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A culpabilização do prazer feminino
Por Fabiana Caminha, Laís Bonfim, Laura Boechat e Maria Clara Alcântara
Asexualidade feminina sempre foi um assunto delicado ao redor do mundo, principalmente em um país conservador e de raízes religiosas como o Brasil. Ao longo da história, o sexo sempre foi visto como algo para os homens, e as mulheres tinham apenas o papel de servir seus companheiros. Essa mentalidade só começou a mudar no início dos anos 80, quando a discussão virou pauta dos movimentos feministas brasileiros. “As mulheres sempre foram vistas como objetos do sexo, e não como seres com desejos sexuais” afirma a cientista social e professora da PUC-SP, Carla Cristina Garcia.
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No ambiente religioso, esse assunto começou a ser introduzido na última década, porém a abordagem foi um pouco diferente, pastores(as) passaram a discutir na igreja sobre a blindagem do casamento, que constitui em manter acesa a “chama” através da sexualidade, com isso, sexy shops viram essa nova demanda surgir e começaram a focar em produtos destinados à esse público.
“Não tem porque eu fazer o que eu quero, se eu posso fazer aquilo que o Senhor deseja.” A aluna de direito de dezenove anos, que prefere não se identificar, compartilha a sua visão sobre a escolha de manter a castidade até o casamento. A estudante faz parte da campanha cristã “Eu escolhi esperar”. O movimento atua nas áreas de preservação sexual e integridade emocional. Com mais de dois milhões de seguidores nas redes sociais, o movimento busca incentivar e orientar jovens cristãos a não praticar sexo pré-matrimonial. Para a jovem, essa é uma decisão como qualquer outra.
“Para mim, sempre foram processos. Cada dia que eu experimentava e via que Deus era bom e desejava o melhor pra mim, mais vontade eu tinha de obedecê-lo em todas as áreas da minha vida”, conta a estudante, que decidiu participar do movimento por volta dos seus quatorze anos.
Não existe passagem bíblica que se refira especificamente ao sexo pré-matrimonial. No entanto, os cristãos que consideram a prática impura se baseiam em trechos em que o sexo fora do casamento é definido como imoral. “Eu nunca me senti pressionada pelos meus líderes, ninguém me obrigou a isso, e para falar a verdade, nunca nem me questionaram a respeito”, explica a estudante. No entanto, ela afirma sentir-se julgada pelas pessoas de fora da igreja.
O sexo já é um grande tabu, mas quando nos referimos ao público evangélico, torna-se ainda mais complexo. De acordo com a sexóloga e dona do sex shop “Dona Coelha”, Natali Gutierrez, a censura ocorre uma vez que as relações sexuais no meio evangélico geralmente só acontecem depois do casamento e são voltadas à penetração. “São consumidores que vão aos poucos entendendo esse universo (da sexualidade) e trazendo outras opções para o relacionamento”, explica a empreendedora.
Gutierrez conta que existem diferenças entre produtos eróticos direcionados ao público geral e ao evangélico. Apesar de o conteúdo do cosmético ser o mesmo, a mudança vem de outras formas. “No geral, o que se modifica é a embalagem e a comunicação. Os produtos para o público em geral têm nomes como Cliv Intt e Sempre Virgem, são mais descolados. Quando a gente vai para uma abordagem evangélica, temos o In Heaven. Os nomes e cores são diferentes. Tudo é mais suave e sutil.” Segundo a sexóloga, os termos biológicos do corpo humano podem intimidar os religiosos, e até mesmo o tom de voz na hora da venda deve ser diferente. “É uma abordagem mais séria”, conta.

praticar a masturbação”. A cantora Ingrid Arruda, diz que procurou um sex shop após ter tido problema com a libido em seu antigo casamento. Ela conta que, ao chegar no local, se assustou com a estética, mas após falar com a atendente, começou a se interessar pelos produtos e, atualmente, é uma frequentadora assídua.
“Eu entendi que o que eu estava fazendo era me entender biologicamente. A minha motivação não era pecaminosa, eu precisava entender como meu corpo funcionava para fazer com que meu ex-marido entendesse também”, diz Arruda.
Dentro de seu antigo casamento, a aceitação do uso de brinquedos e produtos foi um problema pela parte do ex-cônjuge. Deixando claro que esse não foi o motivo do término, ela diz que o marido ficou chateado e inseguro no começo. Feliz por estar em uma relação mais aberta à conversa, a cantora afirma: “Hoje as pessoas falam muito de sexo fora do casamento, mas esquecem de falar sobre dentro do casamento”.
A procura dos cristãos aos sex shops segue o padrão do público geral: é mais comum que as mulheres busquem o mercado erótico. Mas, ao contrário das muitas consumidoras que buscam brinquedos para o prazer desacompanhado, as evangélicas normalmente apostam em produtos discretos e voltados ao prazer a dois.
“É muito difícil você encontrar uma mulher que, seguindo os costumes da religião, vai se permitir tocar na sua vulva,
Mesmo tendo sido criada em um ambiente religioso, ela teve relação sexual antes do casamento e diz que se tivesse uma instrução mais cedo de como entender sua sexualidade, poderia ter recorrido a outras formas de lidar com os hormônios. “O problema não é masturbação. Quando ganhamos uma maturidade, tanto na vida quanto na fé, a gente vê que o problema são os motivos que levam a masturbação”, finaliza Arruda.