundo Moderno (2021). Há, nessa acolhida do Acaso, igualmente reconhecível nas séries Surviving Forest (2018) e Sobre Viventes (2019), um declínio dos grandes atores históricos e dos espaços públicos em que eles se movimentaram; mas, ao mesmo tempo, uma politização de amplo espectro da vida social e comunitária, que abre passagem a uma proliferação de identidades particulares. Refletir sobre a emergência dessas novas experiências e desses atores sociais emergentes, que ultrapassam os marcos clássicos do que entendemos como “comum” (na sociedade, na cultura, na obra específica), obriga-nos a aceitar o desafio que tais particularismos impõem ao modelo iluminista convencional. E a consequência mais contundente desse processo é levarmos em consideração a contingência com que se produzem essas alterações ou modificações. A possibilidade de ser ou de não ser, diria Aristóteles.

Desde A contingência das leis da natureza (1874), de Émile Boutroux, contingência é sinônimo de indeterminação, do livre e até mesmo do imprevisível, ou seja, aquilo de impensado que se encontra ou age no mundo natural. Porém, entre a necessidade natural (non poter non essere) e a contingência cultural (poter non essere), a tateante contingência moderna constrói, digamos assim, uma contingência ao segundo grau, que não garante qualquer liberdade e que, como não pode não ser, nos impõe o irreparável, a coerção generalizada.

Já em A evolução criadora (1907), Henri Bergson estipulou que toda ordem é, no fundo, necessariamente contingente. Se há duas espécies de ordem, essa contingência da ordem explica-se pensando que uma das formas é contingente com relação à outra. Ali onde, por exemplo, vemos o dado geométrico, o vital é igualmente possível; ali onde a ordem é vital, bem caberia a geometria. Mas admitindo que só haja uma ordem e ela seja, por toda parte, da mesma espécie, comportando, simplesmente, diferentes graus entre o geométrico e o vital, é forçoso concluir que, uma vez que uma ordem determinada continua a nos aparecer como contingente, ela já não pode mais sê-lo com relação a uma ordem de um outro gênero. Conclui-se, então, que toda ordem é contingente com relação a uma ausência dela própria, isto é, com relação a um estado de coisas em que não existiria ordem, de modo algum. Colocamos, portanto, no topo da hierarquia, a ordem vital; depois, como uma diminuição ou uma complicação simplificada desta, a ordem geométrica e, por

fim, lá embaixo, a ausência de toda ordem, o caos, a incoerência mesmo, às quais a ordem se superporia, dominadora. É por esse motivo que a incoerência, mesmo a seu pesar, sempre dá a impressão de algo racional, porém, escondido, contido, sequestrado. Mas se observamos que o estado de coisas implicado pela contingência de uma ordem determinada é simplesmente a presença de uma ordem contrária, e se, por isso mesmo, colocarmos duas espécies de ordem, uma inversa da outra, enfrentadas, é fácil concluir que não é possível imaginar graus intermediários entre as duas ordens e que também não é possível descer dessas duas ordens para o incoerente ou confuso. Duas alternativas impõem-se: ora essa incoerência é apenas algo carente de sentido; ora, se lhe confiro uma significação, é sob a condição de pôr a incoerência a meio caminho entre as duas ordens e não de maneira escondida, soterrada, embaixo de ambas. Não existe evolução. Não há progresso. Não há o incoerente primeiro, depois o geométrico, depois o vital: há simplesmente o geométrico e o vital, e depois, por uma oscilação do espírito entre um e outro, a ideia do incoerente. Falar de uma diversidade incoordenada à qual a ordem vem se acrescentar é, portanto, cometer uma verdadeira petição de princípio, pois ao imaginar o incoordenado pomos realmente uma ordem ou, melhor, pomos duas 1. A realidade e a história não podem passar da tensão para a extensão e da liberdade para a necessidade mecânica por via de inversão. Não basta estabelecer que essa relação entre os dois termos nos é apresentada, ao mesmo tempo, pela consciência e pela experiência sensível. Há o inconsciente da obra que catalisa a obra-prima.

A contingência é o puro possível, um possível elevado à condição de uma subjetividade, um valor, na arte, buscado, ao menos, desde Duchamp, que não sugere apenas que tudo pode acontecer, mas afirma, fundamentalmente, que nada, de fato, acontece, e mais ainda, que mesmo aquilo agora existente pode muito bem continuar sendo tal como ele é agora, sem chance de transformação. Os grandes utopistas da arte e da política tiveram sensibilidade para essa contingência, por sinal, nada alheia ao conceito freudiano de Trieb. Entre essas duas esferas, digamos assim, a de humanos e a de não-humanos, um fio vermelho, o Akai Ito, trama a história.

1 BERGSON, Henri. A evolução criadora. Trad. Bento Prado. São Paulo: Martins Fontes, 2005, p. 256-7.

A Fundação Serralves, no Porto, organizou a exposição Tendo em linha de conto os tempos atuais (novembro 2024 – maio 2025), título tirado de Trailer do filme que nunca existirá “Guerras de Mentira” (2022), de Jean-Luc Godard. Não é em vão, portanto, que o jovem Godard, em Alphaville (1965), já pensasse essa nossa comunidade como uma sociedade técnica, idêntica à dos cupins e das formigas. A seu modo, tendo também em linha de conto os tempos atuais, Juliana Hoffmann nos mostra, por um fio, o espelho em que não queremos nos reconhecer: a nossa sociedade já é Alphaville.

Rosângela Cherem

Doutora em História pela Universidade de São Paulo (1998) e Doutora em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina (2006). Professora aposentada como Titular de História e Teoria da Arte no Curso de Artes Visuais e Programa de Pós-graduação em Artes Visuais no Centro de Artes da Universidade do Estado de Santa Catarina. Possui orientações, pesquisas e publicações sobre História das Sensibilidades e Percepções Modernas e Contemporâneas. Atualmente desenvolve pesquisa sobre "Gestos e Arquivos Artísticos em Santa Catarina".

Nasceu em 1950, em Buenos Aires. Lecionou literatura na Universidade Federal de Santa Catarina. Foi Guggenheim Fellow e professor visitante nas Universidades de Yale, Duke, Texas at Austin, Maryland e Leiden, na Holanda. Presidiu a Associação Brasileira de Literatura Comparada (ABRALIC) e recebeu o doutorado honoris causa pela Universidad Nacional de Cuyo. É autor de vários livros, dentre os quais “Crítica acéfala”, “Maria com Marcel: Duchamp nos trópicos”, “Archifilologías latino-americanas”, “A ruinologia”, “Inventário de sonhos usados. Goya plagia Didi-Huberman” (2022) e “Lirismo+Crítica+Arte=Poesia. Um século de Pauliceia Desvairada” (2022), editado junto a Maria Augusta Fonseca, que reúne, entre outros, ensaios de Silviano Santiago, Davi Arrigucci, Ettore-Finazzi-Agrò e trabalhos de Regina Silveira, Paulo Pasta, Gilda Vogt e Fernando Lindote. Editou “A alma encantadora das ruas de João do Rio”, “Ronda das Américas” de Jorge Amado, “Antonio Candido y los estudios latino-americanos”, bem como a “Obra Completa” de Oliverio Girondo. Sua autobiografia intelectual, “La vida se complica cuando se hallan escombros a cada paso” (2023) foi publicada pela Universidad Nacional del Litoral (Argentina).

Exposição: Por um fio

Apague ao sair, 2022.

Sem título, 2018.

Sem título, 2018.

Floresta: Peles, Poros, Respiros, 2019.

Geografia em ruínas, 2020.

Avant Garde, 2020.

Sem título, 2019.

À Beira da Margem, 2021/2022.

Praias, 2021.

Sem o poço, sem o pêndulo, 2018.

Acesse o vídeo:

Notas da Pandemia I e Notas da Pandemia II, 2020.

Acesse o vídeo:

Apague ao sair, 2022.

Lista das obras:

Apague ao sair, 2022.

Série A Construção do Mundo Moderno ‑ Sobre Viventes

Instalação interativa - interruptores luminosos com pedaços de páginas de livro perfuradas e bordadas.

Dimensão do interruptor: 16 de 9 × 9 cm cada.

Dimensão total: 70 × 40 cm.

Para/To, 2019.

Série A Construção do Mundo Moderno Ruínas.

Objeto - páginas de dedicatórias de livros antigos.

5 objetos de aprox. 18 × 12 cm cada. Dimensão total: 18 × 60 cm.

Sem título, 2018.

Série A Construção do Mundo Moderno Ruínas

Objeto - bordado e perfuração sobre página de livro antigo.

9 objetos de aprox. 18 × 12 cm cada. Dimensão total: aprox. 18 × 148 cm.

Sem título, 2019.

Série A Construção do Mundo Moderno Sobre Viventes.

Backlight - impressão sobre página de livro antigo, bordada e perfurada.

4 objetos de 30 × 21 cm cada.

Sem título, 2019.

Série A Construção do Mundo Moderno Sobre Viventes

Instalação interativa - 5 páginas de livros antigos bordadas e perfuradas, cobertas com placas de acrílico e dispostas sobre bancada com backlight

Dimensão dos objetos:

5 páginas de 18 × 12 cm cada.

Dimensão total: 78 × 38 × 90 cm.

Floresta: Pele, Poros, Respiros, 2019.

Série A Construção do Mundo Moderno

Sobre Viventes

Impressão digital - impressão fine art com pigmento mineral sobre papel Hahnemühle, bordada e perfurada.

90 × 110 cm.

Sem título, 2019.

Série A Construção do Mundo Moderno

Sobre Viventes.

Objeto - fotografia adesivada sobre vidro e linhas vermelhas.

Dimensão dos objetos:

3 vidros de 40 × 20 cm cada.

Dimensão total: 40 × 80 cm.

Geografia em ruínas, 2020.

Série A Construção do Mundo Moderno Fronteiras

Objeto - livro corroído por cupins.

26 × 20 × 2 cm.

Avant Garde, 2020.

Série A Construção do Mundo Moderno Ruínas

Instalação - capas de livros antigos.

10 objetos de 21 × 12 × 3 cm cada. Dimensão total: 21 × 80 × 15 cm.

Sem título, 2019.

Série A Construção do Mundo Moderno Fronteiras.

Técnica mista sobre tela - pintura, colagem, perfuração, desenho.

160 × 110 cm.

Notas da Pandemia II, 2021. Série A Construção do Mundo Moderno Fronteiras

Objeto - desenho de mapa sobre página de livro antigo e linhas vermelhas.

70 × 15 cm.

Notas da Pandemia I, 2020. Série A Construção do Mundo Moderno Fronteiras.

Objeto - desenho de mapa sobre página de livro antigo e linhas vermelhas.

70 × 31,5 cm.

À Beira da Margem, 2021/2022.

Série A Construção do Mundo Moderno Fronteiras

Mista sobre tela - pintura, colagem, perfuração, desenho, bordado/costura.

20 telas de tamanhos diferentes formando um painel de 280 × 280 cm.

Praias, 2021.

Série A Construção do Mundo Moderno Ruínas

Objeto - bordado sobre uma das páginas de um livro corroído por traças/cupins.

21 × 24 cm (livro aberto).

Sem o poço, sem o pêndulo, 2018.

Série A Construção do Mundo Moderno Sobre Viventes.

Vídeo, 4’ 20”.

Concepção: Juliana Hoffmann e Kauê Costa.

Programação: Kauê Costa.

Som: Tiago Brizolara.

Notas da Pandemia I e Notas da Pandemia II, 2020.

Série A Construção do Mundo Moderno Ruínas Vídeo, 1’ 26”.

Currículo artístico resumido:

Juliana Neves Hoffmann, Concórdia/SC, 1965.

Principais exposições individuais

Pinturas, Museu de Arte de Santa Catarina (MASC), Florianópolis/SC.

As duas Florianópolis – 4 Estações, curadoria João Evangelista de Andrade Filho, MASC, Florianópolis/SC.

Interiores, Galeria Casa Açoriana, curadoria Janga, Florianópolis/SC.

Pinturas Juliana Hoffmann, Museu Histórico de Santa Catarina (MHSC), Florianópolis/SC. entre_linhas, curadoria Myrine Vlavianos, O Sítio Arte Educação e Coworking, Florianópolis/SC.

Exprimível do Vazio, curadoria Juliana Crispe, Fundação Cultural Badesc, Florianópolis/ SC e Circuito Propagações (Sesc), Chapecó, Jaraguá do Sul e Joinville/SC.

Sobre Viventes, curadoria Rosângela Cherem, Andrey Parmigiani, Flavia Person, Thays Tonin, Galeria Helena Fretta, Florianópolis/SC.

Florestas, Bienal Internacional de Curitiba –Polo SC, curadoria Juliana Crispe, Memorial Meyer Filho, Florianópolis/SC.

Exaptações, curadoria Raul Antelo, Rosângela Cherem, Bianca Tomaselli, Fundação Cultural Badesc, Florianópolis/SC.

Por um fio, curadoria Rosângela Cherem, Galeria de Arte do Sesc Nova Friburgo/RJ.

Principais exposições coletivas

Salão III Jovem Arte Sul América/Brasil Sul, Porto Alegre/RS.

X Salão de Arte Jovem, Galeria de Arte do Centro Cultural Brasil/Estados Unidos (CCBEU), Santos/SP.

IV Salão da Ferrovia, Rede Ferroviária Federal S.A., Rio de Janeiro/RJ.

Salão, IV Jovem Arte Sul América, Sala de Exposições do Teatro Guaíra, Curitiba/PR. Panorama Catarinense de Arte – Desenho e Gravura/85, Florianópolis, Blumenau, Joinville, Camboriú, Canoinhas, Lages, Chapecó, Mafra, Porto União, São Bento do Sul, Jaraguá do Sul, Indaial, Concórdia, Brusque, Itajaí, São Joaquim, Criciúma, Araranguá, Tubarão, Laguna, Joaçaba, Videira, Caçador, Rio do Sul e Tijucas/SC.

VI Salão Alcy Ramalho Filho, Curitiba/PR.

I Salão Estadual de Artes Plásticas

Contemporânea de Blumenau, Teatro Carlos Gomes, Blumenau/SC.

Contemporaneidade no Acervo do MASC, curadoria Jayro Schmidt, MASC, Florianópolis/SC.

IV Salão Elke Hering – Mostra Nacional de Arte Contemporânea, Teatro Carlos Gomes, Blumenau/SC.

Coletiva da Wandsworth Art Society, Londres/Inglaterra.

Italian Blog on Arthur Rimbaud, Museum Castello di Rivara, Centro d’Arte Contemporanea, Turin, Milão/Itália.

X Salão de Artes de Itajaí, Centro de Eventos do Itajaí Shopping, Itajaí/SC.

Paint a Future, Centro Cultural São Paulo (CCSP), São Paulo/SP.

Rembrandt en Braziliaanse Kinderdromen, Amsterdam/Holanda.

Invenção da Memória, Museu de Arte de Joinville (MAJ), Joinville/SC.

Lestada e a Desconstrução, Fundação Cultural Badesc, Florianópolis/SC e Galeria Múltipla, São Paulo/SP.

I Bienal Internacional de Sorocaba, medalha de bronze, honra ao mérito, Sorocaba/SP.

Exposition Internationale Paint a Future, Rully, Borgonha/França.

BRAVO!! Brazilian Biennale Winning Artists and Guests, New Century Gallery, Nova Iorque/ Estados Unidos.

No Boundaries, Wilmington, Carolina do Norte/Estados Unidos.

Xul Solar, curadoria Nestor Habkost, Maison du Bresil, Paris/França.

Xul Solar, curadoria Nestor Habkost, Fundación San Rafael, Buenos Aires/ Argentina.

Contaminações, MHSC, Florianópolis/SC. Fotografia(s) Contemporânea Brasileira: Imagens, Vestígios, Ruídos, curadoria de Lucila Horn e Paulo Greuel, MASC, Florianópolis/SC. Diálogos Expostos, curadoria Sandra Makowiecky, Fundação Cultural Badesc, Florianópolis/SC.

Coletiva XVI SIANOJA, curadoria Manolo Saens, Centro Cultural Palácio Marqués de Albacín, Noja/Espanha.

Mostra 32 Anos da Casa Açoriana, curadoria Janga, Florianópolis/SC.

Antípodas Contemporâneas, Bienal Internacional de Arte Contemporânea de Curitiba - Polo SC, curadoria Sandra Makowiecky, Juliana Crispe e Francine Goudel, Florianópolis/SC.

DESTERRO DESATERRO, Arte Contemporânea

em Santa Catarina, curadoria Josué Mattos, MASC, Florianópolis/SC.

Harmonie: l’exposition LAF 2018 – Larroque

Art Festival, curadoria Kenneth G. Hay, Larroque/França.

Rudis Materia, Bienal Internacional de Curitiba, Museu da Escola de Santa Catarina (MESC), curadoria Sandra Makowiecky, Juliana Crispe e Francine Goudel, Florianópolis/SC.

LAF Festival, curadoria Kenneth G. Hay, Larroque/França.

Art Circle 2019, Medana/Eslovênia.

Armazém na Choque, 14a Bienal Internacional de Curitiba, Galeria Choque Cultural, São Paulo/SP.

Múltiplos Transbordamentos, curadoria Simone Bobsin e Angu Alenc, Camboriú/SC. The Circa Project, curadoria Fernando Velasquez, exposição virtual coletiva.

SORIA ARTE, Soria/Espanha. Comunidade de Ressonância, curadoria

Josué Mattos, Centro Cultural Veras, Florianópolis/SC.

Hassis, seus amigos e eu, Fundação Hassis, Florianópolis/SC.

Prêmios

III Salão Catarinense de Novos Artistas, 1⁰ lugar, Florianópolis/SC.

VI Salão Estadual Universitário de Artes Plásticas, prêmio da categoria Desenho, Florianópolis/SC.

VII Salão Estadual Universitário de Artes Plásticas, prêmio especial em Desenho, Florianópolis/SC.

Salão Em Busca de Talentos Catarinenses, 1⁰ lugar, Chapecó/SC.

I Bienal Internacional de Sorocaba, medalha de bronze, honra ao mérito, Sorocaba/SP.

Prêmio Aliança Francesa de Arte Contemporânea, residência na Cité Internationale des Arts, Paris/França.

Prêmio Edital Elisabete Anderle – Catálogo Sobre Viventes, Florianópolis/SC.

Prêmio Trajetória — Aldir Blanc, Florianópolis/SC.

Prêmio Aldir Blanc — Vídeo Paisagens Líquidas, com Duo Strangloscope, Florianópolis/SC.

Prêmio Edital Sesc RJ Pulsar — Exposição

Por um fio, Nova Friburgo/RJ.

Residências artísticas

PAF Paint a Future, Ilha do Papagaio, Palhoça/SC.

PAF Artist meeting in Chateau Saint Michel Rully, Borgonha/França.

No Boundaries, Bald Head Island, Carolina do Norte/EUA.

Cité International des Arts, Prêmio Aliança Francesa, Paris/França.

LAF - Larroque Art Festival, Festival Internacional de Arte Contemporânea, curadoria Kenneth G. Hay, Larroque/França. Art Circle, residência e encontro internacional de artistas, Medana/Eslovênia.

Festivais e simpósios

XVI SIANOJA – Simpósio Internacional, Noja, Cantábria/Espanha.

LAF – Larroque Art Festival, Festival Internacional de Arte Contemporânea, Larroque/França.

Simpósio SORIA Arte, Vila de Almarza, Soria/Espanha.

INFLAMÁVEL — Festival de Curta Experimental em Super 8, Florianópolis/SC. Fonland Film Festival, curadoria Duo Strangloscope, Coimbra/Portugal.

Ateliê aberto

Open Studio, Ateliê Rua Demétrio Ribeiro, Florianópolis/SC.

Open Studio, Cite International des Arts, Paris/França.

Obras em acervos

- Museu de Arte Primitiva (MAPA), Assis/SP.

- Museu de Arte de Santa Catarina (MASC), Florianópolis/SC.

- Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Florianópolis/SC.

- Museu Malinverni Filho, Lages/SC.

- Empresas Koerich, Florianópolis/SC.

- CAM Museum - Casoria Contemporary Art Museum, Nápoles/Itália.

- SIANOJA, Noja/Espanha.

- LAF — Kenneth Hay, Larroque/França.

- ART Circle, Medana/Eslovênia.

- Assembleia Legislativa de Santa Catarina, Florianópolis/SC.

Juliana Hoffmann integra a Academia Catarinense de Letras e Artes (ACLA) e a Associação de Artistas Plásticos de Santa Catarina (AAPLASC).

Ficha técnica:

Sesc RJ

presidente da federação do comércio do estado do rio de janeiro | fecomércio rj

Antonio Florencio de Queiroz Junior

diretora regional

Regina Pinho

diretora de programas sociais

Regina Pinho

diretor administrativo financeiro

Luiz Assumpção Paranhos Velloso Junior

diretor de infraestrutura e engenharia

Fábio Soares

diretor de comunicação e marketing

Heber Moura

Gerência de Cultura

gerente

Christine Braga coordenadora técnica

Fabiana Vilar

analista de artes visuais

Felipe Capello

Unidade Sesc Nova Friburgo gerente

Bruno Scatena coordenador técnico

Fabiano Carneiro

analista de cultura

Cynthia A. Fernandes Lack

Exposição: Por um fio curadoria

Rosângela Cherem

produção executiva

Sandra Checluski Souza produção

Lume Cultural

identidade visual

Tina Merz estúdio gráfico montagem e luminotécnica

Pacová Criativa

fotografia

Aza Fotografia

assessoria de comunicação

Lara Sales

transportadora

Cena em Trânsito Transporte comunicação visual

RG Criativa

Catálogo: Por um fio organização e coordenação editorial

Sandra Checluski Souza

textos

Raul Antelo

Rosângela Cherem projeto gráfico

Tina Merz estúdio gráfico fotografia

Aza Fotografia revisão

Sandra Checluski Souza impressão

Elbert Soluções Gráficas

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) (Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

Hoffmann, Juliana

Por um fio / Juliana Hoffmann. -Florianópolis, SC : Ed. da Autora, 2025.

ISBN 978-65-986816-0-9

1. Artes visuais 2. Artes visuais - ExposiçõesCatálogos I. Título.

25-263441

Índices para catálogo sistemático:

1. Artes : Catálogos de exposições 700.74

CDD-700.74

Eliane de Freitas Leite - Bibliotecária - CRB 8/8415

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