Jornal do Campus - Edição 429 (ago/2014)

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Jornal do Campus www.jornaldocampus.usp.br

Segunda quinzena | agosto 2014

nº 429

ano 32

Greve na USP completa três meses PEDRO PASSOS

Funcionários, alunos e professores não conseguem diálogo com a reitoria p. 7

EACH volta ao campus USP Leste Censo avalia opinião sobre a greve

PEDRO PASSOS

As aulas voltaram no último dia 18, depois de sete meses de interdição da unidade p. 6

Pesquisa realizada com universitários mostra diferentes posições sobre o tema p. 8

Questão Palestina Novos confrontos reacendem discussão p. 11

MARIA BEATRIZ MELERO

Sábado passado, dia 23, atletas, amigos e familiares de Álvaro Teno compareceram à Praça do Relógio para ato em repúdio ao acidente que o matou e feriu mais quatro pessoas. O acontecimendo abriu debate para a questão da convivência no trânsito. p. 16

Entrevista com Fábio Hideki Após 45 dias preso, estudante conta sobre os dias em Tremembé p. 3 JACQUELINE MAGALLANES

Black Run homenageia corredor atropelado


OPINIÃO

“Fábio foi alvo de uma grande injustiça” Ações policiais arbitrárias desagradaram comunidade da ECA. Agora, manifestante responde a processos em liberdade O caso da prisão de Fábio Hideki Harano, 27, estudante de Jornalismo e funcionário da USP, gerou revolta em diversos setores da Universidade, principalmente entre os trabalhadores e alunos da ECA. Ele foi preso em um ato em 23 de junho, acusado de associação criminosa armada, desobediência e posse de artefato explosivo. Depois de passar mais de 40 dias em cárcere, Harano deixou a Penitenciária 2 de Tremembé, no interior de São Paulo, no dia 7 de agosto. A decisão por sua libertação ocorreu após seu advogado e a Defensoria Pública protocolarem pedidos de reconsideração da prisão preventiva. Os advogados tomaram como base o laudo da Polícia Militar, que comprovou que o material encontrado com o estudante no momento da prisão não era explosivo. Agora, Harano busca se isolar: enquanto aguarda seu julgamento, evita se expor, falar ao telefone ou trocar mensagens pela internet. Antes, durante e depois A estudante de Artes Plásticas Renata Passos estava presente na manifestação do dia 23 de junho e contou um pouco do que viu: “Não estava lá no momento em que o Hideki foi preso, porque isso aconteceu depois da passeata. Sei que foi uma manifestação complicada, com um efetivo policial totalmente

desproporcional ao número de manifestantes”, lembra. “Tínhamos combinado que iríamos até o fim da Avenida Paulista, daríamos a volta e acabaríamos no MASP. Quando chegamos no museu, porém, nos separamos. O Hideki foi preso depois de ter se dispersado totalmente da manifestação, quando estava sozinho no metrô. Isso é um ataque muito grave, não somente a ele, especificamente, mas também à possibilidade de mobilização da população”, opina Renata. Para ela, nada justifica a prisão de Harano: a ação foi totalmente arbitrária. Giulia Confuorto, aluna do terceiro ano do curso de Artes Cênicas da ECA, partilha da mesma opinião. “Prenderam o Hideki sob a alegação de porte de explosivos, sendo que tem um vídeo na internet mostrando que isso é mentira”, defende. Para Giulia, as recorrentes atitudes da Polícia são uma prática plenamente consciente do atual governo para intimidar os ativistas. “Depois das manifestações do ano passado, o governo viu que a

Expediente – Jornal do Campus Nº 429

população percebeu que ela pode ir pra rua, lutar e vencer. A prisão do Hideki se encaixa nesse contexto de intimidação e, infelizmente, é natural que as pessoas fiquem com medo, mesmo”, lamenta. O professor da ECA e jornalista Eugênio Bucci também comentou o ocorrido: “A partir dos dados produzidos pela própria perícia, ficou provado que o Fábio foi alvo de uma grande injustiça. Não havia elementos suficientes que justificassem o tempo que ele ficou preso. É claro que, como qualquer cidadão, ele pode sofrer acusações, mas estas não podem ser arbitrárias. Mais ainda: ele tem o direito de responder a quaisquer acusações em liberdade,

Tiragem: 6.000 exemplares

Universidade de São Paulo – Reitor: Marco Antonio Zago. Vice-Reitor: Vahan Agopyan. Escola de Comunicações e Artes – Diretora: Margarida Maria Krohling Kunsch. Vice-Diretor: Eduardo Monteiro. Departamento de Jornalismo e Editoração – Chefe: Mayra Rodrigues Gomes. Chefe Suplente: Ciro Marcondes Filho. Responsável: Daniela Osvald Ramos. Redação - Diretora de Redação: Júlia Pellizon. Diretor de Arte: Thiago Quadros. Editora de Imagem: Ana Helena Baptista Rodrigues. Editor Online: Dimitrius Pulvirenti. Opinião - Editor: Otávio Nadaleto e Maria Beatriz Melero. Repórteres: Anaís Motta, Maria Alice Gregory e Rafael Bahia. Universidade - Editoras: Sara Baptista, Ana Luisa Abdala e Ana Carolina Leonardi. Repórteres: Carolina Shimoda, Pedro Passos, João Paulo Freire, Ana Carla Bermúdez, Thiago Neves e Giovana Bellini. Em Pauta - Editora: Bruna Larotonda. Repórteres: Gabriel Lellis e Thaís Matos. Cultura - Editora: Gabriela Romão. Repórteres: Victória Salemi e Fabíola Costa. Esporte - Editora: Maria Beatriz Melero. Repórter: Breno França. Ciência - Editor: Arthur Aleixo Repórter: Thaís Freitas. Endereço: Av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 443, bloco A, sala 19, Cidade Universitária, São Paulo, SP, CEP 05508-900. Telefone: (11) 3091-4211. Fax: (11) 3814-1324. Impressão: Gráfica Atlântica. O Jornal do Campus é produzido pelos alunos do 4° semestre do curso de Jornalismo Matutino, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo Impresso II.

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salvo em alguns casos excepcionais previstos pela lei. Os elementos que constam no processo indicam que isso não se deu, tanto é que o próprio judiciário concluiu que o Fábio deveria ser solto”, afirma. Sobre a postura da ECA e dos outros estudantes em relação ao caso, as alunas citadas anteriormente acreditam que houve omissão. Para Renata, a Escola falha em relação a tomadas de atitude, não apenas com o caso Harano, mas também com outros processados. Giulia acredita que a falta de posicionamento da unidade é problemática e deixa claro que muitas vezes a própria ECA se coloca contra os movimentos que acontecem dentro da USP. “O Hideki ficou mais de 40 dias em cárcere e não houve nenhuma postura efetiva da ECA em relação a isso. Talvez não seja apenas negligência, mas também um posicionamento político específico”, opina. Já Bucci discorda. “Cerca de dez dias depois da prisão, eu e os outros professores do departamento [de Jornalismo e Editoração] aprovamos um documento que foi enviado para a defesa do Fábio. Da nossa parte, eu não vejo omissão. Sempre acreditei que, quando um aluno nosso passa por algum tipo de situação difícil, não necessariamente de natureza criminal, nós devemos oferecer algum tipo de apoio a ele”, afirma. por Anaís Motta


ENTREVISTA

Prisão foi para coibir ativistas, diz Hideki Em entrevista ao JC, o estudante e funcionário da USP afirma que foi “bode expiatório” para inrimidar outros manifestantes

Em coletiva, foi dito que você foi um “preso eleitoral”. Você poderia explicar melhor? As prisões de junho serviram para “mostrar serviço”, para atender a uma demanda de setores da sociedade – influentes, por sinal – que cobravam punição aos black blocs, com ou sem fundamento. No momento da prisão, você usava o EPI (equipamente de proteção individual). Sua conduta não era agressiva. Você acha que isso serviu para te marcarem? Certamente. Policiais civis do DEIC disseram que receberam ordens de me seguir e me prender. A polícia já estava ultrajada com o japonês cabeludo e de capacete que procura garantir o direito de continuar se manifestando. Não seria o caso se eu fosse alguém que só vai a manifestações para fugir à primeira bomba e depois chorar as pitangas na internet. A impressão que tenho é de que fui pego como bode expiatório, para que muitas pessoas ficassem com medo de participar de manifestações, mesmo que eu não fique alguns anos na cadeia. Existe a possibilidade de você ser preso novamente? Sim. Estou apenas respondendo em liberdade. A prisão preventiva, que deveria ser aplicada apenas em casos gravíssimos, infelizmente é muitíssimo comum. Foi só disso que me livrei. Dependendo do resultado do processo, é capaz sim de eu ser condenado a reclusão.

REPRODUÇÃO | YOUTUBE

No dia 23 de junho, Fábio Hideki Harano foi preso dentro da estação Consolação do metrô. O que se seguiu foram 46 dias de reclusão em Tremembé, sem que houvesse evidências de que portava explosivos no momento de sua prisão. Hoje, ele responde em liberdade processos por desobediência, incitação ao crime, porte de material explosivo e associação criminosa. Estudante de jornalismo e funcionário da USP, Hideki se propôs a conversar com o Jornal do Campus. A entrevista completa está no nosso site.

Se eu for condenado por desobediência, incitação ao crime e associação criminosa, a pena acumulada não chega a me levar a reclusão. Acontece que, sobre o porte de explosivo, a farsa se sustenta com um papo de que pode ter acontecido evaporação do material. E sua vida agora como está? Você disse que está de molho. Tendo em vista meu relativo isolamento social, não estou mais participando da greve como delegado do comando de greve. Não tenho feito aparições públicas em assembleias e manifestações. Nem festas eu tenho frequentado! Tenho ficado muito em casa e participando da greve sem ser delegado, piqueteiro, manifestante. Você é ligado ao Sintusp. Quais suas considerações sobre a situação da USP, a greve e a nova gestão? Sobre a greve, eu a considero mais do que legítima. Costumo dizer que “greve” em inglês é strike. E essa é a ideia. Não é simplesmente parar de trabalhar. A greve envolve manifestação e pressão, tendo em vista que as tão elogiadas vias do diálogo mais uma vez se mostraram exaustivamente infrutíferas. Com filhos para criar, casas para cuidar e vidas a tocar, como fazer movimentação cumprindo expediente normal de serviço? A greve acontece quando a normalidade é insuficiente para a expressão da luta popular. Sobre a (sic) nova REItoria, a gestão Zago é continuidade da gestão anterior. Rodas brincou de banco imobiliário com a USP, gastando rios de dinheiro com construções faraônicas, desmatamentos e aluguéis absurdos. Mas o dinheiro não era de mentirinha. Havia deixado um enorme abacaxi para qualquer um que o sucedesse, e acabou que foi o Marco Antonio Zago. Intransigências por parte do reitor, legado maldito de Rodas, contas da USP fechadas à comunidade, planos de desvinculação de serviços de saúde, como o HU, e falta de democracia de base são algumas questões que a (sic) REItoria, o governo

do estado de São Paulo e grande parte da assembleia legislativa vêm tratando como um tabu. Em algum momento você achou que não seria solto? Sim. Eu em Tremembé procurei lidar com a possibilidade de ficar preso até o julgamento, de passar Natal e Ano Novo na penitenciária,

tendo em vista a perseguição escancarada e as negações de habeas corpus por parte do estado. Reitero que, apesar de Tremembé ser bem menos ruim que muitos lugares sujos, insalubres e superlotados, não é bom estar preso. Eu não via a hora de sair de lá. por Rafael Bahia

OMBUDSMAN A era de ouro da inovação Não vou mentir para você. Daqui da minha mesa, naquele prédio alto não muito longe da Cidade Universitária, do outro lado do Rio Pinheiros, o clima é meio desolador. Minha caixa de email está cheia de mensagens de despedida de colegas que estão sendo desligados da Abril, empresa na qual trabalho. São tempos difíceis na indústria tradicional de mídia. E são também tempos de incerteza no jornalismo, o ofício escolhido pelos estudantes que apuram, escrevem e editam este calhamaço de papel dobrado que você tem em mãos. Mas apesar da crise, eu nunca na minha vida tinha visto tanto jornalismo excepcional ser feito. Em meio às lamentações, tem um monte de projetos

inovadores fazendo sucesso. Por sorte, a Superinteressante, onde trabalho, é um deles – mas o mais legal é que agora bom jornalismo pode surgir longe de prédios altos como este aqui, das mãos de times independentes. A indústria está em crise, mas vivemos a época de ouro da inovação jornalística. Inovação se faz em laboratório, e o Jornal do Campus é um jornal-laboratório. O que eu espero dele, portanto, enquanto assumo a função de ombudsman por um semestre, é que ele faça esse papel. Que experimente. Que erre. Que ouse. Que cause impacto na vida das pessoas. Que ajude a inventar o jornalismo do futuro. Denis Russo Burgierman escreveu para o Jornal do Campus em 1993, como aluno. Hoje é diretor de redação da Superinteressante. denis.burgierman@abril.com.br

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OPINIÃO

Vagão rosa divide opiniões entre mulheres Proposta de lei sobre a criação do vagão exclusivo para mulheres retorna a polêmica sobre o machismo na sociedade Milhares de mulheres sofrem diariamente com o abuso nos meios de transporte público. A superlotação desses ambientes cria um contexto de desconforto muito grande para a mulher, que se vê silenciada e obrigada a aturar passadas de mão e outros tipos de assédio como se fossem consequências naturais e obrigatórias do transporte nesses horários. Colocando em pauta essa questão na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), no dia 3 de julho foi aprovado o projeto de lei que propunha a criação do “vagão rosa”, um vagão exclusivo para o uso feminino nos trens da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) e do Metrô. Embora o projeto já tenha sido vetado pelo governador Geraldo Alckmin, a medida chamou a atenção de diversos coletivos feministas de São Paulo, e provocou um enorme debate sobre a validade da proposta - e se sua aplicação efetiva realmente teria as consequências desejadas. Só no começo deste ano, a Delegacia de Polícia do Metropolitano (Delpom) prendeu mais de

30 homens que se aproveitavam da superlotação para abusar de passageiras. Assim, o Projeto de Lei 175/2013, referente à criação do vagão rosa e de autoria do deputado Jorge Caruso (PMDB), propunha que os trens da CPTM e do metrô destinassem um vagão em cada composição para o uso exclusivo das mulheres, a funcionar diariamente nos horários de pico, exceto fins de semana e feriados. A ideia seria criar um espaço seguro para a mulher. A discussão entre os diversos coletivos feministas se deu em torno do caráter paliativo da medida, uma vez que somente a sua implantação não necessariamente mudaria o quadro do machismo no transporte público.

No Coletivo Feminista da Escola de Comunicações e Artes, realizou-se um debate por meio da internet. “Senti que foi uma discussão bem longa, com várias pessoas participando e opiniões bem diferentes”, comenta Julia Porchat, integrante do Coletivo e a favor da medida. Andreza Delgado, também do Coletivo e integrante do Movimento Passe Livre (MPL), se posicionou contra a implantação do projeto durante as discussões, criticando o limite do debate ao âmbito virtual. “Foi bem rico o debate até da parte de quem era a favor”, explicou. Fora da Universidade, Andreza frequentou uma série de movimentos e atos em favor do veto ao projeto de lei. O coletivo não formou uma opinião oficial por conta da variedade de opiniões expostas durante os debates. Na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, a discussão tomou outra proporção. No dia 13 de agosto, estudantes e representantes dos coletivos Mulheres em Luta, Marcha Mundial das Mulheres e Levante reuniram-se para ato-debate sobre o tema do vagão

rosa a fim de propor um debate frutífero e fora do espaço virtual. Letícia Pinho, que representava o Mulheres em Luta, chamou atenção para o fato de que a criação de um vagão exclusivo não é a solução para o problema a longo prazo. Contudo, reconhece sua necessidade na situação atual das mulheres que frequentam o transporte público, assim como as delegacias do metrô (atualmente só existentes na estação Barra Funda) e o combate à superlotação dos trens como um todo.

O auditório do Largo São São Francisco foi palco de debate sobre a polêmica proposta de criação do vagão rosa

por Maria Alice Gregory

ANA CARLA BERMÚDEZ

Debate na USP Na USP, apesar de a polêmica se passar durante o período de férias, o debate foi bastante fomentado nas redes sociais e trouxe, dentro dos coletivos dos diferentes cursos, argumentos bastantes pertinentes tanto das defensoras quanto das que se posicionavam contra os vagões.

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Argumentos contrários Por outro lado, Patrícia Rodrigutes, que representava a Marcha Mundial das Mulheres, e Ananda Felisberto, representante do coletivo Levante, apresentaram ideias contrárias às apresentadas anteriormente. “A superlotação não justifica uma medida como essa”, lembrando da existência de outros projetos semelhantes como a criação de um “ônibus rosa”. No debate, ela ainda pontua que desde 2006 existe o vagão rosa no Rio de Janeiro e, mesmo assim, os casos de abusos não são evitados. “O governo do Estado não tem políticas públicas para as mulheres - e quando tem, não funcionam”, completou. Ananda, que foi vítima de violência sexual no metrô, às 11h da manhã, também chamou atenção para a necessidade de educação da população no combate ao machismo. A respeito da conscientização para o machismo no transporte público, Ananda sugeriu a utilização da TV do metrô como meio para campanhas sobre o tema. Ainda assim, apesar de a concepção do vagão ser uma medida paliativa, é importante a criação do hábito para o debate de temas como o assédio e o abuso de mulheres em qualquer esfera do espaço público, seja ele no transporte, na rua, no trabalho ou em áreas de lazer. O projeto de lei pode ter sido vetado, mas a discussão ainda está longe de acabar.


CULTURA

Greve modifica cenário cultural da USP Mesmo com eventos suspensos, nova programação fomenta debates sobre democracia, acesso à Universidade e cidadania VICTORIA SALEMI

A greve na USP já dura três meses e tem originado diversas atividades culturais. Em conjunto com uma comissão de mobilização, composta por docentes em assembleia que decidiu pela greve da categoria, funcionários e alunos dos departamentos também se organizam para promover espaços de debate. A Faculdade de Educação, por exemplo, durante os meses de agosto e setembro, recebe a exposição “Verás que um filho teu não foge à luta - A História da Luta Democrática no Brasil”. O evento reúne imagens e textos sobre movimentos sociais históricos ocorridos no país, incluindo o Golpe de 1964 e as Greves de 1968 e do ABC. Já na Escola de Comunicações e Artes (ECA), professores e alunos do curso de Educomunicação criaram um espaço para discutir o contexto universitário durante o período de greve. Todas as quartas-feiras, às 19h30, acontece o evento “Atividades culturais e analítico-reflexivas do período de greve na ECA-USP”, no Auditório Paulo Emílio. “O CCA (Departamento de Comunicações e Artes), em greve, decidiu que o processo exigiria muito mais do que parar as atividades. Exigiria possibilitar um debate constante entre alunos, professores e servidores-técnicos-administrati-

Exposição na Faculdade de Educação aborda influência estudantil nos movimentos sociais do país desde 1964 vos sobre questões que envolvem diretamente a USP e também outros elementos da cidadania”, afirmou Ricardo Alexino Ferreira, professor do departamento. A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) também se mobilizou. Até o dia 29 de agosto, acontece a “Semana da memória, cultura e resistência: cotas e as lutas do povo negro”, promovida

AGENDA CULTURAL Desde assembleia realizada no dia 27 de maio, a comissão de mobilização formada por docentes é responsável pelas atividades culturais de greve na USP. Confira a programação* dos dias 28 e 29: • •

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28/08

A USP e seus Mestres: “Mario Schenberg: convívio e valores” com Luiz Carlos Menezes - Auditório Adma Jafet - Física (18h) Semana da Memória, Cultura e Resistência: Cotas e a Luta do Povo Negro - “Mulheres negras em suas múltiplas agências” Auditório da Geografia - FFLCH (19h)

29/08

Sarau por cotas na USP - Espaço Aquário - FFLCH (18h) Semana da Memória, Cultura e Resistência: Cotas e a Luta do Povo Negro - “Culturas Afro-brasileiras e suas dinâmicas de resistência” - Auditório da Geografia - FFLCH (19h)

*Veja a agenda completa no site do JC: www.jornaldocampus.usp.br

por alunos do curso de História, bolsistas do Programa de Educação Tutorial (PET-História USP), pelo Centro Acadêmico de História (CAHIS USP) e por membros do Núcleo de Consciência Negra. Segundo integrantes do PET, o evento promove a discussão de temas relacionados a experiências históricas da população negra brasileira, em convergência com demandas encampadas pelo Movimento Negro. Durante a greve, o objetivo seria fomentar o debate sobre cotas e acesso à Universidade entre os estudantes, e propiciar a extensão dos conhecimentos produzidos no ambiente universitário para fora dos muros da USP. Cancelamentos Por outro lado, a greve também causa alguns prejuízos culturais. Não só aulas e serviços foram interrompidos em várias das unidades, como muitos eventos extracurriculares tiveram de ser suspensos. Em alguns locais, a programação foi paralisada pelo bloqueio de parte dos prédios que abrigariam os eventos. No site do Cinusp, por exemplo, há um aviso dizendo que a programação está suspensa por conta da impossibilidade de acesso à

sala. Caso similar ocorre com o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), que teve o Café Acadêmico do último dia 7 cancelado em virtude do fechamento do prédio pelo Sintusp. Outras unidades, como a Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin e o Museu da Maria Antônia, também tiveram a programação afetada pela falta de funcionários. A biblioteca, como o IEB, teve um Café Acadêmico cancelado. No Maria Antônia, cursos que deveriam ter acontecido em junho serão remarcados, mas não se sabe para quando. Para Fabiana Jardim, professora da Faculdade de Educação (FE) e participante da comissão de mobilização dos docentes, a greve é um espaço de formação, já que o debate entre pessoas de diversas unidades propicia a união de perspectivas pluridisciplinares. “O ideal seria que tivéssemos condições de garantir espaços de diálogo sobre a Universidade mesmo em tempos ‘normais’. Talvez um dos ganhos dessa greve seja a explicitação de quão ‘anormais’ têm sido os tempos no que se refere à cultura universitária que defendemos”, concluiu. por Fabíola Costa e Victoria Salemi

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UNIVERSIDADE

EACH reabre para aulas após interdição Alunos ainda se sentem inseguros quanto a permanência no campus, que permaneceu fechado no último semestre

Insegurança O reitor Marco Antônio Zago, acompanhado do representante da Superintendência de Espaço Físico da USP, Osvaldo Nakao, fez uma visita à unidade no último dia 20 para acompanhar a retomada das atividades na EACH e conversar com a direção da Escola e alguns alunos. Uma das questões abordadas foi a não-assinatura de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) pela Cetesb que, apesar de ter liberado a reabertura do campus, apontou outras medidas cabíveis à universidade, que ainda não foram tomadas, para garantir a segurança e funcionamento do espaço. Salete Perroni, que é aluna do programa de pós-graduação em Mudança Social e Participação Política e membro da Comissão Ambiental criada no ano passado, reclama do pouco diálogo da administração da Universidade e da Escola e do pouco espaço que tem sido dado aos alunos na tomada de decisões que afetam diretamente a rotina acadêmica. Perroni afirma que existe uma preocupação geral por parte dos estudantes para que as medidas assumidas pela EACH, que garantem a reocupação completa e consciente do campus, sejam, de fato, executadas.

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Paula Freitas, aluna do curso de Lazer e Turismo, disse que “a volta no campus era um desejo de todos, não pela facilidade de ter a graduação, sessão de estágio e biblioteca reunidas, mas por termos um lugar que nos pertence. Todo o processo de interdição até a retomada do campus só mostra o descaso do reitor. Mesmo de volta, é notável a atmosfera de insegurança e incerteza”. As aulas acontecem regularmente para os alunos de graduação e pós-graduação. Foi feita uma reunião de boas-vindas com a

para o funcionamento da tenda de atividade física. Em nota, a assessoria da EACH afirmou que “a nova licitação está em preparação” e que “instalações provisórias foram providenciadas e estão em processo de adaptação”. Interdição EACH No começo do ano, a juíza Lais Amaral emitiu liminar que sus- pendeu as atividades no campus e determinou a realocação da rotina acadêmica para um espaço adequado.

Templo de Salomão, da Igreja Universal, na região central do Brás. A diretoria da Escola preferiu não se posicionar quanto à polêmica, mas afirmou que está disposta a colaborar com as investigações, apesar de a estrutura do campus ser uma responsabilidade da USP, e não da EACH. Greve na USP Questionada sobre a possibilidade de alunos e funcionários aderirem à greve da USP, a direção da Escola declarou que as JOÃO PAULO FREIRE

As aulas no campus da USP-Leste foram retomadas no último dia 18 depois de o espaço ter sido interditado por mais de 7 meses devido a questões ambientais. Com a instalação de equipamentos necessários à captação e ventilação de gás metano, a Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) emitiu parecer favorável à desinterdição do campus no fim de julho. Para os calouros que ingressaram na universidade no semestre passado, essa foi a primeira vez que entraram no campus da USP para ter aulas nos prédios da EACH (Escola de Artes, Ciências e Humanidades). O segundo semestre letivo do ano, que começou com duas semanas de atraso em relação ao calendário oficial da Universidade, deve durar até 19 de dezembro.

No primeiro dia de aula, alunos da USP-Leste circulam pelo campus depois de meses de interdição direção da Escola aos calouros. Segundo Maria Cristina de Toledo, diretora da EACH, os espaços e ferramentas do campus estão funcionando normalmente. No entanto, um tapume cerca uma área extensa com terra contaminada. 23 bombas foram instaladas no campus pela empresa Weber Ambiental para ventilar o metano. Carlos Frederico, representante da empresa, explicou que, com o sistema de tubulação instalado, o gás inflamável, mas não tóxico, se dissolve no ar e não oferece nenhum risco à saúde dos alunos. O campus também apresenta um impasse quanto ao ginásio de esportes, que está em reforma, e à necessidade de nova licitação

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Foi descoberta a presença de gás metano no subsolo do campus, com risco de incêndio e explosão. Além disso, devido a um aterro implantado de forma ilegal, o solo foi comprometido com substâncias tóxicas e cancerígenas. A água foi contaminada devido à ausência de um sistema de captação e reserva adequados. O campus também apresentou problemas com infestação de pombos e ácaros. A Cetesb emitiu laudos que confirmavam a inadequação do campus o que fundamentou a decisão judicial pela interdição do espaço. O Ministério Público investiga a possibilidade de descarte ilegal no campus de terras contaminadas oriundas da construção do

greves já fazem parte da rotina da universidade e as unidades devem se adequar aos diferentes níveis de paralisação. Servidores de toda a USP, inclusive alguns da USP-Leste, entraram em greve parcial no fim de maio em manifestação contra o arrocho salarial apresentado pela reitoria no começo do ano. A paralisação já se estende por três meses. Nalim Granzotto, aluna de gestão de políticas públicas da EACH e representante do Centro Acadêmico Herbert de Sousa, disse que é improvável que os alunos da Escola entrem em greve. por João Paulo Freire


UNIVERSIDADE

Desvinculação do HU é cogitada por Zago Centrinho de Bauru já foi transferido na última reunião do CO mais um dos institutos ligados à autarquia especial do Hospital das Clínicas, que é administrado pela Fundação Faculdade de Medicina, em regime de parceria público-privada. O Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp), a Associação dos Docentes da USP (Adusp) e o Diretório Central dos Estudantes (DCE) se mostraram contrários à iniciativa de desvincular o hospital, pois o processo levaria à perda de qualidade no tratamento dos pacientes. “Não queremos que o HU deixe de ser referência na medicina e de cumprir seu papel de trazer extensão à sociedade das pesquisas na área da saúde, feitas na universidade” disse Donizete, funcionária do hospital. Os médicos do HU declararam não apoiar a medida por entender que a mudança prejudicaria a formação dos estudantes de medicina. “Se formar recursos humanos com qualidade para atender a população, fazer pesquisas baseadas nas necessidades das pessoas, prestar atendimento com qualidade às pessoas do nosso distrito não forem missões da universidade, não entendemos o que possa ser” afirmou em nota Gerson Salvador, diretor do Sindicato dos Médicos de São Paulo (Simesp) e médico no HU.

ANA CARLA BERMÚDEZ

A transferência do Hospital Universitário (HU) e do Hospital de Reabilitação de Anomalias Craniofaciais de Bauru (HRAC) para a Secretaria Estadual de Saúde foi listada em um documento vazado da reitoria e publicado na Folha de S. Paulo. Um inquérito foi aberto para investigar como foi o plano foi difundido. As desvinculações fazem parte das propostas da administração universitária para solucionar o problema financeiro enfrentado desde o início do ano. Em reunião do Conselho Universitário na tarde de ontem no IPT, a proposta do HRAC foi aprovada. Já a questão do HU foi tirada de pauta por um prazo de 30 dias. O documento dá como justificativa para a desvinculação do HU a recomendação por parte da Secretaria de Saúde, que considera inadequada a administração de grandes instituições de saúde por uma universidade. O texto também coloca como motivação a incapacidade financeira da USP de renovar pessoal ou ampliar seus serviços. A Secretaria de Saúde assumiria imediatamente a gestão e os investimentos, enquanto que os funcionários serão progressivamente substituídos. A reitoria incluiu a possibilidade de o HU ser incorporado como

Protesto ontem contra a desvinculação do HU em frente a reunião do CO

Greve no HU Cerca de 30% dos funcionários do Hospital Universitário já estava paralizado desde o dia 27 de maio, lutando por um reajuste salarial, mesmo antes das notícias tratando do projeto de desvinculação. Os médicos que atendem no local promoveram uma paralisação de uma semana, entre os dias 16 e 20 de junho, realizando um esquema de revezamento para o atendimento no plantão emergencial. De acordo com o Sintusp, parte dos servidores foi alvo do corte de ponto, havendo desconto de 32 dias parados mesmo para funcionários que cumpriam a escala mínima prevista em lei. Ainda assim

o sindicato afirmou que o número de trabalhadores que voltou aos seus postos de trabalho temendo a represália foi mínimo. A direção do hospital também vinha afirmando que a greve dos funcionários impedia a circulação e o atendimento no pronto-socorro do hospital e que por isso pacientes socorridos pelo SAMU e pelo Corpo de Bombeiros não estariam sendo levados para a unidade. Os funcionários desmentiram a afirmação, mostrando uma placa com a frase, “Pronto-socorro em reforma, procure a AMA ou UBS mais próxima”.

por Pedro Passos

Reitor propõe PDV para solucionar crise PDV é outra medida de desmanche da USP adotada pela atual gestão A implementação de um programa de demissão voluntária (PDV) é uma das alternativas propostas pela reitoria da Universidade de São Paulo para superar a atual crise econômica da instituição. A expectativa da administração da USP é de que haja a adesão ao programa de cerca de 2800 funcionários com idade entre 55 e 67 anos e com, no mínimo, vinte anos de contribuição. Tal decisão foi tomada em uma reunião conjunta, no dia 15 de agosto de 2014, entre o reitor Zago, o vice-reitor Vahan Agopyan e cerca de 80 diretores de Unidades de Ensino e Pesquisa, Institutos Especializados, Museus e Órgãos Centrais. Além do programa de demissão voluntária, na reunião foram apresentadas outras propostas, como um projeto de flexibilização da jornada de trabalho. Essas medidas foram debatidas ontem no Conselho Universitário e serão levadas hoje para uma reunião no Tribunal Regional do Trabalho. Segundo o reitor Zago, em vídeo enviado à comunidade acadêmica, com o programa de demissão voluntária, a USP fará um investimento inicial de até 400 milhões de reais e, com isso, espera obter uma redução de 6% dos gastos com a folha de pagamento .

Na mensagem gravada, Zago considera também que os gastos exorbitantes com a folha de pagamento se devem ao “excesso de servidores técnico-administrativos e aos benefícios [concedidos] aos servidores, muito acima da média dos valores dos docentes e dos servidores das outras duas universidades paulistas”. As “medidas estruturais” da Reitoria da USP visando à desoneração da folha de pagamento de servidores soaram para a comunidade universitária como um desmanche da mais antiga universidade do Brasil. Assim que o PDV e as demais medidas da Reitoria foram anunciadas, milhares de pessoas dos três segmentos das universidades públicas paulistas se organizaram, no dia 14 de agosto em uma marcha rumo ao Palácio dos Bandeirantes para apresentar ao governador suas reivindicações. Os funcionários técnico-administrativos, diretamente atingidos pelo PDV, programaram um fechamento dos portões da entrada principal da Cidade Universitária no bairro do Butantã no dia 20 de agosto. Foram, porém, duramente reprimidos pela Polícia Militar.

por Giovana Bellini

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UNIVERSIDADE

Pesquisa revela opinião estudantil sobre a greve Projeto Censo Universitário revela opinião de mais de 800 alunos sobre a crise orçamentária e as mobilizações na USP Uma pesquisa realizada por alunos da Escola Politécnica da USP pode ajudar a esclarecer o entendimento dos estudantes da Universidade sobre a atual greve, que se estende há 90 dias. O projeto Censo Universitário, organizado por Alessandro Andrade e Fernando Salaroli, entrevistou 869 alunos da USP nos dias 5 e 6 de agosto, para investigar suas opiniões em relação à greve e à crise orçamentária pela qual passa a Universidade.

Segundo Salaroli, a pesquisa não tem como intenção a comprovação de um ponto de vista em relação à greve. Isso porque ela faz parte do trabalho de conclusão de curso de Andrade, que busca estudar e comparar diferentes metodologias de pesquisa. “Como não estávamos interessados no resultado da pesquisa, na posição que ela vai ter, fomos capazes de fazer um processo neutro”, afirma Salaroli. Apesar disso, os dados

recolhidos pelos entrevistadores permitem estabelecer uma relação entre o conhecimento do entrevistado perante os acontecimentos e seu apoio à paralisação de cada uma das três categorias (funcionários, professores e estudantes). É possível notar uma maior propensão ao apoio por aqueles que afirmam conhecer as razões da greve. Entre os que dizem ter um conhecimento mais profundo, 60% acreditam que a greve deve continuar. Já entre os que afirmam ter um conhecimento em linhas gerais, esse número é de apenas

CENSO UNIVERSITÁRIO O Censo Universitário entrevistou mais de 800 alunos sobre a crise orçamentária da USP e a greve na universidade. Com os dados, os pesquisadores puderam segmentar as respostas dos entrevistados de acordo com o conhecimento que possuíam sobre os motivos das mobilizações.

Conhecimento profundo

Pouco conhecimento

Conhecimento em linhas gerais

Nenhum conhecimento

A greve deve continuar? SIM 60% SIM

44%

NÃO

SIM 45% NÃO SIM

37%

NÃO

28%

A USP deveria cobrar mensalidade?

SIM

SIM

48%

SIM

52%

23%

26%

SIM

87%

SIM

88%

SIM

O repasse do Estado para a USP deve aumentar? 40%

SIM 63% SIM

55%

A fiscalização do governo sobre a USP deve aumentar?

83%

75%

INFOGRÁFICO: THIAGO QUADROS

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NÃO

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SIM

60% SIM

76%

SIM

82%

SIM

85%

28%. O apoio à continuidade da greve é ainda menor por parte dos que dizem ter pouco ou nenhum conhecimento sobre ela: 45% e 37%, respectivamente, afirmam ela já deveria ter acabado. Com isso, é interessante observar que existe mais homogeneidade de opinião entre os entrevistados que afirmam ter conhecimento profundo sobre os motivos da greve, já que mais de 50% concordam com a sua continuidade. Além disso, curiosamente, o setor que se mostra mais contrário é o que afirma possuir pouco conhecimento, mesmo quando comparado a quem diz ter nenhum conhecimento. Os entrevistados responderam também questões relativas à crise orçamentária da Universidade, tópicos pautados pela mídia e pela opinião pública, como a cobrança de mensalidade, o repasse de impostos e fiscalização por parte do governo do Estado, terceirização de funcionários e redução no número de vagas de alguns cursos. As respostas apontam tendências: aqueles com conhecimento em linhas gerais são, em maioria, a favor do aumento do repasse (52%) e contra a redução de vagas (62%). Apenas a cobrança de mensalidade teve a rejeição como resposta majoritária de todos os entrevistados. A pesquisa completa pode ser vista no site: www.censouniversitario.com. O projeto Censo Universitário já possui mais uma pesquisa publicada, referente a aspirações profissionais, que foi realizada durante o 24º Workshop Integrativo (feira de recrutamento organizada pela Poli Júnior). Andrade e Salaroli ainda afirmam que outras pesquisas serão feitas com os alunos do campus do Butantã ao longo desse semestre. “Outra pesquisa que já sabemos que vamos realizar vai ser uma pesquisa eleitoral para saber as intenções de voto dos alunos da USP”, afirma Andrade. por Ana Carla Bermúdez e Thiago Neves


UNIVERSIDADE PEDRO PASSOS

Funcionários permanecem mobilizados no interior Fora da capital, setores protestam e lamentam falta de diálogo com administração A greve dos funcionários e professores da USP, que teve início no dia 27 de maio, não se mantém forte apenas no maior campus da Universidade, na capital paulista. Além da paralisação no Butantã, funcionários e professores também se mobilizam nos campi do interior, ainda que com menor intensidade. Ocupação-relâmpago Em São Carlos, a semana de volta às aulas contou com dois trancaços nos quatro portões do campus, nos dias 7 e 8 de agosto. Em Ribeirão Preto também houve trancaço, e os servidores realizaram uma “ocupação-relâmpago” na prefeitura do campus, no dia 13. Daian Ribeiro, do Centro Acadêmico de Filosofia (CAFi), afirma que quem está sustentando a greve são os funcionários. “O bandejão continua em greve, e os alimentos são entregues em quantidades específicas para as moradias estudantis”, completa.

No mesmo dia da ocupação da prefeitura do campus em Ribeirão, docentes da Faculdade de Direito emitiram uma carta à comunidade uspiana. Nela, criticaram as medidas tomadas pela Reitoria, como o corte de ponto dos servidores em greve, e ainda afirmaram que não há negociação, muito menos um diálogo, só “comunicações unilaterais que noticiam decisões da reitoria”. Já em Piracicaba, apesar do trancaço realizado pelos manifestantes, a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) retomou as aulas depois que a Polícia Militar foi acionada para reabertura dos portões do campus. A assessoria da faculdade informou que poucos professores e funcionários interromperam suas atividades. No último dia 18, funcionários em greve acamparam em frente ao principal prédio da instituição. Sem trancaços, os alunos de Pirassununga retornaram parcialmente às aulas. “A greve somou

cerca de 30 professores paralisados no fim do primeiro semestre, com maior adesão após o fim das aulas, e houve casos em que os professores continuaram com as aulas, mas não submeteram as notas finais das disciplinas”, conta Marcello Ferreira, do Centro Acadêmico Unificado de Pirassununga (CAUPi). No começo da greve, os trabalhadores do restaurante universitário pararam totalmente suas atividades. Durante as férias, entretanto, ele permaneceu servindo refeições aos bolsistas e, com a retomada das aulas, alguns funcionários voltaram a trabalhar durante o almoço. Em Bauru, os funcionários, que se mantêm em greve ocuparam o restaurante universitário e a clínica de fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia, no dia 13. Após três dias de piquete, e com uma liminar

de reintegração de posse concedida, eles liberaram os prédios. Talvez um dos campi menos afetados pela greve, Lorena paralisou suas atividades no fim do semestre passado, visando, porém, questões específicas do campus, sem relação com o arrocho salarial das outras instituições. O Centro Acadêmico diz que grande parte dessa falta de mobilização se deve ao fato de que uma significativa parcela dos professores e funcionários não é contratada pela USP. por Carolina Shimoda

Negociações avançam nas estaduais Unicamp e Unesp têm maior parte das atividades normalizadas e, em Campinas, professores e reitoria chegam a acordo As demais universidades estaduais de São Paulo, Unicamp e Unesp, apesar de estarem em greve, sentem menos os seus efeitos. De acordo com a assessoria da Unicamp, calcula-se que “a adesão ao movimento não passa de 10% dos servidores, entre funcionários e docentes. Segundo mapeamento atualizado feito pela universidade, as atividades funcionam normalmente em 90% das 24 unidades”. Em 1º de agosto, os professores encerraram a greve depois de aceitar a proposta da reitoria de abono de 21% sobre os salários de julho. Por causa do atraso na conclusão do primeiro semestre letivo, haverá reposição de aulas durante o mês de agosto. O segundo semestre deve iniciar em 1º de setembro e terminar em 10 de janeiro de 2015.

A Unicamp obteve na justiça, em junho, um Interdito Proibitório, que garante o acesso à universidade e o pleno funcionamento de suas atividades. Os restaurantes universitários da Unicamp, ao contrário do que acontece na USP, funcionam normalmente, bem como o atendimento nos hospitais, que realizam, em média, 1,4 mil consultas ambulatoriais, 65 cirurgias e 350 atendimentos de urgência diariamente. Em reunião realizada no dia 18 de agosto com representantes do Sindicato dos Trabalhadores da Unicamp (STU), a reitoria, que havia oferecido abono nos salários de funcionários ativos e aposentados e a retomada do projeto de isonomia salarial com a USP, rejeitou a contraproposta dos servidores, que

exigem esses mesmos benefícios e mais vale-refeição de R$ 29 por dia trabalhado e um posicionamento sobre o congelamento de salários do Cruesp (Conselho de Reitores das Universidades Estaduais Paulistas, que reúne também os secretários da Educação e do Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia). A reitoria da Unesp apresentou uma proposta de 21% de reajuste salarial e um aumento de R$ 250 no vale-alimentação, condicionados ao fim da greve. Segundo a assessoria da universidade, a maior parte das atividades estão normalizadas. As aulas em Araraquara, Araçatuba, Botucatu, Dracena, Guaratinguetá, Itapeba, Ourinhos, Registro, Rio Preto, Rosana, São João da Boa Vista, São José do Rio Preto, São José dos Campos, São Paulo e Tupã já

foram retomadas. Nos campi de Assis, Marília e Presidente Prudente, a paralisação total de alunos, professores e funcionários continua. A greve das estaduais se iniciou no fim de maio como um protesto contra o arrocho salarial nas três universidades do Estado, que passam por crise financeira devido ao alto comprometimento do orçamento com folhas de pagamento: 104,2% na USP, 96,5% na Unicamp e 94,4% na Unesp. O Cruesp tem a próxima reunião marcada para o dia 3 de setembro, em que debaterá a questão salarial na presença do Fórum das Seis (órgão que reúne os sindicatos de docentes e funcionários da USP, Unesp e Unicamp). por João Paulo Freire Santos

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UNIVERSIDADE

Situação deficiente do CRUSP se agrava Dificuldades da permanência estudantil ficam ainda mais evidentes durante o período de greve dos funcionários início na semana seguinte após a adesão dos funcionários à greve. Realizada com a ajuda de voluntários, a distribuição é feita em quantidades específicas por pessoa. Apesar desse esforço realizado pela associação, os moradores ainda encontram dificuldades com essa solução. A estudante e moradora de um dos alojamentos G.O., que preferiu não se identificar, comenta um pouco da falta de estrutura dos prédios para armazenamento da comida. “Além de não termos espaço para guardar os alimentos nos quartos, não há eletrodomésticos para manter a comida refrigerada, por exemplo, nem na cozinha coletiva dos blocos”. Ela ainda conta que, quando não

PEDRO PASSOS

Desde o dia 27 de maio, quando os funcionários dos restaurantes universitários paralisaram suas atividades, estudantes precisaram buscar alternativas para realizar suas refeições. A situação inusitada teve efeitos ainda maiores na comunidade residente no CRUSP (Conjunto Residencial da Universidade de São Paulo). Para os moradores, que dependem diretamente do “bandejão”, recebendo bolsa-alimentação de uso reservado ao restaurante, foi necessária uma medida que contornasse essa situação. A Amorcrusp (Associação de moradores do CRUSP), organizou, então, distribuições semanais de alimentos para os moradores, que tiveram

Moradores fazem fila para receber alimentos distribuídos pela associação

conseguem guardar os alimentos em casa, saem em busca de pessoas que cedam espaço ou que possuam geladeiras, por exemplo. Mesmo com essa alternativa viabilizada pelos próprios moradores, algumas pessoas ainda preferiram não retornar à moradia na Cidade Universitária após o período de férias. G.O. afirma que quem está passando por esse período tem encarado muitos desafios e “se virando como pode”. Entretanto, ela é enfática ao declarar que a vida no CRUSP nunca foi fácil. Problemas de longa data Apesar das dificuldades em captar recursos para se manter na Universidade durante o período de greve dos funcionários da SAS (Superintendência de Assistência Social), as reclamações dos moradores quanto aos problemas de gerência das verbas de permanência estudantil são feitas há bastante tempo. Logo ao tentar conseguir uma vaga no conjunto habitacional, os estudantes precisam passar por um processo seletivo, no qual são feitas entrevistas com assistentes sociais da superintendência, visando qualificar quais pessoas necessitam mais da moradia. De acordo com G.O., “nessas entrevistas, as assistentes faziam parecer errado buscar as vagas enquanto outros poderiam necessitar mais, forçando um sentimento de culpa”. Para alunos que não conseguem uma pontuação que permita a vaga

no CRUSP, existe um auxílio-moradia no valor de 400 reais, visando a permanência do estudante fora da cidade universitária. Porém o valor é questionado, por não ser sulficiente para um aluguel na região do entorno da USP. Outro aspecto abordado pelos moradores como fator que dificulta sua manutenção durante o período letivo, foi a falta de auxílios para que os alunos possam se comprometer inteiramente com a graduação. Um dos exemplos são os alunos de cursos integrais, que precisam de ajuda financeira para bancar seus estudos (como já acontece em outras universidades), já que não têm tempo para trabalhar ao longo do curso. Mesmo para os alunos que estudam em apenas meio período e podem obter bolsas-tutoria ou bolsas de Cultura e Extensão, o auxílio tem sido insuficiente, diante do corte de gastos e consequente diminuição do número de bolsas disponibilizadas. De acordo com os moradores, outro problema do ambiente do conjunto residencial é a constante vigilância feita aos frequentadores do espaço. No início de 2012, estudantes ocuparam o bloco G do CRUSP, onde fica localizada a administração da COSEAS (atual SAS). Lá foram encontrados documentos que relatavam as atividades, visitas e movimentação daqueles que moram no CRUSP. por Carolina Shimoda e Pedro Passos

Sintusp é multado e recebe ordem judicial Com intimação entregue a seus líderes, sindicato pode ter que pagar 10 mil reais por dia por ocupação em frente a reitoria O Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp) recebeu na manhã de terça-feira, 26, uma intimação de multa de 10 mil reais por dia em que continuarem mantendo piquete no prédio da Reitoria, sob alegação de que a entrada principal do prédio estaria sendo bloqueada por grevistas. Na manhã do último domingo, 24, por volta das 7h, a Polícia Militar esteve no local para cumprir uma

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ordem de reintegração de posse do prédio sob a mesma justificativa. O diretor do Sindicato, Magno de Carvalho, afirma que essas são acusações mentirosas. Segundo ele, existe um acampamento em frente ao prédio, que atua com piquete de convencimento, porém sem qualquer tipo de impedimento físico. “Ninguém foi impedido de entrar. Acontece que a grande maioria

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das pessoas que se concentraram aqui na frente do prédio foram convencidas a não entrar. Aqueles poucos que não se convenceram, entraram”, afirma Carvalho. Um estudante presente no momento conta que a oficial de justiça que acompanhava a operação afirmou que era necessário desobstruir a porta de entrada e as vagas de estacionamento, ocupadas por algumas

barracas. Segundo ele, isso foi feito sem maiores conflitos e às 8h30 a situação já estava normalizada. O acampamento e o piquete de convencimento foram mantidos. Carvalho afirma que mesmo com a intimação ao Sintusp não haverá mudanças na atuação do Sindicato perante a situação da Universidade.

por Ana Carla Bermúdez


UNIVERSIDADE

A grande ausência de Nicolau Sevcenko Professor e historiador, Sevcenko deixa como legado sua história de dedicação, suas publicações e uma legião de admiradores MARTIN FEIJÓ

Faleceu na noite do dia 13 de agosto, quarta-feira, aos 61 anos de idade, Nicolau Sevcenko, professor aposentado do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da Universidade de São Paulo (USP). Sevcenko teve, em vida, uma forte ligação, acadêmica e profissional, com a Universidade. Nela, fez o curso de graduação em História; o doutorado em História Social, de cuja banca examinadora participou o historiador Sérgio Buarque de Holanda; e obteve, posteriormente, o título de Professor Livre-Docente, com a Tese “Orfeu Extático na Metrópole”, publicada em livro pela Companhia das Letras em 1992. Foi também na USP que ingressou como docente, no Departamento História, tendo lá permanecido até a sua aposentadoria, dedicando-se ao estudo da cultura brasileira e a projetos de desenvolvimento de cidades, em especial São Paulo e Rio de Janeiro. Atuou ainda como professor titular da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, onde atuou na área de história da cultura,

Alunos da FFLCH fazem homenagem ao ex-professor em prédio da faculdade história brasileira e da urbanização. Em entrevista concedida à Revista Crioula, em novembro de 2010, afirmou: “A minha própria contratação pela Universidade Harvard veio no sentido de reforçar a ala de estudos brasileiros, e particularmente, criar esta conexão entre os estudos brasileiros e latino-americanos”. Sua dedicação à pesquisa universitária e sua preocupação com os aspectos culturais de nossas

cidades refletem-se nas várias obras publicadas, entre as quais “A revolta da vacina” (1983), “Literatura como missão” (1985), “Orfeu extático na metrópole” (1992), “Corrida para o século XXI” (2001). Com amplo domínio das línguas inglesa e francesa, traduziu importantes obras para o português como “Magistrados e feiticeiros na França do século XVII”, de Robert Mandrou (1979) e “Alice no país das maravilhas”,

Bloqueio no IAG gera conflito Composto por um cordão de funcionários, piquete tentava impedir a entrada no Instituto Nos dias 13 e 14 de agosto, o Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) foi cenário de confusão decorrente de piquetes estabelecidos no prédio por funcionários do Instituto, com ajuda do Sindicato dos Trabalhadores da USP (Sintusp). Os bloqueios eram parte do que o Sindicato denominou de “piquetes itinerantes”, feitos em protesto à obrigatoriedade de funcionários da administração da reitoria - que se encontra atualmente piquetada - trabalharem em outros locais da Universidade, como o IAG, sob ameaça de terem seus pontos cortados. O desentendimento aconteceu na quinta-feira (14) por volta das 7h30, na portaria principal, onde era

realizado um cordão humano para que a entrada no prédio fosse impedida. O diretor do Instituto, Laerte Sodré, afirma que um professor que queria entrar teria pressionado o cordão, que se rompeu, ocasionando o tumulto. “Esse pessoal não respeitou ninguém. Me agrediram e empurraram os outros”, afirma Sodré, que diz ter levado um soco nas costelas e registrou a agressão em boletim de ocorrência no 93º DP. O Sintusp, em seu boletim oficial, afirma, porém, que Sodré teria organizado um grupo de professores para desmontar o piquete e eles teriam agredido os trabalhadores que montavam o cordão, “inclusive jogando uma companheira no chão”. O diretor nega tais acusações,

mas Leonardo Gilly, aluno e membro do Centro Acadêmico do IAG, estava presente no primeiro dia de piquete e relata atitudes agressivas de Sodré. “Ameaçou aos gritos os funcionários do IAG de cortar o ponto deles, sendo que a greve não foi julgada ilegal ainda”, diz Gilly. Esta é a primeira vez que o IAG presencia uma forte greve de funcionários e professores no campus Butantã. Apesar de fazer parte da USP desde 1946, o Instituto ficava localizado no Parque de Ciência e Tecnologia, também vinculado à Universidade. Assim, não tinha contato direto com as greves e, tradicionalmente, não havia paralisação.

de Lewis Carrol (1986), relançada pela Cosac Naify em nova edição, em 2009, onde acrescenta seu posfácio e a tradução de poemas que integram a narrativa: “Agora, eu mesmo traduzi todos os poemas”, afirmou em entrevista concedida à Editora. “Encarar os jogos gramaticais, semânticos, contextuais, poéticos, filosóficos, estéticos e éticos das poesias e canções do livro foi um desafio enorme. Mas quanto maior a complexidade e amplitude do desafio, maior é o prazer de enfrentar e se divertir com o jogo”. É assim que Sevcenko muitas vezes se referia ao seu trabalho, como algo lúdico, prazeroso. Recebeu muitos prêmios por suas publicações, entre os quais o Prêmio Jabuti, na categoria Ciências Humanas, pela organização do volume “História da vida privada no Brasil: da belle époque à era do rádio” (1998). Com sua morte perde um pouco a USP, perde São Paulo, perdemos todos nós, brasileiros. por Giovana Bellini

Fuvest abre

inscrições Para quem pretende prestar o vestibular de 2015, estão abertas as inscrições desde o dia 22 até o dia 8 de setembro. Para saber mais sobre as novidades dos programas de inclusão social para alunos da rede pública de ensino e o calendário de vestibular, acesse o site: http://www.fuvest.br/

por Ana Carla Bermúdez

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Um histórico de Israel X Palestina Após 60 anos, Faixa de Gaza ainda vivencia impasse A atual tensão entre Palestina e Israel na Faixa de Gaza tem chamado a atenção dos telejornais pelos seus números assustadores. Segundo a ONU, até o dia oito de agosto, cerca de 1.900 pessoas foram mortas, 373 mil crianças vão precisar de apoio psicológico, 485 mil pessoas foram deslocadas para abrigos de emergência e mais de um milhão de pessoas fora dos abrigos estão sem água potável. Com mais de 60 anos de duração, o conflito histórico entre Israel e Palestina ainda é conhecido de forma superficial pela sua roupagem religiosa, escondendo uma série de interesses políticos envolvendo disputa econômica e busca por territórios estratégicos. Os problemas na região vêm de conflitos étnicos seculares, além de seguidas intervenções americanas e europeias, algumas diretamente relacionadas à partilha afro-asiática, que serviram apenas para piorar a já delicada situação envolvendo a área compreendida entre o Rio Jordão e o Mar Mediterrâneo. Após a Primeira Guerra Mundial, o território passou a ser controlado pelo Reino Unido. O Holocausto, anos depois, trouxe consigo uma pressão internacional para o estabelecimento de um território judeu. Uma série de acordos mal sucedidos com a população árabe deflagrou diversos conflitos na região, como a “Guerra da Libertação”, envolvendo árabes do Egito, Síria, Iraque e Jordânia e judeus. Territórios como a Península do Sinai e as Colinas de Golã passaram a ser alvo de disputa, e chegaram a ser ocupadas por Israel (em 1979 chegou-se a um acordo de paz com o Egito e o Sinai foi devolvido). A cidade de Jerusalém é um dos pilares do conflito, já que é considerada sagrada por católicos, judeus e muçulmanos. Ainda hoje, possui muita importância na resolução dos impasses diplo-

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máticos, principalmente porque sua soberania é disputada pelos dois povos. Diversas propostas de uma administração partilhada foram expostas, mas todas não conseguiram sair da “estaca zero”, acirrando as tensões. Pensando em esferas políticas, há hoje três atores principais envolvidos nas disputas: o governo israelense, o Hamas e a Autoridade Nacional Palestina. Sob o comando do conservador Benjamin Netanyahu, Israel adotou uma atitude mais agressiva, chocando-se diretamente com o Hamas, principalmente em Gaza. Este também aumentou o seu poder de fogo, e não hesita em atacar as fronteiras israelenses. Na última terça-feira (26), Israel e Palestina firmaram um acordo, mediado pelo Egito, para acabar com os conflitos na Faixa de Gaza. Uma das principais medidas adotadas foi a suspensão de todas as ações militares na região. Posicionamento das partes A cobertura distorcida da mídia diante do conflito entre Israel e Palestina estereotipou a imagem de judeus e palestinos. Hoje, ambos são vistos como inimigos incondicionais por fatores puramente ligados ao ódio, o que pode ser desmentido com uma leitura mais profunda dos fatos. Judeus e palestinos têm opiniões muito diversas sobre as razões do conflito, e não é correto julgar cada cultura e população como um único bloco monolítico. Um grande empecilho para a compreensão sobre a guerra é a diferença de valores entre ocidente e oriente, bem como a dificuldade em compreender e respeitar essas diferenças. Veja ao lado algumas opiniões dos nossos entrevistados: por Gabriel Lellis e Thaís Matos

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EM PAUTA

Apesar de todas as discordâncias entre os principais setores do judaísmo, há uma preocupação muito grande com a situação atual. Basicamente, com o fato de os foguetes do Hamas terem alcançado cidades importantes de Israel e desestabilizado emocionalmente grandes setores da sociedade israelense Marta Topel, professora de cultura judaica da FFLCH -USP

O israelense, além da ideologia que tiver, está, de fato, ameaçado por uma situação de guerra que pode lhe arrancar um filho que serve no exército. Mas também há alianças entre grupos de israelensese da diáspora - inclusive da diáspora brasileira - que lutam pela paz e estão convencidos que a clivagem do conflito já não passa por quem tem razão de um lado ou de outro, e sim por quem está a favor da paz e da coexistência dos dois lados Marta Topel

Sou absolutamente a favor de um Estado Binacional. Acho que a solução possível só virá com o desarmamento do Hamas e com a autoridade Palestina sendo investida no governo de Gaza e da Cisjordânia, simultaneamente Igor Vetman, jornalista de origem judaica

Todo mundo tem uma experiência com ela [as forças armadas], seja um amigo que perdeu numa guerra, ou alguém que já largou algo importante para servir. É triste ver um monte de jovens entre 18 e 21 anos tendo que parar uma vida para fazer três anos de exército Samuel Vago, estudante de administração da FEA-USP, morou em Israel e chegou a servir ao exército por dois meses

As expectativas do oriente são muito diferentes das do ocidente. Se o ocidente valoriza a democracia, no oriente não é assim necessariamente, e os dois lados devem ser respeitados Samuel Vago

Parece-me óbvio que as narrativas preconceituosas de que se trata de um ‘conflito milenar’ servem de cortina de fumaça para encobrir o que de fato move os políticos - tanto estadunidenses quanto europeus, tanto líderes israelenses sionistas quanto as ditaduras e monarquias árabes: a disputa pelos recursos, que são o sangue e o alimento do capital José Arbex Júnior, jornalista e professor da PUC-SP


EM PAUTA

A cobertura da mídia

e o conflito ideológico

Orientados pela própria linha editorial, jornalistas enfrentam desafios para comunicar

Os jornais são produzidos por empresas privadas, que sobrevivem do lucro e possuem linha editorial (princípios que norteiam as posições do veículo). Esses fatores interferem, de maneira mais ou menos direta, na cobertura de determinados assuntos. Geralmente, assuntos polêmicos despertam emoções, polarizações e tomadas de lado. Cada veículo, pautado em sua linha editorial, vai abordar o fato alinhado a um viés que lhe pareça justo. É importante entender que não existe certo ou errado quando se trata de posições. O problema é não jogar limpo em relação a essas posições e vender uma matéria que se apresenta como imparcial, a princípio, mas que contém uma série de pressupostos e julgamentos de valores. Para Gabriel Toueg, jornalista judeu e árabe que cobriu conflitos no Oriente Médio durante sete anos, o jornalismo internacional praticado no Brasil ainda é muito superficial. “Fora daqui faz-se jornalismo mais informativo e formador”. Segundo Toueg, Israel é uma das áreas mais bem cobertas pela mídia do mundo. Desde o início do conflito, 580 jornalistas já se cadastraram para cobertura. Esse número exclui, no entanto, os profissionais que não realizaram cadastro, uma vez que ele não é obrigatório. “Israel tem a maior concentração de jornalistas, mesmo em tempos de paz. A região pode ser considerada de fácil cobertura se comparada à Síria ou ao Iraque”. Apesar disso, o acompanhamento do conflito feito pelos jornais brasileiros ainda deixa muito a desejar. Mas, por quê? Para ele, a imprensa brasileira está repleta de “achismos equivocados” e falta real interesse de “formar e informar”.

O jornalista e editor de Países do Almanaque Abril, Fábio Sasaki, destaca a dependência das agências internacionais de notícias, o que acaba gerando uma cobertura mais homogênea e rasa. Segundo ele, a imprensa tem lados. “Como a abordagem cotidiana centrou-se fundamentalmente nos estragos à infraestrutura e nas mortes provocadas pelo conflito, o noticiário tornou mais evidente a desproporção da força empregada por Israel. Neste quesito, Israel parecia ter perdido a chamada ‘batalha de informação’”. Para Sasaki, as empresas de comunicação que possuíam um alinhamento pró-Israel conseguiram

balancear isso com as análises e artigos opinativos. Os espaços de opinião também servem para se diferenciar da homogeneidade gerada pela reprodução de materiais das agências. “A maioria dos colunistas dos grandes jornais são conservadores, refletindo a posição de seus patrões. Tem sido cada vez mais difícil encontrar vozes ponderadas e equilibradas. Muitos articulistas acabam caindo num ‘Fla-Flu ideológico’, se rendendo a uma polarização que ignora as nuances e as complexidades que um tema como a questão palestina exige”, esclareceu. O jornalista José Arbex Júnior, professor da PUC-SP, crê numa

demonização palestina por parte da mídia. “Em geral, é um comportamento ditado pelo preconceito orientalista. Na mídia europeia, você encontra alguns contrapontos importantes, principalmente por parte de correspondentes e articulistas que não cedem à pressão do preconceito”. A contextualização é o primeiro passo para que se tenha uma cobertura mais justa. Durante o conflito, os jornais quase não abordaram os acontecimentos predecessores e imprescindíveis para uma compreensão ampla do problema. por Gabriel Lellis e Thaís Matos

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CIÊNCIAS Pesquisadores avançam na identificação de espécies Projeto DNA Barconding permite identificar e catalogar seres vivos a partir de uma pequena parte do DNA

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Na biologia existe um grande problema sobre o conceito de espécie, pois há muitas definições diferentes que não se aplicam a todas as formas de organismos. Um dos principais métodos utilizados é a descrição da morfologia (como aparência e estrutura de corpo). Esse método, porém, é problemático para espécies com uma morfologia muito simples, como as algas. Além disso, existe a plasticidade morfológica, ou seja, a morfologia pode se alterar de acordo com as condições ambientais. Um outro problema é a subjetividade, pois no processo de descrição das características cada pesquisador adota padrões próprios.

Para lidar com esses conflitos, Paul Hebert, pesquisador canadense, propôs que se usasse uma região do DNA como definidor de o que é uma espécie. Essa região deveria ter variações significativas entre espécies, mesmo que próximas, de forma que permitisse diferenciá-las. Ele também propôs a existência de um banco internacional, de livre acesso, que contivesse a seqüência genética de cada espécie, além de outras informações. Mariana Cabral de Oliveira, pesquisadora do Instituto de Biociências (IB) da USP e coordenadora do projeto no Brasil aponta que, a princípio, a região marcadora na célula seria a

embutido no processo científico, e que o importante é saber o índice de erro no processo. Outra critica apontada é que esse projeto poderia extinguir a taxonomia, importante área da ciência que estuda as características de cada espécie. Uma das principais vantagens do banco de dados é facilitar a identificação de novas espécies: caso um estudioso se encontre diante de uma espécie que não sabe identificar, ele poderá extrair seu DNA para compará-lo com os da-

dos já arquivados no banco. Outras aplicações são a avaliação dos alimentos que estão sendo ingeridos pelos organismos, a identificação de espécies de peixes após serem processados, o reconhecimento de madeiras e espécies vegetais após serem cortadas e até mesmo a identificação de espécies de aves que ainda se encontrem em seus ovos, para evitar o contrabando. por Thaís Freitas do Vale

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mitocôndria, e receberia o nome de DNA Barcoding. Seria um método análogo ao do código de barras que possuem os produtos comerciais. O projeto na prática Apesar de o projeto estar bem avançado com aves e peixes, por exemplo, sabe-se que a região escolhida não é ideal para todos os seres. Nas plantas, por exemplo, é necessária uma combinação de vários marcadores para poder identificar a espécie, de forma que a idéia original não seja sempre viável. Para as esponjas marinhas esse processo também não é eficiente, de forma que é preciso que se escolha outra

região como marcadora, dependendo da espécie a ser analisada. O objetivo é tornar o processo de identificação das espécies mais rápido e formar um banco de dados de toda a biodiversidade mundial disponível para consulta por qualquer pessoa. O papel do Brasil se destaca devido ao extenso número de espécies já descobertas, além da sua conhecida biodiversidade. No início, o projeto recebia fortes críticas, pois muitos acreditam que reduzir a descrição da espécie a uma pequena região do genoma não é suficiente (já que a região do DNA analisada é muito curta). A professora aponta que o erro sempre está


CIÊNCIAS

Equipamento é capaz

de prever a qualidade do ar Aparelho elaborado em laboratório consegue prever a qualidade do ar com até dois dias de antecedência

A ferramenta desenvolvida por pesquisadores da USP leva em consideração as emissões de poluentes e os fatores meteorológicos. O objetivo é identificar como esses poluentes interagem na atmosfera para que se possa conhecer antecipadamente a qualidade do ar. Sabe-se que as principais fontes poluidoras são as fontes móveis, ou seja, os veículos. Quando esses poluentes vão para a superfície, há várias condições que podem favorecer a formação de ozônio ou partículas finas, por exemplo, e esses processos ainda não foram totalmente esclarecidos. No caso da formação do ozônio, são necessários vários compostos emitidos pela gasolina e pelo álcool, e ainda há dúvidas sobre quais são os elementos que esses combustíveis lançam na atmosfera e como ocorrem as interações. A professora Maria de Fátima Andrade, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP comenta que já havia no departamento um projeto que relacionava meteorologia com outras questões meteorológicas que favoreciam grandes concentrações de substâncias poluentes. “Havia uma parte experimental e uma de medida, e muitas questões sobre a poluição atmosférica ficaram em a berto”, diz. O novo projeto tem como foco a reunião dos modelos experimentais. Unem-se os fatores de emissão com os elementos meteorológicos, que influenciam nas reações dos poluentes na atmosfera. A pesquisadora destaca que as previsões são importantes para o sistema público de saúde, por

exemplo, pois é possível prever os momentos em que haverá maior procura por atendimento médico devido a problemas respiratórios. Outra vantagem da elaboração de cenários é o estudo sobre possíveis mudanças. Por exemplo, seria possível estimar o quanto o ar de São Paulo melhoraria caso os veículos pesados fossem deslocados para o rodoanel, ou quais seriam os impactos de só se utilizar gasolina ou só álcool nos carros – medidas difíceis de aplicar na prática. Andrade aponta ainda que há mais elementos que devem ser considerados nas previsões, como a topografia de cada cidade. Assim, nas cidades em que há altos níveis de emissão, mas que também apresentam altas taxas de dispersão, a concentração de poluentes na atmosfera pode ser baixa. Em SãoPaulo, a proximidade com o litoral auxilia na dispersão e na remoção dos poluentes, pois a chegada das brisas provenientes do oceano traz umidade e amplia a dispersão. Ela acrescenta que as previsões poderiam ser feitas até com quatro ou cinco dias de antecedência, mas atualmente, por uma limitação técnica, o processo seria muito demorado. Isso porque é preciso fazer diversas equações para os elementos meteorológicos (para o vento, para a temperatura) e os elementos químicos que participam dos processos. As previsões são feitas para um prazo de 48 horas, pois demanda-se menos tempo equacionando os fatores, já que as incertezas químicas e meteorológicas são menores. por Thaís Freitas do Vale

Jornal do Campus | 429 | agosto de 2014 | segunda quinzena

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ESPORTES MARIA BEATRIZ MELERO

Tragédia reacende debate sobre práticas esportivas na USP Álvaro Teno e outros quatros atletas foram atropelados por motorista alcoolizado na Avenida da Universidade.

MARIA BEATRIZ MELERO

A Cidade Universitária costuma receber centenas de corredores e ciclistas nos fins de tarde e nos finais de semana. Os atletas procuram o campus da USP porque as vias são mais largas e têm menos trânsito do que as demais ruas da capital. Porém, essas condições não têm se traduzido em mais segurança para os esportistas. No sábado, 16 de agosto, o motorista Luiz Antonio Conceição Machado, 43 anos, perdeu o controle do veículo e atropelou cinco atletas na Avenida da Universidade, que no momento praticavam exercícios no campus. Duas vítimas do acidente acabaram em estado grave. Dois homens e três mulheres, uma delas grávida, foram atendidos e

Muitos corredores vestiam camisetas estampadas com a foto do corredor e com a palavra “luto”

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encaminhados para hospitais da região. Porém, o corredor Álvaro Teno, 67 anos, não resistiu aos ferimentos e teve sua morte confirmada pouco depois no Hospital Universitário (HU) da USP. Eloisa Pires do Prado, outra vítima do atropelamento, passou por cirurgia no Hospital Samaritano e ainda se encontra em recuperação. Os demais já tiveram alta. Segundo testemunhas, a Polícia Militar e os socorristas chegaram ao local rapidamente e contaram, inclusive, com um helicóptero da PM no atendimento. Os policiais prenderam em flagrante o condutor, que teve os sinais de alcoolismo confirmados por testes. Ele foi levado ao 91º Distrito Policial e na segunda-feira, 18 de agosto, foi encaminhado ao Centro de Detenção Provisória (CDP) de Pinheiros. O Ministério Público pediu para que o réu fosse enquadrado no crime de homicídio doloso (com intenção de matar), mas a Justiça de São Paulo determinou que ele deverá responder por homicídio culposo (sem intenção), lesão corporal culposa e embriaguez ao volante. A fiança foi estabelecida em R$ 55 mil e a pena para esse tipo de homicídio varia de três a seis anos, podendo ser rcumprida em regime aberto. Black Run O incidente gerou comoção entre os atletas que estavam no local e a comunidade esportiva em geral. Em repúdio ao acontecimento e em homenagem a Álvaro Teno, amigos da vítima organizaram um evento no último sábado, 23 de agosto, denominado ‘Black Run - Respeito ao atleta de rua’. Os familiares e companheiros de treino de Álvaro saíram do Clube Paineiras do Morumbi, na zona sul de São

Jornal do Campus | 429 | agosto de 2014 | segunda quinzena

Na Praça do Relógio, familiares e amigos homenagearam maratonista Paulo, às 8h com destino ao campus da USP no Butantã. Nas ruas da Cidade Universitária, outros atletas aderiram ao pelotão que se concentrou na Praça do Relógio, às 9h, para realizar homenagens ao maratonista, fazer uma oração em sua memória e dar um abraço coletivo nos familiares de Teno. Os três filhos e a esposa de Álvaro estavam presentes no evento do último sábado e não demonstraram rancor, apenas pediram justiça. Filho do meio, Adolfo Martins Teno, 35 anos, afirmou que “a gente tem que se unir para buscar justiça para a pessoa não ficar impune com todos esses acidentes. Porque não foi um mísero acidente. Tirou a vida de uma pessoa.” Sobre a personalidade do pai, Adolfo contou que Ávaro “era uma pessoa 100%, não só com os filhos e a família, mas com todos. Todos consideravam ele como um pai. Era um pessoa centrada no esporte e sempre queria trazer todo mundo para praticar. Nós sabemos que ele morreu fazendo o que gostava”, relatou. No discurso antes da oração, um dos organizadores endossou sua preocupação em procurar melhores condições e mais segurança para os atletas de rua, “mas sem semear o ódio, a discórdia e o rancor”. Mulher de Álvaro, dona Marlene Martins Teno, 64 anos, afirmou que a família está entristecida mo momento. “O neto de cinco anos pergunta muito do avô, mas nós sabemos que ele está em um lugar melhor. Agora

no meio de setembro, outro neto vai nascer e vai se chamar Álvaro Teno Neto em homenagem a ele”. Providências Sobre as condições de treinamento que os atletas encontram na USP, Adolfo Teno relatou um problema muito conhecido dos corredores e frequentadores da Cidade Universitária. “O problema da USP é que ela se torna uma rota de fuga. Quando para a marginal, o cara corta por dentro da USP para sair lá do outro lado e é por isso que aqui se torna muito perigoso pra nós”, lamentou. A Prefeitura do Campus da Capital emitiu nota oficial na semana passada afirmando que grupos de trabalhos foram criados para estudar temas relacionados e pesquisas foram encomendadas para analisar o fluxo de veículos e a demanda dos atletas - que devem servir de embasamento para a implementação de medidas como a criação de faixas exclusivas de ônibus e ciclovias em conformidade com a Prefeitura de São Paulo e a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). Na mesma nota, o prefeito do campus, Arlindo Philippi Júnior afirmou que “embora o atropelamento tenha evidenciado essas questões, a Prefeitura do Campus se preocupa com a situação há algum tempo e trabalha em ações para tornar tanto a prática de esportes quanto o trânsito na Cidade Universitária mais seguros”. por Breno França


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