Verbo 2019 - Pesquisa e Desenvolvimento

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ATENÇÃO

Este conteúdo pode ser impróprio para alguns leitores. Contém balbúrdia científica.

Verbo

Pesquisa e desenvolvimento

ANO 18 . 2019 Centro Universitário FAG





Pode ser usada como bandeira

carta ao leitor Julliane Brita

Verbo. Novembro de 2019.

Há momentos em que palavras, imagens e histórias não podem ser usadas de forma branda, imparcial. Ainda que corramos o risco de descumprir o que muitos pensam ser a essência do jornalismo, em tempos de descrédito, é necessário portar palavras com toda a potência que são capazes de carregar, porque desperdiçá-las é também compactuar com o uso criminoso que por vezes fazem delas. Mais força ainda há em idealizar, produzir e imprimir a Revista Verbo. Verbo é ação. São 18 anos em que turmas de jornalismo ganham o desafio de viabilizar um produto impresso, do início ao fim. Começa na escolha do tema: elejam um assunto que seja capaz de captar o espírito da turma, uma mensagem, um legado. Elenquem pautas, pesquisem, entrevistem, elaborem, desafiem. Depois, defendam seu trabalho frente a patrocinadores, mostrem que vale a pena investir em estudantes e em seus projetos.

Não foi uma surpresa quando esta turma escolheu falar sobre pesquisa científica e desenvolvimento, mas foi admiração. Uma professora deve se orgulhar quando seus alunos não optam pelo caminho mais fácil, quando escolhem entrar em lutas, assumir posições que defendam seus direitos e também os de outras pessoas. Este é, definitivamente, o momento para nos posicionarmos quanto à importância de abrir as portas da academia para o público. É a hora de fazer com que o jornalismo cumpra o que é de fato seu papel: seja ponte, seja esclarecimento. Lance luzes às especificidades de todas as matérias. Quando não especificamos o que é ciência, estamos matando aos poucos o que é produzido na pesquisa. É preciso detalhar, dar nomes a todos os pormenores. Ao generalizar, damos a possibilidade aos algozes de colocar tudo num mesmo alvo. E tornamos ainda mais latente a chance de sermos acertados em cheio. A mensagem que esta turma está assinando e distribuindo ao mercado, portanto, é a seguinte: falar sobre ciência, divulgar nomes e trabalhos de pesquisadoras e pesquisadores é nossa luta. Que nossa balbúrdia seja ouvida por todos os lados. Precisamos de mais pessoas corajosas, de mais incentivadores. Agradecemos especialmente aos patrocinadores, cujos nomes podem ser vistos nas páginas desta revista, por possibilitar que nossas palavras ganhem cores. E agradecemos ainda mais a quem nos concedeu a honra de conhecer as pesquisas desenvolvidas no ensino superior, responsáveis por realizar a potência que a Verbo tem.

Expediente Produto Experimental da disciplina de Laboratório em Jornalismo Impresso II produzido pelos acadêmicos do 6º período de Jornalismo do Centro Universitário FAG, sob orientação da professora Julliane Brita.

Reitor Assis Gurgacz

Vice-Reitor Sergio De Angelis

Pró-Reitora Administrativa Jaqueline Gurgacz Ferreira

Pró-Reitor Acadêmico Afonso Cavalheiro Neto

Coordenador do curso de Jornalismo Ralph Willians de Camargo

Ilustrações Luiz Henrique Leal

Projeto

Gráfico

Jefferson Richetti

Professora

Orientadora

Julliane Brita . MTB 9755/PR

Acadêmicos Aline Vitória Rocha, Amanda Alves, Ana Carolina Cauneto, Antoniella Orlandi, Celeste Pereira, Clara Franzmann, Débora Braga, Diego Back, Esane Barreto, Gabriela Bachinski, Isabela Fernanda, João Zanetti, João Vanzin, Kauana Bacarin, Luis Gustavo Wasem, Luiz Henrique Leal, Pedro Henrique do Prado, Priscila Hlatki, Rafael Henrique, Rafaela Rafagnin, Shara Karoliny, Silvio Matos, Thiago Willian, Wanderson Santana Schumacher, William Keiji Okawa.

Impressão Gráfica Imperial Tiragem 1000 exemplares


Se da pesquisa tudo vem, a ela tudo pertence

#sou pesquisador

Em Quedas do Iguaçu, o IFPR leva aos jovens uma nova perspectiva de ensino por meio da pesquisa científica Celeste Pereira

Da subida da avenida se avistava, limpando o terreno

entre as araucárias. Faculdade era o que se dizia e que ainda se fala. O projeto era outro e, em 2016, começou a recrutar os que tiveram o interesse despertado pela proposta. O Instituto Federal do Paraná se fixou em Quedas do Iguaçu como um Campus Avançado. Quem dera fosse por já estar à frente, mas quer dizer que é uma ramificação do Campus da cidade de Cascavel. Entretanto,

não perde em nada. Uma instituição pública federal voltada à educação superior, básica e profissional. “Um passo rumo ao desconhecido”. Palavras que

norteiam a experiência de um dos alunos da primeira

turma de Técnico em Informática do IFPR em Quedas do Iguaçu, Rodrigo Matana, de 17 anos. Alguns ingressam o Instituto em busca de novas oportunidades, outros ainda confusos, mas com o desconforto causado pela ânsia daquilo que já não estava mais ao alcance da rede de ensino convencional estadual. Os recém-chegados foram recepcionados pela indagação, pela demanda e por novas abordagens não tão frequentes nos anos passados. Para alguns, frustrante, mas frustração daquelas que estimula, não parece coisa que se fale, mas foi Gabriel Ponsoni quem disse. “Nós temos frustrações com essa adaptação, a gente se frustra dentro do processo de aprendizado, mas todas essas frustrações uma hora a gente consegue resolver, passar por elas e aprender com elas. Depois que a gente

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passa por essas frustrações, começa a

comunidade, mas também deve trazer conhecimento da comuni-

perceber a importância delas também em

dade. Isso mostra como a universidade contribui com a sociedade

mostrar que a gente consegue sim resol-

e a sociedade também contribui com ela”. Gustavo é daqueles

ver os problemas, porque o Instituto traz

que deixam transparecer nos olhos a paixão em ter se encontrado

pra gente essa perspectiva de um futuro,

em uma área.

de que a gente tem capacidade de atingir nossos objetivos”. A propósito, Gabriel é colega de Rodrigo, também com 17 anos, faz parte da turma de formandos do IFPR do ano de 2019.

Conscientes da realidade, não escondem a preocupação com os cortes de verbas e reforçam, nas palavras de Gabriel, que “desenvolvimento tecnológico não é nenhum diferencial, é uma necessidade”. Apesar de estar no interior e com uma população consideravelmente pequena, o Instituto Federal de Quedas do Iguaçu se sente lesado como

Infelizmente nem todas as frustrações

qualquer outra instituição de pesquisa e educação. Em breve e bom

foram revertidas com êxito. A evasão na

tom, Gustavo considera: “Essas instituições que estão sendo vetadas

turma foi grande: dos 60 que iniciaram,

produzem todo ou quase todo o material de pesquisa do país”.

apenas 19 permanecem. Fora a adaptação, os alunos ainda lidam com o descrédito, a falta de informação da população sobre a pesquisa. Poucos, mas perseverantes, não aparentavam cansaço, pelo contrário, enérgicos em seus projetos, com esforço, mas sem desgaste, se dedicam porque se encontraram, buscam cada vez mais. Por falar neles, os projetos são abundantes em

Quando questiono se estão abalados, recebo de volta palavras que restauram a paz. “A gente tá muito ameaçado, mas essa ameaça não é nem um pouco desmotivadora. Eu não tô com medo, porque já foi muito mais difícil do que é hoje. Hoje tá difícil, mas já foi muito mais. Por exemplo, na ditadura militar foi muito mais difícil e, se não fosse por aquelas pessoas, hoje eu não estaria aqui lutando pela educação”, considera Gabriel, com direito a pausa e reflexão.

todas as áreas, dentro e fora da pesquisa científica, com outras ramificações, dando espaço para que cada um consiga aprovei-

Os protagonistas: Gustavo Vier, Rodrigo Matana e Gabriel Ponsoni. Foto: Celeste Pereira

tar o que tem de melhor para oferecer. A leveza na fala de quem tem propriedade para falar sobre pesquisa e acredita na evolução do Campus vem de um estudante que, já no primeiro ano do curso técnico, percorria quase 70 quilômetros para produzir um projeto de nome extenso, mas objetivo simples: Efeito dos Óleos Essenciais na Indução de Resistência em Pinus e Eucalipto. Na época, sem a estrutura necessária em Quedas, teve que ser desenvolvido na UTFPR de Dois Vizinhos, mas hoje o Instituto já tem o que é necessário para executar projetos semelhantes. Assim chega nosso terceiro personagem, Gustavo Vier, com a mesma idade de seus colegas, da mesma turma, e sem titubear quando traz à conversa a relevância da extensão da universidade, citando Paulo Freire: “Paulo Freire comenta muito sobre a extensão universitária, ele diz que a Universidade deve levar conhecimento à

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Exatas (mas nem tanto)

#sou pesquisador

Um breve passeio pelo mundo dos numerais, coeficientes e equações, e as descobertas diárias da matemática. João Zanetti

Desde muito cedo aprendemos a máxima “Matemática é exata, não tem erro. 2+2 é sempre = 4”. Mas não é bem assim. Bom, a conta está certa e o resultado é esse, porém, ao que cabe aos estudos dos números, existem muitas outras variantes e aplicações. Podemos classificar o assunto em duas vertentes: a matemática pura e a matemática aplicada. Ambas são importantes e dependem uma da outra, porém, a aplicada é aquela que acaba ganhando mais destaque. Antes de entrarmos na definição de cada uma, vamos identificar ao certo, em seu cerne, o que é a matemática enquanto conceito amplo.

“Ciência das regularidades” Essa é a definição mais bem aceita entre os matemáticos. Para eles, seu papel é analisar padrões no campo abstrato, de natureza real, imaginária, visual ou mental, percebendo as regularidades nos números, no espaço e na ciência, para formular teorias com as quais consigam explicar as relações observadas. Grandes estudiosos da história fizeram descobertas que mudaram o rumo da humanidade usando cálculos. Alguns criaram fórmulas que são utilizadas ainda hoje:

• Turing usou da matemática para desenvolver a Máquina de Turing, um dispositivo que ajudou os Aliados a vencerem a Segun-

O que pesquisam os matemáticos? da Guerra e é considerado precursor do computador;

• Newton elaborou suas três leis fundamentadas em equações que marcaram uma nova era na física moderna;

• Dando continuidade aos estudos de Newton, Einstein criou a equivalência massa-energia, uma das equações mais famosas do mundo: E = mc².

Como podemos ver, a matemática influenciou e continua sendo fundamental para outros ramos científicos como física, química, engenharia, administração, geografia, computação, etc. Sem ela não haveria os avanços essenciais que viabilizaram muitas das tecnologias que facilitam nossa vida hoje em dia. Através da investigação de padrões, formulação de conjecturas e dedução lógica partindo de evidências, definições e axiomas, a matemática tenta estabelecer resultados para problemáticas técnicas do dia a dia que envolvam quantidades, medidas, espa-

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ços, estruturas, variáveis e estatísticas. Em

trabalhadas por diferentes cientistas, muitas vezes contempo-

palavras mais fáceis, o objetivo é entender

râneos uns aos outros, que prepararam todos os conceitos que

o mundo e criar formas de solucionar ques-

aprendemos na escola. Mas não se engane: As descobertas não

tões do nosso cotidiano.

acabaram. Ainda tem muita gente pesquisando suas aplicações.

A “raiz” quadrada da matemática

A pureza

O nascimento da matemática ainda é tema de debate pelos profissionais da área. Muitos se questionam onde e quando ela surgiu. Arqueologicamente falando, ela é categorizada tanto como um fator cultural quanto parte da história do desenvolvimento das sociedades. As primeiras civilizações frente às necessidades de contabilizar a colheita, o comércio, a medição da terra e eventos astrológicos muitas vezes relacionados à religiosidade, começaram a esboçar os primeiros traços do que hoje chamamos de matemática. O “Osso de Ishango” é o primeiro objeto catalogado que confirma a habilidade de cálculo: uma fíbula de babuíno com riscos que indicam uma contagem, que data de 20 mil anos atrás. Numerais escritos são mostrados no “Papiro de Rhind”, um documento do Antigo Egito

A Matemática Pura é o estudo dos conceitos numéricos independentemente de qualquer aplicação fora da matemática em si. Quem se dedica a esse ramo faz da prática um exercício em busca da “beleza estética” de se trabalhar os números fora das consequências lógicas de princípios básicos. Os resultados retirados desse processo podem se originar de problemas do chamado “mundo real” e depois serem usados no campo da aplicação, porém, a motivação primária de matemáticos puros nunca é advinda do campo material.

A aplicação A Matemática Aplicada é, basicamente, exemplificação. Nela são usadas situações cotidianas para resolver problemas utilizando conceitos matemáticos. Isso proporciona avanços no estudo desses conceitos e permite a aplicação do conhecimento a outros domínios. As aplicações incluem cálculos numéricos voltados a engenharia, programação, modelagem contínua, biomatemática, teoria da informação, teoria dos jogos, probabilidade e estatística, matemática financeira, criptografia, ciência da

que resistiu ao tempo.

computação, etc.

A aritmética elementar - a conhecida “ma-

Atualmente, a dis-

temática básica” - é anterior à invenção da escrita, por isso não temos registros do seu surgimento. Historiadores acreditam que o homem pré-histórico desenvolveu esses conceitos no dia a dia, reconhecendo quantidades de objetos ou contando elementos que ainda eram abstratos, como

tinção entre matemática pura e aplicada está mais para o campo filosófico do que uma subdivisão estagnada do tópico. Não é raro encontrar

dias e estações.

membros da classe

Não há como afirmar especificamente

se descrevem

quem desenvolveu a primeira equação. Sem podermos cravar sua origem com certeza, o que tiramos de tudo isso é que a matemática, como conhecemos hoje, é um compilado de diversas descobertas, de inúmeros períodos históricos diferentes,

pesquisadora que apenas como matemáticos. No fim das contas, é apenas uma preferência de cada profissional.

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Enfim, há pesquisa Depois de entender melhor sobre todos estes contextos que envolvem a matemática, fui atrás de descobrir como funciona a pesquisa científica dos desbravadores dos campos numéricos. Para isso adentrei os mais confusos bosques das frações e, em meio a números racionais, vetores, potências e outras coisas que nem me atrevo a compreender, encontrei um jovem pesquisador. Diferente do que tendemos a imaginar, Raphael Melo não usa óculos “fundo de garrafa”, camisa de botão quadriculada com uma caneta Bic no bolso do peito e aparelho nos dentes. Ele é, no melhor sentido da palavra, comum: 21 anos, alto, barba bem feita, All Star no pé, camiseta amarela, jeans preto e corrente no pescoço, um look moderninho. Estudante do oitavo período do curso de Licenciatura em Matemática na UTFPR Toledo, Rapha - como chamam os amigos - está vivendo seu último ano da faculdade, e com isso, desenvolvendo a pesquisa do seu TCC. Aplicação do modelo de Regressão Linear Múltipla em dados de imóveis. Esse monte de palavra estranha é o que ele me diz quando pergunto o tema do seu artigo. É confuso, mas ele explica: “Estou coletando dados de diversos imóveis aqui de Toledo, como valor, quantidade de quartos, banheiros, tamanho da área da casa e do lote, e o bairro da cidade onde estão situados. Por meio dessas informações, vou conseguir criar um modelo de equação linear que, através de coeficientes, ao aplicar um dos dados, vai estipular um valor para aquela casa. Um modelo pronto que vai gerar uma estimativa de

“Eu prefiro (pesquisar) a parte da aplicação, porque a gente consegue trabalhar com situações do dia a dia e descobrir coisas diferentes” 10

preço baseada nos dados apurados”. Rapha segue o ramo das aplicadas, mais especificamente o método de ensino da Modelagem, que permite a descoberta de novos conceitos através da investigação de situações do cotidiano, fazendo uso de conteúdos matemáticos. Para ilustrar melhor, e permitir que eu entenda, ele dá um exemplo muito próximo da realidade de todos nós: “Uma vez fiz uma pesquisa para determinar o número de pipocas de um pacote, de determinada marca, que não estouram. Levando em consideração as informações presentes na embalagem, sobre o tempo indicado de preparo, ‘estourei’ um pacote de pipoca de micro-ondas normal, contando desde o estalo do primeiro grão. Cronometrei todo o tempo, até o último estalo, para ver se batia com o tempo indicado pelo fabricante”.


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Ele explica que esse processo foi repetido três

“A pesquisa matemática brasileira é

vezes. Depois de preparar as pipocas, todos os

consolidada, se disseminou. Ao longo das

milhos crus restantes no saco foram escoltados e contabilizados, e os dados provenientes disso foram usados para descobrir uma função que indicasse, dado um tempo X, quantas pipocas não estourariam naqueles pacotes. Depois de toda essa explicação, acredito que tenha ficado claro o que pesquisam os matemáticos, ou pelo menos o caso do Rapha. “Eu prefiro (pesquisar) a parte da aplicação, porque a gente consegue trabalhar com situações do dia a dia e descobrir coisas diferentes”.

O Brasil na equação A pesquisa brasileira no campo da matemática representa uma fatia significativa no cenário internacional. Segundo o IMPA (Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada), nós produzimos 2,4% de todo o estudo global dos números. Em 2018, a União Matemática Internacional promoveu nosso país ao Grupo 5 da Elite Matemática Mundial, que reúne as nações mais desenvolvidas na pesquisa. Para o diretor-geral do IMPA, Marcelo Viana, isso representa um “passo para uma trajetória ainda mais ascendente”.

décadas nossa capacidade de pesquisa e formação de pesquisadores cresceu muito. O fato de a matemática brasileira estar agora ao lado dos países de maior expressão e relevância na matemática global representa o reconhecimento da qualidade da pesquisa matemática feita no país” Marcelo Viana para o portal do Impa. 25/01/2018

Nos últimos anos, houve considerável crescimento da publicação científica brasileira, além de méritos conquistados por nossos pesquisadores em algumas das principais premiações do ramo, como a Medalha Fields, recebida por Artur Avila. Em 2006, quando fomos indicados ao Grupo 4, nós éramos responsáveis por 1,53% da produção matemática mundial (1.043 papers). Dez anos mais tarde, e depois de muito avanço, a produção nacional dobrou para 2,35% (2.076 papers), consolidando o Brasil, apesar de suas carências e cada vez menos investimento em Pesquisa e Desenvolvimento, como uma das grandes potências intelectuais do mundo.

Agradeça a Grigori Perelman Um dos grandes cérebros do século 21, se destaca. O matemático russo (1966) nasceu em São Petersburgo, na Rússia. É conhecido por ter apresentado uma demonstração da conjectura de Poincaré, um dos sete problemas do milênio da Matemática. Ele foi premiado em 2006, pelo Congresso Internacional de Matemáticos, em Madri, porém recusou a medalha e o prêmio no valor de um milhão de dólares. A principal base de Grigori é topologia, que justamente considera que formas geométricas podem se transformar. Foto: Guia do Estudante

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Smart cities: Cidades estruturadas e sustentáveis

tech.com

Conceito está na vanguarda do urbanismo. Brasil é sede da primeira smart city inclusiva do planeta. Forbes já levantou pontos a serem pensados sobre as cidades inteligentes Silvio Matos

Quando você escuta a expressão “smart

city” o que vem a sua cabeça? Tecnologia? Segurança? Inovação? E meio ambiente...

humanização? Pensou nisso? Smart city ou, na tradução, Cidade Inteligente, engloba

tudo isso. Essas cidades podem ser tanto

planejadas do zero, como cidades existentes que passam por processo de reestruturação. Antes de tudo, vamos entender o que são smart cities. Segundo o BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), “uma Cidade Inteligente é aquela que coloca as pessoas no centro do desenvolvimento, incorpora tecnologias da informação e comunicação na gestão urbana e utiliza esses elementos como ferramentas que estimulam a formação de um governo eficiente, que engloba o planejamento colaborativo e a participação cidadã. Smart cities favorecem o desenvolvimento integrado e sustentável, tornando-se mais

inovadoras, competitivas, atrativas e resilientes, melhorando vidas”. Esse conceito foi apresentado no estudo O caminho para as Smart Cities: da gestão tradicional à cidade inteligente, em 2016. O Brasil caminha na direção do futuro há algum tempo. Já nos anos 1970, o arquiteto e urbanista Jaime Lerner idealizou em Curitiba o sistema BRT (Bus Rapid Transit – Transporte Rápido por Ônibus), a capital paranaense foi a primeira cidade do mundo a instalar esse modelo de transporte, que

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até hoje é um exemplo de excelência, copiado e adaptado por grandes cidades do mundo, como Santiago/Chile, São Paulo/Brasil, Bogotá/Colômbia, Nantes/França, Barcelona/Espanha, e Rio de Janeiro/Brasil. Para entender: esse sistema de ônibus é composto por pistas segregadas dos demais veículos, estações com pagamento de passagem antecipada e agilidade operacional, ou seja, reduzindo o tempo de viagem, aumentando o conforto e, ao mesmo tempo, gerando economia para os gestores dos sistemas. Dentro do conceito de smart cities, está a lógica de tornar os ambientes e serviços mais inteligentes, para que as pessoas ganhem tempo e aproveitem melhor os horários livres. Esse é um dos motivos que nos trazem a Cascavel/Paraná. A cidade passou por uma reestruturação financiada pelo BID. As principais avenidas da cidade receberam corredores para ônibus, ciclovias, pista de caminhada, e estruturas como bicicletário, parque infantil e locais de convivência.

Laguna : Ceará recebe a primeira smart city inclusiva do mundo A Smart City Laguna está localizada no município de São Gonçalo do Amarante, a 55 Km de Fortaleza, no Ceará. Ela é uma aposta da empresa Planet Smart City, que implanta em escala global projetos de estruturação urbana. A promessa é que Laguna comporte até 25 mil habitantes, para exemplificar, é um pouco menos que a população de São Miguel do Iguaçu, sudoeste do Paraná. A cidade contará com serviços de reaproveitamento da água da chuva, iluminação pública inteligente e aplicativo comunitário. O projeto tem casas prontas para morar, com dimensões entre 50 m² e 110 m². O financiamento conta com subsídio de até R$ 16,8 mil pelo programa Minha Casa, Minha Vida, do Governo Federal. A inclusão é trabalhada na ideia, desde a construção feita por trabalhadores locais, até a facilidade de aquisição. A cidade possui segurança de forma integrada, sem a necessidade de muros. Algumas medidas para garantir a segurança incluem: videomonitoramento das áreas comuns disponível no aplicativo gratuito do bairro; segurança com participação dos moradores através de grupos no aplicativo; Laguna possui uma infraestrutura com ruas e avenidas largas, planejadas para evitar engarrafamentos, ciclovias e 620 mil m² de áreas verdes. Segundo a empresa, a tecnologia tem papel fundamental na cidade inteligente inclusiva, permitindo que ela seja mais interativa, segura, econômica e eficaz no uso de recursos naturais. A cidade ainda contará com inclusão social e estímulo ao senso de pertencimento, incluindo os moradores do entorno nas atividades do local.

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Cascavel: cidade inteligente? Como já citado, Cascavel, no oeste paranaense, vem tomando medidas para melhorar a qualidade de vida da população. A cidade possui o Codesc (Conselho de Desenvolvimento Econômico Sustentável), que é integrado a Acic (Associação Comercial e Industrial de Cascavel). O conselho levanta e apresenta possibilidades a respeito do desenvolvimento da cidade a médio e a longo prazo. Em 2018, foi discutida a possibilidade de implantação de ônibus elétricos em Cascavel, veículos mais econômicos, sustentáveis e com conforto. O Codesc recebeu um representante da Eletra Bus, empresa referência em tração elétrica, e um representante da Copel (Companhia Paranaense de Energia). O intuito foi analisar as vantagens da tecnologia. Na época a prefeitura se mostrou interessada e prometeu colocar a possibilidade para

o novo contrato de concessão do transporte público, que entra em vigor em 2021. Se-

gundo a supervisora do conselho, Patrícia Pacheco, a entidade serve

para abrir e apontar caminhos para a sociedade, “e dentro da área de mobilidade urbana essa é uma opção necessária”, diz. Cascavel também conta com o IPC (Instituto de Planejamento de Cascavel), que é um dos braços estruturais da prefeitura, ele funciona de forma parecida a uma secretaria. O presidente do instituto, Edson Vasconcelos, adjetiva o conceito de smart city como “fantástico”. “Precisamos ser cada dia mais inclusivos e tecnológicos nas nossas cidades”, afirma. Segundo ele, o IPC vem nessa linha de buscar planos de desenvolvimento econômico, sustentável e social totalmente alinhados com a ideia das smart cities. “Cascavel tem grande potencial para se tornar uma smart city e estamos trabalhando para isso. A minha ideia é alinhar o IPC com a Fundetec [Fundação para o Desenvolvimento Científico e Tecnológico] para que juntos possamos entrar de vez nessa missão de transformar a cidade”, revela. Na área de tecnologia atrelada a mobilidade, o município implantou um novo sistema de transporte, que integra a cidade por meio de paradas físicas e também virtuais, já que adotou a integração temporal, programação eletrônica que permite ao passageiro trocar de ônibus, dentro de um período de tempo determinado, fora dos terminais de transbordo, avanço que já está em operação em grandes centros como São Paulo. Há quase dois anos a prefeitura vem estampando caminhões, ônibus, lixeiras e outros componentes da administração municipal, com adesivos que identificam Cascavel como Cidade Inteligente.

Cascavel possui vários modais de transportes, na imagem a Avenida Tancredo Neves

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FOTO: SILVIO MATOS


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Forbes levanta problemas O jornalista Federico Guerrini produziu em 2014, para a revista americana Forbes, o artigo As cidades inteligentes são realmente inteligentes? Ele fala da cidade de Santander, Espanha. Foram implantados dois mil sensores em postes e edifícios para monitorar temperatura, níveis de monóxido de carbono, ruído, luz e tráfego. Londres, Amsterdã e Estocolmo tomaram medidas em direções semelhantes. Segundo Guerrini, o objetivo é reduzir emissões e tráfego, economizar energia e tornar a paisagem urbana um lugar mais confortável para se viver. A partir disso, ele levanta o questionamento: “Por que algumas pessoas ainda se incomodam com essas iniciativas? Principalmente por dois motivos: privacidade e vulnerabilidade”. Em trecho traduzido por nós, Guerrini apresenta pontos a serem pensados: “As preocupações com a privacidade estão estritamente relacionadas à rede de sensores implantados e à riqueza de informações que eles produzem. Pode ser usado para encontrar uma vaga de estacionamento, mas também para vigilância. Contanto que o objetivo seja combater o crime, tudo bem. Mas o que acontece quando essa mesma tecnologia é usada para espionar cidadãos inocentes. (...) Também estritamente relacionado é o tema da vulnerabilidade. E se alguém invadir o ‘cérebro’ que controla a cidade, ou mesmo apenas parte dela? E se o fluxo de dados se tornar tão intenso que é impossível gerenciar? O fato de as cidades estarem cada vez mais conectadas também pode significar que uma falha em um setor pode levar a problemas em outros. Que tipo de proteção e recursos de segurança poderiam ser implementados para evitar um cenário de dominó? Todas essas são perguntas que precisam ser respondidas antes de abraçar com entusiasmo os benefícios indubitáveis da abordagem da cidade inteligente”. IMAGEM: ARTTOWER / PIXABAY

Agradeça a Cintia Fernandes Quem também está fazendo um grande trabalho em prol do meio ambiente, na região norte do Brasil é Cintia Fernandes. Cintia é engenheira florestal e diretora executiva do instituto Amazônia Mais, atuando na área ambiental do Amazonas por mais de 10 anos, em instituições públicas e privadas acumulando conhecimentos para finalmente empreender com o objetivo de fazer o melhor pela natureza. O que toca o coração é o desenvolvimento sustentável do Amazonas para manter a Floresta Viva. FOTO: INSTITUTO AMAZONIA+

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A pressa é inimiga da pesquisa Vivemos numa cultura imediatista. O ser humano sempre buscou

satisfazer suas necessidades, porém, os limites de tempo necessários para realizar uma ação e obter resultados passaram a ser reduzidos. O capitalismo tem parte fundamental nisso. Por visar o lucro, o ca-

ráter imediatista desse sistema influencia também a sociedade. Não é possível, por exemplo, uma educação de qualidade imediata, já que leva tempo para desenvolver aprendizados. A pesquisa científica está diretamente relacionada a isso, visto que para alcançar os resulta-

dos são necessárias análises, estudos, comparações, investigações,

observações, captações, etc. Todas essas etapas necessitam de tempo e vão contra o imediatismo instaurado em nossa cultura. Por essa

razão, as pesquisas científicas são mal vistas por uma parcela da so-

pesquisas do interior

Um estudo da água e a prova de que resultados de pesquisas científicas levam tempo Ana Cauneto

ciedade, que pensa que Universidade é sinônimo de balbúrdia.

Um projeto desenvolvido por docentes, alunos e pesquisadores da Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná) é um exemplo de que as pesquisas científicas necessitam de tempo, aprofundamento e apoio para alcançar resultados. No fim do ano passado, o Programa Paranaense de Pesquisas em Saneamento Ambiental da Fundação Araucária de Apoio ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Paraná, em parceria com a Sanepar (Companhia de Saneamento do Paraná), abriu uma Chamada Pública com o intuito de apoiar atividades de pesquisa e desenvolvimento que contribuam com a melhoria das condições do saneamento ambiental, e para o desenvolvimento da ciência, tecnologia e inovação.

Como funciona o projeto? A proposta, aprovada e contemplada com o financiamento de R$ 250 mil, se trata de um estudo da condição dos rios urbanos que são responsáveis pelo abastecimento e captação de água do município através da captação de peixes e microalgas, buscando não só o maior conhecimento, mas também a contribuição com a comunidade científica e a população, além de preservar esse ambiente visando melhor qualidade da água e preservação do ecossistema que ele engloba. A professora doutora Norma Catarina Bueno é coordenadora do projeto e explica que, em 2020, serão realizadas quatro coletas de peixes e algas em 10 municípios da região Oeste. “A exposição e o contato direto dos peixes com agentes estressores presentes na água promovem alterações bioquímicas, celulares, moleculares, fisiológicas, nos tecidos ou órgãos do organismo. Assim, os peixes são usados como indicadores ecológicos na avaliação da qualidade da água dos mananciais de abastecimento público”.

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Individualidade É importante destacar que a pesquisa científica depende de muitos fatores. Não basta o interesse do pesquisador e a vontade de obter resultados. Existem particularidades em cada pesquisa que estão fora a alçada dos pesquisadores e, por isso, são necessários tempo e paciência nesse processo. No caso desse projeto, uma de suas especificidades é que as características do ambiente interferem diretamente na diversidade e na qualidade de vida das espécies que podem ser encontradas, provando mais uma vez que alguns fatores independem da energia deliberada ao estudo. A engenheira ambiental Gabriela Medeiros faz parte do projeto e explica que serão avaliadas comunidades de peixes e algas. “A análise é interdisciplinar, ou seja, envolve todo o levantamento de algas e peixes. Essas comunidades são comparadas aos dados físico-químicos característicos da água, como PH, turbidez, nitrogênio, fósforo, temperatura, oxigênio dissolvido, entre outras variáveis, trazendo essa caracterização de forma mais específica”. Por se tratar de uma análise interdisciplinar, ela envolve custo de recuperação de áreas degradadas, custo de perda de áreas que seriam loteadas, valorização residencial e o custo com tratamento químico de água. Os resultados desse projeto podem

resultados serão disponibilizados para a Sanepar, para que haja um trabalho com relação ao manejo desses ambientes.

Tá, mas por que isso é importante? Uma pesquisa científica pode acarretar em resultados em diversas áreas de estudos. Esse projeto em específico desenvolverá resultados que beneficiarão a qualidade de preservação dos ambientes, porque são úteis no estabelecimento de políticas, tomadas de decisão e gerenciamento de recursos hídricos, e, além disso, a saúde humana. A qualidade da água usada para abastecimento público, sistemas de irrigação de hortas urbanas e até mesmo dos produtos agropecuários em áreas rurais afeta direta e indiretamente a saúde humana, e o diagnóstico proposto pelo projeto é importante para implantação de medidas de manejo adequado. A professora Rosilene Luciana Delariva faz parte da equipe como pesquisadora responsável pela avaliação da fauna de peixes. Ela afirma que um exemplo relevante sobre a importância da preservação dos ecossistemas na bacia hidrográfica é a grave crise de abastecimento de água que a cidade de Cascavel está passando. “Além da escassez e racionamento de água, adiciona-se o elevado custo social, econômico e sobrecarga dos serviços de saúde que o município enfrentou meses atrás em função da crise de diarréia, relacionada à água. Os estudos são importantes para propor medidas adequadas para a preservação da biodiversidade e para a manutenção de água potável para as populações”.

trazer informações não apenas de como é a real condição desses mananciais, mas também uma proposta de melhoria. Esses

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Contexto regional O Paraná é um estado privilegiado no quesito recursos hídricos visto que abrange três grandes bacias: Paraná, Iguaçu e Piquiri. A região Oeste está em cima das nascentes desses grandes rios que abastecem o estado. Os impactos das ações humanas levam à perda de habitats, especialmente da faixa protetora de vegetação ciliar, o que aumenta a entrada de poluentes nos ambientes aquáticos. Por consequência, aumentam o desenvolvimento de lixiviação (processo de separação de minerais presentes na primeira camada do solo), erosão, e outros processos, que geram assoreamento e pioram a qualidade da água. Além disso, é extremamente relevante no contexto atual das Universidades Públicas. Agrega demandas da sociedade por pesquisas científicas juntamente com o incentivo de financiamento que fomentam a formação de recursos humanos, pois envolve, além dos pesquisadores, alunos de mestrado e da graduação.

Por fim... A professora Rosilene reforça que a sociedade precisa incorporar os conceitos de sustentabilidade. “Nós estamos em constante troca com o meio, seja através da aquisição de recursos, seja através da eliminação de resíduos. Essa interação é afetada por quaisquer mudanças no ambiente e assim incide diretamente na

“O maior desafio é associar produção, viabilidade econômica e bem-estar da sociedade a longo prazo”.

saúde dos organismos”. A pesquisa foi iniciada em 2018 e só será posta em prática no ano que vem. Isso demonstra que, por exigir aprofundamento, o processo é extenso – e muitas vezes demorado –, mas que resulta em benefícios a diversas áreas do conhecimento. E é assim na maior parte das pesquisas científicas.

Agradeça a Bertha Lutz A bióloga Bertha Lutz foi contracorrente, lutou pelos direitos das mulheres e marcou uma era nos estudos das ciências naturais. Cientista, líder feminista e política paulista (1894-1976), foi uma das pioneiras da luta pelo voto feminino e pela igualdade de direitos entre homens e mulheres no Brasil. Ela se formou em ciências naturais na Universidade de Paris, e se especializou em anfíbios anuros, que inclui sapos, rãs e pererecas. Descobriu entre outras a “Liolaremus Lutzae” (lagartixa de praia), várias “Hylas”, entre outras “H.Squalirostris”, e “Perpusilla”. Publicou vários artigos sobre a coleção de Anfíbios Anuros. Fonte: mujeresconciencia

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Pesquisa de velocidade

Verbo. Novembro de 2019.

eureka

Alunos dos cursos de Engenharia de todo o Brasil projetam e desenvolvem veículo Off Road Clara Franzmann

Em 2012, acadêmicos e professores do Centro Universitário FAG

decidiram participar de mais um desafio, o Projeto Baja SAE, que

consiste no desenvolvimento integral de um veículo Off Road e é

destinado para estudantes do Ensino Superior dos cursos de Engenharia de todo o Brasil.

O veículo desenvolvido pelos acadêmicos, atualmente sob orientação do professor Eliseu Zanella, consiste em um carro para ser

utilizado em estradas de terra, com fins de lazer, trabalho, estudos e pesquisas. Desenvolvido na FAG desde 2012, já foram muitas etapas concluídas. Neste ano, o projeto está em uma nova fase. O aluno do oitavo período de Engenharia Mecânica Thiago Manica está estudando o sistema de frenagem do veículo. Sua pesquisa se dá pela importância do estudo de freios de qualquer tipo de veículo motorizado, garantindo assim futuramente o tráfego adequado e seguro. Um dos objetivos específicos da pesquisa de Thiago é comparar o veículo atual com o protótipo anterior, já que a cada ano o Baja passa por grandes transformações e adequações feitas pelos alunos. Todas as fases são de suma importância para que o projeto seja melhorado e também para que o veículo esteja dentro das normas e padrões do Desafio Baja SAE. O principal objetivo dos alunos e professores envolvidos com o projeto e levá-lo para a etapa regional do desafio e conseguir uma boa colocação dentro da competição, que já é tradição para os alunos. A competição consiste na formação de equipes que representam as instituições de ensino e no desenvolvimento integral do veículo Baja Off Road, do planejamento mecânico até construção e testes práticos. Na competição, dividida em mini, regional e nacional, acadêmicos e veículos são avaliados pelo nível de desenvolvimento de seus projetos e comparativos com os demais inscritos. Em 2013, a equipe do Centro FAG conquistou o primeiro lugar na prova de tração, realizada em Gravataí, no Rio Grande do Sul.

Equipe que conquistou o 1ª lugar na prova de tração. Foto: Angélica Strapasson

A premiação serve de incentivo para que os alunos continuem o projeto. A competição ainda possibilita que os alunos vencedores da etapa nacional ganhem viagens para disputar a etapa internacional nos Estados Unidos. No curso, o projeto começou pequeno, mas hoje é um dos principais do curso e gera interesse da maioria dos alunos, que têm na prática a possibilidade de se tornarem mais capacitados para o mercado de trabalho. O Projeto Baja teve início em 1976, na Universidade da Carolina do Sul, nos Estados Unidos, com direção do Dr. John F. Stevens, e chegou ao Brasil em 1994.

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De grão em grão, a ciência enche o papo

pesquisa do interior

A agricultura tem um papel fundamental na economia brasileira. Além da geração de emprego, garante boa parte da renda do país. De acordo com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agrícola), o Paraná ocupa o segundo lugar na exportação de grãos no Brasil, e a região Oeste do estado tem destaque nos números com a produção

Centro de Pesquisa da soja e do milho. por trás da plantação, há muito estudo e pesquisa para que as Agrícola no interior Mas lavouras possam dar bons frutos na hora da colheita. do oeste do Paraná As pesquisas na agricultura impulsionaram a melhoria dos grãos na agrícola, que teve um salto no aprimoramento agro no Paaplica pesquisas produção raná, e o interior ocupa um importante espaço no desenvolvimento científicas para dos cultivares. a melhoria da Parcerias produção dos A Cooperativa Agroindustrial Consolata, a Copacol, de Cafelândia, é das cooperativas que investiram na ciência para a melhoria dos cooperados uma plantios, e, como consequência, os resultados obtidos foram positivos. Débora Braga

Um exemplo é o Centro de Pesquisa Agrícola (CPA). O moderno laboratório desenvolve estudos e aplicações de testes para melhorar a produção dos cooperados.

O Centro abrange a área da fitotecnia, que se caracteriza pelo estudo das plantas e as técnicas nelas aplicadas, e ainda a fitossanidade, que previne e controla pragas, doenças e plantas daninhas. Para todos os processos de produção, há um extenso projeto de estudo a ser seguido pelos pesquisadores e engenheiros agrônomos. De acordo com o pesquisador em herbologia e entomologia João Maurício Trentini Roy, o trabalho em equipe sempre gera bons resultados. “Essa interação entre a pesquisa e a extensão, de um lado gera velocidade no entendimento dos problemas e demandas do campo, fazendo com que rapidamente sejam gerados resultados para suprir as demandas dos cooperados, enquanto, de outro, faz com que velozmente as informações geradas pela pesquisa sejam levadas aos produtores e possam ser aplicadas em suas propriedades”.

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Verbo. Novembro de 2019.

O objetivo de melhorar a safra dos produ-

mentação agrícola. Esses princípios dão uma base para a aplica-

tores e amenizar os danos causados por

ção, e com os dados obtidos nos experimentos, os pesquisadores

insetos e doenças de plantas faz com que a

identificam se os resultados são seguros para repetir os experi-

aplicação dos métodos de estudos seja cada

mentos nas propriedades dos cooperados.

vez mais precisa. No laboratório, o estudo com as sementes são realizados através de avaliações de qualidade. Segundo João Maurício, ao ano são recebidas aproximadamente 2.200 amostras, e são realizadas quase 6 mil análises. Entre elas, estão os testes de pureza, germinação em areia e solo, vigor, peso, sementes infestadas e dano mecânico imediato. O laboratório é credenciado no Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA) e opera com um sistema de gestão da qualidade. Esse estudo gera os resultados necessários para monitorar e garantir que as sementes comercializadas tenham qualidade e melhorem a lavoura do produtor. No laboratório de proteção das plantas, são realizados os testes de monitoramento de resistência de insetos, como os percevejos, e sua reação aos inseticidas. Ainda, a sensibilidade da soja, e a identificação de doenças das plantas. Além disso, é realizada a análise sanitária das sementes, identificando quais fungos estão presentes e direcionando quais produtos serão utilizados no tratamento

Quem planta tecnologia colhe bons resultados Os produtores rurais já sentem o impacto das melhorias do processo de pesquisa. José Fernandes cultiva soja na região da cooperativa e afirma que as pesquisas ajudam a entender os problemas encontrados na lavoura. “Quando tem uma doença na planta ou alguma coisa que não tá deixando o solo produzir bem, essas pesquisas ajudam a gente a procurar a melhor solução para resolver. A gente vê os resultados com a boa colheita, com o grão forte e bonito. E temos que agradecer aos técnicos porque sem eles ficamos até perdidos, mas com o bom estudo da semente nós só temos a ganhar “. O engenheiro agrônomo Adriano Motter confirma as mudanças obtidas pela pesquisa, e ressalta a importância de um laboratório no interior. “Um centro de pesquisa é sempre um ganho, nos traz um conhecimento maior da cultura implantada. Ter um centro no interior, mais próximo da nossa região, proporciona um conhecimento maior da nossa realidade, dando mais segurança e certeza das nossa decisões”. O trabalho realizado no Centro de Pesquisa permite realizar os testes e as validações das novas moléculas desenvolvidas e em fase de Registro Especial Temporário (RET). Esse processo de pesquisa permite, por exemplo, conhecer os produtos antes de seu lançamento comercial. A estrutura do Centro de Pesquisa atua nos ajustes de posicionamento e validação. Portanto, as pesquisas contam com empresas parceiras que fornecem os materiais genéticos através da indústria química e biológica. “Essa parceria gera resultados

industrial de sementes para seu controle.

importantes para ambas as partes, já que a Copacol tem acesso

Há ainda o processo de qualidade de fertili-

lançamento, e a empresa tem auxílio em ajustes no posicionamen-

zantes, onde são realizadas as análises dos macronutrientes (Nitrogênio, Fósforo e Potássio) de todo fertilizante comercializa-

aos novos produtos podendo testá-los e conhecê-los antes de seu to regional e ampliação das possibilidades de uso dos defensivos”, completa João Maurício.

do pela Cooperativa. “Este procedimento garante que os níveis de nutrientes informados nos fertilizantes realmente estão sendo entregues aos cooperados, reduzindo o risco de falsificações e adulterações”, informa João Maurício. Em aplicação na área externa do Centro de Pesquisa, no campo, os estudos seguem os princípios básicos da experi-

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Universidades Públicas: Projeto Pé-Vermelho eureka

A vida nas universidades públicas em cenário político conturbado Diego Back

Quando falamos em verbas para pesquisa e extensão nas universidades públicas brasileiras, muitas vezes, maus exemplos afetam bons projetos, e pesquisadores e acadêmicos acabam sendo amplamente julgados por ações isoladas, usadas como justificativa para o corte recorrente de verbas por parte do governo federal. No mês de julho deste ano, várias universidades federais ameaçaram paralisar suas atividades devido ao corte de verbas, o que serviu apenas para mostrar como a guerra entre “direita” e “esquerda” está consolidada em nosso país. Era comum ver pessoas falando que universidades públicas deveriam ser fechadas, argumentando o descaso dos estudantes com o dinheiro investido neles. Já outros defendiam que o corte de verbas era uma afronta às conquistas do povo brasileiro nas últimas décadas. Meu objetivo aqui não é defender um lado, e sim mostrar que temos bons exemplos dentro das universidades e que não devemos julgar sem conhecer as instituições de um modo particular. Em uma sala apertada localizada no “bloco L” de uma das mais importantes universidades do oeste do paraná, o projeto “Pé Vermelho” é resultado de uma série de investimentos em pesquisa e extensão da Universidade Tecnológica Federal do Paraná – Campus Medianeira.

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Verbo. Novembro de 2019.

A Universidade em questão não possui

que não possui integrantes do curso de engenharia mecânica

o curso de Engenharia Mecânica, mas

inspira novos acadêmicos a dar continuidade ao projeto.

isso não foi empecilho para a criatividade de um grupo de alunos que, em 2014, criou o projeto com um objetivo claro: participar da primeira Shell Eco-marathon realizada no Brasil. Em 2016, foi o ano de estreia. Foram 190,2 quilômetros por litro de combustível que tornaram a estreante Pé-Vermelho campeã daquela edição nacional da Shell Eco-marathon,

Segundo Henrique Richetti Bonatto, líder da equipe, a harmonia dos componentes é o principal segredo para a maior eficiência do carro. “Bons componentes colocados da maneira correta e harmônica fazem o carro ter um melhor desempenho”. Aqui, a equipe Pé-Vermelho representa inúmeros projetos que se destacam internacionalmente, mas que estão sendo prejudicados em um cenário político de extremos, em que ambos os lados querem provar suas ideologias, não importa quantos serão prejudicados neste processo.

recorde na categoria gasolina. Hoje a verba arrecadada para dar continuidade ao projeto é derivada de editais e competições de que a equipe participa. Mesmo assim, o grupo hoje formado por 21 novos integrantes tem esperanças de continuar competindo e vencendo. Mesmo com todas as dificuldades financeiras, o título histórico para a

A Shell Eco-marathon desafia estudantes a projetar, construir e pilotar veículos mais eficientes em termos de energia. A iniciativa teve início em 1939, quando funcionários da companhia nos EUA competiram para percorrer a maior distância possível com a mesma quantidade de energia. Em 1985, a competição se tornou oficial. Desde então, se expandiu para Ásia, Europa e América do Sul.

única equipe da Shell Eco-marathon

Equi pe Pé-V e r m e l ho p ar t ic ipa da S he ll Eco- Ma r athon 20 19

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Keep calm and TCC

#sou pesquisador

Para acadêmicos cheios de criatividade: existe a possibilidade de escrever bons trabalhos sobre assuntos inovadores? Priscila Hlatki

Os TCCs do curso de educação física estão sendo produzidos com uma pegada bem diferente, assuntos com mais visibilidade e que são bem vistos no mercado de trabalho estão sendo vistos com mais atenção por eles. Academia, por exemplo, é um tema bem pesquisado. E por esse motivo os alunos estão se profissionalizando nas áreas de personal training, crossfit, comenta a professora Débora. Abaixo vamos ler uma breve introdução sobre os temas escolhidos pelos acadêmicos do 6° e 8° período do curso. Nem sempre o tema para a produção do TCC é escolhido de primeira. O Guilherme Grecco, por exemplo, só decidiu sobre o que iria falar no 6° período. Devido à falta de conteúdo sobre o assunto, que colaborou para várias dúvidas que surgiram durante as pesquisas.

Guilherme conta que depois de pesquisar bastante, chegou ao tema “corrida de rua”, na internet pesquisou sobre o assunto e encontrou um material sobre “motivação de praticantes da corrida de rua”. E aí decidiu trabalhar com essa temática que achou interessante.

“Estamos conseguindo desenvolver bem o assunto, seguir todos os passos que precisa fazer dos tópicos que precisamos responder. Durante as pesquisas, a professora explica os mínimos detalhes para que a gente consiga compreender tudo, e com disciplina, está sendo uma experiência incrível que com certeza dá mais segurança para produzir outros TCCs ou artigos”, conta Guilherme. Para Grecco, a variedade na escolha dos temas escolhidos para o TCC é satisfatória e incentivadora para quem pretende falar de determinado assunto, para desenvolver o projeto corretamente, também precisa ter vontade de trazer algo diferente, seria menos do mesmo.

No ano passado, o professor Everton Roman propôs para o Mateus Giordani, acadêmico do 8º período, para que no último ano ele fizesse seu TCC sobre a Associação Chapecoense de Futebol. No ano anterior um dos seus alunos do curso produziram um artigo referente ao marketing feito para o time Futebol Clube Cascavel, e foi aí que surgiu a ideia, que foi abraçada de cara por ele, que é mais um dos milhares de brasileiros apaixonados pelo futebol: “Eu gostei porque foi um clube que viveu um momento trágico, causou a comoção da cidade e do mundo, um clube pequeno, que pode ser comparado com Cascavel, também é clube do Oeste, só que de Santa Catarina, e tem mais ou menos o mesmo número de habitantes”.

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Verbo. Novembro de 2019.

Mateus já acompanhava a Chapecoense desde 2015 e conta que está sendo especial trabalhar com esse tema, inclusive durante as pesquisas descobriu informações que ainda não sabia. “De começo, a ideia era entrar em contato com o responsável pela gestão do clube, ‘tentamos, mandamos mensagem, mas não tivemos resposta’ e, como solução, tivemos a ideia de fazer um contexto histórico, a tragédia, a reconstrução do time, uma comparação de seguidores nas redes sociais antes e depois da tragédia e atualmente como se encontra”, conta Mateus. Para finalizar o trabalho, o objetivo era na apresentação do projeto final mostrar a grande defesa do goleiro Danilo, que classificou o clube para a semifinal da Copa Sul-Americana, contra o Atlético Nacional de Medellín, no ano de 2016, o mesmo que na ocasião, resolveu entregar o título para o time Catarinense, um bonito gesto que mostrou a grandeza do Atlético. Micheli Menegueti resolveu escolher um tema bem bacana. Ela escreveu seu TCC sobre a Entrada, Permanência, Inclusão de Pessoas com Necessidades Especiais na Faculdade, Especificamente na FAG: “fizemos uma pesquisa qualitativa, realizada por meio de entrevista onde as pessoas respondiam 35 questões sobre o assunto. Tivemos o apoio da professora e coordenadora do NAAE (Núcleo de Apoio e Atendimento ao Estudante), Patrícia Radaelli” diz Micheli. A temática foi escolhida por ela durante as aulas da disciplina de Educação Física Para Pessoas com Necessidade, no quinto período do curso, e durante o estágio obrigatório, onde trabalhou com várias crianças com deficiência: “surgiu a dúvida sobre a frequência e permanência deles no colégio, então apresentamos a ideia para a professora Dirléia que deu o maior apoio e incentivo para que o trabalho viesse a se tornar realidade, ficou lindo”, afirma Micheli.

Rafael Migliorini demorou cinco meses para escolher o tema ideal para seu TCC: velocidade de execução no treinamento resistido. Durante um determinado período ele procurou informações sobre o tema, ele já tinha uma ideia do que queria escrever, antes realizou várias pesquisas para se aprofundar sobre o assunto. Duas semanas foi o tempo que o Rafael precisou para elaborar o seu projeto de TCC. Depois desse processo ele mandou para a qualificação e tirou nota nove, produziu sozinho essa parte, porque a mãe do seu professor e orientador ficou doente, por ele não pode estar mais presente nesse momento, mas ele seguiu as orientações repassadas e foi atrás de fazer mais informações. Rafael leu bastante para fazer o TCC “li muitos artigos, porém em português encontrei poucos, então precisei fazer a tradução do inglês para o português. Como entendo um pouco sobre a língua, ficou mais fácil para verificar se a tradução estava correta” conta Rafael. Amanda Karoline Riebau está no 8° período, e também optou por fazer o seu TCC sobre um assunto que envolve academia. Ela escolheu falar sobre marketing do personal trainer no Instagram.A ideia do tema foi da professora Débora. Para a Amanda “tendo em vista que é um tema atual, e que nós como futuros personal trainers, vamos utilizar essa ferramenta que é o marketing digital. Foi fácil encontrar fontes para desenvolver nosso produto” afirma Amanda.

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Pesquisa também é coisa de humanas

sou de humanas

Com métodos de pesquisa diferentes das Ciências Exatas, elas estudam um dos objetos mais enigmáticos já conhecidos: o ser humano Luiz Henrique Leal

Quero te propor um desafio. Descreva o que é ciência sem mencionar experiências químicas em laboratório, animais, a natureza ou robôs. Achou difícil? Talvez seja porque a ciência como estudamos desde criancinhas não nos conta que história, geografia, linguística, artes, filosofia, sociologia e várias outras matérias também são ciências.

Após alguns anos no ensino fundamental, a imagem que criamos é relacionada a áreas que envolvam diretamente química, física e biologia. Não que esses termos associados estejam errados, mas a ciência, como método de estudo, é bem mais ampla. Ela se caracteriza como todo tipo de conhecimento adquirido através de estudo, prática e, olha só… pesquisa.

Mas o que são as Ciências Humanas?

Para começar a falar sobre esse tema, é preciso caracterizar não só o que é, mas qual a necessidade das Ciências Humanas. Essa área científica funciona como um compilado de ideias, estudos e práticas que visam o estudo do homem e sua função social. Dentro das Ciências Humanas, o foco é compreender como as relações humanas se formam e se estabelecem em uma sociedade. Mas não pense que elas são só isso. Assim como o objeto de estudo a que se dedicam, o ser humano, essa ciência é multiplicada em diversas áreas que tratam tanto de aspectos teóricos quanto práticos.

Por que é difícil associar ciência com estudos sobre humanas? Durante anos, somos levados a acreditar que ciência só se refere à natureza e suas ramificações, certo? Para entender por que isso ocorre, conversei com alguém que está presente no início da vida escolar de muitas pessoas: o professor. Regiane Silvério é professora do Colégio Municipal Walter Fontana, de Toledo, e é responsável pela disciplina de ciências

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Verbo. Novembro de 2019.

com os alunos do ensino infantil. Ela conta que o plano de ensino acompanha uma matriz curricular específica com o que deve ser trabalhado durante o ano letivo.

“Pelo que entendo de senso comum, acredito que associamos ciência à natureza, e suas variações, pelo que aprendemos durante o período da escola.

“Nós, professores, recebemos um currículo

Mesmo que não exista muito incentivo na área

básico onde temos acesso aos conteúdos

de humanas, ela tem muitos resultados”.

que devem ser trabalhados em sala de aula, como astronomia, noções de ecossistema, geração de energia e saúde”. Contando o ensino infantil, passamos em torno de 15 anos estudando até chegar à graduação e, com o passar do tempo, os

A semiótica é uma teoria que consiste na análise e interpretação de significados e tem como objeto de estudo a linguagem utilizada em textos, filmes, músicas, entre outros entre outros. Gustavo dos Santos Prado é mestre e doutor em História Social e possui experiência nas disciplinas de Semiótica e Teorias da

conteúdos ficam mais complexos.

Comunicação, entre outras. Em sala de aula, trata de assuntos que

Vitor Serafini, estudante de curso pré-

pessoais no decorrer da vida são capazes de influenciar nosso

vestibular, afirma que quem está se preparando para o ENEM já percebe que a palavra ciência se refere tanto aos conteúdos de ciências da natureza quanto aos de ciências humanas. “Causa um estranhamento imediato, nós achamos que já sabemos o que é ciência, mas de repente descobrimos que ‘humanas’ também faz parte desse compilado, e que a palavra é referente a bastante coisa. No começo, é difícil associar, mas com o tempo é possível perceber que o estudo da sociedade e das

envolvem o estudo dos signos. Ele conta que nossas experiências entendimento acerca das palavras e seus significados, e que isso também ocorre através da nossa capacidade de absorver conhecimento de outras pessoas, como pais, professores, amigos. “A interpretação varia muito de acordo com a visão de mundo que cada pessoa tem. Essa interpretação não é aleatória porque leva em consideração nosso cotidiano e tudo que aprendemos nele. Em certo nível, todos produzimos significados diferentes sobre tudo, e, como o ser humano permanece em comunicação, é comum que ele influencie pessoas através de suas próprias afirmações”. Para entender que o estudo das relações humanas é tão importante para a sociedade quanto os estudos e testes desenvolvidos em

relações também é científico”.

laboratório, é preciso entender o desenvolvimento das pesquisas

A partir desses exemplos, é possível

percebeu que eu não comentei nada sobre o pessoal que está na

perceber que a palavra ciência é bem mais do que o que aprendemos durante a vida escolar. Agora imagina para quem respira

na área de humanas, que começam a partir da graduação. Pera aí… graduação ou já passou por ela? Porque essa parte e tudo que ocorre depois dela você encontra no próximo texto.

ciência todo dia? Maria Eduarda Willemann, estudante do 4º ano do Ensino Médio integrado ao Técnico em Eletrônica, desenvolveu um projeto de robótica com aplicação para idosos, o RAPI (Robô de Assistência à Pessoa Idosa). Para ela, a ciência é todo conhecimento que é adquirido através de processo científico. “Esse projeto de robótica nasceu através de estudos que mostraram que pessoas idosas precisam de auxílio na terceira idade. Uma informação como essa só foi possível porque pessoas estudaram esse aspecto humano. Portanto, a ciência é altamente influenciada pelas relações humanas, afinal, elas também são ciência”.

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O lado humano da ciência

Anteriormente já foi dito que, desde crianças, as pessoas são levadas a crer em um senso comum acerca da ciência. É preciso assimilar que ela não se limita apenas a cálculos, ou laboratórios com cientistas vestidos de branco. Assim, podemos avançar e explorar um outro lado da ciência, que busca compreender aspectos do ser humano impossíveis de serem previstos por meio de fórmulas. Bem-vindo às Ciências Humanas.

Exceto algumas áreas da Economia e Ciências Sociais, que utilizam metodologias estatísticas ou fórmulas, quase todas as áreas das Ciências Humanas possuem

sou de humanas

Filosofia e Antropologia: contribuições para o ser humano Wanderson Santana Schumacher

métodos não matemáticos na pesquisa. “Não existe um algoritmo de demonstração exato, pois trabalham com aspectos do ser humano, que tem como uma das principais características a imprevisibilidade”, explica o Dr. Wilson Frezzatti. Frezzatti é professor do Programa de Pós-Graduação em Filosofia na Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná) campus Toledo, onde também orienta projetos de pesquisa de mestrado e doutorado. É pós-doutor em Filosofia e pesquisador na área desde 1987. Seu trabalho é principalmente a pesquisa e docência. “Existe algo na filosofia da ciência que se chama ‘fisicalismo’. É pensar que tudo que é ciência deva ter o modelo da Física, um corpo matemático, bem estruturado e rígido. Por isso acredita-se que tudo que escapa desse modelo não seria propriamente ciência”.

Dedicado a estudar a obra de Friedrich Nietzsche, Frezzatti participa de grupos de pesquisa nacionais, internacionais, além de outros de âmbito local. Grupos como estes dão movimento às pesquisas, e deles germinam novas teorias enquanto outras são aprimoradas.

Fi losofi a na p rátic a Sob um ponto de vista pragmático, tende-se a avaliar a “utilidade” das Ciências Humanas para a sociedade. Mas como definir o que é útil ou não? “A Filosofia serve para alguma coisa? Depende da pers-

Dr. Wilson Frezzatti em sua biblioteca particular. Foto: Wanderson Santana Schumacher

pectiva. Se para você, ‘servir para alguma coisa’ é produzir apenas bens de consumo ou renda, realmente a Filosofia não serve para nada. Mas se você acredita que é importante ter uma atividade de pensamento livre, de formação, de discussão de problemas, essa é a utilidade”. Para Frezzatti, a Filosofia tem um grande papel no que diz respeito ao desenvolvimento do intelectual. Ela contribui para a formação de qualquer outra profissão, sobre as questões éticas, debates e possibilidades de resolução de conflitos e problemas. “É questionar as coisas que a gente acha que é natural, que estão bem estabelecidas na sociedade e que acabamos tendo medo de questionar. Não é um questionamento destrutivo, mas uma contraposição com fundamento, coerência e ética. A ausência da Filosofia nas relações humanas é prejudicial por isso, é não ter a capacidade de questionar”.

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Verbo. Novembro de 2019.

Antropo-o-quê? De modo semelhante à Filosofia, a Antropologia é pouco compreendida. Ela também é uma área das Ciências Humanas, e, por conseguinte, estuda uma gama de aspectos intrínsecos ao ser humano. Entender essas características faz compreender as diferenças e respeitá-las. As Ciências Humanas, especificamente a Antropologia, constitui importante ferramenta de diagnóstico e resolução de problemas nas relações sociais. “O saber da Antropologia vai atuar no desenvolvimento de relações políticas, não no sentido partidário, mas no dos encontros cotidianos”, explica Dra. Andréia Vicente. Andréia Vicente da Silva é professora na Unioeste campus Toledo, e membro da Associação Brasileira de Antropologia. Fez doutorado na Universidade do Rio de Janeiro, com um período de dois anos na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais de Paris, França. A pesquisa nessa área procede essencialmente por meio de teorias e observação, uma vez que busca entender como o ser humano reage frente a situações específicas. Nesse sentido, Andréia é líder de um grupo de pesquisa científica intitulado “Conectando o mundo, repensando relações”, que visa compreender o impacto das novas tecnologias nas relações do cotidiano. São três os integrantes do grupo, cuja sistemática permite um cruzamento de três áreas de conhecimento diante de um tema em comum. Antropologia, Sociologia, e Ciências Políticas estudam a inserção das novas tecnologias na sociedade, mas com perspectivas diferentes. “Eu faço a pesquisa nas Igrejas Evangélicas Assembleia de Deus, onde procuro perceber de que maneira a tecnologia está sendo inserida nos cultos”. Paralelamente, ela conduz uma pesquisa acerca da maneira com que as pessoas utilizam objetos nos rituais que sucedem o falecimento. Neste caso, Andréia utiliza

Dra. Andréia na biblioteca da Unioeste campus Toledo. Foto: Wanderson Santana Schumacher a observação dos ritos no cemitério, com a técnica da fotografia. “Tenho trabalhado com esses dois temas distintos, mas cujas interfaces se cruzam, que são os objetos e a questão do ritual. O grupo analisado também é o mesmo, os evangélicos”.

A p esquisa f ora d o Brasil Além da França, Andréia conheceu instituições de ensino superior em países como Espanha, Suíça, Inglaterra, Bélgica, entre outros. Isso lhe permite falar com propriedade a respeito das diferenças entre estes países e o Brasil. “Tem uma diferença substancial, que é o espaço físico das universidades, no sentido de recursos para o desenvolvimento de pesquisas e produção docente”. Andréia enfatiza que demandas como incentivos para bolsas, tempo para realizar projetos, recursos financeiros para publicações, entre outras, são disponibilizadas nesses países, enquanto aqui existe uma dificuldade para obter esses recursos. “Algo assustador para os pesquisadores que têm um trânsito internacional é ver a qualidade das bibliotecas das instituições estrangeiras. Os espaços para reflexão são absurdamente distintos do que tem no Brasil. Na França, quando fazia meu doutorado, sentava à mesa na biblioteca em meio a outras milhares de mesas, não dá para ter noção da quantidade. Você não vê os livros, porque eles ficam em outros andares, muitos andares, é uma quantidade imensa de recursos disponíveis”. A receptividade que os pesquisadores encontram nesses locais é um fator que favorece a permanência das pessoas. “Se eu disser a partir da minha experiência, um fator preponderante é a preparação e disponibilidade da infra-estrutura das universidades. Temos uma biblioteca aqui na Unioeste, mas o espaço é limitado”.

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Toda energia vale a pena

pesquisa do interior

Através de recursos da lavoura, a produção científica busca torná-la mais independente Pedro Henrique do Prado

A agricultura no Brasil é tão antiga quanto a ocupação portuguesa, seja pela cultura da cana de açúcar, movida pela escravidão;

do café, agitada pela política dos barões; ou mais recentemente

pelo pasto, guiada pela pecuária. Fato é que o ramo agropecuário exerce um notável poder econômico comparado a outros. Para

medida de comparação, mais de 35% das exportações são de produtos produzidos no campo; já a indústria atua em aproximadamente 20% das vendas externas. Esse apreço pelo agro é evidenciado pelas medições do IBGE. O total de moradores rurais no Brasil ultrapassou a marca de 27 milhões, superando com folga a população geral da Austrália. No âmbito estadual, esses números se mantêm altos, com um Valor Bruto de Produção estimado para 2019 de R$ 69 bilhões, o Paraná é o terceiro estado com melhores resultados do setor agropecuário, perdendo a taça apenas para os mato-grossenses e, na sequência, para os paulistas. Dentro desse valor bilionário, pode-se destacar um segmento estadual, em que se produz mais de 13 milhões de toneladas anualmente: a avicultura.

O reino das Aves Com base nos levantamentos promovidos pelo Ministério da Agricultura, Associação Brasileira de Proteína Animal e pelo Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado, o Paraná concentra mais de 360 milhões de aves para consumo. Entre elas, destacam-se o frango, presença indispensável na mesa da população, e o peru, um produto não tão procurado quanto seu par galináceo, mas que encontrou um nicho de mercado. Ambos correspondem a 1,5 bilhão de abates por ano, divididos entre mais de 19 mil aviários em terras paranaenses. Além da carne, alguns outros subprodutos peculiares são adquiridos através da criação dessas espécies. De acordo com Ana Cé, mestra em tecnologia ambiental, a cama de aviário é feita de serragem ou maravalha, e é utilizada no chão dos criadouros para absorver dejetos das aves, facilitando a limpeza do local. Entretanto, Ana diz que até então não havia pesquisas em níveis nacionais, focadas nas análises bioquímicas desse subproduto. Assim, ela encontrou seu novo campo de atuação: a produção energética sustentável em uma nova área.

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Verbo. Novembro de 2019. Ana conta que o primeiro passo seria isolar a matéria orgânica e deixá-la em uma câmara sem oxigênio, assim, microorganismos como bactérias e arqueas se alimentariam do apodrecimento do material e, como resultado, na digestão, seria liberada uma série de gases biológicos que ficariam contidos no reator de um biodigestor. A partir desse ponto, o gás passaria por um processo de purificação até restar somente o metano. Com o metano puro, os motogeradores estarão pronto para usá-lo como combustível de forma idêntica a geradores de luz tradicionais, entretanto, ao contrário de combustíveis fósseis, não haverá fuligem poluente resultante da combustão. Em outras palavras, a energia será totalmente limpa. O diferencial da pesquisa, segundo a mestra, não é somente a produção de energia renovável e limpa, mas

Meleagris gallopavo, no latim, Peru-doméstico, no português.

sim a descoberta da existência de diferenças entre as camas de frangos e de perus, sendo a última mais rica em componentes digeríveis pelos microrganismos que produzem o metano, logo, a cama de peru possui uma vantagem energética muito maior do que a de seus parentes plumados. Ana descreve as vantagens em números. “Com a produção de carne de peru (305 - 442 mil ton) nos anos de

O excremento do Peru, misturado com maravalha leva o nome de Cama de Peru.

2010 a 2017, poderiam ser produzidos de 7,5 a 31 milhões de metros cúbicos de metano com os resíduos decorrentes do sistema produtivo de perus confinados. Já com a produção de carne de frango (12 – 13 milhões ton) nos anos de 2010 a 2017, poderiam ser produzidos de 96 a 103 milhões metros cúbicos de metano com os resíduos decorrentes do sistema produtivo de frango confinado”

A cama de Peru é separada e O excremento é consumido por bactérias e arqueas. No processo de

posta em um biodigestor sem oxigênio, apenas com água.

digestão, os microrganismos liberam diversos tipos de gases.

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A energia empenhada

A energia gerada pelo dínamo é limpa. Assim, ela é automaticamente enviada

Gustavo é filho de agropecuarista e trabalha na propriedade

para a rede elétrica da fazenda.

de seu pai cuidando do aviário. Ele conta que a família já havia cogitado a possibilidade de instalar os maquinários para a produção de biogás, mas a ideia não foi para frente. “Todo agricultor pode implementar, mas para o sistema ser viável ou atrativo ao produtor é necessário avaliar o tamanho da granja, a quantidade de aves e consequentemente de camas de aviário produzidas para a utilização e produção de biogás”, comenta Ana Cé. Na Alemanha, por exemplo, produtores rurais utilizam formas próprias de alimentação nas suas fazenda, seja com energia solar ou biodigestores, o que reduz os gastos da propriedade e evita imprevistos causados por problemas de transmissão de usinas, como afirma Gustavo: “A propriedade depende totalmente da energia das linhas

O Metano é enviado para um

de transmissão e desde pequeno eu lembro que era assim.

motogerador, que usará o gás

Mas aqui na zona rural oscila bastante e acaba queimando

como combustível.

muitos motores. Agora isso não acontece com muita frequência, mas tempos atrás era bem comum”.

Por meio de explosões, os pistões são movidos e causam

“A estimativa de produção brasileira de metano foi supe-

atrito em um dínamo.

rior para a cama de frango, em função da maior quantidade de produção desse tipo de carne, mas ainda assim, com o projeto, é possível atender as necessidades energéticas da propriedade”, chancela, Ana. No Brasil, segundo a Resolução Normativa n° 482, a Agência Nacional de Energia Elétrica facilita o acesso das regiões rurais para a produção e minigeração de energia, como também permite a venda do excedente elétrico à empresa responsável pela distribuição com suas devidas compensações.

Entre todos os gases produzidos, apenas o Metano será separado e filtrado.

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ainda sairia ganhando Se formos avaliar um aviário padrão de ambas as aves, o volume produzido de metano, para o sistema produtivo de frangos de corte foi menor (VCH4N = 7 m3/dia para 504 dias de alojamento) que perus (VCH4N = 34,3; 12,3; e 21,4 m3/dia para 50; 120 e maior que 400 dias, respectivamente), podendo ser explicado pela baixa concentração de metano (40%) da cama de frango

Em termos técnicos, o peru


Esses ratos comem melhor do que você Verbo. Novembro de 2019.

pesquisa do interior

Como roedores foram utilizados para estudar dietas saudáevis. Shara Karoliny

Em 2017, uma pesquisa divulgou que uma a cada cinco

mortes no mundo está relacionada à alimentação.

Apenas 4% dos brasileiros têm uma alimentação considerada saudável, segundo a Associação de Defesa do Consumidor.

Com esse cenário, as áreas de saúde e de nutrição reali-

zam diversas pesquisas em busca de alimentos e suple-

mentos que possam ajudar em uma alimentação saudável. Uma delas é a influência da kombucha e da farinha de banana verde em uma dieta.

Mas você deve estar se perguntando o que são essas coisas. Calma, eu vou explicar. A kombucha é uma bebida fermentada feita a partir do chá preto adoçado, com

bactérias benéficas que fortalecem o sistema imunológico, por isso as denominam de probióticos.

Já a farinha de banana verde, conhecida como FBV, é

rica em amido resistente, que não é digerido pelo nosso organismo, mas serve de alimento para essas bactérias

saudáveis que vivem em nosso intestino, por isso é denominado de elemento alimentar prebiótico. A professora Daniela Miotto, responsável pela pesquisa, conta que alguns do materiais utilizados vieram de parcerias. Para o desenvolvimento do estudo, houve colaboração de várias entidades, como a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), a Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná), a UTFPR (Universidade Tecnológica Federal do Paraná) e o Coopex (Coordenação de Pesquisa e Extensão) do Centro FAG, o principal parceiro em termos financeiros. “A farinha de banana verde foi conseguida por meio de uma parceria com a Epagri (Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina), onde o cultivo tem um percentual muito grande de amido resistente, que está relacionado a muitos efeitos benéficos no organismo”.

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Sobre a pesquisa O grupo de estudantes de Nutrição do Centro Universitário Fundação Assis Gurgacz (Marianela Díaz Urrutia, Amanda Gemelli Ramos, Rafaela Menegusso e

ratos para observar glicemia, colesterol, composição corporal, consumo de ração, ganho de peso, histologia hepática e atividade antioxidante.

ciação Científica) para estudar os efeitos

E será que o suplemento foi benéfico?

desta suplementação em um organismo

No final, descobriram que a dieta de cafeteria causou es-

rico em gorduras e açúcares.

teatose hepática, um acúmulo de gordura nas células do fí-

Rafael Dewes) ganhou uma bolsa PIBIC (Programa Institucional de Bolsas de Ini-

Durante 55 dias, fizeram a pesquisa e as

gado, também chamada de infiltração gordurosa do fígado.

análises com 35 ratos machos recém-des-

A suplementação não ajudou a prevenir a condição, nem

mamados. A dieta foi realizada separada-

serviu de tratamento. “A gente supõe que a suplementação

mente e distribuída em 5 grupos.

deve ser aliada a outros fatores no caso das pessoas”, diz a

Cada grupo recebeu uma alimentação diferente: de acordo com o gráfico acima. O foco da pesquisa foi observar a reação dos ratos que se alimentaram da dieta desenvolvida com padrões que a população come atualmente. Chocolate, biscoito doce, batata palha, leite condensado, etc. As comidas foram trituradas e moldadas em formatos de pellets, imitando as rações comerciais para ratos.

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Após essa alimentação, realizaram algumas análises nos

acadêmica Marianela Díaz. Os ratos que consumiram o simbiótico, ou seja, farinha de banana verde + kombucha, ganharam menos peso, pois consumiram menos ração. De acordo com as acadêmicas, na literatura, explica-se que isso acontece porque o consumo desse chá aumenta a população de bactérias benéficas no intestino desses animais, fazendo com que eles utilizem com maior eficiência o amido resistente da farinha de banana verde. “Consequentemente, houve uma maior produção de ácidos graxos de cadeia curta, que têm a capacidade de aumentar a produção de hormônios que


Verbo. Novembro de 2019.

Dar errado também é certo O erro de muitos pesquisadores é acreditar que o resultado da pesquisa vai ser sempre positivo, ou da maneira como ele espera. No entanto, ter conclusões nulas ou inesperadas é bem comum no meio científico. Esse tipo de conclusão faz parte do processo: analisar os erros também é aprendizado. “É muito importante ver esses resultados e também divulgá-los, para que novos trabalhos busquem através de outros meios”, afirma a professora Daniela Miotto, orientadora de grupo de pesquisa. Esperar por um resultado específico pode influenciar e conduzir a conclusões erradas. O professor doutor em jornalismo Hendryo André diz que, quando começamos uma pesquisa, temos objetivos e hipóteses, que são respostas prévias. “Às vezes, o pesquisador atuam no centro da saciedade no cérebro, fazendo com que esses animais sentissem uma saciedade maior e que comessem menos, e ainda ganhando menos peso”, completa Marianela. O suplemento não teve efeito positivo no fígado, também não diminuiu a gordura corporal ou alterou os triglicerídeos. Houve efeitos benéficos na glicemia, na atividade oxidante e também no HDL, que são as lipoproteínas de alta densidade, conhecidas como “bom colesterol”. O

tem uma ideia na cabeça e ele desenvolve toda a metodologia e a pesquisa para confirmar esse resultado, e, por vezes, ele cria expectativas negativas. Mesmo vendo que a pesquisa empírica está mostrando outra coisa, ele quer confirmar sua hipótese de todo jeito. E isso é um problema, porque a ciência é um teste e você confirma ou refuta a ideia”.

positivos e também nulos. “Em pesquisa, a gente estuda

“É como procurar uma faca na gaveta”

pra analisar o efeito das coisas. Esse efeito pode ser posi-

Muitas vezes o resultado negativo ou dife-

consumo de farinha de banana verde também reduziu o ganho de peso dos animais. Para a professora Daniela, a pesquisa teve resultados

tivo, negativo ou ainda nulo”. Para o grupo, o suplemento, da forma como foi testado, não teria efeito muito importante sobre a obesidade. Seria necessário uma série de outros fatores, incluindo um estilo de vida saudável.

rente daquilo que você esperava pode ser melhor do que o resultado óbvio, porque muitas vezes encontramos análises que nos trazem resultados já esperados. “A gente até brinca que esse tipo de pesquisa é como procurar uma faca na gaveta: se eu procuro uma faca na minha casa, eu vou buscar na gaveta, é meio óbvio. Agora, se eu encontro embaixo do sofá, aí sim é algo diferente, aí sim tem uma descoberta”, explica o professor.

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O Brasil vai pisar a Lua?

tech.com

Estudante de Foz do Iguaçu trabalha no desenvolvimento do primeiro motor-foguete impresso em 3D da América Latina Thiago Willian

Quando o assunto é tecnologia, a grande maioria das pessoas pensa em Estados Unidos, Japão, Coreia do Sul… países de primeiro mundo. Muitas vezes, o Brasil não é a primeira opção, ainda mais com a redução no orçamento do Governo Federal destinado à pesquisa no país. Em 2018, o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações recebeu apenas R$ 4,6 bilhões, bem diferente do valor de cinco anos atrás, de R$ 9,4 bilhões. Mesmo com toda essa dificuldade financeira, ainda é possível encontrar pesquisadores que acreditam na ciência brasileira, como é o caso da jovem de 22 anos Isabella Grinberg, acadêmica de Engenharia Física da Unila (Universidade Federal da Integração Latino-Americana), em Foz do Iguaçu, região oeste do Paraná. Isabella nasceu em Americana, interior do estado de São Paulo, deixou família e amigos para morar no Paraná, onde conseguiu vaga no curso com que sempre sonhou. Desde o segundo semestre de 2018, trabalha no desenvolvimento do primeiro motor-foguete impresso em 3D da América Latina. O trabalho foi proposto na disciplina de Processos de Fabricação do curso e está apenas na fase inicial, mas pode revolucionar o mercado aeroespacial, já que os custos convencionais de produção são elevados. “O motor que estou trabalhando pode ser usado em satélites. Em média, o custo ultrapassa os R$ 100 mil por peça, já este que estou desenvolvendo pode ser feito com menos de R$ 1 mil”, diz a acadêmica. Além do baixo custo, a proposta é que tenha menor impacto ambiental que os demais. O dispositivo funciona através de propulsão química, que queima propelentes, ou seja, a soma de oxidante com combustível. “Com isso conseguimos reduzir os impactos ambientais, pois estamos trabalhando apenas com propelentes limpos, que não liberam resíduos tóxicos como a hidrazina, um composto químico utilizado no lançamento de satélites artificiais”, explica Isabella.

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Verbo. Novembro de 2019. O equipamento que Isabella está desenvolvendo pode ser usado tanto para o lançamento de foguetes quanto no impulsionamento de mísseis, satélites e até estações espaciais. O baixo custo pode ser um atrativo aos países que trabalham com a tecnologia aeroespacial, além de colocar o Brasil em um seleto grupo, hoje formado por apenas 14 países capazes de construírem e lançarem os próprios foguetes levando satélites ao espaço.

Os processos da pesquisa O primeiro passo do estudo foi conhecer as peças disponíveis no mercado e calcular as dimensões necessárias para a impressão 3D. Depois, tudo teve que ser desenhado em um software de computador próprio para desenhos em três dimensões. O material do motor-foguete tem que ser resistente e suportar diferentes condições climáticas; para isso, foi escolhido o metal. A peça foi impressa na Inglaterra, em uma empresa especializada em 3D. “Essa técnica consiste em fundir o pó metálico utilizando o laser camada por camada, até que o objeto seja completamente formado”, diz Isabella.

chegar ao fim, pois ainda será preciso arrecadar muito dinheiro. “Quem domina esse setor em nosso país são grandes empresas com foco geralmente no avanço da tecnologia militar, e precisamos retirar o poder desses empresários e trazer para pesquisadores comprometidos de fato com a ciência, como em universidades e empresas privadas”, citou o professor. Assim como os Estados Unidos têm a Nasa, o Brasil possui a AEB (Agência Espacial Brasileira), mas, ao contrário dos americanos, os brasileiros não conseguiram muito sucesso. “Não falta profissional no nosso país, temos muita mão de obra qualificada, o que falta é gerenciamento. Somos afetados por corrupção, por isso não conseguimos nos desenvolver”, encerrou Oswaldo Loureda.

Após as primeiras etapas, inicia-se a fase de testes, que consiste em queimar o foguete em uma bancada apropriada e construída exclusivamente para o desafio. Para ser aprovado no primeiro teste, o motor-foguete precisa suportar aproximadamente 2500ºC. Após esse procedimento, a peça será instalada em um foguete de grande porte e terá como teste final levantar o veículo espacial. Mas para que o projeto funcione são necessários recursos financeiros. E essa é uma das maiores dificuldades encontradas pela ciência. “Os valores destinados para pesquisas está cada vez mais escasso. Muitas vezes, não existe nem oferta de crédito, além, é claro, do baixo apoio da população”, explicou o professor orientador, Oswaldo Loureda. Tudo que foi feito até o momento foi custeado pelos próprios pesquisadores da instituição, um investimento de pouco mais de R$ 5 mil. Esse valor é bem abaixo do estimado para o final da pesquisa, que deve consumir mais de R$ 100 mil. O projeto que pode mudar o rumo do setor aeroespacial brasileiro não tem prazo definido para

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Canabidiol, vilão pra quem?

sou de humanas

Tratamentos naturais que beneficiam pacientes, mas aborrecem o sistema público Rafaela Rafagnin

Imagine um dia acordar e, ao tentar se mover, o choque: seus músculos estão enrijecidos e não há nenhuma resposta aos movimentos. Mãos, pernas, boca… Todo o tecido muscular está absolutamente endurecido e travado.

Pode parecer uma situação fictícia, distante. Entretanto, virar prisioneiro do próprio corpo da noite para o dia foi a realidade de um

morador da região oeste do Paraná. Aos 30 anos, H., cuja identidade será preservada, teve sua vida parada. Ainda sem diagnóstico, a doença que acometeu seu sistema neuromotor impôs a condição da perda de toda a capacidade motora, preservando as capacidades de raciocínio, visão e audição. Antes, a mãe de H. também apresentou um quadro semelhante ao do filho, porém, de forma menos violenta, levando-a à morte 15 anos após os primeiros indícios da doença. Ao se deparar com tal condição, as expectativas de recuperação de H. foram descartadas nos primeiros momentos, já que, ao contrário da mãe, a doença teve uma evolução súbita. Após perder a mãe, apareceram os primeiros sintomas. O quadro clínico logo apresentou evolução muito acelerada, debilitando-o violentamente. Seu pai, o único familiar disponível para seus cuidados, abandonou todo o cotidiano que levara até ali para se dedicar ao filho, que neste momento não possuía nem a capacidade de se expressar. A musculatura facial também foi afetada, travando seus lábios, impedindo-o de falar ou comer. A impossibilidade de deglutir provocou ainda a decomposição de seus dentes, demandando a inserção de sonda enteral. O senhor de 60 anos é hoje seu único responsável, possui renda de dois salários mínimos advindos do aluguel de um imóvel, e recebe doações da comunidade que reconhece as dificuldades da família. Sem diagnosticar a doença é impossível definir um possível tratamento. Porém, um conhecido que sabia da condição da enfermidade os presenteou com um remédio que trouxe alguma esperança para o infortúnio: uma bisnaga de canabidiol.

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Verbo. Novembro de 2019.

A cada gota aplicada através da pequena fenda que restara em sua boca, o quadro de rigidez muscular foi se desfazendo, lentamente… Entretanto, é necessário relembrar alguns pontos importantes. Por exemplo, sua condição absolutamente rara ainda sem diagnóstico, ou a dificuldade da aquisição do medicamento à base de canabidiol, ainda proibido no Brasil. Para que o tratamento seja realizado, é necessária a transgressão da legislação antidrogas. O que gera um impasse doloroso e contraditório, considerando que o medicamento não apenas promove a melhora gradativa do quadro do paciente, como também não prejudica outros órgãos ou sistemas do corpo humano, como fármacos quimicamente gerados.

O canabidiol A substância é um dos 113 compostos químicos canabinóides encontrados na Cannabis sativa, popularmente conhecida como maconha, chegando a representar mais de 40% de seus extratos. De acordo com estudos científicos, o canabidiol possui um amplo leque de ações, podendo ser utilizado no tratamento de doenças como epilepsia, dores crônicas de origem oncológica ou neuropática, espasticidade causada pela esclerose múltipla, náuseas e vômitos causados pela quimioterapia, inapetência, entre muitos outras. Seus efeitos estão ligados a reações como relaxamento muscular intenso, contribuindo assim para alívio da espasticidade, que é o caso de H., efeitos ansiolíticos e euforizantes, que ajudam em casos de ansiedade e depressão, analgesia, inclusive para dor neuropática e oncológica de difícil tratamento, aumento da tolerância à dor, além da ação anticonvulsivante, estímulo o apetite, entre outras ações.

A legislação Os trâmites legais são complexos. Segundo a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), desde o dia 2 de outubro de 2019, pacientes em tratamento de saúde a quem tenha sido receitado o uso de canabidiol podem solicitar a importação de produtos feitos à base da substância por meio de formulário eletrônico. O guia de importação mediante prescrição de profissional de saúde legalmente habilitado deve ser preenchido no portal.anvisa.gov.br, pelo paciente ou por um representante legal devidamente constituído. Da data do início da busca pela liberação até a importação, um longo prazo se estabelece. O governo federal começou uma agressiva pressão para barrar a iniciativa. O esforço deu resultado quando um diretor nomeado pelo presidente Jair Bolsonaro (PSL) para a agência ajudou a barrar a votação de resoluções que tratavam do tema. O trâmite dificultoso e caro traz à tona a necessidade de pesquisas relacionadas ao assunto, uma vez que tais substâncias são capazes de salvar vidas. Seguimos firmes. A luta pelo direito à pesquisa continua.

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2° lugar na revista Einstein

#sou pesquisador

A revista é uma publicação oficial de divulgação científica do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein, cujo objetivo é registrar a produção e as contribuições da comunidade científica na área da saúde Isabela Fernanda

A equipe de pesquisadores em Morfologia e Ultraestrutura Animal da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), da qual alunos e professores fazem parte, teve trabalho reconhecido nacionalmente ao serem premiados pela Revista Einstein como um dos três melhores artigos publicados em 2018. O artigo faz parte da pesquisa de Mestrado de Jhenifer Karvat, que foi mestranda do Programa de Pós-graduação em Biociências e Saúde do campus de Cascavel da Universidade. O estudo tinha como objetivo analisar o tecido muscular de ratos submetidos ao modelo de compressão do nervo isquiático, tratados com crioterapia. O estudo foi desenvolvido no Laboratório de Estudo de Lesões e Recursos Fisioterapêuticos (LELRF), no qual eram realizadas as avaliações comportamentais dos animais, também no Laboratório de Biologia estrutural e funcional (LABEF) e em outros, que auxiliaram na realização das análises bioquímicas. Foram utilizados 42 ratos machos da linhagem Wistar, com 10 semanas de idade, obtidos do Biotério Central da Unioeste. Grande parte das pesquisas que Jhenifer realizou foram experimentais. Sendo assim, no mestrado sua dissertação foi intitulada: “Avaliação do tratamento com crioterapia em modelo experimental de compressão do nervo isquiático em ratos Wistar”. Segundo ela, o propósito do estudo foi verificar se o tratamento com crioterapia (aplicação de frio na área da lesão) iria minimizar a dor (nocicepção), recuperar a função motora e a regeneração nervosa de ratos Wistar submetidos à compressão do nervo isquiático. De acordo com a mestre, agora doutoranda em Neurociências na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), o intuito de fazer pesquisas com animais é fazer a translação para a clínica. “As lesões nervosas periféricas acabam gerando quadros de dor neuropática, déficits motores, levando a incapacidade físicas, isso diminui muito a qualidade de vida do indivíduo. Então, o intuito de pesquisar esse assunto é buscar estratégias terapêuticas que minimizam os sintomas gerados por esse tipo de lesão”.

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Verbo. Novembro de 2019.

Pesquisas desse tipo costumam requerer grande esforço, porém, os obstáculos também costumam aparecer. Para Jhenifer, a todo momento há dificuldades em realizar pesquisas, “nesta em específico, o principal motivo era a falta de dinheiro devido cortes de verbas pelo governo. Isso, de maneira geral, é uma realidade do Brasil. Pouco se investe em pesquisa no nosso país. Isso dificulta, muitas vezes, a continuidade dos estudos/pes-

No campo das publicações acadêmicas, uma revista científica é uma publicação periódica destinada a promover o progresso da ciência, geralmente noticiando novas pesquisas.

quisas, pois falta dinheiro, por exemplo, para comprar equipamentos, reagentes e materiais gerais para manter os laboratórios. Na época da pesquisa os recursos já não eram tão bons, então o trabalho era sempre feito em equipe.” Segundo Jhenifer, o reconhecimento foi fruto da dedicação e parceria que estabeleceu com seu orientador, o professor Gladson Bertolini, que para ela, foi peça chave no desenvolvimento do trabalho. As professoras Lucinéia Ribeiro, Rose Brancalhão, José Silva, a mestranda Lizyana Vieira e Camila Kakihata também contribuíram para a realização do estudo. É a segunda vez que o grupo é premiado pela revista: em 2016, ficaram em 3º lugar, quando concorreram com Unesp e Unicamp. Dessa vez a equipe conquistou o 2º lugar. Para o professor Gladson, é satisfatório conseguir essa premiação, “ficamos muito felizes, justamente por estarmos vivendo um período tão complicado com relação à pesquisa, é gratificante ser reconhecido nacionalmente. Mesmo com as dificuldades e concorrendo com grandes Universidades, que consequentemente acabam tendo mais apoio institucional e recursos, conseguimos uma ótima colocação, isso é resultado de muito esforço e dedicação”. A premiação em dinheiro no valor de R$ 3.000,00 reais (três mil reais) pagará parte de um equipamento que dará continuidade aos trabalhos.

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EcoFloor: do piso ao subsolo

pesquisas do interior

Da reciclagem à criação do piso drenante sustentável que promete drenar os problemas cascavelenses Keiji Okawa

Sabemos que no Brasil, a quantidade de chuva, aliada ao processo de urbanização sem planejamento, acabou se tornando umas das principais causas de alagamentos, frequentes em quase todo o nosso país, algo que em Cascavel não é muito comum de acontecer, mas ultimamente estamos começando a ver acumulações de poças d’águas em locais que até há algum tempo não se acumulava tanta água. Nessa perspectiva a cidade de Cascavel, no Paraná, vem trazendo o conceito de “cidade inteligente”, como já citado na matéria sobre “Smart cities: Cidades estruturadas, sustentáveis e humanas”, do Silvio Matos, que se encontra na página 12, a cidade realmente vem procurando algum jeito de melhorar a qualidade de vida de seus cidadãos. Olhando para essas falhas que andam surgindo na urbanização cascavelense, dois estudantes do Curso Técnico em Edificações do Centro Estadual de Educação Profissional Pedro Boaretto Neto (CEEP), pensaram em uma ideia que

Piso drenante. Foto registrada por William Okawa

pode vir a ajudar o município futuramente. Dhaiana Franco e Eduardo Drachler estiveram trabalhando na ideia da EcoFloor, um piso drenante sustentável, como citado anteriormente, o objetivo do projeto é resolver os problemas locais relacionados ao pavimento usado, ambos afirmam que o sistema de esgoto já não estão mais dando conta do trabalho. No mercado já há algo semelhante ao projeto dos dois, mas, segundo Eduardo “O nosso piso se caracteriza ‘drenante sustentável’ porque utilizamos materiais reciclados, como restos de

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Verbo. Novembro de 2019.

concreto, vidros, borrachas e entre outros”, os dois completaram 1 ano de projeto agora em outubro de 2019, mas ainda há muito a que avançar, “A gente ainda não encontramos o melhor piso, já fizemos testes com vários materiais reciclados, mas não chegamos a um piso realmente resistente”. Há um

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processo em andamento para que estes pisos sejam finalmente instalados em algumas partes do pátio escolar do CEEP, “O nosso diretor está vendo para aplicar o nosso piso no gramado do nosso pátio, mas tem toda uma burocracia envolvida, por ser uma escola pública, liberação de verba, então tem todo esse processo rolando ainda”, conta Dhaiana. O projeto faz parte de uma atividade extracurricular obrigatória da grade de iniciação científica e a dupla de estudantes tem a orientação de uma professora com experiência na construção civil. Ambos recebem apoio da Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná), e contam com três propostas de empresas que querem investir em novos testes do projeto. Neste momento, o próximo objetivo da dupla é chegar a um nível de aperfeiçoamento em que o piso possa ser usado em vias urbanas de tráfego, para assim contribuir no atual desenvolvimento da “Cascavel Inteligente”.

O que é um piso drenante O piso drenante é categorizado como ecológico, pois possibilitam o escoamento da água para o solo por meio de seus poros com muita facilidade, realizando todo processo de drenagem, assim sendo 100% permeável. O seu principal propósito é diminuir os problemas causados pela chuva, como por exemplo, as enchentes.

Tipos de piso drenante: •

Piso Drenante: Feito de concreto e Fibra Natural;

Piso Drenante: Placas de concregrama ou piso grama;

Piso Drenante: Resina e granilha;

Piso Drenante: Intertravados;

Piso Drenante: Feito com pneu reciclado.

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O efeito flúor Quando estamos bebendo água, o que pensamos? A resposta é:

absolutamente nada. Ainda bem, né? Esse é o propósito do composto líquido, quimicamente nomeado como H2O: ser insípido

(sem gosto), inodoro (sem cheiro) e incolor (transparente). Imagina beber água com gosto de cebola, com cheiro de algo podre e com cor marrom. Nojento. Porém, o foco aqui é falar sobre a fluoretação que, por lei, as estações de abastecimento são obrigadas a inserirem na água para manter o que chega até a torneira de milhões de

pesquisa do interior

Este é um projeto de pesquisa realizado por acadêmicos de Odontologia da Unioeste que mapeia a quantidade de flúor da água que chega à torneira dos cascavelenses Luis Gustavo

casas, um produto de qualidade e previne os dentes da cárie.

Essa lei é a nº 6.050, aprovada em 24 de maio de 1974, diz que toda companhia de saneamento faça uso da fluoretação no tratamento disposto à comunidade. De acordo com o artigo ÁGUA E SAÚDE:

FLUORETAÇÃO E REVOGAÇÃO DA LEI FEDERAL N. 6.050/1974, escrito por Celso Zilbovicius; Regina Glaucia Lucena Aguiar Ferreira e Paulo Capel Narvai. “Essa lei teve enorme impacto no processo de fluoretação das águas de abastecimento público, cujo início se dera no Brasil em 1953 – quando o pioneiro sistema de Baixo Guandu, no Espírito Santo, fora inaugurado. Até 1974, foi lenta a adoção da medida pelos municípios e frágil, o apoio do governo federal, mas a partir do ano seguinte, o panorama se alterou profundamente com a norma legal Trazendo essa realidade para o oeste do Paraná, em busca de um controle com relação à quantidade de flúor na água que abastece Cascavel e região, por meio da Sanepar (Companhia de Saneamento do Paraná), estudantes de Odontologia da Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná), coordenados pelo professor André Terreri, executam o projeto “Heterocontrole de fluoretos na água de abastecimento público do município de Cascavel”. A atividade, que está em desenvolvimento desde 2017, é uma iniciativa do professor que afirma que a finalidade é fazer um controle social para avaliar a qualidade da água na cidade. De acordo com o coordenador da pesquisa, o heterocontrole é importante para amostragens e para investigar como vai a saúde pública. Em Cascavel, os níveis apresentados são ótimos, porém, ele esclarece que “a quantia correta pode prevenir as cáries, mas a subdosagem perde efeito preventivo, pois pode causar a fluorose, que ocorre no período de formação dos dentes e causa desde pequenas manchas brancas até o comprometimento

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Verbo. Novembro de 2019.

total dos dentes, e isso atinge principalmente as crianças, já que elas estão mais suscetíveis a terem doenças bucais”. A técnica de fluoretação das águas de abastecimento público corresponde a ajustar e controlar os teores de fluoretos em águas de abastecimento público para que estes, após um intervalo, possam produzir o efeito de prevenção da cárie dentária. Sendo assim, salienta o professor, a concentração de fluoreto é um parâmetro relevante para a avaliação da qualidade das águas de consumo, seja pela possibilidade de prevenção da cárie dentária, quando presente em níveis adequados, seja pelo potencial de provocar fluorose dentária (manchas), quando em níveis elevados.

dos com eles. Assim, foi preciso conhecer a rede de distribuição de água do município por meio das ETA (Estações de Tratamento de Água) e suas abrangências espaciais. Para a definição dos pontos de amostragem para coleta da água durante a execução do projeto, foi utilizado o Guia de Amostragem para Vigilância da Concentração do Fluoreto na Água de Abastecimento Público, elaborado pelo Ministério da Saúde. Para o município de Cascavel, onde há três ETA com reservatórios de aplicação de flúor, ficaram determinadas, como pontos de coleta, seis UBS (Unidades Básicas de Saúde), mais próximas e mais distantes das três estações de tratamento das águas, sendo elas dos bairros: Los Angeles; XV de Novembro; Floresta; Parque Verde; Parque São Paulo e Morumbi. A equipe do projeto, durante o período, notou uma superdosagem em alguns meses do ano, o que foi rapidamente remediado. A importância do trabalho, para Terreri, está em comparar os resultados conseguidos no município com os de outras cidades do Estado. Além disso, é uma questão de interesse público. “Trinta

O estudo dos acadêmicos foi realizado com a autorização da Sanepar, sob a condição de que os resultados fossem compartilha-

por cento dos alunos que se formam aqui vão trabalhar no serviço público, e eles aprenderem esse tipo de metodologia na universidade traz impactos positivos dentro da saúde pública”.

Agradeça a Marie Curie Marie Curie nasceu Maria Salomea Sklodowska, na Polônia, em 1867. Mudou de nome quando foi para a França estudar física na Universidade Paris-Sorbonne, já que, na Polônia, a universidade não aceitava mulheres. Lá, tornou-se pioneira nos estudos sobre a radioatividade. Seus feitos lhe renderam dois prêmios Nobel: um em física e outro em química. Dentre seus feitos, estão a descoberta da radioatividade natural e identificação de dois elementos químicos: rádio e polônio. Além disso, desenvolveu um radiógrafo manual, utilizado na 1ª Guerra Mundial.

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Sabor natural de glifosato

efeitos colaterais

Brasileiros consomem cerca de sete litros de agrotóxicos por ano. Segundo especialistas, esses produtos podem causar graves riscos à saúde Esane Barreto

O Brasil consome 20% de todo agrotóxico comercializado no

mundo. Segundo uma pesquisa feita pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês), em 2013, o país foi o que mais gastou com agrotóxicos no mundo: US$ 10 bilhões.

Atualmente, 2.300 pesticidas são permitidos para o uso no país. E os produtores não pensam duas vezes quando o assunto é pôr

fim à uma praga. É que, por ano, são utilizadas média de 500 mil toneladas de defensivos agrícolas. Desse total, cerca de 80% são destinados para as monoculturas de soja, milho, cana-de-açúcar e algodão. Esse mercado é um dos que mais crescem no mundo. Nos últimos 5 anos, aumentou em 25% o consumo desses produtos. Algumas pesquisas apontam que essas substâncias não são letais apenas para pragas ou insetos, mas também contaminam alimentos, empobrecem o solo e podem causar graves doenças em animais e seres humanos. O Instituto Nacional de Câncer (Inca) realizou um estudo no qual mostra que cada brasileiro consome média de sete litros de agrotóxicos por ano. Larissa Bombardi, especialista em Geografia Agrária pela USP, aponta que, através da aquisição e aplicação de agrotóxicos, um problema de saúde pública foi identificado: a intoxicação por defensivos agrícolas. Em suas pesquisas, Larissa identificou que, nos últimos anos, 25 mil pessoas foram diagnosticadas com intoxicação e 20% desse número são crianças e jovens de até 19 anos.

O problema mora ao lado! Esse problema está bem mais próximo do que se imagina. Em Cascavel, estudantes da Escola Municipal do Campo Zumbi dos Palmares foram hospitalizadas e diagnosticadas com intoxicação por pesticidas. O fato resultou no Projeto de Lei 142/2014, sancionado em 2015, que regulamenta o uso de agrotóxicos e proíbe sua utilização nas proximidades de escolas, Centros Municipais de Educação Infantil, núcleos residenciais e unidades de saúde. Para a pesquisadora, outro problema associado a produção agrícola atual é a desvinculação do sentido da produção de alimentos enquanto nutrição humana, transformando-a em commodities (mercadorias) e agroenergia. Ou seja, a produção

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Verbo. Novembro de 2019. O pimental está no topo do ranking de alimentos com resíduos de agrotóxicos acima do permitido.

agrícola está voltada basicamente

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) coordena o

para a produção de grãos destinados

Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos

à alimentação animal. Além disso,

(PARA). O último levantamento feito pelo Programa foi em 2015.

questiona a redução de uma vasta região

Foram analisadas quase 2.500 amostras de 18 tipos de alimentos.

do território brasileiro ao cultivo de

No topo do ranking, está o pimentão, com 91,8% acima do resíduo

cana-de-açúcar, soja e eucalipto. Se

de agrotóxico permitido, seguido do morango, com 63,4%. Dos

somadas, essas áreas equivalem a quatro

alimentos analisados, a batata foi a única que não apresentou

vezes o tamanho de Portugal.

qualquer indício de irregularidade.

É sabor de glifosato?

O estudo abre ainda outras questões. Afinal, consumimos diversos

O glifosato é um dos exemplos que Larissa cita em suas pesquisas. É princípio ativo de diversos herbicidas e também o agrotóxico mais vendido do mundo. Só no Brasil, a substância está presente em 110 produtos comercializados. Com sua popularidade em alta, em 2015, a Agência Internacional para Pesquisa sobre Câncer (Iarc), parte da Organização Mundial de Saúde, fez um levantamento sobre os efeitos desse produto em seres humanos e concluiu que o glifosato poderia ser cancerígeno. “Se uma criança de 20 quilos consumir 100 gramas de soja por dia, dentro dos limites estabelecidos por lei, ela já terá extrapolado em 20% o que o seu peso corporal seria capaz de tolerar de glifosato”, diz a pesquisadora.

desses alimentos no mesmo dia. Porém, o levantamento não cruza a quantidade de agrotóxicos encontrados em uma dieta de 2 mil calorias diárias, média indicada para adultos saudáveis.

Opções de cardápio Em 2019, o Paraná se destacou pelo número de notificações de intoxicação por pesticidas. Por esse motivo, como alternativa para o problema, em alguns municípios, tornou-se lei a implantação de “cortinas verdes”. Duas fileiras de árvores, uma arbustiva e uma árborea, formam essa cortina. As árvores devem ser plantadas a 50 metros da divisa entre o núcleo urbano e a propriedade rural. Outros projetos para reduzir a utilização de agrotóxicos nas plantações estão em andamento. A agroecologia é um deles, ela promete reduzir os problemas causados pelo modelo de agricultura tradicional, dispensando agrotóxicos na produção de alimentos. Quando for ao mercado e vir bonitos morangos na bandeja, vai se lembrar do que ele pode causar à sua saúde? Por que continuamos consumindo esses alimentos se todos esses dados estão à nossa disposição? A resposta pode ser o ponto de partida para mudanças nos hábitos em busca de qualidade de vida. Da nossa e da natureza.

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Recordar ou Esquecer? O direito é seu

tcc? don’t panic!

Você já ouviu falar em Herança digital? Direito ao esquecimento? Conheça - de forma simples e sem juridiquês - seus direitos dentro da pesquisa científica Gabriela Bachinski

Não adianta negar. O sonho de todo

acadêmico e pesquisador é ver seu artigo

veiculado e compartilhado no meio científico. Afinal, ter o seu nome citado em

outras pesquisas, agrega valor e autoridade ao currículo e à carreira acadêmica.

Mas, à mesma medida que sonhamos em

memorar nosso nome, também podemos

optar por esquecê-lo. Sim, nós possuímos o direito de sermos esquecidos pela sociedade, pela opinião pública, pela imprensa e pela esfera digital. Atos praticados ou publicados no passado não podem impedir uma renovação na vida de qualquer cidadão. É nesse sentido que o Direito ao Esquecimento aparece para os pesquisadores, realizando o garantismo constitucional. Como a grande parte das pesquisas apresentam-se em plataformas digitais, é necessário deixar claro que o direito ao esquecimento é o direito de ter suas informações pessoais desindexadas retiradas de um índice ou de um índex pelos buscadores da Internet, em especial, quando tais informações não forem corretas, relevantes ou atualizadas. Logo, a consequência da desindexação é que a informação pessoal desindexada deixa de ser oferecida como resultado da busca sobre o nome da pessoa à qual se refere.

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Verbo. Novembro de 2019.

Formada em medicina pelo Centro Universitário Fundação Assis Gurgacz, Luciana Magrin - precisou recorrer ao esquecimento para desvincular seu nome de uma produção científica realizada por ela - durante sua graduação em fisioterapia. Para dar continuidade a novas pesquisas e estudos, Luciana pediu pela desindexação de seu nome. Assim, seu campo de pesquisa em medicina não foi afetado pela vinculação com artigos antigos. Por outro lado, também é uma garantia fundamental de cada pesquisador, poder assegurar que sua produção em vida seja reconhecida e transmitida – mesmo após sua morte. Ocorre que, vivemos em uma sociedade digital e não podemos mais restringir a nossa herança somente como a transferência patrimônio- corpóreo. Assim, devemos e podemos assegurar nossos bens digitais, expondo nossa vontade por meio de testamento, estipulando o critério de como seriam transmitidos os direitos sobre estes bens.

Mas o que são bens digitais? Moedas virtuais, milhas aéreas, bibliotecas digitais, músicas, vídeos, jogos online – todos, bens digitais capazes

das por e-mail e recados inbox nas mídias sociais – tam-

O passo a passo para retirar seus dados

bém são bens digitais, mas são chamados de bens de valor

1.Faça uma busca com seu nome no Google;

de possuir valor econômico – chamados de bens de valor financeiro. Já as fotos que trazem boas lembranças, mensagens envia-

emocional. O advogado Lucas Baldissera explica que, por se tratarem de bens digitais de natureza patrimonial, poderão ser administrados, bem como sofrer divisão, uma vez que possuem valor econômico, que geram direitos hereditários e, portan-

2.Selecione os resultados que deseja apagar para sempre; 3.Entre em contato com os administradores dos sites para solicitar remoção. Envie um

to, compõem a herança digital a ser partilhada. Os registros

email solicitando a remoção;

em cartório de ativos digitais tal como senhas de e-mails,

4.Se alguém estiver usando sua foto indevi-

contas bancárias e publicações de pesquisa científica já são uma prática comum.

damente em alguma rede social, você pode pedir a remoção diretamente pela adminis-

Com o Marco Civil da Internet, o google só está obrigado a

tração do site;

remover o seu nome ou qualquer outro conteúdo através de

5.Depois de removida, a informação pode

ordem judicial. Mediante Ação Cominatória de Obrigação de Fazer, com pedido de tutela antecipada ou liminar, o juiz pedirá pela exclusão de dados pessoais solicitados, sob pena de multa diária, para caso de descumprimento da ordem judicial.É um processo de baixo custo por ser simples e rápido.

ainda demorar até alguns meses para sair dos resultados da busca. Caso o resultado desejado não seja alcançado, por meio de uma ação cominatória de obrigação de fazer, será pedido pela exclusão de dados pessoas.

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