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ENERGIA
Setembro 2021
BIOMASSA DA CANA GANHA FORÇA COMO FONTE DE ENERGIA ALTERNATIVA
LÍDER ENERGIA
Nesse momento de transição energética, o bagaço da cana-deaçúcar vai se consolidando como importante fonte de matriz renovável
A escassez de recursos hídricos, aliada a poluição ambiental, vai afuni− lando o cerco na busca de fontes de energias limpas e renováveis. À me− dida em que o mundo vai avançando nesse período de transição energética, a eletricidade gerada a partir da bio− massa da cana−de−açúcar passa a fi− gurar cada vez com maior destaque, como uma das possíveis e concretas soluções para se dirimir o problema. Para Zilmar Souza, gerente de Bioeletricidade da União da Indús− tria de Cana−de−Açúcar (UNICA), o setor elétrico brasileiro é hoje um dos mais renováveis entre as maiores economias mundiais, com 83% de renováveis em sua matriz, e destaca a importante contribuição da bioele− tricidade sucroenergética, que detém 12 GW e 7% de participação na ma− triz brasileira. O último Plano Nacional de Energia indica que no melhor cená− rio a biomassa pode chegar a 29 GW em 2050, equivalente a mais do que duas Itaipu, mas no pior cenário pode ficar em apenas 13 GW, ou seja, cres− cimento imaterial até 2050. “Enten− demos que a atual contribuição da bioeletricidade é um diferencial geo− político e deve ser mantida, ou melhor, expandida nesse movimento global da transição energética, rumo ao melhor cenário de aproveitamento dessa im− portante fonte renovável e sustentá− vel”, analisa. Atualmente, apenas 15% da ener− gia gerada a partir dos resíduos da ca− na−de−açúcar são aproveitados na re− de nacional de energia (Sistema Inter− ligado Nacional). Levantamento da UNICA e da Cogen (Associação da Indústria de Cogeração de Energia) aponta que centrais movidas a bio− massa principalmente de bagaço de cana poderiam gerar 1.249 GWh (gi− gawatts−hora) adicionais em energia entre julho e dezembro de 2021 e
Rafael Chang
Pierre Santoul
mais que o dobro disso em 2022 com medidas de incentivo do governo, co− mo um leilão emergencial para com− pra da produção extra. Por ser de baixo carbono, estima− se que a geração de bioeletricidade de cana em 2020 tenha evitado adicio− nalmente a emissão de 6,3 milhões de toneladas de CO2, marca que so− mente seria atingida com o cultivo de 44 milhões de árvores nativas ao lon− go de 20 anos. Em 2020, a oferta de bioeletrici− dade para a rede nacional de energia pelo setor sucroenergético cresceu 1% em relação a 2019, com um volume de 22.604 GWh. Sendo que 83% des− se total foi ofertado no período seco, entre maio e novembro – período de
diminuição de água nos reservatórios das usinas hidrelétricas. Em recente Fórum, promovido pela LIDE de Energia, diversos espe− cialistas do setor se reuniram para dis− cutir a transição da matriz energética. Para o CEO da Tereos, Pierre Santoul, o Brasil é destaque mundial quando se fala em energia limpa, com quase 50% de sua energia pro− veniente de fontes renováveis. E com relação à oferta interna, 48,5% dessa energia limpa é proveniente da cana−de−açúcar. Para ele é indis− pensável que nesse processo de transição sejam considerados os combustíveis. "É interessante en− tendermos esse impacto no quesito como benefício socioambiental e
para o mercado de trabalho, pois hoje, no mundo, temos cerca 2,5 milhões de pessoas empregadas gra− ças ao setor de combustíveis não fósseis. E no Brasil, 1 milhão é o número de pessoas que o setor su− croenergético emprega direta ou indiretamente”, lembrou. 2% é o que representa o setor no PIB do Brasil. Para Pierre, além da clara relevância na geração de em− prego e renda, o setor se destaca na questão sócio ambiental. “O Reno− vaBio deve contribuir nos próximos 10 anos, com a redução de 606 mi− lhões de toneladas de CO² na at− mosfera”, afirmou. O presidente da Toyota, Rafael Chang, considerou que “num futuro próximo, será o consumidor quem decidirá qual a tecnologia com im− pacto socioambiental ele usufruirá”. Chang ressaltou que o objetivo da companhia é estar um passo à frente nos investimentos tecnológicos que tragam benefícios ambientais, mas trabalhando de maneira e com prazos realistas. Ele destacou que o Brasil tem uma oportunidade gigantesca, precisamente por contar com matriz energética tão limpa. Segundo o pre− sidente da Toyota, o caminho para o carbono neutro, é um caminho sem retorno, porém a velocidade com que isso vai acontecer dependerá de pla− nejamento e ações muito coordena− das entre os atores envolvidos.