JornalCana 280 (Maio/2017)

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AGRÍCOLA

Maio 2017

Transporte de cana enfrenta desafios na safra 2017/18 WELLINGTON BERNARDES

Companhias sucroenergéticas têm dois entraves para resolver: a regulamentação sobre uso de lonas para o transporte de colmos em rodovias e a lei da balanças

para fornecedores de cana, quando colmo e palha estão na mesma carga, e a baixa eficiência de separação da palha na indústria ainda são entraves para o avanço da técnica”, relata a especialista.

ONZE EIXOS

WELLINGTON B ERNARDES, DE PIRACICABA (SP)

A atividade de transporte de cana, integrante da operação de carga, transbordo e transporte (CTT), tem novas regulamentações na safra 2017/18. Elas desafiam os responsáveis pela logística das unidades sucroenergéticas a buscar novas soluções para que o tempo e o custo da viagem da cana até a usina não prejudiquem o desempenho industrial e financeiro das empresas. A regulamentação sobre uso de lonas para o transporte de colmos em rodovias entrará em vigor no início de junho deste ano e gera dúvidas entre gestores de usinas e de fornecedores de cana. Uma das dúvidas diz respeito sobre como dever ser aplicada e otimizada a operação de cobertura de cargas sem elevar os custos ou o seu tempo da operação. “Existe uma série de mecanismos para realizar essa operação e cada empresa deve buscar a adequação mais próxima à sua realidade”, afirmou o gerente de economia da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Única), Luciano Rodrigues, durante o 14ª

Luciano Rodrigues, da Unica, em evento da Esalq-Log: “cada empresa deve buscar a adequação mais próxima à sua realidade”

Seminário Internacional de Logística Agroindustrial, realizado pelo Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial (Esalq-Log) em Piracicaba (SP), no dia 10 de abril. A exigência de instalação de lonas nas carretas transportadoras de cana em rodovias estaduais e federais consta de determinação do Conselho Nacional de Trânsito (Contran). O objetivo da medida é impedir o derramamento de carga nas estradas, segundo o Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), a quem o Contran é subordinado. Conforme o Denatran, a exigência foi adiada por duas vezes desde 2013, a pedido do próprio setor sucroenergético. A partir de 01/06, quem não cumprir estará sujeito a multas.

LEI DA BALANÇA Outra incerteza que ronda a safra 17/18 é como otimizar a logística da cana com a Lei da Balança, que limita o peso total dos caminhões carregados com colmos em até 74 toneladas. Segundo pesquisa conduzida pelo Laboratório Nacional de Ciência e Tecnologia do Bioetanol (CTBE), a limitação pode aumentar em 34% o valor da tonelada transportada. Para Terezinha de Fátima Cardoso, Analista de Desenvolvimento Tecnológico do CTBE, a colheita integral - carregamento simultâneo de colmos e palha – pode ser uma solução porque a palha é transportada entre os espaços dos colmos, porém a técnica ainda esbarra em alguns entraves. “A ausência de formas de pagamento

Outra alternativa, articulada por montadoras, é o desenvolvimento de veículos com onze eixos, que atenderia a demanda pelo transporte de maior volume de cana por veículo. “Este novo cenário reforça a importância de parcerias entre o setor sucroenergético, fabricantes de equipamentos - agrícolas e industriais - e instituições de pesquisa”, explica Terezinha. Criada na década de 1970, a Lei da Balança gera problemas ao setor devido às resoluções do Contran. Elas estabelecem limites de peso para tráfego de veículos e, no caso das empresas sucroenergéticas, que usam combinações de veículos para transporte da cana colhida, há a Resolução Contran número 211, de 13/11/2006. Essa Resolução cria os requisitos necessários à circulação de Combinações de Veículos de Carga (CVC), a quem estão atribuídos os artigos 97, 99 e 314 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB). A Resolução do Contran afeta as usinas porque limita o Peso Bruto Total Combinado (PBTC) das atuais composições canavieiras, usadas no chamado “bate-e-volta”, ou seja, os rodotrens, formados por um cavalo-trator 6x4, um semi-reboque de dois eixos e um reboque de quatro eixos, com caixas de carga de 11,8m ou 12,5m por 2,60m por 4,40m.

Monitorar etapas e engajar equipes formam a base do CTT Devidamente cronometradas, essas fases colaboram com a redução de custos e a incrementar a produtividade canavieira O processo de CTT está atrelado a dois fatores fundamentais: o tempo e a qualidade de realização das três etapas (corte, transbordo e transporte). As fases são rigorosamente cronometradas e a qualidade da matéria-prima constantemente avaliada. Com este viés e atentos às equipes que executam as atividades, grandes players de açúcar e etanol conseguem reduzir seus custos no campo e incrementar a produtividade. Como grande parte das operações acontece no campo, há possíveis variáveis que a equipe não consegue controlar, como as chuvas. Segundo Murilo de Freitas Mancuso especialista de logística da Raízen, a preocupação com variáveis externas acaba tirando o foco de fatores nos quais mínimas alterações podem traduzir em altos ganhos. “A atenção deve ser direcionada para os

As operações de CTT exigem planejamento preciso e monitoramento constante em busca de ganho de produtividade e na consequente redução de custos (Foto: Divulgação)

pontos que aumentam a performance e a produtividade da operação, como a velocidade de colheita e as horas produtivas do maquinário”, explicou ele durante evento do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial (Esalq-Log) realizado em 10/04 em Piracicaba (SP). As atuais 42 frentes de colheita da

companhia Odebrecht Agroindustrial conseguiram reduzir o número de máquinas na atividade com simultâneo aumento do volume de cana-de-açúcar colhida. “A cada ano conseguimos colher maiores volumes de cana com menos máquinas, isto está atrelado ao nosso processo de busca por eficiência”, explicou Douglas Edson da

Rocha, gerente agrícola do grupo no evento da Esalq-Log. Segundo Rocha, o aperfeiçoamento do CTT envolve o mapeamento e o controle de tempo de todas as atividades. A preocupação com as pessoas que estão em campo executando diferentes tarefas foi ressaltada por todos os gestores agrícolas em suas apresentações seminário em Piracicaba. Desta forma, para estimular o engajamento das equipes, usinas investem na remuneração variável como forma de integrar seus colaboradores à empresa. “Cada caminhão que sai da frente de colheita é um possível ganho, assim os operadores vão trabalhar visando o máximo desempenho das operações”, explicou Murilo Mancuso, da Raízen. Outro ponto unânime foi sobre o impacto negativo da terceirização nesta filosofia de envolvimento e participação dos colaboradores. “Não vemos a terceirização em paralelo com nossa filosofia, queremos trabalhar a parte comportamental e aproximar as equipes dos valores de nossa companhia. Acreditamos que isto auxilia em conseguirmos atingir altos resultados”, afirmou no evento Diego Furlan, do Grupo São Martinho. (WB)


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