Espaço e pertencimento: Intervenção urbana na Ladeira da Preguiça, Salvador -BA

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Intervenção urbana

Ladeira da Preguiça, Salvador-BA

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UNIVERSIDADE CATÓLICADO SALVADOR

CURSO DEARQUITETURAE URBANISMO

JÚLIACORREIAFIALHO

Espaço e pertencimento – Intervenção Urbana Ladeira da Preguiça, Salvador- BA

SALVADOR 2021

Espaço e pertencimento – Intervenção Urbana na Ladeira da Preguiça, Salvador- BA

Monografia apresentada à Universidade Católica do Salvador como requisito para conclusão de curso, elaborado pela aluna Júlia Correia Fialho seguindo orientação da Professora Dra Liana Viveiros no ano de 2021

JÚLIACORREIAFIALHO
2021
SALVADOR

AGRADECIMENTOS

Eu agradeço as experiências. Elas tem poder de nos moldar. É através dela que construímos a nossa percepção de mundo, nossa relação com as pessoas, com a cidade e com a natureza Fazendo um recorte para a minha trajetória acadêmica até então, sempre fui muito empolgada em viver ao máximo todas as experiências que a universidade pôde me oferecer Sempre amei história, a arte, estudar as cidades, em especial a minha – Salvador - BA, a conversar com pessoas, a estar em grupos de pesquisa, a participar de centro acadêmico, eventos, estar em coletivo. Foi na universidade que conheci pessoas incríveis e que pude viver experiências incríveis, como fazer um intercâmbio, que abriu muito os meus olhos sobre cidades justas, inclusivas, e sobre o prazer de poder viver e experienciar a cidade sem medo. Toda essa construção foi essencial. As minhas experiências pessoais também, contribuíram significantemente para as minhas decisões sobre a vida

Aos meus pais, Betânia e Milton um agradecimento especial, por poderem me oferecer estudo e incentivo sempre, porque sem isso, não chegaria aonde estou hoje e mais importante, não seria quem eu sou hoje. Agradeço aos meus “Arq migos” Bia, Saskia, Leila, Gabi, Paulinha, Igor, que estiveram do meu lado em toda essa confusa trajetória e em especial a Daniel e Felipe, por também apresentarem trabalhos sensíveis ao Centro Antigo de Salvador e que me deram inspiração, ajuda e incentivo para dar continuidade a esse estudo. Também agradeço a Camila, Sofia, Luana e Lucas, por estarem presentes e dispostos a ajudar sempre

Por fim, agradeço as minhas queridas professoras e a minha orientadora Liana Viveiros, por acreditarem em mim e no meu trabalho Eu não poderia estar mais feliz

FIALHO, Júlia. Espaço e pertencimento – Intervenção Urbana na Ladeira da Preguiça, Salvador- BA. Trabalho de Conclusão de Curso Curso de Arquitetura e Urbanismo 2021 Universidade Católica do Salvador, Salvador-BA, 2021

RESUMO

A Ladeira da Preguiça é hoje, sobretudo, um espaço político. É onde há vivência e pessoas que lutam todos os dias pela garantia de moradia plena, pelo direito à permanecer É um espaço de cultura viva. É carnaval, é samba. É um espaço de história que não se ouve tanto por ai. Até alguns anos atrás, um local esquecido O presente estudo é sobre um projeto de requalificação urbana na Ladeira da Preguiça sensível ao espaço urbano, ao dia-a-dia dos moradores, e as suas necessidades É pensado para contemplar o Centro Cultural, os eventos, estudantes, pesquisadores, as articulações do centro antigo, e principalmente a cidade, o bairro do comércio, que precisa se manter vivo, valorizando o que existe. Os métodos utilizados para o trabalho consistiu em uma pesquisa histórica sobre a área, entendendo todo seu processo como parte integrante da história cidade do Salvador, sendo um espaço de cunho social e cultural Para além, houve uma aproximação pessoal com a comunidade mediante o Centro Cultural, que se tornou um protagonista nas decisões do projeto. Por fim, pôde-se perceber que as intervenções visibilizam a Ladeira da Preguiça, potencializa as atividades e eventos realizados no espaço e fortalecem a relação de pertencimento da comunidade com o espaço habitado.

Palavras-chave: Comunidade; Cultura; Espaço público; Ladeira da Preguiça; Memória; Rearfimação; Patrimônio; Pertencimento;

FIALHO, Júlia “Espaço e pertencimento” – Urban Intervention in “Ladeira da Preguiça, Salvador- BA”. Course final work. Architecture and Urbanism course. 2021. Catholic University from Salvador. Salvador, ba - Brazil, 2021.

ABSTRAIR

The “Ladeira da Preguiça” (“Lazy Slope”) is nowadays a political space in the city. It is where there is experience and where people fight every day for their right of housing and for their right to remain. It is a space of living culture. It's carnival, it's samba. It's a space of history that you don't hear much about Until a few years ago, it was a forgotten place The present study is about an urban requalification project in “Ladeira da Preguiça”, remaining sensitive to the urban space, to the daily lives of it’s residents, and their needs. It is designed to include the "Que Ladeira é essa" Cultural Center, events, students, researchers, the articulations of the old center, and especially the city, the shopping district, which needs to stay alive, valuing what exists. The methods used to develop this work consisted of a historical research of the area, understanding the entire process as an integral part of the history of the city of Salvador, being a space of social and cultural nature. In addition, there was a personal connection with the community through the Cultural Center, which highly influenced the project's decisions Finally, it was noticed that the interventions make the Ladeira da Preguiça more visible, they enhance the activities and events held in the space and strengthen the feeling of belonging between the community and the inhabited space

Keywords: Community; Culture; Public space; Memory ; Reaffirmation; Patrimony; belonging

LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Banho de Mar à Fantasia de 2019 14 Figura 2: Multirão de pintura 14 Figura 3: Roda de Capoeira em evento 15 Figura 4: Salvador no ano de 1600 16 Figura 5: Cais e mercado da preguiça no século XIX 17 Figura 6: Dona Alísia – primeira porta baindeira 19 Figura 7: O centro cultural e suas ações 20 Figura 8: A ladeira da preguiça 21 Figura 9: Croquis idealizadores 26 Figura 10: Croqui pavilhão temporário 26 Figura 11: Pavilhão no dia do evento 26 Figura 12: Pracinha Oscar Freire 27 Figura 13: Colina Sagrada 27 Figura 14: Materialidade do projeto 28 Figura 15: Flyer de divulgação da oficina 28 Figura 16: Mapa de localização da poligonal de estudo 29 Figura 17: Mapa de Macroárea 29 Figura 18: Mapa de Zoneamento 30 Figura 19: Definição da APR 30 Figura 20: Mapa de conexões: Cidade alta e Cidade Baixa 31 Figura 21: Mapa de conexões: Mobilidade e Acessibilidade 31 Figura 22: Sentido dos Fluxos 31 Figura 23: Mapa de Uso do solo 32 Figura 24 Mapa de Gabarito de altura 32 Figura 25: Áreas Verdes e pontos de interesse 32 Figura 26: Região do Bairro Comércio 32 Figura 27: Mapa Topográfico 33 Figura 28: Volumetria esquemática 33 Figura 29: Mapa de estudos climáticos 33 Figura 30: Fluxo dos ventos 34 Figura 31: Esquema de ventilação Cidade Baixa 34 Figura 32: Sobreposição da sombra projetada 34

LISTA DE FIGURAS

Figura 33: Trechos de intervenção 36 Figura 34: Enseada da Preguiça( ano não identificado) 36 Figura 35: Rua Luís Murar dias atuais 36 Figura 36: Evento de Rock no Bar do Raul. 2018 36 Figura 37: Bar do Raul dias atuais 37 Figura 38: Bar do Raul fachada dos fundos 37 Figura 39: Bar “visto” pela Av. Lafayete Coutinho 37 Figura 40: Antigo hospício S. Felipe Neri em 1939 37 Figura 41: Situação Atual do casarão N º 06 38 Figura 42: O terreno antes das demolições 38 Figura 43: O terreno após desabamento 39 Figura 44: O terreno após demolições 39 Figura 45: O terreno nos dias atuais 39 Figura 46: Acesso ao Beco da Califórnia 40 Figura 47: Beco da Califórnia 40 Figura 48: A ladeira – Vista superior 40 Figura 49: A ladeira em dias de forte chuva 41 Figura 50: Destruição da pavimentação após fortes chuvas 41 Figura 51: A ladeira – Vista inferior 41 Figura 52: Desabamento do poste e risco aos moradores locais 41 Figura 53: Volumétrico e diagrama de fluxos 43 Figura 54: Projeto da Via 43 Figura 55: Programa e pré-dimensionamento da praça 44 Figura 56: Fluxograma 44 Figura 57: Perspectiva isométrica do projeto 44 Figura 58: Croqui esquemático da intervenção 45 Figura 59: Materialidade e simbolismo 45 Figura 60: A pracinha como “quintal” da Creche 45 Figura 61: Fachada restaurada do casarão 45 Figura 62: Proposta de ligação através de escadas 46 Figura 63: Espaço Encontros – Bar do Raul 46

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

APCP: Área de Proteção Cultural e Paisagística

APR: Área de Proteção Rigorosa

CA: Centro Antigo

IPAC: Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural

IPHAN: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional

LOUOS: Lei de Ordenamento do Uso do Solo

ZcMe -CA: Zona de Centralidade Metropolitana – Centro Antigo

ZPR-1: Área predominantemente residencial – 1

ZPR-3: Área Predominantemente Residencial – 3

SUMÁRIO INTRODUÇÃO........................................................................................................................................................12 JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO TEMA ..........................................................................................................13 QUE LADEIRA É ESSA?...........................................................................................................................................16 OBJETIVOS..............................................................................................................................................................21 OBJETIVO GERAL............................................................................................................... ....................21 OBJETIVOS ESPECÍFICOS........................................................................................................ ................21 METODOLOGIA......................................................................................................................................................22 REFERENCIAL TEÓRICO.......................................................................................................... .............................23 LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA......................................................................................................................................25 REFERÊNCIAS PROJETUAIS.....................................................................................................................................26 LADEIRA DA PREGUIÇA RE(EXIST)................................................................................................ ........26 PRACINHA OSCAR FREIRE ....................................................................................................... ............27 REQUALIFICAÇÃO DA COLINA DO SENHOR DO BONFIM..................................................................27 PLANO DE BAIRRO DOIS DE JULHO .......................................................................................................28 ESTUDOS URBANÍSTICOS......................................................................................................... ........................... 29 ANÁLISE DA ÁREA.....................................................................................................................................29 ZONEAMENTO................................................................................................................... .......................30 LIGAÇÕES..................................................................................................................... ...........................31 SOBRE OS USOS E OCUPAÇÕES.............................................................................................................32 ESTUDOS GEOGRÁFICOS...................................................................................................................................... 33 TOPOGRAFIA.............................................................................................................................................33 VENTILAÇÃO ............................................................................................................................................34 INSOLEJAMENTO .............................................................................................................. ....................35 A POLIGINAL DE INTERVENÇÃO........................................................................................................................... 35 ANÁLISE DOS TRECHOS.......................................................................................................... ................36 Rua Luís Murat............................................................................................................... ............. 36 Bar Raul Delirius Seixas................................................................................................................36 Casarão Nº 06 ........................................................................................................................... 37 O terreno.................................................................................................................... ................ 38 Beco da Califórnia .......................................................................................................... ......... 40 A via........................ .................................................................................................................... 40 10
SUMÁRIO O CONCEITO DO PROJETO........................................................................................................ ......................... 42 O PROJETO ..............................................................................................................................................................43 INTERVENÇÃO SOBRE A VIA...................................................................................................... .............43 PRAÇA: OCUPANDO ESPAÇOS VAZIOS.................................................................................................44 BECO DA CALIFÓRNIA..............................................................................................................................45 REUSO: A RUÍNA E AS NECESSIDADES DA COMUNIDADE.....................................................................45 RUA LUÍS MURAT............................................................................................................... ........................46 BAR DO RAUL..............................................................................................................................................46 CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................................................................47 REFERÊNCIAS ................................................................................................................. ........................................48

INTRODUÇÃO

A Ladeira da Preguiça é, historicamente, um local que fomenta cultura no Centro Antigo de Salvador desde os seus primórdios Ladeira que foi constituída junto ao crescimento da cidade de Salvador-BA - sendo a 2ª ladeira da cidade (MATTOSO, 1992), e utilizada para transportar mercadorias procedentes de diversas partes da Baía de Todos os Santos para o abastecimento da Cidade Alta “Os saveiros aportavam na enseada da Preguiça e os escravos conduziam no lombo as diversas mercadorias trazidas”. (GOMES; ABBADE, 2015 p. 10). As estórias contadas sobre a origem do seu nomeLadeira da Preguiça - é que os escravos alegavam que o trabalho “dava preguiça” De maneira irônica, foi então batizada pela população e os feitores como Ladeira do Tira Preguiça. Depois, pela “preguiça” comum à língua falada pelo povo, que em muitos casos – como neste – ao suprimir uma palavra chega mesmo a desfazer o significado histórico original de um topônimo, ficou sendo apenas a Ladeira da Preguiça”. (DOREA, 2006).

Por muitos anos o local manteve essa função No século XVIII, a ocupação no espaço já se encontrava saturada, e ambos os lados da Ladeira da Preguiça até a Gameleira tinham construções (CÂMERA,1988), e boa parte delas eram de habitações da elite baiana da época, mas também havia moradias de escravos, pescadores e comerciantes, compondo um espaço socialmente e racialmente heterogêneo. No final do século XIX e com o processo da urbanização da cidade, muitos dos moradores da Preguiça deixaram suas casas para migrar a novos bairros, e então o espaço passou a ser apropriado com mais força pela população negra, que “utilizava da cultura e da arte como uma ferramenta de resistência no espaço” (QUE LADEIRA É ESSA,2013) desde aquela época até dos dias atuais

Desde a década de 90, com o início dos projetos de recuperação do Centro Antigo, permeiam conflitos entre as resistências populares e tais projetos, que impulsionam a implantação de equipamentos voltados ao turismo e ao lazer, mas desapropriam e expulsam moradores, principalmente em territórios historicamente ocupados (CYTRYN,2020) - como é o caso da Ladeira da Preguiça - que vêm ao longo dos anos sofrendo com processos de gentrificação Nesse contexto, o Centro Cultural “Que Ladeira é essa?” surgiu em 2013 com o intuito de defender os interesses territoriais dos moradores da comunidade, reafirmando a identidade e a permanência no espaço. O movimento, junto com outras articulações, denuncia através de ações populares as tentativas de expulsão dos moradores, e através da arte, da música, da dança, resgata antigas memórias e tradições do espaço, para reafirmar o direito à permanência

Com isso, o presente projeto visa a valorizar o espaço urbano - Ladeira da Preguiça- e as manifestações culturais que acontecem no local, considerando intervenções que sejam sensíveis à comunidade e agregando o espaço a dinâmicas urbanas, melhorando suas conexões, garantindo visibilidade, mobilidade, acessibilidade e retomando espaços públicos de lazer, com propostas já discutidas por moradores, pesquisadores e estudantes

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JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO TEMA

A Ladeira da Preguiça é, por muitos séculos, território de manifestações referenciais culturais. Segundo Bourdieu (1998) os acidentes geográficos são espaços de sociabilidade e elementos profundamente ligados à memória social O local vem sofrendo ao longo do tempo com os efeitos da deterioração física dos vários imóveis abandonados, pela má condição de infraestrutura urbana, e também pelos processos de gentrificação que vêm ocorrendo no Centro Antigo de Salvador como um todo nos últimos anos.

Os processos de gentrificação do local se referem aos chamados projetos de renovação urbana que valorizam as áreas, objetos das intervenções, que antes estavam esquecidas pelo mercado imobiliário por seu estado de degradação, gerando um processo de especulação imobiliária e de expulsão dos moradores locais (MOURAD; BALTRUSIS, 2011) No ano de 2013, foram publicados decretos municipais e estaduais de utilidade pública para fins de desapropriação, a exemplo do Decreto Municipal 24.435/13 (SALVADOR, 2013) destinados à implantação do projeto de Requalificação do entorno da Ladeira da Preguiça e adjacências, trazendo uma nova “roupagem” ao processo histórico de expulsão dos moradores da comunidade.

De acordo com o decreto 24 435/13:

Art 1º Ficam declarados de utilidade pública, para fins de desapropriação, os imóveis de propriedade de quem de direito, localizados, zona urbana desta Capital, a seguir indicados:

Área 1 - Imóveis localizados nas áreas compreendidas entre a Rua Visconde de Mauá e Rua do Sodré

Área 2 - Imóveis localizados nas áreas compreendidas entre a Rua do Sodré e Rua Carlos Gomes

Área 3 - Imóveis localizados nas áreas compreendidas entre a Ladeira da Preguiça e a Rua do Sodré

Parágrafo Único - Os imóveis referidos nos incisos I, II e III do caput deste artigo destinam-se à implantação do Projeto de Requalificação do Entorno da Ladeira da Preguiça e Adjacências

Art 2º Fica a Secretaria Municipal da Infraestrutura e Defesa Civil - SINDEC autorizada a promover a desapropriação amigável do bem de que trata este decreto, na forma da legislação vigente

Desde o ano de 2013 e por meio do Centro Cultural “Que Ladeira é essa?”, a cultura e arte ocupam a condição de produção e reprodução do espaço, passando assim atender às necessidades de autoafirmação local e fortalecimento de identidade dos moradores, tendo a possibilidade de ser mutável, recriada e reutilizada - dando assim, ricas interpretações (GOTTSCHALL; SANTANA,2007) Assim, a construção dos artefatos culturais fundados na memória coletiva vem transcendendo uma representação estética, adquirindo um caráter político de reconhecimento

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JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO TEMA

A revisita às tradições antigas, promovida pelo Centro Cultural, como é o caso do “Banho de mar à Fantasia”, pré-carnaval tradicional dos anos 1930, e que voltou à tona em 2014, trouxe uma visibilidade positiva para o local, que antes só recebia destaques em notícias de jornais para evidenciar tragédias ou notícias policiais De acordo com a colunista Renata Cytryn (2020) p 20

O evento do “Banho de mar à Fantasia” da Ladeira da Preguiça do ano de 2019 superou todas as expectativas 20 mil pessoas participaram do evento, no qual promoveu uma circulação financeira de mais de R$ 1,5 milhões de reais por meio de serviços de economia solidária e criativa local Em comparação ao ano de 2018, foi registrado um crescimento de 80% na estrutura do evento

Através desses movimentos, a inserção da cultura vem dando novas “caras” a ladeira, e o local começa a ser visto como um centro cultural, artístico, criativo no Centro Antigo, onde há ações, resistências, arte de rua, oficinas, cursos, engajamento da população no sentido político e maior empoderamento econômico, promovendo assim melhorias significativas para o local.

“A manhã deste sábado (9) no Beco da Califórnia, localizado na Ladeira da Preguiça, em Salvador, foi mais movimentada que o comum Um grupo de aproximadamente 20 pessoas - entre moradores, voluntários e membros do Centro Cultural que Ladeira é Essa? - se levantaram, mais uma vez, para dar novas cores a essa história marcada pelo abandono e pela especulação imobiliária ” (CORREIOS, 2019)

Fig. 1: Banho de Mar à Fantasia de 2019 Foto: Raul Spinassé. Ag. A TARDE
“Mutirão transforma Ladeira da Preguiça em ateliê a céu aberto.” (CORREIOS,2017)
Fig. 2: Multirão de pintura Foto: Arisson Marinho, 2017
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JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO TEMA

Apesar de todo esse movimento, o local ainda é um espaço fragilizado, fruto de uma estigmatização social e abandono do estado que se mantém presente com suas práticas de despossessão e tentativas de alisamento do território. Em relação às condições dos cinquenta e três imóveis existentes, trinta e cinco estão habitados, dez em estado de ruína, sete fechados e um para alugar, o que totaliza 1/3 de espaços sem uso (CENSO DA GENTE PARA A GENTE, 2020). Nessa mesma análise do censo, foi entendido que um dos principais problemas da comunidade são as casas abandonadas, ou seja, as que se encontram em estado de ruína Outros problemas que foram analisados é a má qualidade de infraestrutura urbana local, falta de sistema de drenagem, ausência de boa iluminação pública, e acessibilidade

A partir de uma participação em um evento na Ladeira foi possivel observer que a rua é o principal espaço para socialibilidade coletiva, e é nela que são realizadas eventos e atividades esportivas da comunidade, e onde as crianças costumam brincar no dia-a-dia também, e agregar um espaço público de lazer a esse espaço se torna cada dia mais essencial.

Entendendo todo esse processo, as intervenções propostas no presente trabalho serão elementos estruturantes para a comunidade, podendo dar maior visibilidade ao espaço, uma maior autoestima dos moradores com o espaço ocupado, e fortalecimento ao Centro Cultural já existente, garantindo uma boa qualidade de mobilidade e acessibilidade dos seus moradores, visibilizando trocas políticas, econômicas, culturais, artísticas entre os moradores da ladeira, estudantes, movimentos sociais e público externo.

Por ser uma área tombada pelo IPHAN, existe uma preocupação maior com as intervencões no espaço, que devem ter um olhar mais sensível De acordo com MOURAD E FIGUEIREDO (2012, p 16), em referência ao bairro Dois de Julho, é necessário

Consertar sem destruir, refazer sem desalojar, reciclar, restaurar, restituir à estima pública, criar a partir do que está dado, manter o tecido urbano o mais inalterado possível, valorizar a vida econômica, cultural e social, realizar adaptações necessárias nos equipamentos, na infraestrutura e espaços públicos, melhorar as condições de habitabilidade dos imóveis existentes, mantendo usos e a população da área. Ou seja, reafirmar o Bairro Dois de Julho como o lugar da resistência, restituindo seu patrimônio cultural, social, econômico, mantendo a população e usos da área por meio de um processo muito participativo

Fig. 3: Roda de capoeira em evento Foto: Acervo Pessoal, 2021
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Essa é a ladeira da preguiça”

QUE LADEIRA É ESSA?

A divisão da cidade em dois planos deve-se à existência de um despenhadeiro, relativo à falha geológica de Salvador, fato que caracteriza a morfologia da cidade e, a um só tempo, repartiria as atividades: no alto, a Cidade Alta se consolidaria em local de moradia, de comércio a varejo e das atividades político administrativas (GOMES, ABBADE,2015)

No fim do Século XVI, a enseada da preguiça era conhecida como Ribeira dos Pescadores, tendo como hipótese ser a primeira praia da cidade de Salvador, e fazendo parte da freguesia da Conceição da Praia tempos depois De acordo com CÂMERA, 1988, p 115

A primeira, ao sul, ficava no local onde, mais tarde, seria dado início a Ladeira da Preguiça Ao fim do século XVI era conhecida como Ribeira dos Pescadores: - A segunda praia cresceu em direção norte, ficava no local em que, pouco tempo depois, se ergueria a capela de N Sra da Conceição

Em 1549 a freguesia da Conceição era composta por armazéns, ambulantes, serviços, e foi consolidada com a abertura da Ladeira da Conceição da Praia e também a Ladeira da Preguiça, fazendo a ligação entre as portas de Santa Luzia até a Ribeira dos Pescadores. Essa segunda ladeira, por ser menos inclinada, possibilitou o acesso a carros de boi, ficando conhecida como “caminho de carro”

(PEDRO, 2008)

Era na enseada da Preguiça, a beira-mar, o local onde as embarcações chegadas em Salvador eram limpas, e “é parte formativa do primeiro zoneamento habitar-trabalhar com curta distância ou nenhuma” (NOVAES, 2018 p 2) e acredita-se que teve como povoação, estaleiros, pescadores, mestres, oficiais e ajudantes que trabalhavam no Porto (CAMÊRA, 1988), além de ganhadores e escravos libertos

Salvador, em 1600, reconstituição feita pelo monge beneditino Paulo Lachenmayer, em 1945, conforme indicações de Wanderley Pinho, tiradas do Livro Velho do Tombo do Mosteiro de São Bento

“Essa ladeira, que ladeira é essa?
Fig. 4: Salvador no ano de 1600
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QUE LADEIRA É ESSA?

No século XVIII a ocupação na Ladeira se estendia por ambos os lados, composta por edificações de 2-3 pavimentos, que limitavam uma rua continua e tortuosa de edificações modestas e de estilo colonial, além do “insignificante hospício S. Felipe Neri”, (VILHENA, 1969 p.47) localizado na Rua direita da Preguiça

Era na sua freguesia que, em meados do século XIX, “estavam representadas todas camadas sociais, desde os mais distintos negociantes até os mais rebeldes dos escravos e toda a sorte de marginalizados da sociedade” (SAMPAIO, 2005 p 29)

Até o século XIX, o local fazia parte de um centro movimentado da cidade de Salvador, em que possuía praia, feiras livres, hospício, estaleiro, fonte, além de ser um espaço socialmente e racialmente heterogêneo Suas ruas estreitas eram tomadas pelas diversas atividades, e os cantos animavam a vida comercial dos ganhadores e libertos, organizados sob influência da cultura negra, tendo como evidência os cantos de cadeiras encruzilhadas da preguiça em meados do século (CÂMARA,1988 p 149)

Fonte: Fotografia retirada do livro 50 anos de urbanização: Salvador da Bahia no século XIX. Rio de Janeiro: Versal, 2005. Consuelo Novaes

EVIDÊNCIAS HISTÓRICAS

• Alambique Manoel gomes, na Preguiça (Ibidem p 140)

No final do século XIX, Salvador ingressou em um novo momento do seu processo de urbanização a partir da ampliação do comércio para a expansão física da cidade A Ladeira da Montanha, que havia sido inaugurada em 1878 virou foco do principal percurso da cidade pelo seu traçado menos íngreme. Era através dela que os comerciantes podiam facilmente transportar suas mercadorias, “que os negros das cadeirinhas podiam transportar os passageiros e também onde passou a acontecer os cortejos cívicos e religiosos ” (SAMPAIO,2005)

Fig. 5: Cais e mercado da preguiça séc. XIX
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QUE LADEIRA É ESSA?

No século seguinte, a ladeira já não era parte integrante e articuladora da cidade urbanizada, fazendo com que proprietários saíssem dos seus imóveis e migrassem para os novos bairros da cidadeGraça, Corredor da Vitória – gerando assim uma nova configuração de moradia baseada em aluguéis, apesar de muitos desses espaços terei sido somente abandonados, e contribuindo para uma estigmatização do espaço além de uma maior homogeneidade social e racial dos moradores, e um esquecimento por parte do poder público.

Ainda que com áreas já deterioradas e esvaziadas de seu uso residencial original – e, portanto, dos seus ocupantes endinheirados que se deslocaram, no final do século XIX, para os novos bairros da Vitória, Graça e Canela –, o centro antigo era, nos anos de 1930, inquestionavelmente o coração da cidade e, portanto, alvo de pressões no sentido de seu crescimento e expansão (SANT’ANNA, 2015 p 106)

COMPROVAÇÕES DESSES PROCESSOS IMOVÉIS EM SITUAÇÃO DE ABANDONO

• Ao cidadão Lellis Piedade. - Alguns moradores da Preguiça pedem-vos que chameis a atenção da intendência para umas ruínas que existem no começo da ladeira da Preguiça, defronte da Serraria Valença Industrial, das quais tem desabado grande parte, com bastante risco aos transeuntes Ainda hoje às 2 ou 3 horas da tarde, desabou uma parede das ditas ruínas, lançando ao meio da rua grandes pedras, as quais, felizmente, não ofenderam a ninguém. Junto a essas ruínas existe também um sobrado de dois andares, n. 4 a-b, cujas paredes estão fendidas, ameaçando desabar, se não houver providências As pessoas que nele moravam acabam de mudar-se, receosas de que pudessem ser vítimas da incúria do seu proprietário Assim, pois, fareis um benefício aos habitantes dessas imediações e ao público se exigirdes providências. - Muitos habitantes da Preguiça. (JORNAL DE NOTÍCIAS, 1892a) *

ALUGUEIS NA REGIÃO

• “Aluga-se casa nº 35” (A TARDE, 1917)

• “Aluguel de andares na Preguiça por 130 $ e 150 $” (A TARDE, 1931)

• “Aluguel de 2 andares na Preguiça nº 14 e um quarto a rapaz ou casal” (A TARDE, 1932)

• “Aluguel de quartos na rua Dionísio Martins nº 11” (antiga ladeira da Preguiça) (JORNAL A TARDE, 1949)

ESTIGMATIZAÇÃO SOCIAL

• “Capadócios incomodam no Beco da Califórnia, proferindo toda sorte de palavreados durante o dia, até a madrugada. (A TARDE, 1934)

• “Vagabundos na Ladeira da Preguiça”. Moradores reclamam de ‘desocupados’ que ocupam a via pública incomodando sobretudo quando ‘mulheres de vida livre’ juntam-se a eles à noite. Solicitam maior policiamento; (A TARDE, 1938)

• A Rua da Preguiça, senhor redator, é uma das que oferece maior trânsito público, dias há que as ganhadeiras, os compradores de peixes, entulham aquela paragem de forma que não se pode passa. E o que me diz da fedentina de peixe que por ali sofrem os nossos narizes? Oh céus, nunca vi nada tão parecido como a Guiné Africana! Tripas de peixe pelo chão, já pútridas, camarões podres, cães a se disputarem estes bons bocados, enfim Sr. Redator, é a maior vergonha que sofro nesta cara, quando por ali passo e lembro que sou brasileiro”. (CORREIO MERCANTIL, 1839a)

• Cidade de Latronopolis a bordo do Alabama 26 de fevereiro de 1869. Ofício ao Ilm. Sr. subdelegado da Conceição da Praia, de novo chamando sua atenção para o 1 andar do sobrado n. 40, à rua da Preguiça, onde há permanente ajuntamento de africanos escravos, que muito perturbam o silêncio à noite, com cantorias e danças. (O ALABAMA, 1869)

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QUE LADEIRA É ESSA?

COMPROVAÇÕES DESSES PROCESSOS MÁ QUALIDADE DO ESPAÇO URBANO

• “De novo pedimos à nossa Câmera Municipal queira lançar suas vistas para a Ladeira da Preguiça quase intransitável, cheia de profundas covas, em que talvez sejam sepultados em vida, os que por ella passão, se cada qual não andar (mormente à noite) com os olhos bem abertos Também que he de ser feito da nossa, outrora, sofrível iluminação? Até nisso os diabólicos republiqueiros se mostrarão inimigos da civilização! Mas que? As trevas só poderão servir a tais monstros para a perpetuação do seus infames crimes” (CORREIO MERCANTIL, 1838)

• “Lendo ontem um anúncio onde a irmandade, por motivos razoáveis, deixará de passar com a procissão no dia 8 pelas ladeiras e rua da preguiça, como iniciadores do embelezamento da mesma rua, resolvemos mandar fazer reparos na intransitável ladeira da preguiça e rogamos a irmandade de cumprir o antigo itinerário (JORNAL DE NOTÍCIAS, 1892 )

Por sua vez, o século XX também é marcado por diversas produções culturais, e o estabelecimento de uma comunidade que compõem as identidades do espaço tal como é hoje.

RITMISTAS DO SAMBA E O BANHO DE MAR A FANTASIA

No ano de 1957 um grupo de amigos residentes da Ladeira da Preguiça fundam a primeira escola de samba da Bahia, a Ritmistas do Samba Jaime Baraúna era o diretor de bateria e foi quem criou oito variações de ritmo, que ainda hoje estão presentes nos blocos afros. (CERQUEIRA, 2002)

Em uma entrevista pessoal realizada com Alísia Viana do Bonfim, a primeira porta-bandeira da Bahia, ela conta sobre a sua juventude na Preguiça e sobre sua relação com o samba e o carnaval. “Em bateria, não há melhor do que a da Preguiça Tudo era lá, a batucada Nega Maluca, o Ritmistas do Samba e por último o bloco das Muquiranas”. Alísia também conta que depois de alguns anos, os blocos deixam a ladeira e ganham novos endereços, e a Preguiça deixa de ser esse espaço de encontro, festa e movimento Alísia também relata que o Banho de Mar a fantasia era o melhor pré-carnaval de sua época, e relembra saudosa os seus tempos na Ladeira

Fig. 6: Dona Alísia – primeira porta bandeira
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Foto: Acervo Pessoal, 2021

QUE LADEIRA É ESSA?

O CENTRO CULTURAL “QUE LADEIRA É ESSA” E OS INTERESSES DA COMUNIDADE

Desde 2013 o Centro Cultural “Que Ladeira é essa” vem trazendo uma nova cara a Ladeira a Preguiça. Através de ações coletivas que envolvem os moradores da ladeira, o MUSAS (Museu Art. Street Salvador) o CEN (Coletivo de Entidades Negras) a incubadora de projetos sociais Salvador

Meu Amor, o movimento Nosso Bairro é 2 de Julho e Articulação do Centro Antigo, o espaço vem ganhando novas interpretações, passando a ser visto como um local de cultura e arte no Centro Antigo de Salvador, e reforçando tradições antigas nesse processo, a fim de melhorar a autoestima dos moradores

Após um hiato de 20 anos, o Banho de Mar à Fantasia foi retomado com intuito para além da folia, alertar o processo de esvaziamento da Ladeira da Preguiça e de especulação imobiliária (CORREIO,2019) Em 2019, diferente dos anos anteriores, a festa que é realizada no domingo que antecede o carnaval oficial, conseguiu reunir um público recorde de 20 mil pessoas

Para além disso, o Centro Cultural promove atividades diversas que ajudam a defender os interesses coletivos, incentivando as crianças, adolescentes e adultos da comunidade e regiões próximas a prática de esportes, a um maior entendimento politico e realiza também eventos no local

Fig. 7: O Centro Cultural e suas ações
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Fonte: Compilação por Fialho, 2021, de imagens retiradas da página do Centro Cultural

OBJETIVOS

OBJETIVO GERAL

Desenvolver um Projeto Urbanístico na Ladeira da Preguiça – Salvador - BA, como contribuição à reafirmação da permanência dos moradores locais e evidenciação das manifestações culturais já existentes, a partir de intervenções sensíveis à comunidade e que dialoguem com o seu cotidiano

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

• Estudar as demandas relativas ao território, já discutidas pelo Centro Cultural Que Ladeira é essa?

• Elaborar um Projeto de Reestruturação da Ladeira da Preguiça, melhorando suas conexões com o espaço urbano e questões de acessibilidade, mobilidade e iluminação pública;

• Analisar os espaços já existentes – o bar do Raul e o Beco da Califórnia para construção de soluções que valorizem a permanência, o encontro e o espaço;

• Propor um espaço público de lazer e de trocas sociais, contribuindo e incentivando a arte e reforçando as identidades da comunidade, utilizando um terreno vazio remanescente de três casarões demolidos em 2015.

Fonte: Compilação por Fialho, 2021, de imagens retiradas da página do Centro Cultural

METODOLOGIA

PRIMEIRA ETAPA

ESTUDO HISTÓRICO SOBRE A LADEIRA DA PREGUIÇA

Estudo histórico, mediante pesquisa bibliográfica e documental, do surgimento da Ladeira da Preguiça e de como sua estruturação e consolidação foi fundamental no processo de fundação e crescimento da cidade de Salvador-BA. Esse estudo foi fundamental para evidenciar as manifestações urbanas e culturais que aconteceram no local ao longo dos séculos, em especial as origens do Samba na Bahia e o Bloco de Carnaval Banho de Mar a Fantasia, e verificar como essas tradições, além de outras atividades culturais realizadas no local atualmente, potencializam a permanência da comunidade no espaço

SEGUNDA ETAPA

PESQUISA BIBLIOGRÁFICA

Levantamento bibliográfico sobre os principais conceitos relacionados aos temas abordados no presente trabalho, e de total importância para o projeto, sendo eles: Gentrificação, Direito à Cidade, Patrimônio Cultural, Memória Social e Espaço Público.

TERCEIRA ETAPA

APROXIMAÇÃO COM A COMUNIDADE

Para a elaboração de um trabalho compatível com as necessidades e desejos da comunidade, fez-se necessário uma aproximação com os moradores. Entretanto, por conta das medidas restritivas e da pandemia da covid-19, a aproximação baseada na vivência foi limitada, e a realização de alguns encontros através do Google Meet com o coordenador do Centro Cultural “Que Ladeira é essa?” Marcelo Teles, tornou possível uma maior compreensão sobre as atividades culturais e artísticas que acontecem na Ladeira e quais as necessidades da comunidade como propostas de espaços de lazer. Além das conversas com Marcelo, também houve contato com Suzane, moradora da Ladeira, que pôde me falar um pouco mais sobre as organizações dos eventos e atividades, principalmente as realizadas para as crianças.

QUARTA ETAPA

ESTUDOS URBANÍSTICOS DA POLIGONAL DE INTERVENÇÃO

Estudo da área abordando aspectos como: parâmetros urbanísticos; análise do entorno; inserção urbana; conexões entre Cidade alta e Cidade baixa; elaboração de mapas, com análises urbanísticas sobre mobilidade, uso do solo, insolejamento, cheios e vazios etc

QUINTA ETAPA

ELABORAÇÃO DO PROJETO

Desenvolvimento do projeto urbanístico e paisagístico para a Ladeira da Preguiça; reestruturação da malha urbana, alargamento das calçadas, sistema de drenagem e iluminação pública, equipamentos urbanos de lazer, projeto de espaços públicos

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REFERÊNCIAL TEÓRICO

Para entender a dinâmica do Centro Antigo de Salvador, mais especificamente da Ladeira da Preguiça, é necessário compreender o que é a gentrificação e como esse processo entrelaça esse território Se refere a projetos de renovação urbana que valorizam as áreas, objetos das intervenções, que antes estavam esquecidas pelo mercado imobiliário por seu estado de degradação, gerando um processo de especulação imobiliária e de expulsão da população local (MOURAD; BALTRUSIS, 2011)

Utiliza-se desse “enobrecimento” para designar intervenções urbanas como empreendimentos que elegem certos espaços da cidade considerados centralidades e os transformam em áreas de investimentos públicos e privados através da especulação imobiliária, causando mudanças no significado de tal localidade e tornando o patrimônio um segmento do mercado (LEITE, 2002), o que gera um lucro imobiliário e a mais-valia urbana, inviabilizando assim a permanência dos mais pobres (BALTRUSIS,2006).

O direito à permanência da comunidade na Ladeira da Preguiça está intrinsecamente ligado ao direito à cidade, entender que se trata além de liberdades individuais, compreende um direito coletivo e que necessita dessa coletividade para remodelar os processos de urbanização, podendo “mudar a nós mesmos, mudando a cidade” (HARVEY, 2013) Para Lefebvre (1969), a cidade possui um valor de uso, que pode ser caracterizado como a “Festa” – o principal uso da cidade - como um consumo sem nenhuma vantagem além do prazer e do prestigio (p 12) e é por meio dela que podese aproximar do exercício do direito à cidade, apropriação do espaço e vivência urbana plenos

A vivência urbana por sua vez está ligada diretamente aos espaços públicos, que deve ser entendido como um espaço de atribuição de sentidos, ligado ao pertencimento (LEITE,2002), tornando-se público a partir de ações que dão sentidos aos espaços e que também são influenciadas por eles (ANDRADE,2009)

Por se tratar de uma área histórica, entende-se que a requalificação do espaço e do patrimônio, deve ser um vetor de coesão social e valorização do lugar para os seus habitantes, evitando dessa forma o abandono dos imóveis, assim trazendo-o para a sua apropriação pela cidade e pelos cidadãos (MOURAD, BALTRUSIS, 2011)

Em seu livro “O que é patrimônio cultural” Antônio Rosa Mendes (2012, p.17) aborda que, patrimônio cultural significa “herança cultural”, e os seres humanos - na posição de herdeirosdevem ter consciência histórica, reconhecendo aquilo que somos e devemos ao nosso passado Assim [...]

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REFERÊNCIAL TEÓRICO

[ ] o património cultural gera e fomenta uma solidariedade orgânica entre os membros do corpo social, uma coesão ou convergência mental traduzida no sentimento de pertença a uma mesma comunidade – comunidade de origem, comunidade de destino. Acontece assim porque o património cultural representa (sim, representa, torna presente) a persistência desse agregado humano ao longo do tempo, comprovadamente lhe permitindo que seja o mesmo (idem, em latim, donde identidade) através e apesar das mudanças” [ ] O património cultural, núcleo da identidade colectiva, não só possibilita que nos reconheçamos mas também que sejamos reconhecidos; é ele que, contrastada e caracterizadamente, diferencia e distingue dos demais a fisionomia física e moral de um lugar, uma cidade, uma região, um país – que sem ele ficam desprovidos de individualidade e autónoma personalidade, deixando de ser o que (já não) são Eis o motivo por que o património cultural, que é no presente repositório do passado, é garantia de futuro e de sobrevivência

Na mesma lógica, Sant’anna (2017) afirma que “o patrimônio é produto de um dispositivo de poder Assim, como entidade totalizadora dos bens que narram a história e identificam a cultura de um grupo ou de uma nação, o patrimônio não existe como algo pronto – é uma construção social permanente ” (p 27)

Sendo patrimônio cultural um núcleo de identidade coletiva (MENDES,2012), a memória social no contexto do presente estudo, e de acordo com SILVA,2017 (p 5) é

um dispositivo que é ativado como mecanismo de afirmação identitária no campo cultural mediado pela arte. Esse dispositivo funciona como um modo de auto reconhecimento, disponibilizando elementos do passado para atuar no presente e criando, formas de representação social dos valores da tradição que podem ser emblemáticos para a difusão das culturas e dos saberes locais nos processos futuros

Dessa forma, tanto a memória como a arte estão situadas entre o campo da vivência e valor da experiência, ambas resistem ao tempo e se afirmam com valor de culto ou valor de exposição, coexistindo nessa intercepção de identidade e se transformando em elementos da cultura (SILVA,2017)

Entendendo que os acidentes geográficos são espaços de sociabilidade e elementos profundamente ligados à memória social, pode-se perceber que acontece na Ladeira da preguiça, sendo então esse espaço de luta, resistência comunitária, convivência e identidade.

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LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA SOBRE O TEMA

Quadro 1– Síntese das leis e normas técnicas

No intuito de fundamentar e regulamentar o trabalho, leis e normas técnicas se tornam fundamentais para esse processo. Apresenta-se abaixo, o quadro síntese de leis e normas que fundamentam o tema e que são primordiais para nortear o projeto de intervenção no patrimônio, identificando as condições exigidas (Quadro 1)

De acordo com o Art 1º do Decreto Lei Nº 25 de 1937

Art. 1º Constitui o patrimônio histórico e artístico nacional o conjunto dos bens móveis e imóveis existentes no país e cuja conservação seja de interesse público, quer por sua vinculação a fatos memoráveis da história do Brasil, quer por seu excepcional valor arqueológico ou etnográfico, bibliográfico ou artístico

Fonte: Elaborado por Fialho, 2021

A ladeira da Preguiça é um espaço que constitui parte do patrimônio histórico e artístico nacional pelo seu valor histórico, etnográfico e artístico Para além, a ladeira está inserida em uma Área de Proteção Rigorosa (APR) dentro de um perímetro de Área de patrimônio Cultural e Paisagístico (APCP), e que prevê pelo Art nº 108 Lei 3 289/83

§ 1º - Definem-se como Áreas de Proteção Rigorosa (APR) aquelas em que os elementos da paisagem construída ou natural abrigam ambiências significativas da cidade, tanto pelo valor simbólico, associado à história da cidade, quanto por sua importância cultural, artística, paisagística e integração ao sítio urbano

Para projetos de intervenção em áreas de APR devem estar sujeitas às normas de Proteção Contra Incêndio e Pânico, e todas elas sujeitas a limitações, no que se diz respeito a determinação de recuo, afastamento, gabarito e volumetria.

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LADEIRA DA PREGUIÇA RE(EXIST)

O Ladeira da preguiça re(exists) foi uma ação coletiva proposta pelas alunas de Arquitetura e Urbanismo Maria Chiara e Blerta em 2016, que teve como objetivo principal a pintura das casas, reparo das fachadas, criação de um jardim e criação de um pequeno pavilhão de resistência temporário para as atividades comunitárias

O projetos foram realizados através de arrecadação de materiais feitas através das mídias sociais que garantiram maior visibilidade a comunidade e a resistência, envolvendo ações lúdicas ao espaço, que foram fundamentais para a proposta do espaço público do presente estudo

O projeto do pavilhão foi de caráter temporário, mas que deu visibilidade à ladeira e fortaleceu a autoestima e interação de todos os moradores A proposta do jardim, utilizando o terreno ao lado do terreno do projeto, mostra a importância de valorizar e ocupar o espaço, que por muitos anos era constituído de moradia Por fim, a ação coletiva serviu de inspiração no intuito de resgatar as vivências experimentadas pela comunidade no evento para o cotidiano

REFERÊNCIAS PROJETUAIS
Fig. 10: Croqui pavilhão temporário Fig. 11: Pavilhão no dia de evento Fig. 09: Croquis idealizadores Fonte: Preguiça RE(Exist),2016 Fonte: Preguiça RE(Exist),2016
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Fonte: Preguiça RE(Exist),2016

A pracinha Oscar Freire está localizada na Av Oscar Freire, em São Paulo- SP O projeto possui 300 m² de área construída realizado pelo ZOOM, Reud e Instituto Mobilidade Verde. Consistia na construção de uma praça temporária como estratégia para ativação do espaço enquanto não eram realizadas as obras do empreendimento previsto para o local

A estratégia de ocupação utilizada, se deu pela temporariedade do projeto, e o que antes era um estacionamento, passou a ser um atrativo urbano a quem passa pela região O local é um centro urbano que fomenta arte, principalmente voltadas a arte urbana, pequenos shows, locais para encontros, aulas ao ar livre, etc

Ao criar e ativar o espaço, levou as pessoas a usarem, se apropriarem, tornando assim a dinâmica mais viva - e assim mais valorizado por todos A escolha desse projeto foi exatamente por isso Trazer a abordagem dinâmica de um espaço voltado às artes, ao encontro e a apropriação das pessoas Além disso, a materialidade, uso de cores, equipamentos de mobiliário urbano e de ginástica são peças fundamentais para construção do espaço

REQUALIFICAÇÃO DA COLINA DO SENHOR DO BONFIM

A requalificação da Colina Sagrada é um projeto de um espaço público em Salvador-BA executado pela Sotero Arquitetos no ano de 2019 Seu objetivo principal foi o redesenho de uma das áreas mais importantes da cidade e envolveu três espaços: Praça Teodósio Rodrigues de Faria, Largo do Bonfim e Praça Eusébio de Matos Seus espaços envolvem um caráter devocional e cultural nas cotas superiores e na cota mais baixa, está voltado aos usos comerciais, de serviço e de lazer

PRACINHA OSCAR FREIRE
Fig. 12: Pracinha Oscar Freire Fonte: Zoom, 2019
PROJETOS REFERENCIAIS
Fig. 13: Colina Sagrada
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Fonte: ArchDaily, 2019

A escolha do projeto se deu pelo seu caráter simbólico, uma vez que a sua principal premissa foi a valorização do pedestre em detrimento do automóvel, além de englobar ações de pequenas a grandes escalas, que vai de um desenho do mobiliário urbano a mudanças do sistema viário e paisagística local.

Além do seu caráter simbólico, a materialidade é um elemento fundamental no projeto, por contribuir para reafirmar a história do local, como um grande exemplo os paralelepípedos, o granito cinza, que foi utilizado nos bancos, acabamentos de pisos e escadas e a madeira utilizada nos bancos e nos postes de iluminação, materiais estes que serviram de inspiração para o presente estudo

PLANO DE BAIRRO DOIS DE JULHO

O Plano de Bairro Dois de Julho é uma proposta para desenvolvimento de um plano de bairro participativo, juntamente com moradores, associações, entidades e o grupo de pesquisa Lugar Comum, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da UFBA, realizado no ano de 2016. Através de oficinas, foram norteadas demandas do bairro, junto com moradores, estudantes, e o Centro Cultural “que ladeira é essa?” com participação efetiva.

PROJETOS

DISCUTIDOS PARA MELHORIA DO BAIRRO

1. Recuperação de vazíos construídos e ruínas para uso dos moradores

• Creche pública na Ladeira da Preguiça

• Moradia Social

• Espaço Cultural e Bibliodigital

• Residência Artística

2. Vazíos urbanos para áreas de lazer

• Praças

• Áreas Verdes – Florir o espaço

3. Espaço urbano

• Segurança

• Mobilidade

4. Reconhecimento do bairro, sua história, ligações afetivas

• Memória do bairro na luta pela liberdade na cidade

• Cuidar do patrimônio

• Direito à Permanência e à cidade

As discursões realizadas pelo Plano de Bairro foram norteadoras para entender as demandas relativas à dos moradores locais e redondeza, tornando-se uma peça chave para elaboração das intervenções projetuais na Ladeira da Preguiça

Fig. 14: Materialidades do projeto onte: Acervo Pessoal, 2021
PROJETOS REFERENCIAIS
Fig. 15: Flyer de divulgação da oficina Fonte: Website Plano de Bairro, 2016
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ANÁLISE DA ÁREA

Localizada no ligamento entre o Bairro do Comércio e o Bairro Dois de Julho, a Ladeira da Preguiça é uma das partes mais antigas da cidade Para definição da poligonal de Estudo foi considerado um referencial de 500 metros em volta das áreas de intervenção

A área de intervenção está em sua totalidade, inserida em uma Macroárea de urbanização consolidada, definida por compreender os bairros mais tradicionais que cresceram a partir do Centro Histórico e definida como um território material e simbólico das relações sociais, econômicas e políticas que construíram, interna e externamente, a imagem e a identidade de Salvador como metrópole (SALVADOR, 2016)

Art 138 A Macroárea de Urbanização Consolidada tem como objetivo geral assegurar a sua vitalidade por meio de políticas de valorização da sua diversidade social e cultural, dos espaços urbanizados, do patrimônio edificado, da paisagem e das manifestações culturais, mantendo-a atrativa para a moradia e para as atividades econômicas, em especial o turismo, otimizando os investimentos públicos e privados já realizados em habitação, infraestrutura, serviços e equipamentos urbanos

ESTUDOS URBANÍSTICOS
Fig.16: Mapa de localização da poligonal de estudo Fonte:GOOGLE EARTH (2019) ADAPTADO por FIALHO (2021)
Fonte:Google
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Fig.17: Mapa de Macroárea
Earth(2019) adaptado por Fialho (2021)

ESTUDOS URBANÍSTICOS

ZONEAMENTO

De acordo com a Lei de Ordenamento do Uso do Solo (LOUOS) a poligonal de estudo está inserida numa Zona Centralidade Metropolitana do Centro Antigo (ZcMe-CA) e em relação ao zoneamento, há prevalência equivalente em Zona Predominantemente Residencial 1 (ZPR-1) e Zona Predominantemente Residencial 3 (ZPR-3) (Fig 18)

§3º A ZCMe-3 compreende o Centro Antigo de Salvador e corresponde ao espaço simbólico e material das principais relações de centralidade do Município, com fácil acessibilidade por terminais de transporte coletivo de passageiros e também transporte de cargas, vinculando-se às atividades governamentais, manifestações culturais e cívicas, ao comércio e serviços diversificados, a atividades empresariais e financeiras, a serviços relacionados a atividade mercantil e atividades de lazer e turismo, bem como o uso residencial (SALVADOR,2016)

As ZPR-1 é caracterizada por construções de baixa densidade, predominando edificações com padrão horizontal e as ZPR-3 tem alta densidade construtiva, compreendendo edificações com padrão vertical de grande porte (SALVADOR,2016) A poligonal se encontra em uma APR (Área de Proteção Rigorosa), definida pela Lei 3. 298/83. De acordo com o Art. 119º

As intervenções efetuadas nas Áreas de Preservação da Paisagem terão os gabaritos, a volumetria e a taxa de ocupação limitados através de normas específicas elaboradas em conjunto pela SPHAN, IPAC e Prefeitura a partir de estudos a serem realizados para cada área, particularmente

A partir dessa análise pode-se perceber que a legislação atua sobre o espaço urbano e paisagístico, protegendo as edificações históricas, logradouros e praças, que por sua vez não podem ser drasticamente alteradas, sendo necessário intervenções que dialoguem com o patrimônio urbano local

Fig.18: Mapa de Zoneamento Fonte:Google Earth(2019) adaptado por Fialho (2021) Fig.19: Definição da APR Fonte:Salvador (2016) adaptado por Fialho (2021)
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ESTUDOS URBANÍSTICOS

LIGAÇÕES

Estruturadas para criar caminhos da cidade baixa até a cidade alta na fundação da cidade, as ladeiras até hoje desempenham um papel importante para a conexão das mesmas. A Ladeira da Montanha, apesar de ter sido construída só no século XIX, continua sendo uma das mais importantes entre elas, transformando a mobilidade de Salvador, na época de sua construção Atualmente, é pela Ladeira da Montanha que se chega à Cidade Alta, e pela Ladeira da Conceição da praia que se desce A Ladeira da Preguiça, próxima às duas, tem via de mão dupla, mas comparada às outras, não é usada efetivamente como uma rota de conexão e isso pôde ser constatado através de noticiários recentes.

Fig.20: Mapa de conexões: Cidade alta e cidade baixa

“Segundo a prefeitura, no início da manhã de sábado (17), a Ladeira da Montanha estará interditada para a demolição de uma estrutura na via O serviço será executado pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur), com acompanhamento da Defesa Civil de Salvador (Codesal) O trecho deve ser liberado no final do dia Os motoristas têm como opções seguir pela Avenida Lafayette Coutinho (Contorno) e, no Vale do Canela, podem subir o viaduto e chegar ao Campo Grande Os veículos de pequeno porte podem também seguir pela Contorno e subir a Ladeira do Gabriel, passando pelos Aflitos e chegando na Rua Carlos Gomes ” (G1 BA, 2021)

Fonte:Google Earth(2019) adaptado por Fialho (2021)

Fig.21: Mapa de conexões: Mobilidade e Acessibilidade

Fonte:Google Earth(2019) adaptado por Fialho (2021)

Fonte:Google Earth(2019) adaptado por Fialho (2021)

Por estar classificada como uma Via Coletora II, a ladeira possuí um tráfego de baixa fluidez (SALVADOR,2016) Seus acessos se dão pela Rua do Sodré, pela Rua Visconde de Maúa e pela Rua Luis Murat, esta atualmente sem uso Sobre os acessos de pedestre, todo trecho possuí calçadas e próximo à ladeira existe a escadaria do Beco do Sodré, ligando os dois níveis, mas que é pouco utilizada por falta

de segurança. O Elevador Lacerda é considerado a principal rota de pedestres para o deslocamento entre as “duas cidades” Por fim, em relação a oferta de transporte público, passam nas principais vias, e constitui um local com boa oferta

Fig.22: Sentido dos fluxos
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ESTUDOS URBANÍSTICOS

SOBRE OS USOS E OCUPAÇÕES

Sobre o uso do solo, pode-se perceber uma variedade de usos, e a ladeira em si, predominantemente residencial, está cercada de comércios, edificações de uso misto, equipamentos institucionais e de serviço (Figura 23), e suas alturas em geral são de 2 a 4 pavimentos Pode-se perceber também uma grande quantidade de vazios construídos na poligonal de estudo, principalmente na região do comércio, o que leva uma certa insegurança aos pedestres da região

Já em relação a pontos de interesse (referenciais locais), é fundamental destacar os espaços públicos, em principal as praças dentro da poligonal e os equipamentos voltados a cultura, por poderem dialogar com a proposta projetual do presente trabalho. Também foi importante analisar a presença de áreas verdes, tendo uma boa parte delas no eixo da escarpa da cidade, onde a topografia é bastante acidentada

Fonte:Google Earth(2019) adaptado por Fialho (2021) Fig.23: Mapa de Uso do Solo Fig.24: Mapa de Gabarito de Altura Fig.25: Áreas Verdes e pontos de interesse Fonte:Google Earth(2019) adaptado por Fialho (2021)
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Fig.26: Região do bairro do Comércio

ESTUDOS GEOGRÁFICOS

“A capital apresenta três planos, o baixo, o alto e o médio, sendo conhecida pela cidade dos três andares. Os três planos formam outras tantas cidades, possuindo comércio e vida próprios e se comunicam por ladeiras, arcos, viadutos, ruas e avenidas.” (TORRES, 1950 Apud GOMES E ABBADE,2015 P. 7)

TOPOGRAFIA

Estruturada a partir da falha geológica da cidade de Salvador-BA, a Ladeira da Preguiça vence um desnível de 30 metros e está a 10 metros acima do nível do mar Por sua vez, a inclinação não é tão íngreme devido a sua forma.

ESTUDOS CLIMÁTICOS

Devido a sua íngreme topografia, a poligonal de intervenção possui boa parte de suas fachadas nascentes obstruídas Boa parte dos seus imóveis estão voltados para o poente, tendo em vista a Baía de Todos os Santos Olhando particularmente cada espaço, no geral, a ladeira ainda conta com uma grande presença de sombras em boa parte de suas áreas, e analisar onde bate sol ou faz sombra foi uma premissa importante para saber quais seriam as áreas de lazer e onde se colocaria vegetação, e quais seriam mais adequadas a cada contexto

Fig.28: Volumetria esquemática Fig.27: Mapa Topográfico Fig.29: Mapa de Estudos Climáticos
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Fonte:Google Earth(2019) adaptado por Fialho (2021) Fonte: Estudo elaborado por FIALHO, 2021 Fonte:Google Earth(2019) e SICAR (1992) adaptado por Fialho (2021)

ESTUDOS GEOGRÁFICOS

VENTILAÇÃO

SOLSTÍCIO DE VERÃO

Em relação ao fluxo dos ventos, Salvador possui ventos dominantes no sentido leste e sudeste (L/SE), mas no Bairro do Comércio, acontece de forma diferente

De acordo com as análises da Dra. Griselda Kluppel (1991) são definidas de acordo com a conformação geomorfológica do bairro, podendo-se afirmar que a própria escarpa provoca uma “sombra de ventos”, considerando as ventilações predominantes no sentido L/SE Todavia, por ser uma região que se encontra à beira-mar, recebe uma brisa marinha de pequena intensidade durante o dia, auxiliado pela pressão negativa gerada por essa sombra de vento O maior índice de ventilação na Cidade Baixa acontece no verão Essas análises contribuiram efetivamente para as decisões projetuais em relação aos espaços públicos

Quando os ventos são provenientes de sudeste e leste, pode-se admitir que haja uma circulação descendente pela própria encosta, nesses sentidos, entretanto com muito pouca pressão, que seria auxiliada em seu percurso pelos pequenos movimentos das aragens oriundas das diferenças de temperatura entre as massas continental e marítima (KLÜPPEL, 1991)

INSOLEJAMENTO

Em relação ao estudo de sombreamento, foram realizados estudos solares através de uma modelação 3D com topografia, feita no software SketchUp Adotou-se três medições de horários (08h00; 12h00 e 16h00) nos dias referentes aos equinócios, solstício de verão e solstício de inverno Foram feitas sobreposições para sintetizar os resultados Pode-se perceber que toda extensão da Ladeira é sombreada o ano inteiro.

EQUINÓCIOS

SOLSTÍCIO DE INVERNO

Fig.30: Fluxo dos Ventos – Salvador/BA Fonte: INMET, 2016 Fig.31: Esquema de ventilação cidade baixa Fonte: KLÜPPEL, 1991 Fig 32.: Sobreposição da sombra projetada
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Fonte: Estudo elaborado por FIALHO, 2021
Fonte: Acervo Pessoal, 2021 35

ANÁLISE DOS TRECHOS

Rua Luis Murat

Através de evidências históricas acredita-se que a Rua Luís Murat era a principal via do Bairro da Praia – a enseada da Preguiça Suas características atuais ainda se aproximam a um traçado antigo, possuindo pavimentação em paralelepípedo em pedra e calçadas estreitas, além da ausência de sistema de drenagem É através dessa rua que ocorre a ligação entre a Av. Lafayete Coutinho e a Ladeira da Preguiça.

Pode-se perceber que apesar da rua ser uma ligação existente, não é utilizada como uma rota de acesso a Ladeira da Preguiça, por consequência de uma falta de visibilidade do acesso e da própria ladeira em si Além disso, tanto a pavimentação da via como o calçamento estão em um péssimo estado, resultando em uma rota quase inexistente

Bar Raul Delirius Seixas

O bar foi batizado com esse nome por ser um dos bares mais frequentados pelo baiano Raul Seixas, conta Suzane, moradora da comunidade Por muitos anos, o espaço serve como um espaço cultural, bar, de encontro ao movimento do rock na cena baiana, e espaço de homenagem ao ídolo.

A POLIGONAL DE INTERVENÇÃO
Fig 33: Trechos de intervenção Fonte:Google Earth(2019) adaptado por Fialho (2021) Fig 34: Enseada da preguiça (ano não identificado) Fonte: Website histórias de Salvador, 2009 Fig 35: Rua Luis Murat nos dias atuais Fonte: Google Street View. 2021 Fig 36: Evento de Rock no Bar do Raul, 2018
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Fonte: Página do Facebook do espaço, 2018

ANÁLISE DOS TRECHOS

Apesar de ser um espaço ativo, ainda carece de infraestrutura e uma maior conexão com o entorno, necessitando de um trabalho de acessibilidade e ligação direta de pedestres na parte do fundo, valorizando a fachada virada para a Av. Lafayete Coutinho, dando maior visibilidade ao espaço, que, por anos, permanece escondido

Casarão Nº 06

Trata-se de um casarão da época colonial, de três pavimentos atualmente em estado de ruína, existindo somente a casca da edificação Não foram encontradas maiores informações sobre o local, mas a partir de uma imagem do antigo Hospício S. Felipe Neri, localizado no sítio da Preguiça, pode-se perceber como era a edificação no passado (Fig 40)

A POLIGONAL DE INTERVENÇÃO
Fig 37: Bar do Raul nos dias atuais Fonte: Google Street View. 2021 Fig 38: Bar do Raul fachada dos fundos Fig 39: Bar do Raul “visto” pela Av. Lafayete Coutinho Fonte: Google Street View. 2021 Fonte: Google Street View. 2021 Fig 40: Antigo hospício São Felipe Neri em 1939
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Fonte: Publicado no livro Relíquias da Bahia, de Edgar de Cerqueira Falcão em 1940. ADAPTADO POR FIALHO, 2021

ANÁLISE DOS TRECHOS

O casarão era de uso misto até 2012, quando sofreu um incêndio. A partir de conversas com os moradores locais, há muitos anos atrás o pavimento térreo funcionava como bar e os demais pavimentos como moradia, de uma forma "encortiçada“ No ano de 2012, um pouco antes da tragédia, já havia precariedade e muitos danos na edificação, o que pode ter provocado o acidente. Atualmente o imóvel possuí sua casca em estado critíco de degradação, com sua fachada posterior, virada ao Beco da Califórnia, demolida parcialmente. A vegetação tomou conta de toda a parte interna e fachada frontal, por sua vez, não apresenta riscos de desabamento, apesar dos danos.

O terreno

O terreno vazio que hoje existe na Ladeira da preguiça é remanescente da demolição de três casarões existentes, com a anuência do órgão tombador - o IPHAN - em 2015, devido ao desabamento parcial de um deles, o nº 9, com vítimas, que tratava-se de um sobrado colonial de dois pavimentos, que estava parcialmente destruído e ocupado De acordo com a CODESAL(2021)

o restante da construção apresentava risco iminente de novos desabamentos, devido ao grave estado de degradação em sua estrutura

A POLIGONAL DE INTERVENÇÃO
Fig 41: Situação atual do Casarão Nº 6 Fonte: Acervo Pessoal, 2021 Fig 42: O terreno antes das demolições
38
Fonte: Google Street View. 2013

ANÁLISE DOS TRECHOS

Com aproximadamente 480 00 m² de área, o terreno está desocupado e cercado por arames, que servem de forma espontânea como varal da comunidade O proprietário do terreno é Toninho Cerezo de acordo com os moradores da Preguiça O terreno possuí uma topografia com leve desnível por conta da movimentação de terra em consequência das ocupações anteriores

Nota-se que parte dos antigos casarões ainda se mantém em estado de ruína. Percebe-se também que os moradores se apropriam do espaço de alguma forma, utilizando a sua cerca para um varal coletivo, como já mencionado. Suzane, moradora da Preguiça, conta que esse habito comum por lá

A POLIGONAL DE INTERVENÇÃO
Fonte:Google Earth(2019) adaptado por Fialho (2021) Muro de casarão desaba e atinge casas na Ladeira da Preguiça, em Salvador (R7, 2015) Fig. 43: O terreno após desabamento –desabamento parcial do sobrado turquesa Fonte: Antonello Veneri. 2015 Fig. 44: O terreno após demolições Fonte: Google Street View. 2015

ANÁLISE DOS TRECHOS

Beco da alifórnia

O estreito Beco da Califórnia tem seu único acesso pela ladeira Seu espaço é composto por sobrados coloniais em ambos os lados e de uso predominantemente residencial Sua pavimentação é de paralelepípedo de pedra em boa parte dos trechos e no mesmo nível da rua, possuindo assim um rebaixamento da calçada para acesso Na descida, o beco possui calçadas estreitas e uma pavimentação irregular e mista, além da ausência de um sistema de drenagem e iluminação eficiente, contendo somente um poste no inicio do beco e um no final.

A Ladeira

Sua pavimentação é de paralelepípedos de pedra, mantendo o caráter histórico das pavimentações do Centro Histórico Todavia, pela ausência de uma boa manutenção, de um sistema de drenagem e pela sua característica íngreme, que vence uma topografia de 20 metros, o espaço sofre com recorrentes interdições por conta de fortes chuvas, levando a uma séria danificação da pavimentação da ladeira e afetando diretamente o cotidiano dos moradores locais.

A POLIGONAL DE INTERVENÇÃO
Fonte:Google Earth(2019) adaptado por Fialho (2021) Fig. 46: Acesso ao Beco da Califórnia Fonte: Google Street View. 2021 Fonte: Centro Cultural, 2021 Fig. 47: Beco da Califórnia Fig. 48: A ladeira – vista superior
40
Fonte: Acervo pessoal, 2021

ANÁLISE DOS TRECHOS

“Ladeira da Preguiça sofre interdição após fortes chuvas que caíram em Salvador” (GLOBO,2019)

Pode-se perceber que as calçadas são estreitas e desprovidas de condições adequadas de acessibilidade Outro fator relevante identificado é a questão da iluminação na ladeira, contendo poucos postes, que não condizem com a escala local pelo seu grande porte, além de toda a fiação aérea aparente, gerando insegurança aos moradores e um impacto negativo na paisagem

“Poste desaba na Ladeira da Preguiça e deixa moradores sem energia elétrica” (CORREIOS,2020)

A POLIGONAL DE INTERVENÇÃO
Fig. 49: A ladeira em dias de fortes chuvas Fonte: Antonello Veneri, 2013 Fig. 50: Destruição da pavimentação após fortes chuvas Fonte: Jornal Globo, 2019 Fig. 52: Desabamento do poste e risco aos moradores locais Fonte: Arisson Marinho. Correios, 2020 Fig. 51: A ladeira – vista inferior
41
Fonte: Acervo pessoal,2021

PERTENCIMENTO

A apropriação do espaço coletivo cria laços com o pertencer. É nas portas das casas, nas esquinas, e na rua que as crianças brincam, os adultos se encontram, a vida da comunidade acontece O conceito do projeto está baseado no pertencimento Por meio de um (re)conhecimento do espaço são propostas intervenções sensíveis ao cotidiano da comunidade, atendendo as suas necessidades, melhorando a mobilidade e fortalecendo as ações propostas pelo Centro Cultural, a fim de valorizar os encontros, os eventos, a memória, arte e as tradições que permeia a Ladeira por séculos

O CONCEITO DO PROJETO
CULTURA MOVIMENTOS SOCIAIS ESPAÇOS DE LAZER RECONHECIMENTO VALORIZAÇÃO DO PATRIMÔNIO TRADIÇÕES REAFIRMAÇÃO ARTE CARNAVAL ENCONTRO RESISTÊNCIA COMUNIDADE LOCAIS DE TROCA MEMÓRIA COTIDIANO RUA FESTA MOBILIDADE COTIDIANO 42

permanências passagens

A LADEIRA COMO ESPAÇO DE PASSAGENS E PERMANÊNCIAS

Para entender melhor o projeto, é necessário entender a Ladeira da Preguiça como um local de permanências mas também como um espaço de passagens. As diretrizes traçadas tem como objetivo principal desenvolver um projeto de reestruturação, a partir de diálogos com a comunidade e percepções construídas do espaço, no intuito de reafirmar a permanência dos moradores locais, e valorizar os espaços de vivências e encontros. A partir de um estudo volumétrico da ladeira, foi possível criar análises que relacionam os espaços de intervenção – ditos permanências – e os espaços de passagens, sendo esses a ladeira

INTERVENÇÕES SOBRE A VIA DIRETRIZES

GERAIS

Reordenamento do fluxo de trânsito, considerando a via como fluxo único, de Estreitamento da pista para alargamento das Redistribuição do sistema de drenagem faixas rebaixadas e rampas de acessibilidade, garantindo a mobilidade toda a extensão do projeto Redistribuição dos postes, diminuição das remanejamento para fiação

de pisos direcionais e alerta em de intervenção

O PROJETO
Fig. 53: Volumétrico e diagramas de fluxos Fonte: Elaborado por Fialho,2021
43
Fig. 54: Projeto da via Fonte: Elaborado por Fialho,2021

A PRAÇA – OCUPANDO ESPAÇOS VAZÍOS

O programa estabelecido para o projeto da praça tem como referências análises trazidas pelo Plano de Bairro Dois de Julho, atividades propostas pelo Centro Cultural e vivências passadas e cotidianas da comunidade.

DIRETRIZES GERAIS

• Desenvolver espaços para trocas sociais, práticas de atividades culturais, esportivas e de lazer, enriquecendo a relação de pertencimento entre jovens, crianças, idosos da comunidade e o espaço público.

• Valorização da memória do espaço, reforçando elementos das antigas fachadas e pela criação de um espaço de exposição

• Espaço para apresentações, carnaval, eventos e festas propostos pela comunidade.

• Espaço para um redário e um varal comunitário, fortalecendo, práticas e vivências da comunidade.

• Propor paisagísmo que dialogue com as condições climáticas do espaço

VEGETAÇÃO

Para considerado o região Boa parte sombra em todo fundo do terreno nos equinócios e no inverno. Para esse local, optou-se na escolha de arvóres frutíferas, frutos, serão de proveito da demais áreas, foram vegetações ideiais para sombra e

O PROJETO
ESPAÇO E PERTENCIMENTO
44
Fig. 55: Programa e pré-dimensionamento da praça Fonte: Elaborado por Fialho,2021 Fig. 56: Fluxograma Fonte: Elaborado por Fialho,2021 Fig. 57: Perspectiva isométrica do projeto Fonte: Elaborado por Fialho,2021

BECO DA CALIFÓRNIA

DIRETRIZES GERAIS

• Pavimentação única atendendo o fluxo único de pedestres e especificação de um piso drenante em sua extensão

• Criação de um sistema de drenagem

• Proposição de mobiliário urbano em alguns trechos do beco

• Criação de um espaço de convívio ao final do beco

• Proposição de sistema de iluminação por meio de cabos de aço presos de forma perpendicular às edificações

O

ESPAÇO E PERTENCIMENTO

REUSO – A RUÍNA E AS NECESSIDADES DA COMUNIDADE

DIRETRIZES CONCEITUAIS

• Restauração e reconstrução da ruina existente afim de atender as demandas da comunidade

• Elaboração do projeto de uma Creche na Ladeira mediante concurso público de ideias

• Adotar soluções criativas e práticas sustentáveis na concepção do projeto, dando preferência a materiais de baixo custo, fácil montagem e garantindo soluções bioclimáticas.

PROJETO
Fig. 58: Croqui esquemático da intervenção Fig. 59: Materialidade e simbolismo Fig. 61: Fachada restaurada do casarão Fig. 60: Conexão entre Casarão e Beco da Califórnia A pracinha como “quintal” da Creche Fonte: Elaborado por Fialho,2021 Fonte: Elaborado por Fialho,2021 Fonte: Elaborado por Fialho,2021

RUA LUÍS MURAT

DIRETRIZES GERAIS

• Estabelecer a rua existente como uma rota viável de acesso a ladeira para quem vem da Av. Lafayete Coutinho

• Melhorar pavimentação e alargamento das calçadas

• Reordenamento do sistema de drenagem

O PROJETO

ESPAÇO E PERTENCIMENTO

BAR DO RAUL

DIRETRIZES GERAIS

• Criação de uma conexão direta entre Lafayete Coutinho e o início da Ladeira através de escadas, facilitando o acesso e dando visibilidade

• Criação de piso em deck ao redor do bar, valorizando a fachada Oeste e fazendo uma ligação direta a Rua Luis Murat através de rampas

• Propor um mobiliário urbano compatível com o local

• Propor paisagismo com vegetação de médio porte, que adequem as condições visibilidade ao acesso de

Fig. 63: Espaço Encontros
Bar do Raul Fig. 62: Proposta de ligação através de escadas Fonte: Elaborado por Fialho,2021 Fonte: Elaborado por Fialho,2021

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As considerações finais estabelecidas pelo presente estudo definem uma maior aproximação com o sitio da Preguiça, tendo em vista um projeto englobando demandas analisadas e pautadas pelos moradores da comunidade, além de percepções pessoais. Acredita-se que as intervenções propostas contribuem de maneira sensível para o fortalecimento do território, reforçando a permanência dos moradores e a valorização das manifestações culturais locais, já estabelecidas pelas demandas do Centro Cultural “Que Ladeira é essa” Para além, converge ao propósito de configurar o espaço como participante das dinâmicas urbanas, dando visibilidade e acessibilidade à via. Seus espaços, por sua vez, foram pensados para serem locais de troca, de lazer, de produção, de memória, de permanência, da comunidade, mas também de estudantes, pesquisadores, movimentos sociais, assessorias e o público externo.

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REFERÊNCIAS

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BAHIA. LEI Nº 12.365 DE 30 DE NOVEMBRO DE 2011. Lei Orgânica da Bahia. LEGISLAÇÃO NA CULTURA NA

BAHIA 2014 Disponível em < http://www.cultura.ba.gov.br/arquivos/File/publicacaolegislacaodaculturanabahia.pdf > Acesso em 13 de março de 2021

BAHIA. INSTRUÇÃO TÉCNICA Nº 17/2016. Brigada de Incêndio. Corpo de bombeiros militar. Disponível em < http://www cbm ba gov br/sites/default/files/documentos/2018-10/it_17 2016_brigada_de_incendio.pdf > Acesso em 25 de março de 2021

BALTRUSIS, Nelson A valorização fundiária da propriedade urbana Cadernos Metrópoles a questão fundiária e o conflito urbano, nº 16, EDUC, Observatório das Metrópoles, São Paulo, SP, 2006.

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BRASIL NBR 9050/2020 Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos Quarta edição. ABNT. Disponível em < https://www.caurn.gov.br/wp-content/uploads/2020/08/ABNTNBR-9050-15-Acessibilidade-emenda-1 -03-08-2020 pdf > Acesso em 25 de março de 2021

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https://ppgh ufba br/sites/ppgh ufba br/files/1_conceicao_e_pilar _freguesias_seculares_do_centro_ec onomico_e_do_porto_de_salvador_ate_o_seculo_xix pdf > Acesso em 24 de março de 2020

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REFERÊNCIAS

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GOTTSCHALL, Carlota. SANTANA, Mariely. CULTURA E SOCIEDADE NO ANTIGO CENTRO DE SALVADOR. III

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MOURAD, Laila Nazem; FIGUEIREDO, Glória Cecília. O bairro é Dois de Julho, ou, o que está em jogo no Projeto de Humanização de Santa Tereza SEMINÁRIO URBANISMO NA BAHIA-URBA 12: A produção da cidade e a captura do público. Que perspectivas, 2012.

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SOCIAL. Anais ENANPUR, v. 14, n. 1, 2011.

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49

REFERÊNCIAS

SALVADOR. Prefeitura Municipal de Salvador. Decreto Nº 24.435 de 07 de novembro de 2013. Disponível em < https://leismunicipais.com.br/a/ba/s/salvador/decreto/2013/2444/24435/decreto-n-24435-2013declara-de-utilidade-publica-para-fins-de-desapropriacao-os-imoveis-que-indica-e-da-outrasprovidencias?q=24.435 > Acesso em 15 de Setembro de 2021

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REFERÊNCIAS

1min
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CONSIDERAÇÕES FINAIS

1min
pages 47-48

A PRAÇA – OCUPANDO ESPAÇOS VAZÍOS

1min
pages 44-46

A LADEIRA COMO ESPAÇO DE PASSAGENS E PERMANÊNCIAS

1min
page 43

ESTUDOS GEOGRÁFICOS

4min
pages 34, 36-41

ESTUDOS GEOGRÁFICOS

1min
page 33

ESTUDOS URBANÍSTICOS

1min
page 32

ESTUDOS URBANÍSTICOS LIGAÇÕES

1min
page 31

ESTUDOS URBANÍSTICOS

1min
page 30

LADEIRA DA PREGUIÇA RE(EXIST)

3min
pages 26-29

LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA SOBRE O TEMA

1min
page 25

REFERÊNCIAL TEÓRICO

1min
page 24

REFERÊNCIAL TEÓRICO

1min
page 23

QUE LADEIRA É ESSA?

2min
pages 20-22

QUE LADEIRA É ESSA?

1min
page 19

QUE LADEIRA É ESSA?

3min
pages 17-18

QUE LADEIRA É ESSA?

1min
page 16

JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO TEMA

1min
pages 15-16

JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO TEMA

1min
page 14

JUSTIFICATIVA E RELEVÂNCIA DO TEMA

1min
page 13

INTRODUÇÃO

2min
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REFERÊNCIAS

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

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A PRAÇA – OCUPANDO ESPAÇOS VAZÍOS

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A LADEIRA COMO ESPAÇO DE PASSAGENS E PERMANÊNCIAS

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ESTUDOS GEOGRÁFICOS

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ESTUDOS URBANÍSTICOS LIGAÇÕES

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LADEIRA DA PREGUIÇA RE(EXIST)

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LEGISLAÇÃO ESPECÍFICA SOBRE O TEMA

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