Comentário: 21° Domingo do Tempo Comum - Ano B

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EUCARISTIA E ENCARNAÇÃO AINDA ESCANDALIZAM? BORTOLINE, José - Roteiros Homiléticos Anos A, B, C Festas e Solenidades - Paulus, 2007 * LIÇÃO DA SÉRIE: LECIONÁRIO DOMINICAL * ANO: B – TEMPO LITÚRGICO: 21° DOM. COMUM - COR: VERDE

I. INTRODUÇÃO GERAL 1. Nossa assembléia litúrgica é momento de renovação da fé e do compromisso com o Deus vivo e verdadeiro. Na liberdade e alegria, queremos aderir a ele, para construir juntos uma sociedade nova, na fraternidade (1ª leitura Js 24,1-2a.1517.18b).

O povo responde positivamente, e suas palavras são o compromisso com esse Deus aliado: “Longe de nós a idéia de abandonar o Senhor para servir a outros deuses, pois o Senhor é o nosso Deus. Foi ele quem tirou a nós e a nossos pais do Egito, lugar da escravidão… portanto, também nós serviremos ao Senhor, porque ele é o nosso Deus” (vv. 17-18b). Quando o povo e suas lideranças forem capazes de discernir e escolher entre o Deus verdadeiro que suscita e promove a vida e os ídolos que suscitam e geram a morte, então é que teremos uma sociedade justa e fraterna, em que a vida e os bens da criação serão partilhados entre todos.

8.

A Eucaristia é a encarnação de Jesus em nossa realidade. Aceitamos de bom grado que Jesus se dê a conhecer e se entregue a nós no pão. Mas quando ele nos garante que o seu e nosso caminho passa pela encarnação e doação da vida, aí nos escandalizamos e pretendemos voltar atrás (evangelho Jo Evangelho (Jo 6,60-69): Fugir ou encarnar-se? 6,60-69). 3. A carta aos Efésios mostra que temer a Cristo é doar-se no 9. Os versículos que compõem o evangelho deste domingo serviço até o fim. Nós não queremos ser uma Igreja de beleza pertencem à conclusão do cap. 6 de João. A Santa Ceia e a estética, e sim o lugar onde as relações entre as pessoas sejam encarnação de Jesus provocam as pessoas a se posicionar: ou aceitamos Jesus e nos comprometemos com ele, ou nos escanmarcadas pelo amor e serviço (2ª leitura Ef 5,21-32). dalizamos dele e nos afastamos do seu projeto de vida e liberII. COMENTÁRIO DOS TEXTOS BÍBLICOS dade. O texto de hoje pode ser dividido em dois momentos: os 1ª leitura (Js 24,1-2a.15-17.18b): Na liberdade e alegria, vv. 60-66 falam de crise e abandono, e os vv. 67-69 apresenservir ao Deus verdadeiro tam a adesão do grupo mais próximo a Jesus, os Doze. 4. A primeira leitura deste domingo recolhe alguns versícu- a. Por que muita gente se afasta de Jesus? (vv. 60-66) los do final do livro de Josué (cap. 24). Este capítulo é muito 10. Jesus frustrou as expectativas de muita gente. Depois de importante porque é o encerramento da conquista da Terra terem visto o sinal que ele realizou (6,1-13), as pessoas dissePrometida. Para concluir esse evento, Josué convocou uma ram: “Este é mesmo o Profeta que devia vir ao mundo” (v. reunião geral em Siquém, e aí o povo renova os compromissos 14), e quiseram pegá-lo para fazê-lo rei, mas Jesus fugiu sozida aliança com o Deus libertador. A aliança selada em Siquém nho para a montanha (v. 15). é a última página de uma longa história iniciada com a aliança do Sinai: lá o povo celebrou o fim do movimento do êxodo; 11. Depois desse episódio, o Evangelho de João apresenta um aqui comemora-se o final da conquista do solo. Nos dois even- longo discurso de Jesus, com o objetivo de desfazer maltos nota-se a presença do Deus aliado e fiel às promessas, a entendidos. Podemos sintetizar esse longo discurso da seguinte forma: Na pessoa de Jesus, Deus oferece à humanidade um presença do Deus libertador. pão que sustenta para sempre. Esse pão é a pessoa de Jesus, o 5. Josué, depois de convocar o povo e suas lideranças (24,1), maior presente que o Pai fez ao mundo. Quem recebe esse pão faz uma síntese da história do povo de Deus, desde o tempo de e o assimila (Santa Ceia), descobre que Deus lhe confia uma Abraão até o momento presente (vv. 2-13). É uma espécie de tarefa, que é a adesão a Jesus, tornando-se, também, pão particredo histórico em que fica evidenciada a presença de Deus lhado para a vida de todos (encarnação). Não há meio-termo: junto ao povo. Ele cumpriu as promessas feitas no passado, quem recebe Jesus como pão não pode eximir-se da responsalibertou da opressão do Egito e conduziu o povo à liberdade e bilidade de ser, como ele, pão para a vida dos outros. A Santa à vida na Terra Prometida. Agora cabe ao povo escolher com Ceia e a encarnação põem as pessoas diante de uma decisão. E quem quer ficar: “Se não lhes agrada servir ao Senhor, esco- aqui surgem muitas crises e abandonos. lham hoje a quem querem servir: se aos deuses a quem seus antepassados serviram lá do outro lado do rio Eufrates, se aos 12. Os vv. 60-66 tratam disso. João nos informa que “muitos deuses dos amorreus em cujo país vocês moram. Quanto a dos discípulos de Jesus disseram: ‘Esta palavra é dura. Quem pode escutá-la?’ “ (v. 60). Note-se que o evangelho fala de mim e à minha família, nós vamos servir ao Senhor” (v. 15). discípulos. O texto reflete, portanto, a situação da comunidade 6. Ao longo de seu discurso, Josué emprega 14 vezes o ter- de João no final do primeiro século. Nessa comunidade já não mo servir. O sentido do texto, portanto, chega a nós por meio se acreditava mais que a Santa Ceia – encarnação de Jesus em desse verbo. O significado é este: servir é aderir, com liberda- nossa realidade – supõe e exige que nos tornemos pão para os de e alegria, ao Deus verdadeiro, abandonando os ídolos que outros. (Basta ver, a esse respeito, a primeira carta de João. geram a morte. De fato, no v. 15 Josué fala dos deuses aos Ela traduz a mesma preocupação. Na comunidade há pessoas quais Abraão servia antes de ser chamado, mas fala também que crêem ser possível amar a Deus sem ter que criar, entre as dos deuses dos amorreus cultuados na Terra Prometida. Na- pessoas, relações de amor.) quele tempo, a Palestina estava sob o domínio do Egito. Servir aos deuses dos amorreus, portanto, é continuar ligado ao sis- 13. Jesus decepcionou muita gente, pois ele não procurou a tema social egípcio. E o povo de Deus sabia muito bem que glória das pessoas (recusa-se a ser rei), nem prometeu glória a quem pretende segui-lo. No Evangelho de João, a realeza de isso significava opressão e morte. Jesus consiste em doar-se até esgotar a própria vida. Em outras 7. O povo, portanto, é colocado diante de uma decisão que palavras, é preciso que nos encarnemos à semelhança do Filho deverá mudar os rumos da história e da sociedade. Deixar os do Homem, que se fez pão. Ora, sabemos que o pão não tem ídolos é abandonar um sistema social injusto – a fim de não fim em si mesmo. Ele existe para ser consumido, para devolcair de novo na escravidão – para aderir a Javé, o Deus da vida ver vida a quem esteja com fome. Assim é Jesus. Assim devee da liberdade, construindo uma sociedade de acordo com seu rão ser seus seguidores. projeto. 2.


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