JornalCana 277 — Fevereiro 2017

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PESQUISA & DESENVOLVIMENTO

Fevereiro 2017

Produção de etanol a partir do sorgo volta à prancheta LUIZA BARSSI, DE VALINHOS, SP

Está confirmado: a cultura de sorgo sacarino apresenta características agroindustriais que torna a matéria-prima economicamente promissora para a produção de bioetanol. Destaca-se por ciclo produtivo curto, baixo custo de implantação, propagação por sementes, processo totalmente mecanizado, além de apresentar elevada eficiência energética. Antes de seu florescimento, o sorgo sacarino é parecido com a cana-de-açúcar. Seu cultivo pode ser totalmente mecanizado, do plantio à colheita. Já o bagaço obtido após a extração do colmo é de ótima qualidade se comparado ao da cana, apresentando boa digestibilidade para alimentação animal direta. Os grãos também podem ser usados com esta finalidade, na forma de ração. Em pesquisa realizada pela Unesp — Universidade Estadual Paulista, de Jaboticabal – SP, o caldo de sorgo sacarino foi submetido a tratamento químico por calagem simples e posterior tratamento com enzimas amilolíticas alfa-amilase e amiloglucosidase, resultando no mosto. Após iniciar o processo fermentativo, o vinho foi recuperado e caracterizado, sendo calculadas a eficiência fermentativa e produtividade de etanol. O processamento de colmos integrais reduziu a produção de etanol, as épocas de colheita afetam a qualidade tecnológica do caldo aumentando os teores de fenol, refletindo sobre o processo fermentativo. De acordo com pesquisadora da Embrapa Clima Temperado, em Pelotas, RS, o processo de produção de etanol a partir do

Rafael Augusto da Costa Parrella, pesquisador de sorgo e de melhoramento de sorgo

sorgo usa tecnologia similar ao da cana. Por conta disso, as usinas não necessitam de grandes ajustes em suas estruturas. As maiores diferenças ocorrem no plantio, que no caso do sorgo é feito por meio de sementes e plantadeiras. Por ser rico em fibras, o resíduo do vegetal é bom para ser queimado junto com o bagaço de cana para a cogeração de bioeletricidade. O sorgo

sacarino também pode ser utilizado na fabricação de açúcar. Segundo Rafael Augusto da Costa Parrella, pesquisador de sorgo e de melhoramento de sorgo na Embrapa — Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária não existem muitas empresas que disponibilizam projetos e pesquisas a respeito do sorgo.

Brasil possui condições naturais favoráveis à produção de biomassa A escassez de recursos hídricos que tem afetado o Brasil nos últimos anos fez com que o país repensasse a matriz energética e o próprio consumo. A exemplo de outros países mais desenvolvidos, o Brasil voltou os olhos para alternativas sustentáveis na produção de energia. A energia produzida por meio de biomassa é uma das boas alternativas de energia limpa e vem ganhando mais espaço no mercado, principalmente no setor de usinas e indústrias que conseguem reaproveitar subprodutos de sua produção original. O sorgo se destaca entre os diferentes tipos de matérias-primas que podem ser usadas na produção energética com biomassa. Qualquer empresa que produza energia por meio de queima de biomassa em suas caldeiras pode utilizar o sorgo, que não necessita de nenhuma tecnologia específica para seu cultivo. Além de ser uma matéria-prima especial, que garante um aproveitamento melhor e total do produto, possui alto poder calorífico que otimiza o processo de geração de energia. Com as novas medidas governamentais que incentivam a microgeração e as

resoluções da COP 21, em que o Brasil traçou como meta aumentar de 28% para 33% as fontes renováveis de energia até 2030, é hora de avaliar também o tipo de matéria-prima que será utilizada nessa produção levando em conta o aproveitamento, custo e tempo. O cenário atual para estes produtos é

positivo e tudo indica que 2016 será um ano promissor. Diferente da energia eólica e solar, os fornecedores de biomassa são nacionais e seus preços não são muito afetados pela alta do dólar. Além disso, os incentivos apontados pelo governo podem facilitar o desenvolvimento de novas tecnologias para caldeiras e compra de equipamentos. (LB)

A Embrapa trabalha com o desenvolvimento dessa cultura desde os anos 70, mas quando aconteceu a crise do Proálcool houve uma paralização nacional nas pesquisas. Em 2008 a Embrapa retomou os projetos e continua o trabalho até hoje. O sorgo para produção de etanol de primeira geração, ou sorgo etanol, é recomendado para cultivo durante a entressafra da cana-de-açúcar, visando fornecer matériaprima adicional e aumentar a operacionalização das usinas, reduzindo a ociosidade neste período. Além da produção de etanol, o bagaço do sorgo é equivalente ao da cana para geração de energia, permitindo aumento das divisas, agregando valor à cultura. O crescimento da cultura do sorgo está associado ao setor sucroenergético do país. Os baixos preços praticados pelo etanol e energia no último ano não têm estimulado o investimento em novas tecnologias para ampliação da produção. No entanto, com a melhora no preço do etanol, este ano estão reaparecendo novos grupos interessados na cultura. “O crescimento do sorgo acompanha o crescimento do setor sucroenergético, e a crise atual do setor afetou o sorgo também. A ideia é que o sorgo chegue com a principal função de somar algo ao setor, aumentar a produção sem deslocar a cana-deaçúcar, mas preencher a lacuna das entressafras”, explica o pesquisador. A Embrapa continua trabalhando fortemente com o programa de melhoramento de sorgo para produção de etanol, desenvolvendo híbridos adaptados a esta finalidade, bem como aumentando a produtividade e rusticidade dos novos materiais para enfrentar os diferentes ambientes produtivos.

Em 12 anos e até 2015 BNDES financiou 285 projetos de geração de energia Entre 2003 e 2015, o BNDES — Banco Nacional do Desenvolvimento, destinou recursos a 285 projetos de geração de energia. Destes, 108 empreendimentos foram de energia eólica e biomassa, que receberam um total de R$ 22,7 bilhões em financiamentos. Em 2016, estima-se que a geração por biomassa vá adicionar 145 Megawatts de energia à matriz energética. O número ainda é pequeno quando comparado com energia eólica, que deve adicionar 2,9 Gigawatts, mas está abrindo caminho para crescer ainda mais nos próximos anos. O aumento na utilização de biomassa reduz o consumo de combustíveis fósseis, como petróleo e seus derivados, que não são matérias-primas renováveis. O Brasil possui condições naturais favoráveis à produção de biomassa e, portanto, tem tudo para assumir uma posição de destaque neste cenário. (LB)


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