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A casa em ordem: o Brasil sob nova direção

Como o governo Lula coloca o país de volta aos trilhos da normalidade no cenário internacional

Por Beatriz Brascioli, Carolina Rouchou, Laura Lima e Marina Jonas

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Com a recente eleição da ex-presidente Dilma Rousseff para chefiar o Banco dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) e o retorno de Lula ao poder, acontecem os primeiros passos do reposicionamento do Brasil no cenário internacional. Como os últimos quatro anos do mandato de Jair Bolsonaro foram marcados pelo isolamento, o novo presidente enfrentará desafios para restabelecer a imagem do país para o mundo. Mesmo com algumas conquistas, o Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer se quiser voltar a ser a potência diplomática dos anos 2000. O presidente Lula já demonstra que esse é exatamente seu plano: reconquistar o respeito internacional. “A ministra Dilma tem formações em áreas econômicas e tem experiência como ministra e como presidente. Inclusive, essa é a razão pela qual ela foi indicada ao cargo“, afirma o comentarista político, Leonardo Sakamoto, em entrevista para o UOL.

A política externa brasileira passou por diversas transformações ao longo dos anos. No entanto, as mudanças promovidas por Jair Bolsonaro são consideradas uma ruptura com as tradições diplomáticas da nação. Dentre as principais críticas, estão a falta de diálogo com as pátrias vizinhas, a aproximação com líderes autoritários e a retirada do Brasil de importantes acordos internacionais. O ex-presidente também alterou suas relações com potências como China, ao alfinetar o seu governo, com os Estados Unidos, ao demonstrar alinhamento pessoal com Trump, e, até mesmo com a França, ao ofender diretamente a esposa de Macron.

Diante desse cenário, o doutor em Relações Internacionais pelo Programa de Pós-Graduação San Tiago Dantas (PUC-SP, UNESP, UNICAMP), Matheus de Oliveira Pereira, afirma ter como expectativas para os próximos passos do Brasil: a recuperação de laços com África, Oriente Médio e, principalmente, América Latina.

“A gente fala China e Estados Unidos, mas tem mais de 191 países no mundo, então tem que diversificar. Você não pode ignorar o peso dos dois, mas também não pode ficar amarrado nisso”.

No primeiro governo Lula, foram criados programas sociais como o “Fome Zero” e o “Bolsa Família”, os quais ganharam destaque internacional e ajudaram a enfrentar problemas históricos do Brasil. Nessa época, o país vivia um bom momento econômico e era reconhecido como um líder em potencial. Os investimentos em diplomacia auxiliaram na consolidação de políticas para o Mercosul, por exemplo. A capa da revista “The Economist ”, com o Cristo Redentor “decolando”, ilustra esse período positivo da nação.

Segundo Pereira, o comportamento “negligente, omisso e criminoso” de Bolsonaro, especialmente durante a pandemia do coronavírus, contribuiu para um grande número de mortes no Brasil e gerou críticas severas à sua gestão. Seu governo também negligenciou políticas ambientais e de direitos humanos, levando a uma imagem negativa do país no cenário internacional. O aumento do desmatamento na Amazônia e a falta de ação diante dos incêndios florestais são alguns dos motivos para essa percepção negativa.

Em seu novo mandato, o presidente Lula muda a posição brasileira no xadrez geopolítico. Primeiramente, recupera uma postura de sobriedade do Brasil em relação à disputa entre Estados Unidos e China, visando estabelecer uma ótima relação com ambas as potências. Para isso, em fevereiro, foi a Washington para seu primeiro encontro com Joe Biden, atual presidente estadunidense, com quem tem afinidade em áreas como democracia e meio ambiente (incluindo a questão da Amazônia).

O resultado do encontro foi um cheque inicial de 50 milhões de dólares para o Fundo Amazônia. O investimento faz parte de uma meta lançada por Lula no início deste ano: o desmatamento zero da floresta até 2030. O projeto também levou à retomada dos investimentos da Alemanha e Noruega, a última sendo a maior investidora do fundo.

Para reforçar o diálogo multilateral, Lula marcou presença em Pequim no final de março com a intenção de realizar acordos comerciais bilaterais relativos ao agronegócio e ao desenvolvimento no campo da infraestrutura. Manter os laços com os dois lados do mundo vem gerando incômodos, especialmente aos Estados Unidos, que sabem da importância que a China vem ganhando.

Entretanto, a política externa deste governo está focada em manter sua diplomacia plural enquanto o cenário mundial permitir. A China continua sendo o maior parceiro comercial brasilerio e aprofundar os vínculos com essa nação é fundamental para o avanço da economia nacional.

“No momento, há muita boa vontade em relação ao Brasil”, afirma Matheus, ou seja, as expectativas internacionais são positivas para a governança de Lula. O motivo de tanta comemoração, de acordo com o especialista, é o sentimento de retorno à normalidade. “O governo se aproxima dos 100 dias, boa parte do esforço inicial que temos visto é colocar a casa em ordem –estamos sob nova direção, restabelecendo a gerência das coisas e tentando recolocar o Brasil de volta aos trilhos da normalidade para daí em diante estabelecer uma agenda mais ambiciosa.”

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