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Diário Popular

OPINIÃO

Quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

ESPAÇO PÚBLICO

ARTIGO

Pássaro em extinção é registrado em reserva da Vale

Gustavo Magnago

Uma cena inusitada foi registrada na Reserva Natural Vale recentemente. Considerado “provavelmente extinto” em estados como Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul e “criticamente em perigo” no Espírito Santo, em São Paulo e em Minas Gerais, um jaó-do-sul (Crypturellus noctivagus noctivagus), também conhecido como jaó-do-litoral, foi flagrado caminhando calmamente numa área de mata preservada e dedicada à pesquisa da Reserva, área protegida de Mata Atlântica que a Vale mantém em Linhares, no Norte do Espírito Santo. A espécie, considerada ameaçada de extinção no Brasil, foi registrada por um pesquisador capixaba enquanto vocalizava, ou seja, enquanto emitia sons para se comunicar com outros indivíduos da mesma espécie. Endêmico da Mata Atlântica brasileira, o jaódo-sul era originalmente encontrado nas áreas de Mata Atlântica de baixada do sul da Bahia e leste de Minas Gerais até o Rio Grande do Sul.

FRASES “Vou alçar novos voos, cantar em outras freguesias.” Do ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD), durante a transmissão do cargo de prefeito de São Paulo a Fernando Haddad (PT).

“O principal (erro) foi, em alguns momentos, termos enveredado por práticas comuns a outros partidos, mas que o PT não deveria ter se enveredado por elas”. Do presidente do PT, Rui Falcão, sem citar diretamente o mensalão.

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10 anos de governos pós-neoliberais no Brasil

(*) Emir Sader

ARTIGO

Decifrando a construção sustentável

(*) Ciro Scopel

Cada vez mais, consolida-se daquilo que a natureza oferece. É homundo afora a ideia de que é preciso ra de pensar em como proteger a foradequar a vida às premissas da sus- mação das ilhas de calor, de planejar tentabilidade. Em outras palavras: as aberturas que permitirão melhor estamos unidos pelo desafio de satis- incidência dos raios solares – disfazer as necessidades presentes e ao pensando o uso da eletricidade para mesmo tempo assegurar as adequa- iluminar os cômodos durante o dia –, das condições ambientais e sociais de aproveitar a topografia, de analipara as gerações futuras. sar alternativas para uso da água da Quem atua no setor da Habitação chuva e de usar a vegetação para resabe que o conceito de sustentabili- gular a temperatura do entorno. dade pode e deve ser incorporado às Ao longo da obra, os materiais atividades de loteamento e constru- utilizados devem ser certificados e ter ção. Mas não existe um modelo, um origem confiável. Recomenda-se utiprotocolo, que defina com clareza o lizar insumos reciclados – e também que torna uma construção mais sus- recicláveis, pois estes poderão ser tentável do que outras. removidos em uma reforma futura, Porém, existem tendências. É por exemplo, e é bom que não virem desejável, por exemplo, que se prio- “lixo” puro e simples. Tudo o que for rize o uso de terrenos degradados, “inteligente” e “eficiente” ajuda a evi“remediando-os” a fim de recuperar tar desperdícios: lâmpadas, torneiras, sua viabilidade. Muitas vezes, a im- válvulas... prensa reporta, em tom de denúncia, Além disso, com a finalidade que este ou aquele empreendimento de reduzir as emissões de gases de foi construído em uma área “conta- efeito-estufa (GEEs), é preciso limitar minada”. Ora, se a mencionada área ao mínimo a necessidade de deslocafoi submetida ao promentos: escolher macesso de remediação, produziCom a finalidade de térias-primas e houve sucesso na das localmente é uma retirada dos resíduos reduzir as emissões de opção simples e ecocontaminantes, isso gases de efeito-estufa, nômica. Bem diferené bom para o meio te do que acontecia é preciso limitar ao antigamente, quando ambiente e para as pessoas. mínimo a necessidade eram erguidos palaceConciliar o emcom escadarias rede deslocamentos: tes preendimento com vestidas por mármore escolher matérias- de Carrara, importado a infraestrutura disponível é ambientalprimas produzidas da Itália. mente responsável É indispensável localmente é uma e economicamente ressaltar que um interessante. A exisempreendimento opção simples e tência de escolas, hossustentável atende à econômica pitais e bancos nas legislação em cada proximidades, bem uma de suas etapas, e como a oferta de transporte público, respeita todos os seres humanos nele são fatores que poderão se traduzir envolvidos, desde os operários que em menor utilização de automóveis dão forma aos sonhos (e merecem particulares por parte dos futuros trabalhar com conforto e segurança) usuários. até os futuros usuários e a comunidaTambém é preciso dar uma aten- de do entorno. Pois, ao final de tudo, ção toda especial à elaboração da a felicidade das pessoas é o que de planta do imóvel. Neste momento, fato importa. arquiteto e engenheiro devem voltar (*) Ciro Scopel é vice-presidente de o seu olhar para o entorno do empreSustentabilidade do Secovi-SP e titular da Scopel Empreendimentos e Obras S/A. endimento e tirar o máximo partido

Em primeiro de janeiro de 2013, se cumprem 10 anos desde a posse do governo Lula, que teve continuidade na sua reeleição em 2006 e na eleição da Dilma em 2010. Dessa maneira se completa uma década de governos que buscam superar os modelos centrados no mercado, no Estado mínimo nas relações externas prioritariamente voltadas para os Estados Unidos e os países do centro do sistema. São governos que, para superar a pesada herança econômica, social e política recebida, priorizam, ao contrário, um modelo de desenvolvimento intrinsecamente articulado com políticas sociais redistributivas, colocando a ênfase nos direitos sociais e não nos mecanismos de mercado. Buscam o resgate do Estado como indutor do crescimento econômico e garantia dos direitos sociais de todos. Colocam em prática políticas externas que dirigem seu centro para os processos de integração regional e os intercâmbios Sul-Sul e não para Tratados de Livres Comércio com os EUA. Os resultados são evidentes. O Brasil, marcado por ser o país mais desigual do continente mais desigual do mundo, vive, pela primeira vez com a intensidade e extensão atuais, profundos processos de combate à pobreza, à miséria e à desigualdade, que já lograram transformar de maneira significativa a estrutura social do país, promovendo formas maciças de ascensão econômica e social, com acesso a direitos fundamentais, de dezenas de milhões de brasileiros. Dotando o Estado brasileiro de capacidade de ação, estamos podendo reagir aos efeitos recessivos da mais forte crise econômica internacional das ultimas oito décadas, mantendo – mesmo se diminuído – o crescimento da economia e estendendo, mesmo em situações econômicas adversas, as políticas sociais redistributivas. Por outro lado, políticas externas soberanas projetaram o Brasil como uma das lideranças emergentes em um mundo em crise de hegemonia, com iniciativas coletivas e solidárias, com propostas que apontam para um mundo multipolar, centrado em resoluções políticas pacíficas dos focos de conflitos e em formas de cooperação solidária para o desenvolvimento das regiões mais atrasadas. No entanto, esses governos recebem uma pesada herança de um passado recente de enormes retrocessos de todo tipo. O Brasil – assim como a América Latina – passou pela crise da dívida, que encerrou o mais longo ciclo de crescimento econômico da nossa história, iniciado nos anos 1930 com a reação à crise de 1929. Sofreu os efeitos da ditadura militar, de mais de duas décadas, que quebrou a capacidade de resistência do movimento popular, preparando as condições para o outro fenômeno regressivo.

Os governos neoliberais, de mais de uma década – de Collor a FHC – completaram esse processo regressivo do ponto de vista econômico, social e ideológico. Assim, Lula não retoma o processo de desenvolvimento econômico e social onde ele havia sido estancado, mas recebe uma herança que inclui não apenas uma profunda e prolongada recessão, mas um Estado desarticulado, uma economia penetrada pelo capital estrangeiro, um mercado interno escancarado para o mercado internacional, uma sociedade fragmentada, com a maior parte dos trabalhadores sem contrato de trabalho. O segredo do sucesso do governo Lula, seguido pelo de Dilma, está na ruptura em três aspectos essenciais do modelo neoliberal: - a prioridade das políticas sociais e não do ajuste fiscal, mantido em funções dessas políticas - a prioridade dos processos de integração regional e das alianças Sul-Sul e não de Tratado de Livre Comércio com os EUA - a retomada do papel do Estado como indutor do crescimento econômico e garantia dos direitos sociais, deslocando a centralidade do mercado pregada e praticada pelo neoliberalismo. Essas características constituem o eixo do modelo posneoliberal – comum a todos os governos progressistas latino-americanos -, que faz do continente um caso particular de única região do mundo que apresenta um conjunto de governos que pretendem superar o neoliberalismo e que desenvolvem projetos de integração regional autônomos em relação aos EUA. Foi uma década essencial no Brasil, não apenas pelas transformações essenciais que o país sofreu, mas também porque ela reverteu tendências históricas, especialmente à desigualdade, que tinham feito do Brasil o país mais desigual do continente mais desigual do mundo. A década merece uma reflexão profunda e sistemática, que parta da herança recebida, analise os avanços realizados e projete as perspectivas, os problemas e o futuro do Brasil nesta década. Um livro com textos de 21 dos melhores pensadores da esquerda, que está sendo organizado por mim, deve ser lançado num seminário geral por volta de abril e, a partir desse momento, fazer várias dezenas de lançamentos e debates por todo o ano. O projeto pretende promover discussões estratégicas sobre o Brasil, elevando a reflexão sobre os problemas que enfrentamos e projetando o futuro da construção de uma alternativa ao neoliberalismo. (*) Emir Sader é sociólogo. Artigo publicado originalmente no Portal Carta Maior.


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