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Racismo e xenofobia: Vinícius Júnior é alvo recorrente de ataques dentro e fora de campo

Episódios preconceituosos chegam ao extremo, com gritos que pedem a morte do jogador

Por Gustavo Romero Pires, Felipe de Oliveira Santos, Felipe Volpi Botter e Kawan Novais Fernandes Chagas

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Em 2018, Vini Jr., à época, com 18 anos, foi apresentado ao clube espanhol, Real Madrid. Rotulado como jovem promessa que deixava o Brasil para jogar em um dos maiores e mais competitivos clubes do mundo, o camisa 20 da seleção brasileira precisou lidar com o desafio de se adaptar a uma nova cultura, um novo idioma e, de forma inesperada, à pressão de ataques racistas e xenofóbicos no novo país.

O jornalista Tomás Rosolino, do portal Meu Timão, mora em Madri e participa de programas esportivos de rádio, e relata ao Contraponto os casos escancarados de racismo e xenofobia na Espanha: “O futebol é o reflexo da sociedade e comparando a Espanha com o Brasil, a comunidade espanhola está muito atrasada nesses debates. Claro que a rede social popularizou essas pautas, mas aqui os latinos ficam mais afastados do resto da população por um preconceito ridículo”.

Mesmo depois de se tornar um dos principais jogadores do Real, Vini Jr. sofre constantes ataques racistas e xenofóbicos.

Em 2021, no Camp Nou, estádio do Barcelona, em partida contra os donos da casa, Vini foi alvo de racismo por parte da torcida catalã ao ser substituído durante a partida.

Em setembro do ano passado, o brasileiro foi vítima de ataques, mas desta vez, fora das quatro linhas, durante o programa esportivo “El Chiringuito de Jugones”. O empresário e presidente da Associação de Agentes Espanhóis, Pedro Bravo disse que Vinícius precisava “deixar de fazer macaquice”, ao se referir às danças que o brasileiro faz ao comemorar um gol. Em janeiro de 2023, torcedores do Atlético Madrid usaram uma ponte da cidade para pendurar um boneco vestindo uma camisa do Real Madrid, com o nome de Vinícius Júnior e o número que o jogador usa (20). A ideia era simular uma execução.

Em março deste ano, novamente contra os catalães, torcedores do Barça voltaram a entoar gritos racistas e ameaças de morte, como “macaco” e “Vinícius, morra!”.

Rosolino falou do tratamento da imprensa sobre os ataques. “Várias pessoas, incluindo jornalistas, tentam implementar o debate racial. Mas, aqui ainda é normal chamar os outros de macaco, mesmo sabendo que é errado, nos mostrando a falta de uma luta contra todos estes atos.

E, na minha opinião, o jornal ‘Marca’, que é o maior da Espanha, deveria puxar esses debates no esporte”.

As perseguições contra Vini Jr. não acontecem apenas por torcedores. Jogadores também já se mostraram irados com o astro madridista e começaram a “caçá-lo” dentro e fora de campo. Em um levantamento feito por MisterChip, analista de dados futebolísticos, em fevereiro de 2023, Vini foi o jogador que mais recebeu faltas na Europa entre as sete principais ligas do mundo: foram um total de 79.

O zagueiro e capitão da equipe do Mallorca, Antonio Raillo, em 2022, havia dito que Vinícius usa o racismo como um “coringa” quando é chamado de “provocador”. Em fevereiro deste ano, o zagueiro voltou a atacar Vini ao dizer que não o considera como um exemplo para seus filhos. “Me limito ao que já disse e não direi muito mais. Se, amanhã, tiver que dar um exemplo aos meus filhos, darei o de (Luka) Modric, de (Karim) Benzema, mas nunca o dele”, afirmou o capitão em entrevista para a plataforma de streaming de esportes, DAZN

Futebolistas saem em defesa de Vini Companheiros de time comentaram sobre os ataques contra o brasileiro. “Parece que o problema é Vinícius, e não é assim. É um problema do futebol espanhol e deve ser resolvido”, disse Carlo Ancelotti, atual treinador do Real Madrid, ao expressar descontentamento com os atos racistas e exigir uma resolução em entrevista coletiva em Rabat, antes da semifinal do Mundial de Clubes.

O compatriota e colega de equipe, Rodrygo, em entrevista ao site Goal, falou sobre os ataques hostis. “Esse assunto nos incomoda um pouco. Não só ao Vinícius, mas a todo mundo lá dentro. Mas, sentimos que não temos mais nada para fazer, não temos mais forças. Sempre falando e nada muda. Eu, particularmente, não sei mais o que fazer quanto a esse assunto”, desabafou o brasileiro.

Após a fala do empresário Pedro Bravo, Neymar e Pelé defenderam o atacante brasileiro. O camisa 10 do PSG, nas redes sociais, disse: “Drible, dance e seja você! Feliz do jeito que é. Vai pra cima meu garoto, próximo gol bailamos”.

O Rei do Futebol, também nas redes sociais, comentou: “O futebol é alegria. É uma dança. É mais que isso. É uma verdadeira festa. Apesar de que, infelizmente, o racismo ainda existe, não permitiremos que isso impeça de continuar sorrindo. E nós continuaremos comba - tendo o racismo todos os dias desta forma: lutando pelo nosso direito de sermos felizes e respeitados.”

Além do apoio de jogadores, a torcida merengue comprou a briga de Vinícius. No entanto, para Rosolino, a atitude não foi em respeito ao atleta, e sim uma defesa a um jogador do clube. “Fui algumas vezes no estádio do Real e vejo o Vini como um grande ídolo da torcida, fazendo com que ela compre suas causas, mas fica nítido que a defesa ocorre mais pelo respeito que um excelente jogador merece, do que pelo ser humano”, afirmou o jornalista.

Impunidades aos ataques contra Vini Jr. A Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF), a La Liga – primeira divisão da Liga Espanhola –, e os promotores regionais não fizeram nenhuma intervenção concreta sobre os casos de racismo até o momento. Torcedores acusam as organizações de acobertar os infratores, que não recebem punições, e de usar argumentos incoerentes, como “não foi possível identificar os perpetradores”.

Vini Jr. também já criticou a Liga em mais de uma oportunidade, como quando alegou que a associação não faz nada a respeito dos episódios, em seu perfil do Twitter. “Os racistas seguem indo aos estádios e assistindo ao maior clube do mundo de perto, e a La Liga segue sem fazer nada. Seguirei de cabeça erguida e comemorando. No final, a culpa é minha”, desabafou o brasileiro.

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