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ética é mais delicada nesta matéria, não estará o Estado

sistema isto não tem qualquer sentido. Em qualquer parte

a dar um mau exemplo?

do mundo, após o doutoramento, o académico ascenderá

Curiosamente, eu não tenho uma imagem negativa do tra-

a professor auxiliar e terá então de mostrar que é capaz de

balho temporário. Acho que em Portugal associamos deter-

publicar e alcançar os resultados que se esperam. Só depois

minados tipos de contratos a precariedade, o que nem sem-

terá um vínculo definitivo com a organização, o que me pa-

pre é verdade. Por exemplo, quando acabei o doutoramento

rece totalmente normal. Se não servir, porque é que há-de

recebia e-mail sindicais a apelar contra a precariedade de

ter um vínculo definitivo? Em Portugal, talvez por sermos um

contratos no ensino superior. Portanto, passava-se a ideia

país com um temor muito elevado face à incerteza, achamos

que era necessário aumentar a estabilidade no ensino supe-

que tudo o que não é contrato fixo e vinculativo é mau e pre-

rior. Levado um bocadinho ao absurdo, o ideal do ponto de

cário. Provavelmente a conotação negativa do trabalho tem-

vista da estabilidade é que, mal a pessoa entra, como assis-

porário tem a ver com o facto de muitas pessoas se encon-

tente estagiário (depois de fazer a licenciatura), deve ficar de

trarem sob este vínculo porque não conseguem outro tipo

imediato com o vínculo definitivo à universidade. Eu percebo

de contratos. É uma solução perfeitamente plausível que um

as vantagens que isto tem do ponto de vista do trabalhador,

indivíduo prefira ter um conjunto de vínculos não estáveis

mas é evidente que do ponto de vista do funcionamento do

com várias e organizações e projectos ao longo do tempo, que permitam muito maior liberdade pessoal, do que ter um contrato que o ligue a uma organização até ao fim da vida. Em Portugal, a tradição – em especial na administração pública – remete para um emprego estável ao longo dos

Perfil

anos...

Miguel Pina e Cunha é, desde 2004, professor associado na Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa (FEUNL). Actualmente, é também o director do MBA das Universidades Católica/Nova. É doutorado pela Universidade de Tilburg e agregado pela Universidade Nova de Lisboa. Foi director da licenciatura em gestão da FEUNL, tem uma licenciatura em Psicologia Social e das Organizações (Instituto Superior de Psicologia aplicada - ISPA) e um mestrado em Comportamento Organizacional (ISPA). Entre 1987 e 1997 trabalhou no ISPA como monitor, assistente-estagiário e assistente. Foi assistente nas disciplinas de psicologia organizacional e ergonomia. Antes de iniciar o doutoramento, trabalhou em selecção no Centro de Psicologia da Força Aérea e na Egor. Concluído o doutoramento, começou a sua colaboração com a FEUNL em 1998 como professor auxiliar. Na Faculdade de Economia foi director da licenciatura em gestão (2003/05).

numa empresa mantenha essa relação para a vida. Se isto

Há uma ideia recorrente, em que se espera que quem entra não é verdade para o casamento com outra pessoa, porque é que há-de ser para o casamento com uma empresa? O que se coloca é que, enquanto está numa empresa, temporariamente ou a mais longo prazo, o trabalhador deve sentir que está a fazer alguma coisa que aumente a sua empregabilidade. Nesse sentido, ter uma relação temporária até pode ser positivo, pelo menos para aqueles que desejem gerir as suas carreiras de acordo com a sua necessidade e interesse pessoal. Por exemplo, há uma função cada vez mais requisitada lá fora, a de gestor interino – um gestor que não faz parte dos quadros da empresa, é contratado temporariamente para fazer um projecto, seja o projecto qual for, e que ao fim desse tempo sai e vai fazer outra coisa qualquer, eventualmente noutro país. Seremos capazes de ter o pensamento ou a postura escandinava, onde as pessoas podem mudar de trabalho inúmeras vezes? É evidente que as pessoas mais jovens já não acham tão


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