JornalCana 331 (Outubro 2021)

Page 8

8

MERCADO

ETANOL VERSUS HÍBRIDOS

A eletrificação veio para ficar, mas com a ajuda do etanol Biocombustível é estratégico para gerar energia elétrica nos motores híbridos, afirma Luiz Augusto Horta Nogueira, consultor de agências das Nações Unidas em temas energéticos

Para Luiz Augusto Horta Noguei− ra, consultor em temas energéticos de agências da Nações Unidas como FAO, CEPAL e PNUD, a eletrificação che− gou para ficar também no Brasil. Mas sua viabilidade terá ajuda do etanol, a ser adotado em tecnologias nas quais o biocombustível é transfor− mado em hidrogênio no próprio car− ro, alimenta a célula de combustível que gera eletricidade e movimenta o veículo. Há também outra tecnologia em desenvolvimento na qual as célu− las geram eletricidade diretamente do etanol, sem passar pelo hidrogênio. Nesta entrevista ao JornalCana, o especialista analisa como a eletrifica− ção com uso de biocombustível ocor− rerá em gigantes como Índia e China. E comenta, também, sobre o futuro dos motores a combustão. Jor nalCana − Quase que diar ia− mente, são anunciados modelos de car ros, motocicletas, bicicletas e mes− mo patinetes movidos a energ ia elé− tr ica. A eletr ificação é um caminho sem volta no Brasil? Luiz Augusto Hor ta Nogueira − Acho que há um certo exagero, mas a eletrificação dos veículos é um cami− nho sem volta. Decorre da preocupa− ção com o meio ambiente, e do de− senvolvimento da eletrônica embar− cada, que viabilizou o acionamento elétrico das rodas, eficiente e sem pre− cisar de caixas de câmbio. A meu ver, há bons motivos em favor da eletrificação. Mas existe aí uma certa confusão: um veículo elé− trico não precisa ter sempre grandes e caras baterias, carregadas demorada− mente na rede elétrica, existem mo− delos em que a eletricidade é produ− zida no próprio veículo, com vanta− gens, como acontece nos veículos hí− bridos, com um motor a combustão otimizado acionando um gerador, que fornece energia aos motores elétricos para movimentar o veículo. Como as locomotivas diesel−elé− tricas, são elétricas e usam diesel. Essa

concepção foi proposta por Ferdinand Porsche em 1.899 e finalmente os modelos híbridos vêm tendo um me− recido sucesso, e mais ainda quando usam etanol e são os campeões mun− diais do ponto de vista ambiental. Principalmente em países como o Brasil, que dominam a tecnologia de produção de etanol, encontrado em todo o país, as montadoras mais esper− tas como Nissan, Toyota e Volks estão apostando nos modelos híbridos. E será daqui para o mundo. Então o senhor acredita que a tecnologia de veículos elétr icos híbr i− dos usando etanol poderá ser adotada

em outros países? A receita da eletrificação no trans− porte não é a única. Países pequenos, como Bélgica e Finlândia, por exem− plo, não produzem biocombustíveis e geram energia elétrica em centrais so− lares e eólicas, mas quando há sol e vento e não tem demanda, precisam encontrar formas de consumir esses excedentes. Para esses países, veículos a bateria pode ser uma solução. Mas veja o caso de gigantes como China, EUA e Índia, onde as distân− cias percorridas impõem investimen− tos elevados na rede elétrica, para não mencionar o Brasil, onde temos um quadro complicado no setor elétrico

nesse e no próximo ano. Por isso, os modelos híbridos fa− zem todo o sentido, são de longe mais racionais, energeticamente falando. As marcas mais nobres, como a Ferrari, Porsche, Lamborghini, estão partindo para modelos híbridos. Se os países estão preocupados em reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEEs), os híbridos, como disse, são os mais eficazes. Na Europa, China e muitos outros países, quando se com− para direitinho, o veículo elétrico hí− brido a biocombustível apresenta emissões bem menores que os veícu− los elétricos com baterias. Isso é um fato. E temos exemplos como o da Índia, que optou recente− mente por produzir etanol para mis− turar à gasolina. Isso foi decidido com certo atraso, mas acaba com o con− trassenso que era usar a cana apenas para produzir açúcar. Na verdade, não há uma só solução para a transição energética, mas existem argumentos robustos para defender a eletrificação dos veículos associada ao uso de biocombustível, como se con− segue com os modelos híbridos. Não é preciso pendurar o carro por horas na tomada. Aliás, se o preço da eletricidade estiver alto, como atual− mente, será possível gerar energia elé− trica no carro e usá−la dentro de casa.


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.