05072013

Page 6

6 O Jornal de HOJE

Natal, 5 de julho de 2013

Cidade

Sexta-feira

José Aldenir

WALFREDO GURGEL RESPIRA POR APARELHOS E SEM SEDATIVO CINCO CARDIOLOGISTAS PEDEM EXONERAÇÃO ALEGANDO FALTA DE CONDIÇÕES DE TRABALHO. ESTADO TENTA NEGOCIAÇÃO José Aldenir

CLEO LIMA CLEOLIMA86@GMAIL.COM

Segue o calvário da Saúde no Rio Grande do Norte. Amais nova bomba jogada no colo do povo é o pedido de exoneração feito por cinco cardiologistas da Unidade de Tratamento Intensivo do Hospital Monsenhor Walfredo Gurgel, alegando a total falta de condições de trabalho. Segundo os profissionais da saúde, os problemas da unidade são crônicos e vêm se arrastando há décadas, mas chegaram a um ponto crítico a partir de 2010. Eles alegam que tentaram marcar reuniões com a Secretaria de Estado da Saúde Pública do Rio Grande do Norte (Sesap) por diversas vezes, para que se tentasse chegar a um acordo, mas nunca foram atendidos. Um dos médicos a pedir demissão foi o coordenador da UTI Cardiológica do hospital, George Fonseca. "Não existe a menor condição de continuarmos exercendo a Medicina dessa maneira, sem um mínimo de estrutura, sem medicamentos, sem leitos. A situação chega

“A situação chega ao absurdo de termos de escolher um paciente entre dez para fazer o atendimento” GEORGE FONSECA COORDENADOR DA UTI CARDIOLÓGICA, QUE FOI UM DOS MÉDICOS A PEDIR EXONERAÇÃO

ao absurdo de termos de escolher um paciente entre dez para fazer o atendimento, por conta da falta de espaço, sendo que todos requerem medidas urgentes. Impossível trabalhar dessa maneira", afirma, indignado, o coordenador. De acordo com uma das médi-

cas que permanecem no quadro, Marília Afonso, o sentimento de insatisfação é geral. "Nós apoiamos a decisão dos colegas que pediram afastamento, todos nós estamos revoltados com a situação. Os que ficaram só fizeram isso por já terem muito tempo de serviço e estarem

próximos da aposentadoria", explica. "Aqui no Walfredo nós temos que trabalhar como médicos e ainda resolver assuntos de setores administrativos e de assistência social. É um absurdo!", ressalta Marília Afonso. Um dos profissionais a deixar o quadro de funcionários da Sesap,

Luciano Pilla, explica que a decisão não foi tomada arbitrariamente. "Não decidimos isso de uma hora para a outra, são anos de descaso, de abandono. Existem goteiras e infiltrações dentro da UTI, falta medicamento, não temos aparelhos para realizar exames de ecocardiograma, nem de raio-X. A própria instalação da UTI é deficitária, pois existem duas áreas completamente separadas, o que impossibilita o monitoramento simultâneo e contínuo de todos os pacientes. Nós já interditamos leitos mais de uma vez, por falta até de segurança para os pacientes. Exercer a Medicina sob essas condições é inviável", desabafa Pilla. George Fonseca conta, ainda, que a equipe de cardiologia do Walfredo Gurgel era formada, até agora, por nove médicos, sendo ele na coordenação e mais oito plantonistas. Com a iminente saída dos cinco que solicitaram desligamento - os doutores Luciano Pilla, Rodrigo Sousa, George Fonseca, Cristiane Pita e Stefferson Duarte - e mais a aposentadoria de um dos profissionais, Antônio Tomás,

a situação atinge a um nível crítico. "A decisão é definitiva, já tentamos resolver o problema de todas as maneiras possíveis, mas não obtivemos respostas por parte da Secretaria de Saúde. O curioso é que bastou nós divulgarmos o pedido de exoneração para o Secretário anunciar que havia uma reunião marcada para hoje (5). Só que nem nós sabíamos disso ainda", finaliza. Apesar das declarações, logo após a entrevista, os médicos foram recebidos pelo titular da Sesap, Luiz Roberto Fonseca, para debater os pontos de reivindicação da classe junto à Associação Médica do Estado, que tenta intermediar a situação. Foi feita uma solicitação aos médicos para que a decisão fosse reconsiderada, e, de acordo com a assessoria de imprensa da Secretaria, acertou-se que a palavra final será dada semana que vem. A Sesap garante que, independente da repercussão do caso, a UTI Cardiológica do hospital continua em funcionamento e que as escalas estarão mantidas até o final do mês.

Setor pediátrico da unidade também apresenta problemas

José Aldenir

No setor de ortopedia pediátrica do Hospital Regional Walfredo Gurgel, o problema é a falta de espaço. A crise é motivada pela interrupção no convênio entre a Secretaria Municipal de Saúde de Natal (SMS) e um dos hospitais que absorvia a demanda de cirurgias ortopédicas para crianças. Segundo a pediatra Sônia Godeiro, a situação se repete com muita frequência. "Aqui no Walfredo não são realizados esses procedimentos cirúrgicos, que só podem ser viabilizados graças à parceria que a Secretaria de Saúde de Natal tem com o Hospital Médico Cirúrgico e o Hos-

pital Memorial. Só que o Médico Cirúrgico parou de receber os pacientes e nós não recebemos nenhuma explicação sobre o que está acontecendo. Não sabemos se é atraso de pagamento, se é problema com documentação, a gente ouve de tudo pelos corredores, mas na há uma posição oficial sobre a questão", afirma Godeiro. A reportagem d´O Jornal de Hoje tentou entrar em contato com a Secretaria Municipal de Saúde para esclarecer os motivos que levaram à atual crise na pediatria do hospital durante toda a manhã desta sextafeira (5), mas não obteve êxito.

Enquanto não se resolve o problema, crianças aguardam por cirurgia em condições precárias. "Temos pacientes que estão esperando há 13 dias e não temos sequer uma previsão para dar à família. Os pais têm de faltar trabalho para vir acompanhar os filhos, que, por sua vez, estão perdendo aulas. Além disso, toda essa espera pode fazer com que as fraturas cicatrizem da maneira errada e as crianças fiquem com sequelas para o resto da vida. Não sabemos mais o que fazer", lamenta Sônia Godeiro. Uma das mães, Maria Odete, não conseguia conter as lágrimas. "É um estado de

calamidade. Minha filha está há oito dias aqui esperando pela cirurgia, sentindo dores e eu não posso fazer nada. Não tem condições", desabafa. Ivanildo Nunes, esperando o atendimento do filho há quase duas semanas, afirma que entrou em contato com a SMS e que a Secretaria se comprometeu a dar uma posição hoje pela manhã. "Eles [a secretaria] disseram que iriam ligar às 8h da manhã, mas não teve contato nenhum. O menino está perdendo aula e eu faltando trabalho. Se eu perder o emprego, como vai ser?", questiona o pai.

Algumas crianças estão há 13 dias esperando pela realização de cirurgias ortopédicas

> SUSPEITA DE PIRÂMIDE

Ministério Público definirá linha de investigação contra empresas de marketing multinível na 2ª feira Um dos promotores de Defesa do Consumidor responsável pela investigação das empresas de marketing multinível citadas no Inquérito Civil, Alexandre Cunha Lima aguardou resultados da ação civil que corre no estado do Acre contra a Telexfree para definir a estratégia montada em âmbito local. Ele iniciará os trabalhos na próxima segunda-feira (8), após uma reunião com outros dois promotores de Justiça, em que as suspeitas da prática de pirâmide financeira serão analisadas. Ainda que nenhuma denúncia tenha sido feita contras as empresas, que incluem a NNex, Multiclick, BBom, Priples e Cidiz, no Rio Grande do Norte, o Ministério Público pretende proteger consumidores potiguares de possíveis golpes e separar o que é legal do ilegal. "Em vários Estados, através de órgãos, como a Secretaria de Direito Econômico, Polícia Federal, as investigações já começaram", diz o promotor Alexandre Cunha Lima, que estima em 100 mil o número de adeptos norte-riograndenses só no Telexfree.

Semelhanças com casos anteriores, em que recrutar pessoas com taxas de adesão ou compra de pacotes e fornecer lucro fácil e rápido, foi o estopim para o início da desconfiança dos promotores. "Quando li ou ouvir de pessoas que o vizinho estava ganhando tanto, sem se preocupar se a atividade é licita ou não, virou motivo de preocupação", diz o promotor. O inquérito civil no Estado foi aberto na última terçafeira (2), após decisão conjunta da Promotoria de Defesa do Consumidor e Investigação Criminal, e do Grupo Articulado de Combate ao Crime Organizado (Gaeco). O prazo para finalizar as investigações é de 90 dias, com possibilidade de prorrogação. "As pessoas deveriam se informar mais, olhar para os órgãos públicos [de proteção do consumidor], antes de aderir a qualquer investimento novo. Sabemos de pessoas que pegaram empréstimo, insistiram com familiares e amigos para comprar um pacote. Sem emitir uma decisão de mérito final, mas esses investidores, se confirmada a prática ilegal das empresas, ali-

Wellington Rocha

Segundo o promotor Alexandre Cunha Lima, o prazo para finalizar as investigações é de 90 dias, com possibilidade de prorrogação mentaram uma rede criminosa". O promotor desacredita que os investidores sejam punidos, mas seis ações contra a Telexfree tramitam no Tribunal de Justiça do RN, após o bloqueio do dinheiro pela Justiça estima-se que o valor ultrapasse os

R$ 20 milhões, se calculado pelo mínino de R$ 100 depositados semanalmente para os divulgadores. Das pessoas que tiveram suas contas bloqueadas de forma unilateral, cinco conseguiram garantir a reativação dos contratos celebrados e o

acesso às contas. Todas as empresas serão notificadas. Caso seja detectada alguma irregularidade, e comprovada a pirâmide financeira, os responsáveis podem ser indiciados por crimes como estelionato e formação de quadrilha. Situação que

mantém Francisco Antônio da Nóbrega Júnior tranqüilo. Diretor da equipe BBom em Natal, ele vendeu uma loja de carros e apostou na novidade. Hoje, seus rendimentos atingem os R$ 16 mil por mês. "Está tudo na normalidade. Para nós do BBom, as investigações serão boas para separar o joio do trigo. Não vou dizer que a notícia sobre o Telexfree não abalou o mercado, mas estamos trabalhando em conformidade com a lei. Temos um bem físico [rastreadores de automóveis], um serviço diferenciado. Não atuamos com dinheiro por dinheiro para sustentar quem está no topo da pirâmide. Mas só existe culpado depois do julgamento. Vamos aguardar o que diz a Justiça". Das seis empresas alvo do inquérito civil, o montante de dinheiro investido é desconhecido do Ministério Público, que pretende diferenciar o marketing multinível (voltado para a compra e venda de serviços e produtos) e a pirâmide financeira, cujo foco é a captação de clientes.


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.