FLIP 15/09/2012

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2 O Jornal de HOJE

Artigo

Opinião

Natal, 15 e 16 de setembro de 2012

MARCO DE ALMEIDA EMERENCIANO, advogado (malmeme@yahoo.com.br)

Amancio

Sábado e Domingo

Artigo

amancionatal@gmail.com / www.chargistaamancio.blogspot.com

Sob a brisa de Petrópolis e Tirol É bem provável que o relato feito pelo brasileiro naquele encontro acadêmico tenha gerado expectativa no grupo, pois muito mais quiseram saber sobre a velha Natal. É que como havia regressado no tempo para explicar, ainda que rapidamente, o cotidiano da 'Rua Mossoró de ontem', tenha deixado no ar a possibilidade de seguir com o assunto outro dia. Em nova oportunidade, entre um café e outro com vento suave, repetiu ao grupo que o programa dos domingos na pacata cidade era ir ao cinema com a turma, fazer um lanche depois para, em seguida, ir assistir à missa das cinco e meia com Pe. Teobaldo. Passear pela Praça Pedro Velho, em homenagem ao primeiro governador do estado, estava na programação. Tudo isso caminhando sob a brisa dos bairros de Petrópolis e Tirol. Aliás, era comum e prazeroso o deslocamento a pé, conversando. Mas, parece que alguma curiosidade mais havia para contar sobre as sessões de cinema. Lembrou que aconteciam as doze, duas, quatro, seis e oito, já à noite. Naquela época sua turma tinha entre doze e catorze anos e era comum entrar na sessão primeira, a das doze, assistir o filme, e ficar para a das duas. Não precisava comprar novo ingresso, era só não sair. Muitas vezes, esse comportamento se justificava para esperar que as meninas chegassem e, assim, tentar uma paquera. Os cinemas de então eram ponto de encontro. Todos saiam de casa bem arrumados, no capricho. O Rio Grande, na esquina da Av. Deodoro com a rua Assú, tradicional e de fácil acesso. Com suas antigas poltronas em madeira e os assentos forrados com napa vermelha, tinha seu charme. Aos domingos, pela manhã, apresentava uma 'sessão de arte', com 'películas' de vanguarda. As projeções sempre iniciavam com a apresentação de 'O canal cem', uma espécie de documentário de então. O Nordeste, na Cidade Alta, imediações da Praça Padre João Maria, era o único equipado com ar condicionado. O máximo! No Cine Rex, da avenida Rio

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PÚBLIO JOSÉ, jornalista (publiojose@gmail.com)

Branco, durante a Semana Santa, 'A Paixão de Cristo' e 'Marcelino Pão e Vinho', atraiam grande público. Houve uma época que frequentar as sedes sociais dos clubes fazia parte do cotidiano. As piscinas do América ficavam lotadas durante as manhãs de sol nos fins de semana. Com o advento da 'discoteque', os salões se adornavam com globos e luzes coloridas se covertendo em pista de dança para o novo ritmo musical. De forma frenética, começam a surgir novas opções na 'noite'. Era o tempo das 'boates'. Lembrou a 'La prison', 'Club Set' e 'Calabouço" no centro de turismo; da 'Apple', em 'Ponta Negra', apenas por citar algumas. Para os menores de idade, haviam as matinês. Tudo no final dos anos setenta começo dos oitenta. Todos dançavam ouvindo os 'hits' internacionais. Elementos da música erudita haviam sido incorporados ao rock. Era a última década do período conhecido como 'classic rock'. Não quis deixar de registrar os saudosos carnavais com os blocos de rua. Kuxixo, Bacurinhas, Ressaca, Bakulejo, Saca Rolha, Jardineiros, Meninões e muitos outros. O Jardim da Infância foi pioneiro. Não existia violência, em seu sentir. Passavam o dia entre casa e casa. Eram os famosos 'assaltos', onde os proprietários recebiam a pequena agremiação para comes e bebes. Iam dentro de alegorias feitas em cima de reboques de cana de açúcar, pintadas por um artista local, puxados por um trator. Uma bandinha animava os foliões. Final da tarde, matinê no América e o grande baile à noite. Uma beleza. Foram anos de sucesso e alegria. Lembrou, com muito pesar, um grave acidente em 1984, na subida da avenida Rio Branco, ceifando a visa de dois jovens amigos. Um trauma para a pacata cidade. É bem provável que esse fato tenha contribuído para que o evento começasse a ser repensado. E calou-se. Prometeu, com mais vagar, registrar outros fatos guardados em sua memória.

DALTON MELO DE ANDRADE, professor universitário aposentado (dandrade@supercabo.com.br)

Extraterrestre (II) Gostei do meu papo com o extraterrestre, e que noticiei aqui. Antes do "ciao", me havia dito que, para falar de novo com ele, era só mentalizar esse desejo, que ele voltaria. Telepatia. Foi o que fiz, e ele, para minha surpresa, reapareceu. Explicou: usamos a mente como meio de comunicação há muito tempo. Justifiquei meu chamado. Queria saber o seu nome, se ainda ia demorar por aqui, se haviam outros iguais a ele espalhados por aí, e se tinha alguma novidade. O meu nome, disse, eu aportuguesei para Roberto. Na minha língua, urbesiano, se escreve Rrbrrt. Parecido com Roberto. Vocês teriam dificuldade para pronunciar esse nome e de imediato mostraria que não sou daqui. Roberto é comum. Mas todos lá falam a mesma língua? No começo, não, mas uma delas foi se sobressaindo, a grande maioria a falava e resolvemos unificar; a batizamos de urbesiano. Mais ou menos o que está ocorrendo aqui com o inglês. Acho que você deve fazer uma ideia de como isso facilitou a vida de todos, e como trouxe um grande apoio ao nosso progresso. Vai demorar ainda por aqui? Não sei, respondeu. O meu governo me consultou se ainda gostaria de ficar aqui mais alguns anos. Concordei, pois gosto muito daqui. Continuarei com o meu trabalho, principalmente na América Latina, que vai mal. Alguns países têm tido um retrocesso violento em termos de liberdade, de desrespeito aos cidadãos, de excesso de controle na economia, da tentativa de controlar a imprensa e a mídia em geral, que me preocupa. Se você olha para as últimas decisões na Argentina, do que se passa com a eleição na Venezuela, o que ocorreu no Mercosul, com expulsão do Paraguai e a entrada forçada da Venezuela, sem entrar em muitos outros detalhes sobre o que ocorre na Bolívia, Equador e outros, tudo isso preocupa, e muito. Estou aqui há muito tempo, como já

lhe disse, e confesso minha dificuldade em entender os dirigentes desses países. Nunca vi tanta falta de bom senso, tanta demagogia e irresponsabilidade. Felizmente para vocês, o Brasil tem melhorado, mas tem umas recaídas, como agora nessa confusão com o Paraguai. Aliás, uma grande surpresa para mim, pois contrariou toda a sua história de não intervenção. Espero que seja uma ação isolada e que não venha a se repetir. Por outro lado, essas parcerias com a iniciativa privada recém-anunciadas, são medidas positivas. Oxalá sejam seguidas por outras similares, como racionalização do sistema tributário, das leis trabalhistas, diminuição da burocracia. Causa alento ver como o STF está procedendo nessa história do mensalão. Sinais positivos. Quanto a outros companheiros por aqui, não posso entrar em detalhes. Apenas lhe digo, pois isso é óbvio, que sim, há outros urbesianos. Não exatamente na América Latina, mas em outras partes da Terra. Em lugares complicados, conflituosos. Na Síria, Iraque, Afeganistão, Coréia do Norte, temos até um número maior de companheiros. Esses conflitos todos nos preocupam muito, pois algum louco pode resolver usar armas atômicas, e isso não nos é agradável. E vocês interfeririam se houvesse esse perigo? Isso não lhe posso dizer, pois nem eu mesmo sei. Claro que, na evidência de que tal fato possa ocorrer, não poderíamos ficar impassíveis. Mas, iria depender da ameaça, tamanho e quantidade de armas que pudessem ser usadas. Estamos acompanhando cuidadosamente. Mas, como você sabe, já fazíamos isso quando houve o bombardeio de Hiroshima e Nagasaki, e resolvemos não interferir. Grato por voltar para mais esse papo. Vou tomar a liberdade de lhe chamar de novo. Tudo bem? Sem problema, se estiver por perto apareço logo, se não, demoro um pouco, mas venho lhe ver. Cara legal, esse ET.

Carta MARCELO ALVES Sr. Editor. Alegando suspeição por ser meu amigo há quase 30 anos e sendo eu sabedor que o melhor elogio é na ausência afirmo daqui de longe nessa página dois que é nossa (leitor). "Caro amigo você é: Sinônimo de simplicidade, retrato da ética, instrumento da cultura e notório saber jurídico, inimigo da acomodação, cultivador das boas e sinceras amizades, exemplo da boa convivência e orgulho do MPF do Rio Grande do Norte para os outros estados da Federação." Caro leitor é muito bom para um natalense ultrapassar os limites da cidade,

as divisas do estado e fronteiras do país e ouvir elogios a um conterrâneo como aconteceu comigo recentemente lá no Leblon/RJ nas palavras/assertivas dos amigos cariocas ministros do STF: Marco Aurélio de Melo (grande flamenguista, risos) e Luiz Fux, assim como exministro da Saúde José Gomes Temporão (eterno vice vascaíno, risos). Marcelão, parabéns pelo seu aniversário próxima terça dia 18 e muita saúde para você, Dona Lourdinha, Zé Dias e demais familiares. CID MONTENEGRO EMPRESÁRIO (FLABCID@UOL.COM.BR)

O idoso e o trabalho

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NEWTON MOUSINHO DE ALBUQUERQUE, oficial-general do Exército Brasileiro (Ref) (newtonmousinho@uol.com.br)

Ética e política, novos rumos? O julgamento do escândalo do "mensalão" no STF e a chamada "CPI do Cachoeira" no Congresso Nacional têm como característica comum uma mistura malcheirosa de políticos notórios, altos funcionários de autarquias federais e empresários, todos eles acusados de corrupção ativa ou passiva, por terem se apoderado de recursos públicos em proveito próprio e de seus grupos, dolos eufemisticamente citados como "malfeitos". Esses episódios da cena pública atual evidenciam ao brasileiro medianamente informado que a relação entre ética e política precisa ser repensada para ser posta em rumos concordantes. Desde Aristóteles sabemos que ética é o conjunto de valores que orientam o comportamento do homem em sociedade para a garantia do bemestar social, valores esses que lhe surgem pela reflexão do que ocorre à sua volta, levando-o ao conceito de certo e errado, de bom e de mau, em termos de comportamento social.

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A política, como a ética, desde a Antiguidade grega, fundamenta-se na preocupação de indivíduos ou grupos com o bem comum da coletividade em que vivem. As dissonâncias entre ética, eminentemente individual, e política, caracteristicamente de natureza coletiva, decorrem porque política não existe sem choques de interesses de grupos antagônicos que almejam o poder para exercê-la, cada um deles com uma peculiar visão de ética. Nesse choque de interesses, o bem comum como objetivo político deixa de ser fim e se transforma em meio para ganhar o apoio dos eleitores com a exclusiva finalidade de conservar e manter estável esse poder, o que nem sempre ocorre a partir de atitudes éticas. Nicolau Maquiavel (1469-1527), funcionário público e diplomático do governo da cidade-estado de Florença, na Península Itálica, observador arguto e racional do comportamento político de sua época, o descreve em "O Príncipe" como "a verdade

efetiva das coisas" – o que realmente o político deve saber e praticar para se manter no poder, mesmo que isto o conduza a comportamentos antiéticos. O político de hoje – e o nosso RN não é exceção a isso – é julgado pelo sucesso ou fracasso de suas decisões efetivadas, o que torna o seu objetivo último fazer o necessário para alcançar o fim que estabeleceu para si e seu grupo, isto é, o poder político. Lendo Maquiavel nos dias de hoje, verificamos como ele estava certo ao definir que "a ética do político medese pela consecução de seus objetivos". Entretanto, quando o STF procura impor limites ao comportamento de marginais políticos e empresários parte de seus esquemas de poder, poderíamos dizer, com um cauteloso otimismo dependente do resultado dos julgamentos, que novos rumos entre ética e política – desta vez convergentes – podem ocorrer. Já a "CPI do Cachoeira" continua uma imensa interrogação.

JURANDYR NAVARRO, procurador do Estado, aposentado, e presidente do Instituto Histórico e Geográfico do RN

Elêusis e o carro de Apolo Nos verões da Areia Preta costumávamos meus primos, amigos e eu, tomar banho também à tarde. Às vezes, ficávamos n'água até o entardecer. Dali avistávamos o sol poente declinando por trás dos morros, às nossas costas. E, à nossa frente, víamos a sombra que ia cobrindo o mar, a partir da praia, qual cobertor imenso para agasalha-lo à noite. Essa sombra tomava conta das águas à medida que o sol declinava para trás dos morros, cheios de cajueiros. Quem estivesse n'água, naqueles momentos, notava, natural e inversamente, que à medida que aquela sombra se expandia, via, em consequência, que a luz solar se afastava cada vez mais, mar a dentro, em direção ao horizonte visual que une a terra ao céu, ao longe. Colocados na sombra, sentíamos frio, não tendo outro recurso senão voltar à praia ou nadar para dentro do oceano, à procura do calor do sol. Geralmente, nesse dado instante, era que se ouvia Elêusis gritar para todos: ''vamos pegar o sol". De imediato, nadávamos mais e mais, disputando uma corrida louca com aquele carro da luz até ele se evaporar no ar. Retornávamos, em seguida, com o mar todo coberto daquela sombra, qual agasalho gigantesco para aquecê-lo do frio da noite. Tínhamos cerca de doze anos, quando, em casa de tio Carlos, na antiga rua da Estrela, Esmeraldo Siqueira, seu irmão, ali se encontrava, também, a dar aulas de francês aos sobrinhos, nossos primos. Vendo-nos, indagou de tia Aracy, quem éramos. – "Este é filho de Jurandyr e o outro é Elêusis, filho de Jacy," respondeu a dona da casa. – "Elêusis?" interrogou o professor, acrescentando: – "Um nome tão grande para um menino tão pequeno". Naquela hora logo pensamos: ele é pequeno mas vai crescer. Não atinávamos, no momento, o significado da afirmação do dr. Esmeraldo. Aos doze anos, longe estaríamos de saber sobre os Mistérios de Elêusis, mistérios da vida espiritual, santuário da Grécia Antiga, onde os iniciados à purificação, eram levados a um recinto obscuro e no instante da solene revelação era inundado de intensa luz. E que a partir daí estaria assegurado, para eles, a paz no reino das sombras, quando morressem, já que nessa região obscura, tais felizardos alimentavam a esperança de contemplar a luz em que foram banhados no ritual do santuá-

rio eleusino. Eram, assim, tranquilizados quanto ao seu destino além-túmulo. "Três vezes felizes os mortos que, depois de contemplar esses mistérios, forem para o Hades", proferiu Sófocles, um dos maiores trágicos do teatro grego. Elêusis Magnus Lopes Cardoso, nosso primo, sempre foi atraído pela luz. No banho de mar nadava para pegar o sol, o carro de Apolo, como chamavam os antigos. O seu pai, Adriel Lopes, poeta, dera-lhe o nome em homenagem à sua crença da vida espiritual futura, pressagiada naquele templo helênico, que banhava de luminosidade incandescente os iniciados em tais mistérios cabalísticos e sobrenaturais. Na pesca de anzol o fazia com o sol quente e quando apanhava aratu, à noite, nos arrecifes, sempre empunhava o archote de óleo cru. Era, Elêusis, um pescador inteligente. No Colégio Marista, um dia, ele aproveitou o recreio para ir à Capela, cônosco. No seu interior, confidenciou-nos: – "Eu não vim apenas para rezar; mas, e sobretudo, para ver aquela chama vermelha. Não é ela o sinal da presença de Deus?", disse-nos. Tinha outra maneira de orar, fitando a luz das luzes e talvez com ela conversando. Havia nele essa atração pelo brilho, pelo puro, pelo simples. No Orfeon, quando cantava na galera dos Tenores, se colocava sempre na primeira fila. Não seria para cantar fitando aquela tocha reveladora, na nave? Na religião conformou-se com a humildade. Na amizade e no esporte doava o calor da lealdade e da confraternização. Nessas manifestações sociais esse calor era um calor radiante, ou seja, uma chama viva que procurava manter acesa, como a tocha ardente das competições olímpicas gregas ou o fogo sagrado do lar romano, sempre ardentes numa determinação solene, ritual e caprichosa. Elêusis foi um atleta perfeito e completo, tanto pela sua conformação física e destreza exibidas como pela educação esportiva demonstrada. Quando ninguém domava Jahyr, o galo de janeiro, como dizia papai, Elêusis nunca se irritava, portando-se sempre calmo e contemporizador dos ânimos exaltados, naqueles jogos disputados como verdadeiras guerras. Sobressaiu-se em todos os ramos esportivos que praticou. Repartiu com

Miranda, no futebol, a zaga invicta do Marista; com Deusdedith, Waldemar, Jahyr e Viana, no volibol do Centro Esportivo e com Picado e outros no arremesso da pesca. Primava pela simplicidade, a nota forte da sua personalidade marcante, parecendo, às vezes, ingênua, para quem o não conhecesse, por ser destituído da tola vaidade que a tantos ensoberbece. Formado em Economia, aplicava seus estudos na Receita Federal, onde atendia ao contribuinte, com a habitual simplicidade de homem bom, resolvendo os problemas de cada um e nunca deixando ninguém no meio do caminho ou na boca do leão do Imposto de Renda. Estive com ele nos seus últimos dias, conversando imperturbável como se não estivesse tão doente. Falou em Jairo Procópio, seu amigo, que o convidara para trabalhar no Cartório, quando deixasse a Receita. Fazia planos para a sua aposentadoria, já próxima. Não ouvi reclamações de sua parte e o seu pensamento era lúcido. A ele não fora revelado, até aquela noite, a gravidade dá doença. Mas ele a sentia. Traiu-se quando falou sobre a sua familia dizendo tê-la toda encaminhada, sem verter uma lágrima. Nesse momento vi quanto era forte. Sim, era um homem bom. Esta lembrança deixou para toda a comunidade em que conviveu e se fez conhecido e honrado. Lembrança que conforta, em parte, a sua ausência, em viagem tão repentina. Católico praticante, honrou a sua fé até o fim. Este o seu maior galardão, o maior que um homem pode ambicionar. Que é a vida senão o tempo que Deus nos dá para o aprimoramento das virtudes e o fortalecimento da fé? E Elêusis doou toda uma vida por tão nobre causa e tão sublime ideal. Correto com a sua família e correto com o trabalho, sendo o pai compreensivo e o colega leal. Ao se despedir, com os filhos em sua volta, vendo a aflição de Mariene, sua esposa, escreveu, já que não podia mais falar – "Onde você estiver eu estarei". Com a saúde destruída pelo mal incurável, golpeado pelo frio que antecede o transe final, Elêusis deve ter sentido a flama da vida ameaçando apagar-se. Então, o seu espírito abriu o seu par de asas brancas e alçou vôo para pegar o luminoso carro de Apolo, como passageiro do Infinito.

Há tempos uma dramática situação se arrasta indefinidamente sem ter das autoridades e dos profissionais ligados à atividade uma resposta convincente ou alguma providência. Trata-se da questão que envolve o idoso e o mercado de trabalho. Pois, enquanto a Medicina e a Farmacologia trabalham ininterruptamente para alongar o tempo de vida dos mais velhos, deixando-os, portanto, a cada dia em melhores condições de saúde, o mercado de trabalho os estigmatiza e, na maioria das vezes, os pune com o não emprego, a não oportunidade, a não chance. Enfim, com uma rejeição desumana até - certamente "pelo excesso de dias". Este segmento, que agregou ao longo do tempo conhecimento precioso e muita experiência, vem sendo deixado ao relento do processo de tomada de decisões na grande maioria das empresas, sofrendo, com isso, um corte profundo na auto-estima e uma desvalorização constante na renda e no estilo de vida. É hora, então, de se perguntar: existe explicação para isso tudo? Tem explicação para este processo que, mesmo lento, porém de maneira inexorável, vem infelicitando e ceifando vidas de milhares e milhares de pessoas ainda em boas condições de trabalho? Lamentavelmente sim. Num período que abrange os últimos 20 a 25 anos, muitas transformações ocorreram relacionadas ao mercado de trabalho, principalmente no Brasil. Passamos praticamente, até os anos 80, por um regime de reserva de mercado no qual as empresas, na maioria dos casos, não se preocupavam muito a quem vender nem com a qualidade do que produziam. Na realidade, elas tinham muito mais pessoas interessadas em comprar do que a capacidade que elas tinham de produzir e de vender. Era um tempo de economia fechada ao mercado externo e de grande esforço exportador para gerar divisas necessárias ao pagamento da dívida. É bem verdade que o pleno emprego não havia, mas as entradas e saídas de funcionários eram mais lentas, gerando, com isso, um "turn-over" até saudável. Portanto, era natural a permanência dos profissionais durante um longo período nas empresas, com a conseqüente valorização dos mais antigos. Com a abertura dos mercados, no início dos anos 90, a realidade mudou radicalmente. A concorrência aumentou, as empresas nacionais passaram a ter acesso ao "modus operandi" das multinacionais, pelo fluxo internacional que se estabeleceu, e pelo qual tinham de reciclar e treinar rapidamente seus quadros, colocando para fora os que não se adequassem às novas tecnologias, uma febre de renovação varreu as empresas - e aí os mais antigos dançaram. Foram prejudicados não só pela obrigatoriedade rápida de atualização, mas - e principalmente - pela necessidade imediata que surgiu de se economizar nas folhas de pagamento. O negócio, então, era trocar o funcionário mais antigo, portanto mais caro, pelo mais jovem, de exigências salariais mais condizentes com a ocasião e com maior capacidade de aprendizagem da informática e de um novo idioma. Em seguida veio a globalização, sistema pelo qual os países que tinham maior capacidade de produzir mais e melhor a preços mais baixos ganhavam mais e mais mercados. Aí o peso dos custos sobre a folha de salários passou a ser ainda mais preocupante. Essas novas condições de mercado criaram um paradigma ainda mais forte relacionado aos idosos, pelo qual pessoas com idade entre 40 a 50 anos foram taxadas de velhas para muitas das atividades, enquanto as com mais de 50 anos passaram à classificação de idosas e até de ultrapassadas e obsoletas. Na outra ponta da questão, os progressos da ciência vieram acentuar a vida útil dos seres humanos, ampliando assim, cada vez mais, o conteúdo paradoxal dessa realidade. Tem saída para esse difícil contexto? O melhor remédio, para alguns entendidos no assunto, tem sido o de cultivar, no ambiente de trabalho, uma postura que venha aliar a juventude à experiência, empregando jovens e mais velhos de acordo com o direcionamento de mercado adotado por cada empresa. Esse, portanto, é um caminho que tem todas as condições de recuperar a auto-estima das pessoas, além de criar um ambiente de trabalho saudável e motivador. No entanto, se faz necessário, para o atingimento desse objetivo, a quebra de todo e qualquer preconceito. Do contrário, a empresa passa a ser uma cultivadora de paradigmas, se tornando, logicamente, inabilitada para implementação de programa de tal natureza. Pelo que se vê, tudo se resume a colocar um pouco de coração no planejamento e na administração das empresas, sem desgrudar os olhos, é claro, do faturamento. Dará certo? Aí a resposta fica com o tempo.

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