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MERCADO
Agosto/Setembro 2022
ETANOL VERSUS HÍBRIDOS
Etanol de cana caminha para nova etapa de descarbonização CO2 da biomassa geradora do etanol? A adsorção é utilizada industrialmente há mui− tos anos na indústria química. A novidade da nossa pesquisa é aplicar a adsor− ção para purificar gases oriundos de biomassa, pois a composição dos gases é diferente de gases origina− dos de carvão ou óleo combustível, por exemplo, para os quais o fenômeno é melhor conhecido.
Nova tecnologia ampliará potencial de sequestro de CO2 do biocombustível ante combustíveis fósseis e motores elétricos
Vem aí uma nova etapa de descarbonização do etanol de cana−de−açúcar. Trata−se da captura de dióxido de carbono (CO2) durante a combustão da matéria−prima do etanol. Em fase de pesquisa, essa tecnologia acelera o rit− mo de descarbonização do setor sucroenergético, le− vando em conta que a cana já sequestra carbono na fase de cultivo, via fotossíntese. Fora isso, há o ganho − histórico − para o bio− combustível nos transportes. Hoje, como se sabe, o etanol já emite menos CO2 ante a gasolina e mes− mo diante de fontes poluentes (caso do carvão), que dão origem a componentes dos veículos elétricos e eletrificados. Com o sequestro de CO2 também na fase de combustão, o etanol irá alcançar novo patamar no universo da descarbonização. “Otimização de sistemas de adsorção por modu− lação de temperatura – Temperature Swing Adsorp− tion (TSA) – para captura de CO2” é o nome do projeto e, à frente ele, está um grupo de pesquisado− res da Universidade de São Paulo (USP) e da Uni− versidade Federal do Ceará (UFC). Esses pesquisadores investigam se é possível, por meio de sistemas de adsorção, capturar CO2 de ga− ses provenientes da combustão de biomassa da ca− na−de−açúcar. Para entender mais a respeito do assunto, Jornal− Cana entrevista o engenheiro químico Marcelo Mar− tins Seckler. Ele é professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli−USP) e coordena− dor do projeto. Jor nalCana − O projeto coordenado pelo sr. poderá atestar nova etapa de descarbonização da biomassa da cana−de−açúcar? Marcelo Seckler − No nosso projeto desenvol− vemos a técnica de sorvetes sólidos para capturar gás carbônico, impedindo que ele seja emitido para a at− mosfera. Esta técnica tem o potencial de ser mais econô− mica e de consumir menos energia na captura do que a técnica mais aceita de absorção em líquidos.
Ela é promissora quando pensamos em usar o gás carbônico capturado como matéria prima para outros compostos. Há também estudos para armazenamento do CO2 na subsuperfície, mas tais técnicas ainda estão longe de uma aplicação segura em larga escala. É possível prever quanto de CO2 pode ser captu− rado nos gases provenientes da combustão da biomassa da cana? Em princípio, sempre que pensamos em obter energia pela queima de biomassa, o CO2 gerado na combustão pode ser tratado por esta técnica. O ba− gaço de cana, por exemplo, hoje em dia já é quei− mado em usinas, então cada usina poderia ter uma unidade desta acoplada. Comente a respeito do sistema de adsorção, em− pregado no projeto e já usado na indústr ia para lim− par cor rente de ar contaminada por amônia, ou pa− ra pur ificar gás natural. A adsorção é utilizada industrialmente há mui− tos anos na indústria química para purificação de gases. Ela também é utilizada em situações mais cor− riqueiras, como os filtros de água em nossas cozi− nhas: aquela parte preta do filtro é carvão ativo, que purifica a água. De forma geral, a adsorção consiste em colocar o fluido que queremos tratar em contato com um sólido particulado. Quando o fluido atravessa um meio contendo este sólido, a impureza de interesse fica retida no sólido e o fluido deixa o equipamen− to em forma pura. As partículas são porosas, por isso conseguem re− ter uma boa quantidade de impurezas. Esse sistema nunca foi empregado na captura de
No projeto, a equipe da UFC trabalha na frente de processo de adsorção de for ma exper imental em pequena escala. Isso para entender de que for ma se pode f azer a separação eficiente de CO2 na presen− ça de impurezas deste tipo de gás. É possível prever em quanto tempo essa f ase poderá estar pronta? Em dois anos teremos uma boa ideia do com− portamento da adsorção frente à biomassa. Estamos centrando esforços nos gases gerados a partir do bagaço de cana. Já em relação a outra frente, a cargo da USP, o trabalho é o de se aplicar a proposta em g rande es− cala como no caso de uma usina de cana. No caso, a equipe simulará todo o processo em computador e a proposta, enfim, é de projetar um equipamento in− dustr ial para realizar a adsorção. Assim como na frente da UFC, é possível estimar um prazo para tér− mino? No mesmo prazo [de dois anos] esperamos de− senvolver critérios de projeto para unidades de cap− tura de CO2 industriais. Ainda sobre o equipamento industr ial, o sr. acre− dita que ele possa ser fabr icado pela indústr ia nacio− nal de bens de capitais do setor sucroenergético? O processo em estudo envolve um equipamen− to inovador, são dois leitos fluidizados acoplados, mas não é nada que não possa ser feito no país. Nós forneceremos as informações necessárias para o projeto conceitual do processo. O país tem empresas de engenharia e de fabri− cação de equipamentos habilitadas para converter o processo conceitual em realidade física. Produzir etanol verde, sem emissão de CO2, está no radar de todo o setor sucroenergético. Chegar a essa produção deixa o biocombustível bem à frente de tecnologias ditas limpas como a dos motores elétr i− cos e eletr ificados. Qual sua avaliação a respeito? Tudo o que fazemos no planeta tem algum im− pacto, não há uma fórmula mágica. Devido à emergência climática, temos que usar todos os re− cursos a nosso alcance, ao contrário de apostar nu− ma única solução.