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CULPA Capítulo IV
from Jornal De Fato
me pesaram. Caí num sonho estranho. Entrava num espaço apertado e dava de frente com os dois homens que eu carregava como pecado de morte: pai e filho. O primeiro me sorriu com os dentes escuros e grandes, a boca ensanguentada, os olhos crispados em mim. O filho, ao lado do pai, quase na sombra paterna, a esperar o momento certo de me atacar. De repente alguém anunciou: “Matou pai e filho!”. E outro a responder: “Devia ter vindo para junto deles, no reino dos mortos. Mas intercederam por ele, sem merecer...” com ela uma quietude que me incomodava. Antes que eu tentasse me pôr de pé, não sabia quanto tempo estivera deitado, uma voz de mulher ao canto:
— Você dormiu um bom tempo, senhor. Apesar de agitado.
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Na leve escuridão, consegui divisar um rosto feminino sob a luz de uma lamparina sobre o fogão a lenha.
Levantou-se e retornou com uma tigela de sopa quente.
— Sente-se — ordenou-me.
— Precisa se alimentar — emendou.
— Essas marcas logo sumirão.
Ao se aproximar, divisei seus olhos claros, sua face de uma beleza diferente, mistura de raças daquele sertão.
— Quem é você? — perguntei.
Ela, de início, sorriu-me; e, a seguir, respondeu-me, num tom de faceirice e troça:
— Sua protetora. Pelo menos nesta noite.
Antes que conseguisse indagarlhe algo mais, ela continuou: tão velha!
Ela sacudiu a rede armada ao meu lado, deitou-se e, antes de meter-se por debaixo do lençol, advertiu-me:
— Durma.
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Caí num sono profundo. Sonhei, mas sem me ver em pesadelo. Aquela bela senhorita ao meu lado fazia-me deixar um espaço escuro e apertado, mantendo-me à distância dos dois homens que me cercavam. Sempre a me defender:
— Deixem ele. Não queiram fazer da vida deste homem um inferno aqui na Terra.

&&&
— O Inferno não me quis!
— eu esbravejava, enquanto tentavam me conter.
O pescoço dolorido, a cabeça perdida num tumulto de lembranças, a língua grossa, os olhos num espanto só.
— Aquiete-se, homem de Deus. Tenha calma! — pedia-me uma velha senhora ao meu lado. Com ela, o terço de grandes contas pendurado no pescoço engelhado, as mãos enrugadas sobre o meu peito inquieto.
Quando fiz menção de me levantar, ouvi a ordem de Lourenço de Maria:
— Você não vai a canto nenhum! Ora, ora! Escapou por pouco da morte. Se eu não tivesse voltado para apanhar a chibanca, você agora estaria pendur...
Calou-se, como se com vergonha de falar da morte naquele lugar em que ela estivera tão perto de mim.
— Humm... — grunhi, fechando os olhos. Não saberia dizer se envergonhado de não ter conseguido o desfecho pretendido, ou se sem argumento diante daquele que, pelo visto, eu tanto decepcionara.
— Deus é grande e enorme a Sua misericórdia. Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo. Amém! — pronunciou a senhora.


Serviu-me água num copo de ágata; aquilo me desceu em engulhos. Tossi forte, engasgado.
— Calma, meu filho! Repouse, re-pou-se... A voz mansa, o tom carinhoso e suave, e os olhos
&&&
— ... intercederam por ele, sem merecer... sem merecer! — gritei.

A noite chegava, trazendo
Serviu-me o ensopado em colheradas espaçadas, numa paciência que me tornava sem jeito de desobedecê-la.
Ao final ela me ofertou um copo d’água; e, de leve, tocou-me na altura do queixo.
— E exijo que não converse mais nada, nem sonhe nenhuma besteira, por hoje. Preciso descansar um pouco também.
Com receio de ficar sozinho, interroguei-lhe:
— A senhora vai dormir aqui?!
— Senhora?! Nem sou assim
Madrugada alta, notei aquela mão fina sobre a minha testa. Era ela a se certificar de que eu dormia sem febre?
Tudo me trouxe uma paz que há tempo não sentia. Lembreime dos meus anos de menino, sob os cuidados de minha mãe.
DIREÇÃO GERAL: César Santos DIRETOR DE REDAÇÃO: César Santos GERENTE ADMINISTRATIVA: Ângela Karina DEP. DE ASSINATURAS:
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2000,
Uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral (AIJE), que está na pauta virtual do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) da próxima sextafeira, 31, ameaça o mandato da vereadora Larissa Rosado. O processo acusa o PSDB de Mossoró de usar candidaturas “laranjas” para burlar a lei da cota de gênero nas eleições municipais de 2020.
Caso os ministros da Corte Superior entendam que houve uso de candidaturas fictícias, toda a chapa do PSDB será cassada. Larissa Rosado, que hoje está filiada ao União Brasil, foi eleita vereadora pelo PSDB. O processo também interessa à ex-vereadora
Aline Couto, que é a primeira suplente, isso porque se houver condenação os envolvidos na chapa se tornarão inelegíveis para o próximo pleito eleitoral.
Consta na petição inicial, movida pelo cidadão Vladimir de Paula Tavares, que o PSDB protocolou a sua chapa à Câmara Municipal no dia 24 de agosto de 2 022, solicitando o deferimento da nominata. Inicialmente, foi constatado que a lista de postulantes estava em desacordo com as cotas mínimas de cada gênero, o que teria motivado a intimação do partido para proceder com os ajustes necessários.
Após a intimação, segundo consta nos autos do processo, o PSDB teria acrescido o nome de Maria Gilda Barreto da Silva, que teve a candidatura deferida