Eduardo Garrido
A equipe realizou uma reunião com representantes do Conselho Comunitário Matronense, e, nesta ocasião, foi exposto o objetivo do projeto.
três pilares da saúde, direta ou indiretamente. Assim, o(a) médico(a) veterinário(a) é indispensável como um dos profissionais ligados à saúde da família, uma vez que, em visitas domiciliares, é capaz de diagnosticar riscos e promover a educação em saúde, atuando na saúde pública local, o que abre espaço para o reconhecimento da profissão, além do estereótipo restrito ao centro de controle de zoonoses do município. Contextualizando, o(a) médico(a) veterinário(a) tem o desafio de transpassar o conteúdo de cursos ligados à saúde e relacionar suas competências técnicas e tecnológicas, que foram intensamente trabalhadas na graduação, com o conhecimento humanístico e social. No caso específico deste projeto, o desafio foi inserir a medicina veterinária em comunidades tradicionais, permitindo o aprendizado de um outro conhecimento, aquele que não está dentro dos muros acadêmicos, mas está infiltrado nas memórias sociais: os conhecimentos e saberes tradicionais. Saberes que, muitas vezes, são desacreditados pela comunidade científica. Foi nesse ambiente desafiador que o grupo, em parceria com o NúRevista de Extensão do IFNMG
cleo de Estudos, Pesquisa e Extensão Afro-Brasileira e Indígenas (NEABI) do Campus Salinas, ultrapassou os muros da academia e foi inserido em Nova Matrona, distrito de Salinas, tendo, como apoio, o Conselho Comunitário Matronense, que vem trabalhando para o reconhecimento da comunidade como quilombola. Dessa maneira, poder resgatar as memórias quanto à cura na comunidade foi um processo que contribuiu não só para o desenvolvimento das capacidades humanísticas e sociais da equipe, mas também para o olhar de seus(suas) moradores(as) para o passado, ao tempo em que se usava a natureza no dia a dia, quando os rituais, rezas, benzimentos, ervas e plantas medicinais e, até mesmo, os animais eram usados por um ancião/ anciã desta comunidade. Tempos nos quais a confiança e os cuidados eram dispensados de forma igualitária na comunidade, repassando-se a cura por meio da oralidade. A equipe realizou uma reunião com representantes do Conselho Comunitário Matronense, e, nesta ocasião, foi exposto o objetivo do projeto, de registrar/resgatar os saberes tradicionais de cura para as doenças, tanto em humanos como
em animais da comunidade. A presidente do Conselho acompanhou o grupo nas visitas domiciliares iniciais e, posteriormente, essas visitas foram direcionadas pelo método Snowball, em que um(a) entrevistado(a) indica o(a) próximo(a), baseando-se na relevância do conhecimento que a pessoa seguinte possa proporcionar. Todas as entrevistas foram conduzidas na forma de entrevistas semiestruturadas e os áudios foram gravados. As pessoas entrevistadas assinaram Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, e suas identidades foram mantidas em sigilo. Foi perceptível a perda da tradição e transmissão oral da cura por técnicas tradicionais, sendo a procura maior pelo posto de saúde que por benzedeiras, curandeiras, e, até mesmo, por conhecimentos sobre chás e outras formas de utilização de plantas ou produtos animais. Contudo, após um dos entrevistados mencionar que, embora fosse ao posto de saúde, a família utilizava também ervas e plantas na preparação de chás e, segundo suas palavras, “tratar para curar não, mas que alivia, né?”, percebemos que o fato de o quintal sempre ter uma planta, ou haver alguma memória de cura/alí127