Edição 127 - Abril/Maio 2022

Page 10

ENTREVISTA

Por Sandra Silva (SP)

Por atrasos no diagnóstico, mais mortes por câncer de mama Um grupo de profissionais do Hospital Israelita Albert Einstein realizou um estudo que avaliou o impacto da pandemia de Covid-19 no diagnóstico de câncer de mama, no decorrer de 2020. Como já se suspeitava, por conta das recomendações das entidades de saúde internacionais e do Brasil, houve redução expressiva no número de exames de mama (mamografia, ressonância magnética, ultrassonografia e procedimentos invasivos) em 2020, principalmente nos primeiros 90 dias da pandemia, em comparação a 2019.

A

inda é cedo para medir vida próxima do normal) para incurável”, o real impacto futuro da destaca Bruna, que atua no grupo de Mama pandemia em pacientes e na equipe de Qualidade e Processos do diagnosticadas com cânAlbert Einstein. cer de mama de forma ESTUDO NO HOSPITAL mais tardia do que o que seria o habitual. ALBERT EINSTEIN No entanto, as evidências apontam para O estudo de coorte retrospectivo um pior prognóstico, como consequência incluiu 32.144 mulheres submetidas a exado atraso no diagnóstico, de acordo com mes e procedimentos de Dra. Bruna M. Takaki mama no Departamento Tachiabana, radiologista de Exames de Imagem do Grupo de Mama e da do Hospital Israelita equipe de Qualidade e Albert Einstein. Foram Processos do Hospital avaliados os dados coAlbert Einstein, uma letados, divididos em das autoras do estudo, dois períodos: de 24 de intitulado “O atraso no março a 21 de junho de diagnóstico do câncer 2020; e de 22 de junho de mama durante a pana 31 de dezembro de demia da COVID-19 em 2020. Os números foSão Paulo, Brasil”. ram comparados com “O atraso no diagos mesmos períodos de nóstico do câncer de 2019. mama provavelmenDra. Bruna M. Takaki Tachibana, Entre os dados obtite contribui para uma radiologista do Grupo de Mama dos, entraram na análise apresentação em esidade das pacientes, número de câncer tágios mais avançados, levando a piores de mama recém-diagnosticado, avaliação desfechos clínicos”, disse ela. Isso está final do Breast Imaging Reporting and Data embasado em outro estudo (“The impact System (BI-RADS), número e resultado de of the Covid-19 pandemic on cancer deaths biópsias, tipo histológico e molecular dos due to delays in diagnosis in England”), tumores e fatores de risco das pacientes. o qual estima um aumento entre 7,9% e Entre os achados nesse estudo está 9,6% de mortes por câncer de mama até o volume de exames e procedimentos cinco anos após o diagnóstico atrasado em de imagem da mama, que teve queda decorrência da pandemia. de 78,9% no primeiro período de 2020 Não é de hoje que os esforços são e de 2,7% no segundo período. Apesar concentrados no diagnóstico precoce. As de o segundo período chegar quase ao estatísticas da American Cancer Society mesmo patamar de 2019, o consolida(ACS) indicam que a taxa de sobrevida redo anual ficou muito aquém: 35% (ou lativa em cinco anos é de 99% para doença 5.495 pacientes) a menos de mulheres localizada (sem sinal de disseminação da submetidas à mamografia durante o ano, doença); de 86% para doença regional com apenas seis casos a menos de câncer (quando o tumor se disseminou para detectados. linfonodos ou estruturas próximas); e de De 24 de março a 31 de dezembro de somente 27% com metástase a distância 2020, foram realizados 27.215 exames de (quando se espalhou para outros órgãos). imagem da mama (mamografia, RM, ultras“Um câncer de mama diagnosticado sonografia, e procedimentos invasivos) na em estágio mais avançado pode passar de instituição, enquanto ocorreram 37.968 uma doença curável (com expectativa de

exames no mesmo período de 2019. Nos primeiros 90 dias da pandemia, Bruna conta que as pacientes submetidas à mamografia eram mais jovens, em sua maioria, e o número de câncer detectado foi três vezes maior (19,4/1.000) do que em 2019 (6,4/1.000). Outra constatação foi que, nos dois períodos do estudo, houve aumento

na proporção de exames classificados como BI-RADS 4 e 5 em relação aos BI-RADS 1 e 2, também em comparação a 2019. Para a médica radiologista, estudos futuros poderão medir os danos causados pela pandemia, no que se refere ao tratamento e ao prognóstico, em decorrência do atraso nos exames e diagnósticos.

Classificação das mamografias em BI-RADS® 1 e 2 e BI-RADS® 4 e 5 Classificação

2019

2020

Primeiro período (24 de março a 21 de junho) BI-RADS® 1 e 2

4.797 (97,3%)

693 (93,8%)

BI-RADS 4 e 5

131 (2,7%)

46 (6,2%)

Total

4.928 (100%)

739 (100%)

®

Segundo período (22 de junho a 31 de dezembro) BI-RADS® 1 e 2

8.181 (96,8%)

8.239 (96,1%)

BI-RADS 4 e 5

272 (3,2%)

336 (3,9%)

Total

8.453 (100%)

8.575 (100%)

®

Percentagem de mamografias com avaliação final BI-RADS® 4 e 5, separadas por períodos e faixas etárias. Observa-se aumento na frequência de exames classificados como BI-RADS® 4 em pacientes entre 61 e 70 anos no primeiro período de 2020, em comparação aos demais.

Exames realizados em 2020 e 2019 Tipo de exame

2019

2020

Aumento/diminuição (em %)

Primeiro período (24 de março a 21 de junho) Mamografia

5.844

948

-83,8

Ultrassom

6.298

1.513

-76,0

RM

478

141

-70,5

Biópsias

219

105

-52,1

Total

12.839

2.707

-78,9

Segundo período (22 de junho a 31 de dezembro)

10

Mamografia

10.379

9.891

-4,7

Ultrassom

12.970

12.644

-2,5

RM

1.003

1.051

+4,8

Biópsias

518

613

+18,3

Total

24.870

24.199

-2,7

ABR / MAI 22 nº 127

Após a redução acentuada em março e abril de 2020, houve um aumento gradual no número de exames. A partir de setembro, o número de mamografias durante a pandemia foi maior que o do período pré-pandemia (2019).


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.