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A ascensão e a queda dos reality shows no Brasil

O que se tornou o mundo desse gênero pós pandemia e quais são as mudanças do atual modelo do programa

Por Gabriel Cordeiro, Lucas Lopes, Pedro Lima, Pedro Paes

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Os reality shows sempre foram uma forma de entretenimento popular, mas nos últimos anos houve um acelerado crescimento e até repentino desses programas. Dentre diversos fatores responsáveis por esse aumento da sua popularidade, estão desde a pandemia até uma reformulação do seu funcionamento.

Um dos principais fatores que ocasionaram mudanças no gênero foram as redes sociais, que trouxeram para os reality shows a necessidade de se adaptar a uma nova dinâmica de interação. Antes, os realities eram exibidos na televisão e o público tinha poucas oportunidades de interagir com os participantes. Atualmente, as mídias sociais permitem que os telespectadores tenham uma participação mais ativa, acompanhando o programa em tempo real, comentando e compartilhando suas opiniões.

Além disso, as redes tem o potencial de mudar o perfil de um participante vencedor. Juntamente com o desempenho dentro do programa, ter essa ferramenta fora do reality bem administradas e engajadas se faz fundamental.

Com a ascensão do ativismo online na internet, os participantes desses programas também estão cada vez mais sujeitos a serem “cancelados”. O termo cancelamento se refere ao boicote ou repúdio público de uma pessoa que tenha cometido uma ação considerada ofensiva ou inadequada.

Quando um participante de um reality show é cancelado, as consequências podem ser graves. Além de perder a oportunidade de ganhar o prêmio do programa, eles podem sofrer uma forte repercussão negativa em seus perfis online e em suas carreiras futuras. Empresas patrocinadoras também podem se distanciar desses participantes, prejudicando ainda mais suas carreiras.

Um exemplo de cancelamento acalorado foi o da cantora e influenciadora Karol Conká, eliminada do Big Brother Brasil (BBB) de 2021 com 99,17% dos votos (recorde de rejeição de um participante no programa).

Conká disse em entrevista para o portal UOL que pensou seriamente em tirar a própria vida por receber inúmeras mensagens de ódio. Hoje, ela afirma que superou essa rejeição, mostrando que todos estão sujeitos a erros. Ainda na entrevista, ela comentou que está vivendo a sua melhor forma e se declara uma “nova mulher”.

Outro fator relevante para esse aumento de popularidade foi graças a uma reformulação do reality show. Após uma edição com números baixíssimos em 2019, a Rede Globo mudou o formato incluindo personalidades conhecidas pelos jovens como o youtuber Pyong Lee, a maquiadora e influenciadora digital Boca Rosa, a cantora Manu Gavassi e outros.

Também foram incorporadas novas dinâmicas que atraíram mais telespectadores para o acompanhamento do programa ao vivo. Vale ressaltar que as emissoras desse gênero contaram com outro fator inesperado: a pandemia de COVID-19.

A pandemia alavancou o BBB 20, fazendo com que alcançasse números históricos de audiência – em contraste com a edição anterior, que bateu recordes negativos. Tomando destaque para o momento da eliminação – o famoso “paredão” – com maior número de votos da história dos reality shows mundiais, entrando para o Guiness Book (1.532.944.337 bilhão de votos).

Os bons números do BBB persistiram até a próxima edição, com o BBB 21 quebrando novamente recordes de audiência. No entanto, não foi só o reality da Globo que teve bons números durante a pandemia, o reality A Fazenda, da emissora Record, também foi popular durante o período, chegando a índices que não eram vistos há uma década na emissora, com 13,6 pontos de audiência na grande São Paulo, na edição de 2020.

Entretanto, esses programas parecem saturados, com quedas significativas do consumo desde 2022. O BBB deste ano teve uma queda de quase 20% no ibope na grande São Paulo em relação a 2020 (28 pontos para 23 pontos), grande parte dessa queda se deve ao “fim” da pandemia e um excesso de produções do mesmo gênero.

A edição atual do programa registra números negativos, que mostram que a audiência média da temporada deste ano está em 18,7%; em 2021, esse número era de 27,2%, mostrando um indício de decadência do programa.

Essa edição teve tanto sucesso que refletiu até nos números de seguidores dos participantes, com alguns chegando à casa de milhões de seguidores no Instagram, sem mesmo ter chegado perto de vencer o programa: Gabi Martins, Flayslane, Guilherme Napolitano e outros são participantes que conseguiram o feito. Isso contrastou até com campeões anteriores, que não chegaram nem a marca de 500 mil, como Cezar Lima do BBB 15, Dhomini Adriana do BBB 4 O crescimento durante esse período tem explicação. Em entrevista para a Revista Digital Esquinas, a neuropsicoterapeuta Patricia Pires, explica que devido ao isolamento social, as pessoas tiveram maior contato com as suas emoções, que poderiam passar despercebidas devido a rotina agitada e, com isso, se evidenciou o tema da saúde mental.

Para entender um pouco a visão do público, Henrique Sievers, amante e espectador de Reality Shows, explica ao Contraponto a queda dos telespectadores e expõe sua opinião sobre o atual modelo do programa.

“Essa ideia de inclusão de famosos no BBB mais atrapalhou do que ajudou. Com os juízes da internet brincando de cancelar pessoas, pela maioria dos “camarotes” – famosos convidados pelo programa – já possuírem uma vida financeira estável, entram no programa com medo do cancelamento e de perder patrocínios, criando participantes robóticos e artificiais. Se não encontrarem uma forma de fazer com que os participantes se “entreguem” ao jogo, vejo a audiência caindo ano após ano.”

Apesar dos anos recentes de sucesso, a curva parece estar descendo para o consumo desse tipo de programa. O fim da pandemia ocasionou a volta de outros meios de entretenimento e a volta do “mundo real”. Tudo isso somado aos fatores já citados, faz com que os reality shows peçam, novamente, outra reformulação.

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