2 OPINIÃO
TERÇA-FEIRA, 29 DE JUNHO 2021
ESPAÇO JORNALISTA MARTINS DE VASCONCELOS
Organização: CLAUDER ARCANJO
O EQUILÍBRIO DA VIDA RAIMUNDO ANTONIO DE SOUZA LOPES
é escritor e jornalista rsouzalopes@hotmail.com
Quando o homem dominar as tecnologias não precisará mais de Deus... Essa frase acima, proferida pelo padre Antônio Furtado (Shalom-Fortaleza/CE), na sua homilia do dia 30/05, me fez pensar sobre o quanto somos insensatos e incrédulos, diante da grandeza do Arquiteto do Universo. O próprio padre, em seguida, passou a discorrer e a elencar as bobagens que são proferidas, quando se trata de o homem querer se comparar a Deus. Ele citou, biblicamente, Adão e Eva, e a soberba de ambos, diante da perspectiva de, ao comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, equivalerem-se ao seu Criador. Igualmente, quando Deus criou um espírito poderoso, inteligente e bonito, líder de todos os anjos, chamado Lúcifer (“Aquele que brilha”), o qual, com seu orgulho, chegou a dizer: “Subirei acima das nuvens mais altas e serei como o Deus Altíssimo” (Isaías 14:12-14). Diante desses dois exemplos, de como homem e anjo se voltaram contra Deus, o representante do Altíssimo na Terra fez uma pregação cheia de amor e caridade, procurando mostrar aos fiéis cristãos a incomensurável importância do Divino Criador para a humanidade, mostrando que a Fé nEle está acima de qualquer coisa. Eu fiquei pensando, logo após a santa missa, nessa relação da criação com o seu criador. Bem, para os que acreditam que há um ser superior, regendo tudo isso que, pouco ou quase nada, conhecemos como universo, não custa lembrar que somos, individualmente, seres complexos com vontade e pensamentos próprios, assim como há, dentro de nós, algo (ou alguma coisa) que nos diferencia dos demais. Quando eu vejo a palavra tec-
nologia ser empregada como se fosse algo recente, nunca usada, na história, custa-me acreditar que alguém, com inteligência, possa pensar dessa forma. Ora, desde que, há sete milhões de anos, quando se deu a origem de uma espécie chamada de hominídeo, a tecnologia passou a fazer parte do seu dia a dia. A pedra de sílex, lascada uma na outra, por exemplo, ajudou-o a cortar o couro dos animais (e ele não precisou mais usar suas mandíbulas para tal) e foi, sem sombra de dúvidas, um avanço na tecnologia, que lhe possibilitou, anos mais tarde, aprender e dominar o uso do fogo. Veja como essa tecnologia foi importante para o homem: da pedra se fez a machadinha, a lança e outros apetrechos que o ajudaram a sobreviver aos tempos difíceis da Pedra Lascada. Então, se ele já dominava os animais e o fogo, já que conseguia sobreviver somente com a sua capacidade criativa, com a sua inteligência, por que então se preocupar com algo que ele não via, não conhecia, e que não fazia parte de sua vida cotidiana? Simplesmente, porque o homem precisa de algo para se apegar; algo que tenha um significado que vá além de sua imaginação, assim como o que ele traz dentro de si e que o torna díspar dos demais seres de
Aproveitemos, pois, as tecnologias para fazermos o bem, alimentando a quem tem fome, dando água a quem tem sede, vestindo quem está nu e cuidando melhor do planeta em que vivemos.
sua raça: a alma. E ele só vai encontrar isso em um ser superior, que o rege e é capaz de dar significado aos seus instintos, dilemas, problemas, angústias, tristezas, alegrias, vontades, desejos, paixões… amor. A Santa Escritura revela esse ser invisível e torna-o visível para todos nós, através dos ensinamentos de Jesus Cristo: “E o verbo se fez carne e habitou entre nós'' (João, 1, 14). É tanto que Ele - quando se fez carne e viveu como homem - pregou o bem, fez o bem e deixou o bem ao alcance de todos, como exemplo. Porém, o que Ele não explicou foi como tudo aconteceu, mas justificou, dizendo: “É por isso que eu lhes falo em parábolas: porque olhando, eles não veem, e ouvindo, eles não escutam, nem compreendem” (Mateus, 13, 10-17) O homem, através do tempo, vai criando, produzindo e tornando-se tirano (tudo em decor-
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rência da tecnologia que ele inventa) e, com isso, passa a dominar o próprio homem. O acúmulo de riquezas, com a produção em excesso, favorece os meios para subjugar o seu semelhante, tornando-o capaz de conquistar, dominar, aprisionar, impor seus valores, suas regras, seus conceitos e suas ideologias e, claro, dar ou não sentido ao invisível, que só se explica através da percepção que traz, individualmente, e que pode ser usada da forma como ele bem entender. Talvez seja aí que o discurso bíblico do padre convirja para aquilo de que precisamos, como seres coletivos, que é saber-se nada diante da infinita sabedoria de um ser que criou tudo isso e, gratuitamente, nos deu. E, para isso, precisamos apenas lembrar que a ciência quanto mais estuda os enigmas do universo mais descobre que muito pouco sabe sobre ele. Descobre, por
exemplo, que a energia escura e a ordinária já não são as únicas que regem o cosmo; que prótons, elétrons e nêutrons, já são divididos quase que infinitamente e que a fé cura os males e a oração ajuda na imunização do corpo. Então, se a ciência evolui e possibilita uma melhor qualidade de vida para todos nós, a crença no que trazemos, em nosso interior, vai dar o contraponto e o equilíbrio de que precisamos para atravessarmos a jornada da vida. Aproveitemos, pois, as tecnologias para fazermos o bem, alimentando a quem tem fome, dando água a quem tem sede, vestindo quem está nu e cuidando melhor do planeta em que vivemos. Se assim o fizermos, vamos nos aproximar mais do espírito que habita em nós e não haverá necessidade de parábolas, para compreendermos, finalmente, o sentido da vida.
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